Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, setembro 15, 2012
Um
pai judeu, com a melhor das intenções, enviou o seu filho para o colégio mais
caro da comunidade Judia mas, apesar
das suas intenções, Samuel não ligava puto às aulas.
Notas
do primeiro mês:
Matemática
- 2
Geografia
- 3.5
Historia
- 1.7
Literatura
- 2
Comportamento
- 0
Estas
espantosas classificações repetiam-se de mês para mês, até que o pai se cansou:
-
Samuel, ouve bem o que te vou dizer, se no próximo mês as tuas notas e o teu
comportamento não melhorarem, vou-te mandar estudar para um colégio católico.
No
mês seguinte as notas do Samuel foram uma tragédia, só comparável ao naufrágio
do Titanic e o pai cumpriu com a sua palavra. Através
de um rabino próximo da sua família, contactou com um bispo que lhe recomendou
um bom Colégio Franciscano para o qual Samuel foi enviado.
Notas
do primeiro mês:
Matemática
18
Geografia
16
Historia
16
Literatura
20
Comportamento
20
Notas
do segundo mês:
Matemática
20
Geografia
18
Historia
18
Literatura
20
Comportamento
20.
O
pai, surpreendido, perguntou-lhe:
-
Samuel, o que é que te aconteceu para teres tão boas notas?
Como é que se deu este milagre?
-
Não sei papá. Apresentaram-me a todos os colegas e a todos os professores e,
logo nessa tarde fomos a uma igreja.
Quando
entrei, vi um homem crucificado, com pregos nas mãos e nos pés, com cara de
ter sofrido muito e todo ensanguentado.
Perguntei, quem é Ele?
E
respondeu-me um aluno dos cursos superiores:
- Ele era um judeu como tu.
Então, disse para mim: F***- se,... aqui
temos mesmo que estudar, que estes gajos não são para brincadeiras.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 193
- Tou enxergando… seu Nacib pode não…
Pena… Coitado de Tuísca. Ele tanto gostava de seu Nacib fosse. Eu tinha
prometido. Pode não, tem razão. Eu digo a Tuísca. E bato palma por mim e por
seu Nacib – Riu, apertou-se contra ele.
-
Bié, escuta: você precisa de se instruir, você é a senhora de um comerciante.
Não como uma mulherzinha qualquer. Tem que ir a essas coisas que a nata de
Ilhéus frequenta. Pra ir aprendendo, se instruindo, você é uma senhora.
-
Quer dizer que não posso?
-
Que fazer?
-
Ir no circo amanhã? Vou com dona Arminda.
Retirou a mão que acariciava:
-
Já te disse que comprei entradas para nós dois.
-
Ele fala, a gente ouve. Gosto não. Gosto de nata não. Gente nos trinques,
mulheres enjoadas, gosto não. Circo é tão bom! Deixa eu ir seu Nacib. Outro dia
vou na conferência.
-
Não pode Bié – Novamente a acariciava – Não tem conferência todo dia…
-
Nem circo…
-
Na conferência não pode faltar. Até já perguntam porque você não vai a lugar nenhum.
Todo mundo fala, não está direito.
Mas quero ir, sim. No bar, no circo,
andar na rua.
-
Só quer ir onde não deve. É só o que você quer fazer.
Quando é que você vai meter na cabeça
que é minha mulher, que eu casei com você, que é senhora de comerciante
estabelecido, abastado? Que não é mais…
-
Zangou, seu Nacib? Porquê? Fiz nada não…
-
Quero fazer de você uma senhora distinta, da alta-roda. Quero que todo o mundo
te tenha respeito, te trate direito. Que esqueçam que foi cozinheira, que
andava de pé no chão, chegou a Ilhéus de retirante. Que te faltavam ao respeito
no bar. É isso, entendes?
-
Tenho jeito não, seu Nacib, pra essas coisas. São enjoadas. Nasci mesmo pra
vintém, não sirvo pra tostão. Que vou fazer?
-
Vai aprender. E as outras, essas metidas a sebo, que pensas que elas são? Umas
roceiras tabaroas, só que aprenderam.
Houve um silêncio, o sono voltava a
dominá-lo, a mão descansava sobre o corpo de Gabriela.
-
Deixa eu ir no circo, seu Nacib. Só amanhã…
-
Não vai, já lhe disse. Vai comigo à conferência. E acabou-se.
Virou-se na cama, deu-lhe as costas,
puxou o lençol. Sentia falta do seu calor, habituara-se a dormir com a perna
sobre as suas ancas. Mas precisava mostrar-lhe que estava aborrecido com tanta
cabeça dura.
(Estou de acordo que talvez isto não faça muito sentido da minha parte, mas não concebo que outros actores que não estes - seu Nacib já faleceu - encarnem este casal que não seja numa de usurpação... que me desculpem.)
sexta-feira, setembro 14, 2012
Presidente do Uruguai
Discurso do Presidente do Uruguai por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. Notável por vir da boca de um Presidente mas... que esperanças é que ele nos deixa, mesmo pensando só nas gerações futuras?... Mas ouvi-lo é reconfortante mesmo quando sabemos que o mundo não vai mudar e que nós continuaremos nesta espiral de consumo que fabrica empregos e a seguir desempregos, que cria riqueza e pobreza, na base do egoísmo, ambição e feroz competição, mesmo quando disfarçada, porque tudo isto está nos nossos genes, eles próprios egoístas, eles que são a nossa natureza. Um dia, ver-nos-emos confrontados com o resultado e então, ou será tarde de mais para a espécie ou regressaremos à estaca zero provavelmente para repetirmos os mesmos erros... Agora, por favor, ouçam o Sr. Presidente do Uruguai porque vale a pena.
«Se na Grande Depressão de 1929
os milionários americanos se atiravam das janelas dos arranha-céus, agora são
os chineses que nos caem em cima. Na Borgonha , região de vinhos francesa, um
castelo foi comprado por um sócio de Stanley Ho, de Macau. Vários produtores
locais juntaram-se para comprar dois hectares de vinha de um château em
Gevrey-Chambertin mas Louis Ng Chi Sing, dono do macaense hotel Grand Lisboa,
propôs irrecusáveis 8 milhões de euros. Ficou sendo o segundo chinês com propriedade
na Borgonha e juntou-se aos já 20 milionários chineses que compraram marcas de
vinhos na região de Bordéus. O jornal Le Monde noticiou e convidou Denis
Saverot, diretor de La Revue
du Vin de France, a explicar o fenómeno. Saverot diz que o tal castelo vendido
produzia um vinho só razoável, o importante era o nome da aldeia vizinha,
Gevrey-Chambertin, denominação de um dos mais prestigiados bourgognes. Já em
Bordéus os chineses tinham comprado duas propriedades de vinho vulgar,
Latour-Laguens e Lafite-Chenu, mas com nomes que contêm marcas míticas, Latour
e Lafite. Como a liberal lei chinesa permite que se venda com denominações
geográficas vinhos de outra ori- gem, o especialista francês receia que venham
a aparecer no mercado demasiados "Gevrey-Chambertin",
"Latour" e "Lafite"... Isto é uma ideia à Futre, mas quem
tem terrenos baldios em Porto de Mós e Porto Salvo devia lembrar aos chineses
que a palavra mítica "Porto" está lá.» [DN]
Ferreira Fernandes
Nota - Enquanto se limitaram a ser apenas muitos, a coisa ia passando... mas agora, para além de continuarem a ser muitos, têm dinheiro como nunca tiveram e adoram aquilo que ele pode comprar...
Playing For Change
Vamos dar a volta ao mundo, incluindo a minha querida Lisboa, nos sons desta bela canção: "Chanda Mama". (Não se esqueça de abrir o ecrã)
COM JESUS Nº 66
SOBRE O TEMA:
“SACERDOTES? ”
RAQUEL
- A unidade móvel de Emissoras Latinas está localizada perto do
que foi o grande Templo de Jerusalém. As últimas declarações de Jesus Cristo
sobre a eucaristia e as que fez em programas anteriores sobre a confissão
bloquearam nossa central telefónica. Um ouvinte de Assunção, Paraguai, Arturo
Bregaglio, faz a seguinte pergunta:
ARTURO - Se
o senhor diz que os sacerdotes não perdoam pecados nem consagram a hóstia, para
que servem os sacerdotes?
RAQUEL - Escutou bem, Jesus Cristo?
JESUS - Sim, escutei bem.
RAQUEL - Para que servem, então, os sacerdotes?
JESUS - Acho
que para nada.
RAQUEL - Como para nada?
JESUS - Para
nada.
RAQUEL - Com uma afirmação tão contundente, o senhor
não estará desqualificando a si mesmo?
JESUS -
A mim mesmo? Por quê?
RAQUEL
- Bom, porque… o senhor não é o Sumo Sacerdote da Nova Aliança?
JESUS -
No meu povo só eram sacerdotes os da tribo de Levi, os levitas. Eu não era um
deles.
RAQUEL - Então, o senhor não é sacerdote?
JESUS - Nem
sou nem nunca fui. Para falar a verdade, tive brigas tremendas com os
sacerdotes do meu tempo.
RAQUEL - A que se deviam essas brigas?
JESUS - A
arrogância deles. Sentiam-se superiores, donos da verdade e desprezavam as
pessoas humildes. Acreditavam que eram mediadores entre o céu e a terra,
representantes de Deus! Ainda rio recordando a cara que fizeram com aqui lo que comentei outro dia. Disse-lhes: as putas
entrarão primeiro que os senhores no Reino de Deus.
RAQUEL -
O senhor o disse com esse palavrão?
JESUS -
Qual palavrão?
RAQUEL -
Esse que disse...
JESUS -
Putas? Claro. Eu sempre as respeitei. Mas eles não. Eram altaneiros. Sepulcros
caiados de branco.
RAQUEL
Em todo caso, se o senhor não foi sacerdote... seus apóstolos foram.
JESUS - Por
que dizes isso?
RAQUEL -
Nessa Última Ceia, ainda que o senhor afirme que não consagrou nem o pão nem o
vinho, consagrou seus doze apóstolos como sacerdotes.
JESUS -
De onde tiraste isso, Raquel? Eu nunca consagrei ninguém. No nosso movimento
não houve nenhum sacerdote. Nem nas primeiras comunidades, segundo me contam.
Era a gente comum, os homens e principalmente as mulheres, os responsáveis por
continuar trabalhando pelo Reino de Deus. Nem sequer utilizavam a palavra
sacerdote.
RAQUEL - Sacerdote não significa sagrado?
JESUS - Sacerdote significa afastado, separado do
povo. Para trabalhar pelo Reino de Deus temos que estar no meio do povo.
RAQUEL - Então, de onde saíram os sacerdotes, os
clérigos, que dizem representar o senhor?
JESUS - Pois
não sei de que tribo teriam saído porque no nosso movimento essas hierarqui as não eram aceitas.
RAQUEL - Espere
um momento... Está chegando uma mensagem de texto... É de um teólogo laico,
José María Marín. Diz assim. Vou ler:
“A ordenação de sacerdotes
nada tem a ver com Jesus. É um costume muito posterior do império romano. Daí
nasceu o clero católico, cheio de poder e privilégios. Para Jesus, a comunidade
não necessita de nenhum mediador ante Deus.”
JESUS - Gostei
da explicação desse senhor.
RAQUEL
E o que fazemos, então, com os sacerdotes?
JESUS -
Que nasçam de novo, como aconselhei ao velho Nicodemos. Se lutam, se estão no
meio do povo, se sua palavra alegra o coração dos pobres e é espada de dois
gumes contra os injustos, está bem. Mas se acreditam que são donos de uma
escada para chegar a Deus, como aquela dos sonhos de Jacó, não servem para
nada, porque Deus não está lá em cima nem está longe. Está aqui , no nosso meio.
RAQUEL -
O que vocês dizem, amigas e amigos de Emissoras Latinas? E especialmente, o que
opinam os padres e os reverendos e os ministros que talvez estejam nos ouvindo?
Para Emissoras Latinas, transmitiu Raquel Pérez, Jerusalém.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 192
E como é conferência?
Nacib torcia os bigodes:
- Ah! É coisa fina, Bié.
- Melhor que cinema?
- Mais rara…
- Melhor que circo?
- Não se compara. Circo é mais para menino.
Quando tem número bom, vale a pena. Mas conferência só tem uma vez ou outra.
- E como é? Tem música, dança?
- Música, dança… – riu – Tu precisa aprender
muita coisa Bié. Não tem nada disso, não.
- E o que é que tem para ser melhor que
cinema, que circo?
- Vou explicar, preste atenção. Tem um homem,
um poeta, um doutor que fala sobre uma coisa.
- Fala de quê?
- De qualquer coisa. Esse vai falar de lágrima
e de saudade. Ele fala, a gente escuta.
Gabriela abriu os olhos
espantados:
- Ele fala e nós ouve. E depois?
- Depois? Ele acaba, a gente bate palmas.
- Só isso? Mais nada, não?
- Só isso, mas aí é que está: o que ele diz.
- E o que é que ele diz?
- Coisas bonitas. Às vezes falam difícil, a
gente não entende direito. É quando é melhor.
- Seu Nacib… O doutor falando, a gente
ouvindo…
E seu Nacib compara com
cinema, com circo, que coisa! E logo seu Nacib, tão instruído. Melhor que
circo, pode ser não.
- Ouça, Bié, já te disse: você agora não é
mais uma empregadinha. É uma senhora. A senhora Saad. Precisa se compenetrar
disso. Tem uma conferência, vai falar um doutor que é um colosso. Toda a nata
de Ilhéus vai estar lá. Nós também. Não se pode deixar uma coisa assim,
importante, para ir a um circo mais vagabundo e rasca.
- Pode não, seu Nacib? Pode mesmo não? Porquê?
Sua voz ansiosa buliu com
Nacib. Acarinhou-a:
- Porque não pode, Bié. O que haviam de dizer?
Todo mundo. Aquele idiota do Nacib, um ignorante, largou a conferência para ir
ver a porcaria de um circo. E depois? Todo o mundo no bar comentando a conferência
do homem e eu a contar as besteiras do circo.
(Se eu tivesse que isolar
uma passagem deste romance - gosto mais de lhe chamar história - ela estaria
contida neste episódio. Um dos segredo de Jorge Amado é a de nos dar a conhecer
os seus personagens através destes diálogos em que a verdadeira natureza das
pessoas se revela com a transparência da água de um regato correndo entre as
pedras, junto à nascente…)
quinta-feira, setembro 13, 2012
IMAGEM
Uma feliz imagem do Castelo de Almourol, um dos monumentos do cenário militar português mais mediático da época medieval, localizado numa pequena ilhota no meio do rio Tejo , na freguesia de Praia do Ribatejo , a 4 km (2,5 milhas) da sede do município de Vila Nova da Barquinha , na região centro de Portugal . O castelo foi construído sobre um primeiro castro lusitano, mais tarde conquistado pelos romanos no Séc. I A.C. e fez parte da linha defensiva controlada pelo Cavaleiros Templários.
Playing For Change - Stand By Me
Esta foi a primeira de muitas canções ao redor do mundo "Playing for Change. Paz através da música". A música com uma função social e política porque a paz é o supremo objectivo político. Música nas ruas das cidades, nos bairros de lata, nas aldeias, na montanha e à beira mar, em todo o sítio, em todo o lado, despertando o homem para a convivência, para a alegria do encontro uns com os outros através dessa linguagem universal, irresistível, que é a música.
(Abra o ecrã do seu computador e experimente essa sensação de convivência)
Sarah, a
jovem esposa, desesperada, vai ao
psicanalista:
- Ah, doutor, eu não aguento mais..
Apesar de todos os meus esforços,meu marido não me dá a menor atenção.
Desde que nos casámos, ele só fala na mãe,na mãe, na mãe.
É como se eu não existisse.
- Já experimentou preparar um jantar especial?
- Já. E não adiantou,Disse que a comida da mãe dele era melhor que a minha!
- Ouça, tenho uma idéia.
Se há um domínio onde a sua sogra não pode rivalizar consigo, é na cama.
Esta noite, vista um baby doll preto e calcinha preta.A cor preta é muito sexy e muito excitante.
Incluindo uma cinta de ligas negra também...
Ele não vai resistir!
Sarah seguiu à risca o plano, sem esquecer nenhum detalhe.
De facto, nunca estivera tão sexy...
Chega o Jacó a casa, arregala os olhos e diz:
- Ah, doutor, eu não aguento mais..
Apesar de todos os meus esforços,meu marido não me dá a menor atenção.
Desde que nos casámos, ele só fala na mãe,na mãe, na mãe.
É como se eu não existisse.
- Já experimentou preparar um jantar especial?
- Já. E não adiantou,Disse que a comida da mãe dele era melhor que a minha!
- Ouça, tenho uma idéia.
Se há um domínio onde a sua sogra não pode rivalizar consigo, é na cama.
Esta noite, vista um baby doll preto e calcinha preta.A cor preta é muito sexy e muito excitante.
Incluindo uma cinta de ligas negra também...
Ele não vai resistir!
Sarah seguiu à risca o plano, sem esquecer nenhum detalhe.
De facto, nunca estivera tão sexy...
Chega o Jacó a casa, arregala os olhos e diz:
-
Sarrrahhhhh,
você está toda de preto.. Aconteceu alguma coisa
à mamã???
COM JESUS Nº 65
SOBRE O TEMA:
“COMPARTILHAR O PÃO?”
RAQUEL - Continuamos na igreja do Cenáculo, e pelo
telemóvel estamos recebendo múltiplas mensagens. Uns felicitam-nos, outros se
indignam. Também nos chegam muitas perguntas. Há um momento atrás e fora dos
microfones, o senhor, Jesus Cristo, fazia-nos um comentário irónico. Poderia
repeti-lo?
JESUS - Eu dizia-te, Raquel, que se a gente tivesse
suspeitado da confusão que se iria armar a partir do que comemos naquela
última ceia… melhor seria que tivéssemos ficado em jejum!
RAQUEL - Brincadeiras
à parte, o senhor referiu-se antes a São
Paulo e a uma situação ocorrida na comunidade, creio que me disse, sobre
Corinto. O que aconteceu exactamente lá?
JESUS - Eu não vi, porque já tinha partido. Mas contaram-me.
RAQUEL - E o que lhe contaram que tanto o impressionou?
JESUS - Pois acontece que nessa cidade de Corinto,
que eu nem sei onde fica, parece que se reuniam para dar graças a Deus e
enquanto uns comiam e se fartavam, outros ficavam com fome. Paulo os repreendeu
e com toda razão. Que comunidade pode ser essa onde há ricos e pobres? Que
Páscoa vão celebrar juntos Moisés e o Faraó, os oprimidos junto aos opressores?
RAQUEL - Pois é melhor nem se aproximar de algumas
igrejas cristãs porque o senhor vai ter muitas surpresas... Assentos na
primeira fila reservados para as autoridades, para os militares, para as
famílias mais ricas, os brancos na frente, os negros atrás, os brancos na
frente, os índios atrás.
JESUS - Fazem
isso?
RAQUEL - Pior.
Dão o pão consagrado a ditadores, a assassinos e a torturadores, e o negam às
mulheres só por se terem divorciado.
JESUS - Fazem
isso?
RAQUEL - Se o senhor soubesse…
JESUS - Tu, Raquel, falavas antes sobre a substância.
A substância que tem de mudar não é a do pão, mas a do coração. Um coração
novo, capaz de amar, de compartilhar.
RAQUEL - Mas, diga-me uma coisa, Jesus Cristo. Se o
senhor não instituiu a eucaristia naquela Quinta-Feira Santa, o que fazem os
sacerdotes em seu nome quando celebram a missa?
JESUS - Imagino
que proclamem a boa notícia aos pobres. Isso é, o que eu quero que façam em
minha memória.
RAQUEL
- E as palavras mágicas, digo, misteriosas, que dizem os sacerdotes para que
Deus baixe do céu, para que aterre no altar, se oculte na hóstia e se esconda
em um sacrário?
JESUS - Tu és uma pessoa inteligente, Raquel. Deus deu-te
razão e coração. Aos ouvintes da tua emissora também. Tu acreditas que Deus,
que não cabe no universo, que não tem princípio nem fim, vai se prestar a um
truque assim? Como seria pequeno esse deus, um deus de abracadabra, como aquele
feiticeiro que Felipe encontrou em Samaria!
RAQUEL - Se eu compreendi bem as suas palavras, o
senhor põe por terra teologias eucarísticas, bibliotecas procissões com o Santíssimo Sacramento,
custódias, cálices, adorações perpétuas, cantemos ao amor dos amores, o
Concílio de Trento e a missa aos domingos.
JESUS -
Escutas, Raquel?... É o vento. Não podes prendê-lo, porque sopra onde quer. Tampouco
se pode prender Deus num templo, nem num pedaço de pão, nem em numa taça de
vinho.
RAQUEL - Tenho
mil perguntas, mas já não sei mais o que te perguntar.
JESUS -
Deus revelou o maior no mais simples, Raquel. No pão, tem pão. No vinho, tem
vinho. E na comunidade, quando se partilham esse pão e esse vinho, quando tudo
se põe em comum, Deus faz -se presente.
RAQUEL - Amigas e amigos, não percam a fé, quero dizer,
não percam a sintonia e continuem connosco. De Jerusalém, para Emissoras Latinas, Raquel
Pérez.
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 191
Assim, vira e ouvira Josué declamar, de
pé, estrofes onde rolavam seios e nádegas em profusão, ventres nus, beijos
pecaminosos, amplexos e cópulas, bacanais incríveis. Até Nacib aplaudiu. O
Doutor citara o nome de Teodoro de Castro, Argileu erguera o cálice:
-
Teodoro de Castro, o grande Teodoro! Inclino-me ante o cantor de Ofenísia, bebo
à sua memória. – beberam todos. O vate recordava trechos de poemas de Teodoro,
alterando-os aqui e ali:
Graciosa, na janela reclinada
Ofenísia, ao luar, aos
gritos…
- «Em prantos» … – corrigia o Doutor.
A história de Ofenísia,
relembrada entre brindes, puxou outras, surgiram os nomes de Sinhàzinha e
Osmundo, e daí partiram para as anedotas. Como Nacib rira… O Capitão desfilara
seu reportório inesgotável . O augusto
vate também sabia contar. Sua voz tonitruante abria-se numa gargalhada que
abalava a praça, ia morrer nos rochedos.
Funcionava também o
reservado do pocker: Amâncio Leal jogava alto com o Dr. Ezequi el, o sírio Maluf, Ribeirinho e Manuel das Onças.
Um pocker de cinco, animado.
Nacib chegara a casa
cansado, morto de sono. Atirou-se na cama. Gabriela despertou como fazia todas
as noites:
- Seu Nacib… Demorou… Já sabe do acontecido?
Nacib bocejava, seus olhos
fitavam o corpo a mostrar-se entre os lençóis, aquele corpo de mistério
diariamente renovado; uma chama leve de desejo nasceu entre o cansaço e o sono.
Tou morrendo de sono. Que
aconteceu?
Estendia-se, dobrava a perna
sobre a anca de Gabriela.
- Tuísca agora é artista.
- Artista? Que história é essa?
- No circo. Vai representar…
A mão do árabe subia-lhe,
cansada, pelas pernas.
- Representar’ No circo? Não sei do que você
está falando.
- Como pode saber? – Gabriela sentava-se na
cama, não podiam existir notícias mais sensacionais – Ele teve aqui depois do jantar e me contou… – Fazia cócegas em
Nacib para despertá-lo e o despertou.
- Tu tá querendo? – Riu
debochado – Pois vai ter…
Mas ela contava de Tuísca e
do circo, convidava:
- Seu Nacib bem podia ir amanhã com eu e com
Dª. Arminda. Pra ver Tuísca. Deixava o bar um tiqui nho
de tempo. Amanhã não dá jeito. Amanhã vamos os dois a uma conferência.
- Uma o quê, seu Nacib?
- Conferência, Bié. Chegou um Doutor, um
poeta. Faz cada verso que só vendo. É formidável, basta dizer que é doutor duas
vezes… Um sabichão. Tava todo o mundo rodeando ele, hoje. Um tal de discutir,
de dizer versos… coisa supimpa. Vai fazer conferência amanhã, na Intendência.
Comprei dois bilhetes, pra mim e você.
(A assistência televisiva à nova telenovela da Gabriela, Cravo e Canela, que não a reposição da antiga, continuou a arrasar toda a concorrência o que, apesar de eu não a ver, deixa-me feliz porque abona a favor do reconhecimento da qualidade das histórias de Jorge Amado, meu escritor de eleição. Os filmes e telenovelas, quando bem feitos, sobre obras literárias, estão para os respectivos livros como os rebuçados estão para as refeições... Seria uma desonra para o público português não destacar a Gabriela relativamente às outras telenovelas. Pelo menos, ainda não se perdeu de todo o bom gosto...)
quarta-feira, setembro 12, 2012
Playing for Change - Three Little Birds
Este vídeo é a primeira faixa do nosso novo álbum, PFC 2 - Songs Around The World, chegado a 31 de maio! Começamos a viagem na África Ocidental, a antiga vila de Kirina, Mali. Três instrumentos começam a tocar e nós ouvimos as palavras familiares: "não se preocupe com uma coisa, cada pequena coisa vai ficar bem." Esta mensagem intemporal convida-nos a uma viagem musical através do tempo e do espaço. Juntos, continuamos a conectar o mundo através da música. Abra o ecrã do computador para desfrutar melhor as imagens do excelente vídeo. Deixe se ir...
Desculpem, mas tudo o que nos está a acontecer
não devia ser surpresa. Passos mentiu-nos, da mesma maneira que Sócrates nos
mentiu e tanto um como o outro, sabiam que estavam a mentir. Há muito que este
país está a ser governado com base na mentira porque essa é a única forma de
governar Portugal. Mais, o próprio país que é Portugal, não passa de uma
mentira.
D. Afonso Henriques inventou uma batalha quando andava
com os seus homens a roubar gado, bens e a fazer escravos naquelas incursões
que tinham lugar junto das populações muçulmanas do sul da península, lá por
alturas de 1139.
«De repente, foi
confrontado com um enorme exército de mouros, surgidos não se sabe bem donde,
muito superior em número ao seu exército mas sobre o qual obteve uma vitória tão
estrondosa que só foi possível mediante a intervenção divina.»
Autoproclamou-se logo Rei de Portugal aclamado
pelas suas tropas no campo de batalha, de Ourique, reconhecido pelo rei de Leão e pelo Papa
Alexandre III muito sensível, como não podia deixar de ser, ao empenho de Deus
junto de Afonso Henriques ajudando-o a ganhar a batalha numa vitória
considerada, por esta razão, milagrosa.
Pregada a mentira, todos acreditaram que Portugal
existia, o próprio mundo acreditou, e de mentiras, enganos e expedientes,
séculos após séculos, a mentira tornou-se realidade, uma realidade mentirosa
que foi possível manter, com sorte e pela localização geográfica, atirada para
aqui , para a ponta da Europa meio
esquecida.
Os políticos
são eleitos porque mentem, caso contrário não seriam eleitos. Passos mentiu-nos
deliberadamente para poder ganhar as eleições dizendo a pés juntos e com todos
os dentes que tinha na boca que não lhe passava pela cabeça acabar com os
subsídios de Férias e de Natal quando fosse governo… Como se fosse possível
mantê-los num país sem dinheiro, nem possibilidades de o fabricar, sem crédito
e só não em bancarrota porque fomos à pressa chamar a troika. Como???...
Agora, mente-nos no dia a dia da governação e nós
continuamos a fingir que acreditamos. Entalados entre ele e a troika –
entenda-se bancarrota – os portugueses fingem que acreditam nas mentiras para
depois, com mais legitimidade, se poderem indignar contra elas.
As
verdades são terríveis, precisamos das mentiras para sobreviver sem morrermos
amanhã de angústia ou de um enfarte…
Poder-se-á dizer que este Passos Coelho não passa
de um rapazola que ainda no outro dia andava a namorar uma das Doce e,
portanto, não admira que minta, mas… e aquele outro senhor já de idade, muito
respeitável, que mandou em Portugal anos e anos seguidos com a ajuda da Pide, da Censura e dos "bufos", que nos mentiu dizendo que as colónias eram províncias
ultramarinas, parte integrante do território nacional, como o Alentejo ou o
Minho e os jovens negros de uma das quaisquer aldeias da vasta Angola, eram descendentes
de Afonso Henriques… também não mentiu?
E depois, foi o que foi: uma guerra inútil, milhares de mortos e estropiados e
500.000 portugueses recambiados à pressa para a terra de origem com uma mão à
frente e outra atrás.
Mentira por mentira, convenhamos que esta não se
compara com as do Passos Coelho, do Sócrates e de outros que o precederam
excepção feita ao Durão Barroso quando afirmou que estávamos de tanga… e era verdade, por isso foi recompensado com a Presidência da Comissão Europeia.
Os portugueses, os melhores de nós vão embora, os outros vão definhar, sinónimo de empobrecer, embalados pelas mentiras que é o que nos resta…
Episodicamente fomos ricos, com subsídios de
Férias, Natal e tudo… agora, apenas o seremos nas mentiras ou nas esperanças
que às vezes se confundem com elas.
Em tempos, não muito recuados, na minha
juventude, éramos quase todos pobres… muitos de nós até descalços andávamos, e os
velhos morriam ignorados ao canto das lareiras pelas aldeias desse país afora, esquecidos
pelo estado mas respeitados pela família. Agora, ainda que com alguma
pensãozita, morrem sós… a pior maneira de morrer.
A verdade desta sociedade é que nunca foi capaz
de produzir políticos, à excepção de um outro, que fossem autênticos líderes no
rumo, exemplo e formação a dar aos portugueses porque nós próprios também não
fomos capazes de os gerar. Ou eram ditadores que impunham uma ordem que servia
a eles e a quem os sustentavam ou eram democratas que espalharam a confusão e a
indisciplina.
Temo por Portugal, é o meu país, não o trocava
por nenhum outro… É verdade que nasceu de mentiras mas deu provas de
sobrevivência durante tantos séculos que só por isso merecia continuar…
Não sei, vendido a chineses, a angolanos e a quem
der mais, sem nada que seja dele, a que é que vamos chamar nosso no fim de
todas as privatizações?
Reduzidos à língua, ainda por cima com este
acordo ortográfico manhoso e à linha de fronteira, servindo turistas ricos, de
guardanapo imaculadamente branco pousado no braço, de espinha dobrada,
respeitosamente, esperemos que os nossos novos patrões nos paguem os ordenados
ao fim do mês… claro, sem subsídios de Férias e de Natal.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 190
Como haviam chegado a Ilhéus nem Deus sabe. Ali
esperavam obter o suficiente para as passagens de navio até à Baía onde podiam
associar-se a circo mais próspero. Em Itabuna quase haviam mendigado. O
dinheiro para o trem obtiveram-no as três filhas, as duas casadas e a solteira,
ainda menor de idade, dançando no cabaré.
Tuísca foi a providência divina: levou o director
humilde ao delegado (para obter a isenção do imposto cobrado pela polícia); a
seu João Fulgêncio (impressão do programa a crédito; a seu Cortes, do Cine
Vitória (empréstimo sem cobrança de aluguel, das velhas cadeiras encostadas
desde a remodelação do cinema); ao mal afamado botequi m
Cachaça Barata, na rua do Sapo (contratar sob seu conselho, mata cachorros
entre aqueles malandros), e assumira o papel de criado na peça A Filha do
Palhaço (o artista a representá-lo, antes abandonara a carreira e salário, em
Itabuna, por um balcão de armazém).
Ficou besta quando mandou eu repetir os que dizeres e
repeti tudo direitinho. E isso que não me viu dançar…
Gabriela batia palmas com as mãos ao ouvi-lo contar as
peripécias do dia, as notícias do mundo mágico do circo.
Tuísca tu ainda vai ser um artista de verdade. Amanhã
estou lá, na primeira fila. Vou convidar dona Arminda – pensava. – E vou falar
com seu Nacib pra ele ir também. Ele que bem podia ir, deixar o bar um pouqui nho. Pra te ver… Vou bater tanta palma de inchar
as mãos.
Mamãe vai ver também. Entra de graça. Pode ser que ela
vendo deixe eu ir com eles. Só que esse é um circo tão pobre…Andam ruim de
dinheiro. Fazem comida lá mesmo para não gastar com hotel.
Gabriela tinha ideias definitivas sobre circos:
- Tudo que é
circo é bom. Pode tá caindo aos pedaços, é bom. Não há coisa melhor que função
de circo. Gosto até de mais. Amanhã tou lá, batendo palma. E vou levar seu
Nacib, pode contar.
Naquela noite Nacib chegou muito tarde, o movimento do
bar entrara pela madrugada. Em torno do poeta Argileu Palmeira formara-se roda
grande, após a sessão dos cinemas.
O eminente vate juntara em casa do Capitão, fizera
mais algumas visitas, vendera mais alguns exemplares dos Topázios, estava
encantado com Ilhéus. O circo tão miserável, avistado no porto, não era
concorrente. A conversa no bar prolongara-se noite adentro, o vate revelava-se
valente bebedor, apelidando cachaça de «néctar dos deuses» e de «absinto
caboclo». Ari Santos recitara-lhe seus versos, merecera os elogios do eminente:
- Inspiração
profunda. Forma correcta.
Instado, também Josué declamou. Poemas modernistas,
para escandalizar o visitante. Não escandalizou:
- Belíssimo.
Não rezo pela cartilha futurista mas aplaudo o talento esteja onde estiver. Que
vigor, que imagens!
Josué
entregava-se: Argileu, afinal de contas, era um nome conhecido. Tinha bagagem
respeitável, livros consagrados. Agradeceu-lhe a opinião, pediu licença para
dizer uma das suas últimas produções. No correr da velada, por mais de uma vez,
Glória, impaciente, surgira em sua janela a espiar o bar.
(A Sónia Braga tinha 25 anos quando "vestiu" o papel de Gabriela no romance de Jorge Amado. A artista Juliana Paes, que a substitui agora na telenovela que começou ontem na SIC, tem 33 e uma beleza sofisticada, trabalhada, a que falta o brilho, a pureza, a rebeldia, o ar selvagem da cabocla do sertão brasileiro encarnado por Sónia Braga. O episódio da estreia foi um êxito, arrasou a concorrência, a qualidade, indiscutível. Ainda bem por Jorge Amado, ainda bem por quem não conhecia o romance. Eu não a verei, a minha ligação à Gabriela de há 35 anos atrás não me permite, seria traição... dá para compreender?)