Portugal... Quase chego a pensar que é tudo mentira
Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, abril 09, 2011
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 77
A ordem estrita do capitão era não maltratá-la, em mulher sua não admitia que outro tocasse, só ele espancava. Enrolada no lençol trouxeram-na à sua presença. O capitão, meio sentado, travesseiros nas costas, empunhava uma palmatória das grandes, pesada, de madeira de lei, antiga, do tempo da escravidão, dessa qualidade já não se faz nos dias de agora. Os cabras sujeitaram Tereza, o capitão lhe aplicou quarto dúzias de bolos, duas em cada mão. Não hei-de chorar, do meio para o fim chorava baixinho, estrangulando os soluços.
Outra vez a trancaram no quartinho dos fundos. Daí em diante, quando Guga abria a porta, um cabra se postava de guarda no corredor. No segundo dia, sendo a fome por demais, Tereza não conseguiu aguentar, limpou o prato. Não hei-de chorar, chorou; não hei-de comer, comeu. Trancada no quarto, só pensava em fugir.
Restabelecido dos ovos, retornou o capitão às lides da cama. Um dia Guga apareceu fora dos horários habituais, com ela veio um cabra trazendo bacia e um balde com água. A velha lhe entregou um bocado de sabão. é para tu tomar banho. Só depois de ter se banhado, quando Guga voltou para pendurar uma lamparina, entre o quadro da Virgem com o anjo Gabriel e a taca de sete pernas ainda suja de sangue, só então Tereza compreendeu o motivo do banho. Guga lhe entregou a encomenda:
- Ele mandou para tu vestir, foi da finada. Vê se tu hoje não grita, que o povo precisa de dormir. Camisola de cambraia e rendas, peça fina de enxoval do casamento, amarelada pelo tempo.
Porque tu não veste? Tu é maluca. A luz mortiça da lamparina iluminou o capitão a despir calça e cueca. Por via das dúvidas retirou o colar do pescoço, foi pendurá-lo em cima do quarto.
Por que não vestiu a camisola que lhe mandei, corna mal agradecida, por que desprezou meu presente? A pancadaria recomeçou, surras e gritos, tornaram-se monótonos, só dona Brígida fugia para o mato a clamar pela justiça divina – castigo para o miserável, castigo para a escandalosa; porque tanto alvoroço, tanta bordoada e tanto grito, seria essa moleca porá acaso melhor do que Dóris para se fazer tão rogada e difícil? O Inferno em vida. Obstinado e metódico o capitão prosseguiu com o tratamento tantas vezes comprovado; Tereza acabaria por aprender o medo e o respeito, por aprender obediência, mola mestra do mundo. Na pancada do malho até o ferro se dobra.
Durante uns dois meses Tereza apanhou. O tempo exacto ninguém mediu na folhinha, mas deu para o povo se habituar a dormir no embalo dos gritos. Que berros mais horríveis são esses? – quis saber um viandante curioso. Não é nada, não senhor, é uma maluca, cria do capitão. Mais ou menos dois meses Tereza aguentou. Cada vez que o capitão a teve foi na porrada. Cada novidade custou tempo e violência. Chupa, ordenava o capitão; a sediosa trancava a boca, ele batia-lhe com a fivela do cinto em cima dos lábios: abre cadela! Até abrir. Cada ensinamento durava noites e noites de aprendizagem; era preciso usar a mão aberta na cara, o punho fechado no peito, o cinto, a palmatória, a taca.
À ENTREVISTA Nº 89 SOB O TEMA:
Este “meme” cultural gerou, ao existir uma disponibilidade crescente de energia, uma superlotação totalmente desnecessária. Ao mesmo tempo, ele desenvolveu outro “meme” cultural: a ânsia de posse sobre as necessidades básicas. Posto que para garantir a sobrevivência dos indivíduos e famílias era necessário ter outras pessoas como ferramentas, a posse dessa e de outras riquezas equivalentes tornou-se mais um “meme” cultural adicional.
Novamente, a disponibilidade de energia tem levado ao desenvolvimento de uma ideia de consumo e ao acelerar do ritmo de vida totalmente desnecessário, que permanece e se propaga à população mundial. Para satisfazer estes dois “memes” culturais, procura-se mais energia, fácil e rápida mas mais poluente em vez de orientar esses esforços noutras direcções: a redução da população e o uso de outras energias limpas.
A sobrevivência humana depende hoje de considerações diferentes das que se colocavam há milhares de anos. Em vez de necessitarmos de seres humanos como mão-de-obra necessitamos dos cérebros desses humanos com ideias criadoras. Em vez da riqueza derivada de uma energia imediata, precisamos de energia sofisticada em formas cada vez mais tecnológicas.
A sobrevivência de cada um depende agora da sobrevivência de toda a sociedade, da nossa capacidade de combater as alterações climáticas.
(O dióxido de carbono que libertamos para a atmosfera é absorvido pelos oceanos e lentamente acidifica-se. Em 2100 ainda haverá ostras, mexilhões e recifes de coral?)
sexta-feira, abril 08, 2011
UMA PIADA QUE CHEGOU POR EMAIL
A crise política começou e Cavaco não disse nada.
O Sócrates ameaçou demitir-se e Cavaco nada disse.
O Sócrates demitiu-se mesmo e Cavaco continua sem nada dizer.
Pergunto eu, não será melhor alguém passar lá em casa a ver se está tudo bem?
Nos dias de hoje todo o cuidado é pouco com idosos sozinhos em casa...
TEREZA
Episódio Nº 76
17
O medo estampado no rosto das meninas na hora da verdade espicaça-lhe o desejo, dando-lhe dimensão mais profunda, raro sabor. Vê-las apavoradas, mortas de medo, uma delícia; ser obrigado a possui-las na raça, na força do tapa, um prazer dos deuses; o medo é o pai da obediência. Mas essa tal de Tereza, tão novinha, ah! em seus olhos o capitão não enxerga o medo; tanto lhe batera na primeira noite e só reconhecera a raiva, a rebeldia o ódio. De medo, nem sinal.
Justiniano Duarte da Rosa como todos sabiam – e respeitavam – era um desportista – criador de galos de briga, rei das apostas. Faz uma aposta consigo mesmo; se bem houvesse transporto os umbrais de Tereza, colhido mais um cabaço para a sua colecção de meninas, só irá a Aracajú, à ourivesaria de Abdon Carteado, encomendar a argola de ouro comemorativa quando houver ensinado o medo e o respeito à criatura indócil, quando a tiver domado a seus pés, atenta a suas ordens e caprichos, rendida e súplice, pronta a lhe abrir as coxas ao menor aceno e a pedir mais. Vai-lhe ensinar a fazer tudo quanto fazem as mulheres do castelo de Veneranda, as gringas. Dóris aprendera num instante, tornou-se mestra e devota, pena fosse magra e feia.
Tereza é uma estampa de santa, o capitão cobrará em dobro o seu rico dinheiro, tostão a tostão nem que tenha a surrá-la dez vezes por dia, outras tantas à noite. Há-de vê-la trémula de medo em sua frente. Irá então a Aracaju, à tenda de Abdon, encomendar a argola de ouro. Nos primeiros dias, além da tentativa de fuga, pouco mais sucedeu, pois o capitão guardara o leito, um dos ovos inchados, consequência do pontapé de Tereza – estivesse a bandida calçada e teria rendido Justiniano para o resto da vida.
Duas vezes por dia a velha Guga cozinheira abria a porta, entrava no quarto, trazendo um prato com feijão, farinha e carne seca, e a caneca com água, retirava o urinol para despejá-lo. Na primeira manhã, quando Guga apareceu para trazer o almoço, Tereza nem se moveu do colchão, quebrada, sem forças. Na obscuridade do quarto, Guga farejou o sangue, recolheu a taca, balançou a cabeça, falando sem parar:
- Que adianta contrariar o capitão? O melhor é satisfazer logo a vontade dele, para que diabo tu queres guardar esses três vinténs de merda? Para que serventia? Tu é muito menina, moderninha mesmo, um tico de gente se mete à baderneira. É melhor tu fazer as vontades dele. Tu apanhou muito, ouvi tu gritar. Tu pensa que alguém vai socorrer? Quem? A velha maluca? Tu é mais maluca que ela. Acaba com esse barulho que a gente precisa de dormir, não está para ouvir grito a noite toda. O que é que tu fez para o capitão cair na cama? Tu é maluca. Tu não pode sair do quarto é ordem dele.
Não posso sair do quarto é ordem dele: vamos ver se não posso. Quando no fim da tarde, a negra retornou, Tereza nem lhe deu tempo de entrar, precipitou-se pela porta aberta envolta no lençol, ganhou o mundo. Na sala, dona Brígida a viu passar, alma penada, resto de carniça do capitão, um dia Deus mandará o castigo. Benzeu-se, o Inferno em vida.
INFORMAÇÃO ADICIONAL
Diz o cientista:
“É necessário combater as alterações climáticas e ao mesmo tempo é extremamente útil lançar determinados países e a humanidade no seu todo na direcção do desenvolvimento real. É nosso dever, e será um prazer fazê-lo. As alterações climáticas resultam da queima selvagem do carvão e petróleo pela sociedade humana. Como todos os animais, os seres humanos precisam de energia para viver e ao encontrar estes dois combustíveis avançaram quase descontroladamente por um caminho sem regresso. Ao dispor de uma energia que encontrámos sem esforço, temos dado rédea livre ao crescimento populacional e à destruição acelerada do meio ambiente de que precisamos para viver. Ao encontrar essa energia deveríamos ter sabido usá-la de forma controlada mas a cultura dominante forçou-nos ao seu uso descontrolado.
O que dá origem a uma cultura? Richard Dawkins utilizou o termo "mem" como o equivalente social ao gene biológico. A escolha de um determinado número de alternativas em vez de outras, dá lugar a uma forma de progresso social. Durante um longo período em que nenhum ser humano tinha uma energia diferente da que deriva directamente da fotossíntese ou indirectamente do metabolismo fotossintético de vegetação, a possibilidade de extrair energia útil resultava do número de animais e pessoas, em que estas funcionavam como ferramentas ou como soldados para o roubo sistemático da energia. (continua)
quinta-feira, abril 07, 2011
Há 50 anos era assim... hoje os nossos jovens que emigram nunca ouviram falar de oliveiras de candeio, saem das cidades, têm cursos superiores, já não comunicam por carta mas por mails e mensagens de telemóvel. Estes são os avós dos jovens de hoje.
Desce a mão para os pêlos raros, negros, sedosos, no ventre pequeno, passa a língua nos beiços, estende o dedo para atingir o mistério da rosa em botão; mais além da dor, da raiva, o capitão restabelecido em desejo, disposto e apto, de estrovenga armada, vai começar a função. Mas a demónia fecha as pernas tranca as coxas. Onde encontra ideia e decisão? Tenta a capitão descruzar, não existe força humana capaz de fazê-lo. Outra vez a raiva ergue a taca na mão de Justiniano Duarte da Rosa, perseguido pelo cão em noite de núpcias. Põe-se de pé e bate. Bate com desespero, bate para matar. Para ser obedecido quando ordena e deseja. Sem obediência o que será do mundo? Os uivos de dor vão se perder na mata para onde fugiu dona Brígida, de neta nos braços. O capitão só pára de bater quando Tereza deixa de gritar, posta inerte de carne. Descansa um instante, larga a taca no chão, descruza-lhe as pernas, toca o recôndito segredo. Ainda tenta a menina um movimento, dois tapas na cara acabam de acomodá-la. O capitão ama descabaçá-las ainda verdes, com cheiro e gosto de leite. Tereza com gosto de sangue.
16
Quando a baça luz da antemanhã conseguiu penetrar através das frestas da janela condenada, Tereza, rota, lascada ao meio, dolorida em cada partícula do seu ser, arrastou-se até à borda do colchão, bebeu em dois golos o resto da água da caneca. Num esforço conseguiu sentar-se, os roncos do capitão fizeram-na estremecer. Não pensava em nada, apenas tinha ódio. Até então fora risonha e brincalhona, muito dada e festiva, amiga de todo o mundo, doce menina. Naquela tarde e naquela noite aprendeu o ódio, de vez e inteiro. O medo ainda não. De gatas saiu do colchão, foi até ao penico, gemeu de dor ao sentar-se. Ao som da urina o capitão acordou. Queria tê-la desperta, não uma posta de carne morta. Queria vê-la receber a estrovenga, o corpo vibrando na resistência e na dor. Ouvi-la urinar excitava-o loucamente.
- Deita, vamos folgar. Puxou Tereza pela perna, derrubando-a a seu lado, mordeu-lhe os lábios, nos ovos o desejo se impunha sobre a dor pertinaz e encoberta. Não tranque as coxas se não quiser morrer de apanhar. Pois a maldita não só trancou coxas e lábios, fez pior: meteu a mão no colar, um puxão no fio de ouro, rolaram as argolas pelo quarto, cada argola um tampo de menina colhido ainda verde.
Maldição! De um salto, levantou-se o capitão, esquecido dos quibas, dor no rabo e no coração – não havia nada no mundo, pessoa, animal ou objecto, de maior valia ou estima, para Justiniano Duarte da Rosa, nem a filha pequena, nem o galo Claudinor, campeão de raça pura japonesa, nem a pistola alemã, nada tão precioso quanto o colar dos cabaços. Na mesma noite os bagos e o colar, ah! Demónia! Demónia filha-da-puta, tu não aprendeu ainda, vai aprender. Vai catar as argolas uma a uma na música da taca. Vamos! As argolas, uma a uma! De taca na mão, cego de raiva, um incómodo nos ovos, aperreio medonho! Surra de criar bicho, de arriar os quartos, só faltou mesmo matar. Matilhas de cães respondiam na distância aos uivos de Tereza: toma, cadela, para aprender. Deixou-a desacordada mas quem recolheu as argolas foi o capitão.
Quando terminou de juntá-las, o próprio capitão sentiu-se enfarado, de braço farto, por pouco desloca a munheca, sem falar na persistente sensação de peso no saco-da-vida. Jamais batera tanto em alguém, tinha gosto em bater, divertido passatempo, mas dessa vez abusara, esta bicha sediosa, ruim de domar.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 89 SOB O TEMA:
“BÍBLIA E ECOLOGIA” (1)
O Livro do Universo
A Bíblia não é um livro de história. Muito menos é um livro de ciência, um livro que relate o início do universo, como argumentam com fanatismo, ignorância e arrogância, os criacionistas.
O geneticista Richard Dawkins faz esta analogia: Se a história do Universo fosse escrita à razão de um século por página, que espessura teria o livro? Do ponto de vista de um criacionista, toda a história do universo, nessa escala, caberia confortavelmente num livro de bolso. E a resposta científica para a mesma pergunta? Para acomodar todos os volumes desta história, na mesma escala, exigiria uma prateleira de 16 milhas de comprimento. Isto mostra a magnitude da diferença entre a verdadeira ciência e o ensino do criacionismo.
Não há Vestígios na Bíblia
A Bíblia não é um livro que sirva para nos inspirar a construção de uma consciência ambiental. Não há vestígio nos livros da Bíblia de sensibilidade ambiental. Às vezes, citam o Salmo 104 como prova da "consciência ambiental" no Velho Testamento. Nem mesmo este: ele é apenas um corpo estranho caído nas páginas da Bíblia, é uma adaptação do "Hino ao Sol" do faraó egípcio Akhenaton.
Na criação histórica que começa com a Bíblia, Deus ordena aos seres humanos "crescei e multiplicai" e "dominai" a terra, mandatos anti-ecológicos que podemos questionar hoje, sabendo, como sabemos, que a população humana é excessiva, mais de seis biliões de indivíduos, e a ideologia de dominação sobre outras espécies vivas e recursos naturais está dando cabo da vida no planeta e a provocar o colapso da civilização que construímos sob estas "ordens divinas". Ordens de Javé, o Deus de Israel, o Deus da Bíblia, a contradição personificada na divinização respeitosa e admirada da natureza, presente em todas as religiões da Grande Deusa-Mãe.
quarta-feira, abril 06, 2011
The Platters Unchained Melody
TEREZA
Episódio Nº 74
A menina aperta os dentes e os lábios, a dor a atravessa, o homem vai lhe quebrar o braço; não há-de chorar, guerreiro não chora nem na hora da morte. Um raio de lua penetra na mansarda pelo buraco da janela condenada – pequeno de mais para tamanha judiação. Na dor do braço torcido, Tereza afrouxa, cai deitada de costas – aprendeu, papuda? De pé, ante a menina caída, o capitão pingando suor, arranhado na perna, ferido no rosto, ri vitorioso; antes xingasse, o riso dele é sentença fatal.
Solta o braço de Tereza; derrotada não oferece mais perigo. Na raiva, o capitão terminara batendo por bater, maltratando por maltratar; na indignação esquecera o principal e, em vez de se excitar, findara a luta de estrovenga murcha.
O raio de lua sobre a coxa descoberta reacende o desejo em Justiniano Duarte Rosa. Aperta os olhos miúdos, retira a cueca, balança os bagos sobre a menina: veja, minha filha, tudo isto é seu, vamos, tire o vestido, depressa tire o vestido, o capitão acompanha o gesto de obediência, dominou a rebeldia da endemoniada.
Mais depressa, ande, tire o vestido, assim submissa dá gosto: mais depressa, vamos! Em vez, Tereza apoia a mão no piso, se levanta num salto de moleque, novamente erguida no canto da parede. O capitão perde a cabeça, vou te ensinar, cachorra! Dá um passo, recebe o pé de Tereza nos ovos, dor mais sem jeito, dor mais pior, solta um grito medonho, se torce e contorce.
Tereza alcança a porta, bate com os punhos, pede socorro, por amor de Deus me acudam, ele quer-me matar. Ali mesmo recebe a primeira mordida da taca de couro cru. Taca feita de encomenda, sete cordas de couro de boi, trançadas, tratadas a sebo, em cada corda dez nós.
Enlouquecido, em fúria, na dor desmedida, o capitão só pensa em bater. A taca atinge Tereza nas pernas, no ventre, no peito, nos ombros, nas costas, na bunda, nas coxas, na cara, a cada chicotada dos sete chicotes, a cada dentada dos nós um lenho, um rasgão, uma posta de sangue. O couro é faca afiada, zunem os chicotes no ar. Arfante, cego de ódio, o capitão surra como jamais surrou, nem a negrinha Ondina apanhou tanto assim.
Tereza defende a face, as mãos em chaga, não há de chorar, mas os gritos e as lágrimas soltam-se e rolam independentemente da sua vontade, não basta querer: Tereza urra de dor, ai! Pelo amor de Deus! Do quarto vizinho chegam as pragas malucas de dona Brígida, inúteis, não acalmam o capitão, não consolam Tereza, não despertam vizinhos nem a justiça de deus.
Incansável capitão: Tereza rola semimorta, o vestido empapado de sangue, o capitão continua a bater um bom pedaço de tempo. Aprendeu cachorra? Com o capitão Justo ninguém se atreve e quem se atreve apanha. Para aprender a ter medo, a obedecer.
Ainda de taca em punho, Justiniano Duarte Rosa se curva, toca o corpo largado, a carne de menina. Um resquício de desejo volta a nascer nos quibas doidos, sobe-lhe corpo acima, reanima-lhe a verga, restabelece a vergonha e o orgulho. Sente um frio no rabo, resto fino de dor, mas não há-de ser nada, não vai impedir o capitão de iniciar a cobrança do conto e quinhentos.
A menina geme, um choro de resmungos, demónia. Justo mete a mão, rasga-lhe o vestido de alto a baixo, sangue no tecido, sangue na carne dura, tensa. Toca o bico dos peitos, ainda não são peitos, são formas nascentes, as ancas apenas se arredondam, tão-somente um começo de mulher, um início, menina por demais verde, bem ao gosto do capitão, melhor não podia ser. Um cão do inferno, mas formosa pintura, petisco de rei, cabaço tão virgem nunca se viu. (clik na imagem e aumente)
ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 89 SOB O TEMA:
“A BÍBLIA E A ECOLOGIA”
JESUS - Sim, é verdade Raquel, que está ficando quente aqui no Mar Morto.
RAQUEL – No seu tempo era mais fresco?
JESUS - Sim, muito mais. A minha terra sempre foi quente, mas não tanto quanto agora...
RAQUEL – As Emissoras Latinas estão agora instaladas ao longo das muralhas de Jerusalém Oriental. No programa anterior, e neste lugar altamente simbólico, o senhor disse-nos ter-se equivocado há dois mil anos ao ter calculado quando seria o fim do mundo.
JESUS - Sim, um erro muito maior do que o do nosso pai Isaque quando confundiu um filho com o outro…
RAQUEL - Então, retirou toda a responsabilidade a Deus sobre os acontecimentos que levam a esta hecatombe e nos lançou um apelo dramático para nós, seres humanos, evitarmos esse fim. Sou fiel às suas palavras?
JESUS - A Raquel é uma repórter fiel. Disse isso.
RACHEL – Pois bem, ontem e hoje chegaram à nossa Emissora mensagens de activistas de diferentes organizações. Ficaram entusiasmados com as suas palavras e estão ansiosos para ouvir de sua boca mais propostas ecológicas que os inspirem nas suas reivindicações... Ouça o que eles dizem...
JOVEM -Jesus Cristo, eu falo em nome de um grupo de jovens. Depois de o ouvir, pensamos que o senhor é dos nossos. O senhor é verde… caramba! Por que não nos recorda as suas palavras sobre a relação entre o homem e a natureza?
RACHEL - O que o senhor quer dizer aos nossos ouvintes mais novos?
JESUS - Estou decepcionado ... é que eu não falei sobre o problema que ele mencionou ...
RAQUEL – Não disse nada?
JESUS - Nada.
RAQUEL - Um homem tão sensível para os lírios do campo e as aves do céu, um poeta do amor, vai nos dizer agora que não tem sensibilidade ambiental?
JESUS - Não, não. Olha, Raquel, essa palavra que o jovem disse, "natureza", eu nunca a usei…
RAQUEL - E que palavras usava?
JESUS - Criação. Deus o Criador e o mundo sua Criação. E a única coisa ruim foi que desde a primeira página da Escritura, nos ensinavam: "encham a terra, semeiam-na. Dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu ... "
RAQUEL - Como numa guerra?
JESUS - Também, como na guerra. E com estas palavras arranjámos reis da criação, donos no mundo, pessoas orgulhosas com o direito de maltratar a terra, os animais… Não percebemos que a terra não é nossa, nós é que pertencemos a ela. Devemos cuidar da Terra como de uma mãe.
RACHEL – O senhor não teve, então, nenhuma consciência ecológica?
JESUS - Não, eu entendo o mundo como as pessoas do meu tempo. A esse jovem que falou eu dir-lhe-ia que não me pergunte a mim. Que se inspire naquilo que as ciências ensinam sobre as maravilhas de Deus.
RACHEL - Mas então, a Bíblia ...
JESUS - A Bíblia não ensina tudo. Deus não se encaixa em nenhum livro. Nem em todos os livros do mundo.
RAQUEL - O senhor fala da criação. Mas na actualidade falamos sobre a evolução. Sabe o que eu quero dizer?
JESUS - Não, não tenho idéia.
RAQUEL - Criação ou evolução? Será o controverso tema da nossa próxima entrevista. Amigos, não percam a nossa sintonia e esperem-nos amanhã.
Das muralhas de Jerusalém Oriental, Raquel Pérez, correspondente especial.
terça-feira, abril 05, 2011
Há velhinhos assim...
O rapaz apertava o nariz da namorada e perguntava :
- Dói amorzinho ?
- Dói sim. - Respondeu ela. E então ele deu um beijo no nariz da rapariga e perguntou :
Passados alguns instantes ele apertou a bochecha da rapariga e perguntou : - Dói ? - Dói sim.
Então ele deu-lhe um beijo na bochecha e perguntou - E agora ?
- Agora já passou.
E continuaram naquela vida até que o velho, já cansado daquilo, diz :
- Ouve lá, ó boquinha milagrosa: .... curas hemorróidas ??
The Platters - Great Pretender, Only You (live)
TEREZA
Em vez de chorar, Tereza responde com um pontapé; treinada na briga de moleques, atinge o osso no meio da perna nua, a unha do dedo grande arranha a pele – uma esfoladura, um pingo de sangue: foi Tereza quem tirou sangue primeiro. Curva-se o capitão para ver, quando se alteia abate o punho no ombro da menina. Com toda a força, para educar. Jagunço, soldado, comandante nas brigas dos moleques, Tereza aprendera que guerreiro não chora e ela não há-de chorar. Mas não pôde conter o grito, o soco desconjuntou-lhe o ombro. Gostou? Aprendeu? Está satisfeita ou quer mais? Deita, diabo! Deita antes que eu te rebente. Arde o capitão em desejo, a resistência serviu-lhe para acender a caceta, afrodisíaco melhor que pau-de-resposta ou catuaba, activou-lhe o sangue abriu-lhe o apetite, Deita! Em lugar de obedecer, a desinfeliz tenta atingi-lo outra vez, o capitão recua. Corna descarada, tu vai ver! O soco ressoa no peito, Tereza vacila, abre a boca para respirar; aproveita-se Justiniano Duarte da Rosa e por fim a prende nos braços. Aperta-a contra o peito, beija-lhe o pescoço, o rosto, tenta alcançar a boca. Para ajeitá-la melhor, afrouxa o abraço, Tereza rodopia, escapa, mete as unhas na cara gorda em sua frente, ah! por pouco não cega o bravo capitão.
Quem está com medo, senhor capitão? Nos olhos de Tereza apenas ódio, mais nada. Filha da puta tu vai ver o que é bom, acabou-se a pagodeira. Avança Justiniano, a menina se furta, as sombras vão e vêm, a fumaça se eleva, vermelha, sufocante, invade as narinas. Louco de raiva o capitão acerta um soco na caixa dos peitos de Tereza, parece uma batida de bombo. Tereza perde o equilíbrio, cai entre o colchão e a parede. Arde o rosto de Justiniano, a filha-da-puta ordinária queria furar-lhe os olhos. Baixa-se sobre a menina, mas ela rasteja, estende o braço, alcança e empunha o candeeiro.
O capitão sente o calor do fogo nas virilhas, na altura dos ovos. Criminosa! Assassina! Larga esse fifó agora mesmo, tu vai incendiar a casa e eu te mato. Tereza de pé, em sua mão o candeeiro sobe e avança; o capitão mais uma vez recua, salvando o rosto. Encostada à parede, a menina move a luz para localizar o inimigo. Ao fazê-lo exibe o rosto suado e atrevido. Onde o medo, o medo desatinado de todas as outras? Apenas ódio. É preciso lhe ensinar a temer, a respeitar o amo e senhor que a comprou a quem de direito, é seu dono; se não houver respeito no mundo como há-de ser? De repente, o capitão enche as bochechas, sopra com força, a chama vacila e se apaga. Some o quarto na escuridão. Tereza perdida nas trevas. Para Justiniano Duarte da Rosa é dia claro, enxerga a menina contra a parede, os olhos de ódio, o fifó inútil na mão. Precisa ensinar-lhe o medo, educá-la.
INFORMAÇÃO ADICIONAL
segunda-feira, abril 04, 2011
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 72
Ah! que seja logo, antes da infanta transformar-se em menina no ponto do capitão, argola no colar de ouro. Detrás da mangueira, a criança contra o peito, cabelos desgrenhados, vestida de andrajos, dona Brígida perde a cena de vista, os monstros levaram a menina – os monstros estão soltos, povoam o campo, as plantações, o bosque, a casa, a terra inteira. Atiram o corpo dentro do quarto, trancam a porta por fora. O capitão cospe nas palmas das mãos, esfrega uma na outra.
Justiniano Duarte da Rosa parece não levar pressa. Tira o paletó, pendura-o num prego, entre a taca e a oleografia da Anunciação, despe as calças, desata os cordões dos sapatos; dispensou a água para os pés naquela noite de festa – amanhã a nova moleca os lavará na bacia, antes da função começar. De cuecas e camisa desabotoada, a barriga solta, anéis nos dedos, colar no pescoço, toma do fifó, levanta-o, examina o prato e a caneca ali postos pela velha Guga cozinheira; o prato continua intacto, parte da água foi bebida. Com a luz pequena e suja inspecciona a mercadoria.
Cara, um conto e quinhentos mil-réis e mais o vale para o armazém. Não se arrepende, dinheiro bem empregado – bonita de cara, bem feita de corpo; ainda mais o será ao crescer em mulher no busto e nas ancas. Aliás, para o gosto de Justiniano Duarte da Rosa nada se compara ao verdor das meninas assim, ainda com gosto de leite materno, no dizer de Veneranda; Veneranda, espertalhona safada, mas de muito tutano na cabeça, conhecia macetes e libidinagens, usava palavras arrevesadas, importava estrangeiras para Aracaju, gringas sabidíssimas, faziam de um tudo, só que esse não é o momento de pensar em Veneranda, fosse se estourar nos infernos e levasse junto o governador do estado, seu xodó e protector.
Filipa falara certo: para encontrar mais bonita só indo à capital, quer dizer à Bahia, nem em Aracajú conseguiria assim tão perfeita, a cor assentada em cobre, os cabelos negros batendo nas costas, as pernas altas, uma pintura igual a certas estampas de santas, ali na parede tinha uma. Vale de sobra o preço, custou bom dinheiro mas não foi caro, é preciso distinguir.
O capitão passa a língua nos beiços, descansa a luz no chão, sombras se elevam – deita aí!, ordena. Deita aí! Repete. Estende o braço para obrigá-la, a menina se afasta sempre junto à parede, Justiniano ri, um riso curto: tu quer brincar de picula comigo, está com medo da zorra no meio das coxas?
INFORMAÇÃO ADICIONAL
À ENTREVISTA Nº 88 SOB O TEMA:
“FIM DO MUNDO” (5)
Para agir com responsabilidade ecológica precisamos de informação. Depois de séculos de pensar em "progresso" linear e indefinido, os seres humanos estão aprendendo o erro de linearidade presente, sabendo agora que os recursos naturais se esgotam, sentimo-nos como passageiros do mesmo navio, no qual nos salvamos todos ou nos afundamos todos.
Agora sabemos que somos vida na Vida que habita a Terra, que o nosso planeta é um sistema vivo que regula a sua temperatura e se defende de mil maneiras para se manter vivo, assim como o fazem todos os seres vivos.
A teoria Gaia, proposta pelo cientista inglês James Lovelock defende que a Terra é um planeta diferente na sua composição química por ser um planeta que tem vida o que é ainda difícil de entender. Hoje sabemos que a espécie humana, predatória e perdulária fez com que a Terra se tornasse gravemente doente.
O factor mais perigoso que aflige nosso mundo de hoje é o aquecimento global misturado com o obscurecimento global, em resultado do uso irracional de combustíveis fósseis e outros produtos químicos. Hoje sabemos que a radiação solar, a principal fonte de energia que nos mantém vivos, está cada vez mais enfraquecida pelos produtos químicos na atmosfera e que a contaminação produzida pelas nossas fábricas e carros está aquecendo o planeta de forma irreversível comprometendo todas as formas de vida mas ainda nos custa tirar as consequências a partir dessas notícias tão más.
Recomendamos o mais recente trabalho do cientista que deu destaque para a teoria Gaia, James Lovelock, intitulado "Revenge of the Earth" (Planeta, 2007). A leitura põe em pé os meus cabelos(o "heurística do medo") e nos incentiva a uma ética: atitudes, decisões e lutas que impeçam que este mundo, o nosso mundo, a nossa civilização entre em colapso, como resultado da reacção da Terra contra a vida irresponsável, que está levando a espécie a que pertencemos
.domingo, abril 03, 2011
HOJE É DOMINGO
Não sou crente. Sem esforço, sem angústias, sem lutas interiores, sem ter deixado de o ser, não obstante os princípios religiosos que herdei e a educação que recebi.
Como em miúdo frequentei um Colégio de Jesuítas fui contemplado com todos os sacramentos: Comunhão Solene , Crisma, peregrinação a Fátima, Retiros e rezei muito: Terços, Ave-Marias e Padre-Nossos porque as crianças não têm opção perante assuntos tão graves e solenes como os da religião e fazem tudo o que lhes dizem e mandam, especialmente numa época em que a autoridade dos pais e dos educadores não se punha em causa.
Mas a crença religiosa não existia dentro de mim … estranhamente porque sendo uma criança obediente e disciplinada deveria ter acreditado.
Não obstante, creio que por esse facto, como pessoa e ao longo da minha vida não fui nem melhor nem pior do que teria sido caso fosse crente.
Digamos, portanto, que a minha “não crença” é em mim um estado natural, tão natural que me permite compreender e aceitar aqueles que o são sem qualquer espécie de sentimento de que sou diferente para melhor apenas que assim, tal como sou, me sinto mais integrado na natureza, mais solidário, o que me deixa muito confortável. Não tenho privilégios nem sofro de narcisismos, limito-me a nascer, viver, qualquer dia morrer, exactamente como todos os outros seres vivos.
Aquela falácia de que as pessoas crentes e religiosas são mais “boazinhas” que as outras é uma mistificação. Na minha convivência com o povo Luena, durante 15 meses, nos confins de Angola, lá nas “terras do fim do mundo”, como comandante de um Destacamento Militar durante a guerra colonial, foi-me posta a alcunha de “Saricoge” que a muito custo, por uma questão de pudor e vergonha, o velho cozinheiro Sacuá me traduziu para “homem bom”e explicou: aquele que não faz distinção entre ricos e pobres, brancos e pretos”.
Francisco Rosa, professor na Universidade de Sirte, em Tripoli, na Líbia até há poucos dias, dizia: “os dois opressores do povo Líbio são a religião e as tradições”. “Para haver democracia, tal como a entendemos, tem que haver tolerância, o que não existe e a causa principal é a religião que está estrangular aquela sociedade”.
Mas porque vos digo isto, hoje, nesta manhã de Domingo? - Bem, não são fáceis as conversas sobre religião quando estamos na presença de certos religiosos fanáticos que se sentem ofendidos na sua sensibilidade por discordâncias e dúvidas sobre esta matéria, mas acontece que li há dias na Revista Visão uma notícia em que se perguntava:
“A fé em Deus vai morrer em, pelo menos, nove países – diz um estudo de investigadores americanos. Analisadas as respostas sobre crenças aos Censos dos últimos cem anos, e usando um modelo matemático de dinâmica não linear, a equipa concluiu que a fé organizada se está a extinguir na Austrália, na Áustria, no Canadá, Finlândia, Holanda, Nova Zelândia, República Checa, Suiça e até a Irlanda. Destes nove países, o “menos crente” é a República Checa, onde 60% da população diz que não tem qualquer inclinação religiosa”.
Em breve, com os Censos de 2011, saberemos o que se passa entre nós.
Uma pergunta final: - Para que lado se inclinará o futuro da humanidade? Para esta nova realidade de checos, australianos, finlandeses, austríacos, etc… que não têm qualquer inclinação religiosa ou para os milhões de islamitas que continuam a seguir rigorosamente as normas do Corão?
Se querem um palpite, não será nos nossos tempos mas, se realmente esta é uma “questão”, (eu acho que é), dado o tempo já decorrido que seja mesmo o tempo a resolvê-la…
Para os crentes e religiosos, que fiquem com Deus, para os outros, simplesmente… tenham um Bom Domingo.
(clik na imagem para observar melhor a Igreja da Graça no Largo Pedro Álvares Cabral)