Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, setembro 06, 2014
YOU ARE MY SUNSHINE - SARA HICKMAN
Foi escrita em 1933 por Oliver Hood e aparece em disco, pela 1ª vez, em 1939 ou seja, no ano em que eu nasci. É uma balada linda, um êxito musical que nunca é esquecido.
Voltámos à barbárie dos assassinos em massa. |
Hipocrisia
Enquanto os extremistas que iam
destruindo a Síria eram tratados como democratas libertadores, durante meses
tiveram o apoio do Ocidente para destruir e massacrar livremente na Síria.
Mesmo quando estiveram nas imediações de Bagdad ninguém ficou muito preocupado.
Mas quando um inglês cortou o pescoço a um jornalista americano os EUA e a
Europa perceberam o monstro que ajudaram a criar.
Toda a gente sabia que a Síria estava
sendo invadida por hordas de extremistas europeus mas a Europa e os EUA
discutiam a possibilidade de ir em ajuda deles e a questão era saber se as
potências ocidentais iriam ou não bombardear a Síria em apoio dos extremistas
que, como já tinha sucedido no Afeganistão, eram tratados como libertadores.
A diplomacia dos EUA e da EU já
destruiu a Líbia e a Síria, agora está encorajando uma guerra contra a Rússia
na Ucrânia, distribuiu os arsenais da Líbia e do Iraque por grupos
fundamentalistas que já fazem chegar o seu poder militar a países como a
Nigéria e só por um triz não promoveram a destruição do Egipto.
Mas a fome, a morte e o terror que se
espalhou por África não incomodou muito as potências Ocidentais, foi preciso
uma única vítima e um único assassino para que o Ocidente mudasse de posição.
Os milhões de refugiados sírios não pesaram nos sentimentos do Cameron ou do
Obama, as crianças nigerianas raptadas já foram esquecidas, os líbios são
ignorados, foi preciso um americano ser morto por um extremista inglês para que
as boas almas americanas e inglesas acordassem.
De um dia para o outro o Cameron controla as saídas, o Durão Barroso, que como é sabido é um rapaz muito sensível, ficou horrorizado, e o Obama explode de indignação.
Esquecem-se do apoio que deram aos agora seus inimigos, esquecem-se
do massacre que impuseram à Síria, nem repararam que foi um país aliado e
membro da NATO que quase montou um serviço de transporte em executiva para
transportar os jiahdistas britânicos e franceses a entrarem na Síria.
A diplomacia ocidental está lançando
a confusão pelo mundo, promovendo conflitos em todo o lado, em nome da
democracia atiram países inteiros nas mãos de extremistas.
Depois da
globalização comercial o mundo assiste a uma globalização do terrorismo e o
fenómeno só não assume maiores dimensões porque os imbecis da diplomacia dos
países ocidentais ainda não conseguem decidir o que se passa em países como a
Rússia, a Índia, a China ou o Brasil.
A Europa arrisca-se a pagar com
língua de palmo a estratégia cínica de imbecis como Durão Barroso, Cameron
e François Hollande, mais tarde ou mais cedo vamos ter gente a querer
criar os califados do Midi, de Londres, de Marselha ou de Córdova, é apenas uma
questão de tempo.
Lamento muito mas começa a ser difícil verter lágrimas pelas vítimas americanas do cinismo diplomático do Ocidente, os meus olhos ficaram secos com as vítimas nigerianas, malianas, líbias, iraqui anas
e sírias, vítimas que foram ignoradas por uma boa parte dos nossos jornalistas
quando se queriam apresentar os jiahdistas como libertadores, promotores da
democracia e de novas primaveras.
Lamento muito mas começa a ser difícil verter lágrimas pelas vítimas americanas do cinismo diplomático do Ocidente, os meus olhos ficaram secos com as vítimas nigerianas, malianas, líbias, ira
O JUMENTO
Nota - Os dois jornalistas assassinados cruelmente em vídeo mostrado ao mundo talvez, com a sua morte, tenham prestado um grande serviço a todo o mundo civilizado.
Preocupada com índices económicos a Europa não tem política externa.
Os EUA, escaldados das asneiras na guerra do Iraque, não acordam para a realidade das asneiras que fizeram...
da Velhice
- Pode-se nascer velho, como se pode morrer
jovem!
( Jean Cocteau )
-
A idade não é pretexto para que se fique velho! (G. Slatery )
-
O meu sonho é morrer jovem com uma idade muito avançada! ( Jeanson )
-
Envelhecer é aborrecido, mas é a única forma de se viver muito tempo!
(
Saint- Beuve )
-
Devemos preocupar-nos mais em juntar vida aos anos do que anos à vida.
( Victor Hugo de Lemos )
-
O bom lado das coisas: por mais velho que se seja pode-se ser mais jovem do que
nunca!
(Albert Einstein)
- Um homem só é velho
quando os seus desgostos tomam o lugar dos seus sonhos! (John Barrymore )
-
Envelhecer é ser capaz de ser jovem durante mais tempo do que os outros!
( Bernard Shau )
-
Pelo facto de envelhecer não deixe de rir; mas ao deixar de rir, envelhece-se
de facto!
( Balzac )
-
Aos 969 anos, Mathusalem estava tão bem conservado que apenas lhe davam
345!
( Tristan Bernard )
Até os índios, nação mais perseguida, tem chão onde se deitar |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 45
O
Capitão desmontou a tempo de impedir que o turco concluísse o negócio da compra
do burro, mas dos sucessos da véspera soube apenas por ouvir dizer.
2
O que então se dizia e repetia na costa
e no sertão, todos sabem: cigano é outra nação, duvidosa. Não se confunde com a
raça grapiúna nem com nenhuma conhecida, não se mistura com sergipano ou turco,
português ou curiboca, com outra grei seja qual for.
Quem já compareceu a casamento de cigano
com gente do
país? Está por acontecer. Nação à parte,
casta de bruxos e gatunos, os ciganos vivem de enganos e embustes, de trapaças.
No lombo dos cavalos roubados, os homens
assemelham-se a fidalgos, condes e barões, duques e marqueses. Reclinadas em colchões
encardidos nas carroças onde vivem; vestidas de andrajos floreados, largas
saias de babado; recobertas de pulseiras e colares, as mulheres passariam por
princesas e rainhas não fossem a buena-dicha, a língua de trapo e os pés
descalços.
Levados pelas aparências há quem diga e até
escreva que os ciganos são o resto da corte real da Babilónia errante mundo
afora, cumprindo sina.
Fosse como fosse, convinha guardar
distância, usar de cautela no trato de negócios, esconder os bens mais
preciosos. Um povo sem chão, onde já se viu?
Ninguém pode confiar. Até os índios, nação
mais perseguida, têm chão onde pousar, se bem pouco já lhes restasse por
aquelas bandas nas quais, outrora, muito outrora, as tribos pataxós ocupavam
extensas áreas.
Senhores das matas e dos rios, os índios
pescavam e caçavam, dançavam e guerreavam. Foram mortos em sua grande maioria,
afinal não tinham qualquer utilidade para a lavoura do cacau. Arredios, os
sobreviventes buscavam manter-se em contados redutos mas o menor pretexto era
razão de sobra para liqui dá-los.
Ainda representavam algum perigo, diminuto porém.
Fazia tempo que se deixara de ouvir
notícia de povoação vítima do ataque de índios. Acontecera, sim, mas em data
remota, antes de haver Tocaia Grande.
O galpão erguido no
descampado atraía putas, alugados e mateiros. Os alugados vinham das roças que
começavam a ser plantadas nas clareiras abertas com o desbaste da floresta
pelos mateiros: primeiro o machado e o fogo, logo seguidos pela pá e a enxada.
Algumas raras quengas ali se fixavam, levantavam
uma palhoça; certamente motivos sérios as decidiram a viver em lugar tão de
somenos.
Perseguido chão de índios, misérrimo
chão de raparigas.
Chão de ciganos não existe: é o lombo
dos cavalos, o estrado das carroças, a sola dos pés. Ninguém pode confiar. Mas
quem não se encanta com um par de brincos cintilando ao sol, com uma jóia verdadeira
ou falsa, quem não deseja saber a ventura que lhe reserva o dia de amanhã?
3
Para que tudo fique claro ou se torne
ainda mais obscuro no relato da passagem dos ciganos por Tocaia Grande, faz-se necessária
uma referência mesmo breve ao passado de Guta, já então perfumada com o doce aroma de tabaco.
sexta-feira, setembro 05, 2014
Rádio Comercial - Os Barquinhos
Como sabem estive lá no passado fim de semana com a minha neta que adorou. O "defeito" maior que lhe encontrei foi precisamente a localização. Então as naus saíram de Lisboa e o Museu foi parar a Gaia?...
Ritmo de la Noche - Simon Cowell
Um pouco de loucura dos ritmos alucinantes de outros tempos... e não se esqueça de abrir o ecrã.
(A maneira inteligente
de a viver...)
Eu nunca trocaria meus amigos, minha vida maravilhosa, minha
amada família por menos cabelos brancos ou uma barriga mais lisa.
Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo… Eu não me censuro por comer um bolo a mais ou por não fazer a minha cama, ou para a compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão "avant garde" no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.
Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo… Eu não me censuro por comer um bolo a mais ou por não fazer a minha cama, ou para a compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão "avant garde" no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes
de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.
Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no
computador até as quatro horas e dormir até meio-dia? Eu Dançarei ao som
daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 e 70, e se eu, ao mesmo tempo,
desejo chorar por um amor perdido…Eu choro.
Vou andar na praia de calções excessivamente largos sobre um
corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu qui ser,
apesar dos olhares penalizados dos outros no jet
set.
Eles, também, vão envelhecer.
Eu sei que às vezes esqueço algumas coisas. Mas há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes.
Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não pode
quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança
sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um
carro?
Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e
compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá
a alegria de ser imperfeito.
Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus
cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos
profundos em meu rosto.
Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos
virarem prata.
Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com
o que os outros pensam. Eu não me questiono mais.
Eu ganhei o direito de estar errado. Assim, para responder sua
pergunta, eu gosto de ser idoso.
A idade me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não
vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui ,
eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com
o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).
É bom quando se chega a velho... significa uma vitória sobre a
vida que se ultrapassou... quantos não ficaram para trás?... somos uns
vencedores sem termos consciência disso... queixa-te da doença e da pobreza,
não lamentes a velhice.
Cabeça de mulher é poço escuro... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio nº 44
Houve quem se referisse à existência de
xodó entre os dois. No entanto, Bernarda não aceitara juntar os trapos com os
dele, deixando de ser mulher-perdida para elevar-se à condição de amásia em
recatada mancebia.
Preferira continuar puta de casa e racha
aberta a qualquer passante. Fadul não entendia: tão indecifrável quanto um
versículo do Alcorão, abstruso livro dos infiéis.
Em conversa com Coroca sobre a vida e
seus enredos, perguntou-lhe de passagem se ela tinha explicação para a absurda conduta
de Bernarda.
Coroca esqui vou-se:
-
Quem houvera de pensar! Cabeça da mulher é poço escuro, não dá para se enxergar
o fundo. Fiquei de queixo caído quando soube. Mas, se eu lhe disser, seu Fadu
vai duvidar: em Itabuna conheci uma sujeita que largou o marido endinheirado,
dono de loja, doido por ela, pra ir fazer a vida em casa de mulher-dama.
Se chamava Valdelice, era um pancadão e
gostava de ser puta. O mundo é mais arrevesado do que a gente imagina, seu
Fadu. É o que posso lhe dizer, de mais não sei.
UM BANDO
DE CIGANOS ARRANCHA EM
TOCAIA GRANDE EM NOITE DE LUA CHEIA
1
Naqueles inícios do arruado, a passagem
da caravana de ciganos deixou saudades apesar de todos os pesares. Por muito tempo
a recordaram embora no espaço de um dia e uma noite pouca coisa de fato
houvesse sucedido que valesse a pena relatar.
Persistiu não obstante um fascínio
irresistível, um mistério a decifrar. Os ciganos apareceram no meio da tarde e
acamparam no cerrado, na outra margem. Deviam ter perdido o rumo no pontilhão ou
o abandonaram de propósito, vá-se lá saber.
Desatrelaram as carroças circundadas de
panos coloridos, cobertas de couro, abarrotadas de abregueces. As mulheres cuidaram
de acender o fogo enquanto os homens foram desatrelar os animais, cavalos e
burros, na beira do rio.
Apenas Josef, o mais velho, encaracolada
cabeleira branca, brincos nas orelhas, anéis nos dedos, punhal no cinto largo,
colete em lugar de paletó, atravessou de imediato por cima das pedras e se dirigiu
para o armazém de Fadul.
A
estampa de um rei, pensou Coroca ao enxergá-lo. Vistos de longe pareciam
muitos, em verdade não chegavam a vinte, contando as crianças.
Mais do que bastante, considerou o capitão
Natário da Fonseca, no dia seguinte, ao deparar com aquela ciganaria acampada
defronte de Tocaia Grande.
Ricardo Salgado, o chefe do clã. |
O CLÃ
A Revista Sábado, de ontem, traz um artigo sobre 422 membros dos vários ramos do clã Espírito Santo desde o seu fundador, José Maria, que, por ironia do destino era filho de pais incógnitos.
Casou duas vezes e foi pai de seis filhos que deram
origem a toda a descendência da família Espírito Santo onde tudo aconteceu
desde ódios, intrigas, dramas de faca e alguidar do filho que bate na mãe até
ao coma, à imagem de todas as grandes e poderosas famílias ao longo da história.
Quatrocentos e vinte e duas pessoas, a maioria das
quais nunca apareceria citada na imprensa mas que agora são notícia pelas
piores razões: os Espírito Santo vão ajudar a levar o país à ruína ainda mais
do que ele já está.
Há, de resto, muito boa gente que neste momento se
encolhe e protege a cabeça com as mãos porque não sabe o que lhes pode, e a nós
todos, cair em cima da cabeça dos destroços deste estouro monumental que foi o
BES, agora nome maldito, não se sabe até quanto ($)...
Os “Espírito Santo” tinham as portas abertas em todo o
lado porque eram da família mais rica, poderosa, requi ntada
e mediática do país e por tudo isso talvez a mais invejada, nunca se sabendo os
que triunfaram na vida por mérito próprio ou pelo nome que receberam ao nascer.
O meio social e familiar em que se nasce e vive é
fundamental e eu não sei quantos estudos sociológicos o poderiam provar.
No entanto, quantos casos de sucesso nesta sociedade
competitiva de pessoas “mal nascidas” e que vieram por “aí acima” mas, em
teoria, era preferível nascer “Espírito Santo” do que qualquer outro nome
porque, como diz o ditado “o dinheiro puxa dinheiro” e tudo quanto a ele está
associado.
Os deserdados de nome e fortuna sentem-se como que
vingados, recompensados, afinal eles eram sobranceiros, vaidosos, distantes,
convencidos e agora preferem esconder o que até aqui
ostentavam.
Mas é uma satisfação inglória. Os “Espírito Santo” que
eram ricos apenas vão ficar menos ricos e, no entanto, por causa deles,
milhares de concidadãos ficaram ou vão ficar mais pobres, sem emprego e sem as
poupanças de uma vida de trabalho.
Eles ficaram com o nome assombrado para sempre, o que
foi sinónimo de sucesso e prestígio passou a ser de ruína, desastre e falcatrua
e isto é, realmente, o que mais dói ao clã.
quinta-feira, setembro 04, 2014
Por ocasião do
Jubileu da Rainha Elizabeth II, dois amigos - um inglês e outro chinês
passeavam juntos em Londres.
Diz o Chinês:
- Veja todas
estas bandeiras! E enche o peito de orgulho patriótico!
Responde o
inglês:
- Mas,
Chang, são bandeiras britânicas!
O Chinês:
- Sim,
mas veja as etiquetas...
Maria Betânia e Gal Costa - Oração de Mâe Menininha
A Canção é de Dorival Caymmi e elas são dois "montros" do universo de artistas brasileiros
DE DIREITA
OU DE
ESQUERDA?
A
Revista VISÃO, em tempos, interrogou várias personalidades da nossa vida
política acerca da opinião que têm sobre esta interessante questão.
De acordo com o discurso que teria
sido proferido por Jesus (ou por quem lhe escreveu o guião, caso não tinha sido
ele) e chegou até nós, ele foi, certamente, um dos maiores inovadores da ética
que a história conheceu. O Sermão da Montanha é muito avançado para o seu tempo
e o seu “dar a outra face” adiantou-se a Gandhi e Martin Luther King em 2.000
anos ( Richard Dawkins).
A sua tolerância face à mulher
adúltera: “Quem de vós estiver
sem pecado atire-lhe a primeira pedra” indicia uma política fracturante de costumes bem mais
aberta do que a seguida, até hoje, pelas diversas igrejas que lhe reclamam a
herança.
“É impossível a um rico entrar no Reino do Céu”. “Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no reino do
céu”.
Repito-vos: “ É mais fácil um camelo passar pelo fundo de
uma agulha, do que um rico entrar no reino do céu”.
Se estas afirmações não constituem uma
condenação directa, pelo menos aos homens ricos do seu tempo, não deixam
quaisquer dúvidas que “os ricos não pertencem à fraternidade com que Jesus
quer construir na terra o reino dos céus” na opinião de Joaqui m
Carreira das Neves e colocam-no num posicionamento ideológico de esquerda, de
acordo com os conceitos de esquerda/direita dos dias de hoje.
O Novo Testamento é a principal fonte
da vida e dos ensinamentos de Jesus e terá sido escrito pelos seus discípulos,
chamados “evangelistas”, entre os anos 60 e 100 da era cristã.
Embora Jesus tenha falado em aramaico, uma
língua com alfabeto próprio ainda em uso, na sua versão moderna, na Arménia e
em certas partes da Síria, o Novo Testamento chegou até nós em grego, que era a
língua franca da época.
Centenas de escritos produzidos
depois do Século I não integram os quatro Evangelhos (esta palavra vem do grego
e significa: “boas mensagens ou boas novas”) do Novo Testamento: Mateus,
Marcos, Lucas e João, e ficaram a constituir os Evangelhos Apócrifos que estão
na base de muitas celeumas entre historiadores, linguistas e hermeneutas
(pessoas especializadas em interpretar textos escritos).
Aliás, várias religiões cristãs têm
cânones diferentes aceitando uns e recusando outros.
Joaqui m
Carreira das Neves, 75 anos, padre franciscano, especialista em Estudos do
Próximo Oriente e profundo conhecedor das circunstâncias históricas
contemporâneas dos escritos do Novo Testamento afirma:
- “Se vivesse hoje,
Jesus era de esquerda, porque andava com os desclassificados e marginalizados.
Jesus tinha muito apreço pelos que eram mais descriminados e andava sempre ao
lado dos mais desfavorecidos”.
Richard Dawkins, prémio Nobel,
ateísta militante, acima referido e cujas entrevistas temos aqui passado neste blog, é um grande admirador de
Jesus tendo mesmo escrito um artigo intitulado. “Ateus por Jesus”.
Na sua opinião, a superioridade moral
de Jesus confirma precisamente que a ética das Escrituras em que foi educado
não o satisfazia. Afastou-se explicitamente delas, por exemplo quando
desvalorizou os avisos severos quanto a desrespeitar o “sabat”: “O sábado foi feito
para o homem e não o homem para o sábado”.
José Manuel Pureza, especialista em
Estudos da Paz, docente de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra,
afirma:
- “Cristo foi um revolucionário, um blasfemo. Morreu
assassinado, não morreu nem de velho nem doente – foi morto pelo poder político
e religioso da época”.
Parece, pois, que se aceitarmos como boa a dicotomia entre
“transformação” e “conservação”, para separar a esquerda da direita, então, não
há dúvidas sobre onde colocar Jesus:
- “Pôs-se sempre do lado da transformação – isso é, para mim,
suficiente para dizer que de direita ele não seria”, conclui o professor.