Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, agosto 08, 2015
Lean Rimes - The Rose
"A
Rosa" é uma canção pop escrita por Amanda McBroom e que ficou famosa por Bette
Midler, que a cantou em 1979 no filme A Rosa. Desde
então, uma variedade de artistas a tem cantado. A letra desta canção
é um
incentivo para as pessoas que têm medo de falhar (no amor, entre outras coisas)
a ponto de nem tentarem. "A alma, com medo de morrer, nunca aprende a viver ...
O álbum
LeAnn Rimes "1997 - You Light Up My Life inclui a A Rosa ", numa das
faixas.
E continua "alguns dizem que o amor é uma navalha que deixa a alma a sangrar. Outros dizem que o amor é uma fome interminável. Eu digo que o amor é uma flor e você é apenas a semente. O coração com medo de cair nunca aprende a dançar. É o sonho com medo de acordar que nunca se transforma em oportunidade. É a alma com medo de morrer , que nunca aprende a viver, quando a noite é muito solitária e a estrada muito longa e você acha que o amor é apenas para os sortudos e os fortes.
E continua "alguns dizem que o amor é uma navalha que deixa a alma a sangrar. Outros dizem que o amor é uma fome interminável. Eu digo que o amor é uma flor e você é apenas a semente. O coração com medo de cair nunca aprende a dançar. É o sonho com medo de acordar que nunca se transforma em oportunidade. É a alma com medo de morrer , que nunca aprende a viver, quando a noite é muito solitária e a estrada muito longa e você acha que o amor é apenas para os sortudos e os fortes.
Vim tomar conta do menino |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 306
No
fim da tarde de verão um fogaréu queimava o céu de Tocaia Grande, fulguração de
vermelhos e amarelos.
Entregando a Edu a pata da égua para que o
rapazola completasse o serviço com o puxavante, Tição, fixando a vista,
enxergou a silhueta de um vivente,
esbatida contra as luzes e as sombras do pôr-do-sol.
No pensamento do ferrador de burros
perpassou uma idéia fugaz e absurda: ia por fim tirar a limpo o mistério que
cercava a aparição de Alma Penada em Tocaia Grande.
Decorridos tantos anos, alguém vinha por
ele, disposto, quem sabe, a reavê-lo.
Vago perfil de mulher, envolto em luz e em
poeira, o vulto se abaixou, largou no chão a trouxa de viagem para melhor
receber e retribuir os afagos do cão.
Naquele preciso momento, sem enxergar-lhe
as feições nem o contorno da figura, o negro soube de quem se tratava: só podia
ser ela e mais ninguém.
Desde que partira, jamais dera notícia. Tição
manteve-se parado, à espera, sem manifestar reação qualquer que fosse: morto
por dentro, vivo apenas na aparência.
Ao menos assim corria no arraial: a
verdadeira alma penada na oficina era o ferreiro e não o cão. Passo maneiro, corpo
sacudido, o bamboleio dos quadris, Epifânia se aproximou, o rosto sério.
Comedida nos modos, sem espalhafatos, não arreganhava
os dentes, não se desfazia em
dengue. Nem parecia aquela lambanceira e atrevida, luxenta,
que virava a cabeça dos homens e perturbava a paz.
Parou diante de Tição, o atado sob o braço,
o cachorro saltitando em redor:
- Vim tomar conta do menino. Andei sumida,
tava amigada.
Trasantonte encontrei Cosme, ele me
contou. Fiquei sentida.
A voz serena e firme:
- Cadê ele, o meu menino? Não vou embora
nem que tu mande.
Sem esperar resposta, andou para a porta
da oficina, seguida por Alma Penada, entrou casa adentro. Lavado em sangue, o
sol afogava-se no rio.
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 36
Contudo, Fernão Peres torceu
o nariz, insatisfeito. Os Trava não eram estimados pelos nobres de entre Douro
e Minho, seria difícil alguma dessas famílias aprovar tal casamento.
Além disso, acrescentou,
devia ser alguém de sangue real.
Como se tivesse ouvido um
disparate, Dona Teresa insurgiu-se:
- De sangue real só existem
as minhas filhas!
Para surpresa dela, Fernão sorriu-lhe.
Dona Teresa, ao dar-se conta do plano, pareceu momentaneamente chocada com a
perversidade da solução.
O Bermudo, meu marido, casar
com uma filha minha? O arcebispo de Braga ainda me excomunga!
Com a mestria habitual, o
Trava retirou-lhe as dúvidas. Paio Mendes iria espernear, mas aceitaria se
recebesse umas doações!
- Constrói-se-lhes um
mosteiro que eles calam-se todos!
A ideia era sublime,
insistiu Fernão: Bermudo ficaria satisfeito e Dona Teresa ligava os Peres de
Trava, a mais poderosa nobreza da Galiza, à sua própria família e desta vez com
um casamento religioso!
Dona Teresa estava de tal
forma enfeitiçada por ele que, pouco depois, já aceitava aquela solução.
- Qual das minhas filhas? –
perguntou.
O Trava encolheu os ombros,
como se fosse óbvio:
- A Urraca Henriques, claro! A outra desfazia
o desgraçado do Bermudo na primeira noite.
Desataram os dois à
gargalhada. Sancha Henriques, a segunda filha de Dona Teresa, parecia um
brutamontes nos seus modos, e já protagonizara várias cenas de pancadaria com
os que haviam tentado seduzi-la.
Já Urraca Henriques, a mais
velha, aos vinte e dois anos era uma paz de alma e não fazia mal a uma mosca.
Subjugada, Dona Teresa,
apreciou o amante que voltara a colocar as mãos na nuca, convencido da genialidade
das suas artimanhas.
Excitada com aquela
espantosa confiança, a rainha exclamou:
- Ai amigo, folguemos mais, que me perco por
vós!
No seu posto de observação
privilegiado, a minha prima assistiu à continuação daqueles jogos de amor.
Embora nunca os tivesse praticado (tinha apenas oito anos), Raimunda já os vira
com diversos protagonistas, espreitando em fechaduras e frestas.
Entre homens e mulheres, era
tudo quase sempre idêntico, mas a minha prima notou naqueles dois um forte
empolgamento, talvez por ser a primeira vez, ou por terem a pressa dos
traidores.
Viu-os afastarem a colcha de
púrpura, bem como a manta ornamentada e movimentarem-se agitados em cima da
leve almocela de seda que cobria os colchões, e viu a rainha montar o Trava
como se fosse uma amazona, enquanto o seu peito polpudo tremelicava.
Raimunda era uma magricela e
parecia um rapaz, cobiçou os seios arredondados e volumosos de Dona Teresa. Era
sabido que ela untava os mamilos com mezinhas, para os manter firmes, e a minha
declarou-nos mais tarde, com convicção acintosa:
- As outras da idade dela têm tetas que mais
parecem orelhas de perdigueiros!
Ainda descreveu a rainha a
pousar a cara no pulvinar de penas, os cabelos cobrindo o “godemeci” de pele de
vaca que estava à cabeceira da cama, curtido e envernizado, provavelmente
fabricado na longínqua Córdova, enquanto o Trava a possuía por trás.
Porém, e apesar dos
pormenores que nos forneceu, não era naquela ardente refrega que a minha prima
reflectia, deitada no telhado.
Na manhã seguinte, teria de
avisar seu pai, Ermígio, e seu tio, Egas Moniz, pois o que ali ouvira soava
perigoso.
Sobretudo para o seu amado
Afonso Henriques. O novo amante de Dona Teresa era muito mais hábil do que o
irmão Bermudo, e até uma menina de oito anos sabia que são sempre os ardilosos
quem mais devíamos temer.
O Trava era um perigo e, se
subjugava assim Dona Teresa, em breve mandaria no Condado Portucalense.
Um estudante da Arábia Saudita em Berlim manda um e-mail para
o Pai dizendo:
Meu querido pai. Berlim é
maravilhoso. As pessoas são excelentes e eu estou realmente a gostar disto.
Mas, Pai eu estou um bocado envergonhado em chegar a minha Faculdade com o meu
Ferrari 599GTB em puro ouro, quando todos os meus professores e meus colegas
vêm de comboio.
Seu filho, Nasser
No dia seguinte o Pai responde ao
e-mail do Nasser:
Meu amado filho:
20 milhões de USD acabaram de ser
transferidos para a tua conta. Por favor pára de nos envergonhar. Vái comprar
um comboio para ti também....
Love, your Dad
António Costa parece caminhar para a derrota nas próximas eleições o que, a acontecer, constituirá também, uma tremenda derrota para o país.
- Não
bastava Sócrates na prisão com visitas de solidariedade de políticos
proeminentes do Partido quando, independentemente do “veredictum” final, já se sabe o suficiente - mentiras ao país e
envelopes com dinheiro a circularem pelas suas mãos - para ser posto fora do PS?
- Não
basta aquele fim traumático do último governo de Sócrates com a perda total de
confiança nos mercados financeiros e o pedido de ajuda financeira que embora
tenha já sido julgado e condenado pelo povo português nas últimas eleições,
continua a perseguir o Partido e a ser invocado pelo actual governo como a
eterna fonte de todo o mal?
- Não bastava aquele outro político cinzentão e
sem carisma que passou a vida a namorar as estruturas concelhias e distritais
do Partido até este lhe cair nos braços quando Sócrates saía derrotado do Hotel,
na noite em que perdeu as eleições, e António José Seguro descia do elevador do
mesmo hotel com um sorriso envergonhado de vencedor?
Não bastava a Costa, embora tivesse “esmagado”
Seguro na escolha a que se submeteu para líder do PS, ter que enfrentar agora
uma “corrente segurista...” cujos seguidores criticam a “trapalhada e incompetência”
que tem sido a história dos cartazes que levaram já a um pedido público de
desculpas, poupando assim tempo e trabalho aos adversários políticos do
governo?
- Bem podem as sondagens dizer, por uma larga
margem, que os portugueses preferem António Costa a Passos Coelho para 1º
Ministro, se a família socialista, cancro do partido, continua desentendida
como sempre, agora por causa dos cartazes e não só.
Por que não dão atenção às sondagens e colocam por
esse país fora um único cartaz com o rosto do António Costa em grande plano?
É ele que os portugueses querem, é ele que tem a
credibilidade e a confiança, deixem os desempregados para as manigâncias estatísticas
dos chicos-espertos do governo.
sexta-feira, agosto 07, 2015
Vim tomar conta do menino |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 306
No
fim da tarde de verão um fogaréu queimava o céu de Tocaia Grande, fulguração de
vermelhos e amarelos.
Entregando a Edu a pata da égua para que o
rapazola completasse o serviço com o puxavante, Tição, fixando a vista,
enxergou a silhueta de um vivente,
esbatida contra as luzes e as sombras do pôr-do-sol.
No pensamento do ferrador de burros perpassou
uma idéia fugaz e absurda: ia por fim tirar a limpo o mistério que cercava a
aparição de Alma Penada em
Tocaia Grande.
Decorridos tantos anos, alguém vinha por
ele, disposto, quem sabe, a reavê-lo.
Vago perfil de mulher, envolto em luz e em
poeira, o vulto se abaixou, largou no chão a trouxa de viagem para melhor
receber e retribuir os afagos do cão.
Naquele preciso momento, sem enxergar-lhe
as feições nem o contorno da figura, o negro soube de quem se tratava: só podia
ser ela e mais ninguém.
Desde que partira, jamais dera notícia. Tição
manteve-se parado, à espera, sem manifestar reacção qualquer que fosse: morto
por dentro, vivo apenas na aparência.
Ao menos assim corria no arraial: a
verdadeira alma penada na oficina era o ferreiro e não o cão. Passo maneiro, corpo
sacudido, o bamboleio dos quadris, Epifânia se aproximou, o rosto sério.
Comedida nos modos, sem espalhafatos, não arreganhava
os dentes, não se desfazia em
dengue. Nem parecia aquela lambanceira e atrevida, luxenta,
que virava a cabeça dos homens e perturbava a paz.
Parou diante de Tição, o atado sob o braço,
o cachorro saltitando em redor:
- Vim tomar conta do menino. Andei sumida,
tava amigada.
Trasantonte encontrei Cosme, ele me
contou. Fiquei sentida.
A voz serena e firme:
- Cadê ele, o meu menino? Não vou embora
nem que tu mande.
Sem esperar resposta, andou para a porta
da oficina, seguida por Alma Penada, entrou casa adentro. Lavado em sangue, o
sol afogava-se no rio.
2
Em companhia da neta Aracati, cujos qui nze anos não haviam festejado devido à febre que
grassara no inverno, sia Leocádia percorreu a meia légua que mediava entre as
plantações dos estancianos e as do povo de Vanjé.
Valente andarilha apesar do fardo da idade
a lhe vergar os ombros, a moleca devia aligeirar o passo para acompanhá-la.
Iam as duas conversando sobre assuntos
insólitos naquelas capoeiras. Discutiam trajes de pastoras, pastoras de
estrelas conforme davam a perceber, e se referiam a personagens cujos nomes e
títulos ressoavam estranhos e sedutores: Dona Deusa, Besta-Fera, Caboclo
Gostosinho.
Jesus da Nazaré, revolucionário, assassinado pelos romanos |
DIÁLOGO
FICCIONAL
COM JESUS
DA
NAZAREHT
NAZAREHT
O CELIBATO DOS PADRES
Maria Lopez Vigil (a jornalista Raquel) ambicionava entrevistar Jesus numa sua segunda vinda à terra. Na impossibilidade de o fazer decidiu "forjar" esse encontro em Jerusalém e conseguiu o exclusivo de uma serie de entrevistas ficcionadas que há anos passamos aqui no Memórias Futuras.
Hoje recuperamos uma delas, sob o celibato dos padres, porque talvez já não se lembrem como e porquê tudo aconteceu.
RAQUEL - Bom dia, Jesus Cristo.
JESUS - Que seja bom, Raquel.
RAQUEL - Na nossa entrevista anterior falamos dos sacerdotes. Já é hora de abordar um tema especialmente polémico: o celibato, a proibição que eles têm de se casar e formar uma família.
JESUS - Já vejo com o que você vem, Raquel. Vai me fazer também responsável por esta lei?
RAQUEL - E o senhor não tem nada a ver com isso?
JESUS - Nada. Eu não impus esse jugo a ninguém. Como eu ia fazer isso se em nosso movimento todos os homens tinham sua mulher? Felipe, Natanael, Pedro, Mateus… todos.
RAQUEL - Mas a Bíblia proíbe que os sacerdotes se casem.
JESUS - A Bíblia? O que Deus disse é que não é bom que o homem fique só. Inclusive Paulo, que era bastante severo, me dizem que recomendou que os bispos tivessem suas mulheres. Uma só, isso sim. Ele dizia, e com razão, que se não podiam administrar bem a sua casa, muito menos a comunidade.
RAQUEL - Então, quando começou esta lei do celibato?
JESUS Quem pode saber? Consulte os seus amigos.
RAQUEL - Espere um momento… Vou ligar para… Está ouvindo bem?... estamos aqui em Jerusalém, na linha com Iván Vargas, especialista neste tema… Ivan, queremos saber quando se estabeleceu o celibato dos sacerdotes.
IVÁN - O dado é curioso. Foi no Concílio de Nicéia, ano 325, quando se decidiu que os padres não poderiam ser casados.
RAQUEL - Por que você disse que o dado é curioso?
IVÁN - Porque uns anos antes desse Concílio, o Imperador Romano Constantino tinha presenteado os bispos e sacerdotes com muitas terras e muito dinheiro.
RAQUEL - E o que isso tem a ver com os padres se casarem?
IVÁN - Tem muito a ver. Imagine que um bispo tinha cem hectares de terra e um dinheirinho economizado. Se esse bispo é casado, quando morrer, quem ficará com a terra e as economias?
RAQUEL - A esposa e os filhos, naturalmente.
IVÁN - Mas se ele não está casado, é a Igreja quem fica com tudo. A Igreja não se preocupava se os bispos e os padres tivessem mulheres, que tivessem filhos... Contanto que...
RAQUEL - Contanto quê?
IVÁN - Que não os reconhecessem. O proibido era isso, reconhecê-los. Porque as concubinas e os filhos ilegítimos não tinham nenhum direito, não podiam herdar.
RAQUEL - E essa foi a razão da lei do celibato?
IVÁN - Elementar, Raquel. Tinha que se proteger o património proibindo o matrimónio.
RAQUEL - Parece incrível...
IVÁN - Assim foi como a Igreja acumulou e acumulou propriedades…verdadeiros latifúndios. Uns séculos depois, era a maior latifundiária de toda Europa. Os papas, os bispos e os padres continuavam a ter mulheres e filhos mas não os reconheciam, deixavam-nos ilegítimos. Assim não herdavam nada.
JESUS - E me fazem responsável por tudo isso!
IVÁN - O mais engraçado é que o Papa Paulo III, que teve “uns tantos” filhos ilegítimos, foi quem impôs definitivamente o celibato para todos os sacerdotes no Concílio de Trento.
JESUS - Hipócritas. Colocam cargas pesadas sobre os ombros dos outros, mas eles não querem movê-las nem com um dedo.
RAQUEL - Obrigado, Iván. Depois de tudo o que escutamos, Jesus… o senhor seria a favor do celibato opcional, aprova que os sacerdotes se casem?
JESUS - Com certeza. Que cada um decida. Que cada um eleja seu caminho. O Reino de Deus é luta e requer esforço. Mas também é festa. E a carga tem que ser ligeira e o jugo suave.
RAQUEL - Lei do celibato. Celibato obrigatório. O que as igrejas acham de tudo isto? E, sobretudo, o que opinam as mulheres e os filhos não reconhecidos?
Nos veremos em um próximo programa e recebam os cumprimentos de Raquel Pérez, enviada especial das Emissoras Latinas em Jerusalém.
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 35
No final daquela primeira
folgança, quando se deitaram lado a lado, a rainha devia estar espantada com as
habilidades do amante pois perguntou:
- Onde haveis aprendido
tantos truques?
O Trava sorriu. Nu e deitado
de costas na cama com as pernas abertas e o sexo grande, os braços musculados e
as mãos atrás da cabeça, era um macho forte e declarou, orgulhoso:
- Com o meu irmão Bermudo é
que não foi.
Maldoso, executou um golpe
certeiro não só no ausente, mas também na rainha, que sentiu uma estocada no
amor próprio.
Aflita, escondeu a cara na
axila dele e murmurou:
- Está sempre murcho.
Dona Teresa revoltou-se
então contra as circunstâncias desagradáveis da sua existência, sentando-se com
um ar zangado.
O que posso fazer? -
perguntou – Mandar o Bermudo de volta para a Galiza desfazendo o casamento?
O seu companheiro encolheu
os ombros:
- Basta a vossa palavra. Mas
não desejo humilhar o meu irmão, temos de lhe dar algo em troca.
Espantada Dona Teresa
interrogou-se:
- O quê? O governo de
Coimbra?
A seu lado o nobre galego
franziu a testa.
- Isso é demais.
Devia querer a cidade para
si, mas nada adiantou sobre esse oculto desejo. Entusiasmada a rainha propôs
que dessem Viseu a Bermudo, o que obteve a concordância do amante que
acrescentou:
- Temos também de lhe
arranjar uma esposa legítima
Dona Teresa agitou-se de
imediato, nervosa.
- Uma esposa? Quem?
Fernão Peres pareceu
enfadado e explicou-se com forçada paciência:
- Alguém que para ele seja uma honra desposar.
E mais nova, para o Bermudo se espevitar e fazer uns filhos.
Com um toque de acidez na
fala, a rainha protestou:
- Insinuais que ele murcha porque me acha
velha?
Homem novo mas com prematura
sabedoria, o Trava parecia já esperar aquela reacção e declarou de pronto que o
irmão era frouxo.
Dona Teresa logo amansou e
ele prosseguiu, era evidente que ele planeara os argumentos com antecedência.
- Uma mulher mais nova é um
bom engodo para o Bermudo.
Dona Teresa, que o nobre
galego parecia ter a arte de convencer com rapidez, desatou logo a enumerar
possíveis candidatas:
- Pode ser da família da
Maia ou da família Sousa. São gente cá do Condado e têm filhas em idade de
casar!
quinta-feira, agosto 06, 2015
IMAGEM
Os Descobrimentos portugueses
Um dia, no passado, fomos grandes sendo pequenos. A primeira grande pedra para o mundo global foi colocada por nós. Não, não foi uma aventura, foi todo um processo pensado, estudado, planeado e executado por homens inteligentes e intrépidos que não temiam o desconhecido e que ligaram por mar a Europa a outros mundos. Infelizmente, outros vieram a lucrar com isso... O infante D. Henrique, em pé, segurando uma caravela, foi o grande obreiro. Seguiram-se-lhe Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães e o enorme Luís de Camões que por lá andou e contou em verso essa epopeia, "...por mares nunca dantes navegados..." O presente envergonha-nos!
Defundo se enterra em cemitério. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 305
Sozinha não a deixaria ir: no fundo das
águas, no leito do rio se estendem terras de Aiocá. Sacrilégio! Defunto se
enterra em cemitério e aos vivos cabe chorar e recordar.
Vanjé tropeçou no pé-de-vento e caiu na
lama antes de alcançar Castor e lhe suplicar respeito para com a morte e sua
circunstância.
Bernarda apareceu e a ajudou a
levantar-se. Calçada com as alpercatas do diabo, Coroca corria no redemoinho.
No céu, visagens se dissolviam em farrapos de nuvens.
Depois da desgraça, o vitupério. Fadul mal
teve tempo de enfiar as calças. Precipitou-se para tomar a frente do ferrador
de burros e impedir-lhe o passo. Ia gritando:
- Que é isso, Tição, tu tá maluco?
Castor Abduim não susteve a marcha, tampouco
se apressou, prosseguiu andando. Não era o ferreiro Tição, bom moço, por todos estimado,
era uma alma do outro mundo. Rosnou numa voz sem timbre, ruim de se escutar:
- Arreda!
Um círculo foi se apertando em torno dele,
o povo disposto a impedir o sacrilégio. O turco chegou mais perto, o círculo se
fechou.
- Vamos vestir ela, botar na rede, fazer o
enterro.
- Arreda!
Nos olhos o vazio da morte, Tição tentou
atravessar, esbarrou
em Fadul.
Em
torno o povo, pronto para intervir: impotente contra a febre, não iria permitir
o ultraje.
Fadul ergueu a mão disforme, fechou o
punho e desferiu o soco antes que o povo avançasse e fosse tarde. Vanjé,
Bernarda e Lia recolheram o corpo.
Tição se ergueu para matar e morrer.
Mas quem ele encontrou postada em sua
frente foi Coroca, a mãe da vida:
— Tu se esquece, desgraçado, que tem um
filho pra criar?
O REISADO DE
SIA LEOCÁDIA PEDE LICENÇA
AO POVO DE
TOCAIA GRANDE PARA DANÇAR:
QUILARIÔ!
QUILARIÁ!
1
Estava Castor Abduim entregue ao trabalho
de ferrar a égua
Imperatriz, montaria de estimação do
coronel Robustiano de Araújo, serviço delicado, pois o animal, além de
passarinheiro, tinha os cascos frágeis, quando os latidos de Alma Penada,
inesperados e festivos, despertaram-lhe a atenção.
O cão levantara as orelhas, pusera-se de
pé abanando a cauda, e partira célere ao encontro de um viandante. Alma Penada
não era de índole expansiva. Apegado ao dono, reservava para ele suas efusões,
não vivia a correr atrás e a saltar em torno de desconhecidos.