sábado, dezembro 29, 2012

Mário Viegas - O nosso melhor actor de teatro, precocemente desaparecido.

Também eu adoro o Relvas, andámos no mesmo Colégio, não no de Jesuítas... olha do que estes se safaram.

Também eu andei num Colégio de Jesuítas, um dos melhores de Lisboa, tinha uns 10, 11 anos, e estou no mesmo ponto que o Ricardo. No entanto, recordo os padres, alguns, os não os padrecas, com saudade e carinho... ou seja, está tudo bem dentro de mim.

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Nesta altura do ano deixem-me fazer comparação fantasiosa: se o planeta Terra fosse uma árvore de Natal os passarinhos seriam os enfeites.


LUGARES LINDOS PARA LAVAR A ALMA

PAULO de MORAIS - Vice-Presidente da Associação Transparência e Integridade

Será que vai ter uma  2ª oportunidade?

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 176


- Tu vai fazer? De verdade?

 - Junto de mim mulher é para rir, não para chorar.

Gabriela sorriu. O camarada do campo de batalha semicerrou os olhos de brasa e pensou ser melhor assim. Podia partir, continuar seu caminho, sua liberdade no peito, seu livre coração.

Melhor que ela morresse por outro, essa única no mundo capaz de prendê-lo, de amarrá-lo àquele porto pequeno, àquele cais de cacau, de dobrá-lo e domá-lo.

Nessa noite pensava dizer-lhe, contar-lhe, entregar-se rendido de amor. Melhor assim, suspirando e chorando por outro, por outro morrendo de amor. Sete Voltas podia ir-se embora. Camarada do campo da batalha, vamos embora pelo mundo afora.

Ela puxou-lhe a mão, abriu-se a agradecer. Barca em mar sereno, navegação de recôncavo, ilha plantada de canaviais e pimenteiras. Navegava na barca de proa altaneira o camarada do campo de batalha. Eh!, camarada, ardia seu peito, a dor de perdê-la. Mas era um deus de terreiro, na mão direita o orgulho, a liberdade na esquerda.

Do benemérito cidadão.

Naquele sábado, véspera da solene inauguração do Restaurante do Comércio, o seu proprietário, o árabe Nacib, podia ser visto, em mangas de camisa, correndo como um louco pela rua, o volumoso ventre a balançar sobre o cinto, os olhos esbugalhados, em direcção à casa exportadora de Mundinho Falcão.

Na porta da colectoria federal, o Capitão conseguiu frear a carreira ansiosa, segurando o dono do bar pelo braço:

 - O que é isso, homem, onde vai com tanta pressa?

Nascido amável e amigueiro, requintava o Capitão em gentileza desde a proclamação da sua candidatura a Intendente:

 - Sucedeu alguma coisa? Em que posso lhe servir?

 - Sumiu! Sumiu! -  arfava Nacib.

 - Sumiu, o quê?

 - O cozinheiro, o tal de Fernand.

Não tardou e toda a cidade estava a par do intricado mistério: desde a véspera à noite o cozinheiro vindo do Rio, o espectacular “chefe de cuisine”, Monsieur Fernand (como gostava de ser chamado), desaparecera de Ilhéus.

Combinara com dois garçons contratados para o restaurante e com os ajudantes de cozinha um encontro pela manhã para assegurarem as últimas disposições para o dia seguinte. Não aparecera, ninguém o vira.

Mundinho Falcão mandou chamar o delegado, explicou o caso, recomendou-lhe investigações meticulosas. Era aquele mesmo tenente que o secretário da Intendência de Itabuna botara a correr. Agora todo humilde e servil junto de Mundinho, a tratá-lo de doutor.

sexta-feira, dezembro 28, 2012

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O Cúmulo do desplante...




As belas canções italianas dos anos sessenta.

BURACOS NEGROS


Estou siderado, afinal os Buracos Negros ( BN), esses locais tenebrosos considerados a força mais destrutiva do Universo que com a sua gravidade sugam tudo à sua volta incluindo a própria luz, razão pela qual são negros, não são coisa rara no espaço sideral!

Os cientistas descobriram recentemente, há coisa de uns doze anos, que todas as galáxias têm um BN cujo tamanho varia com a dimensão da própria galáxia e a nossa VIA LÁCTEA não é excepção.

Felizmente, o nosso BN não é dos mais activos que é como quem diz, não é dos mais comilões embora ultimamente esteja a aumentar de apetite…mas apenas porque uns gases, mais distraídos, se aproximaram demasiado.

De qualquer maneira, não deixa de ser mais uma preocupação pois nada garante que por força de um qualquer fenómeno imprevisível ele não se torne num voraz BN e nós estamos apenas a 24000 anos-luz de distância o que parece muito mas nestas coisas do espaço não chega a ser como de Santarém a Lisboa.

Pior que isto ou menos mau, não sei, a galáxia mais próxima da nossa, a ANDRÔMEDA, está a aproximar-se à velocidade de 40.000 km/h e o choque, “mais dia, menos dia”, será inevitável dando lugar a uma tremenda explosão cujos efeitos, para nós, serão totalmente destrutíveis: primeiro a atmosfera será sugada, de seguida, toda a água dos oceanos e num instante ficaremos todos torradinhos!

Isto, na pior das hipóteses, porque, talvez com um pouco de sorte, possamos vir a ser lançados no espaço sideral tal como um planeta proscrito, desprezado e abandonado à sua sorte.

Mas não desesperemos, o choque será inevitável mas só daqui a 3 biliões de anos…

Mas a propósito de BN não pude deixar de me lembrar, por uma questão de associação de ideias, de um outro “Buraco Negro” que é o nosso Médio Oriente.

Na verdade, tal como nas Galáxias, tudo gira à volta do BN, no Planeta Terra tudo gira agora à volta do Médio Oriente e da guerra entre Judeus e Árabes.

É um fenómeno de turbulência que se mantém latente de há sessenta anos a esta parte e que eclode, ciclicamente, em explosões de violência.

Como em qualquer outro fenómeno da natureza física os mesmos elementos, nas mesmas condições, obedecendo às mesmas leis, vão conduzindo sempre aos mesmos resultados.

O medo que gera o ódio e vice-versa tomaram conta da situação, apoderaram-se da mente dos protagonistas e quando não se sabe o que mais fazer as pessoas matam-se umas às outras, exterminam-se, na expectativa de que finda a contenda, os sobreviventes de uma das partes dê por bem empregue o número dos seus mortos.

O futuro está cada vez mais inquinado pelo passado e se é verdade que as pessoas se cansam das guerras e não as querem, também não é menos verdade que arranjam sempre razões, e razões poderosas, para mergulharem nelas e assim tem sido, naquela região, entre Árabes e Judeus enquanto não passarmos à fase seguinte, declarada e assumida entre os fanáticos de Maomé e os judeus e de seguida com o resto do mundo.


CASAMENTO NA 4ª IDADE:



A velhinha, com mais de 80 anos, mas toda eléctrica, entra na farmácia.

-Vocês têm analgésicos?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm remédio contra reumatismo?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm Viagra?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm vaselina?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm pomada anti-ruga?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm gel para hemorróidas?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm bicarbonato?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm antidepressivos?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm soníferos?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm remédio para a memória?
-Temos sim senhora.

-Vocês têm fraldas para adultos?
-Temos sim senhooooora.

-Vocês têm....
-Minha senhora, aqui é uma farmácia, nós temos isso tudo. Qual é o seu problema?

-É que vou casar no fim do mês. Meu noivo tem 95 anos e nós gostaríamos de saber se podemos deixar nossa Lista de casamento aqui com vocês...??


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 175

Mas Gabriela chorava na areia, na fímbria do mar. A lua a cobria de ouro, seu perfume de cravo no vento a passar.

Tu tá chorando, mulher.

Tocou o rosto de canela com a mão de navalha.

 - Porquê? Junto de mim mulher não chora, ri de prazer.

- Se acabou, agora se acabou.

 - O que se acabou?

 - Pensar que um dia…

 - O quê?

 - Que poderia voltar ao fogão, ao quintal, ao quarto dos fundos, ao bar. Não ia Nacib abrir restaurante? Não ia precisar de boa cozinheira. Quem melhor do que ela.

Dona Arminda dizia para ter esperança. Só mesmo Gabriela para assumir cozinha tão grande e dar conta perfeita. Em vez dela um sujeito vindo do Rio, um boneco empalhado, falando estrangeiro.

Daí a três dias, a inauguração, uma festa das grandes. Agora, nem mesmo a esperança. Queria ir-se de Ilhéus. Para o fundo do mar.

Sete Voltas era uma liberdade plantada cada dia, ao amanhecer. Era uma oferta e uma decisão. Um orgulho e uma dádiva. Feria como um raio, alimentava como a chuva, camarada do campo de batalha.

- Um portuga?

Põe-se de pé o camarada do campo de batalha. O vento arrefecia ao tocá-lo, empalidecia o luar em suas mãos, as ondas vinham lamber-lhe os pés de capoeira, criadores do ritmo.

 - Não chore, mulher. Junto de Sete Voltas nenhuma mulher chora, só faz rir de prazer.

 - Que posso fazer? – Pela primeira vez era uma pobre e triste e desgraçada, sem desejo de viver. Nem mesmo o sol, nem o luar, nem a água fria, nem seu gato arisco, nem o corpo de um homem, nem o calor de um deus de terreiro, podia fazê-la rir, sentir o gosto da vida no peito vazio.

Vazio de seu Nacib, tão bom, um moço bonito.

 - Nada tu pode fazer. Sete Voltas é que pode fazer e vai fazer.

 - Que coisa? Vejo não.

- Se o portuga sumir, quem vai cozinhar? No dia da festa, se ele sumir, que outro jeito senão te chamar? Pois vai sumir.

Por vezes era escuro como a noite sem lua e duro como a pedra do rochedo enfrentando o mar. Gabriela tremeu.

 - Que tu vai fazer? Matar ele? Quero não.

Quando ele ria era a aurora surgindo, São Jorge na Lua, terra encontrada por náufrago em desespero, uma âncora.

 - Matar o portuga? Não me fez mal. Mando ele embora um pouco depressa. Dar o fora daqui. Só maltrato um pinginho se ele teimar.


quinta-feira, dezembro 27, 2012

SIM, EU SEI...

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O milagre da maternidade na expressão artística da  escultura ultra realista de Ron Mueck.


Poema de Natal


“ Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo:
Nem ele me persegue, nem eu fujo dele…um dia agente se encontra.”


Mário Lago

Porque tu és triste mulher? - Não sou. Só estou.

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 174


Na Baía, em Sergipe, em Alagoas, nas rodas de capoeira, nos te, nos mercados e feiras, no escondido do cais, nos bares dos portos. Mesmo seu Nilo com respeito o tratava, quem podia com ele? A tatuagem no peito lembrava a solidão da cadeia. Donde vinha? De morte matada. Estava de passagem e tinha pressa.

No cais da Baía por ele esperavam os jogadores de ronda, os mestres de Angola, os pais de terreiro e quatro mulheres. Era só o tempo da polícia esquecer. Aproveitem meninas!

Nos domingos de tarde, nos fundos da casa, no limpo quintal, soava o berimbau. Vinham mulatos e negros, brincar o brinquedo. Sete Voltas tocava e cantava:

Camarada do campo de batalha
Vamos embora
Pelo mundo afora.
Eh! Camarada…

Entregava o instrumento a seu Nilo, entrava na roda da capoeira. O rabo de arraia, Terêncio voava. As pernas no ar, passara por cima do mulato Traíra. O moço Baptista caía no chão, Sete Voltas pegava o lenço com a boca. No campo de batalha ficava sozinho, seu peito tatuado.

Na praia, junto aos rochedos, Sete Voltas mordia as areias de Gabriela, as ondas de seu mar de espumas e tempestades. Ela era a doçura do mundo, a claridade do dia, o segredo da noite. Mas a tristeza persistia, andava na areia, corria para o mar, soava no rochedo.

 - Porque tu é triste, mulher?

 - Sou não. Só estou.

- Não quero tristeza junto de mim. Meu santo é alegre, meu natural folgazão. Mato a tristeza com minha navalha.

 - Mata não.

 - E porque não?

Queria um fogão, um quintal de goiaba, mamão e pitanga, um quarto dos fundos, um homem tão bom.

 - Não basta como eu? Tem mulher capaz de matar e morrer por esse moreno, tu pode agradecer tua sorte.

 - Basta não. Ninguém basta não. Tudo junto não basta.

 - É assim de não poder esquecer?

 - Assim.

 - Então,

 - Então é ruim.

 - É não ter gosto na boca.

 - É ruim.

 - É não ter alegria no peito.

 - Ruim.

Uma noite a levou, na véspera fora Miquelina, no sábado Paula dos peitos de rola, era o ansiado turno de Gabriela.

Na casa de Dora, seu Nilo na rede com a rainha no colo. O barco de vela arribava a seu porto.

quarta-feira, dezembro 26, 2012

DONA CANO
Gente da Baía, do Brasil e do Mundo, uma singela homenagem a uma mulher, prodígio da natureza, falecida aos 105 anos, no dia de Natal, e que nos deixa com o seu sorriso doce e a palavra meiga. Aqui a trazemos, no meio de dois dos seus filhos, babosos, dois dos maiores talentos da música brasileira. A canção é-lhe dedicada pelos filhos: "Minha Mãe Minininha... e tem a qualidade e beleza da família. "Comovente", como diz Dona Cano.

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Estamos na Ilha de Lanzarote, arquipélago das Canárias, no interior de uma gruta que em tempos foi um canal subterrâneo que levava para o mar a lava do vulcão. Um dia, o vulcão parou a actividade e o canal ficou um tubo vazio. Mais tarde, uma parte do tecto desse tubo,  caiu e abriu-se um buraco por onde entrou a luz e deu lugar a um espaço com vida de extraordinária beleza, mais do que esta a fotografia transmite. Afianço-vos eu, que estive lá e vi com estes olhos que a terra há-de comer...


Elegância, Harmonia, Beleza

Sabedoria do Tubarão!!!


Dois tubarões brancos (pai e filho) observam os sobreviventes de um naufrágio.
 – Siga-me, filho! - diz o tubarão pai.
E nadam até os náufragos.
– Primeiro, vamos nadar em volta deles, mostrando apenas a ponta das nossas barbatanas fora da água.
E assim eles fizeram. – Muito bem, meu filho! Agora vamos nadar ao redor deles, algumas vezes, com nossas barbatanas totalmente de fora.
 E assim eles fizeram.
 – Agora, nós podemos comer todos eles.
 E assim eles fizeram.
Quando finalmente se saciaram, o filho perguntou:
– Pai, por que nós não os comemos logo de início, pai? Por que ficamos nadando ao redor deles várias vezes?
O sábio e experiente pai respondeu calmamente:
 – Porque eles ficam mais saborosos sem merda dentro...

 “Estratégia é tudo”

Uma Historia de Nobreza

U


Uma verdadeira história de Natal
UMA HISTÓRIA
COMOVENTE

Eis uma história que nem todos conhecem… mas que nos leva a pensar se… precisamos mesmo de conviver com a rivalidade.

A história refere-se a dois de três tenores que cantaram
juntos: Plácido Domingo e José Carreras. Juntamente com Luciano Pavarotti encantaram o mundo cantando juntos.

Mesmo quem nunca visitou a Espanha sabe da rivalidade existente entre catalães e madrilenos dado que os primeiros lutam por uma autonomia, numa Espanha dominada por Madrid.

Pois bem… Plácido Domingo é madrileno e José Carreras, catalão (nascido em Barcelona em 1946).

Devido a questões políticas, em 1984, Carreras e Domingo tornaram-se inimigos.

Sempre muito solicitados em todo o mundo, ambos faziam questão de exigir nos seus contratos, que só actuariam em determinado espectáculo se o adversário não fosse convidado.

Em 1987, apareceu a Carreras um inimigo muito mais implacável que o seu rival Plácido Domingo:

- Foi surpreendido por um diagnóstico terrível: leucemia.

A sua luta contra o câncer foi muito difícil, tendo-se submetido a diversos tratamentos, a um transplante de medula óssea, além de uma mudança de sangue, que o obrigava a viajar mensalmente para os E.U.A.

Nestas circunstâncias, não podia trabalhar e apesar de ser dono de uma fortuna razoável os elevadíssimos custos das viagens e dos tratamentos delapidaram as suas finanças.

Quando não tinha mais condições financeiras, teve conhecimento de uma Fundação em Madrid, cuja finalidade era apoiar o tratamento de doentes com leucemia.

Graças ao apoio da Fundação “Formosa”, Carreras venceu a doença e voltou a cantar.

Recebeu, de novo, os altos cachês que merecia e resolveu associar-se à Fundação e foi ao ler os seus estatutos que descobriu que o seu fundador e maior colaborador era Plácido Domingo. Depressa soube que Domingo tinha criado a Fundação para ajudá-lo e que se mantinha no anonimato para que ele não se sentisse humilhado ao aceitar o auxílio do seu “inimigo”.

Mas… o mais comovente foi o encontro de ambos. Surpreendendo Plácido Domingo num dos seus concertos em Madrid, Carreras interrompeu a actuação deste e subindo ao palco ajoelhou-se humildemente aos seus pés e pediu-lhe desculpas publicamente.

Plácido ajudou-o a levantar-se e com um forte abraço selaram o início de uma grande e bela amizade.

Mais tarde, uma jornalista perguntou a Plácido Domingo por que criara a Fundação “Formosa” num gesto que além de ajudar um “inimigo” ajudava também o único artista que poderia fazer-lhe concorrência.

A resposta foi curta e definitiva:

- “Porque uma voz como aquela não poderia perder-se.


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 173

O cachimbo de seu Nilo era uma estrela, ele trazia na mão direita um ceptro de rei, na esquerda a alegria.

Atirava ao entrar com a mão certeira o boné marítimo, onde escondia os ventos e as tempestades, em cima do velho manequim. Começava a magia. O manequim se animava, a mulher de uma perna só, envolta num vestido por acabar, o boné na cabeça que não havia.

Tomava-o pela cintura seu Nilo, dançavam na sala. Dançava engraçado o manequim com sua única perna. Riam as pastoras, Miquelina soltava uma gargalhada de louca, Dor sorria como rainha que era.                      

Do morro desciam as outras pastoras, vinha Gabriela da casa de Dª Arminda, já não eram somente pastoras, eram filhas de santo, iaôs de Iansan. Cada noite seu Nilo soltava a alegria no meio da sala. Na pobre cozinha Gabriela fabricava riqueza: acarajás de cobre, abarás de prata, o mistério do ouro do vatapá. A festa começava.

Dora de Nilo, Nilo de Nora, mas qual das pastoras não montara seu Nilo, pequeno deus de terreiro? Eram éguas na noite, montarias dos santos. Seu Nilo se transformava, era todos os santos, era Ogun e Xandô, Oxossi e Omolu, era Oxalá para Dora.

Chamava Gabriela de Iemanjá, dela nasciam as águas, o rio Cachoeira e o mar de Ilhéus, as fontes nas pedras. Nos raios da lua, a casa velejava ao ar, subia pelo morro, partia na festa.

As canções eram o vento, as danças eram os remos, Dora a figura de proa. Comandante seu Nilo, ordenava marujos.

Os marujos vinham do cais: o negro Terêncio, o tocador de atabaque, o mulato Traíra, violeiro de fama, o moço Baptista, cantador de modinhas e Mário Cravo, santeiro maluco, mágico da feira.

Seu Nilo apitava, a sala sumia, era terreiro de santo, candomblé e macumba, era sala da dança, era leito de núpcias, um barco sem rumo no morro do Unhão, velejando ao luar. Seu Nilo soltava cada noite a alegria. Trazia a dança nos pés, o canto na boca.

Sete Voltas era uma espada de fogo, um raio perdido, um espanto na noite, um ruído de guizos. A casa de Dora foi roda de capoeira quando ele surgiu com seu Nilo, o corpo a gingar, a navalha na cinta, sua prosápia, fascinação.

Curvavam-se as pastoras, um rei mago chegava, um deus de terreiro, um cavaleiro de santos para seus cavalos montar.

Cavalo de Yemanjá, Gabriela partia prós prados e montes, por vales e mares, oceanos profundos. Na dança a dançar, o canto a cantar, cavalgado cavalo. Um pente de osso, um frasco de cheiro, do rochedo atirava para a deusa do mar, faria um pedido: o fogão de Nacib, sua cozinha, o quartinho dos fundos, os cabelos do peito, o bigode de cócegas, a perna pesada em sua anca de arreios.

Quando a viola silenciava, chegada a hora dos cafunés, desfilavam as histórias. Seu Nilo naufragara duas vezes, vira a morte de perto. A morte no mar com verdes cabelos e uma gaita de sopro. Mas era claro seu Nilo como a água da fonte.

Sete Voltas era um poço sem fundo, um segredo de morte, carregava defuntos em sua navalha. Polícias de farda, polícias sem farda, corriam atrás dele.

terça-feira, dezembro 25, 2012

Porque é Natal aí vai para os miúdos da minha idade o malandro do coiote com a sua vítima predilecta... o beep beep.

segunda-feira, dezembro 24, 2012

OH SUSANA
Talvez não saibam mas a conhecidíssima Susana foi escrita em 1847 a quando da corrida ao ouro na Califórnia mas, provavelmente, baseia-se numa marcha escocesa pois pode ser interpretada em gaita de foles.

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No tempo em que se dava nome aos bois... 


Já tenho licenciatura

Já tenho licenciatura
Agora sou um doutor,
Tenho montes de cultura
Vou ser Ministro? E se for?...

Inscrevi-me ao fim do dia
Naquela Universidade
Dos diplomas de inverdade
P'ra testar o que sabia.
Já de manhã, mal se via,
De maneira prematura
Eu fiz muito má figura.
Mas mesmo sem saber nada
Formei-me na Tabuada,
Já tenho licenciatura!

Dei cem erros no ditado.
E agora o mais curioso :
Por estar muito nervoso
Á recta chamei quadrado!
Quando me foi perguntado
Se conhecia o Reitor,
Respondi que não senhor
Embora fosse meu tio!
Disse mentiras a fio,
Agora sou um doutor!

Com mesquinhez e com tudo
Puxei das equivalências,
Juntei outras mil valências
Deram-me mais um canudo.
Com diplomas, contudo, 
Era fácil a leitura,
Deixei de ser um pendura,
Sou político afamado.
Sou falado em todo o lado,
Tenho montes de cultura

Já sou Mestre em Corrupção,
A todos sei enganar.
Habituei-me a roubar
Tirei curso de ladrão.
E agora, queiram ou não,
Mesmo sem nenhum valor,
Eu falo que é um primor
Na Assembléia sentado.
Para já sou deputado.
Vou ser Ministro? E se fôr ?

Máximo, Avis, 17 de Julho de 2012




A MINHA PROFESSORA,

Srª. Dª. LUDOVINA

Estávamos em meados da década de 40 quando entrei para a escola e os professores constituíam, nessa época, um dos pilares do Estado Novo para transmitirem às novas gerações os princípios da doutrina social do regime de Salazar.

Com cinco anos de idade eu não entendia nada disso mas o que eu posso dizer é que a minha Prof.ª, Srª. Dª. Ludovina, foi a pessoa de quem eu tive mais  medo e respeito em toda a minha vida e por isso, quando hoje se discute a polémica da autoridade nas escolas, não posso deixar de pensar na minha professora da escola primária que foi para mim a personificação da própria autoridade no seu aspecto mais  negativo.

Já em fim de carreira por força da idade, a Srª. Dª. Ludovina parecia, aos meus olhos de criança, ter sido sempre velha, gorda, com os pulsos grossos como os dos homens mas cheios de pulseiras e com aquele carrapito pregado na nuca, mais se assemelhava a uma espécie de carrasco de crianças indefesas que nos aparecia nos sonhos maus enquanto dormimos.

Depois, possuía instrumentos de tortura:

- Um ponteiro que ela mantinha ao alto, do seu lado direito, espécie de guarda-pretoriana, com que vergastava a cabeça dos alunos quando os chamava ao quadro negro ou ao mapa e as coisas não corriam bem;

- Uma régua com cerca de 50cm de comprimento por 1 de espessura e que ela usava de duas maneiras: segurando na mão do aluno com a esquerda e batendo com a direita dobrando-lhe bem os dedos para baixo de forma a expor o mais possível a palma da mão ao impacto com a régua ou, numa versão mais dura, pondo as costas da mão do aluno em cima da secretária numa faixa em que ela não era lisa e batendo-lhe com a régua com toda a sua força, puxando o braço bem atrás e acima sendo que o resultado era sempre o mesmo; mãos inchadas, às vezes mesmo muito inchadas como trambolhos.

--O terceiro instrumento de tortura, este de carácter psicológico, consistia numa carapuça de papel com orelhas de burro que era colocada na cabeça do aluno exposto à janela, aberta de par em par, com um livro aberto nas mãos para escárnio e troça de toda a rapaziada que passava na rua vinda do “bairro-chinês”, o primeiro e mais antigo bairro de lata da cidade de Lisboa, erradicado ao tempo em que João Soares foi Presidente da Câmara.

Este foi o cenário com que eu, aos 5 anos, me deparei quando cheguei à escola e por isso, regressado, um dia a casa, disse à minha mãe:

- Mamã, não vou mais à escola porque eu não sei nada!

Tentava eu, considerando-me à partida um caso perdido para o ensino, escapar à tortura que me esperava…mas sem resultado, já se vê.

Não interessa se fiz a 4ª Classe aos 9 anos com distinção porque durante todo o tempo em que andei na escola considerei-me a criança mais infeliz deste mundo e, por arrastamento, odiei o estudo, os livros, o ensino, invejando sinceramente os miúdos da rua, de pé descalço, que não andavam na escola e não tinham que ter medo da Srª. D.ª Ludovina, mesmo que à noite só tivessem um bocado de pão para comer e um colchão duro para dormir.

Confrontando a minha dolorosa experiência enquanto aluno da instrução primária com as cenas daquele vídeo que correu por aí há uns tempos, mostrado até à exaustão, em que uma professora e aluna se digladiam na sala de aulas o que, ao que parece, está longe de ser caso único, tenho de concluir que ao tempo que levo de vida e do mundo este já não tem nada a ver com aquele onde nasci.

E não é por haver hoje coisas que então nem sonhávamos que viessem a existir, não, é porque as pessoas vivem e relacionam-se agora de maneira não só diferente como às vezes mesmo quase oposta.

 Em 1945 as crianças tremiam quando entravam na sal de aulas, hoje, quem treme são os professores.

A minha professora, a  Srª. Dª. Ludovina, (o respeito e medo que ela me inspirou fará, mesmo 100 anos que eu vivesse, a tratá-la sempre assim… Srª Dª Ludovina!) provocou estragos em mim que perduraram pela vida fora porque não é impunemente que se é criança… e vítima de uma professora que sendo uma pessoa autoritária, não confundir com disciplinadora, tinha ainda atrás de si a dar-lhe força um estado autoritário, uma cultura autoritária, famílias autoritárias.

 Tudo estava a favor dela: apoio e consentimento dos pais e do governo cujo regime político era de molde a inculcar nos cidadãos, quanto mais cedo melhor, estados de espírito de medo, obediência cega, disciplina indiscutível.

Nas escolas de Salazar os professores não existiam só para ensinar mas também para amedrontar porque aquilo que se preparava era uma nova sociedade de pessoas, ordeiras, bem comportadas, respeitadoras, tementes a Deus e a toda a espécie de autoridades terrenas que usassem farda ou desempenhassem cargos oficiais.

A transmissão de conhecimentos é um processo árduo e difícil, que exige entrega, vontade, sacrifício, concentração, trabalho e, naturalmente, o cenário propício para que ele possa ocorrer não é, com certeza, uma escola onde, ao entrar, como referia agora uma professora de matemática, a sala de aulas mais parece um manicómio …e como os tempos do ponteiro, da palmatória e das orelhas de burro já lá vão, professores e alunos têm que se entenderem e partirem para o equilíbrio nas suas relações.

A minha neta, depois dos 3 anos, entrou no Jardim Escola, que adorou. Este ano, já no 2º Ano, a que antigamente chamávamos de 2º Classe, na Escola a sério, mantém o mesmo estado de espírito. Só acha que a professora grita de mais e escusadamente, sem necessidade. Gostaria de um pouco mais de disciplina…

No Jardim  Escola puseram-lhe a alcunha da “crescida”e agora na Escola chamam-lhe “a mãe” e eu acho que ela ainda acaba em assistente da professora… Tem Muito Bom a todas as disciplinas e faltar, um dia que fosse, seria um sacrilégio.  

Considerando que anda igualmente, na escola de Inglês, de Natação e de Ténis, a sua agenda está sempre carregada… o que ela aceita com a naturalidade das suas sagradas obrigações.

Em 1945, com a Professora, Srª Dª Ludovina, não seria possível à Filipa adorar a escola como adora. Sensível como é, rejeitaria um ambiente de violência física que a traumatizaria. As crianças são sedentas de amor e carinho e se ele existir no ambiente escolar os alunos irão amar os livros e o professor, a personagem principal que recordará para toda a vida.

Também eu não esqueci, pelo resto da vida, a minha professora da Instrução Primária, a Srª Dª Ludovina... infelizmente, pelas piores razões.



GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 172

Para experimentá-lo, pediu-lhe que fizesse por fazer os salgados e doces para o bar e a comida para ele, Nacib. Novamente botou as mãos na cabeça. A comida ficava caríssima, os salgados também.

O Chefe de cuisine adorava latas de conservas: azeitonas, peixes, presuntos. Cada bolinho custava-lhe quase o preço de venda. E eram pesados, com muita massa. Que diferença, meu Deus! Entre as empadas de Fernand e as de Gabriela.

Umas de pura massa a entrar pelos dentes, a pegar no céu da boca. As outras picantes e frágeis, dissolvendo-se na língua, pedindo bebida. Nacib balançava a cabeça.

Convidou João Fulgêncio, Nhô-Galo, o Doutor, Josué e o Capitão para um almoço preparado pelo nobre chefe.

Maioneses, caldo verde, galinha à milanesa, file com fritas. Não é que fosse má comida, não era. Como compará-la, porém, com os pratos da terra, temperados, cheirosos, picantes, coloridos? Como compará-la com a comida da Gabriela?

Josué recordava: eram poemas de camarão e dendé de peixe e leite de coco, de carnes e pimenta. Nacib não sabia como tudo aquilo iria acabar. Aceitariam os fregueses esses pratos desconhecidos, esses molhos brancos? Comiam sem saber o que estavam comendo, se era peixe, carne ou galinha. O Capitão resumia numa frase:

 - Muito bom mas não presta.

Quanto a Nacib, esse brasileiro nascido na Síria, sentia-se estrangeiro ante qualquer prato que não fosse baiano, à excepção de quibe. Era exclusivista em matéria de cozinha.

Mas, que fazer? O homem estava ali, ganhando ordenado de príncipe, impando de importância e impertinência, a cacarejar em francês. Punha uns olhos lânguidos em Chico moleza, o rapazola já o ameaçara com uns trancos.

Nacib temia pela sorte do restaurante. No entanto, havia grande curiosidade, falava-se do chef como de uma figura importante, dizia-se ter dirigido famosos restaurantes, inventavam-se histórias. Sobretudo a respeito das aulas de culinária, ditadas por ele às cabrochas vindas para ajudá-lo.

As pobres não entendiam nada, a sergipana, enciumada, dera-lhe o apelido de «capitão carijó».

Finalmente, tudo ficou pronto e a inauguração foi anunciada para um domingo. Um grande almoço seria oferecido pelos proprietários do Restaurante do Comércio às personagens locais.

Nacib convidou todos os notáveis de Ilhéus, todos os bons fregueses do bar. À excepção de Tonico Bastos, é claro. O chefe de cuisine estudou um cardápio dos mais complicados.

Nacib pensava nas insinuações de Dª Arminda. Não havia cozinheira como Gabriela. Infelizmente impossível, fora de cogitação. Uma lástima.


Do camarada do campo de batalha

Quando a lua surgia por detrás da pedra do Rapa, rasgando o negrume da noite, as costureiras viravam pastoras. Dora se transformava em rainha, a casa de Dora em barco de vela.

domingo, dezembro 23, 2012

AÇORES

Neste fim de ano de 2012, ameaçados que estamos, reconforta admirar estas nossas riquezas. Visitei os Açores, estive aqui nestes locais, pude admirar com os meus olhos a beleza destas paisagens. Não estão à venda, não podem ser hipotecadas. São a garantia de que o essencial sempre continuará...

De pé
Cabeçudo
Tagarela
 e
 Nu…

Claro que estou a referir-me ao homem, nosso antepassado, naquilo em que de essencial ele se distingue dos outros macacos.
Hoje, continuamos de pé, cada vez mais altos, com tendências para sermos mais cabeçudos, imensamente mais tagarelas e embora vestidinhos, às vezes a preceito, cada vez mais despidos de pêlos que já quase não servem para nada.

De Pé

A posição erecta foi a primeira grande solução para o nosso sucesso sendo nós os únicos que adoptamos em permanência uma verdadeira posição vertical deslocando-nos com facilidade de maneira bípede.

Se nos quisermos comparar, neste aspecto, com os outros primatas que nos estão mais próximos, gorilas e chimpanzés, concluiremos o seguinte:

- No homem, 95% de bipedismo;

- No gorila, 70% de locomoção quadrúpede, 28% de escalada e 2% de bípede;

- No chimpanzé, 50% de locomoção quadrúpede, 40% de escalada e 10% de bipedismo.

No homem o tronco está direito e o centro de gravidade do corpo, situado ao nível da 5ª vértebra lombar, está a prumo com os pés e a coluna vertebral com grande flexibilidade é favorável à manutenção do equilíbrio geral.

A bacia é baixa, larga e orientada de modo a servir de suporte às vísceras.

Os ossos da coxa e da perna, o fémur e a tíbia formam respectivamente, ao nível da anca e do joelho, ângulos favoráveis ao equilíbrio do corpo sobre os membros posteriores.

Ao nível da estrutura do pé temos um dedo grande que se aproximou dos outros dedos e cuja curvatura fez assentar o peso do corpo sobre o calcanhar correspondendo perfeitamente aos imperativos da posição erecta e da locomoção bípede.


E por quê bípede?



O mundo dos macacos que existia até há cerca de 8 milhões de anos com o planeta coberto de florestas, sofreu alterações geológicas que acarretaram mudanças climáticas e por essa razão, em grandes zonas, as árvores deram lugar aos espaços abertos, as savanas e os animais que até aí viviam nas árvores tiveram que arranjar outras soluções e muito provavelmente, grande parte deles, extinguiram-se porque em termos de evolução esse é o desfecho mais provável quando, perante alterações bruscas, a adaptação por ser difícil, não é coroada de êxito.

As árvores eram um refúgio relativamente seguro e bem provido de alimentos e a sobrevivência na savana não foi tarefa fácil.

A posição erecta melhorou consideravelmente a visibilidade no meio das ervas e essa terá sido a primeira grande vantagem da posição vertical.

A segunda foi, sem dúvida, a libertação dos membros superiores para outras tarefas que não a locomoção como, por exemplo, transportar os filhos ou alimentos.

Cabeçudo

O crânio humano é especial e distingue-se pelo seu volume considerável e pela sua abóbada sobre erguida que provoca a formação da testa inexistente nos macacos.

O rosto humano é pequeno em relação aos outros humanóides representando no homem moderno menos de 30% do volume craniano contra 120% no orangotango, gorila e chimpanzé e, por isso, o nosso nariz e queixo são salientes e os maxilares são curtos.

A espécie humana tem em média uma capacidade craniana de 1.300 centímetros cúbicos enquanto que, em média, essa capacidade é de 125, 350, 400 e 500 respectivamente para o gibão, orangotango, chimpanzé e gorila.

É certo que não se pode ligar automaticamente o volume e a massa do cérebro às capacidades intelectuais mas, relativamente aos homens comparados com os outros humanóides, o maior desenvolvimento do nosso cérebro foi a primeira grande “chave” que nos entreabriu as portas do sucesso.

O cérebro é um centro de tratamento de informações compreendendo um bilião de células, das quais 1.000 milhões são neurónios equipados com uma rede inextrincável de fibras ligadas entre si por mais de 500 biliões de minúsculas conexões, chamadas de “sinapses”.

Embora pese apenas 2% da massa corporal revela-se, no entanto, especialmente guloso por energia consumindo alegremente 18% de todo o oxigénio fornecido ao organismo.

É aqui, no cérebro que reside a sede do funcionamento do “espírito” o que permite à espécie humana (homo sapiens, sapiens) atribuir a si própria um lugar especial dentro do mundo dos seres vivos.

Tagarela

A utilização de uma linguagem articulada é característica da espécie humana e uma consequência do desenvolvimento cerebral mas depende, também, de uma série de disposições anatómicas particulares da região buco-faríngea.
A laringe, que corresponde à parte superior da traqueia, forma uma caixa vocal composta por várias cartilagens (maçã de Adão).

As paredes laterais, de um lado e doutro, possuem músculos membranosos elásticos que são as cordas vocais que actuam abrindo e fechando a glote permitindo, assim, a passagem de lufadas de ar que provocam vibrações acústicas.

Estes sons produzidos pelo funcionamento das cordas vocais são depois amplificadas ao nível da faringe, das fossas nasais e da cavidade bucal que actuam como se fossem caixas de ressonância ligadas umas às outras e de seguida moduladas pela acção da língua e dos lábios.


A linguagem foi muito importante para acelerar o pensamento e permitir a transmissão dos conhecimentos na passagem das gerações.

A interacção entre os homens aumentou e desenvolveu-se com a linguagem e através dela pudemos não só expressar tudo o que nos vai cá dentro, sentimentos, vontades, medos e dúvidas, como igualmente, assimilar o pensamento dos outros acelerando o processo de aprendizagem.


E Nu



Há toda a razão para descrever o homem como um “macaco nu” se nos lembrarmos dos pêlos espessos e abundantes dos seus primos humanóides. No fundo, talvez não seja tão nu como pode resultar dessa comparação pois, os nossos pêlos, sendo finos e mais curtos também lá estão.


Constituem uma característica sexual secundária e por isso só aparecem na puberdade e nos primórdios da humanidade, quando ainda não éramos homens mas já tínhamos deixado de ser macacos, os pêlos das axilas estavam associados a glândulas que reproduziam odores que tinham como objectivo atrair o sexo oposto.

Os pêlos pubianos na mulher servem como uma primeira barreira para proteger o sensível canal vaginal e nos homens, crê-se, que noutros tempos, tenha tido como utilidade manter aquela região mais quente e protegida.

Outros pêlos protegem directamente orifícios do corpo tais como o nariz, ouvidos e olhos.

Contudo, sua função original era de protecção da pele contra as agruras do clima desempenhando também um papel importante na protecção e transporte das crias que, no caso dos nossos primos mais chegados, se agarram às mães através dos pêlos suficientemente fortes para neles se segurarem.

O homem supriu a necessidade destas duas funções começando por cobrir o corpo com as peles de outros animais enquanto que, relativamente ao transporte dos filhos, como já vimos, cedo libertou os braços da função locomoção para poder, entre outras coisas, transportar com eles os filhos.
Mas vamos agora olhar para o homem, considerá-lo com um olhar frio e expor seca e resumidamente o que vemos:
- À primeira vista, um indivíduo da espécie humana que tenha alcançado a idade adulta é antes de mais um bípede cuja estatura pode variar, segundo as regiões entre 1,30 e pouco mais de 2 metros nos homens e 1,20 e 1,85 nas mulheres com pesos que vão dos 35 aos 120 Kg não considerando os casos excepcionais.

- Se o virmos ao microscópio, este conjunto relativamente volumoso surge formado por cerca de 100 biliões de minúsculas unidades, as células, das quais existem cerca de 200 tipos diferentes. Algumas são permanentes e duram tanto tempo quanto o indivíduo do qual fazem parte, outras têm uma vida relativamente breve e são substituídas com regularidade. Todas estas células juntam-se para formar os tecidos e estes edificam órgãos que no seu total constituem o organismo.

- Tudo isto vai “embrulhado” numa embalagem formada por 3 a 4 metros quadrados de pele mais ou menos clara ou escura ou até transparente em alguns sítios como por ex. ao nível da córnea do olho.

- Sob o invólucro dissimula-se um esqueleto que dá ao conjunto um mínimo de firmeza e que é constituído por 206 ossos principais e no conjunto, para um ser humano com 80 kg, representam uma massa de menos de 15 kg.

- Por sua vez, o esqueleto serve de suporte a 600 músculos que no caso do homem representam 46% da massa corporal e na mulher 36%.

- O coração é um músculo que pesa mais ou menos 300 gramas e desempenha um papel muito importante porque controla o fluxo sanguíneo através do sistema vascular o que o obriga a uma média de 70 contracções por minuto.

- Na realidade, o corpo humano, contem apenas 4 a 7 litros de sangue por onde circulam 35.000 milhões de glóbulos brancos e 25 biliões de glóbulos vermelhos mergulhados num plasma proteico.

Ao longo de cada dia o coração bombeia 6.000 litros de sangue através de uma rede de vasos sanguíneos de vários milhares de quilómetros.

- A gordura representa uma reserva energética que na actual fase da vida da humanidade é excessiva tendo em conta as necessidades e representa 28% da massa corporal na mulher e 18% no homem.

- Dois pulmões, um estômago, dois rins, um fígado e um cérebro completam o conjunto mas, no total, o corpo humano é sobretudo água, 60% da massa corporal.

Agora, se quisermos ir ao âmago da questão, isto é, até ao nível atómico, podemos também imaginar um homem médio pesando cerca de 80 Kg como uma soma de 51 Kg de Oxigénio, 15 Kg de carbono, 8 Kg de hidrogénio e 2,5 de azoto tudo isto temperado com 1,5 Kg de cálcio, 950 g de fósforo, 300 g de enxofre, 200 de potássio, 100 de sódio, 50 de cloro e uma dezena de gramas de magnésio, ferro, flúor, zinco e cobre.

Para finalizar polvilha-se tudo com umas pitadas de iodo, cobalto, magnésio, molibdénio, cromo, selénio, vanádio, níquel, alumínio, chumbo, estanho, titânio, silício e até de arsénico…misturam-se muito bem todos estes ingredientes, mexe-se e remexe-se com muita paciência, durante muito tempo e talvez consiga encontrar o homem ou a mulher da sua vida...

Em homenagem a esse prodígio de resistência e teimosia em manter-se vivo, ultrapassando todas as vicissitudes da sua história de vários milhões de anos e que nos permite agora, seus herdeiros, desfrutar da vida com todas as capacidades proporcionadas por esta maravilhosa máquina que é o corpo humano, dedico ao nosso antepassado a canção que se segue na voz excepcional do “tagarela” Frank Sinatra em “My Way”
Na verdade, chegou onde chegou…  À Sua Maneira”

                          

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