sábado, dezembro 13, 2014

IMAGEM

Se algo ou alguém tem que levitar... que seja ela.



ELIS REGINA - FASCINAÇÃO

Sem palavras...


COMO COMEÇAM AS ZANGAS...












A minha mulher sentou-se no sofá junto a mim enquanto
eu passava pelos canais.
Ela perguntou, "O que tem na TV? "
Eu disse, "Pó. "

E a briga começou...

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Quando cheguei a casa ontem à noite, a minha mulher
exigiu que a levasse a algum lugar caro.
Então eu levei-a ao posto de gasolina.
E então a zanga começou...

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A minha mulher e eu estávamos sentados numa mesa na
reunião do liceu, e eu fiquei a olhar para uma
moça bêbada que balançava seu drinque enquanto
estava sozinha numa mesa próxima.
A minha mulher perguntou, "Conhece-la ?"
"Sim," disse eu, "Ela é minha antiga namorada... Eu sei que
ela começou a beber logo depois de nos separarmos há
tantos anos e pelo que sei ela nunca mais ficou sóbria."
"Meu Deus!", disse a minha mulher, "quem pensaria que alguém pudesse ficar celebrando durante tanto tempo?"

E então a zanga começou...

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Depois de me reformar, fui até à Seg. Social para poder receber a reforma. A mulher que me atendeu solicitou o meu bilhete de identidade para verificar a idade.
Procurei nos bolsos e percebi que o tinha deixado em casa.
A funcionária disse que lamentava, mas teria que o ir buscar a casa e voltar depois. E disse-me, "Desabotoe a camisa."
Então, desabotoei-a deixando expostos os meus cabelos
crespos prateados. Ela disse, "Este cabelo prateado no seu peito é prova suficiente para mim," e processou a minha reforma.
Quando cheguei a casa, contei entusiasmado o que ocorrera
à minha mulher. E ela disse: "Por que não baixaste as
calças? Poderias ter conseguido invalidez permanente também... "

E então a zanga começou...

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A mulher está nua, olhando no espelho do quarto. Não está feliz com o que vê e diz para o marido, "Sinto-me
horrível; pareço velha, gorda e feia. Realmente preciso
de um elogio teu. "O marido retruca, "A tua visão está perto da perfeição. "

E então a zanga começou...

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Levei a minha mulher ao restaurante. O empregado anotou o meu pedido primeiro. "Quero picanha mal-passada, por favor." O empregado interroga, "O Senhor não está
preocupado com a vaca louca ?"
"Não, ela mesma pode fazer o seu pedido." - respondi.

E então a zanga começou...

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O marido volta do Médico e a mulher, toda
preocupada, pergunta-lhe: "E então, o que disse o Médico?".
De pronto, ele respondeu: "A partir de hoje, não faremos mais amor, estou proibido de comer coisas gordas."

E então a zanga começou...

Mixórdia de Temáticas


O mundo dos Salgados
O Mundo dos Salgados
















Vamos ouvindo e lendo e o que nos apercebemos é que o mundo dos Salgados não é o mesmo do que o nosso. Aquelas pessoas têm outra preparação, outras qualidades...

- Qual de nós aguentaria um interrogatório de dez horas com a frieza e sangue frio de Ricardo Salgado, num discurso forjado, mesmo ensaiado que tivesse sido, sem se alterar acabando com a mesma cara com que começou?

Suportar perguntas acutilantes previamente estudadas, umas atrás das outras, num ritmo inquiridor, implica um domínio só ao alcance de quem alicerçou uma vida inteira na base de relacionamentos estratégicos com um mundo de pessoas, cada uma peça de um jogo a merecer tratamento próprio... notável!

Mesmo que depois tenha sido destruído por José Maria Richiardi, gozado por Pedro Queiroz Pereira, responsabilizado por Amílcar Morais Pires e, espera-se, desmentido pelo contabilista... o que ficou foi o testemunho de um homem do poder para quem, sentimentos, moral e ética, se os tem, não são chamados para o campo das decisões.

No outro dia, Pedro Queiroz Pereira, o "desaparecido" PQP, do mundo das corridas de automóveis, quando interrogado, dizia em tom de quem busca compreensão:... "os senhores deputados devem compreender que eu sou um empresário, um homem de negócios..." isto foi o que ele disse mas o que deixou sub-entendido foi: "...não me peçam que seja um homem de honra ou de palavra".

E para realçar mais ainda o que era verdadeiramente a sua vida referiu investimentos de milhares de milhões em Moçambique, na Argentina e não sei mais aonde.

O mundo dos Salgados é na verdade outro mundo. Nós gerimos centenas de euros por mês e eles centenas e milhares de milhões e a cima deles ainda estão outros que comandam o mundo de forma invisível que decidem da fome em África ou da crise na Europa.

Um mundo sem valores, desconhecido, desregulado, materialista, que se contrapõe ao nosso porque suga os recursos da Terra e explora o trabalho de quem, em todo o mundo, se debate com problemas de sobrevivência ou, simplesmente, de uma vida digna. 

Negro imaginoso e alegre...
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)




Episódio Nº 123

















Olhos arregalados, boca em exclamações e riso, o negro acompanhava pelejas e intrigas, passo a passo, apaixonadamente.

 Não perdia detalhe mesmo quando o levantino, ao referir lance empolgante, para se explicar melhor explicava em árabe.

Acontecia uma rapariga sentar-se no chão ao lado deles para ouvir e conversar; vez por outra mais de uma: duas ou três.

Então Castor puxava o canto, formava-se a roda de coco, marcavam o ritmo com as mãos:

É de manhã
É de madrugada
Vamos tirar leite
Oh Maninha
Da vaca malhada.

As mulheres troçavam da pronúncia de seu Fadul mas ele não ligava, persistia animadíssimo no coro: menino, no Líbano, cantara na igreja da aldeia. Se coincidia Pedro Cigano estar presente com a harmónica, elas pediam a Castor a mercê de uma cantiga: o negro conhecia um ror de modinhas, tiranas e lundus, não se fazia rogar:

Se Deus me perguntasse
Que queres te seja dado
Quero viver na barra
De teu vestido encarnado.


Grave e quente a voz de Tição ressoava nas matas e nas entranhas.

Extasiada, Zuleica, sirigaita trigueira e cismarenta, garantia que os pássaros silenciavam nas árvores para ouvi-lo cantar. Artes e mandingas de Castor Abduim, ferrador de burros: silenciava os pássaros, enleava as cobras, rendia os corações.

Negro imaginoso e alegre, feiticeiro, sem ele que seria de Tocaia Grande?

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Dantes, para saber a data do mês e o dia da semana precisavam consultar a única folhinha existente em Tocaia Grande, pendurada junto à porta no barracão de cacau seco.

Por sinal, um cromo que dava gosto ver: paisagem hibernal de campo europeu, montanhas brancas de neve e um grande cão peludo conduzindo ao pescoço um barrilete, coisa de admirar.

 Colado sob a estampa um pequeno e volumoso bloco constituído de páginas impressas que designavam a data e o dia, a folhinha propriamente dita. Presente de Ano-Novo do coronel Robustiano de Araújo ao velho Gerino, cabra fiel.

sexta-feira, dezembro 12, 2014

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Momentos de grande tensão...



Camada de Nervos - Mesa de Operações

OS

PERTENCES













Um homem morreu intempestivamente…


Ao dar-se conta viu que se aproximava um ser muito especial que não se parecia com nenhum ser humano.

Trazia consigo uma maleta e disse-lhe:

… Bom, amigo, é hora de irmos… sou a Morte.

O homem, assombrado, perguntou à Morte:

-Já?... tinha muitos planos para breve…

-Sinto muito, amigo… mas é o momento da tua partida.

-Que trazes nessa maleta?

E a morte respondeu-lhe:

- Os teus pertences.

- Os meus pertences? – São as minhas roupas, as minhas coisas, o meu dinheiro?

- Não, amigo, as coisas materiais que tinhas nunca te pertenceram… Eram da Terra.

- Trazes as minhas recordações?

- Não amigo, essas já não vêem contigo. Nunca te pertenceram…Eram do Tempo.

- Trazes os meus talentos?

- Não amigo, esses nunca te pertenceram… Eram das Circunstâncias.

- Trazes os meus amigos, os meus familiares?

- Não amigo, eles nunca te pertenceram… Eram do Caminho.

- Trazes a minha mulher e os meus filhos?

- Não amigo, eles nunca te pertenceram… Eram do Coração.

- Trazes o meu corpo?

- Não amigo, esse nunca te pertenceu… Era da Terra.

_ Então, trazes a minha alma?

- Não amigo, ela nunca te pertenceu… Era do Universo

Então o homem, cheio de medo, arrebatou a maleta e abriu-a… e deu-se conta de que estava vazia.

Com uma lágrima de desamparo a brotar dos seus olhos o homem disse à Morte:

- Nunca tive nada?

- Tiveste, sim, meu amigo… Cada um dos momentos que viveste foram só teus… a Vida é só um momento… um Momento todo teu.

Desfruta-o na totalidade… Vive Agora a Tua Vida e… Não Te Esqueças de Ser Feliz!



Nota - Trago aqui novamente este texto de que gosto muito para que meditemos sobre ele.


A música da Banda "A Cor do Som" que foi ícone da rapaziada da zona sul carioca no começo dos Anos 80. As imagens deste vídeo são espectaculares!
















Certo dia, uma senhora com o seu bebé de dois ou três meses esperava atendimento no Ministério Público, buscando auxílio para que o pai fosse compelido a pagar a pensão de alimentos. Via-se que era extremamente pobre, jovem, mas com a tez já devorada pelas rugas do sofrimento e, ao que me pareceu, de inanição.

O recém-nascido entrou em pranto estridente, denunciando agonia por fome de leite.

A mãe, ignorando que existia leite em pó ou outro sucedâneo, desesperava, pois os seus seios mirravam da seiva da vida.

Sendo já choro lancinante, a Drª Leonor Esteves, ouvindo do seu gabinete, acercou-se daquela mãe, e como estava em período de aleitação do seu primogénito logo pegou no bebé, à vista de toda a gente que entretanto se juntara, e deu o seu peito, saciando aquele infeliz imberbe.


O dramaturgo Bertolt Brecht autor de uma peça denominada “Mãe Coragem e os Seus Filhos” conta a história de uma vendedora ambulante, mãe de três filhos, que segue um exército em guerra para com ele fazer lucro. Ao longo desse percurso obstinado de 12 anos, ela acaba por ver morrer todos os seus filhos.

O episódio em que intervém a Drª Leonor Esteves aconteceu em Lamego, num Tribunal daquela Comarca, há cerca de duas décadas e é-nos contado no Boletim da Ordem dos Advogados.


Dele, retiramos dois exemplos de “mãe coragem” qualquer deles comprovativo do que as mulheres, na relação da maternidade, sem vacilar, fazem pelos filhos:


- De um lado, a juíza, que sem pruridos ou preconceitos despiu a toga para de imediato, sem hesitações e em público, amamentar um bebé que não era o dela, no superior papel de mulher e mãe;


- Do outro, uma jovem mãe, pobre e frágil que arrosta com os corredores dos Tribunais para pedir ajuda ao Ministério Público no cumprimento da lei naquilo que respeita às mais legítimas, mínimas e elementares obrigações paternais: colaborar na criação do seu filho com o pagamento da pensão de alimentos.


Sem dúvida, ambas “Mãe Coragem”.

Fadul gostava de apreciar o trabalho de Castor
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)





Episódio Nº 122

















Carradas de razão tinha Coroca, reflectiu o carpinteiro: as ruas de frente são privativas das famílias, mesmo no cu do mundo.

Quando Tição chegou e acendeu a forja era cada um por si e
Deus por todos, como explicara o velho Gerino a Bernarda na noite de assalto e de vexame. Para não se transformar num vivente sombrio e triste, miserável, precisava modificar com urgência os hábitos e o procedimento dos minguados habitantes: implantar o convívio onde medrava a indiferença.

Em Tocaia Grande, Castor Abduim enfrentou a solidão com o mesmo risonho desassombro com que se exibiu no tálamo de Madama, desabotoou os seios de Rufina e garguelou o Senhor Barão, em priscas eras.

 Se não decorrera tanto tempo, ao menos parecia.


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Quem mais se alegrou com a presença de Tição Abduim em Tocaia Grande foi Fadul Abdala. Contente a ponto de destinar uma garrafa de cachaça para consumo grátis na tarde em que o negro suspendeu a pata do burro Charuto em meio à gritaria do festivo corrilho reunido diante da oficina.

Tinham-se conhecido na fazenda do coronel Robustiano: o negro ferrando animais, o turco expondo as mercadorias da mala de mascate.

Certa ocasião, estando os dois de passagem por Taquaras, juntos se encontraram em animado bailarico, prazenteiro dançarás na pensão da índia Alice: na hora de maior influência, apareceu uma súcia de desordeiros e o pacato bleforé acabou em água suja com pancadaria e tiros.

Escaparam ilesos e o negro, além de ter esborrachado a cara de um dos valentões, tomara-lhe o revólver - quem não tem competência para manejar um pau-defumaça não deve sacá-lo da cintura, pode facilmente perder a arma e a chibança.

Fadul via em Tição uma garantia a mais contra eventuais e sempre temidas ameaças à tranquilidade do lugar. É bem verdade que Coroca dava perfeita conta do recado quando, na ausência do proprietário, cuidava do armazém, e que nenhum jagunço voltara a sobressaltar os habitantes de Tocaia Grande: antes de se decidir a fazê-lo o façanhudo devia pensar ao menos duas vezes.

Os perigos haviam-se reduzido. De qualquer maneira, porém, a oficina aberta com o negro à frente significava mais uma razão de peso a desanimar ladrões e malfeitores.

 O comerciante e o ferreiro começaram por estabelecer um pacto: não se afastariam os dois ao mesmo tempo de Tocaia Grande; quando um deles necessitasse viajar, o outro se manteria a postos, pronto para intervir caso sucedesse novidade.

Entre o movimento noturno e o matinal ditados pela chegada e partida dos comboios, a insipidez se impunha, insuportável: os dois proscritos enchiam as horas mortas conversando fiado, permutando memórias, recordando peripécias e lambanças, narrando contos da carochinha. Ou apenas faziam-se companhia em silêncio: o árabe no apuro do narguilé, o negro rendilhando peças de ferro ou de latão.

Fadul gostava de apreciar o trabalho de Castor, ao mesmo tempo bruto e delicado, de vê-lo transformar inútil fragmento de ferro em prenda para mulher, anel ou broche, fazer de velho pedaço de lata útil vasilhame para o pote e o braseiro.

Em troca, não havia ouvinte mais atento do que Tição às narrativas do turco, episódios da Bíblia, fantasias do Oriente, com profetas e tetrarcas, magos prodigiosos e apreciáveis odaliscas de umbigo à mostra.

quinta-feira, dezembro 11, 2014

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Nos dias de hoje estaria pregado no telemóvel ...  



Nada Porreiro Pá...


Um primor da natureza...














Por que se diz que os olhos são o espelho da alma? – Porque, para além de serem órgãos de visão, no caso particular da espécie humana, eles evoluíram para órgãos de comunicação que permitem aos seus pares perceberem, através deles, pensamentos e estados de alma.


Lembro bem, que quando era estudante, preferia as provas orais às escritas porque nestas faltavam-me os olhos dos professores para me orientarem na resposta.

Quando olhamos para uma pessoa, mesmo a uma distância razoável, graças ao contraste entre a esclerótica (o chamado branco do olho) e a íris, podemos ver com nitidez para onde os seus olhos estão a apontar, independentemente do sítio para onde o seu rosto está virado.

De mais perto, podemos ver se os olhos estão dilatados, graças ao contraste entre a íris e a pupila. Somos os únicos, entre os primatas, que possui janelas através das quais os outros podem olhar.

Os investigadores japoneses examinaram noventa e duas espécies de primatas e descobriram que somos a única na qual os contornos do olho e a posição da íris são claramente visíveis. Em todas as outras a esclerótica é pigmentada de modo a fornecer um contraste baixo. Além disso, em comparação com outros primatas, nos seres humanos a porção do olho visível é desproporcionalmente grande e alongada no sentido horizontal.

Os gorilas, por exemplo, sendo muito maiores que nós a dimensão do olho exposto é mais pequena o que faz com que os seus olhos se pareçam a contas, ou seja: enquanto os olhos dos outros primatas evoluíram para serem “difíceis” de ver, para “ocultarem” e não “revelarem” informação sobre eles próprios - qualquer coisa que será o equivalente natural, hoje, aos óculos escuros de sol ou de janelas com as cortinas corridas – os dos humanos abriram-se à “leitura” pelos outros do que vai dentro deles.

Com aqueles adereços pretendemo-nos ocultar, esconder, ver sem sermos vistos, por outras palavras, favorecem a segregação e não o igualitarismo que permitiu aos pequenos grupos humanos de caçadores recoletores estabeleceram entre os seus membros a cooperação desviando-se da sociedade dos chimpanzés.

Assim que o igualitarismo estabilizou o suficiente nas primeiras comunidades dos nossos antepassados, logo a evolução genética começou a conferir novas formas às nossas mentes e aos nossos corpos de modo a funcionarem como jogadores de uma equipa em vez de entrarem em competição com membros do nosso próprio grupo.

Um cientista americano, Michael Tomasello, está na linha da frente no estudo e investigação dos olhos dos primatas. A sua base de estudo e centro de investigação encontra-se no Jardim Zoológico de Leipzig onde comunidades de chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos, alojados separadamente em grandes instalações que recriam condições naturais, estão a ser observados e estudados podendo os estudiosos efectuar, paralelamente, investigação comportamental em crianças.

Mike desenvolveu aquilo que designa por “hipótese do olho cooperativo” para explicar como os nossos olhos se tornaram tão diferentes dos dos outros primatas.

Todos os símios estão profundamente cientes dos outros membros do seu grupo e atentos ao sítio para onde estão a olhar, com base na orientação da cabeça. Contudo, a sua utilização desta informação não é necessariamente cooperativa.

Numa sociedade onde os indivíduos dominantes fuzilam com os olhos os seus subordinados, que não se atrevem a devolver-lhes o olhar, a selecção natural favorece a ocultação da informação e já que a direcção da cabeça não pode ser ocultada, a direcção do olhar pode sê-lo minimizando a porção de olho exposta e o contraste entre a íris, a parte branca do olho e o resto do rosto.

Numa sociedade igualitária torna-se vantajoso para os membros da equipa partilhar informação, transformando os olhos, para além de órgãos de visão em órgãos de comunicação.

A páginas 240 e seguintes do livro A Evolução Para Todos, de David Sloan Wilson, encontrará a descrição do resultado deste interessante estudo.

Entretanto, continuemos a olhar-mo-nos, cada vez mais, “olhos nos olhos”porque talvez a informação que transmitimos através deles seja mais genuína e verdadeira do que a outra, a da palavra.


Não eram da mesma laia...
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 121















Apaixonado pela formosura do lugar, confiante em seu amanhã, decidira fixar-se naquela nascente encruzilhada de tropeiros.

Freguesia assegurada, o ganho dava para viver e juntar os tostões com que pagar o empréstimo do Coronel. Desobrigado para sempre da necessidade de alugar a força dos braços, a destreza das mãos, o tutano da cachola.

 No Recôncavo tudo estava pronto e acabado; ali tudo estava por ser feito.

Quando acendeu a fornalha, manejou o fole e abateu o malho sobre a bigorna, quando levantou a pata do burro Charuto para nela colocar ferradura nova arrancando vivas da assistência - putas, tropeiros, jagunços, seu Fadu e Pedro Cigano.

Tocaia Grande apenas passara de concorrido porém desabitado pouso de tropas de cacau seco, a mísero arruado: na Baixa dos Sapos as choças de palita das putas, no Caminho dos Burros casebres de barro batido, além do barracão do coronel Robustiano e da casa do turco, animado comércio de cachaça, fumo e rapadura.

Foi depois da chegada de Castor que se somaram à carreira de casebres, no Caminho dos Burros, algumas casas de tijolo e telha-vã. Com a construção da oficina, o arruado ampliou-se, cresceu em lugarejo, acolhendo novos moradores: pedreiros e ajudantes, carpinas e raspa-tábuas.

 Da mesma maneira que Lupiscínio e Bastião da Rosa, contratados antes por Fadul, também mestre Balbino e mestre Guido, Zé Luiz com sua mulher, Merência, chegaram em carácter provisório na intenção de permanecer apenas a duração da empreitada, foram ficando.

Balbino, pedreiro de ofício, mestre-de-obras, Guido, marceneiro: marceneiro e não carpina, como frisava, com uma ponta de vaidade.

Zé Luiz e Merência, ele atarracado e beberrão, ela grandalhona e emproada, haviam improvisado um forno no qual queimaram as telhas para a casa de Castor.

 Para atender encomenda maior do coronel Robustiano de Araújo, ampliaram a incipiente olaria, barro de primeiríssima qualidade.

Tendo decidido ficar de vez, Merência, cabeça do casal, tratou de erguer casa de alvenaria para nela alojar-se com o marido: na palhoça junto ao forno, Zé Luiz escapara por milagre de ser mordido por uma jararacuçu.

 Para os lados do rio, na Baixa dos Sapos, existiam lugares lindos, mas ela preferiu construir no Caminho dos Burros, ao lado do barraco de Lupiscínio; distante dos ranchos das putas, ruidoso reduto de pecado e bandalheira.

 A condição de mulher casada não a impedia de dar-se com as raparigas, não lhes negava o bom-dia e o boa-tarde, mas daí a ser vizinha de rameiras ia uma distância grande: não eram da mesma laia.

Nem o nome do seu avô conseguiu salvar...
Castelo de Cartas














Afinal, o “Dono Disto Tudo”, Ricardo Espírito Santo, era apenas o “Dono de um Castelo de Cartas” daqueles que quando se dá um piparote numa  delas as outras caem de seguida.

Que desilusão! – O país estava convencido, em parte pela maioria de uma imprensa que sempre o tinha venerado, que ele era um homem de sucesso, daqueles mesmos bons na sua profissão, dono de um Banco que era o suporte de uma boa fatia da economia nacional.

Quer se gostasse ou não, ele, o Zé Mourinho e o Cristiano Ronaldo, eram nossos motivos de orgulho. O melhor banqueiro, o melhor treinador de futebol e o melhor jogador. Que raio, no meio de tanta incompetência havia de haver alguém para afagar o nosso orgulho e auto estima, especialmente nestes tempos das troykas, Vistos Gold, chineses e angolanos que nos vão despojando de tudo.

Ficámos apenas, e já não é pouco, com o melhor treinador e jogador, Ricardo Salgado, afinal, não terá passado de um engenhoso e hábil mentiroso que dominava a família e colaboradores com mão-de-ferro para ocultar uma obra de fachada tanto maior quanto a fraude que a criou e sustentou aqui e por vários países do mundo, num crescendo que não tem paralelo na história do país.

Eu ouvi e nem queria acreditar que o homem que era “o dono disto tudo” tinha duas irmãs, senhoras como ele herdeiras de um Banco iniciado por um seu avô, que faziam bolos à noite para venderem de dia nas pastelarias e restaurantes lá do bairro...

Aquele homem de ar soberbo, impante de poder, o mais rico de Portugal, tinha contra si, com certeza, o ódio oculto ou dissimulado de toda a família de quem ele era, alegadamente, era o protector.

Agora, com 70 anos de uma vida vivida, por certo em grande tensão, imaginando esquemas, puxando cordelinhos, fazendo crescer o “barco” para o poder equilibrar ao nível das águas, apostando sempre numa estratégia de dimensão, Ricardo Salgado sempre acreditou que se chegasse o momento da “verdade”, o seu tamanho comparado com a pequenez do país seria suficiente para que o Governo lhe deitasse a mão num cálculo de mera aritmética de escolha de entre dois males o menor.

Não foi assim, ninguém lhe deitou a mão, e nem o nome do seu avô, José Maria do Espírito Santo Silva, filho de pai incógnito, nascido em 1859, se salvou e com ele a reputação. Ou seja, o leopardo perdeu a vida e a pele.

Até morrer irá ter à perna processos em Tribunais e ao seu lado advogados para lhe sugarem as contas dos offshores.

Nós, portugueses, perdemos um “ídolo” que tinha pés de barro, ou melhor, de chumbo porque o peso das dívidas que deixou ainda devem ajudar a afundar mais o país.

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