sexta-feira, fevereiro 09, 2007

É urgente combater a pobreza



É Urgente Combater a Pobreza (link)

Foi com este título que o Jumento, no seu “jornal” diário de 7 do corrente, abordou um tema que constitui o mais grave e difícil problema do nosso país.

O desemprego não é, automaticamente, sinónimo de pobreza mas num país com esquemas de protecção social limitados e um nível baixo de investimento que reduz a possibilidade de novos empregos, constitui um forte motivo de preocupação e, em certos casos, factor de trauma psicológico.


Vagas de trabalhadores são colocadas fora dos circuitos de trabalho ou porque sectores inteiros de actividade perderam a competitividade a favor de outros países que trabalham com condições imbatíveis ou porque através de uma estratégia de redução de custos as grandes empresas fundem-se e quando assim é sobram sempre trabalhadores.

Estamos numa fase de profunda transformação e embora nem tudo mude de um dia para o outro é contudo demasiado rápida para que a aprendizagem da mudança possa ser feita sem enormes custos humanos e sociais, não obstante as medidas que o governo possa tomar no campo da educação, da formação profissional, dos apoios ao emprego e dos esquemas de protecção social.

Investimento e mais investimento é o que o governo procura obter junto dos países que representam as grandes economias emergentes da Índia, China, Brasil, e países Africanos através de um esforço conjunto do PR/Governo no estreitar de relações com esses países porque a convicção é generalizada: só o investimento produz riqueza e sem mais riqueza não se pode criar mais emprego tanto mais que o Estado, grande empregador neste país, vai ter que diminuir, e em muito, os seus funcionários e empregados.

Numa conjuntura destas era importante que o Estado Social se pudesse manter e até aumentar para atender à instabilidade do inevitável emprego precário mas as receitas do Estado que dependem dos impostos e estes do aumento da riqueza não deixam margem.

Por isso, a necessidade de um enorme cuidado e sensibilidade mas também rigor com os critérios que presidem às despesas de cariz social.

Neste campo, alguns dos programas levados a cabo nos últimos anos precisam de ser afinados e completamente despidos de aspectos demagógicos para ganhar votos nas urnas.

A cultura do subsídio/dependência tem que ser erradicada.

De acordo com os velhos e sábios ensinamentos chineses é preferível ensinar as pessoas a pescar do que dar-lhes um peixe todos os dias.

A Globalização veio trazer uma nova realidade que sendo boa para as grandes empresas que dispõem de recursos técnicos e financeiros e se podem movimentar por esse mundo fora foi, no entanto, para a maioria das pequenas e médias empresas e para os seus trabalhadores de terríveis consequências.

Sabia-se que ia ser assim, havia até datas marcadas mas como fazer parar uma vida que está a decorrer?

Criaram a ilusão de que o dia de ontem seria igual ao de hoje, o de hoje ao de amanhã e por aí fora e depois, simplesmente, deixou de haver dia.

Conheci empresários que aplicaram os lucros obtidos em muitos anos de trabalho em novas instalações para as suas fábricas às quais, no outro dia, não sabiam o que fazer porque o mercado, ou o que julgavam ser o mercado, desaparecera.

O que sobrou foi um sentimento de impotência e de desespero como se o mundo, de repente, lhes tivesse faltado debaixo dos pés.

Sem expectativas, restaram, para os mais corajosos e inconformados, os caminhos da emigração como já vem sendo hábito na história do nosso país em situações de maiores dificuldades.

O que está acontecer é uma alteração profunda do nosso tecido económico e isto significa que temos de passar a fazer outras coisas e algumas, das que já fazíamos, de outra maneira.

Para se conseguir isto quase que são precisos novos portugueses, com mais capacidades, com uma instrução e educação apontadas para as necessidades da produção de riqueza que o país, estrategicamente, escolheu como sendo a sua riqueza, aquela para a qual nós e o país estão mais vocacionados.

Durante alguns anos, talvez mais de uma geração, teremos um número de desempregados de longa duração superior ao que tivemos anos atrás porque a aprendizagem a fazer tem que ser interiorizada, leva tempo, para alguns estará mesmo perdida, é como que descobrir dentro de cada um de nós um novo português que, felizmente, já deu provas de existir em muitos casos de sucesso que, de futuro, terão deixar de ser casos para se aplicar ao país.

Deixar para trás os vícios adquiridos ao longo de séculos com os dinheiros fáceis das especiarias, dos escravos, do açúcar, da borracha, do volfrâmio e, mais recentemente, dos Quadros Comunitários de Apoio e para os quais, portugueses como António Sérgio, o meu Prof. Alfredo de Sousa e outros, chamaram a atenção.

A nossa riqueza tem que ser produzida por nós e resultar do nosso trabalho, criatividade, esforço e inteligência individual e colectiva.

A partir de agora, finalmente, tudo se vai decidir, o nosso futuro deixou de poder estar adiado.

Não peço uma liderança forte porque a palavra faz recordar fantasmas que estão longe de estarem completamente adormecidos na nossa memória individual e colectiva mas julgo decisiva uma liderança determinada, com um projecto que todos nós entendamos e que nos dê exemplos de seriedade e de modernidade.

Se assim for estão lançadas as sementes para uma sociedade em que a pobreza venha a ser um fenómeno residual que possa ser combatido em circunstâncias mais favoráveis e com outros meios.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Finalmente.... O Referendo


Finalmente…O Referendo

Terminou a saga dos Prós e Contras para esclarecimento das posições dos adeptos do Sim e do Não.

Cerca de 5 horas, no conjunto dos dois programas não foram suficientes, no entanto, para fazer mudar de posição fosse quem fosse.

Ao observador mais distante era nítido que havia ali uma espécie de blindagem que impedia qualquer um dos campos de penetrar no do adversário.

Numa analogia com um jogo de futebol é como se as balizas de ambos os lados tivessem sido, pura e simplesmente, entaipadas.

Fazia lembrar uma conversa de surdos apenas com uma excepção:

Os defensores do Não foram sensíveis às queixas dos defensores do Sim quanto às penas de prisão a que estão sujeitas as mulheres que abortam e para não perderem votos por essa posição que era o “elo mais fraco” do seu reduto argumentativo resolveram agora, na parte final da campanha, substituir a pena de prisão, situação que é a actual, por trabalhos a favor da comunidade (Dr. Bagão Félix) ou pura e simplesmente sem pena, a qual se manteria tão-somente para as pessoas que interviessem no aborto, as ditas parteiras de vão de escada.

Esta “nuance” de duvidosa aplicação jurídica e que não consta da pergunta do Referendo acalma as consciências e demonstra bem como os defensores do Não estão preocupados com o bem-estar da mulher que abortou…

Bem vistas as coisas, os defensores do Não apenas recusam aos defensores do Sim que entreguem às mulheres a liberdade para decidirem, por si, até às 10 semanas, da manutenção ou não da sua maternidade.

Liberdade ou Não Liberdade eis, portanto, a questão!

Como é possível admitir que a mulher mesmo orientada e aconselhada por médicos e técnicos experientes, num Estabelecimento Legal de Saúde, possa ter a liberdade de decidir sobre a vida que se iniciou dentro dela há 10 semanas atrás?

Para os defensores do Não a mulher é uma irresponsável e permitir que seja ela a tomar essa decisão corresponderia a uma voluntária perda de controlo da vida como valor absoluto por parte dos guardiães da moral, dos princípios e da religião.

É claro que a realidade diz-nos que esse controle não existe porque o recurso ao aborto clandestino retira toda a possibilidade de intervenção mas isso não aflige os defensores do Não.

Aquilo que se passa fora dos seus olhares e que é feito sem a sua autorização e na clandestinidade não é um problema deles.

Sempre o homem desrespeitou as normas, as leis e os princípios mas Deus e o Código Penal lá estão para castigá-los.

Os defensores do Não não são aliados das mulheres são apenas os seus fiscais, os zeladores e por isso nem sequer ouvem as recomendações da Organização Mundial de Saúde quando esta defende a necessidade dos abortos serem assistidos medicamente para evitar complicações que põem em risco a saúde e a vida das mulheres.

E não adianta os defensores do Sim afirmarem da importância do encaminhamento das mulheres para os Hospitais Públicos onde as aguardam médicos e outro pessoal especializado para as orientar, aconselhar, informar e intervir na realização do aborto se vier a ser essa a decisão.

De resto, o relato que nos foi feito pela médica portuguesa que trabalha nesta área, na Suiça, com a população portuguesa que lá vive em grande número, foi elucidativo quanto às vantagens deste sistema em contraponto com o aborto clandestino.

Só que, relativamente aos defensores do Não, a despenalização do aborto tem o inadmissível inconveniente de permitir que seja a mulher a decidir em vez de uma hipotética Junta de 3 senhores, o 3º seria para desempatar, que teriam a seu cargo avaliar, ponderar, valorar todos os dados da situação da mulher e finalmente decidir se o aborto poderia ser feito ou não.

Esta seria uma situação em que alguns defensores do Não (Dr. Pinto Leite) aceitariam votar Sim, um Sim para algumas situações de carácter excepcional, avaliada e decidida por terceiros e segundo critérios que não se sabe quais seriam mas jamais pela mulher.

E isto porque, no fundo, eles não confiam nas mulheres, potenciais assassinas dos fetos que trazem no ventre e que aguardam apenas que o Sim vença para correrem aos magotes direitinhas aos Hospitais para abortarem legalmente com o dinheiro dos nossos impostos…

Mas a desconfiança não vai só para as mulheres vai também para o governo do Eng. Sócrates que apanhando-se com a vitória do Sim irá alargar para as 12 ou 14 semanas o prazo para o aborto legal, como afirmou uma distinta defensora do Não.

Tudo isto tivemos que ouvir a propósito de um problema grave da nossa sociedade e que afecta directamente as mulheres portuguesas e não nos dignifica como país no panorama europeu a que pertencemos.

O partido Socialista que governa com maioria absoluta poderia ter posto fim a esta situação fazendo aprovar na AR uma lei nesse sentido.

Teve escrúpulos em fazê-lo atendendo a um referendo anterior que embora não vinculativo deu a vitória ao Não.

Compreendo e respeito esses escrúpulos mas agora, no dia 11, a maioria dos portugueses irá pronunciar-se a favor do Sim e fazer-nos alinhar com o resto da Europa porque a isso nos obriga o respeito que devemos ter pelas nossas mulheres e que a resolução de um problema de saúde pública impõe.







segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Aristides Sousa Mendes


Aristides Sousa Mendes

A Dimensão Humanista


Ao premiarem Aristides Sousa Mendes colocando-o entre os 10 Portugueses mais Importantes os participantes no Concurso da RTP1 corresponderam ao que esperava deles mostrando sensibilidade e maturidade.

É apenas um Concurso e, como tal, vale o que vale mas olhando para os portugueses que aparecem entre os 10 mais votados dá para entender que os votantes, na sua maioria, mostraram seriedade e convicção.

Não temos, que eu saiba, votos na Floribela, na Lili Caneças ou na Cinda Jardim o que mostra que os portugueses não gostam de brincar e não se tiram do sério com facilidade.

O voto em Aristides é, talvez, o mais surpreendente pois não sendo, propriamente, uma figura histórica, nem muito divulgada, significa que eles estão atentos e não esquecem os actos de grande altruísmo.

Afirmou à data, Aristides, que entre desobedecer a Deus ou a Salazar ele não hesitava na opção a fazer com todas as consequências que daí pudessem advir e que o levaram a morrer na mais completa pobreza embrulhado numa túnica de franciscano por não ter, sequer, de seu, um simples fato.

Para além de grande humanismo revelou, por isso, igualmente, uma enorme coragem e os portugueses, mais de meio século depois de ele ter morrido, prestam-lhe esta homenagem anónima, um exercício de afirmação de uma memória que se manifesta a favor de alguém para quem a vida dos outros, mais de 30000 vistos passados, dos quais 1/3 eram judeus (muito mais do que os da lista de Schindler) foi mais importante que a sua própria vida e da sua vasta família constituída pela esposa e 14 filhos.

Salazar, também ele, um dos dez portugueses votados no Concurso, felicitou-se em 1945, perante a Europa vencedora, por terem sido salvos tantos refugiados através do seu país mas não retirou nenhum castigo que impôs a Aristides.

Uns, lembrados pela bondade e a coragem outros, pelo cinismo, hipocrisia e ausência de valores que repetiria mais tarde a propósito dos seus compatriotas que ele quis que morressem pela defesa impossível dos territórios de Goa, Damão e Diu e mais tarde ainda, “contra os ventos da História”, na luta contra “os terroristas” em Angola, Guiné e Moçambique.



Com posições opostas ambos ficaram na História e na memória dos portugueses e de ambos nos devemos lembrar, sem fantasmas, com sentido crítico que nos permita aprender tendo em vista o futuro que é aquilo que interessa quando se faz funcionar a memória.

Site Meter