Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, maio 11, 2013
Em homenagem aos filmes de cowboys que fizeram a delícia da minha juventude no tempo em que as salas de cinema se enchiam, o meu actor favorito era o Gary Cooper e os índios eram os maus...
A VERDADEIRA EVOLUÇÃO SOCIAL
Reflectindo sobre a natureza humana pergunta-se se poderia ter sido de forma muito diferente... mas, se o nosso futuro está no universo, percebe-se que sem a civilização e o progresso da ciência, ficaríamos sempre ligados à terra... talvez mais felizes.
Episódio Nº 13
Um dia um homem chegou de
viajem e se aboletou na casa de dona Daria, uma mulata gorda que diziam estar
enriquecendo às custas dos clientes de Jubiabá.
O homem vinha consultar o
macumbeiro por causa de uma dor antiga e martirizante que tinha na perna
direita. Os médicos já haviam desistido há muito. Falavam nomes complicados e
davam remédios caros. E o homem indo para trás, a perna cada vez pior, ele sem
poder trabalhar de tanta dor.
Então resolveu fazer a
viajem só para vir consultar o pai de santo que curava tudo na sua macumba do
Morro do Capa Negro.
O homem vinha de Ilhéus, a
cidade rica do cacau e quase destrona Zé Camarão e quase destrona Zé Camarão no
lugar de honra que ocupava ante António Balduíno.
É que o homem, tendo-se
curado radicalmente em duas sessões na casa de Jubiabá, veio no Domingo
conversar na porta da velha Luísa.
Todos o tratavam com
grande deferência, pois contavam que ele era homem de dinheiro, homem que
enriquecera no Sul do Estado e dera um conto de réis a Jubiabá. Vestia boa
roupa de caxemira e até uma carta que chegara para sinhá Ricardina levaram para
ele ler.
Porém, ele disse:
- Eu não sei ler, dona…
Era de um irmão dela que
estava morrendo de fome no Amazonas. O homem de Ilhéus deu cem mil réis. Assim
todos ficaram calados quando ele chegou para o grupo que estava na porta de Luísa.
- Se sente à vontade seu Jeremias – Luísa oferecia
uma cadeira com a palhinha furada.
- Obrigado dona.
E como o silêncio
continuasse:
- Estavam conversando de quê?
- Pra falar verdade –
respondeu Luís Sapateiro – a gente estava a falar na fartura que há na sua zona.
No dinheirão que um homem pode ganhar lá…
O homem baixou a cabeça e
só então viram que tinha a carapinha quase branca e grandes rugas no rosto.
Não é tanto assim… Se
trabalha muito e o ganho é pouco…
- Mas o senhor mesmo é homem de muitas posses…
- Nada. Tenho uma rocinha e há trinta anos que
estou naquela zona. Já tomei três tiros. Lá ninguém está livre de uma traição.
- Os homens lá são valentes? – mas ninguém
ouviu António Balduíno.
Pois olhe que havia aqui muito homem que queria ir com o senhor.
- Os homens de lá têm coragem? - António Balduíno
insistiu.
O homem passou a mão na
carapinha do pretinho e falou para os outros:
- Lá é uma terra braba… Terra de tiro e de
morte…
António Balduíno estava
com os olhos fixos no homem, esperando que ele contasse as coisas daquela
terra.
- Lá se mata para fazer aposta… Os homens
apostam como é que um viajante vai cair: se do lado direito, se do lado
canhoto.
sexta-feira, maio 10, 2013
ALCEU VALENÇA - ANUNCIAÇÃO
A música de Alceu e o seu universo temático são
universais mas a sua base estética pertence ao nordeste brasileiro. Aos 10 anos
foi para o Recife onde mantem contacto com a cultura urbana e ouve a música de
Orlando Silva e Dalva de Oliveira que alterna com Little Richard e Ray Charles.
Formou-se em Direito no Recife mas logo trocou as carreiras de advogado e
jornalista apostando no seu talento e sensibilidade artística.
- Há três dias que não falo com a minha mulher… não gosto de
interrompê-la.
- Sempre que saímos, a minha mulher e
eu, caminhamos de mão-dada. Se a solto ela foge para as compras.
- Alguns amigos perguntam-me qual o
segredo para um tão longo casamento. Respondo que reservamos tempo duas vezes
por semana para ir ao restaurante jantar à luz das velas com música ambiente e
baile. Eu vou às qui ntas e ela às
sextas.
- Li recentemente que o amor é uma
questão química. Deve ser por isso que a minha mulher me trata como lixo
tóxico.
- Depois do casamento, marido e
mulher são as duas faces da mesma moeda: continuam juntos mas não se podem
ver...
Dois brancos e um negro estão num andaime a lavar os vidros de um grande edifício. De repente, o negro dá um gemido, vira-se para um dos brancos e diz:
- Ai, ai, ai! Preciso cagar, vou cagar a
- 'Tás maluco, pá! Vais sujar toda a
gente lá em baixo!
- Mas não aguento mais, meu! Não vai
dar tempo para descer!!!
- Então, bate na janela e pede à
senhora que te deixe usar a casa de banho, aconselha um dos brancos.
E é o que ele faz.
Assim que a velha permite a entrada,
ele voa p'rá sanita.
Está o negro tranqui lo a aliviar-se, quando ouve uma gritaria sem
fim.
Quando sai, vê que o andaime se tinha
partido e os dois brancos que trabalhavam com ele se tinham espatifado no chão.
No dia seguinte, no velório, estão lá
os amigos, as viúvas inconsoláveis e o negro acompanhado da esposa, quando
chega o dono da empresa onde trabalhavam.
Imediatamente todos se calam.
O empresário começa o seu discurso,
dirigindo-se às viúvas:
- Sei que foi uma perda irreparável,
mas vou, pelo menos, tentar aliviar tanto sofrimento. Como sei que as senhoras
vivem em casas alugadas, darei uma casa a cada uma.
Também sei que as senhoras
dependem dos autocarros, por isso, darei um carro a cada uma. Quanto aos
estudos dos vossos filhos, não se preocupem mais, pois tudo será por conta da
empresa até que terminem a Faculdade.
E, para finalizar, as senhoras receberão
todos os meses 1000 euros, para as compras.
E a mulher do negro, já meio
arroxeada, não se conteve mais e diz ao ouvido do marido:
- E tu a cagar, né, seu preto de
merda???
Episódio nº 12
Disse em nagô e quando
Jubiabá falava nagô os negros ficavam trémulos:
- ôju ánum fó ti iká, li ôku.
De súbito o negro se
lançou aos pés de Jubiabá e contou:
- Eu já fechei o olho da piedade, gente… Um
dia eu fechei o olho da piedade…
Jubiabá olhou o negro com
os olhos apertados. Os outros, homens e mulheres, se afastaram.
- Foi um dia lá no sertão
alto. Estava tudo seco… Boi morria, homem morria, tudo morria. A gente fugiu, a
gente era um bocado, mas foi tudo ficando pelo caminho.
Depois só era eu e o João
Janjão. Um dia ele me carregou com as costas que eu não podia mais com as
pernas… Ele tinha o olho da piedade bem aberto e a gente tinha a garganta seca.
O sol era ruim, gente…
Cadê água naquele mundão
sem fim? Ninguém sabia não…
Um dia a gente arranjou
numa fazenda uma cabaça de água para continuar viagem. João Janjão ia com ela,
só dava água se ração. A gente ia morto de sede.
Foi quando a gente
encontrou outro homem, um branco que já estava morrendo de sede. João Janjão qui s dar água, eu não deixei.
Mas eu juro que só tinha
um restinho nem dava para eu e ele… E ele ainda queria dar para o homem branco…
Ele tinha o olho da piedade bem aberto… Mas o meu a sede tinha secado. Tinha
ficado somente o da ruindade…
Ele qui s
dar água, eu briguei com ele. E na raiva eu matei ele. Ele tinha – me levado um
dia todo nas costas…
E o negro ficou olhando o
negrume da noite. No céu brilhavam estrelas inúmeras. Jubiabá estava com os
olhos fechados.
Ele tinha me levado nas
costas um dia todo… Ele tinha o olho da piedade bem aberto… Eu quero tirar ele
da minha frente e não posso… Ele está ali, bem ali, olhando para mim.
Passou a mão nos olhos
querendo afastar qualquer coisa. Mas não conseguia e olhava fixo.
- Me levou um dia todo nas costas…
Jubiabá repetiu
monotonamente:
- É ruim vasar o olho da piedade. Traz
desgraça…
Então o homem levantou-se
e desceu o morro levando a sua história.
António Balduíno ouvia e
aprendia. Aquela era a sua aula proveitosa. Única escola que ele e outras
crianças do morro possuíam.
Assim se educavam e
escolhiam carreira. Carreiras estranhas aquelas dos filhos do morro. E
carreiras que não exigiam muita lição: malandragem, desordeiro, ladrão.
Havia também outra
carreira: a escravidão das fábricas, do campo, dos ofícios proletários.
António Balduíno ouvia e
aprendia.
quinta-feira, maio 09, 2013
Reflexão de vida:
- Mestre, como faço para me
tornar um sábio?
- Boas escolhas.
- Mas como fazer boas
escolhas?
- Experiência - diz o mestre.
- E como adquirir experiência,
mestre?
- Más escolhas.
Obs - Como diz o povo: "Aprendemos à custa dos nossos próprios erros". Geralmente tarde e a más horas... digo eu.
AS MULHERES DE HOJE
Cada um de nós é o produto da época e da sociedade em que nasce e em 1939 a sociedade portuguesa era dominada pelos homens, pelo menos na aparência, porque na intimidade dos lares, muitas vezes, eram as mulheres que decidiam e organizavam tudo ainda que de forma oculta e sub-reptícia para salvaguardar as aparências de uma sociedade machista e patriarcal.
Na família onde nasci o”homem” lá da casa era a minha mãe. Era ela que educava os filhos para além, já se vê, de tratar deles na saúde e na doença. Comandava, igualmente, o "exército" das criadas que chegaram a ser três: a cozinheira, a de “fora” e a dos “meninos” e organizava tudo desde as festas pelo Carnaval, chamadas de “assaltos” tirando partido das 17 assoalhadas, enquanto que o dono da casa passava discreto por aquele autentico turbilhão de energia que era a minha mãe.
Quando, no pós guerra, o meu pai comprou o Vauxhall ela tirou a carta de condução em pouco mais de 20 lições e sujeitou-se a ouvir toda a espécie de piropos quando conduzia na baixa lisboeta desde o clássico “vai cozer meias” que era, por excelência, a tarefa que os homens reservavam às mulheres para as humilhar e castigar pelo atrevimento e ousadia em desempenharem funções que as promoviam socialmente o que era, ao fim e ao cabo, o grande pecado.
Não seria este o panorama geral dos lares e das mulheres portuguesas na década de 40 e esta é mais uma razão para uma palavra de elogio à minha mãe pela coragem e arrojo necessários para escandalizar a sociedade da sua época com comportamentos que incluíam também o de fumar e que, de há muito, fazem parte do dia a dia de todas as portuguesas.
Mas estamos agora a assistir a um autêntico volte-face desta situação que se prolongou demasiado no nosso país com resultado de uma moral e de uns costumes impostos pelo medo e à força por um regime bolorento que só terminou em 25 de Abril.
Não seria este o panorama geral dos lares e das mulheres portuguesas na década de 40 e esta é mais uma razão para uma palavra de elogio à minha mãe pela coragem e arrojo necessários para escandalizar a sociedade da sua época com comportamentos que incluíam também o de fumar e que, de há muito, fazem parte do dia a dia de todas as portuguesas.
Mas estamos agora a assistir a um autêntico volte-face desta situação que se prolongou demasiado no nosso país com resultado de uma moral e de uns costumes impostos pelo medo e à força por um regime bolorento que só terminou em 25 de Abril.
E foi pena que assim tivesse acontecido porque a marcha de uma sociedade não deve ser retida artificialmente, barrada no seu percurso natural determinado pelas influências normais que se desencadeiam no seu seio permitindo que a adaptação a novos comportamentos possam ser feitos de uma forma crítica, gradual e sem traumas.
Não foi assim que aconteceu, registaram-se quebras abruptas de princípios e valores arrastados na enxurrada do pós revolução dos cravos comprovando que os malefícios dos regimes de força, ditatoriais, constituem uma chaga social que dura enquanto eles existem e perdura ainda durante muitos anos depois de terminarem.
Mas, esquecendo agora a minha mãe que talvez não sirva de exemplo, sempre me pareceu injusto, face à responsabilidade e ao volume de trabalho que recaíam sobre a mulher, o papel subalterno que o homem lhe reservava.
Hoje, quando vejo as Universidades, maioritariamente, preenchidas por alunos do sexo feminino, quando entro num Serviço Público e me apercebo que a maioria esmagadora dos funcionários, incluindo as chefias, são mulheres e quando, nos ecrãs da TV, me aparece uma jovem loura a falar na qualidade de responsável máxima da PSP de Lisboa, vem-me à memória o que era a sociedade portuguesa nos tempos idos da minha meninice e compreendo, então, que os privilégios que os homens, ciosamente, reservavam para si, tinha a ver com a percepção sentida de que, em termos de competição pura, seriam facilmente ultrapassados.
Ana Paula Vitorino, engenheira civil, que foi Secretária de Estado dos Transportes em Março de 2005, foi a primeira mulher escolhida para ditar as políticas públicas nos sectores marítimo-portuários, logístico, ferroviário, transportes urbanos e ferroviários, reuniu-se, a propósito do Dia Internacional da Mulher, com as suas 14 líderes de primeira linha e a sua preocupação era a de ainda não existirem mulheres nos Conselhos de Administração da CP, da Refer e do Metro de Lisboa e Porto.
Kjell Nordstrom, Guru do ano 2000 e que há quase uma década teoriza sobre a vantagem competitiva das mulheres explica-nos a razão desta evolução:
- “As mulheres adequam-se melhor às características das sociedades modernas, urbanas, democráticas e igualitárias onde as pessoas são reconhecidas pelo mérito do seu desempenho”.
E acrescenta:
- "Mas agora entrámos verdadeiramente noutra fase, em que as aptidões e os perfis procurados são muito mais femininos, privilegiando a maior capacidade de gerir tensões e coligações de forma pacífica e eficaz, sem transformar o mínimo atrito numa competição agressiva”.
-“Um bom exemplo é dado pela Chanceler alemã Ângela Merkl e pelo seu hercúleo trabalho a gerir a coligação política que governa a Alemanha.
Lembram-se do papel pacificador que as mulheres desenvolviam com toda a diplomacia e descrição no seio das grandes famílias patriarcais do século XIX?
Sem esquecermos a nossa 1º Ministro, Maria de Lurdes Pintassilgo que muito honrou a nossa classe política de governantes, o nosso país não pode equiparar-se, neste aspecto, aos nórdicos onde, por exemplo, na Noruega, o governo tem 50% de mulheres.
Tradicionalmente, os homens latinos desempenharam um papel muito apagado na criação dos filhos e esta realidade reduziu-os na sua dimensão humana, na sua capacidade de decisão a todos os níveis e tornou-os menos responsáveis.
Quem hoje é avô depois de ter sido pai há 40 anos atrás compreende melhor este ponto de vista.
São, pois, profundas as alterações que estão a acontecer na estrutura da sociedade contemporânea e o homem se quiser desenvolver características que nas mulheres são natas e que hoje as tornam importantes para liderar a gestão moderna há que começar a treinar, como hoje já fazem muitos jovens pais, na criação e educação dos seus filhos desde o nascimento em paralelo com as mães.
Não foi assim que aconteceu, registaram-se quebras abruptas de princípios e valores arrastados na enxurrada do pós revolução dos cravos comprovando que os malefícios dos regimes de força, ditatoriais, constituem uma chaga social que dura enquanto eles existem e perdura ainda durante muitos anos depois de terminarem.
Mas, esquecendo agora a minha mãe que talvez não sirva de exemplo, sempre me pareceu injusto, face à responsabilidade e ao volume de trabalho que recaíam sobre a mulher, o papel subalterno que o homem lhe reservava.
Hoje, quando vejo as Universidades, maioritariamente, preenchidas por alunos do sexo feminino, quando entro num Serviço Público e me apercebo que a maioria esmagadora dos funcionários, incluindo as chefias, são mulheres e quando, nos ecrãs da TV, me aparece uma jovem loura a falar na qualidade de responsável máxima da PSP de Lisboa, vem-me à memória o que era a sociedade portuguesa nos tempos idos da minha meninice e compreendo, então, que os privilégios que os homens, ciosamente, reservavam para si, tinha a ver com a percepção sentida de que, em termos de competição pura, seriam facilmente ultrapassados.
Ana Paula Vitorino, engenheira civil, que foi Secretária de Estado dos Transportes em Março de 2005, foi a primeira mulher escolhida para ditar as políticas públicas nos sectores marítimo-portuários, logístico, ferroviário, transportes urbanos e ferroviários, reuniu-se, a propósito do Dia Internacional da Mulher, com as suas 14 líderes de primeira linha e a sua preocupação era a de ainda não existirem mulheres nos Conselhos de Administração da CP, da Refer e do Metro de Lisboa e Porto.
Kjell Nordstrom, Guru do ano 2000 e que há quase uma década teoriza sobre a vantagem competitiva das mulheres explica-nos a razão desta evolução:
- “As mulheres adequam-se melhor às características das sociedades modernas, urbanas, democráticas e igualitárias onde as pessoas são reconhecidas pelo mérito do seu desempenho”.
E acrescenta:
- "Mas agora entrámos verdadeiramente noutra fase, em que as aptidões e os perfis procurados são muito mais femininos, privilegiando a maior capacidade de gerir tensões e coligações de forma pacífica e eficaz, sem transformar o mínimo atrito numa competição agressiva”.
-“Um bom exemplo é dado pela Chanceler alemã Ângela Merkl e pelo seu hercúleo trabalho a gerir a coligação política que governa a Alemanha.
Lembram-se do papel pacificador que as mulheres desenvolviam com toda a diplomacia e descrição no seio das grandes famílias patriarcais do século XIX?
Sem esquecermos a nossa 1º Ministro, Maria de Lurdes Pintassilgo que muito honrou a nossa classe política de governantes, o nosso país não pode equiparar-se, neste aspecto, aos nórdicos onde, por exemplo, na Noruega, o governo tem 50% de mulheres.
Tradicionalmente, os homens latinos desempenharam um papel muito apagado na criação dos filhos e esta realidade reduziu-os na sua dimensão humana, na sua capacidade de decisão a todos os níveis e tornou-os menos responsáveis.
Quem hoje é avô depois de ter sido pai há 40 anos atrás compreende melhor este ponto de vista.
São, pois, profundas as alterações que estão a acontecer na estrutura da sociedade contemporânea e o homem se quiser desenvolver características que nas mulheres são natas e que hoje as tornam importantes para liderar a gestão moderna há que começar a treinar, como hoje já fazem muitos jovens pais, na criação e educação dos seus filhos desde o nascimento em paralelo com as mães.
Eu sinto que aprendi na convivência com a minha neta Filipa que não consegui aprender com os meus filhos em pequeninos porque lá estava a mãe a chamar a si essa tarefa. Espero continuar a aprender com a minha nova neta Matilde.
Se não participarmos activamente na convivência e obrigações para com os filhos desde o seu nascimento ficamos amputados no desenvolvimento das nossas capacidades porque é preciso rectificar essa ideia de que são só os filhos que aprendem com os pais, estes também aprendem com os filhos. Essa é a vantagem que as mulheres nos levam na sua maior capacidade para gerir conflitos e tensões de forma pacífica e eficaz.
Se não participarmos activamente na convivência e obrigações para com os filhos desde o seu nascimento ficamos amputados no desenvolvimento das nossas capacidades porque é preciso rectificar essa ideia de que são só os filhos que aprendem com os pais, estes também aprendem com os filhos. Essa é a vantagem que as mulheres nos levam na sua maior capacidade para gerir conflitos e tensões de forma pacífica e eficaz.
Episódio Nº 11
- Diz também que Balbino morreu foi de feitiço, gente…
- Foi nada… Aquele morreu foi de ruim que era…
Ruim como as cobras.
Um negro, velho, gordo,
que raspava a sola do pé com um canivete, contou em voz baixa:
- Vosmicês, sabem o que ele fez com o velho
Ezequi el? Pois foi coisa de arrepiar
o cabelo… Vosmicês sabem que o velho era um homem direito… Homem sério até ali.
Eu conheci ele muito, trabalhamos junto de pedreiro. Um homem direito… Não
havia dois na terra.
Mas um dia teve a má sorte
de defrontar com o Balbino. O coisa ruim se meteu de amigo do velho só para
levar a filha dele. Vosmicês se lembram da Rosa. Eu bem me lembro… Era a
cabrocha mais linda que eu olhei com esses olhos que a terra há-de comer.
Pois Balbino se meteu de
namoro com ela, só falava em casar…
A mulher grávida disse:
- Igualzinho ao que Roque fez comigo…
- Chegaram a acertar o dia… Mas não vê que o
velho Ezequi el foi trabalhar. Nesse
tempo ele estava no cais do porto… Tinha um vapor para carregar…
Balbino com parte de noivo
entrou pela casa a dentro, levou a Rosa para mostrar o enxoval que estava
guardado no quarto do velho. Derrubou ela na cama e ela disse que gritava e não
queria.
De formas que ele deu nela
até que a deixou rebentada mesmo, cheia de sangue que nem assassinada. E ainda
teve a calma para abrir a mala do velho e tirar o dinheiro que tinha lá, a
miséria de cinquenta mil reis que era para a festa do casamento.
Quando o velho chegou
virou doido. Aí Balbino que não era mesmo homem, só tinha era garganta, ficou
com medo do velho. Passou escondido até que um dia reuniu mais dois e pegaram
Zequi el no escuro. Deram no velho de
matar… Nem foi preso. Diz que tinha protecção de gente alta…
- Diz que mesmo… Um dia um
soldado deu nele e prendeu ele. Sabem o que aconteceu? Balbino foi solto, o
soldado comeu cadeia…
- Diz que ele vivia dizendo onde tinha
candomblé prá polícia fechar…
Ninguém havia reparado na
chegada de Jubiabá. O macumbeiro falou:
- Mas ele morreu de morte feia…
Os homens baixaram a
cabeça, bem sabiam que eles não podiam com Jubiabá que era pai de santo.
- Morreu de morte feia. Nele o olho da piedade
vazou. Ficou só o da ruindade. Quando ele morreu o olho da piedade abriu de
novo.
Repetiu:
- O olho da piedade vazou. Ficou só o olho da
ruindade…
Então um negro troncudo
chegou para perto de Jubiabá:
- Como é, pai Jubiabá?
- Ninguém deve fechar o olho da piedade. É
ruim fechar o olho da piedade… Não trás coisa boa.
quarta-feira, maio 08, 2013
Por favor, não abandonem
os animais. Nem todos são
tão espertos como este...
O dono de um gato queria livrar-se dele. Levou-o até a uma esquina distante e voltou para a casa. Quando regressou, o gato já lá estava.
Levou-o novamente, agora para mais longe.
No regresso, encontrou o gato em casa.
Fez isso mais umas três vezes, sempre cada vez para mais longe mas em todas elas quando chegava a casa o gato já lá estava.
Furioso, pensou: "Vou lixar este gato!"
Pôs-lhe uma venda nos olhos, amarrou-o, meteu-o num saco opaco e colocou-o na mala do carro.
Subiu à serra mais distante, entrou e saiu de diversas estradinhas, deu mil voltas... e acabou por soltar o gato no meio do mato.
Passadas umas horas ligou para casa pelo telemóvel...
- Tá, Maria, o gato já chegou?
- Sim, respondeu a mulher.
- Ainda bem, era o que eu pensava... passa-lhe o telemóvel e deixa-me falar com ele porque estou perdido.
O Futuro do Homem |
O Futuro do Homem
O futuro do homem no plano genético é
muito pouco interessante pois não é provável que venham a acontecer grandes
mudanças como as que ocorreram nos últimos 100.000.
A força que muda a nossa biologia é a selecção natural que age através das diferenças entre a mortalidade e a fertilidade entre os indivíduos mas, como a medicina quase que aboliu a mortalidade antes da idade reproductiva, se todas as famílias tiverem dois filhos e nenhuma mortalidade antes da procriação, a selecção natural, pura e simplesmente, desaparecerá por completo.
As forças da evolução foram
completamente mudadas pelos desenvolvimentos dos últimos 10.000 anos com a
invenção da agricultura e a criação de animais e, como em todas as aplicações,
pode haver efeitos colaterais nocivos cabendo ao homem direccioná-los.
Não há dúvidas de que os resultados
alcançados pela agricultura e criação de animais permitiram ultrapassar uma
crise, mas prepararam outras.
Por exemplo, a pastagem
indiscriminada de cabras, ovelhas e até de bovinos em ambientes secos e de
solos frágeis determinou rapidamente uma transformação irreversível e o deserto
do Sara foi e continua a ser uma consequência destes erros.
A Mesopotâmia foi em tempos de uma
fertilidade lendária mas os terrenos foram vítimas da salinização devido a
irrigações para fins agrícolas e o resultado foi, mais uma vez, a
desertificação parcial.
Da mesma forma, o uso militar do
cavalo não podia ter tido outro efeito que não fosse a propagação da guerra
numa revolução comparável à da invenção das armas de fogo.
Mas, no plano genético, a grande
mudança que está para acontecer na espécie humana tem a ver com as migrações
que conduzem a uma mestiçagem contínua e complexa.
No final deste processo, se ele
continuar, como tudo leva a crer, ter-se-á uma humanidade que, num determinado
aspecto, apresentará menos diferenças entre os grupos à custa de uma maior
diferença entre os indivíduos no seio de cada grupo.
Haverá, por isso, menos razões para o
racismo o que será, em si mesmo, uma vantagem, mas resulta da simples
observação que as taxas de reprodução são muito diferentes entre os vários
grupos étnicos,
Os europeus estão demograficamente
estacionários ou em perda, enquanto que a população de muitos dos países
subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento está a aumentar a um ritmo que
nunca se viu.
De acordo com os dados da ONU, no
nosso planeta vivem 6,5 milhares de milhões de pessoas, e 75% delas em países
subdesenvolvidos com menos de 2 dólares por dia.
Considerando a década de 1995 a 2005 a variação da população
registada nos diferentes continentes foi a seguinte:
- Europa………………………………………… - O,36%
- América do Norte (Canadá e EUA)… +
9,8%
-América Latina…………………………… + 13,8%
- África…………………………………………. + 20,4%
- Ásia……………………………………………. +12,1%
Parece, pois, que os tipos louros e
de pele clara estão a diminuir a frequência relativa num mundo que deve
aprender a não se multiplicar e, por outro lado, parece indesmentível que a
capacidade de controle da natalidade varia na razão inversa dos níveis de
desenvolvimento, bem estar e educação dos povos.
Mas o futuro cultural do homem está
em pleno desenvolvimento e de certo irá acentuar-se nos tempos vindouros em
consequência de uma verdadeira explosão tecnológica no sector das comunicações.
Uma parte importante deste
desenvolvimento vem dos computadores que funcionam como uma extensão do nosso
cérebro que ajuda a memória e a nossa capacidade de efectuar cálculos
numéricos.
Em todo o caso, a comunicação entre
os indivíduos está limitada, como no tempo do paleolítico, pelas barreiras
linguísticas muito tenazes entre as sociedades humanas.
A tendência geral é para a diminuição
do número de línguas faladas, muitas em extinção, e para o aumento de pessoas
capazes de falarem correntemente, para além da língua materna, pelo menos uma
das línguas mais comuns.
A língua mais falada no mundo é o
Chinês, mais de mil milhões de pessoas, e a seguir o inglês com a
particularidade de que mais de um terço das pessoas que o falam fazem-no como
segunda língua ou língua estrangeira aprendida.
Seguem-se as línguas espanhola, o
Hindi, falada por 70% dos indianos, e em igual posição, o Árabe, o Bengali e o
Russo.
Talvez o computador venha a tornar
mais fácil no futuro a tradução mas, por enquanto, ainda estamos longe.
Contudo, as dificuldades de
comunicação não constituem o problema mais grave do mundo, outros existem, de
natureza social, bem piores, como sejam:
- O número de pessoas vivendo abaixo
do nível de pobreza, a ignorância, o crescimento demasiado rápido das
populações, o racismo, o abuso das drogas e mais recentemente o terrorismo.
Muitos destes problemas
correlacionam-se e interagem agravando os resultados e dificultando as
soluções.
O fortíssimo aumento demográfico nos
países mais pobres é uma consequência de descobertas médicas que reduziram
drasticamente a mortalidade infantil sem que tenha havido uma diminuição dos
nascimentos que compensasse.
Os programas sociais foram
desadequados e estão na origem de profundos desequi líbrios
e sofrimentos.
A única esperança reside na educação
e aqui os modernos meios de
comunicação abrem grandes possibilidades mas ainda estamos longe de os saber
utilizar de modo eficaz e com objectivo educativo.
As religiões, infelizmente, também se
esquecem muitas vezes da sua missão de paz social, transformando-se em adeptas
de extremismos preocupantes.
É muito provável que a causa mais
importante do actual mal estar seja precisamente o crescimento demográfico
excessivo em muitas partes do mundo mas poucas são as religiões que se
preocupam com isso, também porque consideram que dar apoio a campanhas de
controle dos nascimentos poderia constituir um perigo contra os seus próprios
interesses.
Em certo sentido, várias religiões e
outras entidades que têm papel fundamental na sociedade humana, mostram uma
confiança excessiva numa forma de “darwinismo social” que o próprio Darwin
nunca aceitou.
Pensar que as relações sociais podem
ser entendidas como uma forma de selecção natural numa luta de vida ou de morte
é uma visão apocalíptica que poderá ter a ver com a luta pela sobrevivência
entre presa e predador mas não para uma competição entre indivíduos da mesma
espécie em que a selecção natural gera facilmente comportamentos corporativos e
altruístas.
Mas, atenção, esse risco de competição
não será importante se a densidade populacional não for excessiva e, neste
aspecto, o comportamento reprodutivo na Europa está francamente em descida mas
o resto do mundo tem de seguir rapidamente o exemplo.
É tarefa de toda a humanidade
prevenir os desenvolvimentos perigosos que possam derivar das suas
potencialidades económicas, tecnológicas e do conhecimento porque só aprendendo
a prever é que é possível gerar medidas de controlo que as possam evitar.
Estamos a chegar a um ponto em que
nos apetece pedir à humanidade que pare um pouco para pensar… porque nos
sentimos apreensivos, porque já andámos muito nesta longa caminhada de tantos
milhares de anos, porque já alcançamos tantas coisas e obtivemos tantas
vitórias no que se refere ao respeito que nos é devido por nós próprios e, no
entanto, olhamos para os jornais e muitas coisas que lá vemos reconduzem-nos ao
ponto zero e outras fazem-nos recuar centenas de anos.
Ao longo do processo evolutivo
desenvolvemos características que nos permitiram uma vitória improvável na luta
pela sobrevivência.
Não nos esqueçamos de como tudo começou e de como éramos tão frágeis à partida:
Relembremos:
- Há 10 milhões de anos o planeta estava coberto de florestas e nesses imensos dosséis que pegavam uns nos outros, várias espécies de macacos viviam com todo o à vontade, passando de árvore para árvore sem sequer terem necessidade de descer ao solo.
Mas um acidente geológico ao longo do continente africano, na parte leste, que deu lugar ao Vale do Rift, levou a que as condições climáticas se alterassem e abrissem clareiras afastando as árvores umas das outras obrigando os macacos a descerem para se poderem movimentar. Entretanto, nessas clareiras, começou a nascer erva, constituindo-se um novo ambiente.
Entre os macacos obrigados a descer das árvores e a caminhar no terreno coberto de ervas estavam os nossos antepassados pois há provas de que há 4,2 milhões de anos alguns deles adoptaram uma posição bípede e esta foi a primeira condição para se chegar à humanidade muito mais tarde.
Estávamos à beira do lago Turkana, o maior lago africano, do tamanho da Líbia, actual Quénia, e onde se localiza o maior depósito de fósseis humanos, procurados e estudados por várias gerações de cientistas aproveitando os recentes avanços tecnológicos no campo da genética e de muitos ramos da ciência moderna com conclusões extraordinárias:
- Todos somos africanos e todos saímos daquele local, à cerca de 70.000 anos, atravessando o Mar Vermelho, com um nível de águas então muito mais baixo.Uns foram para Norte e chegaram à Europa. Os restantes dirigiram-se para Leste na direcção do continente Asiático.
Depois da posição bípede quais foram as restantes características que tendo surgido permitiram este processo de evolução?
a) - A linguagem ou a emissão de sons que permitiram a comunicação entre os membros do grupo:
b) - Um tipo de inteligência que permitiu idealizar, conceber no abstracto para a construção de utensílios. Foi possível reconstruir a partir de setenta bocados, encontrados onde foi trabalhada,uma pedra, à qual foi retirada pelo artesão um pedaço extremamente cortante e manipulável que permitia retirar a carne e raspar as peles dos animais que caçavam para se alimentarem;
c) - Finalmente, uma última característica foi necessária: sentimentos de solidariedade, amor e carinho - O "rapaz de Turkana", com mais de um milhão de anos, que tinha um grave defeito no esqueleto que o incapacitava de caçar e alimentar, só sobreviveu porque os seus companheiros de grupo trataram dele.
Encontradas estas características quis o acaso e a vontade dos nossos antepassados que tivéssemos chegado até aqui... hoje mais sós, mais entregues a nós próprios, perdido o espírito da tribo que nos dava segurança e que era, também ele, a nossa própria razão de ser sem a qual a nossa vida não só era impensável como impossível.
À medida que caminhámos para a aldeia global os desafios adquiriram cada vez uma maior dimensão. Temos a nosso favor conhecimentos científicos que eram impensáveis há umas dúzias de anos atrás e, no entanto, repetimos, no plano social e político, erros crassos de criança permanentemente desatenta.
A tribo já não existe tendo sido substituída por uma sociedade de tal forma complexa que em muitos aspectos deixámos de a compreender. Impõe-se uma tomada de consciência
colectiva sobre tudo aqui lo que já
conseguimos e é consensual no mundo, servido por uma determinação assente em
organizações de âmbito mundial com força e prestígio indiscutíveis.
O mundo tem que ser regulado e posto
ao serviço dos valores da cidadania e sobre esses valores já ninguém tem
dúvidas, o que existe são fragilidades intrínsecas ao próprio homem na sua
implantação.
Por vezes julgamos que estamos
próximos…quase que lá chegámos…pelo menos estamos no bom caminho… mas é mais a
nossa boa vontade… porque não conseguimos deixar de sentir que o desalinho na
nossa caminhada para o futuro traduz-se num grau de incerteza e de ansiedade.
Será que é possível reencontrar o
“espírito” da tribo no mundo global?