quinta-feira, setembro 20, 2007


Sporting -Manchester

Depois de muitos anos como adepto de sofá tive ontem a oportunidade de ver, olhos no relvado, o meu Sporting.

É certo, que no meu regresso aos estádios nem tudo foi agradável por causa daquela cena caricata em que fui apalpado e revistado e quase impedido de entrar acompanhado de uns, aparentemente, inofensivos binóculos.

Explicaram-me que era por uma questão de segurança pois, de há uns anos a esta parte, pessoas perigosas têm vindo a insinuar-se junto dos pacíficos sócios e adeptos dos clubes de futebol para, a coberto de grandes ajuntamentos, darem vazão às suas frustrações e maus feitios.

Mas os receios eram infundados e foi num ambiente de saudável confraternização que me reencontrei com o pessoal da minha tribo naquele cenário electrizante, cheio de reflexos verdes e brancos a tremelicarem provocados por painéis agitados por milhares de braços num espectáculo de cor e brilho.

-Spór-ting e do outro topo respondiam, Spór-ting e mais uma vez e outra e ainda outra, numa comunhão de sons em uníssono que desafiavam os melhores coros da Gulbenkian.

O colega sentado ao meu lado acendeu nervosamente um cigarro e pediu-me desculpa pelo fumo que sobrava para mim:

-“Não consigo evitar… sabe, vim de Coimbra ver o nosso Sporting”.

- “Não tem importância, amigo…deixei de fumar há 12 anos e se hoje voltar a fumar um bocadinho não faz mal”

Entretanto, à nossa volta, acendiam-se mais cigarros e o isqueiro do meu vizinho andava numa roda-viva, de mão em mão, com a naturalidade do usufruto de um bem pertencente à comunidade da tribo.

Um jovem casal de namorados, duas filas a seguir à minha, alheados do mundo, trocavam carinhos com a mesma naturalidade e à-vontade com que, mais abaixo, no relvado, os jogadores faziam exercícios de aquecimento.

Aguardava-se o início do jogo e os rostos espelhavam uma serenidade contida.

O adversário era uma das melhores equipas do mundo, das mais ricas e poderosas e mesmo que perdêssemos, a honra da tribo não sairia muito abalada.

Afinal, não nos podemos esquecer, que enquanto nós vamos buscar jogadores a custo zero eles nem sequer discutem os milhões com que adquirem os seus.

O jogo começou e o Manchester, em estilo de treino, como de quem não está para se maçar muito, ofereceu-nos o seu meio campo e “disse-nos: vejam lá se nos conseguem marcar um golo” e nós lá fomos: atacámos… atacámos…atacámos até que sofremos o golo que ditou o resultado final.

Sirva-nos de consolação de que perdemos com um auto-golo, claríssimo e assumido.

O Cristiano Ronaldo, às vezes, faz daquelas coisas… mas como, logo de seguida, pediu perdão de mãos postas e, além disso, encheu o campo com as suas avançadas mágicas, todos nós, sportinguistas, não só lhe perdoámos como ainda nos despedimos dele aplaudindo-o de pé.

Nesse momento senti-me orgulhoso da minha tribo. Cá para mim, ganhámos o jogo e... Viva o Sporting!











terça-feira, setembro 18, 2007

Onovo Código Penal





O NOVO CÓDIGO PENAL




Será possível o que li hoje na primeira página de um Jornal?

-Que o novo Código Penal libertou o violador até à morte de uma criança de 6 anos, deficiente, por excesso de prisão preventiva depois de ter recorrido de uma sentença que o condenou a 12 anos de prisão?!

A notícia continuava nas páginas interiores do jornal:

-O criminoso, que foi libertado menos de um ano depois de condenado, era padrasto da vítima e, de acordo com a sentença de condenação, “agiu de forma cruel e reiterada, com requintes de sadismo”… e para que não houvesse qualquer dúvida ali estava a fotografia que registava o momento em que já fora da prisão se preparava para entrar no carro que o levaria, de novo, à liberdade.

Na realidade, o que aconteceu é que o novo Código Penal limitou e, quanto a mim muito bem, para dois anos o tempo máximo de prisão preventiva para crimes violentos e como o violador tinha requerido da sentença, no último Sábado, os juízes tiveram que o soltar.

Daniel, viveu três meses com o violador e morreu em agonia enquanto que Fábio, o violador criminoso, “… que tem uma personalidade deformada e não mostrou arrependimento” vive agora em liberdade, em Carnaxide, depois de ter cometido os crimes entre 1 e 5 de Setembro de 2005.

Como é isto possível?

-Em 13 de Dezembro do ano passado foi condenado a 12 anos de prisão mas como recorreu para o Supremo Tribunal de Justiça enquanto os juízes não apreciarem o caso a decisão do Tribunal anterior não transita em julgado e, sendo assim, a prisão continua a ser de natureza preventiva.

Como o novo Código reduziu o prazo desta prisão de 30 para 24 meses, a mesma justiça que o prendeu e o condenou devolve-o, agora, à liberdade para espanto, perplexidade e temor de todo o país que lê estas coisas e não quer acreditar que elas possam ser verdades.

O Ministro balbucia qualquer coisa sem convicção daquilo que diz como se isto acontecesse para além da vontade dos homens, vítimas, todos eles, de caprichos de deuses irresponsáveis que decidem brincar com os indefesos humanos.

O criminoso recorreu para o Supremo Tribunal de Justiça e nós, cidadãos deste país, num caso destes, recorremos para quem?











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