Evolução
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
Mas a Grande Revolução estava para acontecer e o nosso “avô” Cro-Magnon iria ser, também ele, vítima das alterações climáticas na Europa com o princípio do fim da era glacial, o aumento das temperaturas e dos índices pluviométricos, o aparecimento em força das florestas, o desaparecimento progressivo das savanas, das tundras e das manadas de animais de grande porte.
De futuro, o homem iria domesticar as ervas e alguns animais pondo ambos ao seu serviço, passaria a ser escravo da terra e do trabalho monótono e repetitivo que ela implica. Resultariam excedentes de alimento que, mais cedo ou mais tarde, iriam ser apropriados por uns em prejuízo de outros e a terra que produzia esses alimentos deixaria de estar disponível e seria, também ela, apropriada por uns, poucos, os Senhores da terra, enquanto a multidão dos restantes, seriam seus servos.
A sociedade organizou-se, hierarquizou-se, sofisticou-se.
Os xamãs tornaram-se sacerdotes e as crenças e mitos evoluíram para religiões, primeiro de uma multiplicidade de deuses e mais tarde, para simplificar, mas só aparentemente, de um só.
Estavam criados os ricos e os pobres, os fracos e os poderosos, não em função das suas capacidades físicas, destreza ou coragem, como no tempo do nosso “avô”, mas principalmente em função do nascimento, do ter ou não ter e de qualidades de outro tipo.
Finalmente, apareceram as cidades e delas brotaram as civilizações lideradas pelos grandes chefes políticos e militares à frente dos seus enormes exércitos.
O nosso “avô” Cro-Magnon com a sua destreza, força e coragem e o seu apurado sentido de observação e instinto de caçador foi substituído por outro, com outras capacidades baseadas na abstracção e racionalização.
A prática da agricultura e o consequente sedentarismo, depois da primeira Grande Revolução resultante da descoberta da técnica que permitiu o domínio e o controle do fogo, daria agora lugar à segunda Grande Revolução.
A primeira, fez-nos nascer como Homo Sapiens, a segunda projectou-nos para destinos que nós próprios, que vivemos os dias de hoje, não podemos, com algum realismo, deixar de temer.
Creio que temos hoje mais razões para nos atormentarmos do que tinha o nosso “avô” Cro-Magnon… mas isto é só uma desconfiança minha.
…e se amanhã nos levantássemos de madrugada, antes do nascer do sol, e fossemos fazer uma pescaria ao Tejo?...
O Grande Teste
A vida da nossa espécie, como de qualquer outra, é um processo permanente de mudança sem destino, sem hora marcada, nem tão pouco com futuro assegurado.
Umas vezes somos nós próprios que introduzimos esses factores de mudança provocando as chamadas revoluções, quando é brusca e profunda, outras vezes a mudança acontece por força de fenómenos geológicos repentinos e inesperados, alguns com consequentes alterações climáticas, que obrigam a grandes alterações das nossas vidas para podermos sobreviver adaptando-nos a essas alterações.
Desses, o de mais graves consequências, aconteceu há 75.000 anos com a explosão do vulcão Toba, na Indonésia, cuja dimensão e intensidade foi tão grande que teve como consequência a diminuição da temperatura do globo até 12 graus e esteve na base de uma nova era glaciar que se prolongou por mais de mil anos.
O exame do ADN mitocondrial, através da análise das mutações, parece comprovar que todos nós, os mais de 6 mil milhões de pessoas que hoje habitam o nosso planeta, descendem de um pequeno grupo de mil a dois mil sobreviventes desse enorme cataclismo.
Maior que essa revolução que nos colocou no limite mínimo do numero de indivíduos suficientes para assegurar a sobrevivência da espécie nunca terá acontecido.
Um super vulcão destes, situado por baixo do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, estará em vésperas de explodir o que, em termos geológicos, significa a qualquer hora ou daqui a 10.000 anos.
Paradoxalmente, parece que foram essas novas condições resultantes da explosão do vulcão que não tendo exterminado a nossa espécie, foram decisivas para a verdadeira eclosão do verdadeiro homo sapiens, sapiens.
Realmente, é difícil de explicar tão pouca diversidade do ADN, senão for através desse cataclismo que terá posto fim a todos os restantes ramos do homo sapiens que habitavam a terra permitindo apenas a sobrevivência desse pequeno grupo do qual todos nós hoje descendemos.
Há pesquisas que indicam que o número de mulheres teria chegado apenas a umas 500 e durante séculos qualquer uma dessas gerações poderia ter sido a última.
Calcula-se que terão sido necessários 20.000 anos para que a curva da recuperação trouxesse a população para os níveis anteriores.
A um passo da extinção não só conseguiram recuperar como também evoluir porque foram capazes de forjar as respostas para os problemas da escassez da vida vegetal e animal subsequente.
A erupção em si terá durado cerca de duas semanas e alguns dos nossos antepassados terão morrido logo como vítimas directas da erupção mas a crise populacional detectada pelos geneticistas terá resultado da queda da temperatura em todo o planeta que atingiu entre 5 a 12 graus conforme as fontes.
Muitas das plantas não conseguiram mais germinar, os animais morreram aos milhares espalhando pelo solo carcaças putrefactas.
Com a formação das geleiras o nível dos mares desceu deixando à mostra uma paisagem em que o solo podia ser varrido pelo vento.
Traços do cálcio do solo disperso podem ser hoje encontrados nas geleiras da Gronelândia demonstrando que deve ter havido tempestades de areia por dias a fio, matando as plantas e privando humanos e animais das fontes de alimento.
Famintos e desesperados teria sido muito difícil aos sobreviventes gerar filhos e ainda mais criá-los.
Assoladas pela fome as crianças teriam sido as primeiras a morrer seguidas pelas mulheres. Foi um duro golpe, o mais terrível, para a nossa espécie.
As populações que já teriam abandonado as zonas tropicais e subtropicais devem ter sido dizimadas pelo frio e nas latitudes mais altas os Neandertais, embora biologicamente mais adaptados, aparentemente declinaram em número e abandonaram o norte da Europa.
O Homo Sapiens sobreviveu porque existiam então no mundo três áreas tropicais de grande índice pluviométrico cujo solo conseguia sustentar maior número de pessoas e essas áreas estavam todas em África onde existem evidências de expansão humana depois do cataclismo com ferramentas e gravuras de há 70.000 anos que atestam focos de desenvolvimento anteriores a qualquer outro lugar.
Assim, de uma coisa parece podermos estar certos, devemos a nossa existência a essas populações que por sorte e engenho conseguiram sobreviver ao desastre ecológico.
Esse super vulcão está hoje escondido debaixo do lago Toba, a norte de Sumatra e pode ser visto do espaço. Milhares de anos de chuva encheram de água a cratera do vulcão transformando-a num lago.