Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, fevereiro 09, 2013
UM DEUS
ENCERRADO
EM DOGMAS
Um Deus encerrado numa jaula de palavras é sempre menor do que a própria jaula. Se houvesse um mistério, os dogmas degradavam-no.
Esse Deus não é um Deus livre é um Deus pequeno, constituído de ideias de pessoas a partir daquilo que elas são, porque primeiro vem a vida e depois o pensar.
Tudo o que se diz de Deus são metáforas poéticas que não revelam Deus mas apenas o pensamento daquele que fala. Uma linguagem que começou sendo casa e terminou sendo cárcere.
Os dogmas são palavras portadoras de poder, ferramentas que impedem o caminhar. Estacam, paralisam, dividem, não deixam ser, não deixam avançar, conformam-se com o estar.
Ancorados no antigo e em permanente contar e recontar a velha história dos que falaram primeiro. Um polvo de costumes, normas, leis, regras forjadas no medo. Medo de perder, de perder uma verdade que já ninguém reconhece, medo ao canto e ao amor que tudo transforma.
Esse Deus não é um Deus livre é um Deus pequeno, constituído de ideias de pessoas a partir daquilo que elas são, porque primeiro vem a vida e depois o pensar.
Tudo o que se diz de Deus são metáforas poéticas que não revelam Deus mas apenas o pensamento daquele que fala. Uma linguagem que começou sendo casa e terminou sendo cárcere.
Os dogmas são palavras portadoras de poder, ferramentas que impedem o caminhar. Estacam, paralisam, dividem, não deixam ser, não deixam avançar, conformam-se com o estar.
Ancorados no antigo e em permanente contar e recontar a velha história dos que falaram primeiro. Um polvo de costumes, normas, leis, regras forjadas no medo. Medo de perder, de perder uma verdade que já ninguém reconhece, medo ao canto e ao amor que tudo transforma.
Um elefante vê uma cobra
pela primeira vez:
Muito intrigado pergunta:
- Como é que fazes para te deslocar? Não tens patas!
- É muito simples - responde a cobra, rastejo, o que me permite avançar.
- Ah... E como é que fazes para te reproduzires? Não tens tomates!
- É muito simples - responde a cobra já irritada - não preciso de tomates, ponho ovos.
- Ah... E como é que fazes para comer? Não tens mãos nem tromba para levar a comida à boca!
- Não preciso! Abro a boca assim, muito grande, e com esta enorme garganta engulo a minha presa directamente.
- Ah... ok! Ok!
Mas então, resumindo.... rastejas, não tens tomates e só tens garganta...
- És Chefe de quem ?????!!
Roberta Flack - Killing Me Softly
Dedilhando minha dor com seus dedos
cantando minha vida com suas palavras
.... ....
Canção linda, enérgica, harmoniosa, a inspirar sonhos... numa voz, ela própria, de sonho.
Acarajé, caruru, moqueca, cuscus... |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 18
E lá estava:
- A minha vida, finalmente, há-de se resumir
nisso: trabalhar, trabalhar?... Nunca passarei de um fazendeiro rico?... Não
haverá na vida outra coisa que não seja o trabalho de todo o dia e o descanso
de todo o dia no seio da família?...
- Até meu pai, até meu pai… - resmungava
Rigger, entre dentes.
Julie, recostada na cama,
lia um romance de Willy, fumando um cigarro fino. Abandonou o livro, um enjoo.
O relógio pulseira marcava dez horas da noite. Paulo Rigger estava a chegar.
Pensou quase com aborrecimento nele.
Quando chegasse começariam
logo aquelas cenas de todos os dias. Ciumadas sem motivo. Queria saber como ela
passara o dia. O que fizera. Onde fora…
Ela errara em se juntar a
ele. Pensara que Rigger fosse um cerebral que não se importasse com o que ela
fizesse. Um parisiense requi ntado
que só qui sesse gozar. E mais nada.
Em vez disso, em vez de um homem requi ntado
apenas um viciado mestre de volúpias, saíra-lhe um romântico apaixonado E ela
lhe dizia rindo:
- Amorzinho, você está inteiramente
brasileiro! Romântico como os seus patrícios de quem você fala tanto. Você só é
parisiense na boca…
E repetia um ditado que
ouvira de uma preta gorda, na porta do hotel:
- Quem não te conheça que te compre…
Julie acordou de
sobressalto. Paulo Rigger entrara e beijava-lhe os lábios carnudos. E como ela
não acordasse mordeu-os.
- Oh! Você me mordeu… E que tarde você vem!
Meia-noite!
- Ah!, meu amor, uma notícia… Segunda-feira
iremos à fazenda, lá no Sul do Estado. Nós dois somente. Ficaremos sós. Na mais
completa felicidade…
- Sexta, sábado, domingo,
segunda… Daqui a três dias. É bonita
a fazenda? Tem onças. Leões?
- Não, querida - riu ele Nada disso, mas tem cobras…
- Não vou. Tenho medo das cobras…
Foi um custo para
convencê-la de que nem veria as cobras que viviam no mato, coitadas!
- E se uma me picasse… e eu morresse?
Rigger exultou. Afinal,
Julie não era somente carne. Era sentimentos também. Temia a morte porque não
queria deixá-lo sozinho.
Beijou-a sofregamente.
- Se você morresse, querida, eu ficaria
infeliz, desesperado…
- Eu é que ficaria desesperada, nem podia
voltar para França…
Paulo suspendeu a cabeça,
irritado. Apanhou o chapéu e precipitou-se fora do quarto. E murmurava:
- Cachorra! Não nega o que foi…
Julie no quarto pensava:
- Enlouqueceu, não há dúvida…
Deu um muxoxo. Virou-se
para o outro lado e foi dormir.
sexta-feira, fevereiro 08, 2013
O ÓBVIO...
Numa escola de Lisboa, onde há alunos de vários estratos sociais, durante uma aula de Português, a professora perguntou:
- Qual o significado da palavra ÓBVIO?
Cátia Vanessa, uma das alunas mais aplicadas da turma, sempre muito bem vestida, ar de menina bem, respondeu:
- Senhora professora, hoje acordei bem cedo, ao nascer do sol, depois de uma óptima noite de sono no conforto do meu quarto. Desci a enorme escadaria da minha vivenda e fui à copa onde tomei o pequeno-almoço. Depois de me deliciar com as mais apetitosas iguarias fui até a janela que dá para o jardim. Vi a porta da garagem aberta e que lá se encontrava guardado o FERRARI do meu pai. Pensei cá com os meus botões:
- É ÓBVIO que o papá foi trabalhar de Mercedes.
Luis Cláudio, aluno de família classe média, não quis ficar atrás e disse:
- Professora, hoje não dormi nada bem porque o meu colchão é um bocado duro, mas apesar disso ainda consegui dormir. Tinha ligado o despertador e por isso acordei a horas. Levantei-me cheio de sono, comi um pão torrado com manteiga e tomei café com leite. Quando sai para a escola vi o Fiat UNO do meu pai parado na garagem. Disse cá pra comigo:
- É ÓBVIO que o pai não devia ter gasolina e foi trabalhar de autocarro'.
Embalado na conversa, o pretinho lá da turma, também quis responder:
Embalado na conversa, o pretinho lá da turma, também quis responder:
- Féssora, hoje eu quasi num dormiu porqui houve cunfusão lá nos meu rua, com tiro e tudo. Só acordei di manha porque estava a esmorrer di fome, mas num havia nada pra comer lá nos casa. Espreitei pela janela e vi minha vó com jornal dibaixo dus braço e aí eu espensei:
- É ÓBVIO qui vai cágá! Num sabi lê !..
Homem de Cor
Após ser chamado “homem de cor”, o Crioulo vira-se para o
homem branco e diz:
-- Meu caro irmão branco, quando eu
nasci, eu era negro, depois eu cresci, e continuei negro; quando eu pego sol,
eu sou negro, quando sinto frio, eu permaneço negro, quando eu tenho medo, eu
sou negro, quando adoeço, continuo negro, e o dia em que eu morrer, ainda serei
negro.
Enquanto que você, homem branco,
quando você nasce, você é rosa; quando você cresce, você fica branco; quando
você pega um Sol, você fica vermelho; quando sente frio, fica azul; quando
sente medo, fica verde; quando adoece, fica amarelo e quando você morrer, vai
ficar cinza.
Então, meu amigo, como é que você
ainda tem a cara de pau de me chamar de Homem de Cor?!
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 17
Rigger, a caminho de casa,
recordava a primeira briga que tivera com Julie. Fora naquele Carnaval, no Rio
de Janeiro. Ele saíra e demorara na rua até de madrugada. Quando chegou a casa
não a encontrou…
Lembrava-se de como
correra, horrível aquela noite. O leito vazio, lençóis alvos davam-lhe, talvez
por contraste, a impressão de um leito funerário…
O ónibus parou. Os
pensamentos de Paulo também pararam. Ficou olhando o casario, as palmeiras do
Campo Grande. Tudo respirava uma tristeza de fim de tarde. Junto a ele, no banco,
uma pequena magra de grandes olhos espantados, folheava um livro de versos.
Procurou ler o título. As Primaveras de Abreu. Sorriu.
Aquela pequena.
Naturalmente, dava-se a romantismos… Devia ter um namorado que escrevesse
versos. Talvez até namorasse com Ricardo Vaz. Quis perguntar-lhe. Chegou a
abrir a boca. Mas fechou-a batendo com a mão sobre os lábios.
Ora que ideia esqui sita. A moça naturalmente nem conhecia Ricardo.
Namorava qualquer empregado do comércio. O ónibus recomeçou a andar. Rigger
tomou o fio dos seus pensamentos. Julie só chegara pela manhã.
A princípio, ele não lhe
falara. Ela viera perguntar o motivo Exasperou-se – que fosse aborrecer outro!
Passara a noite na farra com outro, dormira com certeza com o primeiro
amiguinho que arranjara e lhe vinha perguntar por que estava zangado. Que fosse
para o inferno!...
- E sarcástico, lábios contraídos:
- Como era ele? Preto ou mulato? Forte?
Ela explicava. Ele não
tinha de que ciumar. Tolices dele… Ela, afinal, não dormira com homem algum.
Não o traíra. Dançara, gritara, brincara. Isso não se chamava enganar. Por que
então ele se zangava?...
Ele também não o sabia. Se
o amor não passava de carne, da união dos sexos, ele não tinha razão de queixa.
Ela não dormira com outro. Ele acreditava em Julie. Ela não mentia.
E, no ónibus, Paulo
aceitava as teorias de Ricardo. Ele tinha ciúmes das frases e dos sorrisos que
Julie gastara com os companheiros da farra. O amor não se restringia à posse…
Mas, sendo assim, ela não o amava…
O ónibus parou. Saltou uma
senhora gorda. Paulo Rigger notou que já havia passado a sua casa. Saltou
também deixando lá os seus pensamentos.
Na porta da chácara a mãe
esperava-o, sorriso aberto, para contar-lhe o nascimento dos pintos da
“Ricardina”, galinha velha, querida de todos da chácara e que havia de morrer
de velhice.
Paulo Rigger gostava de
ouvir a sua mãe sobre seu pai que ele conhecera tão pouco. Godofredo
afigurava-se-lhe o homem que encontrara no trabalho, a Felicidade. O homem que
não tinha problemas íntimos a resolver. O que tinha um “fim”.
Admirava-o e invejava-o.
Uma tarde, porém,
remexendo numas gavetas que ninguém abrira há anos encontrou um caderno que
pertencera ao seu pai. Não podia ser chamado de diário. Um amontoado de notas
apenas…
quinta-feira, fevereiro 07, 2013
Ouvir estas palavras, ver estas imagens, reforça em nós um sentimento de existência, de unidade, que nos puxa para fora das nossas mesquinhezes...
Geniais
1ª – Quem com ferro fere, tanto bate até que fura.
2ª – Água mole em pedra, dura até que acaba a água.
3ª – Em terra de cego, quem tem um olho é zarolho.
4ª – Se um dia sentir um enorme vazio dentro de si, vá comer! Pode ser fome.
5ª – O primeiro sentimento de quem está a fazer dieta é o de revolta. Dá vontade de acabar com tudo, a começar com o que está no frigorífico.
6ª – Ninguém jamais ganhará a guerra dos sexos: há demasiada confraternização entre os inimigos.
2ª – Água mole em pedra, dura até que acaba a água.
3ª – Em terra de cego, quem tem um olho é zarolho.
4ª – Se um dia sentir um enorme vazio dentro de si, vá comer! Pode ser fome.
5ª – O primeiro sentimento de quem está a fazer dieta é o de revolta. Dá vontade de acabar com tudo, a começar com o que está no frigorífico.
6ª – Ninguém jamais ganhará a guerra dos sexos: há demasiada confraternização entre os inimigos.
FORÇA RETRÓGADA DA HUMANIDADE...
Depois de tanto derramamento de sangue em nome de Deus e por rivalidades entre os vários nomes de Deus, a consciência da humanidade foi orientada no sentido da tolerância, do respeito pela liberdade religiosa e a liberdade de praticar ou não uma religião, sendo que esta liberdade foi uma importante con
O estudante de religiões do mundo, o
teólogo católico Hans Küng, lembra que na grande obra do Iluminismo
"Nathan, o Sábio" (1779), do grande poeta alemão Gotthold Ephraim
Lessing, mostrou, pela primeira vez, que a tolerância entre as diferentes
confissões cristãs e entre as diferentes religiões, era indispensável para a
paz entre as nações. No entanto, naqueles anos, o Papa Pio VI rejeitou a
liberdade de religião, liberdade de consciência e liberdade de imprensa e o
conteúdo do que chamou abominável filosofia dos direitos humanos.
De facto, a Igreja Católica foi a
principal opositora aos princípios da igualdade, liberdade e fraternidade, auge
da Revolução Francesa. Segundo Küng, no século XIX, marcado pela ideologia da
Revolução Francesa, o Estado Papal foi o mais atrasado da Europa.
O Papa rejeitou os Caminhos de Ferro, a
iluminação a gás, as pontes suspensas… e também as vacinas, que foram proibidas
no Vaticano em 1815, com base nestas palavras do Papa Leão XII:
- “Qualquer um que use a vacina não é
mais um filho de Deus... A varíola é um julgamento de Deus e a vacina é um
desafio ao céu.”
Com estas ideias e orientada desta maneira por estes Papas, restaram aos católicos doses superlativas de fé para não desertarem do rebanho que não pôde, no entanto, ao nível das suas consciências, furtar-se aos às perniciosas consequências de tais formas de pensar que têm sido herdadas de geração em geração dando lugar a atitudes, comportamentos e escândalos (veja-se a pedofilia) que envergonham até hoje toda uma população religiosa que se tinha como exemplo...
Declaração
do IRS
Um contribuinte,
teve sua declaração de IRS rejeitada pelas Finanças porque, aparentemente,
respondeu a uma das questões incorrectamente.
Em resposta à pergunta "Quantos
dependentes tem?" o homem escreveu:
- "50.000 imigrantes ilegais, 20.000 drogados,
milhares de funcionários públicos,
200.000 subsidio dependentes, 200 generais e almirantes, 13.000
criminosos nas prisões, além de
uma cambada de políticos, assessores e consultores em Lisboa e nos Municípios espalhados pelo país.”
As Finanças devolveram-lhe a
declaração afirmando que o preenchimento que ele deu era inaceitável.
Resposta do homem
às Finanças:
- De quem foi que eu me esqueci?
SERENATA |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 16
E continuava animado:
- Também não! Esse amor era o verdadeiro, o
único amor… A Felicidade… A satisfação da carne não dá felicidade a ninguém.
- Bolas! – discutia Rigger, que não queria
concordar com o amigo para não ter que duvidar do amor de Julie – Então a gente
nasce para esse amor… É a finalidade da nossa vida?
- Isso mesmo. O sentido da vida, a finalidade
está no amor. Mas nesse amor de que eu falo: amor-sentimento.
José Lopes, árbitro de
todas as questões, não discordava nem concordava. Meio termo… O amor devia ser
um misto de coração e sexo. Não estava de acordo em dizer que o amor fosse a
finalidade da vida…
- E qual é então? – esganava-se Ricardo,
defendendo o seu ponto de vista…
- Sei lá!
- Talvez a religião… Deus… - arriscava
Jerónimo.
E Ticiano aborrecido com
quem ouvisse uma asneira:
- Religião o quê, rapaz. Então a sua
finalidade, a finalidade do homem inteligente é a mesma que a de todos os
imbecis?
- Mas o tomismo… - encorajava-o o outro.
- O tomismo é um rejuvenescimento muito
voronofiano do catolicismo. Por fim os escritores tomistas e os padres cultos
terminarão numa luta corpo a corpo com as beatas velhas.
Jerónimo recolhia-se
sucumbido ao fundo da cadeira. Bebia o café querendo esconder a cara.
José Lopes vinha em defesa
de Jerónimo.
- Quem sabe? Pode ser…
- As religiões são amontoados de fábulas, de
mentiras…
- Não é a verdade que dá a felicidade. O homem
tem a obrigação de chegar à felicidade pelo caminho mais curto. E a religião
poderá trazer a paz, a alegria…
Pedro Ticiano fazia
frases:
- A felicidade reside na própria infelicidade,
na insatisfação.
Essa insatisfação, essa
dúvida, o cepticismo é que devem ser a filosofia do homem de talento. Sofismar
sempre. Negar quando afirmarem, afirmar quando negarem. O fim de não ter fins.
- Tudo isso é muito velho, Ticiano. Hoje não
pega mais… Hoje se quer coisa séria, obra útil.
- E essa seriedade é nova?
Sócrates já qui s ser sério. Sérios
foram Aristóteles, São Tomás. Homens incríveis… A finalidade do artista é
viver, apenas… Viver por viver, por obrigação, porque nasceu…
José Lopes cismava…
cismava muito. Seria que Pedro Ticiano tinha razão? Procurava libertar-se da
influência do outro. Murmurava:
- Blagues!
No fundo, Jerónimo Soares,
embevecido, contemplava Pedro Ticiano que parecia um demónio, muito agitado, os
raros cabelos brancos a fugirem da prisão do chapéu, querendo voar, tendo
veleidades de cabeleira de poeta.
quarta-feira, fevereiro 06, 2013
UM PADRE E UMA
FREIRA
Certa vez, um padre
e uma freira regressavam para o convento. Ao cair da noite,
avistaram uma cabana a meio do caminho, e decidiram entrar para pernoitar e
prosseguir viagem no dia seguinte.
Ao entrarem na cabana, viram que
havia apenas uma cama de casal.
O padre e a freira entreolharam-se e,
depois de alguns segundos de silencio, o padre disse:
- Irmã, pode dormir
na cama que eu durmo aqui no chão.
E assim fizeram. No entanto, a meio
da madrugada a irmã acordou o padre:
- Padre! O senhor
está acordado?
O padre bêbado de sono: - Hã?! Ah,
irmã, diga, o que foi?
- Ah... é que eu
estou com frio. Pode ir buscar-me um cobertor?
- Sim, irmã, com certeza!
O padre levantou-se, foi buscar um
cobertor ao armário e cobriu a irmã com muita ternura.
Uma hora depois, a irmã acorda o
padre novamente:
- Padre! Ainda está
acordado?
O padre: - Hã? Irmã... O que foi
agora?
- É que ainda estou com frio. Pode
dar-me outro cobertor?
- Claro irmã, com certeza ! Mais uma
vez, o padre levantou-se cheio de amor e boa vontade para atender o pedido da irmã.
Outra hora passou e, mais uma vez, a
irmã chamou pelo padre:
- Padre. O senhor ainda está
acordado?
O padre: - Sim irmã! O que foi
agora?!
- É que eu não estou a conseguir
dormir. Ainda estou com muito frio.
Finalmente, entendendo as intenções
da irmã, o padre então disse:
- Irmã, só estamos aqui nós dois, certo?
- Certo!
- O que acontecer aqui , ou deixar de acontecer, só nós saberemos e mais
ninguém, certo?
- Certo!
- Então tenho uma sugestão... Que tal
se fingirmos ser marido e mulher?
A freira então pula de alegria na
cama e diz: - SIM! SIM!
Então o padre muda o tom de voz e
grita: - Então, porra! Levanta-te e vai buscar a merda do cobertor!
(Se pensaste que iria ter um final
erótico, o Sr. Padre manda rezar 10 Ave-Marias e 20 Pai-Nossos ...)
ISABEL MOREIRA |
Os Ateus Segundo o
Paternalismo
de um Crente
O padre João António Teixeira vem explicar aqui
que os ateus são crentes ao contrário. Que, explica, é claro que o ateu
"acha que a sua posição é racional, científica. Ele acha que tem provas
evidentes de que Deus não existe".
A partir desta definição errada do ateu, o padre João António
Teixeira avança por trechos poéticos convenientes e divaga por afirmações sobre
a experiência que leva a deus ou à inexistência dele para concluir bondosamente
que há quem não negue deus, mas a "nós", isto é, aos homens de deus,
aos crentes, aos exemplos que se comportam como ateus, quando há ateus que se
comportam como crentes (como se fosse deus a inspirá-los).
Conclui que ninguém está longe de deus. Isto cansa.
O ateu, aquele que nega a crença na existência de deuses, seja um,
seja mais de um, não parte do princípio que tem de provar cientificamente e
racionalmente que não existe um deus ou que não existem vários deuses.
Pelo contrário, o ateu constata que não há nada de racional e de
científico na crença que afirma, precisamente, a existência de tais divindades.
Como facilmente se compreende, o ónus da prova não é do ateu, mas de quem
afirma a existência de seres transcendentais.
O verdadeiro ateu, e não o poeta que está angustiado com a dúvida
da fé, sabe que a verdade das coisas se atesta pela demonstração e não aceita o
salto (i)lógico do teísta que consiste em resolver uma dúvida para a qual a
ciência ainda não tem resposta com a palavra deus.
Concretizando, já conhecemos explicações para muita coisa que se
atribuía a deus, explicações essas que foram negadas como blasfémias e punidas
com a morte, hoje pacificamente aceites. Afinal não era deus. O ateu acredita
nessa aventura interminável que é a busca de respostas para os mistérios do
universo e da humanidade. Simplesmente, quando não obtém respostas não apela
aos céus.
Por tudo o que aqui se
explica, naturalmente não pode o ateu estar "desiludido" com deus ou
com os crentes.
Essa afirmação resulta de um paternalismo recorrente que considera
que para se ser ateu tem de se ter padecido de alguma maleita, no caso
espiritual. Alguém fez mal ao coitadinho do ateu. O ateu está ferido com deus
ou com o comportamento de alguns crentes que mais parecem ateus, esses
malvados. Isto - pasme-se - quando até há ateus que se comportam "como se
fosse Deus a inspirá-los".
Imagino que isto deva querer dizer que há ateus decentes.
Agradecida.
Este texto é de Isabel Moreira, Constitucionalista e
Assistente Universitária, filha do Prof. Adriano Moreira, um dos pilares da
direita portuguesa e meu distinto professor na disciplina de Princípios Gerais
de Direito, no início dos anos sessenta.
NOTA
Concordo inteiramente com Isabel Moreira neste texto,
chamemo-lo de "desabafo", às afirmações do padre João António
Teixeira, que foi Reitor do Seminário Maior de Lamego e posteriormente nomeado
Reitor do Santuário de Nª Srª dos Remédios, sobre os não crentes.
Este "pastor" de um dos grandes "rebanhos" de
crentes da humanidade arroga-se, com a sobranceria própria de quem pertence ao
grupo dos "iluminados da fé", dotados de uma "bondade" e
"complacência" inevitáveis à sua condição, para os que eles julgam de
tresmalhados.
Eu compreendo o fenómeno da fé, respeito-o, embora não o leve em
consideração quando avalio o meu semelhante. Há de uns e outros fora e dentro
do mundo das crenças, embora tema o que o homem é capaz de fazer por causa
delas.
Assumindo a minha condição de não crente não me sinto
predestinado, eleito, mais inteligente ou mais burro. Apenas um ser vivo
especialmente dotado pelo processo evolutivo da vida sobre o nosso planeta, tal
como o Sr. Padre João.
Esse dote especial da inteligência que permitiu aos meus
antepassados vencerem a luta pela sobrevivência e afirmarem-se como a espécie
dominadora, perigosamente dominadora, ajudaram-me a tomar consciência da minha
condição de parte integrante do conjunto da natureza à face da Terra com
especiais responsabilidades e não mais do que isso.
Por esta razão, não tenho nenhum motivo, para abandonar uma
atitude de humildade sem pretender "protecções", "prémios"
ou recear "castigos" provenientes de deuses ou entidades que a minha
capacidade de entendimento se recusa a aceitar.
Sei que existe no nosso cérebro um "espaço da fé" tal
como nele existem outros "espaços"como a paixão, o ciúme, o medo…
"Acreditar", foi muito importante, talvez decisivo em fases recuadas
da nossa luta pela sobrevivência. Mais tarde, foi naturalmente aproveitado por
alguns homens que mobilizaram e arregimentaram outros homens para as religiões
que encontram um eco sincero dentro de nós... Por isso, é mais fácil ser crente
do que não crente.
Vamo-nos respeitar todos uns aos outros, sem preconceitos,
complexos de superioridade ou inferioridade, conselhos ou palavras de comiseração...
está bem, senhor padre?
É que já cansa… como desabafa Isabel Moreira.
-
Maria, Angola está cheia de mulheres boas e eu não aguentava mas na hora H,
quando me lembrava de ti, saía logo de cima delas.
Ao que a mulher respondeu:
-
Também eu, Manel, me lembrei muito de ti amor mas, como deves entender, é muito mais
simples sair de cima do que debaixo.
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 15
Depois de colocar Julie
num hotel (porque Julie viera com ele, agarrada, numa fúria de gozo, de sensações
que o enlouqueciam), foi para casa. A sua mãe morava no Garcia, numa chácara.
Não o esperavam.
Querendo fazer surpresa
não avisara. Bateu à porta. Uma criada ainda nova atendeu-o. Ele mirava-a de
alto a baixo, sorrindo. O coração batia-lhe no peito. Depois de sete anos de
ausência, ia rever a sua velha mãe, que o adorava. Sentia-se emocionado.
E olhava a criada sorrindo,
enleado. Ele era o filho pródigo que voltava à casa paterna. Quem sabe se ele
não iria viver agora? Paris nunca lhe mostrara o sentido da vida. Saciara-lhe
apenas a carne. E ele duvidara que o instinto fosse o único motivo de uma
existência.
E na porta, sorrindo para
a empregada, ele pensava que talvez na serenidade da sua casa encontrasse a
felicidade. Pensou em
Julie. Julie representava-se-lhe como uma ligação a Paris…
Abandoná-la-ia.
- Que deseja, senhor?
Paulo Rigger despertou.
- A viúva do sr. Godofredo mora aqui ?
- Sim, senhor.
Paulo afastou a empregada.
Entrou. Atravessou toda a casa, seguido pela criada espantada.
No qui ntal,
a sua mãe dava milho a uma galinha amarela. (Rigger pensou que havia de criar
galinhas). A mãe olhou-o. Reconheceu-o:
- Meu filho!
- Mamãe!
E no fim da tarde, após
contar detalhadamente a vida em Paris à mãe e a algumas amigas que vieram
visitá-la, já sentia saudades de Julie.
IV
A carne arrastava-o
vencedora para Julie. A carne, somente a carne. Mesmo porque Julie só sabia ser
instinto. Não se tratava de outra coisa. Não ligava para mais nada. Bastava
satisfazer o corpo…
E Paulo Rigger compreendia
perfeitamente o que se passava. Apesar disso não se afastava de Julie. Ainda
mais, dava-lhe razão. Se ela o queria, sinal que o amava. O amor não passava da
satisfação dos desejos… Um caso fisiológico, somente. Obrigação da natureza.
Esse negócio de sentimentalismo? Puro arranjo de homens que procuraram assim
encobrir e fazer mais cobiçado o amor.
Às vezes, entretanto,
vinham-lhe pensamentos estranhos. Nessas horas vislumbrara verdades nas
afirmações de Ricardo Braz. Talvez houvesse no amor qualquer coisa que não
fosse a carne. O amor não era apenas o acto de deitar-se na cama, lado a lado,
cabeça junto com cabeça, numa confusão de braços e de sentimentos.
O remendar uma meia, coçar
um gato preto (muito aristocrático, que só dormisse sobre almofadas e não
comesse feijão), dizer coisas agradáveis, ter ciúmes de sorrisos gastos com as
pilhérias dos transeuntes, brigar a propósito do primeiro filho, também era
amor, afirmava aos gritos, Ricardo, muito corado, as lunetas a balançarem no
alto do nariz.