Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, junho 09, 2012
A Espiral do Ódio
e As Suas
Origens
ISRAEL, em hebraico, significa aquele que luta com
Deus e de acordo com as Escrituras bíblicas a terra de Israel foi-lhes
prometida por Deus pelo que os judeus a consideram sua desde há 3000 anos.
Nesta terra, que guarda lugares de especial
importância para a Religião judaica, nomeadamente as ruínas do primeiro e
segundo Templos, existiram durante mais de mil anos, de forma intermitente,
estados e reinos judaicos.
Consta que foi uma fracassada revolta contra os Romanos
que esteve na origem da expulsão dos Judeus e levou o Imperador Adriano, numa
tentativa de os desligar da sua terra, a substituir o nome de Província da
Judeia por Província Síria Palestina.
Os Muçulmanos, por sua vez, conqui staram
a região em 638 D.C. e controlaram-na até ela ser integrada no Império Otomano
em 1517.
Em 1896 nasce o Sionismo, movimento nacionalista
liderado por Theodor Hertzl, que tem como objectivo a criação de um Estado
judaico que desse garantias de segurança aos judeus que desde 1882 tinham
começado a imigrar para a região onde criaram Universidades, Institutos de
Tecnologia, Kibutzes e gozavam já de uma certa autonomia na então chamada
Cisjordânia que se encontrava sob administração britânica.
O outro grupo que reclamava igualmente a constituição
de um Estado na mesma região era constituído por árabes, nativos daquele local
e refugiados de países vizinhos, na sua maioria muçulmanos.
As tensões entre árabes e judeus têm aqui a sua origem
que aumentam à medida que, por força da imigração, as populações crescem.
O primeiro massacre ocorre em 1929 quando, a um falso
pretexto do assassínio de dois árabes por judeus, são mortos 133 judeus e
centenas de outros são feridos.
Em 1933, com a ascensão do nazismo, o número de
imigrantes judeus quase que duplica e em 1939 a Administração britânica
restringe a imigração de judeus mas perante a situação das vítimas do
holocausto nazi e das pressões internas e externas, abre mão do seu Mandato e
em 1947 a A.G. das Nações Unidas aprovou o plano para a partilha do território
entre um Estado Judeu e outro Árabe levando em linha de conta os locais em que
cada população se encontrava. (continua)
SALMAN
RUSGIE (1947 - ?
A
influência do autor de Versículos Satânicos
é
fácil de medir. Basta ver o estado apopléctico em que deixou os
fundamentalistas islâmicos ao publicar o seu
romance “blasfemo”, em 1988.
A «fatwa» (condenação à morte) lançada contra ele pelo
Ayatollah Khomeini,
então líder supremo do Irão, forçou-o auma
espécie de clandestinidade durante dez anos, sem
que Rushdie tenha, em qualquer momento, cedido ao
terror psicológico. Consciente do poder da literatura, e dos potenciais perigos
que acarreta, nunca
deixou de escrever.
O romance Os Filhos da Meia-Noite
(1981), sobre a independência da Índia, foi
considerado o Booker dos Bookers, em1993.
- O que nos ensinou:
a não tolerar a
intolerância religiosa.
(José Mário Silva)
(José Mário Silva)
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 120
Nunca fizera negócio mais vantajoso como
ao contratar Gabriela no «mercado de escravos». Quem diria ser ela tão
competente cozinheira, quem diria esconder-se sob trapos sujos tanta graça e
formosura, corpo tão quente, braços de carinho, perfume de cravo a tontear?...
Naquele dia da chegada do engenheiro, a
curiosidade tomando conta do bar, apresentações e cumprimentos, elogios a
granel – é um nadador de primeira – quando todos os almoços se atrasaram em
Ilhéus, Nacib fizera dia por dia a conta do tempo decorrido desde o anúncio da
sua vinda. Gabriela voltava para casa após pedir:
-
Deixa eu ir no cinema hoje? Pra acompanhar D. Arminda…
Tirara da caixa uma nota de cinco mil
réis, generoso:
-
Pague a entrada dela…
Vendo-a partir esfogueada e risonha (ele
não parara de beliscá-la e tocá-la mesmo enquanto comia) contara os dias: três
meses e dezoito dias exactamente. De aperreação, cochichos, agitação, dúvida e
esperança para Mundinho e seus amigos, para o coronel Ramiro Bastos e seus
correligionários.
Com descomposturas nos jornais,
conversas segregadas, apostas, bate – bocas, surdas ameaças, um clima de tensão
em aumento. Havia
dias em que o bar parecia uma caldeira prestes a explodir.
Quando o Capitão e Tonico mal se
falavam, o coronel Amâncio Leal e o coronel Ribeirinho apenas se
cumprimentavam.
É para ver-se como são as coisas da
vida. Aqueles mesmos dias foram de calma, de perfeita tranqui lidade de espírito, de suave alegria para Nacib.
Talvez os mais felizes da sua existência.
Jamais dormira tão sereno a sua sesta,
acordando risonho com a voz de Tonico, infalível após o almoço para um dedo de
amargo a ajudar a digestão, um dedo de prosa antes de abrir o cartório. Pouco
depois juntava-se a eles João Fulgêncio, passando para a Papelaria.
Falavam de Ilhéus e do mundo, o livreiro
era entendido em assuntos internacionais, Tonico sabia tudo quanto se referia
ao mundo da cidade.
Três meses e dezoito dias tardara o
engenheiro a chegar, fazia exactamente o mesmo tempo que contratara Gabriela.
Naquele dia o coronel Jesuíno Mendonça matara D. Sinhàzinha e o dentista
Osmundo. Mas só no outro dia tivera Nacib a certeza de que ela sabia cozinhar.
Na espreguiçadeira, o jornal abandonado
no chão, o charuto a apagar-se, Nacib sorri, recordando… Três meses e dezoito
dias a comer comida temperada por ela, não havia em todo Ilhéus cozinheira
que se lhe pudesse comparar. Três meses e dezasseis dias dormindo com ela, a
partir da segunda noite, quando o luar lambia-lhe a perna e no escuro do quarto
saltava um seio da rota combinação…
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SOBRE A ENTREVISTA Nº 52
SOBRE O TEMA:
“AS MULHERES PRIMEIRO?” (7 e últ.)
Suécia: Uma Experiência de Sucesso
Excelentes resultados validam a lei sueca. Nos primeiros cinco anos de vigência da
lei o número de prostitutas nas ruas de Estocolmo foi reduzida em dois terços e
os clientes em 80%. Em outras cidades suecas o comércio do sexo nas ruas quase
desapareceu. Foram também desaparecendo
bordéis e casas de massagens que os encobriam. Também diminuiu o tráfico de mulheres
estrangeiras enviadas para a Suécia para a prostituição. O governo sueco disse que nos últimos
anos apenas 200 a
400 mulheres e meninas vieram para a Suécia para esse fim, muito pouco em
comparação com as 15 a
17 mil que chegavam da vizinha Finlândia. Segundo
as sondagens, 80% da população sueca apoia a lei.
A experiência sueca é solitária, mas
bem sucedida. É exemplar. Finlândia e Noruega querem seguir esse
caminho. Está comprovado que a
criminalização da prostituição não funciona. Nem
a regulamentação ou a legalização. Um
estudo realizado pela Universidade de Londres em 2003 mostrou que a legalização
ou regulamentação sempre levam a um aumento dramático em todas as facetas da
indústria do sexo e o crime organizado, a um dramático aumento da prostituição
infantil e tráfico de meninas e mulheres para fins sexuais e aumento da
violência contra as mulheres.
Nota – Perante esta experiência com tão
bons resultados na Suécia pergunta-se qual a razão porque outros países não a
põem em prática dentro das suas fronteiras.
Só há uma resposta: falta de vontade
política em acabar com um negócio que aproveita a demasiada gente. Um “statu
quo” há tanto tempo instalado na sociedade terá criado raízes que se
transformaram numa rede de interesses muito poderosos.
sexta-feira, junho 08, 2012
ZORBA
Um hino à natureza e a uma das mais belas e carismáticas músicas do património cultural europeu numa combinação que só a qualidade da BBC permite.
- Alô, Sô Carlos? A
- Pois não, Seu Washington. Que posso fazer pelo senhor? Houve algum problema? - Ah, eu só tô ligando para visá pro sinhô - Meu papagaio? Aquele que ganhou o concurso? - Êle mesmo. - Puxa! Que desgraça! Gastei uma pequena fortuna com aquele bicho! Mas morreu de que? - Di umê carne istragada. - Carne estragada? Quem fez essa maldade? Quem deu carne para ele? - Ninguém. Ele comeu a carne dum dos cavalos morto. - Cavalo morto? Que cavalo morto, seu Washington? - Aquele puro-sangue - Tá louco? Que carroça d'água? - Prapagá o incêndio! - Mas que incêndio, meu Deus? - Na sua casa, uma vela caiu, aí pegô fogo nas curtina! - Caramba, mas aí tem luz eléctrica! Que vela era essa? - Do velório! - De quem? - Da sua mãe! Ela apareceu a - Meu Deus, que tragédia! - e o homem começa a chorar. - Peraí sô Carlos, o sinhô num vai chorá pur causa dum papagai, vai? |
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CRAVO
E
CANELA
Episódio nº 119
O engenheiro interessava-se, por sua
vez:
-
A praia é bonita? É boa para o banho do mar?
-
Muito boa.
-
Mas está vazia…
-
Aqui não há esse costume. Só
Mundinho, e antigamente o finado Osmundo, um dentista que foi assassinado… De
manhãzinha bem cedo…
O engenheiro riu:
-
Mas não é proibido?
-
Proibido? Não. Só que não é costume.
Moças do Colégio das Freiras,
aproveitando o dia santo, andavam pelo comércio fazendo compras, entravam no
bar em busca de bombons e caramelos. Entre elas, formosa e séria, Malvina. O
Capitão as apresentava:
-
A juventude estudiosa, as futuras mães de família, Iracema, Heloisa, Zuleica,
Malvina…
O engenheiro apertava as mãos, sorria,
elogiava.
-
Terra de moças bonitas…
-
O senhor demorou de mais – disse Malvina a fitá-lo com seus olhos de mistério –
Já se pensava que o senhor não viria.
-
Se eu soubesse que era esperado por senhoritas tão belas teria vindo já há
muito tempo, mesmo sem ter sido designado… - que olhos aquela moça possuía; sua
formosura não estava apenas no rosto e no corpo elegante, como se viesse também
de dentro dela.
Partiu o grupo álacre, Malvina voltou-se
duas vezes a olhar. O engenheiro anunciou:
-
Vou aproveitar esse sol e tomar um banho de mar.
-
Volte para o aperitivo. Aí pelas onze, onze e meia… Vai conhecer meio Ilhéus…
Estava hospedado no Hotel Coelho.
Viram-no passar pouco depois, envolto num roupão de banho, o corpo atlético
vestido apenas com um maillot, correndo para o mar, cortando-o em braçadas
rápidas. Malvina fora sentar-se num banco no passeio da praia, acompanhava com
os olhos.
De Como se Iniciou a Confusão de
Sentimentos do Árabe Nacib
Leu umas linhas no jornal, aspirando a
fumaça do charuto de são Félix, perfumado. Em geral nem chegava a fumar todo o
charuto, a ler grande coisa nos diários da Baía. Logo adormecia, embalado pela
brisa do mar, afrontado pelas iguarias gulosamente devoradas, o inigualável
tempero de Gabriela.
Ressonava feliz por entre os bigodes
frondosos. Aquela meia-hora de sono, à sombra das árvores, era uma das delícias
da sua vida tranqui la, sem sustos,
sem complicações, sem problemas graves. Jamais tinham os negócios marchado tão
bem, crescia a frequência do bar, ele acumulava dinheiro no banco, o sonho de
um pedaço de terra onde plantar cacau ganhava realidade.
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À ENTREVISTA Nº
52 SOBRE O TEMA:
“AS PROSTITUTAS PRIMEIRO?” (5)
Uma Profissão, Ou uma Opção?
Elizalde diz: Uma
coisa é exercer a prostituição, responsavelmente ou não, e outra é escolhê-la
livremente. Quando dizemos que uma
mulher escolhe a prostituição, subentendemos que o faz com inteira liberdade
mas esse é outro grande mito associado ao fenómeno da prostituição. Ela não é
não é uma causa, mas um efeito e, assim, a opção de escolher o caminho do sexo
para satisfazer ambições pessoais é precedidos pelo condicionamento social,
educacional, familiar, económico, a pré-determiná-la, e essa análise é muito
importante para na elaboração de estratégias para a reabilitação social da
prostituta, para evitar agir contra a vítima, e não contra o mal.
Chamar às prostitutas "mulheres de vida
fácil" ou, pior ainda, de "vida feliz" é uma das mentiras mais
escandalosas que podem ser ditas neste planeta. Estas definições foram certamente
alcunhadas pelos clientes na perspectiva do comprador para o libertar da culpa
quando está a pagar.
A vida de uma
prostituta não é fácil nem feliz, mas eles são o preconceito de género tão
arraigado, que às vezes até se assumir a culpa da imagem frívola que fica para
o cliente e o proxeneta, dois elementos da cadeia que têm igual perigosidade
social pelo seu papel na institucionalização da exploração sexual. Tende-se a identificar a prostituta que
é a sua cara mais visível e frágil.
Os personagens mais sinistros nesta
história não costumam emergir das sombras. Mas
a pessoa que põe o corpo em venda, a que especula com a sua dignidade, ainda
que não o queira admitir, é marcada por uma experiência devastadora e pela
tortura permanente de culpa.
quinta-feira, junho 07, 2012
TRRIIIMM... TRRIIIMM... TRRIIIMM...
Responde o atendedor de chamadas:
- Obrigado por ter ligado para o (Hospital) Júlio de Matos, a companhia mais adequada aos seus momentos de maior loucura."
- Se é obsessivo-compulsivo, marque repetidamente o 1;
- Se é codependente, peça a alguém que marque o 2 por si; Se tem múltipla personalidade, marque o 3, 4, 5 e 6;
- Se é paranóico, nós sabemos quem é você, o que você faz e o que quer. Aguarde em linha enquanto localizamos a sua chamada;
- Se sofre de alucinações, marque o 7 nesse telefone colorido gigante que você, e só você, vê à sua direita;
- Se é es
Se é depressivo, não interessa que número marque. Nada o vai tirar dessa sua lamentável situação;
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 118
- Eu é que fui
inoportuno… - ouvia passos de mulher andando no quarto.
- E pergunte a
Tonico se ele prefere loira ou morena…
Dias depois chegava o telegrama do Ministro anunciando
o nome do engenheiro e a data do seu embarque para a Baía. Mundinho mandou
chamar o Capitão, o coronel Ribeirinho, o Doutor. «Designado engenheiro Rómulo
Vieira». O Capitão tomava do despacho, punha-se de pé:
- Vou
esfregá-lo nas ventas de Tonico e de Amâncio…
- Vinte
pacotes, ganhos sem esforço… - Ribeirinho erguia as mãos. Vamos fazer uma farra
monumental no Bataclan.
Mundinho recolheu o telegrama, não deixou o Capitão
levá-lo. Pediu-lhes mesmo para guardarem segredo ainda uns dias, era de muito
mais efeito anunciar no jornal, quando o engenheiro já estivesse na Baía. No
fundo temia nova ofensiva do Governador, novo recuo do Ministro. E só uma
semana depois, quando o engenheiro, já na Baía, avisava sua chegada no próximo
baiano.
Mundinho os convocara novamente, mostrou-lhes as
cartas e telegramas trocados, aquela fora uma dura e difícil batalha contra o
Governo do Estado. Ele não qui sera
alarmar os amigos, por isso não os pusera antes a par dos detalhes. Mas agora,
quando haviam vencido, valia a pena conhecer toda a extensão e valor dessa
vitória.
No bar Vesúvio, Ribeirinho mandou servir bebida a todo
o mundo e o Capitão cujo bom humor reaparecera, elevou o seu cálice à saúde do
«Dr. Rómulo Vieira, libertador da barra de Ilhéus». A notícia circulou, saíu depois no jornal,
vários fazendeiros voltavam a entusiasmar-se. Ribeirinho, o Capitão, o Doutor,
citavam trechos de cartas. O Governo do Estado fizera tudo para impedir a vinda
do engenheiro.
Jogara todo o seu prestígio, toda a sua força. O
Governador, por causa do genro, se empenhara pessoalmente. E quem vencera? Ele,
com o Estado na mão, chefe de governo, ou Mundinho Falcão, sem sair do seu
escritório em Ilhéus?
Seu prestígio pessoal derrotara o Governo do Estado.
Essa a verdade indiscutível. Os fazendeiros abanavam a cabeça, impressionados.
A recepção no porto foi festiva. Nacib, tendo acordado
tarde, o que lhe sucedia agora frequentemente, não pôde comparecer. Mas soubera
de tudo mal chegara ao bar da boca do Nhô-Galo.
Lá estiveram, na ponte, Mundinho Falcão e seus amigos,
vários fazendeiros também e grande número de curiosos. Tanto se falara desse
engenheiro que desejavam ver como ele era, havia-se tornado quase um ser
sobrenatural. Até um fotógrafo aparecera, contratado por Clóvis Costa.
Juntou todo o mundo num grupo, com o engenheiro no
centro, meteu a cabeça sob o pano preto, levou meia hora para bater o retrato.
Infelizmente perdeu-se esse documento histórico: a chapa queira-se, o homem só
sabia fotografar no seu atelier.
Quando vai começar? – qui s
saber Nacib.
- Logo. Os
estudos preliminares. Devo esperar meus ajudantes e os instrumentos necessários
estão vindo num navio do Lloyd, directo.
- E vai durar
muito?
- É difícil de
prever. Mês e meio, dois meses, ainda não sei.
À ENTREVISTA Nº 52 SOBRE O
TEMA:
“AS PROSTITUTAS PRIMEIRO?” (4)
É a profissão mais antiga?
Elizalde diz: Quase todos os mitos são baseados num
erro, lançado nos últimos tempos. Um deles delas é que o comércio do sexo é a profissão
mais antiga do sexo feminino no mundo. A frase sugere que a prostituição é um
atributo inato de mulheres e, portanto, definitivamente inevitável. No entanto, em muitas sociedades
"primitivas" não é conhecida e ainda hoje se desconhece esta prática,
algo confirmado pela arqueologia e mitologia popular, onde as mulheres muitas
vezes aparecem praticando profissões nobres: ceramistas, artesãs, cavaleiras,
mestres, ourives, recolectoras. Mas
isso foi ignorado pelos historiadores durante séculos de dominação patriarcal e
hoje continua a ser uma presunção que se reproduz com ligeireza, incluindo em
tratados de educação sexual .
quarta-feira, junho 06, 2012
OS TINCOÃS (1973)
Em 1975 a primeira grande baixa no grupo ocorre com a morte de Heraldo, depois
de gravar um compacto e uma faixa, "Banzo", no LP da trilha sonora da novela
Escrava Isaura. A lacuna foi preenchida com a entrada de Morais, permanecendo
por pouco tempo, mas participando do terceiro LP do grupo, "O Africanito",
lançado em 1975. Logo depois, substituindo Morais, foi incorporado ao trio o
vocalista Badu, mantendo dessa forma a tradição e a qualidade musical do grupo.
No ano de 1977 gravaram um outro disco destacando-se a música "Cordeiro de
Nana", de Mateus e Dadinho
Em 1983 Os Tincoãs foram para Angola
para temporada de uma semana em Luanda, e lá se estabeleceram, participando de
projetos da Secretaria de Estado da Cultura de Angola, que entre suas
prioridades visava identificar valores angolanos na cultura e na música
brasileira, além de estabelecer ligações entre o culto angolano e o candomblé
praticado no Brasil. Nessa ocasião gravaram o disco Afro Canto Coral Barroco,
com a participação do coral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro, sob a
regência do maestro Leonardo Bruno e produção de Adelzon Alves. Este disco
permaneceu inédito, só sendo lançado em 2003, portanto vinte após a sua
gravação.
Em 1984 Badu desligou-se do grupo, porém Mateus e Dadinho
permaneceram juntos e em 1985 gravaram um disco no Brasil pela gravadora CID,
que foi lançado em Angola. No país que abraçaram trabalharam em Luanda, Huambo,
Lubango, Benguela, Namibe e Bengo e puderam ver de perto as batalhas que
redundaram na guerra pela independência. Com a morte de Dadinho em 2000 o grupo
se desfez, mas deixou um legado dos mais primorosos para a música popular
brasileira, como um dos principais representantes das raízes de nossa música de
origem africana. Discos e músicas inesquecíveis. (Luiz Américo Lisboa Junior)
OS TINCOÃS - OBALUÉ
Há tempos, numa cidade de França, um
cartaz, com uma jovem espectacular, na montra de um ginásio, dizia:
"Este verão, queres ser sereia ou baleia?"
Dizem que uma mulher jovem-madura, cujas
características físicas não interessam, respondeu à pergunta publicitária
nestes termos:
"Estimados Senhores:
As baleias estão sempre rodeadas de
amigos (golfinhos, leões-marinhos, humanos curiosos).
Têm uma vida sexual muito activa,
engravidam e têm baleiazinhas ternurentas, às quais amamentam.
Divertem-se à brava com os
golfinhos, enchendo a barriga de camarões.
Brincam e nadam, sulcando os mares,
conhecendo lugares tão maravilhosos como a Patagónia, o mar de Barens ou os
recifes de coral da Polinésia.
As baleias cantam muito bem e até
gravam CD's. São impressionantes e praticamente não têm outros predadores
além dos humanos. São queridas, defendidas e admiradas por quase toda a
gente.
As sereias não existem. E, se
existissem, fariam fila nas consultas dos psicanalistas, porque teriam um
grave problema de personalidade, "mulher ou peixe?".
Não têm vida sexual, porque matam os
homens que delas se aproximam, além disso, por onde? Por isso, também não têm
filhos. São bonitas, é verdade, mas solitárias e tristes. Além disso, quem
quereria aproximar-se de uma rapariga que cheira a peixaria?
Para
mim está claro, quero ser baleia.
P.S.: Nesta época em
que os meios de comunicação nos metem na cabeça a ideia de que apenas as
magras são bonitas, prefiro desfrutar de um gelado com os meus filhos, de um
bom jantar com um homem que me faça vibrar, de um café e bolos com os meus
amigos.
Com o tempo ganhamos peso, porque ao
acumular tanta informação na cabeça, quando já não cabe, espalha-se pelo
resto do corpo, por isso não estamos gordas, somos tremendamente cultas. A
partir de hoje, quando vir o meu rabo no espelho, pensarei, Meu Deus, que
inteligente que sou..."
"Não
podemos ajustar o vento, mas podemos orientar a nossa vela!"
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CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 117
Quis fazer dessas pilhérias com Ribeirinho, mas o
outro exaltou-se, gritando alto no bar:
- Não sou de
mesqui nharias. Quer apostar? Então
aposte dinheiro de verdade. Boto dez contos em como o engenheiro vem.
- Dez contos?
Boto vinte contra os seus dez e dou um ano de prazo. Ou quer mais? – a voz
suave, o olho mau.
Nacib e João Fulgêncio serviram de testemunhas.
O Capitão insistia junto a Mundinho para que fosse ao
Rio, apertar o Ministro. O exportador recusava-se. A safra se iniciara, não
podia largar seus negócios naquele momento. Viagem além de tudo desnecessária,
pois a vinda do engenheiro era certa, apenas retardara-se devido a detalhes
burocráticos. Não contava as dificuldades reais, o susto que passara ao saber,
por carta de amigo, ter o Ministro recuado da promessa feita ante o protesto do
Governador da Baía.
Mundinho jogou então todas as suas amizades, à
excepção da própria família, na solução do caso. Escreveu cartas, passou
quantidade de telegramas, pediu e prometeu. Um amigo seu falou com o Presidente
da República e, coisa que Mundinho jamais viria a saber, foi o prestígio de
Lourival e de Emílio o factor decisivo para resolver o impasse. Ao saber do
nome do autor do pedido o seu parentesco com os influentes políticos paulistas,
o presidente dissera ao Ministro:
- Afinal é um
pedido justo. O Governador está no fim do mandato, brigado com muita gente, nem
sei se fará o sucessor. Não devemos nos curvar sempre à vontade dos estaduais…
Mundinho vivera dias de temor, quase de pânico. Se
perdesse aquela partida, não tinha outra coisa a fazer se não arrumar sua
bagagem, ir-se embora de Ilhéus.
A não ser que qui sesse
viver desmoralizado, objecto de dichotes e pilhérias. Voltar cabisbaixo,
fracassado, para assombro dos irmãos… Quase deixara de aparecer nos bares, nos
cafés, onde a maledicência crescia.
O próprio Tonico Bastos, muito discreto, evitando, o
quanto podia, tocar naquele assunto diante dos partidários de Mundinho, já não
se continha, gozava o mau humor dos adversários. Certa vez houve um bata-boca
entre ele e o Capitão, teve João Fulgêncio que intervir para evitar um corte de
relações. Tonico propusera, enquanto bebiam e conversavam:
- Porque, em
vez do engenheiro, Mundinho não traz outra dançarina? Custa menos trabalho e
serve aos amigos…
Naquela mesma noite, o Capitão aparecera, sem avisar,
em casa do exportador. Mundinho o recebera contrafeito:
- Você vai me
desculpar, Capitão, tenho gente em
casa. Uma jovem que veio da Baia, chegou no navio de hoje.
Para me distrair dos negócios…
- Só lhe ocupo
um minuto – Aquela história da rapariga mandada vir da baia irritava o Capitão.
– Sabe o que dizia hoje Tonico Bastos, no bar? Que você só servia mesmo para
trazer mulheres para Ilhéus. Mulheres e nada mais… Engenheiro, isso não.
Tem graça. -
Mundinho ria. – Mas não se aflija…
- Como não vou
me afligir? O tempo está passando, a vinda do engenheiro…
- Já sei tudo o
que você vai me dizer, Capitão. Você pensa que sou um imbecil, que estou de braços
cruzados?
- Porque você
não se dirige aos seus irmãos? Têm força…
- Isso nunca.
Nem é preciso. Hoje mandei um verdadeiro ultimato. Vá descansado e desculpe o
recebimento.
À ENTREVISTA Nº 52 SOBRE O
TEMA:
“AS PROSTITUTAS PRIMEIRO?”(3)
Não é escravatura?
A Jornalista
cubana Rosa Miriam Elizalde estudou a realidade da prostituição em Cuba. No seu brilhante livro "Crime ou
castigo?" Julho de 2007, fornece importantes reflexões sobre a realidade
da prostituição feminina em qualquer lugar do mundo. Nós compartilhamos muitas de suas ideias
e pensamentos sobre o drama da prostituição.
Elizalde diz:
- "Meu corpo não
sou eu”, escreveu uma prostituta de 24 anos, separando o seu "ser" da
sua "alma" para defender-se, em primeiro lugar, da sua consciência
crítica. Após ter entrevistado
várias prostitutas e proxenetas, até agora ninguém tinha me dito, de forma tão
gráfica, o drama humano de quem se vende e se sujeita a uma dupla existência, a
uma esqui zofrenia, que, na prática, consiste
em dividir o corpo em dois. Ninguém,
como uma escrava sexual, vive com maior violência o drama do despojo do seu eu
mais íntimo.
“É possível»,
me dizia um amigo «vender sua alma e manter o corpo intacto. Mas é impossível vender o corpo sem
prejudicar a alma. É uma posição mais desvantajosa do que a de alguém que está
sujeita à forma mais usual: a que aliena a força do trabalhado, mas não a intimidade.”
Compreender a
prostituição como uma forma de escravatura, conduz, necessariamente, a reconhecer
que esta prática não é uma tragédia isolada. Todos
os actos de violência sexual – qualquer que eles sejam – estão intimamente entrelaçadas
com as estruturas económicas de dominação, que visam tornar invisível ou
obscura a prática sexual e que difundem e entrecruzam à difusão e cruzar como o
prejuízo segundo a moral. Marginalizadas,
humilhadas, desamparados e esquecidas, as prostitutas configuram um dos grupos
mais trágicos da vida moderna. Qualquer
que seja a lei e a atitude das autoridades, a prostituição, na generalidade das
sociedades, é uma actividade considerada socialmente desvalorizada e um mundo à
parte no curso normal da nação.
terça-feira, junho 05, 2012
TINCOÃS
Formado inicialmente por Erivaldo, Heraldo e Dadinho, todos de Cachoeira, os
Tincoãs - cujo nome é originário de uma ave que habita o cerrado brasileiro -
iniciou sua carreira em 1960 no programa da TV Itapoã "Escada para o Sucesso",
interpretando canções, em sua maioria boleros, inspirados no sucesso do Trio
Irakitan. Chegaram inclusive a gravar um disco intitulado "Meu último bolero",
sem alcançar o êxito esperado. Em 1963 Erivaldo desligou-se do grupo e a este
foi incorporado outro componente, Mateus, que com os demais formaria a base
principal do conjunto. Renovaram o repertório e partiram para adaptar os cantos
de candomblé, sambas de roda e cantos sacros católicos. Mas foram os terreiros
de Candomblé que deram a base principal da musicalidade dos Tincoãs. Em 1973
gravam o segundo disco produzido por Adelzon Alves, e o primeiro como
representantes legítimos da música afro-baiana, este LP é um marco importante da
música brasileira, não apenas pela qualidade das músicas, como também pelo
arranjo com características de coral feitos a partir de canções oriundas dos
terreiros de candomblé, tendo como base apenas quatro instrumentos: violão,
atabaque, agogô e cabaça. Este disco também revela o talento dos componentes
como compositores, principalmente Mateus e Dadinho, que assinam a maioria das
músicas. ( Luiz Américo Lisboa Júnior)
OS TINCOÃS - NA BEIRA DO MAR
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ARTE DE ADVOGAR!!!
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 116
Outros fazendeiros, especialmente os
mais moços, cujos compromissos com o coronel Ramiro Bastos eram recentes, não
traziam o selo do sangue derramado, concordavam com Mundinho Falcão na análise
e nas soluções dos problemas e necessidades de Ilhéus: abertura de estradas,
aplicação de parte da renda nos distritos do interior, em Água Preta, em
Pirangi, no Rio do Braço, em Cachoeira do Sul, exigir dos ingleses a conclusão
do ramal da Estrada de Ferro ligando Ilhéus a Itapira, cujas obras
eternizavam-se.
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Chega de praças e jardins… Precisamos de estradas. Influíam-se sobretudo com a
perspectiva da exportação directa, a barra dragada e rectificada dando passagem
aos grandes navios.
Cresceria a renda do município, Ilhéus
seria uma verdadeira capital. Mais uns dias e entre eles estaria o estrangeiro…
Mas a verdade é que o tempo foi passando,
semana após semana, um mês, outro mês, e o engenheiro não chegava. Arrefecia o
entusiasmo dos fazendeiros, só Ribeirinho mantinha-se firme, discutindo nos
bares, prometendo e ameaçando.
O Jornal do Sul, semanário dos Bastos,
perguntava pelo «engenheiro fantasma, invenção de forasteiros ambiciosos e mal
intencionados, cujo prestígio não passava de conversa de bar».
O próprio Capitão, alma de todo aquele
movimento, por mais que o escondesse, andava nervoso, irritava-se no tabuleiro
de gamão, perdia partidas.
O coronel Ramiro Bastos fora à Baía
apesar dos amigos e filhos desaconselhassem a viagem, perigosa para a sua
idade. Voltou uma semana depois, triunfante. Reuniu os correligionários em sua
casa.
Amâncio Leal contava para quem qui sesse ouvir, com sua voz macia, ter o Governador
do Estado garantido ao coronel Ramiro não existir engenheiro nenhum designado
pelo Ministério para a barra de Ilhéus. Aquele era um problema irremediável, já
o Secretário de Viação do estado o estudara amplamente. Não tinha mesmo jeito,
seria tempo perdido tentar resolvê-lo.
A solução estava em construir um novo
porto para Ilhéus, no Malhado, fora da barra. Obra de enorme vulto, exigindo
anos de estudos antes de pensar-se em iniciá-la.
Dependendo de milhões de contos de réis,
da cooperação entre os poderes federal, estadual e municipal. Obra de tamanha
magnitude, os estudos andavam lentamente, não podia ser de outra maneira.
Estudos múltiplos, demorados e difíceis. Mas já tinham começado. O povo de
Ilhéus devia pacientar um pouco…
O Jornal do Sul publicou um artigo sobre
o futuro porto, elogiando o Governador e o coronel Ramiro. Quanto ao
engenheiro, escrevia, «encalhara na barra para sempre…».
O Intendente, por sugestão de Ramiro,
mandou ajardinar mais uma praça, ao lado do novo edifício do Banco do Brasil.
Amâncio Leal, toda a vez que encontrava
o Capitão ou o Doutor, não deixava de perguntar-lhes, um sorriso de zombaria.
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E o engenheiro, quando chega?
O Doutor respondia ríspido:
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Ri melhor quem ri por último.
O Capitão acrescentava:
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Você não perde por esperar.
-
Quanto tempo é para esperar?
Terminavam por beber juntos qualquer
coisa. Amâncio exigia que eles pagassem:
-
Quando o engenheiro chegar, eu começo a pagar.
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