quarta-feira, dezembro 30, 2015






Regressarei na próxima 2ª Feira.

Divirtam-se na passagem do Ano e sejam 

muito felizes!





Sampaio da Nóvoa - o meu candidato
Presidenciáveis




















Dez, são dez os nomes já aprovados para concorrerem às eleições de Presidente da República de Portugal, no próximo dia 26 de Janeiro.

Embora a campanha oficial ainda nem sequer tenha começado, prevê-se uma grande indiferença já que, desta vez, a eleição ameaça tornar-se a simples nomeação de um candidato cujo favoritismo é total: ganha à primeira, segundo as sondagens e, continuará a ganhar á segunda, se a houver, ainda de acordo com todas as sondagens.

Vai, portanto, ser um tédio em termos competitivos o que, não quer dizer, que não possa haver intervenções interessantes de alguns dos outros candidatos, por mais que sejam os lugares comuns que são inevitáveis nestas situações.

Marcelo Rebelo de Sousa é o “homem da casa”: -  “Ó mulher, anda ouvir o Prof. Marcelo!... Foi assim, durante anos aos Domingos à noite.

Sem contraditório, falando em monólogo, os portugueses “beberam” as palavras de Marcelo como a da verdade, quer ela fosse ou deixasse de o ser.

Era assim para o comum dos cidadãos: o grau de convicção, o tom professoral, a simpatia do comentador tornavam-no indiscutível... ele era a verdade para todos os portugueses, o homem que vinha dizer quem tinha razão...

Contudo, não votarei em Marcelo. Antes de mais porque não gosto de vencedores antecipados. Faz-me lembrar outros tempos... e, também, se ele é assim tão favorito não precisa do meu voto, embora reconheça a fragilidade deste argumento.

Em segundo lugar, desperta-me alguma reserva uma pessoa que reza o Terço enquanto nada no mar por considerar esse um momento apropriado.

Desculpem os crentes e os católicos, mas isto cheira-me a fundamentalismo ou exibicionismo religioso e, nestes casos, pergunto-me sempre, o que mais será ele capaz de fazer para além de rezar o terço a nadar?...

Este homem está tão envolvido na política como protagonista e comentador que, uma vez eleito, nunca será um dos “nossos”, mas um dos “deles”, desse grupo de pessoas  que se tornou numa classe e que desde a Revolução do 25 de Abril vem comandando os destinos de todos nós.

Foi sempre Prof. da Faculdade de Direito, tal como Sampaio da Nóvoa, um académico, Professor e Reitor da Universidade de Lisboa, mas sem trajecto político-partidário, embora sempre se tenha manifestado atento às questões políticas e sociais como homem de esquerda que “carrega” agora consigo, nesta candidatura, o apoio de três ex-presidentes da República: Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio que eu sempre muito estimei e  em quem sempre votei.

Sinceramente, depois desta experiência traumatizante que foi a de Cavaco Silva na Presidência da República, todos devíamos estar sensíveis aos aspectos de carácter e, por causa deles, confio em três dos meus ex-Presidentes e vou votar Sampaio da Nóvoa.

IMAGEM

Antes, era assim... Agora, isto é só para a fotografia. Faz um quadro bonito para amanhã recordar. Em breve segue-se o divórcio... 70% dizem as estatísticas.


Gato Fedorento - William Shakespeare


MARIZA - CHUVA

Mariza é uma cantora intimista. Dizia, há dias, que gostava de cantar como se contasse segredos aos ouvidos das pessoas...



Tieta do Agreste
(Jorge Amado)

EPISÓDIO 43










                                              Tieta altera os hábitos de Santana











- É verdade, Tieta, o que os jornais dizem? Que a poluição em São Paulo está ficando intolerável?


- Uma coisa medonha. Tem lugares, nas zonas mais afectadas onde as crianças estão morrendo e os adultos ficando cegos. A gente passa dias e dias sem enxergar a cor do céu.

- Com tudo isso era lá que eu queria viver, desafia Elisa.

Tímida, Leonora contradiz, a voz mansa:

- Pois eu adoraria viver aqui. Se pudesse, não saía daqui nunca mais. Aqui, eu respiro, vivo, sonho. Lá não, lá se trabalha dia e noite, noite e dia. Trabalha e morre.

Ascânio tem vontade de pedir bis: repita essas palavras, são favos de mel. Ah! se ao menos ela fosse pobre…

Tão embevecido a contemplá-la, nem toma conhecimento do debate acalorado, filosófico e empolgante travado entre dona Carmosina, Barbozinha e o Comandante Dário sobre o objecto não identificado, visto pelos pescadores quando sobrevoava as dunas de Mangue Seco e o coqueiral sem fim.

Barbozinha se exalta, em explicações exotéricas, enquanto o Comandante se exibe vasta cultura de ficção científica e dona Carmosina fala em ilusão colectiva, fenómenos no corriqueiro.

O corte da luz, às nove horas, o badalar do sino da Matriz mandando o povo ordeiro para a cama, interrompe a discussão, todos se põem de pé, em despedida. Mas Tieta rompe a tradição:

- Nada disso, não são horas de ninguém dormir. Vamos conversar. Perpétua mande acender as placas. Onde já se viu dormir a essa hora? Ainda bem que o nosso jovem perfeito vai trazer a luz de Paulo Afonso. Para acabar com esses horários de galinheiro. Vamos tomar mais uma cervejinha, um refrigerante. A prosa está boa…

Rejubila-se Ascânio, prefeito ainda não, apenas provável candidato. Volta a sentar-se. Mas o Comandante e dona Laura preferem deixar a continuação da conversa para o dia seguinte e levam dona Carmosina, vão acompanhá-la até casa. Do bar chegam Aminthas, Osnar, Astério.

- Cuidado, prima, para o lobisomem não lhe pegar – recomenda Aminthas a dona Carmosina.

- Se assunte, malcriado.

Elisa e Peto acompanham o grupo dos sonolentos, de má vontade. Elisa arvora ar de vítima, melancólica; Peto pensa em fugir mais tarde em busca de Osnar. Prometeu levá-lo à caça, não cumpre o prometido.

Tieta convida os dois compadres:

- Entrem, não fiquem aí na porta. Venham tomar um gole de cerveja.

Osnar e Aminthas são notívagos, aceitam. Ricardo acabou de acender e colocar lampiões de querosene na sala. Perpétua ordena-lhe:

- Cardo vá dormir. Já passou da hora.

- Boa noite para todos, com a graça de Deus. A bênção Mãe.

Perpétua dá-lhe a mão a beijar, o rapaz dobra o joelho em ligeira genuflexão.

- A bênção, tia.

- Venha aqui para eu te abençoar. Nada de beija-mão. Meu beijo quero no rosto. Dois, um de cada lado.

Agarra com as mãos a cabeça do sobrinho enfarpelado na batina, beija-o nas duas faces, beijos estalados, deixam a marca do batom.

- Meu padreco!

Também Perpétua se despede:

- Boa noite. Fiquem à vontade. A casa é sua Tieta, Tieta.

Tão gentil, nem parece a mesma, irreconhecível.

- Tieta está domando a fera… - confia Osnar a Aminthas enquanto as irmãs trocam abraço e beijo, - Você já tinha visto dona Perpétua beijar alguém?

- Perpétua não beija, oscula – rectifica Aminthas.



O Quarto dos Noivos











Um casal está já desesperado de encontrar um quarto para passar a noite. No último hotel, onde ainda não tinham ido, o gerente diz-lhes: 

- O único quarto que temos é o dos noivos. 

- Bem, diz o marido, não é realmente o mais próprio... Nós já estamos casados há trinta anos... 


- E o que é que isso tem? - pergunta o gerente

- Então se eu lhes dispensasse a sala de baile vocês sentiam-se obrigados a dançar toda a noite? 

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 144



















Furiosa, Dona Teresa fixou-o, de olhos semi-cerrados. Pressentindo a controlada mas evidente raiva dela, Afonso VII comentou:

 - E rezai para que no vosso ventre não cresça um rapaz. Só serviria para criar inúteis transtornos!

Com o rebento ameaçado, Dona Teresa torceu-se toda. A seu lado, Fernão Peres de Trava estava igualmente furibundo pois o desafio também lhe era dirigido, como pai da criança.

Contudo, o rei surpreendeu todos, pois logo após este cortante aviso aproximou-se da tia, revelando consideração e até preocupação.

- Tendes sido uma boa regente e espero que o continuareis a ser. Mas não será a criança que trazeis no ventre a razão das perturbações de Afonso Henriques?

Dona Teresa baixou os olhos embaraçada, e Afonso VII dobrou-se, beijando-lhe a mão com ternura. Por fim, disse:

 - Seja como for, desejo-vos uma boa gravidez.


Segundo consegui apurar mais tarde, foi logo na manhã seguinte que, impedido de folgar com a rainha devido aos enjôos desta o Trava se dedicou a congeminar uma solução para os imbróglios do Condado.

Horas depois terá chegado à perversa conclusão de que uma invasão de Afonso VII podia até ser bem vinda desde que o derrotado fosse Afonso Henriques e não Dona Teresa.

Intuiu que o melhor era não levar ninguém a Toledo durante o próximo ano, provocando assim o rei, e depois armar uma cilada obrigando Afonso Henriques a combater o furioso primo, enquanto Dona Teresa se refugiava em local seguro.

A eliminação física do ambicioso príncipe poderia sempre acontecer na barafunda de uma batalha desigual com as tropas do rei e, se ele morresse seria o filho do Trava e de Dona Teresa que herdaria a Galiza e o Condado Portucalense!

Todas as guerras se iniciam com pensamentos que as tornam inevitáveis mais tarde. E aquela estava prestes a começar... Por isso, o Trava e Gelmires adiaram durante algum tempo a busca pela relíquia e primeiro tentaram eliminar Afonso Henriques.




Lamego, Agosto de 1126


Atrás de Raimunda rugia a multidão. Uma mulher gorda trazia na mão uma enorme vassoura e um homem alto transportava uma lança velha, enquanto duas lavadeiras carregavam varapaus.

Qual soldado, de espada e capacete, Raimunda parou à porta de uma casa, encheu os pulmões e gritou.

 - Sai cá para fora, mulher!

Via-se azedume nos olhos de muitos, sobretudo nos das mulheres mais velhas, que não admitiam aquela desfeita.

terça-feira, dezembro 29, 2015

Lá está ele, pequenino, como pertence aos pins.
Pinpatriotismo




















Poucas coisas são mais humilhantes para um país da Europa do que ter um 1º Ministro piroso, que esconde a piroseira atrás de um porte “dandy” mas que usa na lapela do casaco esse símbolo máximo da piroseira nacional que é um “pin” representando a bandeira de Portugal.

Faz-me lembrar os adeptos de futebol que quando se deslocam aos estádios ver a equipa de todos nós pintam a cara com as cores da bandeira para provarem que ali, naquele espaço desportivo, ninguém ama mais a sua pátria do que eles.

Mesmo assim, é bem mais simples e higiénico colocar o pin na banda do casaco...

Passos Coelho saiu do governo, já não representa o país mas não tirou o pin da lapela o que significa que ele é mesmo patriota a sério. Aquele distintivo não tinha nada a ver com as funções que exercia, não fora o facto de o ter lá colocado só quando foi para o governo...

Ficamos, pois, sem saber se o poder exacerba o patriotismo ou a piroseira.

Mas, ao fim e ao cabo, o que é que se associa a um governante piroso para além do pin na lapela?

 - Em primeiro lugar, porque salta mais à vista, um ar autoritário, decidido, insensível, nas “tintas” para o povo desde que sejam velhotes, reformados, funcionários públicos e pobres.

O piroso sente-se reconfortado quando os atinge, é uma espécie de vingança porque, e ele sabe-o, nada pode fazer quanto à sua tendência para com a piroseira.

Na mesma linha, e em termos políticos, conduziu o estado social a uma situação de penúria, procurando soluções assistenciais que, recordam-se os mais velhos, além de pirosa é cínica.

Vendem as “jóias da coroa” do país por obrigação e por devoção, para agradar aos ricos, há quem lhe chame capital, que é coisa a quem os pirosos também gostam muito de agradar.

Como qualquer piroso, foi incompetente. Arrastou o BANIF um ano inteiro por não ser capaz de resolvê-lo, desentendendo-se com Bruxelas num processo de reestruturação que andou, qual bola de ping-pong, de um lado para o outro durante meses até o depositar, para sua surpresa, no colo de António Costa.

Com ele, teria sido liquidado agora no princípio do ano com todo o odioso da perda de centenas de postos de trabalho, a passar para as instâncias europeias, sem que ele tivesse sido capaz de acertar numa daquelas várias vezes, ouvi dizer que foram oito, em que o processo de reestruturação andou de Bruxelas para Lisboa.

Passos Coelho continua a passear o pin nos palcos e corredores do poder, na qualidade de rei destronado pelas regras inqualificáveis de uma democracia que não lhe fez justiça, a ele, que até usa um pin na lapela do casaco, por cima do coração.

Mas ele é magnânimo e o seu patriotismo está acima de todas as vicissitudes da pobre democracia, e usando o seu incomensurável crédito político junto dos poderosos europeus, pede-lhes que sejam complacentes, que ajudem o seu país na pessoa do seu adversário político que sem escrúpulos lhe usurpou o poder numa jogada maldosa, um autêntico e inesperado passe de mágica.

Mas ele regressará, o pin não sairá da lapela e a imagem da Nossa Senhora, apertada fervorosamente na sua mão esquerda, durante a campanha eleitoral, que ganhou, não o abandonará.


IMAGEM


O meu Sporting fez o maior contrato dos 3 grandes: 500 milhões. Bruno de Carvalho ainda vai sair em ombros... o pior foi ter perdido a questão no Tribunal por não ter pago ao Fundo de Investimento  a parte dele no negócio do Rojo, que foi adquirido pelo Manchester, Mas o que são 12 milhões comparados com 500...



Ana Moura - Dia de Folga

Um dia vai deixar de se ouvir. Até lá... ouçamo-la mais uma vez.


Três perguntas para Richard Dawkins



Tieta e os seus projectos para Santana do Agreste
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)


EPISÓDIO Nº 42



















DE VISITAS E CONVERSAS, ONDE LEONORA EXPRIME INESPERADO DESEJO

A sala de visitas cheia, à noite. A pedido de Tieta, Peto encomendara no bar volumoso carregamento de cerveja, guaraná, coca-cola.

A tia Antonieta é o novo ídolo de Peto, desbancou os mocinhos do cinema, os heróis da histórias de quadradinhos. Sabino quebra uma pedra de gelo no quintal, enviada por Modesto Pires, do curtume.

Na beira do rio, o moleque Sabino foi o único que conseguiu pescar com a vara nova, utilizando o molinete. Trouxe os peixes para Tieta e lhe pediu a bênção. Cardo e Peto vieram carregados de pitus.


A prosa se estende sem compromisso ao sabor dos assuntos mais diversos, a partir da sensação causada pelas modas de São Paulo, as perucas, a transparência dos tecidos, as calças justas, as sandálias.

Perpétua é contra as cafetãs transparentes, calças coladas modelando bundas, comprimindo ancas, shortes exibindo coxas, blusas amarradas sob os peitos, umbigos de fora, condena a devassidão que vai pelo mundo:

- Podem me chamar de atrasada. Moça solteira, moderninha, vá lá que use… – extrema concessão a Leonora. – Mas mulher casada, não acho decente. Viúva muito menos, Antonieta que me desculpe. Se eu fosse Astério não ia deixar não ia deixar Elisa usar a tal mini-saia que você deu a ela.

- Você encruou no passado, mana, - Antonieta desata em riso.

- Agreste inteiro vive no passado – Ascânio Trindade culpa a pasmaceira, responsável pela língua das beatas. – Até mesmo um homem viajado como o Comandante é contra o progresso. 

Quando eu falo em turismo para reerguer a economia do município, ele fecha a cara.

- Contra o progresso, amigo Ascânio. Não confunda as coisas. 

Sou a favor de tudo quanto seja útil a Agreste mas sou contra tudo o que venha roubar nossa tranquilidade, essa paz que não tem preço que pague. Não tenho nada contra a mini-saia desde que a pessoa a usá-la tenha condições para isso. Numa mulher de certa idade já não cai bem.

Por exemplo? – Desafia dona Carmosina.

- Cito o exemplo de duas lindas senhoras aqui presente: Laura e Antonieta. No meu entender, já passaram da idade.

Dona Laura nunca pensou em mini saias mas ameaça o marido, bem-humorado:

- Não sabia que você era tão entendido em mini-saia, Dário! Até parece que já viu muitas… Pois eu vou tomar a de Elisa emprestada e saio desfilando por aí, você vai ver.

- Para mim não é uma questão de idade e, sim, de físico. Mini-saia não vai com o meu corpo, com minhas abundâncias – lastima-se Tieta.

Barbozinha, a fumar literário cachimbo, quase sempre apagado, consola:

- Tens o tipo clássico, Tieta. A beleza suprema, Vénus, era assim. Não suporto esses esqueletos que andam exibindo os ossos. Não me refiro a você Leonora. Você é uma sílfide.

- Obrigado, seu Barbozinha.

- Infelizmente, meu poeta, ninguém pensa mais como você. És meu único eleitor, - Tieta volta-se para Ascânio – Turismo em Agreste? Acha possível?

- E porque não? A água é medicinal, os exames já foram feitos, Modesto Pires mandou as amostras para o genro que é engenheiro da Petrobrás. Os resultados foram formidáveis, tenho cópia na Prefeitura se quiser ver.

Modesto Pires está estudando a possibilidade de engarrafamento. O clima é o que se vê, cura qualquer doença. Em matéria de praia, onde mais bonitas?

- Isso é verdade, praia igual à de Mangue Seco não vi em lugar nenhum.

Copacabana, as praias de Santos, nem chegam perto. Mas daí…Enfim, não digo nada, não quero pôr água fria nas suas esperanças. É preciso, porém, muito dinheiro, muito mesmo…

- Já disse a Ascânio: deixe Mangue Seco em paz enquanto a gente viver… - resume o Comandante.

- Vou comprar um terreno lá, fazer uma casinha de veraneio. 

Um dos motivos da minha viagem foi esse: adquirir um terreno em Mangue Seco e uma casa aqui na cidade, quero terminar meus dias em Agreste.

Enquanto não vier de vez, Pai e Tonha ficam morando na casa, tomando conta. Vim por isso e para tirar esta pobre da fumaceira de São Paulo – aponta Leonora – Anémica como é, naquela podridão.


Pai e Marido


Não se Podem Suportar











Quase à hora do parto, uma mulher dirige-se ao doutor: 


- Tenho medo, e queria pedir-lhe que deixasse o meu marido assistir ao parto. 

- Mas com certeza. Aliás, é uma coisa excelente que o pai assista ao nascimento do seu filho. 

- Na verdade, senhor doutor, não creio que seja muito fácil. O meu marido e ele não se podem suportar. 

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 143






















Fora o mais turbulento casamento que jamais a Península vira.

Urraca e Afonso de Aragão odiavam-se, batiam-se, guerreavam-se, amavam-se, voltavam a guerrear-se e depois se traíam, num ciclo de violência que desequilibrara os reinos peninsulares.

- É ele que tenho de vencer primeiro – murmurou Afonso VII.

Porém, como se não fosse agora o assunto mais importante, olhou de novo para Dona Teresa e sorriu.

Tenho saudades de Afonso Henriques.

Embora tivessem quatro anos de diferença, durante a infância e adolescência deram-se bem quando se encontravam em Toledo, Compostela ou Viseu.

- Temos tanto em comum - continuou Afonso VII. – Os nossos pais morreram demasiado cedo, e as nossas mães mais que fazer do que dar-nos colo.

Cofiando a barba, murmurou, como se falasse consigo próprio:

 - É mais alto e mais forte do que eu, apesar de ser mais novo. Mas é também demasiado impetuoso.

Depois, olhando para a tia, interrogou-a:

 - Devemos pensar antes de agir, não vos parece?

Dona Teresa estava cada vez mais enjoada.

Não tenho a certeza de que meu primo saiba qual é o seu lugar – suspirou Afonso VII.

Parecia desapontado mas, de repente, o seu humor alterou-se, ficou muito sério e gritou.

- Um ano! Dou-vos um ano para o convencerdes!

Dali a semanas, o rei iria partir para guerrear Afonso I de Aragão, no Leste da Península. Estava convencido de que o venceria, e durante esse interregno Dona Teresa teria de garantir que gomes Nunes e o pai de Teresa Celanova mas sobretudo Afonso Henriques, se dirigiam a Toledo para lhe prestarem vassalagem.

Até ao próximo Pentecostes terão de me ir beijar a mão! Caso contrário invadirei Tui, Celanova e Guimarães!

Dona Teresa levou a mão à boca sustendo mais um vómito. A seu lado, Fernão Peres cerrou os dentes, consciente da gravidade do que ouvira.

Porém, a voz do rei tornou-se um pouco mais suave, quando acrescentou:

 - A não ser que...

Olhou depois para o Arcebispo Gelmires, que lhe sorria de volta. Depois, mirou Paio Soares e murmurou:

- Gelmires falou-me de uma relíquia sagrada, trazida da Terra Santa. Sabeis disso Mordomo – Mor?

Aflito, Paio Soares voltou a mentir, considerando a história uma lenda, falsa e irrazoável. O arcebispo limitou-se a tossir, e o rei pareceu desinteressar-se do tema, pois olhou de novo para a sua tia e prosseguiu, como se aquele pequeno desvio não tivesse acontecido.


Se os levardes a Toledo, considerarei as vossas pretensões. Mas se tal não acontecer... Como podereis aspirar ao trono da Galiza se nem sequer mandais em dois nobres menores e no vosso próprio filho?

segunda-feira, dezembro 28, 2015

No filme, a jovem americana, ouve os piropos.
Os Piropos

passaram

a crime




                                  












Na imagem, uma cena do filme "A Americana em Itália", já com mais de 60 anos, onde os piropos à jovem americana - a actriz Ruth Orkin -  mereceram as honras de uma cena que realça o espírito conquistador e atrevido dos homens italianos.

Os piropos não são hoje o que eram há 60 anos atrás, nas décadas de 50 e 60, no tempo dos assobios que guardamos na memória, dos olhares dengosos que acompanhavam as mulheres no seu andar, ou das expressões de apreço à sua beleza.

Eram, então, os piropos uma espécie de homenagem à beleza da mulher e mesmo que revelassem algum atrevimento, regra geral, não eram ofensivos.

Faziam parte do culto urbano de rua por parte do sexo masculino ao feminino quando, então, na nossa sociedade, a separação entre os sexos era rígida.

Os piropos que a lei passou agora a condenar com penas de prisão até 3 anos não são propriamente piropos, antes agressões verbais de cariz sexual.

Fernanda Câncio, jornalista do DN exemplifica para que não fiquem dúvidas:

 - “Comia-te toda”; “Ó borracho, queres por cima ou por baixo?”; “Queres pela frente ou queres por trás?”; “Dava-te três sem tirar”; “Ó estrela queres cometa?”; “Ó jóia anda cá ao ourives”...

A cena dos trolhas da Camada de Nervos que hoje vos trouxe é um momento delicioso em que o "feitiço se vira contra o feiticeiro"

Isto são provocações verbais de natureza sexual que os rapazes do meu tempo não diriam a uma rapariga, e às mulheres que estavam então no negócio do sexo autorizado, não dirigiam piropos  mas sim propostas negociais.

Era tudo tão diferente... as raparigas não se embebedavam à noite nos bares com os rapazes, tão pouco fumavam, e os namoros eram coisas levadas a sério que acabavam em casamento, muitos deles para uma vida infeliz quando o divórcio não era autorizado e o casal suportava-se por uma vida inteira.

Hoje, dizem as estatísticas, 70% divorciam-se.

Eu fui um rapaz tímido, jamais teria descaramento para dirigir um piropo mas lembro-me, teria uns 15 ou 16 anos, que ao sair de manhã, num Domingo, do prédio em Lisboa onde tinha um quarto que o meu pai me alugou, duas jovens que iam a passar no passeio oposto, olharam para mim por entre risadinhas... afinal, existia como rapaz.

Um obrigado com 60 anos de atraso...

A história dos piropos é uma expressão de índole cultural das relações entre os sexos, de um povo.

Os rapazes e raparigas que foram jovens comigo, hoje já são velhos, não tanto quanto os velhos da nossa época que não beneficiaram, como nós, das maravilhas da ciência que nos dá este aspecto ainda apresentável...

Mas quando os jovens do meu tempo recordam as diferenças entre as nossas juventudes e as de agora não podem deixar de sorrir... O que se ganhou em liberdade perdeu-se em encanto...

IMAGEM

Cavaco e os seus amigos banqueiros...



Trolhas - Camada de Nervos

Os piropos....


António Zambujo - Aquela janela virada para o mar


Disco voador em Mangue Seco?
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)

Episódio nº 41


























DA POLUIÇÃO E DOS OBJECTOS NÃO IDENTIFICADOS, CAPÍTULO MUITO INCREMENTADO OU A VISITA DO AREÓPAGO




Na porta da Agência dos Correios e Telégrafos, dona Carmosina estende as mãos em boas vindas:


- Entrem, meninas, estava esperando.

Comandante Dário levanta-se para cumprimentar as paulistas, logo volta à leitura da notícia da primeira página de A TARDE, comenta indignado:

- Não é possível que o governo vá permitir este absurdo. Os directores de uma fábrica igual a essa, igualzinha, para produzir dióxido de titânio, foram condenados à prisão, na Itália. O Juiz, um macho, meteu todos no xadrez.

- Fábrica de quê? Me explique, Comandante.

- Estou lendo na gazeta que acaba de ser constituída no Rio de Janeiro uma empresa para montar uma fábrica de dióxido de titânio no Brasil. Uma monstruosidade.

Por quê? Troque em miúdos.

- É a indústria mais poluidora que se conhece. Basta lhe dizer que só existem seis fábricas destas em todo o mundo. Nenhuma na América, nem do Norte, nem do Sul. Nenhum país quer essa desgraça em seus limites.

- É assim?

Dona Carmosina intervém:

- Traga o recorte do Estado para Tieta ler. O Estado de São Paulo, jornal de sua terra – ri da pilhéria – publicou um artigo contando que um juiz da Itália condenou os directores de uma fábrica dessas à cadeia por crime de poluição.

- Por crime de poluição? É o que precisa fazer em São Paulo: meter um bocado de gente no xadrez antes que a cidade acabe.

- O pior – acrescenta o Comandante – é que o jornal já adianta que as autoridades não vão permitir a instalação da fábrica no Sul do país. Querem situá-la no Nordeste. É sempre assim: o que é bom, fica no sul. Para o Norte sobra o refugo.

- É que em São Paulo, Comandante, a poluição já está de uma forma que ninguém suporta mais.

- Onde iremos parar? Felizmente, nosso pequeno paraíso privado, Agreste, está longe de tudo isso…

Leonora aproveita para o elogio:

- Mãezinha sempre me falava que aqui era bonito à Bessa mas não pensei que fosse tanto. É uma coisa!

- Você ainda não viu nada… - dona Carmosina se inflama – Agreste, em matéria de paisagem, não perde nem para a Suiça. Me fale depois de ir a Mangue Seco.

- Quando vão a Mangue Seco? Ficarão connosco na Toca da Sogra, eu e Laura fazemos questão – oferece o Comandante.

Muito obrigado. Aceito, até comprar terreno, levantar minha palhoça. Vai ser logo, logo – responde Tieta. – Tínhamos pensado ir nesse sábado, passar o Domingo. Mas Perpétua encomendou uma missa para Felipe e vai entronizar o sagrado coração de Jesus na sala.

- Tieta Trouxe um Sagrado Coração para Perpétua que é um colosso. Pode ser que na Baía tenha outro igual mas eu duvido – conta dona Carmosina.

- Verei hoje à noite, penso ir com Laura fazer nossa visita de boas vindas.

Quanto a Mangue Seco, a casinha está às ordens quando quiserem. Lá, todo o dia é dia de Domingo.

O grupo aumenta com a chegada de Aminthas e Seixas. Os olhos gulosos varam a transparência dos longos cafetãs das duas elegantes. Seixas só falta babar. Aminthas pergunta ao Comandante:

- Mestre Dário, que história é essa que está correndo por aí? Me disseram que apareceu um disco voador em Mangue Seco, todo mundo viu.

- Eu soube, os pescadores me contaram. Alguns garantem ter visto um objecto estranho e ruidoso sobrevoando a praia e o coqueiral. Pensei que fosse um avião mas eles juram que não, já viram passar muitos aviões, não iam se enganar.

- Devem ser os amigos de Barbozinha vindos do outro mundo para visitar nosso poeta. Ele diz que se comunica com todo o espaço, pela telepatia.

- Você brinca com o Barbozinha mas ele é sincero em tudo o que diz. Acredita piamente nessas coisas – atalha dona Carmosina.

- Um homem tão inteligente – lastima Seixas.

- Para mim, diverte-se Aminthas, o que os pescadores viram foi o reflexo de alguma lancha de contrabando… essa história de disco é pura tapeação.

- Não – contesta Dário, - Os pescadores não são tolos e por que haviam de querer me enganar? Estou farto de saber do contrabando e, quando acontece, é à noite.

Alguma coisa eles viram ou ouviram. O quê, não sei, mas bem que podia ser um disco voador. Ou você não acredita na existência deles? Eu acredito. Não nos espíritos de Barbozinha mas em seres de outros problemas. Por que só na Terra há de se encontrar vida e civilização?

A pequena Araci chega correndo:

- Dona Antonieta, sinhá Perpétua mandou chamar vosmicê e a dona moça. Seu Modesto está lá com dona Aida, para visitar.

- Que pena, a prosa estava gostosa. Vamos, Leonora. Apareçam à noite. Até logo, Comandante. Carmô, não falte.

Descem o degrau do passeio, lá se vão rua afora. O sol poente ilumina as duas mulheres, lambe-lhes os corpos e os revela doirados e desnudos, como se a luz do crepúsculo houvesse dissolvido o vaporoso tecido dos cafetãs, fascinante moda importada das terras de sonho e fantasia onde nasceu Chalita.

  

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Maldosa















Numa noite de neblina, numa estrada, um automóvel dirigido por um médico chocou com outro, guiado por um advogado.

Nenhum dos dois sabia precisar de quem fora a culpa, mas, como estivessem ainda aturdidos e nervosos pelo acidente, o advogado tirou uma pequena garrafa de uísque do porta-luvas do seu carro e ofereceu um trago ao médico. 


O doutor, com mãos trémulas, pegou na garrafa e bebeu. Depois, passou-a ao advogado: 

- O senhor não vai também beber um pouco para acalmar os nervos? 

- Claro que vou — disse o advogado. — Mas só depois de a Brigada de Trânsito chegar.

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