sábado, dezembro 10, 2016

Vídeo musical gravado na Namíbia


Eles são os bosquímanes, o povo mais próximo dos nossos antepassados africanos, juntamente com os pigmeus, o mais "pobre" e  o mais feliz... Estive junto deles no princípio da década de 60 numa visita de estudo a Angola, quando aluno da então denominada Escola Superior Colonial que passou, no meu tempo, a chamar-se Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina. A região onde vivem na Namíbia, junto ao deserto, está na fronteira Sul de Angola. É um video lindo, pela música, por eles e pelas recordações que me despertam. Falar a sua língua de estalidos é só para predestinados...


               

Soprando o Vento - Bob Dylan (aos 21 anos)



          

NOVOS

 TESTES 

PSICÓLOGOS...
















Um sujeito está numa entrevista para emprego. O psicólogo dirige-se ao candidato e diz:

- Vou fazer-lhe o teste final para a sua admissão.

- Perfeito! - diz o candidato.

O psicólogo pergunta:

- Você está numa estrada escura e vê ao longe dois faróis emparelhados a virem na sua direcção. O que acha que é?

- Um carro. - diz o candidato.

- Um carro é muito vago. Que tipo de carro? Um BMW, um Audi, um Volkswagen?

- Não dá para saber, não é?

- Hum... - diz o psicólogo, que continua - Vou fazer-lhe outra pergunta: Você está na mesma estrada escura e vê só um farol a vir na sua direcção. O que é?

- Uma mota - diz o candidato.

- Sim, mas que tipo de mota? Uma Yamaha, uma Honda, uma Suzuki?

- Sei lá, numa estrada escura, não dá para saber... (já meio nervoso)

- Hum..., diz o psicólogo. Aqui vai a última pergunta:

- Na mesma estrada escura você vê novamente um só farol, menor que o anterior, e você apercebe-se que vem mais lento. O que é?

- Uma bicicleta.

- Sim, mas que tipo de bicicleta? BTT, estrada, passeio...?

- Não sei.

- Lamento, mas reprovou no teste! - diz o psicólogo.

Aí o candidato dirige-se ao psicólogo e fala:

- Interessante esse teste. Posso fazer-lhe uma pergunta também?

- Claro que pode. Pergunte.

- Você está à noite numa rua iluminada. Vê uma mulher com maquilhagem carregada, vestidinho vermelho bem curto, a girar uma bolsinha... o que é?

- Ah! - diz o psicólogo - é uma puta.

- Sim, mas que puta? A sua irmã? A sua mulher? Ou a puta que o pariu?







Padre Carreira das Neves
CONVERSA

DE SURDOS

                                                                 







A Bíblia






Em Outubro de 2009, o padre e teólogo Carreira das Neves e José Saramago travaram na televisão uma conversa de surdos ou, no mínimo, um diálogo difícil.

Esta dificuldade traduziu-se numa impossibilidade de entendimento, espécie de caminho que não leva a lado nenhum e que sempre acontecerá quando um crente e um não crente se procuram explicar reciprocamente.

José Saramago fez acusações graves à Bíblia e a Deus, tendo mesmo reconhecido ter exagerado quando utilizou certas expressões, por exemplo: o tal “Manual de Maus Costumes”, mas desculpou-se com os seus direitos de autor.

O reconhecimento deste exagero parece-me ter sido feito mais por uma questão de amabilidade para com o interlocutor e as pessoas religiosas que o estavam a ouvir do que por não pensar exactamente o que disse.

Ele leu o que estava escrito no Antigo Testamento e a conclusão a que chegou foi de que aquilo não passava de um Manual de Maus Costumes e por isso o disse e reafirmará todas as vezes que isso vier a propósito e justificará apoiando-se em muitas passagens da Bíblia.

A grande questão que se levanta nestas apreciações tão graves sobre a Bíblia, é que este livro, para judeus e cristãos, é um texto sagrado porque eles acreditam no Deus daquela religião enquanto que, para José Saramago e para todos os ateus, é simplesmente um livro, não propriamente igual a qualquer outro, mas sem a componente do sagrado.

Por esta razão, a discussão que ambos travaram, não era de carácter literário ou interpretativo, qualquer coisa de académico que acontece com todas os livros, mas antes algo que tocava fundo, na essência espiritual de cada um deles e na de todas as pessoas que professam aquelas religiões mas que incomodam também os outros, os não crentes, porque afinal todos fomos criados neste “caldo” religioso e sabemos que a sociedade é constituída maioritariamente por pessoas religiosas ou que se consideram como tal, incluindo nela os nossos amigos e familiares.

As pessoas, não se sabe quem, que ao longo de mil anos foram escrevendo o que está escrito na Bíblia, (não vamos pensar que tenha sido Deus a fazê-lo directamente), tinham a noção de que o estavam a fazer para um livro sagrado e que essas palavras iriam ser lidas como se tivessem sido ditadas por Deus, muitas delas, mesmo, diálogos onde intervém o próprio Deus como personagem.

Isto significava que aquela mensagem escrita não iria apenas influenciar os leitores mas formar consciências, mentalidades, transmitir orientações com a força de ordens, criar unidade de um povo à volta de um Deus, essa entidade suprema, transcendente, que se escapa ao entendimento porque ultrapassava os homens em absoluto, no poder, deixando-lhes apenas a escapatória da obediência cega, sem discussão.

Terrível, a responsabilidade desses homens que ao longo dos séculos foram escrevendo a Bíblia, de tal forma que tiveram de a repartir com os teólogos, os que interpretam essa escrita.

Por aquilo que foi dito pelo teólogo Carreira das Neves, o Antigo Testamento é, todo ele, escrito usando metáforas e parábolas, de uma forma simbólica, o que significa uma solução de grande inteligência porque permite que os teólogos o actualizem e expliquem aos crentes de acordo com os tempos que se estão vivendo e com as orientações que em cada momento a Igreja ache mais conveniente.

Por esta razão, a Bíblia será cada vez mais um texto metafórico, para interpretar e não para ler porque o seu significado literal, com o avanço dos conhecimentos científicos e o triunfo da razão, será cada vez menos compreensivo.

Assim, a importância e o papel dos teólogos é cada vez mais importante para a Igreja porque ela pretende – pretensão inglória - complementar a fé dos seus seguidores com explicações plausíveis e racionais da mensagem do seu Deus.

Contra isto se insurgiu José Saramago para quem o livro não tem nada de sagrado e pergunta: “mas com que direito os senhores me vêm dizer o que está escrito na Bíblia?”

E aqui está a polémica que, ao fim e ao cabo, não é polémica nenhuma:

- O padre Carreira das Neves lê a Bíblia com os olhos de um crente, nem preciso acrescentar de padre e teólogo.

- José Saramago faz a mesma leitura com os olhos de um não crente mesmo que, como afirmou, se esforçasse para o ser.

O ponto de partida está na crença de um Deus que em seis dias, ou lá o tempo que fosse, fez o Universo. Antes não fez nada e depois, daí para cá, nada voltou a fazer, versão da Bíblia que, para Saramago, não crente, é absurdo e inteligível.

Realmente, a razão e a fé são inconciliáveis. A razão é um instrumento de análise crítica e a fé um dogma ou um conjunto de dogmas que não se sujeitam a essa tal análise crítica e constitui “batotice” Carreira das Neves afirmar que, “se os crentes não conseguem provar que Deus existe, os ateus também não conseguem provar que ele não existe”.

Todos sabemos que o ónus da prova é de quem afirma. Não é legítimo pensar que recai sobre mim a obrigação de provar em tribunal que não sou criminoso.

Fiquemo-nos, portanto, pela questão da fé. Foi através do processo de selecção natural que a sobrevivência da espécie humana aconteceu e o acreditar fez parte desse processo.

Os que não acreditavam e não seguiam os conselhos dos progenitores foram ficando pelo caminho…e mesmo assim não foi fácil...momentos houve em que chegámos a números no limiar mínimo da sobrevivência da espécie.

Este “jeito” de acreditar ficou-nos gravado no cérebro. É verdade, mas não nos esqueçamos que se chegámos ao que somos, hoje devemo-lo à capacidade de usar a nossa razão sem a qual também não teríamos sobrevivido.

Temos de conviver todos, crentes e não crentes, apelando cada vez mais à nossa inteligência, razão e senso comum… seja ele o lado em que estivermos.

O nosso futuro colectivo não depende de mais ninguém para além de nós próprios. Não sejamos ingénuos, não confiemos essa matéria a Deus. O mesmo “mecanismo de acreditar” que pode ter sido o segredo da nossa sobrevivência em tempos recuados da nossa evolução, pode, agora, virar-se contra nós.

Pensemos no que estão fazendo os fundamentalistas e radicais islâmicos e os de todas as religiões.

Tempos perigosos os que vivemos...

sexta-feira, dezembro 09, 2016

Coragem e valentia...

















O dono de um circo colocou um anúncio procurando um domador de leão.

Apareceram 2 pessoas: um senhor de boa aparência, aposentado, cerca de 70 anos, e uma loura espectacular de 25 anos.

O dono do circo fala com os 2 candidatos e diz:
- Eu vou directo ao assunto. O meu leão é extremamente feroz e matou os meus dois últimos domadores. Ou vocês são realmente bons, ou não vão durar 1 minuto! Aqui está o equipamento - banquinho, chicote e pistola. Quem quer entrar primeiro?

Diz a loura:

- Vou eu!

Ela ignora o banquinho, o chicote e a pistola e entra rapidamente na jaula.

O leão ruge e começa a correr na direcção da loura. Quando falta um metro para ser alcançada, a loura abre o vestido e fica toda nua, mostrando todo o esplendor do seu corpo. O leão pára como se tivesse sido fulminado por um raio! Deita-se em frente da loura e começa a lamber-lhe os pés! Pouco a pouco, vai subindo e lambe-lhe, carinhosamente, o corpo inteiro durante longos minutos!

O dono do circo, com o queixo caído até ao chão diz:

- Eu nunca vi nada assim na minha vida!

Vira-se para o velhinho e pergunta:

- Você consegue fazer a mesma coisa?

E o velhinho responde:

- Claro! É só tirar de lá o leão...

Uma de Bêbado...



















Um bêbado entra num autocarro e desata numa grande gritaria:

- Estes maricas aqui à minha frente são todos rotos! Os desgraçados aqui atrás são todos cabrões! 

Os merdas aqui ao meu lado são todos filhos da puta!

O motorista, indignado com a conversa, faz uma travagem brusca, as pessoas desequilibram-se, levanta-se um e agarra o bêbado pelos colarinhos e ameaça:

- Quem é roto e cabrão aqui?

Responde o bêbado de mansinho:


Não sei. Agora, com a travagem, misturou-se tudo ...

A EXTRAÇÃO DO RIM 














A loira passeava pelo shopping quando, de repente, encontra uma velha conhecida: 

- Nossa, maravilhosa! Como você emagreceu! 

- Pois é... Perdi quinze quilos! Tive de extrair um rim! 

- Credo! Eu não sabia que um rim pesava tanto...

Faz hoje 100 anos de idade. Parabéns...
Kirk Douglas
















Lembram-se dele, aquele da covinha no queixo que as pessoas da minha geração conheceram a desempenhar no cinema os papéis de Spartacus, chefe de uma revolta de escravos contra Roma e de Ulisses, entre outros?

Pois bem, é vivo, faz hoje 100 anos e no seu rosto envelhecido a covinha no queixo tende, naturalmente, a desvanecer-se mas faz jus aos heróis que representou, porque para além de estar vivo continuar lúcido e crítico, como sempre foi, ao fim de um século de existência, já é uma heroicidade.

Fico feliz porque ele preencheu, tal como Burt Lancastar, Gary Cooper, Gary Grant e outros, em filmes inesquecíveis que levaria comigo se tivesse de passar o resto dos meus dias sozinho numa ilha, a minha juventude de sonhos e aventuras.

Não havia televisão que chegaria em 1957 e o cinema era a mais popular e divulgada forma de espectáculo quando as salas se enchiam de espectadores e nós, estudantes, faltávamos a uma aula para ir ver uma cowboyada na matiné lá do bairro onde brilhava um daqueles nossos heróis.

Com 100 anos, feitos hoje, Kirk Douglas sobreviveu à 2ª G.G., a uma queda de helicóptero, trombose e a dois joelhos novos... Era filho de um casal de russos, tendo chegado aos E.U. em 1912 com o nome de Issur Damelovitch, que ele se encarregou de mudar para Kirk Douglas e, a partir daí, não mais deixou de chamar a atenção para o que estava mal na sociedade.

Viu de tudo e nunca se calou com o seu feitio difícil e pouco disposto a cedências. Ele perguntava: - “O que é ser um gajo porreiro? – Nada de nada... um enorme zero com um sorriso para toda a gente”.

Convicto na vida, duro nas salas de cinema.

Junto os meus parabéns pelo teu aniversário centenário aos milhões de parabéns de outros tantos fãs como eu por esse mundo fora. Saber-te vivo é continuarmos jovens a reviver o Spartacus que tu tão bem interpretaste e cuja cela, no Coliseu de Roma, onde certamente estiveste no decorrer das filmagens, eu visitei num passeio àquela histórica cidade já há uns bons anos atrás.

Actores como tu nem sequer deviam envelhecer, a vida devia ter parado e eu devia ter continuado a ser jovem nessa época dos anos sessenta que tantas esperanças alimentaram nos nossos espíritos.

De certeza que não estás também satisfeito com o Presidente que agora te vai calhar em sorte. Não podes estar... crítico como és, tiveste de esperar 100 anos para veres um homem como Trump ser Presidente do país que um dia os teus pais escolheram para viver e que passou a ser o teu.

É o que acontece quando se vive durante muitos anos: apanha-se muita coisa boa: descobertas científicas, curas e vacinas para doenças terríveis, mas também se corre o risco de ver morrer à nossa volta pessoas que nos são queridas e, vê lá tu, inesperadamente, sem ninguém contar, apanhar com um Trump pela "tromba"...

quinta-feira, dezembro 08, 2016

Trump - Person of the Year





















A prestigiada Revista Time consagrou, na sua última edição, Donal Trump como Imagem de Capa na Pessoa do Ano, e por isso ele fez as pazes com a imprensa e os jornalistas, até porque ambicionava este prémio há muito tempo.

No ano anterior, nesta mesma eleição, ele ficou em terceiro lugar, atrás de Merkel e do líder do Estado Islâmico, Abu Bakar al Baghdadi.

Charles Lindberg, aviador, que tinha cruzado o Atlântico em 33 horas e 39 minutos, em 1927, foi o primeiro a abrir esta eleição. 

Adolfo Hitler foi o escolhido em 1938, o que significa que nestas eleições não se escolhe entre "bons" ou "maus" mas sim pela influência que a pessoa teve nesse Ano, na opinião dos directores da Revista permanecendo no segredo dos jornalistas.

Curiosamente, desta vez, a nomeação não terá agradado muito ao nomeado porque o intitularam de Presidente dos Estados Divididos da América, o que o levou a queixar-se de que não foi ele o culpado dessa divisão.

A explicação desta escolha que, para mim, nesta pontinha da Europa, me ia deixando doente, é dada, muito acertadamente, pela Directora da Revista, Nancy Gibbs: - "para lembrar a América que a demagogia se alimenta do desespero e que a verdade é tão poderosa quanto a confiança naqueles que a dizem, por capacitar um eleitorado oculto através da suas fúrias e transmitindo ao vivo os seus medos e por moldar uma cultura política do amanhã através da demolição da de ontem".

Francamente, para mim, depois de Barak Obama, o contraste não podia ser maior e a desilusão também ...

A figura deste senhor, que se especializou em impressionar os outros ostentando a sua riqueza, causou-me sempre arrepios e, das duas uma, ou eu sou muito diferente do comum dos cidadãos americanos, ou na realidade eles estão mesmo desesperados.

Reconheço, no entanto, que existe aqui uma mescla de sentimentos, dos quais não comungo, talvez por não viver no desespero, embora a situação dos americanos também não me pareça que seja desesperada... 

Por isso, a escolha deste senhor louro, grande, de "melena", que vem do sector da construção civil, especializado em Concursos de Beleza Feminina de Miss Universo, e ostenta a riqueza dando a conhecer o avião particular em que se desloca, um Jumbo 707 -é, para mim, e ninguém gosta de andar de cavalo para burro qualquer coisa de afrontoso, especialmente depois de Barak Obama, homem de cultura e de oratória excelentes.

Donald Trump é a surpresa, a desilusão, o contraste... e ninguém gosta de andar de "cavalo" para "burro" e infelizmente, os EUA, para o bem e para o mal, são também o nosso "cavalo" e o nosso "burro".

quarta-feira, dezembro 07, 2016

AFONSO HENRIQUES

- Rei Fundador




















Era um homem violento, feito do mesmo pau de todos os guerreiros da Idade-Média, egoísta, sensualão e déspota. Se não fosse assim não teria fundado um reino.

Com o poder dos visigodos em ascensão, eles, que tinham desmantelado o Império Romano e dominado toda a Europa de Leste a Oeste com excepção de uma faixa a norte da Península ibérica dominada pelos Suevos, não era com escrúpulos, problemas de consciência e rijezas de carácter que alguém faria obra de tomo, perdurável.

Mas não tinha cabelos no coração, não era insensível e a palavra justiça para ele não era totalmente destituída de sentido. Isto viu-se na cena trágico-cómica com D. Gonçalo de Sousa:

 - Foi o caso que, sendo hóspede do bom fidalgo, seu apoiante político e leal vassalo, apanhando-o de costas a tratar com os criados das tarefas do comer, virou a mulher, Dª. Sancha Álvares em cima de uma pele de urso e satisfez a sua lascívia.

Entretanto, D. Gonçalo, entrou no salão e surpreendeu-o no acto tendo conseguido ainda articular estas misérrimas vozes:

 - Levantai-vos senhor, que a comida está na mesa…

Enquanto el-rei se banqueteava, foi-se o marido ultrajado à mulher e, tosquiando-lhe os cabelos e ajoujando-lhe às costas uma pele de cabra, com o esfolado para fora, pô-la em cima de um jerico, aparelhado de cilha e albarda e sentada ao contrário no animal.

E foi nesta pose que a mandou para casa do pai dela, não sem antes desse uma volta por onde el-rei se encontrava com os seus cavaleiros.

D. Afonso Henriques ficou em grande cólera e a soprar, jurando-lhe pela vida. Doía-lhe ter abusado da confiança do nobre servidor, mas o desforço dele tivera um repique que muito o confundia e envergonhava aos olhos dos seus.

Hesitante, porém, entre enviá-lo de presente ao diabo ou passar adiante chamou-o à sua presença e disse-lhe:

 - Por muito menos, cegou um adiantado de meu pai a sete condes…

- Cegou-os à traição, senhor, mas disso morreu.

 - E seu te mandar cortar a cabeça…?

 - Senhor, mais vale. Homem borrado, morto é.

D. Afonso Henriques ficou a meditar naquela palavra. Teria, depois de comer bem e beber melhor, filosofado com Herádio que “…se havia de correr a atalhar a ira como se fosse a apagar um incêndio…” e, montando a cavalo, despediu da Quinta do Unhão, vencido o instinto sanguinário.

Que faltou algumas vezes à palavra dada, pelo que os puritanos, ao tempo que os havia, muito o censuravam, muito o censuravam…! Sim, faltou, mas é demasiado rigor com o homem, abalizado na guerra e na conquista, relevar tal pecadilho.

O que ele quebrava com certo desembaraço era a palavra política, a de rei, que não a de homem. Há a sua diferença. Naquelas épocas recuadas, o verbo estava na infância da arte. Não se sabia falar diplomaticamente. O ditado árabe: «Alá deu ao homem a palavra para esconder o seu pensamento» passou primeiro dos filtros da Renascença para os lábios italianos, que o souberam transmitir aos ministros e homens públicos do Universo.

Não havia língua que melhor soubesse prometer, cantar uma fábula que a musicalíssima língua de Petrarca. Todavia era a filha primogénita da latina, que não contava no seu léxico, aliás sóbrio no essencial, o termo sim.

Pois D. Afonso Henriques não ligava grande importância ao prometer e ao faltar frente a frente a outros príncipes, no que provou ter em si o germe do prefeito homem das chancelarias.

Desmentindo-se, e não há que apontar no rol das prendas do primeiro rei faculdade tão lucilante como essa do ludíbrio verbal.

De resto, não está provado que não fosse João Peculiar ou o chanceler Julião que por ele fizessem esse jogo com pau de dois bicos em que os políticos modernos atingiram a subtileza máxima, aprendida nos mistifórios de Aristóteles e no ilusionismo dos prestidigitadores.

Mas se não fosse assim – com papas e bolos se apanham os tolos – era possível que ele, apenas pelo vigor do braço, virasse e amanhasse tão grande geira?

D. Afonso Henriques era religioso, tão maciçamente religioso como o exigia a política de resistência ao muçulmano, que ameaçava subverter o mundo ocidental, e com a Roma pontifícia a cabeça da liga neo-visigótica.

Para ele, e de modo geral, para todo o europeu, a religião tinha-se tornado uma espécie de epitélio da natureza humana.

Fazia assim parte da vida fisiológica dos indivíduos. Todos os actos vinham tocados de determinação eclesiástica. Daí, a estreita e prosaica inteligência que tinha de haver, e de facto havia tanto entre o espírito e Deus, ou entre o homem e o sacerdote, como entre o Príncipe e a Santa Sé.

Por isso mesmo o desrespeito ficava na mesma escala da familiaridade. A cada passo os reinantes infringiam pactos e concordatas celebradas com Roma, e o Papa, a cada passo, erguia o látego excomunicatório e fustigava os relapsos e perjuros.

Mas o Santo Padre tanto excomungava como desexcomungava. Da mesma maneira, os príncipes sabiam que a todo o tempo era hora de comprar o indulto, ou mesmo a salvação a poder de dinheiro.

O braço pontifício levantava-se como batuta e acudiam solícitas as pragas do Egipto, os gafanhotos, as lagartas, os ventos ruins e os ares pestilenciais.

Em Portugal, durante a primeira dinastia não houve monarca que não tivesse os seus problemas com a Cúria.

Roma era susceptível e ciosa das suas prerrogativas. Compreendia-se. Roma fora a mãe chocadeira da pintainhada latina.

Furtarem-se ao cumprimento das obrigações contraídas era negra e intolerável ingratidão.

Mas pagavam-no com língua de palmo, bastava o Sumo Pontífice alçar o breve da maldição.

D. Afonso Henriques sentiu várias vezes sobre si o pesado braço do pescador. Por ventura, as circunstâncias em que o facto se deu, cobertas hoje com o leve verdete do mito, mas sem que por isso tenham perdido a verdade local, constituem o episódio mais pitoresco e porventura shakspereano da sua existência agitada.

Lá porque as vozes de Dª Teresa, entre ferros, chegassem a Roma, ou o que é mais verosímil, os maravadis de oiro, que o infante ficara de contar para a burra de S. Pedro na qualidade de vassalo e obsequioso cristão, deixassem de tilintar a caminho da Cidade Eterna, o facto é que o bispo de Coimbra, de regresso a Portugal, recebeu o encargo de admoestar o rei. Admoestar e, se tanto se impusesse, lançar o interdito sobre o Reino.

D. Afonso Henriques recebeu com ânimo insofrido a reprimenda – que tinha o Santo Padre que meter o nariz onde não era chamado? – e o prelado tratou de cumprir o mandato que trazia, pelo que excomungou toda a terra, abalando para Roma como uma seta.

Sentiu-se muito o rei quando foi informado e, indo-se logo nessa manhã à Sé e mandado tocar para o Capítulo, disse aos cónegos:

 - Dai-me um Bispo…

- Bispo temos, como havemos de vos dar outro - respondeu um menos cobarde.

Extraído da Obra de Aquilino Ribeiro: "Príncipes de Portugal - Suas Grandezas e Misérias".
  

DONGA, PINXIGUINHA, HEBE e CHICO BUARQUE - PELO TELEFONE




Um pouco de história: Entre os séculos XVIII e XIX, nas cidades, desenvolveram-se dois ritmos musicais que marcaram a história da MPB (Música Popular Brasileira): o LUNDU e a MODINHA. O LUNDU, de origem africana, sensual, batida rítmica, dançante. A MODINHA, de origem portuguesa que trazia a melancolia, falava de amor, com uma batida calma e erudita. No início do séc.XX começam a surgir as bases do samba: dos morros e dos cortiços do Rio de Janeiro misturam-se batuques e rodas de capoeira com os pagodes e as batidas em homenagem aos orixás e o Carnaval começa a tomar forma com a participação, principalmente dos sons de origem africana de mulatos e negros ex-escravos.

1917 é um marco pois Ernesto dos Santos, O Donga, compôe aquele que é considerado o 1º Samba: Pelo Telefone aqui cantado pelo próprio, já velhote, com a intervenção do então jovem Chico Buarque.






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