OS MALEFÍCIOS DO PETRÓLEO
O Dr. Francisco Sarsfield Cabral, no nº 693 da Revista Visão, sob o título O Excremento do Diabo, denominação atribuída ao petróleo há 31 anos por Juan Pablo Alfonso co-fundador da OPEP, apresenta-nos um texto muito elucidativo sobre aquilo a que também poderíamos chamar os malefícios do petróleo.
Na verdade, de acordo com um estudo efectuado por uma Fundação do milionário George Soros e mencionado nesse artigo da Visão, entre o período de 1960 a 1990, os países produtores de petróleo cresceram duas a três vezes menos dos que não dispõem daquele recurso.
Mais estranho ainda é que o crescimento dos países produtores de petróleo abrandou após a década de 70 exactamente depois dos enormes aumentos do preço em consequência dos primeiros choques petrolíferos.
Em concreto, excepção feita à Noruega, as receitas do petróleo, na prática, têm-se traduzido em menos democracia, mais corrupção, mais guerras, mais golpes de Estado, mais ditadura, mais excluídos, mais armamentos, mais populações deslocadas, ets, etc…
E esta realidade, que o Dr. Sarsfield Cabral descreve com mais pormenor no seu artigo, merece uma reflexão e a partir dela sou levado a concluir que o homem não se promove a si próprio nem à comunidade a que pertence com “facilidades”, sejam elas receitas de petróleo ou quaisquer outras.
… Conta-se que Deus, no acto seguinte ao da criação, começou a distribuir as riquezas naturais pelos vários locais do mundo e perante a enorme concentração de riquezas num determinado local - o anjo que o assistia chamou-lhe a atenção ao que Ele respondeu:
-…”pois, tens razão, mas vais ver as pessoas que aí vou colocar…”
Temos, assim, que desde a “criação” do mundo existe uma relação de conflito entre pessoas e riquezas naturais das quais o petróleo é, neste momento, sem dúvida, a mais importante e mediática.
Falamos de riquezas naturais mas poderíamos falar de tudo quanto nos vem parar às mãos de forma gratuita, sem esforço, trabalho ou através de meros expedientes.
O Prof. Alfredo de Sousa, estúpida e precocemente falecido por atropelamento, em 1994 quando atravessava uma passadeira para peões e de quem fui aluno no primeiro ano em que ele leccionou, 1960/61, questionava-se a si próprio, nas aulas, sobre até que ponto as riquezas despejadas em Lisboa e por extensão em Espanha, na sequência das viagens que se seguiram aos Descobrimentos, não teriam sido, elas próprias, responsáveis pelas dificuldades crónicas que o nosso país tem sentido e continua a sentir em produzir a sua própria riqueza, “filha” do engenho e do trabalho eficiente, metódico e competitivo dos portugueses e à qual os nossos vizinhos espanhóis acederam mais rapidamente por motivos históricos relativamente recentes.
Não temos minas de carvão nem poços de petróleo que, reconheçamos, neste momento nos dariam algum jeito para disfarçar o deficit, mas não deixariam de ser, se assim fosse, o caminho - mais uma vez - das tais “facilidades” contra-natura.
Este é o momento, este é o teste, este é o desafio, o grande desafio com que os portugueses estão confrontados na sua história e, mesmo assim, com a ajuda de 17 mil milhões de Euros de ajudas Comunitárias de 2007 a 2013 que de nada servirão se não encontrarmos dentro de nós, com os nossos dirigentes políticos à cabeça, a verdadeira riqueza que consiste em Ambição, Trabalho e Competência, na certeza de que, caso não a encontremos, vamos ter que sofrer muito mais do que aquilo que muitos de nós já estão a sofrer.
A única e verdadeira riqueza de um país está na qualidade e valor dos seus habitantes, tudo o resto, por muito bom que possa ser, é efémero e quanto mais nos atrasarmos no desenvolvimento dessas qualidades e valências no chamado capital-humano, para o que muito tem contribuído a política dos subsídios, mais atrasamos e comprometemos o nosso futuro.