Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, outubro 13, 2012
ORGASMO FEMiNINO
O orgasmo feminino é uma coisa da
qual as mulheres percebem muito pouco, e os homens ainda menos. Pelo facto de
ser uma reacção endócrina, que se dá sem expelir nada, não se apresenta
nenhuma prova evidente de que aconteceu, ou de que foi simulado. Diante deste
mistério, investigações continuam, pes
A acompanhar este tema, deu no outro
dia uma entrevista na TV com uma conhecida sexóloga, que apresentou uma pes
Portanto, é preciso ter muito cuidado
porque a
|
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 217
Nacib passava, parava nas mesas. Na
Praça Rui Barbosa, quebrou caminho, cortou para a Praça Seabra. Havia gente na
rua, alguns a olhavam curiosos, dois outros a cumprimentaram. Conhecidos de
Nacib, fregueses do bar. Mas estavam tão empolgados com o acontecimento da
tarde que não ligaram.
Atingiu os trilhos da estrada, chegava
às casas pobres das ruas do canto. Mulheres damas, de última classe, passavam
por ela e a estranhavam. Uma a puxou pelo braço:
-
Tu é nova por aqui , nunca te vi…
Donde tu veio?
-
Do sertão – respondeu automaticamente. – Onde é que fica a Rua do Sapo?
-
Mais adiante. Tu vai para lá? Pra casa da Mé?
-
Não. Pró Bate-Fundo.
-
Tu vai lá? Tu tem coragem. Lá eu não vou. Hoje ainda menos, tá um fuzué dos
diabos. Tu quebra à direita e chega lá.
-Quebrou à direita na esqui na.
Um negro a segurou:
-
Onde vai, dengosa? – Olhou-a no rosto, achou-a bonita, beliscou-lhe a face com
os dedos fortes. – Onde tu mora?
-
Longe daqui .
-
Não faz mal. Vamos, dengosa, fazer um neném.
-
Agora não posso. Tou apressada.
-
Tá com medo que te passe o calote? Olha aqui .
Metia a mão no bolso, tirava algumas notas miúdas.
-
Tou com medo não. Tou com pressa.
-
Com mais pressa tou eu. Saí mesmo para isso.
-
E eu para outra coisa. Me deixa ir embora. Volto mais logo..
-
Tu volta mesmo?
-
Juro que volto.
-
Vou te esperar.
- Aqui
mesmo, pode esperar.
Saiu apressando o passo. Já perto do
Bate-Fundo – donde vinha barulhenta música de pandeiros e violão – um bêbado
atracou-se a ela, queria abraçá-la. Empurrou-lhe o cotovelo, ele perdeu o equi líbrio, agarrou-se a um poste. Da porta do Bate-Fundo,
na rua pouco iluminada saía um rumo de conversas, de gargalhadas e gritos. Ela
entrou. Uma voz chamou, ao vê-la:
-
Pra cá, morena, beber uma pinga.
Um velho tocava violão, um rapazola
batia pandeiro. Mulheres envelhecidas, demasiadamente pintadas, algumas
bêbadas. Outras eram cabrochas de extrema juventude. Uma delas, de cabelos
escorridos e face magra, não devia ainda ter qui nze
anos completos.
Um homem insistia para que Gabriela
viesse sentar-se a seu lado. As mulheres, as velhas e as mocinhas, olhavam-na
com desconfiança. Donde vinha aquela concorrente, bonita e excitante? Outro
homem também a chamava. O dono do bar, um mulato perneta, andava para ela, a
perna de pau fazendo um ruído seco ao pisar.
sexta-feira, outubro 12, 2012
E A ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO
NOBEL DA PAZ À UNIÃO EUROPEIA
A União Europeia é insubstituível: uma
espécie de cooperativa fortíssima criada pelos europeus que promove os seus
interesses morais e materiais. Ela é a base do bem-estar e da origem das suas
vantagens competitivas no mundo. A livre circulação de pessoas, bens, dinheiro
e serviços dentro do mercado interno; a gestão pela Comissão Europeia quer do
comércio dos 27 com o resto do mundo quer da concorrência e, dentro de poucos
anos, da energia e do ambiente; a moeda única; a promoção, dentro e fora de
portas, da decência cívica e política, são pilares essenciais do conforto e
segurança das populações e constituem fonte de influência que nenhum membro da
União só por si poderia ter agora ou no futuro.
Mas, no entanto…falta-lhe coração, porque
este ficou na pátria de cada um dos países que a compõem. Muita gente estaria
disposta a morrer pela sua pátria, provavelmente ninguém pela Europa.
O futuro Kaiser Guilherme II perguntou
ao seu mestre de equitação o que era mais importante para saltar obstáculos: os
cavalos, os cavaleiros ou os arreios?
-
“O coração, sire, o coração. O resto vai atrás”.
É
este, que falta à Europa porque continua lá, agarrado a uma história, a uma
língua, a tradições, usos e costumes vividos durante séculos dentro de espaços
delimitados por fronteiras mais ou menos estáveis. E quem consegue repartir o
coração quando se trata da terra onde nascemos, nasceram os nossos pais e os
pais dos nossos pais, um deles, porventura, morto nalguma guerra na defesa
dessa terra?
Talvez um dia, quando vier uma guerra, e
ela virá, e for necessário alguns de nós morrerem para defenderem a Europa,
então, um pouco dos nossos corações pátrios se comece a transferir para esse
nosso outro espaço mais alargado que se chama Europa.
Pelos vistos, amor e sangue, em certas
circunstâncias, estão juntos.
Entretanto, andamos adormecidos num
certo pacifismo esquecendo os meios militares necessários à nossa futura
segurança.
Lembram-se quando o Dr. Mário Soares, já
aqui há uns anos, falava no contributo financeiro que cada um de nós devia dar
para a constituição de um exército europeu?
-
Será que alguém vê nele um guerreiro ou um belicista? E, no entanto, ele estava
cheio de razão. Fundem-se histórias e culturas marchando lado a lado, comendo
das mesmas marmitas, participando nos mesmos exercícios e, se for preciso,
combatendo e morrendo para defender a nossa terra, a terra europeia que é uma
terra de liberdade, de direitos sociais e humanos como não há nenhuma outra à
face da terra.
Hoje mesmo foi recebida a notícia da
atribuição à União Europeia do Prémio Nobel da Paz. Para os responsáveis políticos
mais distraídos ou menos atentos, principalmente europeus, é preciso gritar,
mais que lembrar, que a União Europeia foi criada para garantir a paz numa
Europa que em 50 anos já tinha sido devastada por duas Grandes Guerras Mundiais, 1914/18 e 1939/45 e milhões de mortos.
Se esse projecto de Paz está neste
momento com dificuldades em se afirmar por motivos de natureza financeira, torna-se necessário avivar a consciência que o destino não está escrito em lado nenhum, constrói-se
no dia a dia, hoje, e mais valioso que o dinheiro é a vida sendo a paz a melhor
garantia para a manter.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaqui m que amava Lili Que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa
para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para
tia, Joaqui m suicidou-se e Lili casou-se
com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje, não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada
nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência
assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drumon de Andrade
ENTREVISTA FICCIONADA
COM
JESUS Nº 79 SOBRE O TEMA:
“A VONTADE DE DEUS?”
RAQUEL - Mas,
escute-me, nós tínhamos a reserva confirmada…
OFICIAL - Senhorita, já não há espaço no avião. Vão ter
que esperar o próximo vôo…
JESUS
- O que está acontecendo, Raquel?
RAQUEL - Que estes filhos de... de Israel, fizeram um
overbooking e não temos assentos.
JESUS - Fizeram o que?
RAQUEL - Teremos que esperar o outro vôo, pela tarde…
Bom, como dizia minha avozinha, por algo será. Quem sabe se entrássemos nesse
avião e… Deus sabe o que faz.
JESUS - Por
que metes Deus nessa história, Raquel?
RAQUEL - Porque, não foi o senhor mesmo que disse que
até os cabelos de nossa cabeça estão contados que não cai nem um fio de nossa
cabeça sem que Deus o permita?
JESUS
- Sim, eu disse.
RAQUEL - Pois então? Se isso acontece com um fio de
cabelo, imagine com um avião. Espere, que já estão me pedindo sinal dos
estúdios… Amigas, amigos das Emissoras Latinas, aqui
estamos, ainda no aeroporto do Sinai. A companhia vendeu mais passagens que
assentos no nosso vôo e nos deixou em terra. Mas a espera nos permitirá conversar com
Jesus Cristo, aqui , ao meu lado,
sobre o abandono na providência.
JESUS
- De que abandono estás falando, Raquel?
RAQUEL - O que o senhor sempre recomendou, que
deixássemos tudo nas mãos de Deus.
JESUS - “Deus proverá”, assim dizia Abraão a seu
filho.
RAQUEL - Exactamente. Porque as coisas acontecem quando
têm que acontecer. Por exemplo, eu tenho entrevistado o senhor todos estes
dias. Essa sorte era para mim. E o que é pra ti, ninguém te tira, não é assim?
JESUS - Parece,
Raquel, que está confundindo tâmaras com azeitonas.
RAQUEL - Por que eu tenho sido a única jornalista que
tem te entrevistado na sua segunda vinda?
JESUS - Porque
os outros se foram, porque tu e eu nos encontramos em Jerusalém. Ou já não
te lembras?
RAQUEL - Lembro. E penso que Deus dispôs bem as coisas.
Era… era a vontade de Deus.
JESUS
- Qual vontade de Deus?
RAQUEL - Que o senhor cruzasse o meu caminho. Para que
nossa audiência o escutasse… Isso era o que Deus queria.
JESUS - Não
metas Deus onde não cabe. Deus não tem nada a ver sobre tu estares lá na
explanada naquele dia.
RAQUEL - Mas o senhor disse que até os cabelos de…
JESUS - … de nossa cabeça estão contados. Porque
tem gente que se angustia, se desespera… Que não vive o dia de hoje por medo do
que vai acontecer amanhã. A cada dia lhe basta seu fardo, isso eu também disse.
RAQUEL - E isso não é o mesmo que deixar tudo nas
mãos de Deus?
JESUS - Ao
contrário. Isso é colocar tudo em tuas mãos. O que não fizeres com tuas mãos,
Deus não o fará por ti. As mãos de Deus são as tuas, Raquel.
RAQUEL - Pois muitos dos seus seguidores nos ensinam:
você vai bem? Você vai mal? Conforme-se, essa é a vontade de Deus. Se ganharem
na lotaria, obrigada meu Deus, o senhor me deu o prémio. E se perdem o emprego,
Deus meu, o senhor o tirou de mim.
JESUS - Também
dirão que os pobres são pobres por vontade de Deus e que sempre terá pobres
entre nós.
RAQUEL - Também dizem isso…
JESUS - Não, Raquel. Nenhuma vontade de Deus. Quem
pensa assim se parece com uma criança de colo que busca o calor da mãe para
sentir-se segura. Deus é nossa mãe, sim. E não nos abandona nunca. Mas, não vê
como as mães desmamam seus filhos para que comam outro alimento e cresçam e
caminhem sozinhos? Na verdade te digo, a vontade de Deus é… não acreditar na
vontade de Deus.
RAQUEL - E então?
JESUS - Então,
continua brigando com esses filhos de… Israel, com esses homens do avião para
ver quando se faz a vontade deles para podermos sair daqui .
RAQUEL - Vou fazer isso. Mas antes, despeço-me do
programa. Do aeroporto do Monte Sinai, Raquel Pérez, Emissoras Latinas.
A noite foi longa. Estão estoiradas.... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 216
Foi ver no relógio da sala, conversavam na cozinha:
- As nove
passadas. E se não tiver?
- Se não tiver?
– Coçou a carapinha. – O coronel tá na roça, a mulher é ruim da cabeça, num
vale a pena.
- Que coronel?
- Seu Melk. Tu
conhece coronel Amâncio? Um do olho cego?
- Conheço de
mais. Vai muito no bar.
- Pois também
serve. Se não encontrar o dito Loirinho, tu procura o coronel que ele dá um
jeito.
A sorte era a meninota não dormir no emprego. Ia para
casa após o jantar. Gabriela levou o negro Fagundes para o quarto dos fundos,
onde tantos meses vivera. Ele pediu:
- Me dá mais um
trago?
- Entregou-lhe
a garrafa da cachaça:
- Não beba de
mais.
- Vá sem susto.
Só mais um trago para terminar de esquecer. Morrer, matado de bala, não faço
questão. A gente morre brigando, rindo contente. Judiado de faca quero não. É
morte cum raiva, triste e ruim. Vi um homem morrer assim. Coisa feia de ver.
Gabriela qui s
saber:
- Porque tu atirou? Que necessidade tinha? Que mal te
fez?
- Pra mim não
fez nada. Foi pró coronel. Loirinho mandou, que podia fazer? Cada um tem seu
ofício, esse é o meu. Também pra comprar um pedaço de terra, eu e Clemente. Já
tá apalavrado.
- Mas o homem
escapou. Vai ver, tu nem ganha nada.
- Como escapou,
eu nem sei. Não era o dia dele morrer.
Recomendou-lhe não fazer barulho, não acender a luz, não
sair do quartinho dos fundos. No morro, a caçada continuava. O gato, passando
veloz por entre o mato, enganara os jagunços. Batiam os bosques, palmo a palmo.
Gabriela calçou uns velhos sapatos amarelos. O relógio
marcava mais pouco mais de nove e meia. Àquela hora já mulher casada não saía
sozinha nas ruas de Ilhéus. Só prostituta. Nem pensou nisso. Nem pensou tão
pouco na reacção de Nacib se viesse a saber, nos comentários dos que a vissem
passar.
O negro Fagundes fora bom para ela na caminhada, junto
com os retirantes. Carregara seu tio nas costas, pouco antes de ele morrer.
Quando Clemente a derrubara com raiva, ele surgira para defendê-la. Não ia
deixá-lo sem ajuda, com risco de cair nas mãos dos jagunços.
Matar era ruim, gostava não! Mas negro Fagundes outra
coisa não sabia fazer. Não tinha aprendido, só sabia matar.
Saiu,
trancou a porta da rua, levou a chave. Na rua do Sapo nunca estivera, ficava
para os lados da Estrada de Ferro. Desceu para a praia. Via o bar animado,
muita gente de pé.
quinta-feira, outubro 11, 2012
O MEDO
Oiçam com atenção. É preocupante. A sociedade de hoje é mais vulnerável do que parece. O capitalismo, o princípio do "máximo lucro", contem em si o gérmen da sua própria destruição. No futuro, tudo terá que ser repensado... seremos capazes?
GAROTO DE PROGRAMA DA 3ª IDADE
Sou um simpático senhor. Como tenho algumas horas
livres com insónias pela madrugada e precisando de ganhar uns extras, resolvi
também, ser um “velhinho de programa”.
- Sou idoso
charmoso com lindos olhos meio castanhos (pouco cobertos com cataratas).
- Cabelos
loiros (só dos lados)
- Atlético (sou
adepto, torcedor de futebol)
- Estou curado
(das doenças que tive)
- Minhas
medidas: Um metro e noventa (sendo um de altura e mais ou menos noventa de
largura)
- Se precisar
atendo em hotéis, residências, elevadores panorâmicos, etc…)
- Só não atendo em “drive-in” por causa de dores na coluna, Lordose e Hérnnia de CD porque a de Disco já quebrou…
- Na cama, dou
sempre 3… 3 Opções Sexuais para a parceira: - Mole, Dobrado e Enroladinho.
- Como fetiche
posso usar toucas de lã, pantufas e cachecóis coloridos.
- Outra
Graaaaaande Vantagem: Já tenho Parkinson o que ajuda muito nos preleminares…
- Além disso
Total Descrição… pois o Alzheimar faz-me
esquecer tudo o que fiz na noite anterior…
A delicadeza de uma imagem feminina |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 215
A rampa fazia-se mais
acentuada. Fagundes andava de gatinhas. Tinha medo agora. Não podia escapar. E
ali era difícil atirar, matar dois ou três como desejava, para que também o
matassem sem sofrimento, com umas quantas balas no corpo. Morte para um homem
como ele. Uma voz avisou por entre os golpes de facão:
- Vai te preparando, assassino, vamos te picar
a punhal!
Queria morrer de descarga de
bala, de uma vez, sem sentir. Se o pegassem vivo iriam judiar… Estremecia,
arrastando-se, dificilmente pelo chão. De morrer não tinha medo. Um homem nasce
para morrer quando seu dia chega. Mas se o pegassem vivo, iriam judiar, matá-lo
aos bocadinhos querendo o nome do mandante.
Uma vez no sertão, ele e uns
outros haviam matado assim um trabalhador da roça querendo saber onde estava
escondido um cujo qualquer. Picado de faca, de punhal afiado. Cortaram-lhe as
orelhas, arrancaram os olhos ao desgraçado. Assim não queria morrer. Tudo o que
desejava agora era uma clareira onde os pudesse esperar de arma na mão. Para
matar e morrer. Para não ser judiado como aquele infeliz no sertão.
E encontrou-se ante o
precipício. Só não caiu porque havia uma árvore bem na margem, nela se segurou.
Olhou para baixo, impossível enxergar. Ladeou para a esquerda, descobriu uma
rampa quase a pique, adiante. O mato fazia-se mais ralo, algumas árvores
cresciam. O bater de tacões distanciava-se. Os perseguidores entravam agora no
mato grosso, antes do precipício. Adiantou-se para a rampa, começou a descê-la
avançando para a frente num esforço de desespero. Não sentia os espinhos,
rasgando-lhe a pele, sentia, isso sim, a ponta dos punhais no peito, nos olhos,
nas orelhas.
A rampa terminou, a uns dois
metros do chão firme. Agarrou nuns galhos, deixou-se cair. Ouvia ainda o ruído
dos golpes de facão. Caiu sentado sobre o mato alto, sem quase fazer barulho.
Machucou-se no braço a segurar o revólver. Pôs-se de pé. Ante ele, o muro de um
qui ntal, baixo. Saltou. Um gato
assustou-se ao vê-lo, fugiu para o morro. Ele esperou, encostado à sombra do
muro.
Nos fundos da casa havia
luzes. Suspendeu o revólver, atravessou o qui ntal.
Viu uma cozinha iluminada. E Gabriela lavando uns pratos. Sorriu, não havia
outra igual, mais bonita do mundo.
De como a Srª Saad envolveu-se
em política, rompendo a tradicional neutralidade de seu marido, e dos atrevidos
e perigosos passos dessa senhora da alta-roda em sua noite militante.
O negro Fagundes riu, o
rosto inchado dos espinhos venenosos, a camisa suja de sangue, as calças rotas:
- Eles vai passar a noite caçando o negro. E o
negro aqui bem do seu, tirando prosa
com Gabriela.
Riu também Gabriela, serviu
mais cachaça:
- O que tem de fazer?
- Tem um moço de nome Loirinho. Tu conhece
ele?
- Loirinho? Já ouvi nomear. Faz tempo, no bar.
- Tu procura ele. Marca um lugar para mim
encontrar.
- Onde vou achar?
- Ele tava no Bate-Fundo, lugar bom para
dançar. Na Rua do Sapo. Não deve tá mais Marcou oito horas. Que horas é?
quarta-feira, outubro 10, 2012
Morreu o Nunes.
Pelas contas de um outro colega meu, o
Fernando, presença assídua em todos os almoços mensais de Curso, na penúltima
quarta-feira de cada mês, já lá vão catorze daquele grupo de rapazes que no
início do Ano Lectivo de 1959/60 se encontaram pela primeira vez no Largo do
Príncipe Real, ao cimo do Bairro Alto, em Lisboa, e foram colegas durante três
anos no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina.
A lei da vida, paulatinamente, vai
fazendo a sua ceifa. Os que restam, naturalmente, estão envelhecidos mas o
Nunes não estava bem, muito gordo e com dificuldades em respirar… Quando me
separei dele, no último almoço em que esteve presente, tive o pressentimento
que era a última vez que o via, por isso, já cá fora do restaurante, no momento
dos abraços e apertos de mão, fiquei parado no passeio acompanhando com um
olhar de despedida a sua figura avantajada que se afastava para sempre.
Depois disso, tivemos a informação de que
estava internado no Hospital e o resto foi o desfecho esperado.
Instintivamente, ponho o relógio do tempo a
andar para trás e lá está o Nunes: jovem, bem parecido, irradiando confiança,
no átrio da sala de aulas, falando alto, chamando a si as atenções, num grupo
de rapaziada do qual, quase metade, já partiu.
Partir, é uma maneira dizer, está na
nossa linguagem, faz parte da nossa cultura, pressupõe um destino, uma morada,
um local.
Se o Nunes partiu, para onde foi? Alguém
o sabe fora de uma qualquer crença religiosa? Que pensaria o Nunes sobre isto?
Teria tido medo?
Mark Twain dizia:
- «Não tenho medo da morte.
Estive morto durante milhões de milhões de anos antes de nascer e não senti o mais
pequeno incómodo por isso.»
O Nunes fez o seu caminho, viveu a sua
vida, teve essa fantástica experiência: conheceu, aprendeu e, acima de tudo,
jogou com as suas emoções e sentimentos na intrincada teia das relações humanas
e… chegou ao fim, sem dramas, ponto final. A sua vida prossegue nos seus
descendentes.
Disse Emily Dickinson, poetisa
americana: «Por não voltar jamais é que é tão doce a
vida»
O Nunes teve a sorte de morrer porque
viveu, coube-lhe essa rara oportunidade, veio do nada e de parte alguma e a ela
regressa.
O meu colega Fernando tem uma lista
mental secreta em que nos colocou a todos numa ordem cronológica para a data de
“partida”. Parece maqui avélico mas
para mim não tem nada de mal, tal como a morte também não tem. Ele não deseja a
morte a nenhum de nós, é bom de ver, apenas procura ler sinais e a partir deles
coloca-nos numa “bicha”. Ele é um rapaz divertido, tem sentido de humor… Não
foi difícil, por exemplo, perceber que o Nunes era o próximo dessa lista.
A propósito do falecimento do meu colega
Nunes vou transcrever, na íntegra, o epitáfio que o Prémio Nobel de 1973 pelos
seus estudos em Etiologia, Richard Dawkins, destinou para o seu funeral:
- «Vamos morrer e por isso
somos nós os bafejados pela sorte. A maior parte das pessoas nunca vai morrer
porque nunca vai chegar a nascer. As pessoas potenciais que poderiam ter estado
aqui no meu lugar, mas que na
verdade nunca verão a luz do dia, excedem em número os grãos de areia do
deserto do Sara. Seguramente que nesses fantasmas que nunca vão chegar a nascer
se incluem poetas maiores do que Keats e cientistas maiores do que Newton.
Sabemos isto porque o conjunto de pessoas potenciais permitidas pelo nosso ADN
é esmagadoramente superior ao conjunto de pessoas com existência efectiva. Não
obstante esta ínfima probabilidade, sou eu, somos nós que, na nossa
vulgaridade, aqui estamos.”
A Vida é doce porque não volta
mais…
Dificuldades em
Agachar...
Ele era completamente narcisista, estilista e apanhava muito sol....
Uma manhã parou nu em frente ao espelho para admirar o seu corpo e notou que estava todo bronzeado, à exceção do "dito cujo".
Então decidiu fazer algo. Foi à praia, despiu-se completamente e cobriu-se todo de areia, menos aqui lo...
Duas velhinhas vinham caminhando pela praia. Uma delas usava um bastão para ajudar a caminhar.
Ele era completamente narcisista, estilista e apanhava muito sol....
Uma manhã parou nu em frente ao espelho para admirar o seu corpo e notou que estava todo bronzeado, à exceção do "dito cujo".
Então decidiu fazer algo. Foi à praia, despiu-se completamente e cobriu-se todo de areia, menos a
Duas velhinhas vinham caminhando pela praia. Uma delas usava um bastão para ajudar a caminhar.
Ao ver 'aquela coisa'
saindo da areia, a que tinha o bastão começou a dar voltas ao redor,
observando.
Quando se deu conta do que era, disse:
Quando se deu conta do que era, disse:
- 'Não há justiça no
mundo'.
A outra anciã, que também observava com curiosidade, perguntou-lhe a que se referia.
A do bastão respondeu:
-Olha isso!!!
-Aos 20 anos, dava-me curiosidade;
A outra anciã, que também observava com curiosidade, perguntou-lhe a que se referia.
A do bastão respondeu:
-Olha isso!!!
-Aos 20 anos, dava-me curiosidade;
-Aos 30, dava-me
prazer;
-Aos 40,
enlouquecia-me;
-Aos 50, tinha que
pedir;
-Aos 60, rezava por
ele;
-Aos 70, esqueci-me
que existia.
Agora que tenho 80, crescem no solo, e eu nem sequer consigo
agachar-me.
Na língua portuguesa a água é femenino... |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 214
- Espinhos desgraçados…
Aquela agonia continuou
enquanto a noite chegava. Em certos momentos, as vozes estavam tão vizinhas que
ele esperava ver um homem atravessar a frágil cortina de arbustos, entrar no
buraco. Enxergava, por entre os galhos, um vaga-lume a voar.
Não sentia medo, mas
começava a impacientar-se. Assim chegaria atrasado ao encontro. Ouvia
conversas. Falavam em cortá-lo à faca, queriam saber quem o mandara. Não tinha
medo mas não queria morrer.
Logo agora, quando os
barulhos estavam começando e havia aquele pedaço de terra a comprar, de
sociedade com o Clemente.
O silêncio durou certo
tempo, a noite caíra rápida como cansada de esperar. Ele também estava cansado
de esperar. Saiu do buraco, dobrado para a frente, os arbustos eram baixos.
Espiava cautelosamente. Ninguém nas proximidades. Teriam desistido? Era capaz,
com a chegada da noite. Ergueu-se, olhou, não enxergava senão as árvores
próximas, o resto era negrume.
Fácil orientar-se. Em sua
frente, o mar. Atrás era o porto. Para a frente devia ir, sair próximo à praia,
rodear os rochedos, procurar o Loirinho. Já não estaria no Bate-Fundo. Receber
seu dinheiro bem ganho, merecia até um agrado a mais, por aquela perseguição. À
sua direita a luz de um poste, marcando o fim de uma subida, outro no meio.
Mais além, fracas e raras, luzes de casas. Começou a andar. Mal deu dois passos
afastando o mato, e a primeira tocha apareceu subindo a estrada. Um rumor de
vozes no vento. Estavam voltando, com tochas acesas, não haviam desistido como
ele pensara.
As primeiras tochas chegavam
ao alto, onde estavam as casas. Pararam à espera dos outros, conversando com os
moradores. Perguntando se ele não se mostrara.
- A gente quer ele vivo. Pra judiar.
- Vamos levar a cabeça para Itabuna.
Pra judiar… Sabia o que isso
significava. Se tivesse de morrer, era matando um ou dois que ia suceder. Tomou
novamente do revólver, esse finado devia ser mesmo importante. Se saísse com
vida, exigiria um agrado maior.
De súbito, a luz de uma
lanterna eléctrica cortou a escuridão, bateu no rosto do negro. Um grito:
- Ali!
Um movimento de homens a
correr. Abaixou-se, rápido, entrou pelo mato. Ao sair do buraco, rebentara
galhos de arbustos, já não servia como esconderijo. Os perseguidores
aproximavam-se. O negro atirou-se para a frente, animal acossado, rompendo
espinheiros, rasgando a carne das espáduas, pois ia curvado.
A descida era em rampa, o
mato mais cerrado, arbustos virando árvores, os pés topavam com pedras. O
barulho indicava muitos homens. Desta vez não se haviam dividido, marchavam
juntos. Estavam perto. O negro rompia com dificuldade o mato grosso, duas vezes
caiu, agora muito ferido em todo o corpo, o rosto a sangrar.
Ouviu golpes de facão
cortando o mato, uma voz comandando:
- Não pode escapar. Na
frente é o precipício. Vamos fazer um cerco – e dividia os homens.
terça-feira, outubro 09, 2012
Luiz Meneghi
Amigos, estou passando este vídeo porque ele é muito
emocionante. Toca-nos profundamente e parece que os mídia no Brasil não lhe deram a devida divulgação. Este homem nunca teve aulas de canto ao contrário de outros concorrentes a este concurso como Susan Boyle ou Paul Potts. Ele precisa de um milhão de visitantes para conquistar o prémio...
|
OS PIGMEUS
“Por detrás dos nossos
juízos morais há uma gramática moral universal, uma faculdade da mente que foi
evoluindo ao longo de milhões de anos de maneira a incluir um conjunto de
princípios que construísse um leque de sistemas” quem o diz é o biólogo Mar Hauser da Universidade de Harver.
No fundo, tratava-se de demonstrar que a moral com os valores que
hoje são defendidos universalmente não foram conqui sta
de uma qualquer religião nem a ausência desta dá lugar a comportamentos
imorais.
Mas a este propósito vale a pena contar um episódio passado no
seio de uma comunidade de pigmeus e que foi descrita por Luca Cavalli-Sforza,
(professor de genética em Standford e que durante 40 anos estudou a evolução do
Homem) no seu livro Quem Somos Nós.
A comunidade dos Pigmeus, os homens mais antigos do planeta,
caçadores e colectores, fazem parte das últimas sociedades primitivas ainda
existentes mas que, infelizmente, não têm futuro.
Estão reduzidos a pequenos grupos de indivíduos rodeados de
economias monetárias, rurais e industriais que por todo o lado destroem os seus
habitats e o seu estilo tradicional de vida.
De resto, todos os caçadores-recolectores actualmente existentes
ainda têm costumes comuns entre si, embora estejam a desaparecer ou por
extinção física ou por conversão a outros modos de vida.
Os pigmeus vivem sempre em pequenos grupos, não têm uma
organização hierárqui ca, geralmente
não têm chefes e a sua vida social baseia-se no respeito mútuo. Normalmente,
têm uma ética avançada que pode constituir uma surpresa em populações de um
escalão económico e um primitivismo tão baixo.
De facto, esse primitivismo não está no plano moral, simplesmente
têm uma concepção do mundo e da vida muito diferente da nossa.
Quando os holandeses, chegados à cidade do Cabo, começaram a
expandir-se para norte com as suas manadas, ocuparam o território dos indígenas
e, dessa forma, começaram os incidentes com os locais.
Para os caçadores-recolectores o sentido da propriedade é
diferente porque a propriedade individual é rara e não é muito importante.
Existem, no entanto, alguns direitos, como o do território de caça
e aquele que for apanhado a caçar num território que não seja o seu tem de
pagar uma multa que não é em dinheiro, visto que eles nem o conhecem, mas em
géneros.
As relações dos pigmeus com os seus vizinhos agricultores não é
isenta de problemas até porque eles não esquecem que os actuais terrenos
agrícolas eram antigamente floresta, seus terrenos de caça, que foram
convertidos através do abate das árvores, sem que lhes tivesse sido pedido
qualquer autorização ou dada qualquer compensação.
Quando necessitam, os agricultores recrutam os pigmeus para
trabalharem nas lavras pagando-lhes apenas com bananas e mandioca, ambas
paupérrimas em termos nutritivos, e estes percebem perfeitamente que são
explorados e considerados como animais e por isso, sem quebrarem relações com
eles por não lhes convir, vingam-se roubando comida quando podem e
pregando-lhes partidas.
Por exemplo, no regresso para os seus acampamentos têm dois
caminhos: um, que eles utilizam e é um pouco escondido, o outro, maior e mais
largo, destina-se aos agricultores que os vêm procurar e que eles utilizam como
casa de banho cobrindo depois com folhas os seus próprios excrementos…
Mas há a história, notável, de um pigmeu que roubava bananas de
noite no campo de um agricultor e, dada a persistência da ocorrência, este
montou uma emboscada ao ladrão e quando ouviu barulho disparou e feriu-o
mortalmente.
Antes de morrer, porém, o pigmeu fez questão de pedir desculpa ao
agricultor que tinha disparado sobre ele dizendo que a culpa era sua e que não
devia ter roubado as bananas.
Não consta, e este aspecto é frisado pelo Professor, que este
pigmeu estivesse sob a influência ou mantivesse qualquer contacto com
religiosos cristãos.
Os pigmeus são os mais hábeis e corajosos caçadores que se
conhecem, juntamente com os bosquímanes do deserto do Kalahari, e essa
extraordinária perícia só foi possível desenvolver a partir de um conhecimento
total, no caso dos pigmeus, da floresta e de todas as formas de vida que ali
proliferam adqui rido ao longo de
muitos milhares de anos de vivência no seu habitat.
Foram eles que caçaram os elefantes cujo marfim, nós portugueses,
carregámos para a Europa desde a nossa chegada a África nos séculos XV e XVI e
que eram transaccionados pelos agricultores que serviam de intermediários e que
já então os enganavam.
Os pigmeus caçam à sua maneira e não precisam de espingarda.
Como se sabe, são muito pequenos e parece quase ironia que sejam
os homens mais pequenos do mundo a matar os animais maiores.
Esperam pela carga dos elefantes fixando na terra uma grande lança
dirigida ao peito do animal e no último momento escapam; ou então, aproximam-se
contra o vento sem se denunciarem, metem-se debaixo deles e atingem-nos nos
flancos, na barriga ou cortam-lhes os tendões das pernas e isto ao fim de 4 ou
5 dias de caminhada na floresta com temperaturas entre os 35 e os 40 graus
centígrados e uma humidade de 100%.
Podemos então concluir, perante estas “perfomances”, que os
pigmeus são os grandes mestres da caça… de admirar é que também o sejam na
ética e na moral.
Já não restam duvidas: a vida veio da água. |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 213
Andou por entre as mesas,
trocou palavras com uns e outros, todos sentiam estar o coronel a desafiar a
desafiar uma acusação. Ninguém se atreveu sequer a tocar no assunto. Amâncio
cumprimentou outra vez, subiu a Rua Coronel Adami em direcção à casa de Ramiro.
Os homens no morro haviam
já varejado todas as bibocas, procurando na gruta, batido os bosques. Por mais
de uma vez estiveram a poucos passos do negro Fagundes.
Subira o morro empunhando
ainda o revólver. Desde que Aristóteles saltara da canoa, ele esperava o bom
momento para atirar. Com o descampado do Unhão quase deserto àquela hora,
decidiu-se, alvejou o coração. Viu o coronel caindo, o mesmo lhe fora mostrado
por Loirinho no porto, abalou.
Um tipo o perseguiu, ele o
pôs a fugir com um tiro. Meteu-se entre as árvores, a esperar a chegada da
noite. Mascava um pedaço de fumo. Ia ganhar um dinheiro grande. Finalmente os
barulhos estavam começando. Clemente sabia de pedaços de terra para vender, não
tirava a cabeça daqui lo, imaginavam
botar uma rocinha juntos.
Se os barulhos
esquentassem, um homem como ele, Fagundes, de coragem e pontaria, com pouco
tempo se arranjava na vida. Loirinho tinha-lhe dito que o encontrasse no
Bate-Fundo, no começo da noite, antes do movimento iniciar-se. Lá pelas oito
horas. Fagundes estava calmo. Descansou um pouco, começou a andar para o alto,
com ideias de descer pelo outro lado apenas a noite caísse, entrar pela praia,
ir ao encontro de Loirinho.
Passou tranqui lo ante várias casinholas, chegou a dar boa-noite
a uma rendeira. Meteu-se no mato, procurou um lugar abrigado, deitou-se a
pensar, esperando o escurecer. Dali enxergava a praia. O crepúsculo
prolongava-se, Fagundes podia ver, levantando um pouco a cabeça, o sol abrindo um
leque vermelho cor de sangue no extremo do mar.
Pensava no desejado pedaço
de terra. Em Clemente, coitado, ainda a falar em Gabriela, não a podia
esquecer. Nem sabia que ela tinha casado, agora era uma dona rica, na cidade
lhe contaram. Lentamente as sombras cresceram. Um silêncio no morro.
Quando se encaminhou para
a descida, enxergou os homens. Quase se encontra com eles. Recuou para os
bosques. Dali observou-os entrarem nas casas. Seu número crescia. Dividiam-se em grupos. Um mundo de
gente armada. Ouviu pedaços de conversas. Queriam pegá-lo vivo ou morto,
levá-lo para Itabuna. Coçou a carapinha.
Era assim importante o
cujo a quem atirara? A essa hora estaria estendido, no meio das flores,
Fagundes estava vivo, não queria morrer, ia ser dele e de Clemente. Os barulhos
estavam apenas começando, muito dinheiro a ganhar. Os homens, em grupos de
quatro e cinco, andavam para os bosques.
O negro Fagundes entrou
para o mato onde era mais denso. Os espinhos rasgavam-lhe as calças e a camisa.
O revólver na mão. Ficou uns minutos acocorado entre os arbustos. Não tardou a
ouvir vozes:
- Alguém passou por aqui .
O mato está pisado. Esperava ansioso. As vozes se afastaram, ele prosseguiu
pelo mato cerrado. Sua perna sangrava, um talho grande, espinho mais brabo. Um
animal fugiu ao vê-lo; assim descobriu um buraco profundo, tapado pelos
arbustos. Ali se meteu. Era tempo. As vozes novamente próximas:
- Aqui
teve gente. Veja…