Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, novembro 08, 2014
Bonnie Tyler It's - A Heartche
Conseguiu a proeza incrível de ser a única artista a conseguir pôr uma música em nº 1 no Reino Unido e nos Estados Unidos ao mesmo tempo.
Mas onde é que ela foi descobrir esta voz?...
numa aldeia Alentejana.
Um dia...
O padre estava em frente da igreja quando viu passar a Antónia de uns 9 ou 10 anos, pés descalços, franzina, meio subnutrida, ar angelical, conduzindo umas 6 ou 7 cabras.
Era com esforço, que a criança conseguia reunir as cabras e fazê-las andar.
O padre observava o
seu trabalho.
Começou a
imaginar se aqui lo não seria um caso de
exploração, de trabalho infantil, e foi conversar com a menina.
- Olá, Antónia. O que estás a fazer com essas cabras?
- Vou levá-las ao bode para as cobrir, Sr. Padre. Vou
levá-las para o monte do Ti Chico Carlos.
- És capaz de me explicar uma coisa, Antónia! Porque
não é o teu Pai ou os teus irmãos a fazerem isso?
- Já fizeram... Mas elas não emprenham... Tem que
ser mesmo um bode!...
Impossível não olhar... |
O CELIBATO
DOS
SACERDOTES
O
celibato pratica-se em muitas tradições religiosas. Nos mosteiros do Budismo,
no Jainismo, no Hinduísmo… e foi também praticado no Judaísmo pelos essênios,
no tempo de Jesus.
Os sacerdotes do Antigo Testamento, não, eles casavam-se e tinham família e também se casavam os presbíteros e dirigentes das primeiras comunidades cristãs, tal como aparece nos textos bíblicos do Novo Testamento.
O historiador e escritor chileno Ivan Ljubitic Vargas escreveu muitos textos sobre este tema e são dele os dados sintéticos que apresentamos de seguida sobre a história da lei do celibato:
- Nos séculos I, II e III a maioria dos presbíteros eram casados. A partir do século IV foi-se impondo a ideia de que o matrimónio e o sacerdócio eram incompatíveis. No Concílio de Elvira (Ano 306) aprovou-se um decreto que assinalava. “Todo o sacerdote que durma com sua esposa na noite antes de celebrar a missa perderá seu cargo” e o Concílio de Niceia (Ano 325) determinou, pela 1ª vez, que os sacerdotes não podiam ser casados mas esta disposição não foi acatada.
O Concílio de Tours II (567) estabeleceu que “todo o clérigo que seja encontrado na cama com a esposa será excomungado por um ano e reduzido ao estado laico”.
O Papa Pelágio II (575 – 590) ordenou “que não se repreendessem os sacerdotes sempre que não tenham passado as propriedades da Igreja para as suas esposas e filhos”. Este decreto (Ano 580) é revelador: pela 1ª vez expunham-se explicitamente as verdadeiras razões materiais e económicas da exigência do celibato sacerdotal: a herança das propriedades.
Desde o Concílio de Niceia até ao Séc. X tiveram lugar uma série de Sínodos Locais tocaram no tema do celibato. Em alguns exigia-se aos sacerdotes casados que abandonassem as suas esposas, noutros permitia-se que vivessem com elas e ainda noutros, a convivência sempre que o sacerdote se comprometesse a ter apenas uma mulher.
Neste período de seis séculos houve onze Papas filhos de Papa e de outros clérigos.
No Séc. VII a maioria dos sacerdotes franceses estavam casados. No 8º Concílio de Toledo (Ano 653) estabeleceu-se que as esposas dos sacerdotes podiam ser vendidas como escravas. O Papa Leão XI que governou a Igreja no Séc. XI estabeleceu que as mulheres dos sacerdotes podiam servir como escravas no palácio romano de Letrão.
Os sacerdotes do Antigo Testamento, não, eles casavam-se e tinham família e também se casavam os presbíteros e dirigentes das primeiras comunidades cristãs, tal como aparece nos textos bíblicos do Novo Testamento.
O historiador e escritor chileno Ivan Ljubitic Vargas escreveu muitos textos sobre este tema e são dele os dados sintéticos que apresentamos de seguida sobre a história da lei do celibato:
- Nos séculos I, II e III a maioria dos presbíteros eram casados. A partir do século IV foi-se impondo a ideia de que o matrimónio e o sacerdócio eram incompatíveis. No Concílio de Elvira (Ano 306) aprovou-se um decreto que assinalava. “Todo o sacerdote que durma com sua esposa na noite antes de celebrar a missa perderá seu cargo” e o Concílio de Niceia (Ano 325) determinou, pela 1ª vez, que os sacerdotes não podiam ser casados mas esta disposição não foi acatada.
O Concílio de Tours II (567) estabeleceu que “todo o clérigo que seja encontrado na cama com a esposa será excomungado por um ano e reduzido ao estado laico”.
O Papa Pelágio II (575 – 590) ordenou “que não se repreendessem os sacerdotes sempre que não tenham passado as propriedades da Igreja para as suas esposas e filhos”. Este decreto (Ano 580) é revelador: pela 1ª vez expunham-se explicitamente as verdadeiras razões materiais e económicas da exigência do celibato sacerdotal: a herança das propriedades.
Desde o Concílio de Niceia até ao Séc. X tiveram lugar uma série de Sínodos Locais tocaram no tema do celibato. Em alguns exigia-se aos sacerdotes casados que abandonassem as suas esposas, noutros permitia-se que vivessem com elas e ainda noutros, a convivência sempre que o sacerdote se comprometesse a ter apenas uma mulher.
Neste período de seis séculos houve onze Papas filhos de Papa e de outros clérigos.
No Séc. VII a maioria dos sacerdotes franceses estavam casados. No 8º Concílio de Toledo (Ano 653) estabeleceu-se que as esposas dos sacerdotes podiam ser vendidas como escravas. O Papa Leão XI que governou a Igreja no Séc. XI estabeleceu que as mulheres dos sacerdotes podiam servir como escravas no palácio romano de Letrão.
Apesar de tudo isto,
no Séc. VIII, San Bonifácio informou o Papa que na Alemanha quase nenhum bispo
ou sacerdote era celibatário. No Concílio de Aix-La-Chapelle (Ano 836)
admitiu-se que em conventos e mosteiros realizavam-se abortos e infanticídios
para encobrir as relações sexuais entre os clérigos.
Há que ter em conta que, desde o Séc. V a Igreja se convertera na entidade mais poderosa da Europa e a maior latifundiária e os espaços económicos de maior poder foram os mosteiros e, entre estes, sobressaía o Mosteiro de Cluny, no Séc. X, que serviu de modelo a centenas de outros por toda essa Europa.
À cabeça desta rede de mosteiros estava o Papa de Roma como proprietário de imensas riquezas e latifúndios. Naquele tempo, Papa, Cardeais, Arcebispos, Bispos e Abades pertenciam todos à nobreza feudal que ampliava permanentemente as suas propriedades graças aos laicos que faziam doações e testamentos às autoridades religiosas para obter o perdão para os seus pecados.
Quando nos séculos X e XI se iniciaram as sublevações dos servos contra os senhores, a Igreja temeu pela sorte de tantos bens e por isso, os dirigentes do “Movimento Cluny” esforçaram-se por imporem regras severas e, entre elas, incluiu-se o celibato. Em 1073 chegou a Papa o monge Hildebrando, chefe do Movimento Cluny, que tomou o nome de Gregório VII.
Ele concebeu um Estado Mundial encabeçado pelo Papa como soberano absoluto e para o conseguir requeria que as terras propriedade da Igreja não se desmembrassem. Daí, esta sua frase:
- “A Igreja nunca se verá livre das garras do laicado enquanto os sacerdotes não se libertarem das garras das esposas.”
Em 1095, o Papa Urbano II ordenou a venda das esposas dos sacerdotes como escravas deixando os filhos ao abandono tendo, mais tarde, decretado como inválidos os matrimónios clericais.
Apesar de todos estes esforços, não foi fácil impor o celibato de tal forma que, no Séc. XV, 50% dos sacerdotes estavam casados incluindo oito Papas.
Era tão normal que os sacerdotes tivessem concubinas e não cumprissem com a lei do celibato que os bispos instauraram a chamada “renda de putas” que o sacerdote pagava ao bispo sempre que tinha relações sexuais. Esta cobrança terminou em 1435.
É só no Concílio de Trento (1545-1563) que se implantou definitivamente a disciplina do celibato obrigatório para os sacerdotes e proibida a ordenação de homens casados.
Celibato Opcional
Há que ter em conta que, desde o Séc. V a Igreja se convertera na entidade mais poderosa da Europa e a maior latifundiária e os espaços económicos de maior poder foram os mosteiros e, entre estes, sobressaía o Mosteiro de Cluny, no Séc. X, que serviu de modelo a centenas de outros por toda essa Europa.
À cabeça desta rede de mosteiros estava o Papa de Roma como proprietário de imensas riquezas e latifúndios. Naquele tempo, Papa, Cardeais, Arcebispos, Bispos e Abades pertenciam todos à nobreza feudal que ampliava permanentemente as suas propriedades graças aos laicos que faziam doações e testamentos às autoridades religiosas para obter o perdão para os seus pecados.
Quando nos séculos X e XI se iniciaram as sublevações dos servos contra os senhores, a Igreja temeu pela sorte de tantos bens e por isso, os dirigentes do “Movimento Cluny” esforçaram-se por imporem regras severas e, entre elas, incluiu-se o celibato. Em 1073 chegou a Papa o monge Hildebrando, chefe do Movimento Cluny, que tomou o nome de Gregório VII.
Ele concebeu um Estado Mundial encabeçado pelo Papa como soberano absoluto e para o conseguir requeria que as terras propriedade da Igreja não se desmembrassem. Daí, esta sua frase:
- “A Igreja nunca se verá livre das garras do laicado enquanto os sacerdotes não se libertarem das garras das esposas.”
Em 1095, o Papa Urbano II ordenou a venda das esposas dos sacerdotes como escravas deixando os filhos ao abandono tendo, mais tarde, decretado como inválidos os matrimónios clericais.
Apesar de todos estes esforços, não foi fácil impor o celibato de tal forma que, no Séc. XV, 50% dos sacerdotes estavam casados incluindo oito Papas.
Era tão normal que os sacerdotes tivessem concubinas e não cumprissem com a lei do celibato que os bispos instauraram a chamada “renda de putas” que o sacerdote pagava ao bispo sempre que tinha relações sexuais. Esta cobrança terminou em 1435.
É só no Concílio de Trento (1545-1563) que se implantou definitivamente a disciplina do celibato obrigatório para os sacerdotes e proibida a ordenação de homens casados.
Celibato Opcional
Recentemente, nos anos 70, surgiu em
Espanha e noutros países da Europa e do mundo o Movimento para o Celibato
Opcional (MOCEOP), integrado por sacerdotes católicos casados, que continuam
vinculados a comunidades cristãs “de iguais”, sem hierarqui a
e que trabalham com suas famílias para uma Igreja integrada por comunidades de
pessoas corresponsáveis todas elas para levar ao mundo
a boa notícia da justiça e da equi dade de Jesus da Nazaret.
Nota - Na sociedade onde Jesus viveu e pregou era muito estranho que as pessoas adultas não vivessem acasaladas. Para os homens não era admissível e para as mulheres era uma desgraça. Não passaria pela cabeça de Jesus proibir aos seus seguidores de casar.
O texto explica o que aconteceu e porque aconteceu. Hoje, já não faz qualquer sentido esta proibição mas os meios reaccionários e conservadores da Igreja nunca o permitirão.
Vai me querer ou arrenegar de mim? |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 93
- É verdade? Vai cuidar da loja? Tomar
conta de mim?
-Fique descansada. - E mais não disse.
5
Ela viera no interesse de marido,
convenceu-se Fadul ao ouvi- la em desespero. Marido
que pusesse termo ao incómodo do estado de viuvez e assumisse a loja,
garantindo os lucros.
Para conqui stá-lo
jogava cacife alto, apostava o corpo e a honra. Pura sabedoria ou santa
ingenuidade? Lisura ou má fé? Paixão devoradora ou calculado embuste?
Desfalecente, Jussara, nobre e
romântica, proclamava amor à primeira vista:
-Vim
porque desde o dia que lhe vi na feira fiquei desatinada, não tive mais cabeça
pra pensar a não ser em si, feito uma maldita.
Agora estou em suas mãos pra ser feliz ou me
desgraçar de vez.
- Voltou a perguntar: - Vai me querer ou vai arrenegar de
mim?
O momento não era favorável à reflexão,
a tirar a limpo dúvidas, suspeitas, incertezas, menos ainda a assumir
compromissos.
Em lugar de responder à aflita
indagação, prendeu a bugra nos braços, não podia esperar nem um minuto mais.
Ela deu-lhe a boca a beijar, lábios carnudos, sumarentos, língua atrevida,
dentes de morder; ele a percorreu e a atravessou.
Seria resposta positiva aquele afã
desesperado, a doida posse?
Com certeza sim, pois como poderia Fadul
viver daí em diante órfão da respiração, do suor, do perfume, da vertigem de Jussara?
Os corpos engalfinhados, confundidos,
percorreram as areias do deserto, cruzaram as águas do oceano, atingiram o fim do
mundo em ânsia e gozo, duas potências, duas potestades, um potro selvagem, uma
égua em cio.
Quando ao cair da tarde Jussara recompôs
o coque e montou
o cavalo pampa trazido pelo pajem - moleque sestroso e perfumado - Fadul, por fim, comprometeu-se ao beijá-la em
despedida:
-
Daqui a uns dias a gente acerta tudo
em Itabuna.
Antes de sair, Jussara colocara o
derradeiro trunfo sobre a mesa, melhor dito sobre a cama. Enquanto
vestia os farrapos da calça rendada, punha as anáguas e o corpinho, a blusa e a
saia negras, viúva honesta e inconsolável, avisou que o acontecido jamais voltaria
a suceder: quem qui sesse deitar com
ela para praticar a doce e perigosa brincadeira de fazer neném - assim se
expressava, púdica, baixando os olhos - teria antes de levá-la ao padre e ao juiz.
Esta terá sido apenas uma das Viragens |
A
VIRAGEM
VIRAGEM
Ontem tive a oportunidade de ver e ouvir o nosso 1º
Ministro Passos Coelho dizer em quatro momentos diferentes: 2011, 2012, 2013 e
2014 que estávamos perante anos de viragem.
Parece anedótico mas é verdade: nós vimo-lo e ouvimo-lo
em todos esses momentos diferentes que foram retirados dos arqui vos de televisão pelo crítico e comentador, ex-líder
parlamentar do Bloco de Esquerda, Francisco Louça no seu comentário semanal das
sextas-feiras.
A vida dos portugueses tem sido, portanto, nos últimos
anos, no dizer de Passos Coelho uma viragem permanente de tal forma que, de
tanto virar, já nem devemos saber para que lado estamos virados.
Esta manipulação grosseira dos cidadãos por parte
destes jovens ambiciosos e destituídos de escrúpulos políticos que nos governam
é descoroçoante.
Nunca me enganei sobre o que nos esperava após o
governo de Sócrates. Quando alguém é obrigado a entregar-se nas mãos dos
credores o que acontece é inevitavelmente sacrifícios e humilhações mas, o que
dispensávamos bem é que entre nós e eles se intrometessem estes jovens políticos
que troçam de nós com aquele ar sério e compenetrado próprio de representação
teatral.
Sabe-se hoje que a austeridade vivida nestes últimos
anos acabou por ser um preço inútil em vez de reparador. Não temos as reformas
estruturais do Estado – veja-se o que voltou a acontecer com a colocação dos
professores – de que tanto precisamos para abrir novas perspectivas de futuro, continuamos
com a mesma Despesa do Estado e estamos sem saber para onde foi o brutal
aumento de impostos.
O que sabemos é que as grandes empresas públicas foram
vendidas, já não são nossas, restando-nos a TAP que está presa por um fio.
Disseram, então, quando chamámos a troika, que estávamos
falidos, que só tínhamos dinheiro para pagar aos funcionários durante mais dois
ou três meses mas o que aconteceu de então para cá foram medidas punitivas que
levaram ao encerramento de milhares de pequenas empresas, um aumento enorme do
desemprego e à fuga de mais de 200.000 portugueses desesperados sem futuro em
Portugal.
Apesar de tudo, Passos Coelho diz que estamos melhor e
os portugueses sorriem de desdém sobre essas melhorias que devem dizer respeito às empresas que têm agora um campo de recrutamento
de trabalhadores mais fácil, amplo e barato.
Temos um Orçamento para 2015 no qual ninguém parece acreditar porque se baseia em expectativas irrealistas em que somos
peritos.
Não foi assim com as auto-estradas e as pontes que
cada vez estão mais longe do tráfego que se esperava para elas?...
Falhar previsões foi sempre a nossa especialidade.
Somos de um optimismo relativamente ao futuro que diz bem do irrealismo que vai por certas cabeças - se é que vai - e depois é muito fácil para os governantes sustentarem as
suas decisões em metas que nunca são alcançadas e cujas consequências são pagas
pelos cidadãos.
Continuamos, entretanto, a aguardar o ano da "viragem" que já não vai acontecer porque Passos Coelho já não tem espaço para prometer
nada, chegou ao fim.
Resta-lhe apenas o tempo necessário para, em véspera de
eleições, meter medo aos portugueses com o despesismo do Partido Socialismo, do Sócrates e dos seus acólitos.
Quem sabe se eles não irão esquecer as “viragens” que
ele prometeu anos a fio e dar-lhe novamente o voto para não correrem riscos de
mais bancas rotas?...
A demagogia e o embuste em política não têm limites.
sexta-feira, novembro 07, 2014
Aurea - Okay Alright
Impossível não gostar desta voz. Pegue-se por onde se pegar, é talento puro, não precisa de artifícios, está lá tudo mas ninguém diria que é uma alentejana de gema nascida em Alvalade, Santiago do Cacém, em 1987.
DA
MORTE?
( Richard Dawkins)
Mark
Twain, considerado por William Faulkner, o primeiro escritor verdadeiramente
americano, dizia:
«Não tenho medo da morte. Estive
morto durante milhões e milhões de anos antes de nascer e não senti o mais
pequeno incómodo por isso».
Richard Dawkins disse precisamente o
mesmo mas de uma forma mais elaborada que aqui
reproduzi no meu texto de 1 de Maio sob o título “Falando sobre Religiões”, mas
que vale a pena reescrevê-lo em parte novamente:
«A vida é uma extraordinária
oportunidade e eu que vou morrer considero-me bafejado pela sorte porque a
maior parte das pessoas nunca vai morrer porque nunca vai chegar a nascer.
…Como poderemos nós, então, os poucos
privilegiados, que contra todas as probabilidades, ganhamos a lotaria do
nascimento, atrever-mos a queixar-nos do nosso inevitável regresso a esse
estado anterior do qual a vasta maioria nunca despertou?».
Há poucas semanas, para me poupar a
um desagradável exame, submeti-me a uma anestesia geral e quando, deitado na
marquesa, aguardava a injecção da anestesia, pensei que me ia sujeitar a uma
simulação da morte.
Quando, pouco tempo depois acordei,
fiquei a pensar que ter estado desligado da vida pouco mais de uma hora ou o
resto da eternidade, teria sido precisamente o mesmo: o vazio total e, afinal,
sem ter custado nada…
Contudo, as sondagens vão no sentido
de que aproximadamente 95% das pessoas acreditam que vão sobreviver à própria
morte.
Quase tenho vontade de dizer, por
brincadeira, que os homens vivem durante tantos anos que se habituam a estar
vivos e depois… não querem morrer.
Claro que a natureza dotou os animais
e naturalmente, o homem também, do instinto da sobrevivência, mas do ponto de vista evolutivo, para quê
estar vivo durante tantos anos?
O arqui tecto
Niemeyer faleceu em 2012 com 105 anos o
nosso Manuel de Oliveira com 104 continua a trabalhar nos seus filmes.
São exemplos relativamente aos quais
me apetece dizer que deviam ficar cá para sempre mas a maioria esmagadora dos
nossos velhos limitam-se a aguardar a morte sentados, por aí, nos bancos dos
jardins, tristes, inúteis, abandonados como se não tivessem préstimo algum.
O meu vizinho do 5º esq. que lá vai
suportando os seus noventa anos com a ajuda da bengala e tendo por companhia a
solidão, as dores e os desgostos da vida desabafou comigo aqui há tempos:
«No dia em que morrer vai ser o mais
feliz da minha vida…»
Mas a natureza sabe o que faz e não é
por acaso que após a idade da procriação continuamos a poder viver o dobro dos
anos. É que as nossas crianças não só precisam dos pais como, igualmente,
precisam dos avós, mais disponíveis para os proteger e ensinar assegurando-lhes
uma oportunidade para chegarem a adultos que, sem eles, provavelmente não
teriam.
Mas querer estar vivo é uma coisa,
continuar a viver depois de morrer é outra…
Bertrand Russel, no seu ensaio de
1925 «What I Believe» escrevia:
«Acredito que quando morrer vou
apodrecer e nada do meu ego irá sobreviver. Não sou jovem e amo a vida mas
desdenharia tremer de medo ante a perspectiva da aniqui lação.
Apesar de tudo, a felicidade só é
verdadeiramente felicidade porque tem que ter um fim do mesmo modo que o
pensamento ou o amor não valem menos por não serem eternos.
Muitos foram aqueles que pisaram o
cadafalso com orgulho; esse mesmo orgulho deveria, por certo, ensinar-nos a
pensar, verdadeiramente, o lugar que o homem ocupa no mundo»
Para quem teme a morte, acreditar que
tem uma alma imortal pode ser consolador – a menos, evidentemente, que esteja
convencido que vai para o inferno ou para o purgatório.
As falsas crenças podem ser tão
consoladoras como as verdadeiras, até ao momento do desengano. Se um médico
mente ao doente dizendo-lhe que ele está curado o consolo é idêntico ao de
outro homem a quem seja dito, com verdade, que ele está curado.
A mentira do médico só é eficaz até
os sintomas se tornarem inequívocos mas um crente na vida depois da morte nunca
poderá, em última análise, ser desenganado.
As pessoas religiosas que dizem
acreditar na vida depois da morte se fossem realmente sinceras deveriam reagir
como o abade Ampleforth quando o cardeal Basil Hume lhe disse que estava a
morrer:
«Parabéns! Que bela notícia. Quem me
dera ir com Vossa Eminência».
Este abade era um verdadeiro crente
mas é exactamente porque esta história é tão rara e inesperada que prende a
atenção e quase diverte.
Por que razão todos os cristãos e
muçulmanos não dizem a mesma coisa ou algo parecido?
Quando um médico diz a uma mulher
devota que não lhe restam senão alguns meses de vida por que razão não sorri
ela, emocionada, como se tivesse ganho umas férias nas Seychelles?
Por que razão é que os amigos e
familiares, crentes como ela, não a sobrecarregam de mensagens para os que já
partiram?
«Dá saudades ao tio Alberto quando o
vires…».
Por que não falam assim as pessoas
religiosas na presença dos que estão à beira da morte?
Será que não acreditam em todas as
coisas em que era presumível acreditarem?
Ou talvez acreditem mas têm medo do
“processo” de morrer que pode ser doloroso e desagradável com a agravante de
que, ao contrário de todos os outros animais, não podem ir ao veterinário pedir
uma morte indolor.
E, neste caso, por que são as pessoas
religiosas as mais ferozes opositores à eutanásia e ao suicídio medicamente
assistido?
Não seria de esperar que as pessoas
mais religiosas fossem menos inclinadas a agarrarem-se despudoradamente à vida
seguindo o exemplo do abade Ampleforth?
A razão oficial é de que provocar a
morte é sempre pecado mas por quê considerar isso pecado se se acredita
sinceramente que, desse modo, está a acelerar uma ida para o céu?
Para quem acredita numa vida depois
da morte morrer é apenas a transição de uma vida para outra vida e, sendo
assim, se ela for dolorosa porquê prescindir da anestesia quando não se
prescinde dela para tirar o apêndice?
Daqueles que vêm na morte não uma
transição mas sim o fim é que se poderia, francamente, esperar resistência à
eutanásia e ao suicídio medicamente assistido, no entanto, são esses que são a
favor.
Uma enfermeira com longos anos de
trabalho à frente de um lar de idosos pôde verificar que as pessoas religiosas
eram as que mais medo tinham da morte.
Se este comportamento for comprovado
estatisticamente poder-se-á perguntar, afinal, qual o poder da religião como
reconforto na hora da morte?
No caso dos católicos será o medo do
purgatório, uma espécie de Ellis Island (um dos principais pontos de entrada
dos emigrante para os EUA) divino, uma antecâmara para onde vão as almas se os
seus pecados não são suficientemente graves para as lançarem logo no inferno
mas, por outro lado, precisam ainda de alguma reciclagem antes de poderem ser
admitidas no céu.
Na Idade Média a Igreja dava
indulgências a troco de dinheiro o que, na prática, significava menos dias de
purgatório antes de entrar no céu.
A Igreja Católica desenvolveu muitos
esquemas para arranjar dinheiro mas a venda das indulgências deverá figurar,
seguramente, entre os maiores contos-do-vigário de toda a História.
Em 1903 o Papa Pio X ainda tinha uma
tabela para calcular o número de dias de remissão do purgatório que cada membro
da hierarqui a tinha direito a
conceder:
- 200 dias os cardeais;
- 100 “ “ arcebispos;
- 50 “ “ bispos;
E, desta maneira, controlando as
auto-estradas de acesso a Deus, um Bispo na Idade Média poderia ficar
milionário como aconteceu com o de Winchester que fundou em 1379 o New College.
Quem fosse muito rico garantia para
sempre o futuro da sua alma até porque o pagamento poderia ser também em
orações que podiam ser rezadas por terceiras pessoas a favor das almas dos
ricos que, naturalmente, lhes pagavam para isso.
Mas o que é curioso e constitui a
chave de todo este negócio é, realmente, o «purgatório» que, no caso de não
existir e as almas irem todas directamente para o céu ou para o inferno, já não
se justificavam as rezas porque, ou eram desnecessárias, na eventualidade das
almas terem ido para o céu, ou as almas tinham ido para o inferno e já não
tinham salvação dispensando as rezas por idêntica razão.
No mínimo, engenhoso…mas a vida, a
nossa vida, é tão significativa, tão plena e maravilhosa que se basta a si
própria e dispensa bem todas estas manigâncias.
Conta-se que Bocage,
ao chegar a casa um certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do qui ntal.
Chegando lá, constatou que um ladrão
tentava levar os seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo
e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os seus amados patos, disse-lhe:
-Oh, bucéfalo
anácrono! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas
sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação,
levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade,
transijo... mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão
digno e honrado, dar-te-ei com a minha bengala fosfórica bem no alto da tua
sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qui nquagésima
potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso,
diz:
-Doutor, afinal levo
ou deixo os patos?
Fui a culpada. Não fugi a tempo. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 92
Não parou de incriminar-se enquanto o
homenzarrão levantava-se da cama, fechava a porta e se despia: nu, crescia de
tamanho, tornava-se ainda maior.
Da cama, estirada, olhava-o de soslaio,
um marido e tanto!
Trabalhador e cobiçoso, presumido e tolo,
igual a Kalil Rabat, bobo alegre nascido para cabresto e chifre. Com a vantagem
de ser grandão, bem-parecido e possuir aquele pé-de-mesa.
Jussara chegava com as mãos cheias: o
resplendor do rosto, a tentação do corpo, dinheiro a rodo, a mais sortida loja
de tecidos de Itabuna, a insolência e o dengue, o fogaréu.
Que mais podia desejar um tabacudo
bodegueiro confinado em remota caixa-pregos?
Não lhe parecendo ser aquela hora a mais
apropriada para dialogar sobre a honra perdida da viúva
e de como restaurá-la, o turco escutava em silêncio, impaciente, a magoada
ladainha, interminável. Jussara não se calou sequer quando ele a libertou das botas,
grata providência.
Patética, assumiu a responsabilidade do fatídico
descaminho:
-
Fui a culpada, não fugi a tempo. Não me importo, se acabou.
Antes que de repente ela decidisse dar
por findo o pagode penas começado, Fadul estendeu-se ao lado da cabocla, com a mão
disforme e delicada acariciou-lhe os seios, apertando-os de mansinho;
cutucou-lhe a bunda e a beliscou de leve, correndo os dedos pelo rego.
Jussara estremeceu e suspirou, aninhou-se no peito
veludoso, sentiu a borduna contra as coxas, prosseguiu entre desmaios:
-
Abusou de mim, eu deixei, agora pensa que sou uma perdida, como há de querer
casar comigo?
- Elevou a voz fazendo-a clara e precisa ao afirmar:
- Juro pela alma de
minha mãe que foi a primeira vez que pequei em toda a minha vida.
Nunca tive outro homem fora de meu marido.
Perdi a cabeça, pobre de mim!
As pernas nuas se cruzaram,
entreabriram-se as coxas de Jussara e a voz desfaleceu de novo:
-
Perdi minha honra... Estou em suas mãos...
- acariciou o rosto de Fadul, pôs mel na voz para confessar: ... mas nem
assim me arrependo, homem malvado! Cegou meus olhos, me seduziu mas nem
desonrada me arrependo - palavras boas de ouvir: inflamam o peito, inflamam o
coração, incendeiam os qui bas de um macho
bom de cama.
Apesar da prudência com que costumava agir
em assuntos assim relevantes e melindrosos, Fadul decidiu-se a prometer; para
cumprir, quem sabe, depois de esclarecer e comprovar certos pormenores:
-
Não se importe: Vou por esses dias a Itabuna e lá a gente conversa e resolve.
Não se preocupe com a loja.
quinta-feira, novembro 06, 2014
IMAGEM
Este foi o famoso Mapa Côr de Rosa. Portugal, com a sua mania das grandezas, pretendeu exercer a soberania sobre os territórios entre Angola e Moçambique, nos quais hoje se situam a Zâmbia, o Zimbábue e o Malawi, numa vasta faixa de território que ligava o Oceano Atlântico ao Índico.
Tal pretensão chocou com o interesse da Inglaterra em criar uma faixa de território que ligasse o Cairo, a Norte, à cidade do Cabo na África do Sul.
Este choque de interesses custou-nos a humilhação do Ultimatum britânico de 1890 que nos obrigou, pela força, a deixar livre todo o corredor entre Angola e Moçambique. O sentimento de raiva sentido então pelos portugueses está expresso na letra do Hino Nacional: "contra os canhões marchar, marchar!"
....Nessa altura ainda não sabíamos da humilhação da troyka...
Roberto Carlos - Mulher de 40.
A carreira de Roberto Carlos está recheada de êxitos musicais de muito difícil escolha... este é apenas um deles.
A Bíblia não é um
livro de história. Muito menos é um livro de ciência, um livro que relate o
início do universo, como argumentam com fanatismo, ignorância e arrogância, os
criacionistas.
O geneticista
Richard Dawkins faz esta analogia: Se a história do Universo fosse escrita à
razão de um século por página, que espessura teria o livro? Do ponto de vista
de um criacionista, toda a história do universo, nessa escala, caberia
confortavelmente num livro de bolso. E a resposta científica para a mesma
pergunta? Para acomodar todos os volumes desta história, na mesma escala,
exigiria uma prateleira de 16
milhas de comprimento. Isto mostra a magnitude da
diferença entre a verdadeira ciência e o ensino do criacionismo.
Ricardo sorridente. |
Nunca Fernando Pessoa
imaginou que serviria de
inspiração para estes versos...
"Ó Ricardo Salgado, quanto do teu sal
São in
Quantas das tuas acções nos enganaram?
Quantas obrigações nos arruinaram
Quantas dívidas ficaram por pagar,
Apenas para que fosses tu a mandar?
Valeu a pena? Dividem-se as opiniões…
Tudo vale a pena se só pagares três milhões!
Deus à Banca o risco e a glória deu...,
Mas foi o Espírito Santo que de lá, sacou o seu!!!"