sábado, outubro 10, 2009

VÍDEOS


UMA PEQUENINA MÁQUINA DE "FALASAR"... UM ESPANTO!



AMÁLIA RODRIGUES - BARCO NEGRO

TONY ORLANDO - TIE A YELLOW RIBBON ROUND

CANÇÕES BRASILEIRAS

BENITO DI PAULA - RETALHOS DE CETIM


TIETA DO AGESTE
EPISÓDIO Nº 256



- Tu demorou, bem. Pensei que não vinha mais. Logo hoje que estou com pressa.

- Com pressa?

Compromisso na pensão, obrigatório: dona Zuleika exige a presença de todas as raparigas numa festa que dá naquele dia, já deve ter começado. Ri, gaiata:

- Uma festa de família, bem. Quem mais devia lá estar era tu se não fosse usar batina. Não posso demorar: tem jeito não, bem.

Ricardo viera de Mangue Seco com a intenção de passar a noite inteira com Maria Imaculada. Uma noite completamente livre, sem necessidade de voltar correndo para junto de Tieta. Concebera um plano audaz: fazê-la saltar a janela da alcova, possui-la sem pressa na mesma cama larga, sobre o mesmo colchão fofo de barriguda onde se deita com a tia quando estão em Agreste. Descobrindo na extrema juventude do corpo, na ousadia do comportamento da pequena rapariga, traquinas, meiga e atrevida, aquela outra Tieta, pastora adolescente a correr cabras e homens nos outeiros e barrancos; ainda hoje recordada no burgo apesar do respeito devido à paulista rica, viúva do comendador do Papa, com prestígio e dinheiro a rodo. Petulante e ávida pastora a desafiar os preconceitos, a viver sua vida sem peias, sem rédeas, sem medo. Um dia surrada e expulsa.

Passara a semana sonhando com o corpo da menina, revendo nas exuberâncias actuais de Tieta as formas apenas nascentes de Maria Imaculada. Na intenção de regalar-se com ela até o raiar do dia, chegara de Mangue Seco e a encontra ocupada, tendo de voltar para a festa. Maldita festa!

Debaixo dos chorões, foi o tempo de se estender sobre Imaculada, sentir os seios recentes, as ancas redondas, a curva do ventre. Com o coração pesado, sem alegria, com raiva da festa, dos fregueses da pensão, com ciúmes daquele que a levará para a cama. Na noite do sábado de comemorações, os dois filhos de Perpétua, os dois sobrinhos de Tieta, conheceram o travo do ciúme, sentiram vontade de morder os punhos, de rebentar caras de homens e esbofetear mulheres, vontade de chorar.

Com sofreguidão e raiva, retendo lágrimas, assim a teve.

- Tu hoje está de mais, bem. Vai me matar de gozo.

Compõe a saia, foge a rir, propõe:

- Amanhã posso ficar a noite todinha, se tu quiser. Hoje mais não, bem.

Ricardo perde a cabeça, marca encontro para o dia seguinte à mesma hora, ao apagar das luzes, sob a mangueira. Maluquice pois prometera à tia regressar a Mangue Seco logo após a missa de Domingo. Tieta o espera indócil, dona actual de cada minuto e gesto seu. Sobram-lhe apenas as obrigações de seminarista, os compromissos com a igreja. Por sorte, o inventário ainda não está concluído. Falta muito pouco mas serve como desculpa.

Por dona Carmosina manda um bilhete. Não pode abandonar padre Mariano naquela emergência, o Cardeal marcara prazo. Mas, na segunda feira, sem falta, logo cedinho embarcará
de volta. Assinou: seu sobrinho que a adora e tem saudades, Cardo.

sexta-feira, outubro 09, 2009



A ACTUAL SITUAÇÃO E O NOVO QUADRO POLÍTICO




O desemprego não é, automaticamente, sinónimo de pobreza mas num país com esquemas de protecção social limitados e um nível baixo de investimento que reduz a possibilidade de novos empregos, constitui um forte motivo de preocupação e, em certos casos, factor de trauma psicológico.

Vagas de trabalhadores são colocadas fora dos circuitos de trabalho ou porque sectores inteiros de actividade perderam a competitividade a favor de outros países que trabalham com condições imbatíveis ou porque através de uma estratégia de redução de custos, agravados na actual conjuntura, as grandes empresas fundem-se e quando assim é sobram sempre trabalhadores.

Estamos numa fase de profunda transformação e embora nem tudo mude de um dia para o outro é contudo demasiado rápido para que a aprendizagem da mudança possa ser feita sem enormes custos humanos e sociais, não obstante as medidas que o governo possa tomar no campo da educação, formação profissional, apoios ao emprego e dos esquemas de protecção social.

Numa conjuntura destas era importante que o Estado Social se pudesse manter e até aumentar para atender à instabilidade do inevitável emprego precário mas as receitas do Estado que dependem dos impostos e estes do aumento da riqueza não deixam margem.

Por isso, a necessidade de um enorme cuidado e sensibilidade mas também rigor com os critérios que presidem às despesas de cariz social.

Neste campo, alguns dos programas levados a cabo nos últimos anos precisam de ser afinados e completamente despidos de aspectos demagógicos para ganhar votos nas urnas.

A cultura do subsídio/dependência tem que ser erradicada.

De acordo com os velhos e sábios ensinamentos chineses é preferível ensinar as pessoas a pescar do que dar-lhes um peixe todos os dias. Infelizmente, depois de ensinar as pessoas a trabalhar, é preciso que elas tenham a oportunidade de o fazer porque melhorar a posição no mercado de emprego é importante mas não suficiente e o "direito ao trabalho", justa reinvindicação, pode não passar disso mesmo.

Numa sociedade capitalista, como aquela em que vivemos, mesmo devidamente regulamentada, os empregos são esmagadoramente criados pelo investimento privado e relativamente a eles os Estados apenas os podem disputar, o que não é fácil porque estamos numa situação de crise de confiança generalizada, não só pelo número exagerado de desempregados, aqui e em todo o mundo, como igualmente pelos próprios empregados que temem pelo futuro dos seus empregos e tudo isto gera diminuição do consumo e consequentemente retracção do investimento e logo produção de menor riqueza e emprego, naquilo a que se pode chamar de autêntica "pescadinha de rabo na boca".

A Globalização veio trazer uma nova realidade que sendo boa para as grandes empresas que dispõem de recursos técnicos e financeiros e se podem movimentar por esse mundo fora foi, no entanto, para a maioria das pequenas e médias empresas e para os seus trabalhadores de terríveis consequências.

Sabia-se que ia ser assim, havia até datas marcadas mas como fazer parar uma vida que está a decorrer?

Criaram a ilusão de que o dia de ontem seria igual ao de hoje, o de hoje ao de amanhã e por aí fora e depois, simplesmente, deixou de haver dia.

Conheci empresários que aplicaram os lucros obtidos em muitos anos de trabalho em novas instalações para as suas fábricas às quais, no outro dia, não sabiam o que fazer porque o mercado, ou o que julgavam ser o mercado, desaparecera. O que sobrou foi um sentimento de impotência e de desespero como se o mundo, de repente, lhes tivesse faltado debaixo dos pés.

Sem expectativas, restaram, para os mais corajosos e inconformados, os caminhos da emigração como já vem sendo hábito na história do nosso país em situações de maiores dificuldades.

O que tem vindo a acontecer é uma alteração profunda do nosso tecido económico e isto significa que temos de passar a fazer outras coisas, algumas das que já fazíamos, mas de outra maneira.

Para se conseguir isto quase que são precisos novos portugueses, com mais capacidades, outro dinamismo, imaginação, espírito de risco, com uma instrução e educação apontadas para a produção de riquezas estratégicas - menciono aqui o que se está a passar no sector da produção de vinhos de marca com enorme qualidade, produzido por jovens altamente especializados tirando partido de terrenos e micro-climas que oferecem essas possibilidades mas que já existiam sem serem devidamente aproveitados - .

Durante alguns anos, talvez mais de uma geração, teremos um número de desempregados de longa duração superior ao que tivemos antes porque a aprendizagem a fazer tem que ser interiorizada e a recuperação dos níveis de confiança que levam ao investimento para a saída da crise é gradual e não se sabe o tempo que leva.

Para muitos, especialmente os mais velhos, o futuro emprego será apenas uma miragem e é para estes que os esquemas de apoio social têm que ser principalmente dirigidos pois já perderam em definitivo a riqueza que era a sua juventude.

O país tem uma longa história de dinheiros fáceis e aventuras, adquirido ao longo de séculos com as especiarias, os escravos, o comércio do açúcar, da borracha, do volfrâmio e, mais recentemente, os Quadros Comunitários de Apoio. o último dos quais está a decorrer.

A nossa riqueza tem que ser produzida por nós e resultar do nosso trabalho, criatividade, esforço, inteligência individual e colectiva.

A partir de agora, da geração dos meus netos, finalmente, tudo se vai decidir: o nosso futuro deixou de poder estar adiado, estamos lançados na europa e no mundo, em competição, sem impérios, sem mais ajudas.
Nove séculos de uma história em comum finalmente postos à prova de uma forma como nunca esteve. Temos uma sociedade pacífica, uma democracia estabilizada, uma juventude cheia de sonhos e de ambições mas também de muitos vícios herdados e alguns recentes.

Temos que fazer como há quinhentos anos: esquecer as fronteiras e darmo-nos ao mundo jogando com os mesmos atributos de então, agora na conquista de mercados e de trabalho mas olhando para dentro do nosso país de uma forma diferente, com mais respeito e seriedade.

Receio pela nossa classe política que deveria ter muita gente que não está lá e cujo qualidade do contributo se faz sentir a falta e este é um aspeto preocupante. O protagonismo político e o interesse pessoal e partidário parece sobrepor-se cada vez mais aos interesses do país e o desafio, que no actual quadro saído das eleições, está colocado ao futuro governo de José Sócrates deve-nos merecer muita atenção porque em democracia, mais cedo ou mais tarde, somos nós, cidadãos eleitores, que vamos decidir e para o fazermos bem devemos estar muito atentos ao que se vai passar.

Sócrates é a personagem chave mas agora a oposição vai ter um papel que não teve anteriomente. Nas últimas eleições o secretário geral do PS esteve sózinho "sentado no banco dos réus" e, pelos vistos, os eleitores "não o condenaram" e ele foi reeleito.
Nas próximas eleições os portugueses irão julgá-lo novamente mas, nessa altura, ao seu lado estará também no "banco dos réus" a oposição.
Iremos então assistir a um enorme jogo de "passa culpas" que se começa já a desenhar e eu temo que os "impasses", que naturalmente vão acontecer, atrazem resoluções que a nossa sociedade precisa e não a tornem aliciante ao investimento, o tal que gera a riqueza e postos de trabalho.

Não vão ser fáceis os novos tempos que aí vêm... é certo que já tivemos anteriormente governos de minoria mas a situação agora é outra, de muito maiores dificuldades e os personagens também não são os mesmos.

CANÇÕES BRASILEIRAS


JOANA (Brasil) - DESCAMINHOS

ANITA WARD - RING MY BELL


AMÁLIA RODRIGUES - ESTRANHA FORMA DE VIDA
(Outro fado, igualmente lindo, cuja letra é da autoria de A. Rodrigues. Prova como conseguiu estabelecer "uma aliança entre um gosto apurado de sentido musical e de ritmo, com simplicidade verbal e naturalidade de expressão que ela soube processar com requintada destreza, entre a ingénua frescura da tradição e da poesia do povo e o trato aturado da poesia mais elaborada dos escritores do seu reportório")




TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 255



Acomoda-se Perpétua na vizinhança do dono do curtume que a acolhe com cortesia, levantando-se para lhe dar passagem. Senta-se Ricardo junto de Carol cujo olhar se mantém distante e indiferente. Modesto Pires observa com o rabo do olho: um seminarista não chega a ser um homem, não há perigo.

Muito pior é quando aparece algum forasteiro e, vendo a cadeira dando sopa na vizinhança da gloriosa mulata, logo a ocupa. Com a pior das intenções.

Apagam-se as luzes, a sessão começa com a projecção de um Cine jornal atrasado de meses. Ricardo sente a ponta de um sapato tocar-lhe o pé. O toque se repete, se afirma, encostam-se os sapatos. Depois as pernas. Macia compressão, calor suave; tudo a medo, movimentos mínimos, uma gostosura. Os olhos na tela, Carol movimenta-se na cadeira, imperceptivelmente: juntam-se os joelhos. Termina a projecção da Actualidade da Semana, acendem-se as luzes, Modesto Pires espicha o olho, Carol está encolhida na cadeira, ao lado da acompanhante, afastada o máximo do rapazola da batina. Inicia-se o filme e tudo recomeça, pouco a pouco, devagar, pé, perna, joelho. Em certo momento, pela metade do filme, Carol deixa cair o leque, abaixa-se e ao recolhê-lo, tímida e atrevida, acaricia a perna de Ricardo que se arrepia todo. Prazer sem nome, desejo sem tamanho, emocionante novidade, um quase nada, delicadeza e contenção, toques subtis, temerosos, suavíssimos. Com Cinira fora violento, quase feroz.

Apenas o filme termina, Carol parte, seguida pela empregada, sem olhar para ninguém, enquanto Modesto Pires acompanha Perpétua e Ricardo durante um quarteirão. Queixa-se de estar sozinho em Agreste, longe da família, cuidando do assunto do coqueiral que se arrasta, se eterniza. Ainda não chegaram a um acordo, devido às artimanhas do tal advogado de Josafá, uma raposa, e a maluquice desse imbecil do Fidélio que cedeu seus direitos logo a quem? Ao Comandante:

- Um absurdo, dona Perpétua: existem pessoas que são contra a instalação em nosso município de uma grande indústria que só nos trará riqueza.

O Comandante é um deles, nem parece homem viajado.

Perpétua eleva os olhos para o céu, em mudo apoio à revolta do ilustre cidadão mas Ricardo, imprudente, envolve-se na conversa:

- Riqueza? Vai trazer poluição, isso sim. Miséria.

Modesto Pires, ante tanto atrevimento, fecha a cara, engrossa a voz:

- Não se meta no que não é da sua competência, jovem.

Devido ao engenheiro e a Carol, motivos diversos mas ambos poderosos, Ricardo não tolera o dono do curtume:

- Se vierem poluir Mangue Seco, a gente toca eles de lá a pontapés – não conta que já o fizeram nem como; prometera guardar segredo.

- Oh! – Modesto Pires só falta cair de quatro.

Perpétua estranha o filho:

- Ricardo, que é isso? Respeite seu Modesto.

- A tia…

- Cale-se!

- Essa mocidade, dona Perpétua, anda de cabeça virada. Até os seminaristas, nunca pensei… - Modesto Pires vai curar os melindres ofendidos na cama de Carol.

Perpétua começa a passar um sabão em Ricardo mas ele lhe explica, rindo-se por dentro, que nada fez senão repetir palavras da Tia Antonieta, ainda mais revoltada contra a tal fábrica do que o próprio Comandante. Colocada entre duas riquezas, Perpétua resolve manter-se neutra mas recomenda ao filho não discutir com pessoas merecedoras de respeito e acatamento devido à idade e à posição social. Por falar na tia: Tieta não demonstrou em nenhum momento intenção de levá-lo para São Paulo? A tia? Já falou nisso, sim. Ricardo não esclarece quando ela o fez. Na cama, nua, desfalecendo em seus braços, a voz exangue: sou capaz de praticar uma loucura e te levar comigo para São Paulo, meu cabrito!

Apenas Perpétua apaga a luz da placa, Ricardo abre a janela da alcova,
pula para a rua. Junto à
mangueira, Maria Imaculada o espera:

quinta-feira, outubro 08, 2009


Antes de falecer (25/08/2007), Eduardo Prado Coelho teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos. Por isso façam uma leitura atenta.



Matéria Prima para Construir Um País. ( PRECISA-SE... digo eu)


A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.

Agora dizemos que Sócrates não serve.

E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.

Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.

O problema está em nós. Nós como povo.

Nós como matéria prima de um país.

Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.

Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal

E SE TIRA UM SÓ JORNAL,
DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque
conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país:

-Onde a falta de pontualidade é um hábito;

-Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.

-Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.

-Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.

-Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.

-Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.

-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.

-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.

-Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.

Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.

Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...

Fico triste.

Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.

E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.

Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa ?

- Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror ?

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados !

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.

Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:

- Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso.

É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI... QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

E você, o que pensa ?... MEDITE !


O Teste da Banheira!




Durante a visita a um hospital psiquiátrico, um dos visitantes perguntou ao director:

- Qual é o critério pelo qual vocês decidem quem precisa ser hospitalizado aqui?

Respondeu o director:

- Nós enchemos uma banheira com água e oferecemos ao doente uma colher, um copo e um balde e pedimos que a esvazie o mais rápido possível. De acordo com a forma que ele decida realizar a missão, nós decidimos se o hospitalizamos ou não.

- Entendi - disse o visitante - uma pessoa normal usaria o balde, que é maior.

- Não - respondeu o director - uma pessoa normal tiraria a tampa do ralo... O que o senhor
prefere, quarto particular ou enfermaria?

VÍDEOS

QUANDO OS FENÓMENOS DA NATUREZA SE TRANSFORMAM EM ESPETÁCULO

CANÇÕES BRASILEIRAS

ATAÚLFO ALVES JR - OS MENINOS DA MANGUEIRA

NANA MOUSKOURI - LA VIOLETERA

AMÁLIA RODRIGUES - LÁGRIMA
Amália não tinha estudos.Tirara apenas a instrução primária, o máximo que se poderia esperar na época e no meio social em que nasceu. Ela própria, numa segunda carta a Vitorino Nemésio, confirma isso mesmo:« Ai meu querido professor, eu nunca fui sua aluna, não tenho instrução nenhuma. Como é que posso entender o que o senhor quis dizer sem saber ler nem escrever?». Mas Amália era uma pessoa inteligente, intuitiva, sensível e adquiriu saber na convivência ao longo da vida. A Letra deste fado lindíssimo é de sua autoria e foi considerado pelos especialistas uma obra prima que no seu sentido profundo, à boa maneira fadista, significa: realidade/sonho/sofrimento de amor/disponibilidade para morrer» Merece ser escutado com os ouvidos da alma.



TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 254



Iluminaram-se os olhos de Perpétua, deus o ouça, padre e abençoe as suas palavras. Espera a volta da irmã para uma conversa séria sobre o futuro dos meninos. Tieta não possui herdeiros directos e, entre sobrinhos e enteados, tem obrigação de preferir aqueles em cujas veias corre sangue igual ao seu, sangue dos Esteves. O perigo é a sirigaita da Leonora, Mãezinha para cá, Mãezinha para lá, mais que enteada, quase filha. Não obstante, Perpétua confia no adjutório do Senhor, pagador correcto. Tinham estabelecido um trato, está chegando a hora do senhor cumprir a sua parte.

Terminado o almoço, após dois dedos de prosa, o padre se retira, Ricardo o acompanha. Não mentira quando falara a Tieta em compromissos com o reverendo. Prometera ajudá-lo no inventário dos bens da paróquia, exigido pela Arquidiocese. O Cardeal anda preocupada com sucessivos roubos nas igrejas, desvios de valiosas peças de imaginária, de ricos objectos de culto; em certos casos, com a cumplicidade de padres e sacristãos, segundo murmurações e denúncias. Padre Mariano enrubesce ao recordar a carcomida madeira, a carunchosa imagem de Sant’Ana, vendida, não, trocada por um punhado de cruzeiros com o excomungado pintor, fariseu a fingir-se devoto. Nem por ter empregado toda a importância na Matriz, tostão por tostão, sente-se limpo de culpa.

Na sacristia, padre Mariano que, indiferente ao calor, comeu e bebeu como um padre mestre digno desse nome, aponta as gavetas das cómodas e diz a Ricardo:

- As alfaias estão aí, as velharias na torre. Nossas estimadas e piedosas zeladoras irão retirando e separando as peças, você as anotará nessa folha de papel. Dos outros objectos, já estabeleci a lista. Eu vou terminar a leitura do breviário, em casa, volto daqui a pouco.

Ricardo conhece essa leitura do breviário, na espreguiçadeira: duram cinco minutos. A sesta, porém, pode se prolongar até à hora dos ângelus. Quanto a Vavá Muriçoca, Domingo à tarde, ninguém conta com ele antes da bênção, e olhe lá. Das zeladoras estão presentes três, movimentando-se junto às gavetas: dona Milita, dona Eulina e a sobrinha desta última, Cinira, um pé no barricão, o outro no ar, pronto a se erguer para facilitar. Facilitar, o quê? Ora o quê?

Enquanto as duas velhotas retiram as peças e as separam, Cinira, vendo Ricardo à espera, pergunta-lhe, o olhar dolente, senão quer começar por fazer a relação das velharias acumuladas na torre. Ela pode ajudá-lo. As velharias, segundo a circular da Arquidiocese são os bens mais valiosos, merecem cuidado, atenção e prioridade. Óptima ideia dona Cinira.

- Cinira, só. Não sou nenhuma velha para você me tratar de dona.

- Pois vamos Cinira.

Foram. Ela na frente, ele atrás com papel e lápis. Altos degraus de pedra conduzem à torre. Ricardo admira as coxas fortes de Cinira, revestidas de excitante penugem azulada; retarda cada passo para observar melhor. No depósito, exíguo reduto, mal podem se mover. Curva-se Cinira para recolher uma peça – velhos castiçais, imagens partidas, obulário em desuso – roça em Ricardo. Tocam-se, queiram ou não. A cada movimento encontram-se encostados um ao outro e de repente – Como aconteceu? – viram-se abraçados, as bocas grudadas. Cinira suspira, amolece, Ricardo a sustém. Foi ela que encaminhou a mão do seminarista para as partes; suspende o pé e o pousa sobre o obulário, formando com a perna um ângulo propício. No hábito do armazém de Plínio Xavier, somente quando geme e prende o grito, enfia o braço sob a batina para pedir a bênção ao padre mestre.

Separam-se em silêncio, terminam de estabelecer a pequena lista de objectos em desuso. Na escada ela ainda avança a boca para um beijo de despedida. Assim começou a maratona.

Tendo tempo livre antes do encontro com Maria Imaculada, Ricardo acompanha mãe ao cinema. Um acontecimento, a ida de Perpétua ao cinema sucede de raro em raro, quando o filme é recomendado pelo Santo Ofício, como esse, história de uma freira norte-americana, recentemente canonizada.

Durante o almoço, padre Mariano enfatizara:

- Não percam. Não deixe de ir, dona Perpétua. É um espectáculo digno, uma lição de virtude. Assisti em salvador, em companhia do cónego Barbosa, da Conceição da Praia.

Quando entram, a sala está lotada. Apenas duas cadeiras vagas. Uma ao lado direito de Modesto Pires, habitualmente reservada, na sessão dos sábados para dona Aída. A outra, duas filas atrás, ao lado esquerdo de Carol – à sua direita senta-se a empregada, cão de guarda – permanece quase sempre desocupada. Nenhuma mulher digna de respeito a ocupará jamais; os homens bem gostariam de fazê-lo mas cadê coragem para enfrentar o desagrado do ricalhaço e o falatório do povo?

quarta-feira, outubro 07, 2009

VÍDEO

É PRECISO AVALIAR OS RISCOS DO LOCAL DO TRABALHO...

CANÇÕES BRASILEIRAS

CLÁUDIO NUCCI - QUERO QUERO

HERMÍNIA SILVA - O FADO DA SINA
( Em homenagem à rainha do fado castiço que tive o prazer de conhecer pessoalmente quando foi cantar ao restaurante do meu irmão, A NORA, na Concavada, aldeia dos meus avós, na Beira - Baixa.)


TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 253




Ricardo falara a frei Timóteo do engenheiro Pedro, materialista e ateu, a dissertar sobre as injustiças sociais, os crimes da burguesia e do capitalismo, a necessidade de transformar a sociedade.

- Também ele serve a Deus, pois deseja a justiça e felicidade dos homens.

- Sorrira o velho – Mesmo os que dizem não crer em Deus, podem servi-lo, desde que amem os homens e trabalhem por eles. Por que não trás o seu amigo aqui? Gostarei de conhecê-lo.

No arraial do Saco, Ricardo vive horas exaltadas acompanhando as conversas do engenheiro com o frade. Pedro, impetuoso, sincero e entusiasta, nega a existência de Deus e da alma, em inflamado discurso. O franciscano viera do tumulto e da ânsia do mundo para a meditação na cela do convento, disserta com voz mansa e usa imagens poéticas. Todavia, Ricardo descobre parecença e parentesco entre os dois, pontos de convergência, um objectivo comum: a preocupação com o ser humano. Busca passagem por entre contradições e coincidências, dispõe-se a sujeitar sua vocação às necessárias provas, a não se negar às discussões e aos actos. No momento certo, decidirá. Não antes, porém, de elucidar todas as dúvidas.

Na lancha, na noite dos tubarões e do medo, ao lado de Jonas, sentira quanto custa comandar, sobretudo se o preço do dever é a crueldade e a violência. Jonas é um homem bom e jovial, no entanto, naquela hora extrema, a face do pescador fizera-se sombria e implacável. Por onde passam os caminhos que conduzem à alegria e à justiça? Vendo os homens e mulheres em pânico, os tubarões à flor da água, vendo a tia, Jonas, Daniel, Isaías, Budião, pessoas de bondade comprovada, empunharem a morte para defenderem a vida, Ricardo sacudiu os últimos freios, tomou a rédea nos dentes, decidido a galopar por conta própria, livre de peias.

Acumula no peito, em pressa e confusão, palavras, ideias, acontecimentos. Tudo começou com a chegada da tia, há um mês e meio, se muito. No ponto da marinete, Ricardo aguardara o desembarque de uma anciã, mais que tia, avó, viúva em pranto e luto. Rezara por sua saúde, os joelhos sobre os grãos de milho, pagando promessa. Da marinete descera uma deusa. Ao mesmo tempo, imagem de santa e cabra de urbe farto, no dizer de Osnar, o boca suja. Santa e cabra, como pode ser? Assim é:

Muita coisa sucedera desde então. Da primeira noite nos cômoros com Tieta, subindo aos céus, baixando aos infernos, até aquela tarde de tempestade em meio às vagas e aos tubarões, ameaçando os apavorados funcionários da Brastânio, quando cumpriu duro dever de cidadão, obrigação tremenda. No Te Deum, abrindo as portas do Ano – Novo, sob o peso dos olhares das mulheres, enxergara Maria Imaculada. Um vínculo se rompera, formara-se outro anel, início de uma cadeia. Muita coisa em pouco tempo, a exaltação da vida, o horror da morte.

Outras experiências são mais fáceis, ai, são deleitosas! A senda da prova passa entre mulheres. A tia acendeu uma fogueira em seu peito, o incêndio se alastra, como apagá-lo? Não basta Tieta, não basta Maria Imaculada, pois a brasa queima e se inflama apenas Ricardo percebe um olhar molhado de desejo, a insinuação de um sorriso. Não sabe negar-se, não pensa negar-se. Por que fugir depois do que lhe foi dado ver e fazer?

Viera de Mangue Seco pela manhã devido ao aniversário de Peto mas na intenção da noite livre, inteira para Maria Imaculada. Perpétua reduzira as comemorações a um almoço para o qual convidara apenas padre Mariano, além de Elisa, Astério e mãe Tonha. Ao padre, queixara-se da ausência de Tieta e Leonora mas o fizera da boca para fora. Estivessem elas em Agreste, Perpétua seria obrigada a reunir em casa um mundo de gente, a começar pela antipática da Carmosina; um despesão. Assim, tudo correra pelo melhor. Tieta e Leonora não compareceram mas enviaram os presentes por intermédio de Ricardo. A tia rica dera novamente prova de generosidade e afecto para com os sobrinhos: o relógio ofertado a Peto mereceu encómios e considerações do pároco:

- Um presente régio, dona Perpétua. Dona Antonieta é mão – aberta e adora os sobrinhos. Seus filhos estão com o futuro garantido. Não duvido que venham a ser – e baixou a voz pois Elisa e
Astério estavam chegando
herdeiros priveligiados.

THE MANHATTAN - LEST JUST KISS AND SAY GOOD BYE


O PRESIDENTE CAVACO SILVA DE PORTUGAL


Desde que o Presidente Cavaco foi eleito ainda não lhe ouvi uma palavra de jeito. O Presidente alinhava umas palavras em forma de discurso, soletra umas solenidades de circunstância, meia dúzia de lugares-comuns da sensatez e outras tantas banalidades, junta uma pitada de preocupação social e vago fervor patriótico, acrescenta umas generalidades institucionais e já está.


Analistas políticos esparsos e à míngua de assunto e de política, desempregados de um regime sem ideologia, pragmático e material, que não pensa, não discute, não argumenta e apenas age e reage, tentam desesperados encontrar em Cavaco um pensamento, uma coerência ideológica ou, dada a necessidade de drama, uma ameaça.

Trabalhos ingratos porque Cavaco nada disto tem para dar. Nunca teve. A sua mediania coloca-o a salvo das grandes perplexidades contemporâneas e o seu desinteresse pela cultura política, ou outra, abrigam-no das interrogações que perturbaram Soares ou Sampaio, infinitamente mais cultos e mais cosmopolitas. Cavaco é o sucessor de Eanes sem a educação sociológica e histórica de Eanes.


Ou seja, Eanes tornou-se um quase-intelectual com a passagem do tempo, e Cavaco permaneceu igual a si mesmo, modesto e frugal, limitado e deslocado, amarrado à âncora da sua ignorância. Cavaco detesta tempestades e mar largo, prefere porto seguro e águas calmas. Não seria o Presidente que eu quereria eleger, é o Presidente eleito. Tanto Manuel Alegre como Mário Soares teriam sido melhores Presidentes. Como dizem os cavaquistas conformados, Cavaco não tem mundo. O mal nem é este, o mal é que ele continua a não ter mundo. E o mundo não o tem a ele.

Daí os episódios paroquiais da viagem à Índia, com as queixas do "picante", ou as caricaturas de jornada onde Cavaco seja obrigado a descontrair e fazer humor. Não é o seu género. O seu género é a casa e a família, com umas incursões no país que ele genuinamente sente como seu, a seu modo. Um herói local. E um herói local incensado por um partido fundado por um homem forte e brilhante, Francisco Sá Carneiro.

Um PSD que nunca encontrou substituto para o fundador e confundiu pequenas manifestações de autoritarismo e irritação com autoridade e carisma. O PSD inventou Cavaco: barões e intelectuais, bases e cúpulas, populistas e elitistas inventaram um chefe que foi rodar o carro à Figueira da Foz. Ele foi - de facto - rodar o carro à Figueira da Foz e o partido fez o resto. Faz lembrar um filme de Hal Ashby, adaptado de um romance de Jerzy Kozinsky, que conta a história de um homem simples e dado a pequenos aforismos, o jardineiro Mr. Chance, que ascende a Presidente dos Estados Unidos por um conjunto de circunstâncias. "Being There", ou "Bem-vindo Mr. Chance". É a obra-prima do grande Peter Sellers.

Passava-se aquilo num tempo em que Portugal e o mundo eram mais simples e da Europa escorria leite e mel. Cavaco administrou a fortuna misturando a parcimónia e o escrúpulo moral com a amoralidade e a rapina de negociantes políticos que ascenderam a milionários graças ao Estado. Foi um período de fartar vilanagem, e chegou para todos e para duas maiorias absolutas. O currículo académico de Cavaco, um economista mediano, ajudou-o num tempo em que começava o primado da economia sobre a política e em que o défice entrou no léxico nacional.
Desígnio para o país Cavaco nunca teve, e plano para o famigerado "desenvolvimento" também não. Ninguém soube ou quis saber o que seria de Portugal daí a vinte anos porque a política portuguesa caracterizava-se pela miopia e o resultado eleitoral. O curto prazo. Pagamos hoje, duramente, as consequências desta ignorância. Sempre imaginei, academicamente, o que teria achado Sá Carneiro do seu sucessor.

O mundo entretanto mudou e o estatuto de Cavaco também. De primeiro-ministro activo passou a Presidente corta-fitas. É um lugar onde ele não faz o dano que faria como chefe do Executivo. As suas inexistências ontológicas continuam, com certa ternura, a mobilizar oráculos e análises com tanto rigor como a astrologia. Ler o desígnio de Cavaco é como ler o horóscopo. Interpretar o seu silêncio é como olhar para as estrelas. Um passatempo inofensivo que se tornou profissão. Os pequenos anúncios dos jornais estão cheios de sábios e professores que lêem o destino alheio. Inventaram a coabitação, como agora inventam o ódio.



Nem Sócrates nem Cavaco têm a profundidade que os politólogos desocupados lhes querem atribuir. Embora Sócrates navegue em águas mais fundas que Cavaco. Por tudo isto, devo ser uma das pessoas que não sentiu irritação com o discurso de Cavaco sobre o estatuto político-administrativo dos Açores. É mais uma cena paroquial e uma anedota de Verão. Não estava à espera que ele fosse falar sobre o mundo complexo em que vivemos e vamos viver, com a perspicácia e a inteligência de um homem de Estado. Podemos tirar o rapaz de Boliqueime mas não podemos tirar Boliqueime do rapaz, dir-se-ia com crueldade. O Presidente Cavaco é um rapaz de Boliqueime e isso não é uma coisa boa. Nem má. É o que é. Num grande país europeu como a França, a Alemanha ou a Grã-Bretanha, Cavaco seria um apêndice, nunca um órgão político.

Clara Ferreira Alves


A RELIGIÃO E O EVOLUCIONISMO




“O conceito de uma vida eterna gloriosa foi inventado para mitigar o nosso medo da morte”.

Esta é uma teoria dezenas de vezes repetida e aceite porque, aparentemente, faz sentido. E digo aparentemente uma vez que, posta a questão aos enfermeiros e assistentes sociais em lar de idosos, os testemunhos vão no sentido inverso, ou seja: os crentes apresentavam maior receio da morte.

De qualquer forma a crença numa religião é uma inevitabilidade ou, com uma cotação negativa, uma fatalidade.

Recebemo-la logo após o nascimento como uma herança cultural (o crucifixo na parede e o rosário pendurado na cabeceira da cama) e ao longo da vida, ou se instala e nos comanda, ou por ali fica num "faz de conta" para não destoar dos outros. Raramente temos coragem para a renegar quando ela já pouco ou nada nos diz.

Não esqueçamos que tanto os nossos sentidos como as nossas crenças são ferramentas para a nossa sobrevivência e evoluíram para se alimentarem mutuamente. Sem os sentidos não podíamos conhecer o mundo perceptível e sem as crenças não poderíamos saber o que está fora do alcance dos sentidos, nem sobre significados e causas. Por isso elas persistem apesar das evidências contraditórias.

Eu próprio já desisti, relativamente à minha neta, quatro anos acabados de fazer, de outra explicação que não seja “enviar para o céu” os parentes e pessoas conhecidas que, entretanto, vão falecendo.

É um assunto que mais tarde ela terá que descodificar. Para já vão todos para o céu e ponto final. De resto, para dificultar as coisas, as crianças revelam uma tendência natural para adoptarem a teoria dualista da mente que consiste em aceitar que esta é uma espécie de espírito incorpóreo que habita o corpo mas pode existir em qualquer outro lado.


Portanto, aos quatro anos, o melhor é mandá-los todos para o céu… lutar por crenças racionais no imaginário de uma criança de 4 anos não é tarefa fácil. No melhor dos casos, não estimular crenças irracionais e ensiná-la a pensar com lógica, o resto ficará para mais tarde.

Esta é mais uma razão pela qual as religiões se “colam”: dão explicações simples e directas para as almas simples…e levam a não pensar mais no assunto.

Mas esta relação da religião com o além, relação vertical, talvez não seja a mais importante. As religiões são imensamente eficazes na formação de relações sociais conferindo coesão às sociedades e, nesta medida, fomentam a sobrevivência naquela a que podemos chamar a relação horizontal.

Se o desejo de servir um Deus for mais motivador do que o desejo de ajudar os outros então a solidariedade será, pelo menos, reforçada pelo facto de se ser crente.

É claro, que também podemos concluir como Einstein:
“Se as pessoas só são boas (solidárias) porque temem o castigo e esperam recompensa, então somos mesmo uma triste cambada”.

As religiões, dentro de si próprias evoluem, adaptam-se, ajustam-se e tiram partido de novas realidades sociais. O Deus hebraico era essencialmente um guerreiro que comandava o seu povo para combater e prometia-lhe a vitória no futuro por muitas derrotas que tivesse sofrido no passado. O Deus cristão, por outro lado, reflectia a realidade da vitória militar já não ser possível e a única estratégia de sobrevivência envolver uma coexistência mais pacífica.

O Deus cristão baixou as armas numa estratégia tão radicalmente diferente que era possível afirmar que o seu Deus era completamente distinto do Deus hebraico, como alguns especialistas afirmaram.

No entanto, quando os cristãos se tornaram politicamente poderosos, a evolução cultural promoveu a retoma das estratégias militares, como foi o caso das cruzadas, esquecida, então, a política da “outra face”.

Hoje, de novo, a Igreja de Roma, força a componente pacifista entre os homens e o respeito das religiões umas pelas outras, o chamado ecumenismo, com o objectivo primeiro de manter os homens como pessoas crentes contra o pensamento ateu que é, sem dúvida, o principal inimigo.

E como a propensão para as crenças, como já vimos, parece ligar-se à própria sobrevivência, são já os ateus, alguns, que se atrevem a apresentar o seu pensamento como uma “religião” de crenças racionais.

Os cépticos, na opinião de Gregory W. Lester, Prof. de Psicologia da Universidade de St. Thomas em Houston, devem adoptar uma estratégia de longo prazo afirmando as suas crenças racionais sem entrar em lutas de morte numa batalha com pessoas que têm convicções únicas.

Os cépticos ou não crentes, constituem o exemplo vivo que é possível, por “uma alta função do cérebro”, vencer e modificar crenças irracionais no sentido em que vai contra algumas das urgências biológicas fundamentais.

Acredito que esta aptidão, uma vez disseminada, pode ser assustadora para os líderes das religiões, mais de umas que de outras, e por isso novas estratégias, permanente evolução...

terça-feira, outubro 06, 2009

AMÁLIA RODRIGUES - A CASA DA MARIQUINHAS

CANÇÕES BRASILEIRAS

RAÚL SEIXAS - EU NASCI HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS



TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 252



DE COMO O SEMINARISTA RICARDO, PONDO À PROVA (INTENSAMENTE) SUA VOCAÇÃO, COMETE UMA IMPRUDÊNCIA


Ao retirar a alva e a estola, no domingo, após a missa, padre Mariano observa Ricardo movimentando-se na sacristia, transmitindo ordens a Vavá Muriçoca, opinando sobre o inventário encomendado pela Arquidiocese:

- Você hoje não comungou, Ricardo. Por quê?

- Ontem à noite eu pequei, padre, e não tive tempo de me confessar. Discuti com seu Modesto Pires, fiquei com raiva, desfeiteei ele…

- Desfeiteou seu Modesto Pires? Você? – boquiaberto, o reverendo balança a cabeça, incrédulo.

O seu protegido transformou-se durante as férias em Mangue Seco. Ao chegar dos exames ainda era um meninão, de físico avantajado, risonho e afável, preocupado apenas com a pesca e a bola de futebol, quando não estava em casa fazendo banca ou na Matriz ajudando. De repente virara um rapagão, sempre risonho, afável, porém com outros modos e com outro ar., interessando-se por assuntos sérios, vibrando indignado contra a instalação da fábrica de dióxido de titânio, atrevendo-se a discutir com Modesto Pires e a criticá-lo. Que bicho o teria mordido?

- Disse o que pensava dessa fábrica e dos que são a favor dela. Cometi o pecado da ira, padre.

Ao responder, comete o pecado da mentira. Trocara realmente umas palavras com Modesto Pires mas sem chegar ao insulto. Ao desrespeito, certamente: menos pela agressiva conversa na rua do que pela discreta actividade no cinema; ao lembrar-se, sente um arrepio de prazer. Aconteceram pecados, sim, a impedir a comunhão, porém à tarde e à noite, os da carne; na torre da igreja, no escuro do cinema, nas ribanceiras do rio. O padre sente a transformação ocorrida mas não sabe quanto mudou o compasso da vida do seu pupilo. Envolvido num turbilhão de acontecimentos, Ricardo põe à prova a sua vocação, atravessa um caminho de luz e trevas. Ah!, padre, não queira saber que bicho o mordeu!

- Tem-se confessado com Frei Timóteo? Ele continua seu director espiritual?

- Sim, Padre. Está passando o verão no arraial.

- E como vai esse santo varão? Sempre delicado de saúde?

- Diz que na praia tem melhorado.

- Deus o conserve. É um luminar da igreja.

Padre Mariano repete o que ouve dizer em Aracaju e em Salvador. Todos louvam as virtudes e o saber do frade, mesmo quando discordam das suas teses, Ricardo aprova o elogio com entusiasmo, por sabê-lo merecido. Frei Timóteo lhe revelou a existência de realidades e problemas sobre os quais padre Mariano nunca lhe falara, certamente por jamais ter reflectido neles. Deu-lhe nova compreensão dos deveres do sacerdócio, cujos limites não se restringem ás obrigações do culto, cumpridas com rigor pelo padre do Agreste. Aproximara-o de Deus.

No seminário Ricardo concebera um Deus terrível e abstrato, desligado da vida e dos homens, a quem se é obrigado a servir para não sofrer as penas do inferno durante a eternidade. O Deus de Frei Timóteo participa da vida, compreende os problemas dos homens, entre familiar e concreto, amorável. As palavras das orações, repetidas no seminário, soavam ocas, agora ele aprendeu sua significação real, com o Franciscano. Amantíssimo coração, por exemplo: Deus é amor e paz, disse-lhe o velho monge. Quando Ricardo se julgara indigno de continuar aspirando ao sacerdócio por haver pecado, o frade aconselhara:

- Você ainda tem tempo de sobra para provar sua vocação, antes de se decidir. Se o mundo se impuser, escolha outro ofício, sirva a Deus como um simples cristão, nem por não usar batina e não dizer missa, será menor seu merecimento. Caso sua vocação permaneça viva e você a sinta como uma exigência interior, então prossiga de batina, cumpra seu destino e a lei de Deus. Mas
nunca tenha medo, não fuja, não se esconda nem se negue. Amantíssimo é o coração de Deus.

segunda-feira, outubro 05, 2009

UM CLÁSSICO...

OLGA MARIA RAMOS - LA VIE EN ROSE

VÍDEO

MUITOS PAIS NÃO TÊM ESTA PACIÊNCIA...

LAURA PAUSINI - EMERGÊNCIA DE AMOR

CANÇÕES BRASILEIRAS

CAETANO VELOSO - SAMPA



TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 251



O Zíper descendo, o corpo nu surgindo diante dos olhos de Peto. Com um movimento de ombros Zuleika se desprende do vestido, o menino pode vê-la toda, como é bonita!

- Tu me acha bonita?

- Demais.

- Está com vontade?

- Nem pergunte.

- Vem.

Sobe para a cama, faz lugar para Peto. Estão deitados de lado, olhando-se. Ele estende a mão, meio sem jeito, toca-lhe o seio. Menor do que o da tia, maior do que o de Leonora, diferente dos dois, redondo, parece uma broa saída do forno. Zuleika suspira ao toque, cada gesto tímido, cada avanço, é um prazer divino.

Me diga é mesmo a primeira vez?

- Com mulher, é sim.

- Andou botando em algum menino?

- Só na cabra.

- Em Negra Flor, não foi?

- Foi nela, sim.

- Bicha safada, ordinária. Peto é o terceiro, entre recentes, a lhe contar da cabra. Mais uma vez Negra a precedera.

- Com mulher é diferente, tu vai ver.

- Muda de posição, agora de barriga para cima, os olhos de Peto pousam-se na senda de pelos negros. A mão de Zuleika Cinderela vai buscá-lo.

- Vem meu macho, traz essa rola gostosa para comer sua mulherzinha. Beija-o ternamente, acaricia-o de manso, faz com que ele a monte, suspende o ventre para facilitar o abraço, mete a língua dentro da orelha de Peto e murmura:

- Que gostoso, sou capaz de me enrabichar contigo.

Cruza as pernas sobre as costas do menino

- Mete, enfia tudo.

Mantendo-o preso entre as coxas, beija-o no rosto e na boca, remexe as ancas, oferece-lhe o seio; xoxota de chupeta, especial para rola em crescimento, morde e afaga. Precisa conseguir que ele aprenda e goste, sinta quanto é bom, se faça macho inteiro e íntegro, para isso o confiaram a ela. Ao mesmo tempo Zuleika, a velha Cinderela, se embriaga de prazer, saboreia e degusta o cabaço do menino. Não pode haver na vida ou na eternidade prazer que a esse se compare.

- Goze comigo que estou gozando.

A vitória obtida cada vez, o debutante acabando junto com ela, no mesmo instante, no mesmo grito, renascendo na mesma hora da morte.

Quando Peto, orgulhoso e feliz, sai do quarto e entra na sala, estrugem aplausos, frenéticos. Casa cheia, ocupadas todas as mesas, presente a malta do bar, seu Barbozinha, o árabe Chalita, com uma meninota sobre os joelhos, o moleque Sabino, sócio na Negra Flor, a quem Zuleika, uma semana atrás, descabaçara por prazer, sem que ninguém pagasse. Por Peto, quem paga é Osnar, regiamente. Entre os demais reuniram dinheiro para a festa.

As mulheres vêem uma a uma e o beijam na boca. A falsa loira o chama de pitéu, outra de doce de coco, a novinha que saíra e voltara, o trata de cunhado, cada qual mais louca e linda. Peto senta-se ao lado de Aminthas, recende a brilhantina e a fêmea.

Osnar labuta com a rolha da garrafa de champanhe – champanhe nacional, é evidente, pois estamos na pensão de Zuleika Cinderela, em Agreste, e não no refúgio dos Lordes, de Madame Antoinette, em São Paulo. O poeta De Matos Barbosa estufa o peito, pigarreia para limpar a voz, retira do bolso uma folha de papel e, em meio ao silêncio mais respeitoso e absoluto declama o Soneto do Himeneu, composto para a ocasião, uma beleza! Neco Suruba trás o bolo de aniversário e casamento.

Zuleika Cinderela ainda encharcada de prazer, exige uma cópia do soneto, manda que coloquem um tango na vitrola e volteando no vestido azul sai a dançar com Barbozinha, rostos colados, as coxas entrelaçando-se naqueles passes floreados e difíceis. Peto, apaixonado, acompanha os
volteios da dança morto de ciúmes.

MERCEDES SOSA - DUERME NEGRITO
(Poente máximo da música da Argentina, voz forte e potente que lutou contra todas as ditaduras fascistas da América Latina. Faleceu neste Domingo, com 74 anos...duerme Mercedes.)

domingo, outubro 04, 2009

AMÁLIA RODRIGUES - CANÇÃO DO MAR (A preto e branco em sinal de luto.Passam hoje 10 anos sobre a sua morte)

JULIO IGLESIAS - ME OLVIDE DE VIVIR


A GOLPADA!



Acompanhado de uma belíssima mulher, o sujeito entrou na joalharia e mandou que ela escolhesse a jóia que quisesse, sem se preocupar com o preço.
Examina daqui, experimenta uma, depois outra, ela finalmente decide-se por um colar de ouro com diamantes e rubis. Preço: 458 mil.


Ele manda embrulhar, saca um talão de cheques e começa a preencher.
Assina, destaca e ao estendê-lo, percebe a fisionomia constrangida e preocupada do vendedor enquanto examina o cheque.


O cliente, então, num gesto de gentleman, toma a iniciativa:


-Vejo que está a pensar que o cheque pode não ter cobertura, não é?
É natural, eu também desconfiaria? Afinal, uma quantia tão grande...


Tudo bem, façamos o seguinte: hoje é sexta-feira e o banco já fechou, você fica com o cheque e com a jóia, na segunda-feira vai ao banco, levanta o dinheiro e manda entregar a jóia em Casa desta senhora, ok?


Cheio de mesuras e agradecimentos pela compreensão, o vendedor encaminha o casal até a saída, desejando-lhes um bom fim-de-semana.

Na segunda-feira, o vendedor liga ao cliente para dizer-lhe que, infelizmente, deveria ter havido algum equívoco do banco pois o cheque não tinha cobertura.

Ouviu, então, uma voz meio sonolenta:

Não há problema! Pode rasgar o cheque que eu já comi a gaja...


JÚLIO IGLESIAS - DEVANEIOS


CANÇÕES BRASILEIRAS

RITA LEE - BALADA DO LOUCO



TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 250




Na sala, Osnar dirige-se a Neco Suruba, garçon imemorial, entrou no emprego molecote, está de cabelos brancos.

- Cadê Zu?

Uma das mulheres adianta a resposta:

- Dona Zuleika está tomando banho, não vai tardar.

Tanto ela como a colega sorriem para Peto e o examinam. O cheiro de brilhantina faz-se sentir, familiar, os feirantes usam da mesma marca, vendida em latinhas pequenas. Barata e forte.

- Recebeu a encomenda? – Osnar volta a dirigir-se a Neco.

- Está na geladeira – Além do bar, somente a residência de Modesto Pires e a pensão de mulheres da vida possuem geladeira (a querosene) na cidade.

Apenas sentam-se na mesa onde estão as duas mulheres, Zuleika Cinderela entra na sala e com ela um aroma a bom sabonete e água-de-colónia a suavizar o cheiro poderoso a brilhantina. Os sapatos de salto alto aumentam-lhe a estatura, cabelos escorridos de índia, corpo bem torneado, convidativo; anel e pulseira de fantasia, um vestido azul – hortênsia solto e decotado, com bolsos brancos, toda ela é limpeza e dengo.

Vem direita a Peto, seu sorriso é um dom do céu que ela distribui:

- Boa noite, Peto, seja bem-vindo. Quer tomar alguma coisa? Meus parabéns pelo aniversário. Tenho um presente guardado para você – Pisca o olho.

Como Peto lhe recusa a oferta da bebida, ela lhe estende a mão e o convida com um leve gesto de cabeça. Osnar e as duas mulheres seguem a cena, a loira de Leléu voltou-se para ver. Peto levanta-se, sente a curiosidade a rodeá-lo. Osnar pede cerveja.

Fechada a porta do quarto, Zuleika toma do lampião pendurado na parede, coloca-o sobre a mesinha de cabeceira, junto à cama, assim ela pode enxergar melhor. Peto está de pé os olhos baixos. São os dois da mesma altura ou quase.

- Tu é bonito como o quê! Já te vi na rua muitas vezes. Sempre pensava: quando é que ele vem me ver? – Doce e terna: - Pedi a Osnar: traga ele aqui para festejar aniversário.

Desabotoa a camisa nova do menino:

- Quanto nome de cidade. Paris, Roma. O Papa vive aqui. Ganhou de presente?

Peto confirma com a cabeça, quase diz: de minha prima, mas se contem a tempo. Zuleika enfia a mão por baixo da camisa aberta, acaricia o peito e as costelas magras, aproxima-se mais e beija Peto atrás da orelha antes de lhe tomar a boca. Quando o solta, Peto arranca os sapatos, Cinderela retira-lhe a camisa, ajuda-o a arriar as calças compridas. Peto as segura para que não caiam no chão e se sujem: calças compridas, as primeiras. Sacudindo os pés, Zuleika livra-se dos sapatos, encosta-se em Peto, desce a mão pelo corpo do menino, abre-lhe a cueca, toca-lhe os bagos, brinca com eles:

- Rola mais linda – Na mão a toma e afaga, devagar, oferecendo ao mesmo tempo a boca para o beijo.

Afasta-se, vota-se de costas:

- Puxe o zíper de meu vestido. Amorzinho.

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