Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sexta-feira, junho 26, 2015
Amigos do Memórias Futuras
Chegou o momento de ir para férias. Nos próximos 10 dias podem encontrar-me no Algarve, na praia do Vau. Depois, aqui, atrás do computador a fazer-vos companhia diariamente.
Até lá, passem bem.
Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 8
Zulmira ainda se recordava
do harém de Ismail, dos núbios que esfregavam as costas de sua mãe, Zaida, em
honra de quem dera o nome à sua segunda filha; dos mil criados que as cercavam,
do brilho daquela vida faustosa.
Depois da felicidade curta e
pacífica que vivera ao lado de Hixam, na serra Morena, regressar ao Azzaharat
como mulher do wali Tazfin era a prova irrefutável de que o destino podia ser
imprevisível e duro, mas um dia erguia-a de novo ao lugar a que tinha direito.
Que se calassem os invejosos!
Ela era neta de Al-Mutamidi! Ela era filha de Ismail, antigo wali de Córdova! Ela
era a mulher do actual governador, o wali Taxfin!
Ainda mais importante do que
tudo isso, no passado ela casara com Hixam de Hish Abi Cherif de quem tivera
duas filhas!
Fátima e Zaida eram as
herdeiras dos árabes da Andaluzia, provenientes do Iémen e da Síria, que tinham
erguido a mais fabulosa civilização que o mundo vira!
Os seus antepassados haviam construído
setecentas mesqui tas em Córdova,
entre as quais a maior do mundo árabe, e tinham sido os arqui tectos do Azzahrat, que a todos fascinava!
Haviam fundado bibliotecas
com mais de cem mil livros e trazido prosperidade às cidades da Hispânia,
criando uma cultura rica e aberta, onde até os judeus podiam viver livremente
junto de árabes e cristãos!
Cem anos antes, Córdova fora
o coração de uma maravilhosa época e Zulmira e as filhas representantes dessa
glória perdida!
Sim, um dia reinariam em
Córdova, mas Zulmira sabia que esse dia ainda não chegara.
Às portas de Coimbra, ainda
não tinham poder político e força militar para se revoltarem contra o califa
Ali Yusuf, ou para o matar. Era cedo.
Contudo era preciso saber
ler as estrelas: esta súbita decisão de levantar o cerco e partir de Coimbra
seria excelente para as suas ambições e deu marido, Taxfin.
O almorávida Ali Yusuf
abandonava a cidade cristã sem a tomar e perdia prestígio e apoiantes. Fora
esse o pensamento que tivera logo pela manhã, quando começaram os preparativos
para a partida, e agora via aquela tremenda confusão a tomar conta do
acampamento, Zulmira sentia um secreto contentamento dentro do seu coração.
Quanto mais balbúrdia, mais
o califa Yusuf se perdia. Um dia, contar-se-iam histórias sobre o fiasco que
fora a expedição almorávida a Coimbra!
Mas Fadul cortou-lhe as asas. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 276
14
Vencido
o susto inicial, o povo demonstrou coragem, acudiu aos apelos, foi de bom adjutório.
No armazém, para preservar a mercadoria, ajudando Fadul e Durvalino a arrumar o
estoque nas prateleiras mais altas, rentes ao teto.
No
curral, comboiando as reses para os morros a fim de impedir que o turbilhão as
arrastasse, trabalheira desgranida.
Por
sorte eram poucas: a vaca leiteira, uma novilha e um boi aguardando abate.
Precavido, o coronel Robustiano antecipara a
remessa para Itabuna do grosso da boiada que ali se refazia antes de seguir
para o matadouro.
No
depósito de cacau, para salvar a carga acumulada, à espera das tropas em atraso
de Koifman & Cia, dezenas de arrobas de grãos de cacau seco amontoadas
sobre o assoalho, foi uma lufa-lufa.
Com
o auxilio dos voluntários, homens e mulheres - as mulheres paravam de chorar,
começavam a se divertir - Gerino e os cabras
que guardavam o depósito conseguiram levantar, com as tábuas sobradas da obra
do pontilhão, uma espécie de jirau para nele armazenar, a salvo das águas, o
cacau que tratavam de ensacar o mais rápido possível.
Ainda
assim, parte dos grãos foi atingida e se encharcou: perdendo a classificação de
cacau superior, passando a good ou a regular.
Restava
discutir quem arcaria com o prejuízo: o Coronel ou a casa exportadora? Em
Ilhéus, o fazendeiro alertara Kurt Koifman, o chefão da firma: andasse depressa
pois tudo podia ocorrer no valem de Tocaia Grande.
As chuvas ameaçavam a floração das roças mas o
cacau seco estocado nos depósitos não estava livre de perigo se, a exemplo do
rio Cachoeira, o rio das Cobras transbordasse.
Com
empenho de admirar-se, Pedro Cigano tomou a si o encargo de recuperar a canoa,
tão necessária naquela emergência.
Amarrada
na margem oposta, seria natural que dela se ocupassem os sergipanos. Mas o
sanfoneiro não qui s ouvir razões e
se tocou.
Pela
segunda vez, o caixeiro Durvalino agiu de maneira estranha, por pouco não leva
outro tabefe. Tentara acompanhar Pedro Cigano, demonstrando também ele singular
interesse pela embarcação.
Mas
Fadul cortou-lhe as asas e o manteve sob suas vistas, recebendo e executando ordens.
Por
ordem do turco ou por iniciativa própria, Durvalino, embebendo em breu trapos inúteis, atando-os em varas de
bambu, conseguiu fabricar algumas tochas cujo fogaréu resistia ao vento, permitindo
enxergar na escuridão.
Shaueble |
“O que
está, está, não se lhe mexe mais...” dizem os ministros das Finanças da Zona
Euro. Cabe, agora, ao governo grego aceitar ou entrar em incumprimento.
“Neste
momento não há mais negociações. A proposta é aquela que existe e não será mais
alterada”... e é melhor que Tsipras não se atrase muito porque os “falcões” já a
criticam dizendo que tem demasiadas cedências aos gregos o que, a ser verdade,
só abona a favor do trabalho de Tsipras/Varoufakis.
O autor das
críticas, como não podia deixar de ser, é Shaueble, o ministro das Finanças alemão,
o verdadeiro autor do plano de austeridade e a quem chamam o Tesoureiro da
Europa, o que lhe parece dar satisfação. Do seu ponto de vista, a estabilidade
monetária deve ser totalmente prioritária na Europa.
Autor do Tratado
de Unificação das duas Alemanhas, autentico golpe de mestre, é considerado a
grande realização da sua vida.
Conservador,
líder parlamentar da CDU, foi vítima de uma tentativa de assassinato com um
tiro na coluna que o deixou numa cadeira de rodas.
Era a ele que o
nosso anterior Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, pedia favores ao ouvido
para o nosso governo, como mostrou na televisão.
Shaueble
representa uma corrente de pensamento económico que despreza a política entendida esta como o bem-estar e a felicidade dos povos.
Para ele, há um grupo de gente no país cujos interesses têm que estar perfeitamente
salvaguardados de qualquer eventualidade de um descontrolo financeiro como
aconteceu num passado remoto com a desvalorização do marco em 1923 quando se
forravam paredes com notas e eram precisos 4,2 triliões de marcos para comprar
um dólar.
O mundo, para o
Sr. Shauble é estreito e reduzido e não consagra direitos iguais para todos. Não
parece ser pessoa, tal como a sua chefe Merkel, que leve vida faustosa, a
questão é ideológica, de insensibilidade social, mais dele.
Ele entende que
se em Atenas, pessoas instruídas que até há pouco tempo tinham uma vida normal
com casa e emprego e hoje não têm nada, vivem na rua, e dependem da caridade
social para sobreviver, esse é um problema que a ele não diz absolutamente
nada, embora tudo se passe no mesmo espaço geográfico, político e económico e,
pior ainda, um espaço que ele lidera.
O Sr. Shaueble
faz-me lembrar aquele pai tirano, poderoso e despótico, que quando um filho se
porta mal e lhe desobedece abre a porta da rua, expulsa-o e não quer mais ouvir
falar dele.
O Sr. Shaueble
conhece perfeitamente a história recente da Grécia, dos seus podres que são
também podres da sua Alemanha, e sabe igualmente das assimetrias e
particularidades de um país, que na opinião dele, tem estratos populacionais
que ainda não estão completamente esmifrados nos seus rendimentos embora tudo aqui lo caminhe para um beco sem saída...
A Grécia não tem
nenhuma possibilidade de produzir riqueza para satisfazer as exigências dos
credores dos quais, ele, Shauble, é um deles e por isso há que cair sobre o
que existe e então: “venha mais isto e mais aqui lo
e aqueloutro...”
E depois, Sr.
Shaueble? - A economia já reduziu 25% e irá reduzir mais 12%. É como uma vaca –
ela que me perdoe a comparação – deixando de a alimentar não só deixa de dar
leite como definha e morre.
E fora do euro,
longe do Sr. Shauble e da Christine, há solução?
- Há, mas os
gregos de Atenas têm que ser substituídos pelos gregos de Esparta onde as
mulheres tinham um papel decisivo a gerarem filhos fortes para serem usados em
combate enquanto as atenienses andavam a serigaitar à volta dos homens sem
nenhum papel na política.
É que há sacrifícios
que mesmo que nos reconfortem no âmago mais profundo do nosso ego não está ao
alcance de todos e muito menos voluntariamente...
Resta saber o que vão eles poder controlar do seu destino.
Os políticos europeus tudo irão fazer para pôr o Cirysa fora do governo grego. Descaramento, onde já se viram políticas alternativas às do Sr. Shaueble na Europa?
Uma de Bêbado...
Um bêbado entra num autocarro e desata numa grande gritaria:
- Estes maricas aqui à minha
frente são todos rotos! Os desgraçados aqui
atrás são todos cabrões!
Os merdas aqui
ao meu lado são todos filhos da puta!
Os merdas a
O motorista, indignado com a conversa, faz uma travagem brusca, as pessoas dese
- Quem é roto e cabrão aqui ?
Responde o bêbado de mansinho:
- Não sei. Agora, com a travagem, misturou-se tudo ...
quinta-feira, junho 25, 2015
Durante um julgamento o juiz pergunta ao acusado:
- Então Sr. diz que chegou
a casa antes do habitual e encontrou a sua esposa na cama com outro homem?
- Correcto Sr. Dr. Juiz – responde o réu de cabeça baixa.
- Depois foi buscar a sua
pistola e disparou contra a sua mulher matando-a? – Correcto?
- Correcto, Sr. Dr. Juiz.
- E porque disparou só
contra a sua mulher e não matou o amante?
- Sr. Dr. Juiz: Pareceu-me
mais sensato matar uma única mulher do que matar um homem diferente em cada
dia.
Cornudo mas sensato!
Carlos Matos Gomes |
Racismo e preconceito
- por Carlos de Matos Gomes
A eleição que a direcção do Partido Socialista entendeu levar a cabo para
escolher o seu candidato a primeiro-ministro teve um efeito colateral: fez estalar
o fino verniz que cobre o racismo de muito boa gente com quem nos cruzamos nas
ruas, nos ecrãs de televisão e nas colunas dos jornais. De gente que nos dá
conselhos sobre o défice, o sistema político, a forma de sermos felizes. Isto a
propósito da cor da pele de António Costa.
A propósito desse assunto, que eu
julgava fazer parte das secções de tratamentos de beleza das revistas de
cabeleireiros e barbeiros, li e ouvi de tudo, não só de idiotas assumidos e
reconhecidos, mas de gente que julgava imune a essa doença. E o mais
surpreendente foi verificar que o preconceito era transversal, vinha de
mulheres e de homens, de pessoas que se afirmam progressistas, liberais,
abertos e de conservadores e reaccionários das velhas cepas do salazarismo e do
colonialismo. Só faltou o velho anúncio do restaurador Olex de não ser natural
um preto com carapinha branca.
O preconceito racista – neste
caso contra António Costa – prova a existência nos aparelhos políticos da noção
de que vale tudo na luta política, à esquerda e à direita. O preconceito
racista expôs as contradições dos dois grandes grupos da sociedade com os
elementos caracterizadores das suas ideologias. Os conservadores, a direita
nacionalista, que se assumem como os verdadeiros patriotas, os herdeiros das
glórias da nação que “deu mundos ao mundo” entram em conflito com a História de
Portugal, que glorificam e restringem à época de ouro dos descobrimentos e da
diáspora colonial. Uma certa esquerda, herdeira das revoluções francesa e
russa, entra em conflito com as ideias de igualdade.
O recurso ao argumento da cor da pele – um não branco, um hindu, um
preto, um monhé, um chamussa – por parte daqueles a que Eça de Queiroz
classificou de patrioteiros revela como o discurso salazarista do Portugal do
Minho a Timor, todos iguais, todos portugueses não passava de um slogan para explorar
os que não eram brancos.
Mais, revela como os exemplos da Exposição do Mundo Português de António
Ferro e de Henrique Galvão e da História do Matoso para o 2º ciclo dos antigos
liceus, utilizados pelo regime durante 40 anos não passavam de pura e reles
propaganda: o caso tão cantado da política de miscigenação de Afonso de
Albuquerque na Índia afinal era e é uma treta.
Os patrioteiros acham bem que os
valentes marinheiros portugueses tenham copulado com mulheres indianas, mas não
aceitam os seus filhos como portugueses de pleno direito. Cantaram e
apaparicaram a teoria do luso-tropicalismo de Gilberto Freyre, mas afinal acham
que os mulatos só são bons para cantar, dançar e jogar à bola.
Mas nem tudo é ideologia. Há o
mercado, claro. O preconceito racista agora revelado contra António Costa tem
também uma forte componente de oportunismo político e partidário. António Costa
entra no mercado dos votos da esquerda e da direita. Por isso os aparelhos
partidários da esquerda e da direita utilizaram o argumento da cor para o
esconjurar. António Costa tem politicamente dois pecados: sendo de “cor”, não é
um pobre explorado, um trabalhador da construção civil, um operário, um
proletário.
Sendo um “homem de cor”, é também
um intelectual, um burguês. Não se enquadra nos estereótipos, incomoda uma
certa esquerda e uma certa direita. Ele é alguém cuja “cor” lhe permite ser adopt ado por minorias desfavorecidas como um dos seus e
colher o seu voto. O que essa esquerda não pode admitir. E também visto como
alguém que atingiu elevados patamares de sucesso “apesar da cor”.
Isto é, ele é excepcional, o que
uma certa direita não aceita, por ser um péssimo exemplo e um concorrente de
peso. Daí a acusação que alguém lhe fez de se ter maqui lhado
de branco para uma entrevista na TV, como quem diz: ele está a fazer-se de
branco, ele não é o “preto” que vos vai defender. Daí os comentários de fim de
semana dos gurus da direita nas TV: Passos Coelho que se cuide, que se ouviram
logo a seguir à votação. Daí ainda duas outras acusações: Uma: Costa é o
“mainato” o criado de Sócrates (como é preto não pode ser patrão de si mesmo).
Costa que diga qual é o seu
programa (como é preto não tem nada na cabeça. Já agora, qual é o programa de
Passos Coelho, o de Jerónimo de Sousa, o do Semedo e Catarina, ou até o de
Seguro, para não falar no de Portas?)
A utilização do preconceito
racista contra António Costa revela os limites da abertura ao mundo dos
portugueses, os seus medos e, no final, a sua mesqui nhez.
Revela porque somos pobres e marginais.
A expulsão dos judeus é
considerada hoje uma das causas da nossa decadência e do nosso
subdesenvolvimento, o preconceito racista está na mesma linha. Conheci Orlando
Costa, pai de António Costa, escritor, linguista demérito, Aqui no de Bragança, um dos grandes intelectuais que
pensava o papel de Portugal no mundo que se reorganizava após a IIGuerra, ambos
naturais de Goa; estudei num colégio com muitos colegas de África, quase todo o
comité central do PAIGC – Filinto Barros, Fidélis Almada, heróis como Areolindo
da Cruz… conheci intelectuais negros como Mário Cabral, como Mário Pinto de
Andrade, percebo agora melhor porque os afastámos de nós, porque fizemos deles
nossos inimigos na guerra colonial.
Perante o triste espectáculo do
racismo latente, profundo, revelado na campanha contra António Costa, percebo
hoje melhor o logro da chamada “política ultramarina” dos governos de Salazar e
de Caetano. Parece-me agora evidente que Amílcar Cabral, sendo português,
engenheiro agrónomo não podia ser chefe do governo de Portugal. Nem o médico
Agostinho Neto. Nem o professor Eduardo Mondlane, nem nenhum dos portugueses de
cor, mesmo que nascidos em Portugal, mesmo que formados em universidades portuguesas.
Isto é, esses homens e mulheres não eram e sentiram que não eram portugueses.
Eram Antónios Costas, que, logo
que se apresentassem a disputar um lugar de poder para o qual estavam
intelectual e profissionalmente capacitados, logo alguém lhes lembraria a cor
da pele.
Esta campanha de racismo contra
António Costa revela também a hipocrisia da homenagem nacional e
verdadeiramente popular que foi feita a Eusébio. Um artista de cor? Excelente.
Diverte-nos. Podemos exibi-lo. Um primeiro ministro de cor? Inaceitável. Coloca
em causa a nossa matriz. Esta campanha explica ainda o racismo e o preconceito
subjacente nas homenagens a “heróis da guerra do ultramar”. Heróis aclamados
porque nunca entenderam os direitos dos “de cor” a discordarem dos brancos, a
governarem-nos, se fosse caso disso, ou então a governarem-se sem tutelas.
Por isso, para esses, não é
admissível ter na presidência do governo alguém de “cor”, mesmo que nascido em S. Sebastião da
Pedreira, na Maternidade Alfredo da Costa (por acaso também ele um médico de
“cor”), licenciado em direito pela universidade de Lisboa, mas filho de um
intelectual e democrata Orlando Costa, descendente de goeses, brâmanes
convertidos ao catolicismo. Isso é que não pode ser! Ofende a pureza do sangue
celta, de onde saíram, pelo que vejo na televisão a cores, os loiros Passos
Coelho, Paulo Portas, Paula Teixeira da Cruz, Maria Luíz Albuquerque, Carlos
Moedas, o defunto António Borges, mas também Teresa Guilherme, a loiríssima
Lili Caneças, Ricardo Espírito Santo, e até, segundo alguns quadros, o menino
rei D. Sebastião, o responsável pelo maior desastre da nossa História.
PS
– Este ataque a
António Costa de que Carlos
Matos Gomes fala neste texto foi um bom pretexto para
desenterrar muito lixo do passado.
Eu
estive em Moçambique, local de portugueses racistas, uns envergonhados outros
assumidos e declarados que por lá viviam há muitos anos reconfortados pela
vizinhança do Apartheid na África do Sul.
De
um, lembro-me eu, trabalhava no meu Serviço e conheci logo à chegada a Lourenço
Marques em 1972, com quem me recusei a voltar a falar.
De
resto, o sistema colonial "era tão bom" que bastava desembarcar branco para logo
ser melhor que todos os pretos que lá estavam...
A
vizinhança da política do Aparthaid para o português saloio que chegava a Lourenço Marques ,
foi uma luz ao fundo do túnel... finalmente, ele era "alguém".
Julgava
que tudo isto era passado mas Carlos de Matos Gomes, mais atento, revela-me que
não e eu, ingénuo, a pensar que os monhés tinham ficado lá todos, enterrados,
com o sistema colonial...
Espero
que nas próximas presidenciais eles não voltem, insidiosos, a envenenar os
espíritos.
Havia de chegar lá, fosse como fosse... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 275
Começou recuperando o caixeiro
Durvalino, pondo-o nos eixos: o varapau ameaçara perder a cabeça e fazer feio.
Ao avistar as roupas de seu Cícero Moura boiando nas águas,
Leva-e-Traz ficara pálido, dera para
tremer. Os olhos esbugalhados, apontando a camisa e o par de calças, começara a
vagir que nem criança nova, manifestara sintomas de chilique, como se não
bastassem as putas.
Urgia terminar com o mau exemplo antes
que outros o imitassem e fosse geral o faniqui to.
Fadul não perdeu tempo com discursos e conselhos, recorreu a remédio
comprovado: aplicou a mão no pé do ouvido de Já-Sabe?, um único bofetão:
- Se guenta, seu frouxo!
Foi tiro e queda, Durvalino aguentou as
pontas: se não recuperou a calma absoluta, ao menos engoliu o cagaço, começou
na mesma hora a trabalhar.
Cagaço, frouxidão, termos inadequados para
definir o estado de espírito do empregado do armazém: uma cisma, um
pressentimento ruim. Vez por outra estremecia, abria a boca como se qui sesse contar alguma coisa mas continha-se, guardava
para si sobrossos e cuidados.
Do jeito que o patrão estava, a ocasião
não era propícia para discutir-lhe as ordens.
A fim de recuperar o ânimo abalado e
impedir que o pânico se alastrasse, Fadul atribuiu - atribuiu não, impôs sem
deixar escapatória a cada um, de imediato, responsabilidades concretas a
enfrentar e a cumprir.
Quanto à população da outra margem, dela
se encarregaram Tição Abduim e Bastião da Rosa, parentes afins dos sergipanos
por laços de amigação.
13
Não tardou e a casa do Capitão se encheu
de gente, pela manhã estava abarrotada. Ali, até os mais desalentados
sentiam-se em segurança, garantidos contra tudo e contra todos, inclusive as incontroláveis
forças da natureza, estavam a salvo da raiva e do castigo de Deus.
Por
encontrar-se a casa situada no alto da colina e por
pertencer ao capitão Natário da Fonseca.
Para
lá transportaram os recém-nascidos e as paridas, além
de
uma rapariga de nome Alzira, queimando de febre, sem forças para andar,
carregada às costas por Balbino.
Na
sala repleta, Nadinho, o menino de Bernarda, ensaiava os primeiros passos mal equi librado nas pernas, os outros filhos do Capitão
corriam a ampará-lo, estouravam em riso.
Bernarda
descera para ajudar levando nos olhos a ameaçante visão daquela alegria
despreocupada.
Também
Diva, tendo entregue a cria aos cuidados de Zilda,
despencou
ladeira abaixo sob a chuva e o vento, atravessou o
descampado
com água pela cintura, queria saber dos parentes do outro lado do rio. Havia de
chegar lá, fosse como fosse.
Enfrentando
a enchente, desobedecendo ao combinado com Tição: fique com o menino, deixe que
do resto eu me ocupo.
Os
pequeninos na cama de casal, a doente na rede de Edu,
mulheres
chorando, homens calados, soturnos, naquela barafunda, Zilda pensou no que
poderia fazer para diminuir o medo e dar novo alento aos fracos e mofinos ali
refugiados.
Puxar
reza como queria dona Natalina não adiantava, a merencória litania só fazia
aumentar o acabrunhamento. Zilda andou para o gramofone, manejou a manivela,
ajustou o cilindro, a música fluiu, se estendeu e se elevou encobrindo a
ladainha, a enchente e o vendaval.
Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 7
Contudo, pouco antes de cair no sono, na cama e de mão dada com a sua amada esposa, reconhecera-lhe em surdina que desejava matar o califa, pois estava farto daquele aberrante ser.
- É cedo, Taxfin – contrapusera Zulmira.
No seu coração ela também
ambicionava o fim de Ali Yusuf, ainda mais que Taxfin. Considerava-o um
usurpador, e não aceitava as leituras literais e abusivas do Corão feitas pelos
almorávidas, que classificava de odiosos e sanguinários!
Elas e as filhas, tal como
Taxfin e Abu Zakaria, pertenciam a uma civilização diferente, eram os herdeiros
da esplendorosa Córdova do passado.
Incapaz de adormecer,
Zulmira deixara o seu espírito vaguear, Taxfin era o seu segundo marido, e o
casamento deles, quatro anos antes, fora o início de uma longas caminhada, onde
se aliavam o sangue real dela e das filhas, e a habilidade política e militar
dele.
No presente já governavam
Córdova, e sem pressas mas também sem pausas, estavam a construir uma rede de
alianças e cumplicidades para no futuro se rebelarem contra Ali Yusuf.
Um dia, agregariam à sua
volta as taifas de Sevilha, Badajoz, Mérida, Valença, Saragoça, Silves, e
fariam renascer o magnífico califado andaluz.
Zulmira sorrira no escuro,
agradada. Agora em Córdova já ninguém lhe virava a cara, como quando decidira
casar-se pela segunda vez.
Os influentes locais não
haviam gostado, as principais famílias estavam satisfeitas com as benesses que recebiam
do califa almorávida de Marraquexe e não desejavam perturbações.
Hixan de Hisn Abi Xerif, o
primeiro marido de Zulmira, só fora
tolerado pelos berberes almorávidas devido ao seu bom senso e à sua ausência de
ambições, mas verem a viúva dele, e mãe de suas filhas, regressar à política de
Córdova era uma intensa preocupação.
A família de Hixam devia
manter-se afastada do poder e da glória, pois o seu nome e as memórias que
despertava eram uma trepidação desnecessária.
O califado de Córdova desmoronara-se
oitenta anos antes numa guerra civil sangrenta, a “fitna”, estilhaçando-se em
pequenos reinos muçulmanos, que só os almorávidas, vindos de Marraquexe, haviam
colado outra vez.
Ressuscitar o velho califado
era uma qui mera louca e perigosa,
resmungavam muitos cordovezes. Porém, Zulmira não pensava assim. As suas
filhas, Fátima e Zaida tinham origens reais.
Do seu lado, eram bisnetas
de Al-Mutamid, o rei poeta de Sevilha; e do lado de Hixam eram ainda mais
importantes. Embora o marido tivesse morrido, as filhas mereciam aspirar ao
esplendor.
Por isso, quando Taxfin,
actual governador de Córdova, lhe começara a fazer a corte, Zulmira aceitara
casar com ele. Com o seu segundo matrimónio, a família de Hixam reentrava no
palco principal da antiga capital do califado.
O Azzahrat abriu-se para ela
de novo, como no passado longínquo, quando seu pai governara a cidade.
Christine |
Christine
Lagarde
Christine Lagarde mantém-se de lápis vermelho atrás da orelha no
seu perfil estreito e vertical, porte altaneiro, pronta a entrar na água para
mais um exercício de natação sincronizada.
A disciplina e intransigência constituíram para ela o segredo das
suas “perfomances” atléticas. Ceder, era o fracasso, os membros do júri de
avaliação estavam atentos da mesmo forma que, muitos anos depois, os donos do
dinheiro pelo qual ela é responsável, estão a olhá-la com o mesmo grau de atenção
num recado surdo, mas perfeitamente audível para ela, quando se aproxima a data
da reeleição da Directora Geral do FMI, que ela pretende continuar a ser.
Para Cristine, existem dois mundos, talvez mais. O dela é o do pódio
a que se habituou em jovem como atleta de natação sincronizada e campeã pelo
seu país.
Desse tempo, ficou-lhe o gosto das medalhas que ela,
posteriormente substituiu pelos vestidos impecáveis que manda fazer na “alta
costura” e que nada têm a ver com marcas mas com peças únicas confeccionadas
pelos melhores costureiros do mundo.
O seu guarda – roupa, lá em casa, poderia ajudar a financiar o
sistema de saúde na Grécia que abandona à sua sorte muitos dos seus cidadãos.
Na vida, compreensivelmente, ela é vegetariana e divorciada e não
concebe mais do que dois caminhos: o sucesso... e o sucesso, não há
alternativa.
Sem determinação, intransigência e sacrifício o sucesso, ou seja lá
o que isso for, não se consegue alcançar.
Por isso, ela não compreende que os gregos pretendam sobreviver
para além das suas possibilidade e que Tsipras/Varoufakis gritem a sua recusa à
austeridade contrariando os seus antepassados espartanos.
Perante estas queixas, Christine, tira de trás da orelha o seu lápis
vermelho, olha para as propostas apresentadas por Tsipras e fica escandalizada
com tanto dinheiro gasto com pensões.
É assim, quanto mais se sobe na qualidade dos vestidos mais se
desce na reprovação dos trapos e ela, coitada, só é Directora – Geral, não é
política, nunca foi eleita pelos povos para nada, apenas escolhida pela confiança que conqui stou, primeiro pelo rigor dos seus movimentos
dentro de água, agora, pela sua firmeza como Chefe de uma equi pa de técnicos especializados em gerir crises
financeiras por esse mundo fora... no Mali, no Burundi ou na Guiné, através de uma fórmula mágica, igual para todos, e que só ela conhece o segredo...
quarta-feira, junho 24, 2015
IMAGEM
Houve uma mulher em África, há 200.000 anos de quem todos nós descendemos. Os cientistas basearam-se no DNA retirado do mitocôndrias que difere do DNA do núcleo da célula e é transmitido apenas na linhagem feminina. Por isso lhe chamam EVA MITOCONDRIAL. O seu ADN foi passando de geração em geração e está agora presente em todas as pessoas. Há também um Adão que teve origem em África mas viveu em épocas diferentes. A Eva viveu 30.000 anos antes. A ele chamam-lhe AdãoY. É o nosso Mais Recente Ancestral Comum de acordo com a hipótese científica mais aceite.
Esta, da fotografia, não pode ser só porque então ainda não havia máquinas. É pena... é tão bonita!
Whitney Huston - I Will Always Love You
O género humano é diversificado e mau grado a tendência para a padronização sempre vão aparecendo génios nos mais variados sectores. No canto, Whitney, foi um deles...
O futuro do homem no plano genético é muito pouco interessante pois não é
provável que venham a acontecer grandes mudanças como as que ocorreram nos
últimos 100.000.
A força que muda a nossa biologia é a selecção
natural que age através das diferenças entre a mortalidade e a fertilidade entre
os indivíduos mas, como a medicina quase que aboliu a mortalidade antes da
idade reproductiva, se todas as famílias tiverem dois filhos e nenhuma
mortalidade antes da procriação, a selecção natural, pura e simplesmente,
desaparecerá por completo.
As forças da evolução foram completamente mudadas pelos desenvolvimentos
dos últimos 10.000 anos com a invenção da agricultura e a criação de animais e,
como em todas as aplicações, pode haver efeitos colaterais nocivos cabendo ao
homem direccioná-los.
Não há dúvidas de que os resultados alcançados pela agricultura e criação
de animais permitiram ultrapassar uma crise, mas prepararam outras.
Por exemplo, a pastagem indiscriminada de cabras, ovelhas e até de
bovinos em ambientes secos e de solos frágeis determinou rapidamente uma
transformação irreversível e o deserto do Sara foi e continua a ser uma
consequência destes erros.
A Mesopotâmia foi em tempos de uma fertilidade lendária mas os terrenos
foram vítimas da salinização devido a irrigações para fins agrícolas e o
resultado foi, mais uma vez, a desertificação parcial.
Da mesma forma, o uso militar do cavalo não podia ter tido outro efeito
que não fosse a propagação da guerra numa revolução comparável à da invenção
das armas de fogo.
Mas, no plano genético, a grande mudança que está para acontecer na
espécie humana tem a ver com as migrações que conduzem a uma mestiçagem
contínua e complexa.
No final deste processo, se ele continuar, como tudo leva a crer,
ter-se-á uma humanidade que, num determinado aspecto, apresentará menos
diferenças entre os grupos à custa de uma maior diferença entre os indivíduos
no seio de cada grupo.
Haverá, por isso, menos razões para o racismo o que será, em si mesmo,
uma vantagem, mas resulta da simples observação que as taxas de reprodução são
muito diferentes entre os vários grupos étnicos,
Os europeus estão demograficamente estacionários ou em perda, enquanto
que a população de muitos dos países subdesenvolvidos ou em vias de
desenvolvimento está a aumentar a um ritmo que nunca se viu.
De acordo com os dados da ONU, no nosso planeta vivem 6,5 milhares de
milhões de pessoas, e 75% delas em países subdesenvolvidos com menos de 2
dólares por dia.
Considerando a década de 1995
a 2005
a variação da população registada nos diferentes
continentes foi a seguinte:
- Europa………………………………………… - O,36%
- América do Norte (Canadá e EUA)… + 9,8%
-América Latina…………………………… + 13,8%
- África…………………………………………. + 20,4%
- Ásia……………………………………………. +12,1%
Parece, pois, que os tipos louros e de pele clara estão a diminuir a
frequência relativa num mundo que deve aprender a não se multiplicar e, por
outro lado, parece indesmentível que a capacidade de controle da natalidade
varia na razão inversa dos níveis de desenvolvimento, bem estar e educação dos povos.
Mas o futuro cultural do homem está em pleno desenvolvimento e de certo
irá acentuar-se nos tempos vindouros em consequência de uma verdadeira explosão
tecnológica no sector das comunicações.
Uma parte importante deste desenvolvimento vem dos computadores que
funcionam como uma extensão do nosso cérebro que ajuda a memória e a nossa
capacidade de efectuar cálculos numéricos.
Em todo o caso, a comunicação entre os indivíduos está limitada, como no
tempo do paleolítico, pelas barreiras linguísticas muito tenazes entre as
sociedades humanas.
A tendência geral é para a diminuição do número de línguas faladas,
muitas em extinção, e para o aumento de pessoas capazes de falarem
correntemente, para além da língua materna, pelo menos uma das línguas mais comuns.
A língua mais falada no mundo é o Chinês, mais de mil milhões de pessoas,
e a seguir o inglês com a particularidade de que mais de um terço das pessoas
que o falam fazem-no como segunda língua ou língua estrangeira aprendida.
Seguem-se as línguas espanhola, o Hindi, falada por 70% dos indianos, e
em igual posição, o Árabe, o Bengali e o Russo.
Talvez o computador venha a tornar mais fácil no futuro a tradução mas,
por enquanto, ainda estamos longe.
Contudo, as dificuldades de comunicação não constituem o problema mais
grave do mundo, outros existem, de natureza social, bem piores, como sejam:
- O número de pessoas vivendo abaixo do nível de pobreza, a ignorância, o
crescimento demasiado rápido das populações, o racismo, o abuso das drogas e
mais recentemente o terrorismo.
Muitos destes problemas correlacionam-se e interagem agravando os
resultados e dificultando as soluções.
O fortíssimo aumento demográfico nos países mais pobres é uma
consequência de descobertas médicas que reduziram drasticamente a mortalidade
infantil sem que tenha havido uma diminuição dos nascimentos que compensasse.
Os programas sociais foram desadequados e estão na origem de profundos
desequi líbrios e sofrimentos.
A única esperança reside na educação e aqui
os modernos meios de comunicação abrem grandes possibilidades mas ainda estamos
longe de os saber utilizar de modo eficaz e com objectivo educativo.
As religiões, infelizmente, também se esquecem muitas vezes da sua missão
de paz social, transformando-se em adeptas de extremismos preocupantes.
É muito provável que a causa mais importante do actual mal estar seja
precisamente o crescimento demográfico excessivo em muitas partes do mundo mas
poucas são as religiões que se preocupam com isso, também porque consideram que
dar apoio a campanhas de controle dos nascimentos poderia constituir um perigo
contra os seus próprios interesses.
Em certo sentido, várias religiões e outras entidades que têm papel
fundamental na sociedade humana, mostram uma confiança excessiva numa forma de
“darwinismo social” que o próprio Darwin nunca aceitou.
Pensar que as relações sociais podem ser entendidas como uma forma de
selecção natural numa luta de vida ou de morte é uma visão apocalíptica que
poderá ter a ver com a luta pela sobrevivência entre presa e predador mas não
para uma competição entre indivíduos da mesma espécie em que a selecção natural
gera facilmente comportamentos corporativos e altruístas.
Mas, atenção, esse risco de competição não será importante se a densidade
populacional não for excessiva e, neste aspecto, o comportamento reprodutivo na
Europa está francamente em descida mas o resto do mundo tem de seguir
rapidamente o exemplo.
É tarefa de toda a humanidade prevenir os desenvolvimentos perigosos que
possam derivar das suas potencialidades económicas, tecnológicas e do
conhecimento porque só aprendendo a prever é que é possível gerar medidas de
controlo que as possam evitar.
Estamos a chegar a um ponto em que nos apetece pedir à humanidade que
pare um pouco para pensar… porque nos sentimos apreensivos, porque já andámos
muito nesta longa caminhada de tantos milhares de anos, porque já alcançamos
tantas coisas e obtivemos tantas vitórias no que se refere ao respeito que nos
é devido por nós próprios e, no entanto, olhamos para os jornais e muitas
coisas que lá vemos reconduzem-nos ao ponto zero e outras fazem-nos recuar
centenas de anos.
Ao longo do processo evolutivo desenvolvemos características que nos
permitiram uma vitória improvável na luta pela sobrevivência.
Como prémio, ganhamos há dez mil anos, o direito a enveredar por uma nova
fase no nosso percurso de vida que nos abriu perspectivas surpreendentes mas
recheadas de perigos e armadilhas e à medida que caminhamos para a aldeia
global os desafios apenas adqui rem
uma cada vez maior dimensão.
Do passado distante sentimos a nostalgia do “espírito” da tribo que nos
dava a segurança de fazermos parte integrante de um grupo que era, também ele,
a nossa própria razão de ser sem o qual, a nossa vida, não só era impossível como
impensável.
Hoje estamos mais sós, mais entregues a nós próprios, a tribo já não
existe substituída que foi por uma sociedade tão complexa que em muitos
aspectos a deixámos de compreender.
Temos um passado que é uma fonte de ensinamentos, conhecimentos
científicos que eram impensáveis há meia dúzia de anos e, no entanto,
repetimos, no plano social e político, erros de criança permanentemente
desatenta.
Impõe-se uma tomada de consciência colectiva sobre tudo aqui lo que já conseguimos e é consensual no mundo,
servido por uma determinação assente em organizações de âmbito mundial com
força e prestígio indiscutíveis.
O mundo tem que ser regulado e posto ao serviço dos valores da cidadania
e sobre esses valores já ninguém tem dúvidas, o que existe são fragilidades
intrínsecas ao próprio homem na sua implantação.
Por vezes julgamos que estamos próximos…quase que lá chegámos…pelo menos
estamos no bom caminho… mas é mais a nossa boa vontade… porque não conseguimos
deixar de sentir que o desalinho na nossa caminhada para o futuro traduz-se num
grau de incerteza e de ansiedade.
Será que é possível reencontrar o “espírito” da tribo no mundo global?