quinta-feira, abril 26, 2007

Desagradáveis coincidências


DESAGRADÁVEIS COINCIDÊNCIAS

Ontem, 25 de Abril de 2007, comemoramos, mais uma vez, a Revolução dos Cravos.

Hoje, na primeira página do jornal, leio que o Governo incentivou os funcionários públicos a denunciarem casos de corrupção implicando, naturalmente, entre outros, colegas de trabalho.

Voltamos, assim, ao odioso tempo da “bufaria”como lhe chama O Jumento, repondo no país os métodos usados pela PIDE, principal ódio de estimação dos democratas e de todos os amantes da liberdade que foram vítimas desses processos e logo hoje, quando, ainda ontem, comemoramos o 25 de Abril.

Mas que desagradável coincidência…

E não me venham dizer que agora esse método odioso está ao serviço de uma boa causa que é a luta contra a corrupção porque os responsáveis pela máquina repressora do tempo do Salazar argumentavam, de forma paralela, com a necessidade de defenderem os portugueses dos horrores do comunismo.

Ou seja, o método da “bufaria”é reconhecido por todos, fascistas e democratas, como um processo odioso mas defensável se for para lutar por objectivos considerados de interesse vital para a sociedade, sim, porque os homens do regime de Salazar estavam mesmo convencidos que os comunistas eram perigosos da mesma forma que hoje não duvidamos que os corruptos são um “cancro” para a sociedade.

Este incentivo constitui uma falta de respeito e consideração pelos funcionários públicos mas também uma perigosa armadilha, um tratamento diferente relativamente aos trabalhadores do sector privado e ao mesmo tempo “um passa culpas”.

As obrigações de um funcionário perante um caso de corrupção não são diferentes das de qualquer outro cidadão porque não me parece que uns devam ser olhados como “guardiãs do tesouro”e outros simples turistas que nem sequer são de cá, quando, como sabemos, a corrupção prejudica a todos igualmente.

Uma armadilha, porque há certos corruptos que são autênticos especialistas na matéria e não basta denunciar é necessário depois obter a condenação em Tribunal e todos sabemos como nem sempre isso é fácil, e de acordo com o Estatuto Disciplinar do Funcionalismo Público, como muito avisadamente recorda O Jumento, corre o risco de ir para a rua numa eventualidade dessas.

Temos ainda a dualidade de critérios que consiste em estabelecer para o sector privado e a todos os seus colaboradores um Código de Ética que não produzirá grandes efeitos porque não estou a ver os corruptos preocupados com essas coisas das Éticas, enquanto que aos funcionários públicos, na presunção de já terem assimilado tudo quanto à Ética diz respeito, o que se lhes pede agora é que denunciem.

Finalmente, isto parece-me uma manobra de “passa culpas” ou seja, amanhã sempre poderão dizer que se a corrupção não diminuiu foi porque os funcionários públicos não colaboraram…quando o que nos parece é que é o próprio Governo que não aproveita nem explora em termos de investigação tudo quanto sabe ou chega ao seu conhecimento por “portas e travessas”.

Pessoalmente, como cidadão e na defesa dos interesses da nossa sociedade no que à corrupção diz respeito, o que me preocupa é a vontade política do governo em atacá-la com determinação, nos sítios certos e com todos os instrumentos de que dispõe e que são muitos, e não esta medida de meter os funcionários públicos ao barulho com mais uma perigosa obrigação para além daquela que nos compete a todos nós, funcionários ou não.


quarta-feira, abril 25, 2007

A Revolução do 25 de Abril


A REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL

Comemora-se hoje mais um ano sobre a Revolução do 25 de Abril e, na minha opinião, a única revolução verdadeiramente merecedora de ser comemorada.

Neste dia, passados 33 anos, não há viúvas para lamentarem os seus homens, nem mães a chorarem os filhos, nem a Nação empobrecida por ter visto abalar os seus melhores cidadãos envolvidos numa luta fratricida ou simplesmente vítimas de balas perdidas.

Nesse dia, não houve balas perdidas, o sangue não correu pelas ruas, o ódio e a vingança não ditaram as suas leis e à noite os portugueses deitaram-se sem remorsos na consciência.

Nesse dia, os portugueses transformaram em sorrisos o que poderiam ter sido lágrimas e em vez de barricadas o que se viu foi a confraternização de um povo feliz.

Inverteu-se um destino, mudou-se um rumo, caiu um regime e não rolaram cabeças que, em vez disso, foram amavelmente convidadas a seguir para destinos turísticos.

Revolução como esta não consta dos manuais de história e se antes dela alguém tivesse falado em “Revolução dos Cravos” no mínimo teria sido entendida como uma piada de mau gosto.

Mas também é verdade que Carros de Combate que descem à capital para tomar o poder e param aos sinais vermelhos do trânsito aguardando disciplinadamente que surja o verde para seguirem a sua marcha, só é entendível numa “Revolução de Cravos”.

E quando, obtida a vitória, ao fim do dia, o principal responsável operacional, Capitão Salgueiro Maia, regressa ao Quartel para continuar as suas funções como se nada de importante se tivesse passado, mais reforçada fica a ideia que a Revolução era mesmo de Cravos.

Mas se ainda subsistissem dúvidas, sabe-se hoje, 33 anos depois, que a maioria dos principais responsáveis e promotores dessa Revolução não beneficiou nada com ela tendo ficado pelos postos de major, (o ideólogo Melo Antunes), Tenentes-Coronéis e Coronéis respeitando, com uma ou outra excepção, a ideia concertada previamente pelos então “Capitães de Abril” que a “vitória”, a acontecer, não deveria conduzir a uma onda de promoções, graduações ou condecorações.

Percebo que era “difícil” ao Movimento dos Capitães ter enviado para todos os países do mundo um convite para que um pequeno grupo de pessoas seus representantes tivesse estado presente a assistir à Revolução dos Cravos.

Eles “perderam” um belo espectáculo e uma grande lição dada por um pequeno país de pessoas que eram tristes porque há muito tinham perdido a liberdade mas que guardavam dentro de si a esperança de um dia a reencontrarem e então, pelo menos nesse dia, foram felizes, muito felizes, com aquela felicidade que só a liberdade concede.

Se a vida de um país pudesse ser comparada com a vida de uma pessoa que nasce, cresce, vive e morre eu não teria dúvida nenhuma em afirmar que o dia 25 de Abril do ano 1974 da vida desse país feito pessoa, teria sido o mais fascinante de todos eles porque congregou em doses de volúpia sentimentos de amor e de esperança no futuro como nunca foram vividos por tanta gente em um só dia.










Pedra Filosofal e Zeca Afonso...


Pedra Filosofal- The kids




Sinfonia de Bethoven - 1977 - Manuel Freire





cançao de embalar - zeca afonso





Zeca Afonso - 20 anos depois: concerto






José Afonso no jornal da noite da RTP2







segunda-feira, abril 23, 2007

Falta de carácter


Falta de Carácter

O Dr. Marques Mendes, numa primeira reacção à entrevista que o 1º Ministro concedeu à Televisão para explicar o seu percurso académico na Universidade Independente, acusou-o de falta de carácter tendo, mais tarde, insistido que não retirava nem acrescentava nada ao que tinha afirmado.

Pedro Rodrigues, líder da JSD, em apoio ao chefe do seu partido, declarou ontem no Congresso da Juventude, que José Sócrates “revelou falta de carácter sobre as suas habilitações literárias” e logo adiantou que, nesta linha, também “não tem carácter para governar Portugal.”

Não sei porquê, mas estes jovens das Juventudes Partidárias fazem-me lembrar as Claques dos Clubes de Futebol cheias de adrenalina, fervendo de amor ao Clube, sedentas de vitórias…

Em vez de gritos e apupos ao adversário, os elementos das Jotas, apresentam um ar de compenetrada intelectualidade e profundo saber num ensaio para quando, mais tarde, tiverem que fazer declarações no exercício dos cargos do poder para os quais, esperam, vir a ser chamados.

Mas esta “tirada” do líder da JSD foi, claramente, de colagem ao Chefe que tinha sido bastante criticado pela acusação de “falta de carácter” a José Sócrates acusação esta que, entre nós, tem uma gravidade que na escala de Richter de avaliação dos terramotos, será de 8 ou 9 imediatamente antes de “pulha”.

Estas questões de “carácter” não são de fácil medição pois os comportamentos que lhes estão na origem têm que ser vistos e entendidos à luz de muita coisa que, no nosso caso, se resumem “só” aos valores da nossa civilização: ser bom filho, bom pai, bom chefe de família, bom cidadão, bom cristão, enfim, um sem número de juízos sobre uma série de conceitos de grande complexidade entre os quais estará o de “ ser verdadeiro”.

Ora bem, não está provado que José Sócrates tenha mentido no que afirmou nessa entrevista embora, naturalmente, as suas declarações tenham sido ajustadas à defesa da sua posição de aluno que fez parte do seu percurso académico na U. Independente sem favores especiais para além dos que resultavam do funcionamento pouco rigoroso e exigente daquela Universidade.

Mas se me perguntassem se eu queria para o meu país um 1º Ministro, este ou qualquer outro, que dissesse sempre a verdade eu não teria dúvidas em responder que não e não estou, de forma alguma, a fazer a apologia da mentira em política mas apenas a reconhecer que governar um país implica “uma estratégia de relacionamento com a verdade” sem a qual o exercício da função é impossível sem prejuízo para os interesses dos próprios governados.

Não esqueçamos que, por exemplo, para Aristóteles “a verdade é uma adequação entre aquilo que se dá na realidade e o que se dá na mente”, para Nietzsche “a verdade é um ponto de vista” e para Óscar Wilde “ a verdade jamais é pura e raramente é simples”

Não sei se o líder da JSD já tinha reflectido sobre isto quando se pronunciou sobre a “falta de carácter de José Sócrates para governar” ou se ao fazê-lo está simplesmente a treinar a “sua estratégia de relacionamento com a verdade” para quando, um dia, também ele, vier a ser 1º Ministro…

Site Meter