Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, outubro 19, 2013
HARRY NILSSON - WITHOUT YOU
É o maior sucesso
musical de Nilsson e dos maiores da sua época. Rendeu-lhe um disco de platina e
o 1º lugar dos Tops durante 4 semanas nos EUA. Trata-se de uma versão de
Nilsson de uma música originalmente composta pela dupla Pete Ham & Tom
Evans. Harry Nilsson (1940-1994) foi músico, cantor e compositor nascido em Nova York e era
considerado um mago dos estúdios por causa das suas habilidades que faziam com
que a sua música fosse impossível de ser reproduzida ao vivo. Como vocalista
era capaz de alcançar três oitavas e cantava praticamente todas as partes
vocais das suas canções. Jonh Lenonn, dos Beatles, considerou-o o melhor cantor
americano.
Maria não conseguia atingir o orgasmo quando fazia amor com o marido.
Certo dia, ela
contou-lhe:
- Amor, esta noite eu
tive um sonho incrível. Estávamos a fazer amor em cima do armário e tinha um
preto com um leque que nos abanava e eu senti tanto prazer ...
Os dois decidem então realizar o
sonho. Procuram um preto na esqui na
da rua a quem oferecem 500€ para abanar os dois de cima do armário enquanto
fazem amor.
O negro aceita e os três vão para o
quarto.
O casal começa a fazer
amor e o preto, em cima do armário, abana com o leque.
Infelizmente ... não dá nenhum
resultado.
A Maria, então, diz ao Manuel:
- Talvez seja melhor inverter os
papéis ... ficas em cima do armário e ele vem para aqui .
O Manuel, meio perplexo, aceitou.
O preto vai para a cama
com a Maria e o Manuel vai para cima do armário abanar...
Pouco
tempo depois Maria grita de prazer e atinge o orgasmo.
Quando os dois terminam, o Manuel
desce do armário e diz ao preto:
-
Viste como é que se abana? ... Preto de merda!!! ...
VIRIATO
VIRIATO - O NOSSO AVÔ (aqui a sair das pedras da sua serra...) |
O NOSSO AVÔ
Os romanos, quando taxaram Viriato de «dux latronum», capitão de salteadores, não o caluniaram totalmente. Na sua serra era um criador de gado e, por extensão ao tempo desta indústria, o primeiro pegureiro (pastor). Quem tinha rebanhos, não só aviava o surrão aos zagais que os haviam de conduzir aos pastos, como pastoreava também.
Bem certo que não seria uma só vez nem duas que este homem, mais tarde investido das virias, daí Viriato, seguisse encostado ao cajado, ou à lança, os passos dos seus merinos ou corresse, de par com os sabujos, a escorraçar a alcateia esfomeada.
Pastores eram todos os homens naquelas épocas de economia rudimentar e porventura fosse este o mister por excelência.
O Velho Testamento celebra os patriarcas e figuras gradas do patriarcado, Labão, Isaque, Jacob, antes de mais na qualidade de senhores de densíssimas manadas, hábeis, em correspondência, nas sortes e manhas do pegulhal (ovelhas do pastor que são apascentadas com as do amo).
Se se fizesse um paralelo entre as tribos nómadas de que procedeu Israel e as tribos de que a certa altura desabrocharam Viriato, Sertório e os heróis de Numância, - antiga cidade da península ibérica, nas margens do rio Douro, fundada no século III AC e que cometeu suicídio colectivo depois de um cerco de nove meses para não caírem vivos nas mãos dos romanos - haveria muito que distinguir em grau de civilização?
Os lusitanos davam-se à pastorícia, uma das primeiras actividades do homem ao romper da idade neolítica, como a gente da borda se dava à pesca. Mas semelhante lida não os inibia de exercer outros ofícios, um deles, velho como o mundo: saltear os haveres do semelhante.
No fundo, era uma prática como outra qualquer, com todos os foros de universalidade. A forma é que tem variado, rebuçada em leis e mandamentos, especiosamente divergentes. Nada mais natural, portanto, que as tribos das serras, onde a vida era áspera e difícil e os moradores mais de uma vez deviam adormecer com os estômagos a ladrar, acumulassem com a função comum a de salteadores.
Era uma ordem de cavalaria de tantas consagradas pela História, como por exemplo, mais tarde a do Templo. Roubavam-se mais ou menos de pé fresco uns aos outros, e em caterva abatiam-se sobre as terras fartas e latinizadas do Sul.
Em três tempos, então, passavam os galfarros a tudo o que tivesse aparência de boa presa. O ditado: «olho vê, pé leva e mão pilha» marca o ritmo hispânico quanto a tais empreendimentos. É mesmo possível que a sorte destas expedições constituísse títulos de glória para os seus autores.
O mais afortunado receberia o preito da fama como nas batalhas os valentes. A moral na Lusitânia, assim era como Sparta, representa um ludíbrio à face das tábuas brônzeas do Decálogo. Melhor seria dizer: cada serra com sua consciência, do que cada terra com seu uso. Pilhar o vizinho, celtibérico ou vetão apaniguado do romano, era virtude e não crime.
Não mareiam pois a coroa de louros a Viriato os adjectivos pejorativos que Valério Maximum, Apiano e Cassiodoro lhe infligem, tais como ladrão refinado e capitão de quadrilha.
- Com muita honra – diria ele.
Aquilino Ribeiro - Da obra "Príncipes de Portugal"
ANTÓNIO MOURÃO - NÃO TENHAM PENA DE MIM
Faleceu esta noite (18 de Outubro 2013)
Com o nome artístico de António Mourão, António Manuel Dias Pequerrucho, (Montijo, 5 de Junho de 1935 - Lisboa, 19 de Outubro de 2013) foi um fadista português. O fadista António Mourão, de 78 anos, faleceu esta noite (18 Outubro)na Casa do Artista, em Lisboa.
O autor do conhecido tema “Ó tempo volta para trás”, nascido a 5 de Junho de 1935 e natural do Montijo, afastou-se do mundo artístico nos anos 90 e vivia retirado num Lar de Artistas
As causas da morte de António Mourão não foram divulgadas.
António Mourão tornou-se num cantor muito popular, pelo que, de forma natural, percorreu o país e chegou a cantar em vários palcos no estrangeiro, em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Venezuela, África do Sul, França e Alemanha.
Também gravou outros temas marcantes, de fado e de folclore, como "Os Teus Olhos Negros, Negros", "Chiquita Morena", "Oh Vida dá-me outra vida", "Fado do Cacilheiro" ou "Varina da Madragoa".
Na revista “E Viva o Velho”, no Teatro Maria Vitória, interpretou "Oh Tempo Volta Para Trás", da dupla Damas-Paião, que se tornaria um dos maiores êxitos da história da música portuguesa.
Episódio Nº 141
Na divisão das coisas que
Luigi não conseguiu vender, o urso coubera a António Balduíno e a Rosenda.
Rosenda nem percebeu que aqui lo
tinha sido combinação entre António Balduíno e Luigi. O negro falou:
- A gente não pode dividir
o bicho… Para vender a gente não sabe quem dá um mil reis coado por ele.
- O que é que a gente faz?
- A gente leva para a Baía. Tou pensando na
minha cabeça que a gente pode ganhar dinheiro com ele na Feira da Água dos
Meninos…
- Ou no teatro… - arriscou Rosenda.
- Também – o negro apoiava porque não queria
discutir.
No cais souberam que o
saveiro de Mestre Manuel chegaria dois dias depois.
Esperaram o “Viajante sem
Porto”.
Mas o Inverno batia nas
águas do rio. Chuvas grossas enfarruscavam a face das águas. O rio descia
caudaloso e trazia troncos que arrancara nas plantações, cadáveres de animais,
e passou até uma porta que a água tirara de uma habitação.
As coroas de pedras haviam
desaparecido e os homens não entravam mais pelo rio para buscar o peixe do
almoço. O rio estava traiçoeiro e roncava como um animal dos matos. Grupos
ficavam a espiá-los de cima da ponte e ele passava em baixo como uma serpente.
De cima vinha cheiro doce
de fumo. O rio já engolira dois saveiros neste inverno. Havia uma operária
enlutada numa das fábricas.
Caem grandes cargas de
água durante a noite. Não há, por consequência, razão para Rosenda Rosedá sair
esta noite da pensão de Dona Raimunda e inventar esta história de passeio.
Foi para Cachoeira com
certeza. Ela queria era deixá-lo ali como uma besta, tomando conta do urso, que
andava impaciente com a chuva que desabava no telhado, com o ruído do rio, com
o cheiro do fumo.
Não podem deixar o urso
sozinho, isso é verdade. Mas para quê este passeio de noite? – e o negro
António Balduíno bate a mão fechada na mesa.
Se ela pensa que ele é
burro, que não entende, está enganada. Ela pensa que ele não viu aquele alemão
atrás deles desde a noite em
que Giusepe morreu? Nunca mais deixara de segui-los, de
procurar conversa, de dizer coisas.
Por duas vezes António
Balduíno qui sera interrogá-lo,
perguntar o que ele queria. Agora se lembra bem que uma tarde dissera a
Rosenda:
- Eu vou perguntar a este gringo se ele nunca
me viu…
Rosenda achou que não
valia a pena, que era besteira brigar, que com certeza o gringo nem estava
olhando para eles. E o arrastou dali.
Mulher quando quer tapa os
olhos da gente. Mas agora ele estava com os olhos bem abertos e compreendia.
Ela saíra para se encontrar com o branco.
Andariam por qualquer
parte, ela abrindo as coxas para ele. Negra sem vergonha aquela!
Que era gostosa era mesmo,
mas ele não era homem de ser enganado assim. Sempre se gabara de largar as suas
amantes e Rosenda queria brincar com ele. Onde andaria?
sexta-feira, outubro 18, 2013
NOVOS TESTES
DOS PSICÓLOGOS...
Um sujeito está numa entrevista para emprego. O psicólogo dirige-se ao candidato e diz:
- Vou fazer-lhe o teste final para a sua admissão.
- Perfeito! - diz o candidato.
O psicólogo pergunta:
- Você está numa estrada escura e vê ao longe dois faróis emparelhados a virem na sua direcção. O que acha que é?
- Um carro. - diz o candidato.
- Um carro é muito vago. Que tipo de carro? Um BMW, um Audi, um Volkswagen?
- Não dá para saber, não é?
- Hum... - diz o psicólogo, que continua - Vou fazer-lhe outra pergunta: Você está na mesma estrada escura e vê só um farol a vir na sua direcção. O que é?
- Uma mota - diz o candidato.
- Sim, mas que tipo de mota? Uma Yamaha, uma Honda, uma Suzuki?
- Sei lá, numa estrada escura, não dá para saber... (já meio nervoso)
- Hum..., diz o psicólogo. Aqui vai a última pergunta:
- Na mesma estrada escura você vê novamente um só farol, menor que o anterior, e você apercebe-se que vem mais lento. O que é?
- Uma bicicleta.
- Sim, mas que tipo de bicicleta? BTT, estrada, passeio...?
- Não sei.
- Lamento, mas reprovou no teste! - diz o psicólogo.
Aí o candidato dirige-se ao psicólogo e fala:
- Interessante esse teste. Posso fazer-lhe uma pergunta também?
- Claro que pode. Pergunte.
- Você está à noite numa rua iluminada.Vê uma mulher com maquilhagem carregada, vestidinho vermelho bem curto, a girar uma bolsinha... o que é?
- Ah! - diz o psicólogo - é uma puta.
- Sim, mas que puta? A sua irmã? A sua mulher? Ou a puta que o pariu?
Rubem Alves
Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente
tem coragem para aquilo que ele realmente conhece,
observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega:
Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos.
Tardiamente.
Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
... colunista da Folha de S. Paulo ...
Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente
tem coragem para aquilo que ele realmente conhece,
observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega:
Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos.
Tardiamente.
Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.
Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus
como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar:a democracia é o governo do povo.
Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus
como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar:a democracia é o governo do povo.
Não sei se foi bom negócio;
o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável,
é de uma imensa mediocridade.
Basta ver os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo
como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direcções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha
para que o povo, na planície,
se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso
que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição.
Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias
pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário
pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa
numa parábola do amor de Deus.
Deus era o amante apaixonado.
O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros,
porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces;
a verdade é amarga.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola
com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos
sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões,
se transformaram em donos do circo.
O circo cristão era diferente:
judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa,
se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável,
é de uma imensa mediocridade.
Basta ver os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo
como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direcções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha
para que o povo, na planície,
se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso
que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição.
Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias
pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário
pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa
numa parábola do amor de Deus.
Deus era o amante apaixonado.
O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros,
porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces;
a verdade é amarga.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola
com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos
sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões,
se transformaram em donos do circo.
O circo cristão era diferente:
judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa,
se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro
"O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo,
a razão é silenciada pelas emoções colectivas.
Indivíduos que, isoladamente,
são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
se incorporados a um grupo tornam-se capazes
dos actos mais cruéis.
Participam de linchamentos,
são capazes de pôr fogo num índio adormecido
e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,
segundo a verdade e segundo os interesses da colectividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.
Mas uma das características do povo
é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens
e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista
que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam
a ser assimilados à colectividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung,
o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular.
O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!
Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche,
de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock,
não gosto de música sertaneja,
não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo,
eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos
e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno",
à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça,
é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.
Rubem Alves
"O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo,
a razão é silenciada pelas emoções colectivas.
Indivíduos que, isoladamente,
são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
se incorporados a um grupo tornam-se capazes
dos actos mais cruéis.
Participam de linchamentos,
são capazes de pôr fogo num índio adormecido
e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,
segundo a verdade e segundo os interesses da colectividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.
Mas uma das características do povo
é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens
e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista
que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam
a ser assimilados à colectividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung,
o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular.
O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!
Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche,
de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock,
não gosto de música sertaneja,
não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo,
eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos
e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno",
à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça,
é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.
Rubem Alves
NOTA
Tem razão Ruben Alves sobre o risco que representam as massas. Quando o povo diz que "muita gente junta não se salva" reconhece exactamente esse perigo, mas trata-se de um risco que pode ser minorado, não eliminado. A liberdade terá sempre o preço mais baixo porque permite equilíbrios... A educação, cultura e o desenvolvimento de um sentido da responsabilidade cívica ajudam à esperança...
A democracia é uma longa estrada que privilegia a liberdade dos cidadãos mas não os põe a salvo da manipulação. Dela, só cada um, através da sua formação como homens e essencialmente como cidadãos, se pode defender.
O Que Dizem eles:
O Que Diz a Bíblia?
- Ignora. Não era
assunto que merecesse atenções de natureza moral. Faz apenas uma pequena
referência de carácter jurídico-penal quando um homem, durante uma luta,
golpeia uma mulher que estava grávida provocando-lhe o aborto, sem qualquer
conteúdo de carácter moral.
Quanto ao Novo
Testamento em nenhum evangelho é feita alguma referência ao aborto.
- Nada disse, nada ensinou, nem o mencionou, ele
que denunciou com tanta firmeza os que atentavam contra a vida humana,
desprezando e excluindo os doentes, condenando e marginalizando as mulheres que
defendeu as crianças, os leprosos, os deficientes, jamais falou do aborto. No
entanto, os radicais da condenação do aborto, usavam textos bíblicos retirados
do contexto e a que davam interpretações perversas.
Problemas
Que Levanta:
- Quando Começa a Vida Humana?
– A resposta da ciência diz-nos que o facto do
feto se mover, respirar, sentir, não é o que o faz humano. Quando vemos uma
ecografia o feto parece-nos uma pessoa em “miniatura” mas é simples aparência.
O feto de um macaqui nho também será
muito parecido com o de um ser humano.
O que é verdadeiramente específico do
ser humano está no seu cérebro com os seus cem mil milhões de neurónios e com
os biliões e biliões de possíveis conexões que se podem estabelecer entre eles
e que nos permitem pensar, falar, conhecer quem somos, eleger, planificar,
transformar a realidade, sonhar, decidir, criar, saber que vamos morrer, tudo
isto é que faz de nós humanos.
Um embrião e um feto são vida humana em
potência, em caminho. São
uma semente com capacidade para ser uma árvore.
Teremos a obrigação de
transformar toda a semente em árvore?
Quando Começa a Vida Humana a Ter Alma?
Quando Começa a Vida Humana a Ter Alma?
– Se a pergunta se coloca à Ciência deve ser
formulada assim:
- Quando começa a ser humana a vida?
Se a questão se põe à
Religião a formulação é:
- Quando é que Deus infunde a alma num ser
humano?
Esta pergunta tem respostas diversas consoante
as religiões e consoante as épocas.
O que é a alma, em que momento o corpo humano a
O que é a alma, em que momento o corpo humano a
recebe?
- Podemos dizer que a
alma é o que nos faz humanos e que ela radica no cérebro mas quanto ao momento
exacto em que o ser humano “recebe a alma” nunca haverá como sabê-lo porque…
esse momento não existe.
É um tema que continua a ser polémico
mesmo que a ciência tenha vindo progressivamente a esclarecer estes assuntos.
Ao tempo de São Tomás de Aqui no,
este, que se considera um dos pilares do pensamento da Igreja, afirmava que a
alma era “infundida por Deus” aos 40 dias… se fosse menino e 80… se fosse
menina… e que a mulher era um “homem falido”…
Os avanços da ciência fazem com que
hoje muitos teólogos cristãos partilhem da ideia de que não há alma enquanto
não se tenha formado o córtex cinzento no cérebro, enquanto não tenha alcançado
a capacidade de ser viável de forma independente fora do ventre materno.
Só há menos de um
século, após a proclamação do dogma da Imaculada Concepção de Maria, o Vaticano
impôs á Igreja Católica a ideia de que a alma existe desde o momento da
fecundação, a que eles chamam “concepção”, termo que nunca recorre à ciência ou
à ginecologia. É uma ideia também assumida por várias igrejas evangélicas mas
não pelos protestantes históricos que têm como princípio fundamental a
liberdade de consciência sobre a interpretação dogmática e têm, portanto,
posições muito mais flexíveis sobre o aborto.
Esta Campanha tem o seu momento alto com a proclamação a “santa”,
em Maio de 2004, pelo Papa João Paulo II da italiana Gianna Beretta Molla
(1922-1962).
Esta senhora tinha marido e três
filhos e no 2º mês da gravidez do 4º filho detectou-se um fibroma canceroso
junto do útero que ameaçava a sua vida e a do feto. Os médicos disseram-lhe que
para salvar a sua vida teria que interromper a gravidez. Para não pecar, não
aceitou, levou a gravidez até ao fim, nasceu uma menina e ela, de acordo com as
previsões dos médicos, faleceu de cancro ao fim de sete meses depois do parto
deixando um viúvo e quatro órfãos.
O Papa João Pulo II canonizou-a e
propô-la como modelo exemplar de todas as
mulheres e esposas católicas.
A Maior Severidade
– Por que é que as
posições oficiais da Igreja Católica são as mais rígidas, não só sobre o aborto
como também se opõe à anti concepção colocando a mulher num beco sem saída
mesmo quando se sabe que a planificação familiar com os diversos métodos
anti-concepcionais a melhor prevenção contra o aborto porque evita as
gravidezes indesejadas.
Apenas aceita o método do “ritmo” que
é ineficaz e complicado mas recusando o preservativo e a pílula do dia
seguinte.
Não é fácil entender tanta severidade
mas são conhecidas algumas explicações:
- A tradicional misoginia consubstanciada numa aversão ou ódio
às mulheres e ao feminino e da crença na inferioridade das mulheres;
a)- Desejo de controlar a sexualidade das mulheres;
b)- Travar a liberdade de consciência das mulheres.
Outras Opiniões:
- A teóloga brasileira Ivone Gebara:
“A mulher não está obrigada
a abortar ou a não abortar mas deve ter o direito de decidir. A sociedade nega
esse direito às mulheres pobres, desde o momento que lhes nega o direito a uma
educação sexual”.
- A escritora Isabel Allende:
- A escritora Isabel Allende:
“O aborto é um problema
que afecta quase todos, directa ou indirectamente, pelo menos uma vez na vida.
Ninguém está a favor do aborto. É uma solução desesperada que não agrada a
ninguém e deixa sempre cicatrizes emocionais e físicas”.
António Balduíno |
JUBIABÁ
Episódio Nº 140
Juju apresentou o macaco e o urso. Lá em
cima estavam trapézios. Fifi faria outro número para encher o espectáculo.
Estava na hora e os mata – cachorros prepararam os trapézios que ficaram
balançando no ar.
Todos olhavam para cima. Fifi apareceu
de saiote verde, cumprimentou e subiu. Experimentava o trapézio quando uma
figura invadiu o picadeiro vestida com uma roupa sovada de casimira e andando
como um bêbedo.
Era Giusepe. Luigi se precipitou atrás
dele mas, como a multidão aplaudia pensando que fosse outro palhaço, deixou-o
correndo pela arena e gritando para os espectadores:
-
Ela vai cair! Ela vai cair!
O público ria. E riu mais quando ele
afirmou:
-
Eu vou salvar a pobrezinha…
Ninguém conseguiu agarrá-lo mais. Subiu
pela corda com uma agilidade que ninguém acreditaria possível nele, soltou o
outro trapézio. Fifi do outro lado olhava assombrada, sem saber o que fazer.
Os espectadores não percebiam nada.
Luigi e dois mata-cachorros subiam para o trapézio. Giusepe deixou que eles se
aproximassem e quando se sentiu bem perto com o trapézio, se soltou no ar, deu
o mais belo salto mortal de toda a sua carreira e procurou com as mãos aflitas
o outro trapézio.
Caiu no picadeiro e as suas mãos
angustiadas procurando o trapézio, pareciam dar adeus.
Mulheres desmaiavam, pessoas corriam
para a porta, outras se aproximavam do corpo. As mãos pareciam dar adeus.
A B C
DE ANTÓNIO BALDUÍNO
INVERNO
O Inverno lavou tudo. Lavou até as
manchas de sangue que ficaram no lugar que foi o picadeiro do Grande Circo
Internacional.
Luigi vendeu as tábuas da arqui bancada, o pano grande, o macaco a um dos alemães
da das fábricas, distribuiu o dinheiro pelo pessoal e declarou o circo
dissolvido.
Juju partiu para a cidade do Bonfim por
onde andava outro circo. Talvez arranjasse trabalho… Antes de partir disse aos
outros:
-
Nunca vi um circo tão sem dinheiro… Mas eu gostava dele.
Luigi juntou o leão e Fifi e foram
peregrinar pelas cidadezinhas do interior, fazendo de barracões teatros, cobrando
500 reis de entrada.
O homem cobra deu um espectáculo em seu
benefício no teatro local e desapareceu.
António Balduíno pensava que se ele
fosse para as plantações de fumo seriam capazes de o tomar como a uma mulher.
Ele às vezes parecia uma dama, outras vezes parecia um adolescente.
Mas é que o negro não vira em Cachoeira
um homem que um dia apreciara a estreia do Circo em Feira de Sant’Ana.
Um homem viajado, já estivera no Rio e
na Baía, e que se retirou do Circo mal acabara o número do homem cobra.
Fugiram num automóvel. Só depois é que
se soube que a polícia procurava aquele homem que furtara todo o dinheiro de
uma loja onde era empregado.
quinta-feira, outubro 17, 2013
Presidente Eduardo dos Santos |
A Zanga do Presidente
Eduardo dos Santos de
Angola com Portugal
Por Seixas da Costa (embaixador)
Sempre me pareceu demagógico e ter um fundo bárbaro nada recomendável. Desrespeitou e humilhou a autoridade tradicional, a rainha Nhakatolo, dos Luenas, que tive oportunidade de conhecer pessoalmente, no Lumbala quando se foi queixar ao Governador Geral , o recém falecido Silvino Silvério Marques, em visita à região, nestes termos: "Governador, os teus elefantes causam muito prejuízo. Manda um caçador dar tiros neles..." e era verdade, ficavam sem um pé de mandioca. Muitas vezes adormeci ao som do bater de latas para enxotar os elefantes... finalmente, Seixas da Costa, mais novo que eu, tirámos o mesmo curso no Instituto de Ciências Sociais e com uma inteligência brilhante sempre desempenhou cargos de responsabilidade no país.
Não posso ficar indiferente. Combati em Angola, lá ia morrendo, e sempre discordei daquela guerra. A independência dos povos pareceu-me ser sempre de uma justiça óbvia. Vivi, entre 1964/65, mais de um ano, "nas terras do Savimbi", no Alto Zambeze, no Lumbala, Distrito do Moxico, e nunca viria a simpatizar com ele.
Sempre me pareceu demagógico e ter um fundo bárbaro nada recomendável. Desrespeitou e humilhou a autoridade tradicional, a rainha Nhakatolo, dos Luenas, que tive oportunidade de conhecer pessoalmente, no Lumbala quando se foi queixar ao Governador Geral , o recém falecido Silvino Silvério Marques, em visita à região, nestes termos: "Governador, os teus elefantes causam muito prejuízo. Manda um caçador dar tiros neles..." e era verdade, ficavam sem um pé de mandioca. Muitas vezes adormeci ao som do bater de latas para enxotar os elefantes... finalmente, Seixas da Costa, mais novo que eu, tirámos o mesmo curso no Instituto de Ciências Sociais e com uma inteligência brilhante sempre desempenhou cargos de responsabilidade no país.
Sobre a reacção do Presidente Eduardo dos Santos, que afirmou em discurso da Nação, cortar com as Relações Privilegiadas que tem connosco porque tem havido fugas de informação em casos de justiça que envolvem e comprometem altas figuras do Estado de Angola, Seixas da Costa, sobre este momento desagradável das relações entre os dois países, escreveu o seguinte artigo que transcrevo e subscrevo na íntegra:
"Num dia
dos anos 80, numa conversa em Luanda, quando era por lá diplomata, uma figura
que viria a ter responsabilidades nas relações externas daquele país disse-me,
mais ou menos, esta frase: "O peso da guerra colonial é muito forte. Portugal e
Angola estão "presos", um ao outro. Umas vezes, isso será uma coisa boa, noutras
vai ser bastante má. O futuro estará nas mãos dos que melhor souberem gerir a
impaciência e a irritação que, durante muitos anos, vai continuar a existir
entre nós." Isto foi afirmado num momento menos bom das relações bilaterais, com
guerra civil angolana e fortes tensões entre Luanda e Lisboa. Lembro-me dessa
frase muitas vezes e ainda não encontrei razões para infirmar a sua
justeza.
Durante
quase quatro décadas de diplomacia, assisti a todos os registos possíveis na
atitude portuguesa face a Angola. Não os vou tipificar a todos, mas sempre direi
que foram desde um seguidismo quase subserviente, para "não aborrecer o
Futungo", até a atitudes de grosseira ingerência na vida interna do país,
deliberadamente provocatórias para o governo de Luanda. No primeiro dos casos,
por realpolitik, económica ou estratégica, noutros casos pelo exacerbar de
raivas de quem parece não se conformar com o fim do prazo de validade da atitude
neo-colonial. Ambas as posturas permanecem ainda hoje por aí, continuando a ser
caricaturalmente ridículas. E perigosas.
A
primeira apressa-se a calar qualquer reação a tudo quanto emane, oficial ou
oficiosamente, de Luanda. Perante declarações de responsáveis ou editoriais
furibundos da imprensa local, que descarregam ácidos comentários sobre Portugal
e a figura de alguns portugueses, a propósito da atitude da nossa Justiça face a
atos praticados por cidadãos angolanos em território português, logo surge a
conhecida legião dos "angolorrealistas" a recomendar silêncio, à luz da
sacrossanta proteção dos "interesses portugueses em Angola". Nalguns casos, a
tese do "apaziguamento" vai até onde agora se viu.
A
segunda é a velha escola da contestação da legitimidade do MPLA e das
autoridades políticas angolanas em geral. Num primeiro tempo, essa doutrina
apoiava-se numa patética hagiografia da UNITA, titulada pelos utentes dos "Jamba
tours", cegos para a barbárie do líder do "Galo Negro". Mais recentemente, essa
atitude transmutou-se e surge escudada nas preocupações éticas, apoiadas numa
espécie de "droit de regard" paternalista, que parece autorizar a que Portugal
possa dar-se ao luxo de ter opiniões firmes quanto ao modo como os angolanos,
não apenas organizam o seu poder político, mas a própria distribuição interna
dos seus recursos.
A
relação entre Portugal e Angola é demasiado importante para ficar limitada por
esta dicotomia. Como antigo profissional da diplomacia portuguesa, só posso
lamentar que o nosso entendimento bilateral com Angola esteja, em permanência,
dependente de humores induzidos do exterior ou motivada por agendas ideológicas.
Da mesma forma, a nossa política externa não pode continuar num tropismo quase
exclusivamente reativo, enredando-se, ciclicamente, em epifenómenos tristes e
degradantes. E, embora nada tendo a ver com isso, devo admitir que isso possa
também corresponder ao interesse de Angola, um Estado com um crescente perfil
internacional, uma potência regional que não parece poder ter a menor
conveniência de deixar-se arrastar, diretamente ou por intemediários oficiosos,
numa espécie de esquizofrenia diplomática com a antiga potência colonial, a
qual, a prolongar-se neste registo, se arrisca a conferir-lhe uma imagem de
imaturidade no plano internacional.
Separemos,
de uma vez por todas, as coisas: à Justiça o que é da Justiça, à política o que
é da política!
Meço
bem estas palavras: aos responsáveis angolanos deve ser dito, de forma clara e
frontal, que não podemos deixar de considerar inamistosos comentários oficiosos,
ou sem visível reação de distanciação oficial interna, que põem em causa a
imagem de Portugal, bem como a honra e o funcionamento das nossas instituições
judiciais, a pretexto de incidentes que envolvam figuras angolanas no nosso
território; da mesma forma que não seria admissível, da parte oficial
portuguesa, a expressão de suspeitas sobre o comportamento da Justiça angolana,
num conjunto de casos em curso, que, embora pouco conhecidos, envolvem hoje
interesses e a liberdade de cidadãos portugueses que vivem ou trabalham em
Angola.
Cá como
lá, nenhum operador da Justiça está acima da crítica, mas convém lembrar que os
sistemas judiciais dispõem de meios próprios de contestação e recurso, que
permitem regular posições que se opõem. A Justiça faz-se nos tribunais, não nos
jornais. E, em Angola como em Portugal, ela deve atuar de forma independente,
sem atender aos apelidos e às "cunhas".
Temos o
dever, de uma vez por todas, de acabar com a ideia de que Portugal e Angola são
dois países eternamente reféns um do outro, através de misteriosas conspirações,
chantageados por interesses ou por ódios ideológicos ou outros. É obrigação dos
responsáveis de ambas as partes dar passos através de um diálogo político
frontal, no sentido de descrispar este ambiente, que não é salutar nem digno de
dois Estados soberanos, unidos por muitos e legítimos interesses, que estão
muito para além dos fait-divers de conjuntura.
Para o
futuro, temos a obrigação de saber estruturar com Angola uma relação diplomática
madura e sem tabus, por muito que isso possa desagradar aos "enragés" da
vingança pós-colonial, de ambos os lados da fronteira, a qual, aliás, não existe
entre nós. Resta a convicção de que, com o tempo, e também de ambos os lados,
esses persistentes militantes da acrimónia bilateral acabem por cair no "caixote
do lixo da História", citando um clássico que, cá como lá, já esteve mais na
moda.
*)
Embaixador
DN de 16.10.2013