sábado, julho 10, 2010


ENTREVISTAS


FICCIONADAS


COM JESUS CRISTO


Entrevista Nº 40


TEMA – O SACRAMENTO DA CONFISSÃO



Mulher – Ave-Maria Puríssima…

Padre – Concebida sem pecado…

Mulher – Padre, acuso-me de…

Padre – Como penitência vais rezar 40 Padre-Nossos e 40 Avé-Marias…

Raquel – Os nossos microfones indiscretos estão hoje instalados na Igreja do Redentor, em pleno coração de Jerusalém. Tal como nos dias anteriores, Jesus Cristo acompanha-nos. Falemos do que estamos presenciando, uma confissão.

Jesus – Explica-me o que se está passando aí, Raquel.

Raquel - Esta mulher contou ao sacerdote todos os pecados que cometeu e o sacerdote perdoou-lhos.

Jesus – Vejo a mulher mas… onde está o sacerdote?

Raquel – Escondido naquela jaula de madeira.

Jesus – Mas diz-me Raquel, a quem ofendeu a mulher? Ao sacerdote que está enjaulado?

Raquel – Não creio…

Jesus – Então, por que está pedindo perdão a ele?

Raquel – Porque… porque é assim a confissão.

Jesus – Que estranho…

Raquel – Por que dizes estranho?

Jesus – Porque se ela ofendeu a outro por que está pedindo perdão ao sacerdote?

Raquel – Bem, segundo o catecismo este é um dos sete Sacramentos instituídos pelo senhor mesmo.

Jesus – Por mim?... Creio que… Por que não consultas um desses teus amigos que sabem tantas coisas da religião?

Raquel – Deve haver uma confusão sobre a confissão…espere, dê-me um momento…Posso tentar contactar Rafael Martinez Árias, das Comunidades Cristãs de Madrid… vamos ver se temos sorte com o telemóvel… senhor Martinez Árias?... estou a falar-lhe de Jerusalém com uma pergunta muito pontual: como teve origem o sacramento da Confissão?... como diz… os monges irlandeses?... quinhentos anos depois de Cristo?

Jesus – Raquel, eu quero ouvir também…não podes fazer com que eu oiça também aquilo que ele te está a dizer ao ouvido?

Raquel – Sim, espere… eu aumento o volume…

Rafael – Esta forma privada de pedir perdão inventaram-na os superiores religiosos em alguns conventos irlandeses. Assim, podiam conhecer até os pensamentos mais íntimos de cada um dos seus monges. Da Irlanda passou para outros países e séculos mais tarde, um Papa, Inocêncio III, que de Inocêncio nada tinha, impôs a confissão como norma obrigatória para todos os cristãos.

Raquel – Por que fala mal desse Papa?

Rafael – Porque era um prepotente. Vivia rodeado de luxos, fazendo negócios sujos.

Raquel – E que interesse tinha esse Papa em impor a confissão?

Rafael – Veja, eram tempos de grande descontentamento contra as autoridades da Igreja. Então, esse Papa, teve a ideia de obrigar todos os cristãos a confessarem os seus pecados aos sacerdotes e a estes disse-lhes para interrogarem todos os que se confessassem para conhecerem as suas ideias religiosas e políticas.

Raquel – E daí nasceu o sacramento da confissão?

Rafael – Sim, como o de hoje. Foi esse Papa do século XIII que impôs a confissão, não como uma medida para perdoar os pecados, mas sim para os averiguar, para descobrir os hereges, os dissidentes.

Jesus – Pergunta-lhe se as pessoas aceitaram esse jugo…

Raquel – Aqui, Jesus Cristo, pergunta se o povo se submeteu a esse controle do Papa Inocêncio III.

Rafael – Não, protestaram… mas depois do III veio o IV, Inocêncio IV. Com esse cabrão, digo com esse Papa, começaram os nefastos Tribunais de Inquisição.

Raquel – Obrigado, Rafael… Que lhe parece Jesus Cristo sobre o que acabamos de ouvir?

Jesus – É um jugo pesado, uma carga insuportável sobre os filhos de Deus.

Raquel – Concluamos: não foi o senhor que instituiu a confissão e, portanto, não se sente responsável pelo secretismo de que ela se rodeia, nem pelos confessionários, listas de pecados, penitências?

Jesus – Não conheço nada disso. Eu falei de perdão e aquilo que disseram é muito diferente.

Raquel – Diga-nos, então, o que disse.

Jesus – Digo-te, mas lá fora. Está a faltar-me o ar… nunca gostei de Templos. Vamos para o ar livre.

Raquel – Vamos… eu também prefiro o ar livre… Raquel Perez, Emissoras Latinas.



NOTA

Rafael Martinez ÁriasÉ um cristão que de há muito deixou de confessar-se. Participa de um Programa que contribui com dados históricos para se entender como “nasceu” este “sacramento” que nada tem, na sua origem, da mensagem libertadora de Jesus Cristo e
hoje é
uma prática obsoleta para muitos cristãos em todo o mundo.

Origens – Tudo começava com as águas do baptismo que dava lugar a uma nova vida em que se estava “limpa” do pecado e esta “limpeza” era entendida pelas primeiras comunidades cristãs como uma conversão, uma “mudança de vida”. É a partir do século III que o sacramento da penitência por pecados cometidos se começa a organizar e a praticar com regularidade.

Durante séculos, quem perdoava os pecados eram os Bispos e a penitência só se fazia por pecados graves sendo que, o penitente, devia vestir-se com algum sinal que o distinguisse dos outros de forma a que todos soubessem que ele se reconhecia como pecador. Os Livros Litúrgicos dizem como ela devia ser praticada podendo levar dias, semanas ou meses.

A penitência “privada”, a que chamamos de confissão, tem o seu início no Sec. VI, por influência dos monges irlandeses.

O Confessionário - Aquele móvel que ainda hoje se usa, principalmente nas Igrejas antigas, aparece pela primeira vez no Concílio de Trento (1542-1562). Até então, a situação do acto da confissão tinha-se degradado completamente chegando-se ao ponto de os sacerdotes sentarem as penitentes nos seus joelhos.

De acordo com documentos arquivados é descrito um delito que consistia no sacerdote pedir, durante a confissão, que o ou a penitente realizasse “actos torpes e desonestos com ele ou terceiras pessoas”.

O aparecimento do confessionário procurou pôr cobro a uma situação em que a confissão tinha por base um amor clandestino entre o confessor e o/a penitente. Percebeu-se, que sem uma separação estrita entre ambos o assédio sexual e as práticas sexuais não acabariam. Decidiu-se, por isso, pelo móvel do confessionário que deveria estar instalado em local iluminado, bem visível, e que não teria portas ou cortinas entre o confessor e o penitente, apenas uma grelha cujos orifícios deveriam ser tão pequenos que não permitissem introduzir os dedos para realizar “carícias eróticas”.

No Século XVI, a Reforma Protestante recusou a Confissão ao proclamar que não é necessário nenhum intermediário entre os homens e Deus.

WHITNEY HOUSTON - I WILL ALWAYS LOVE YOU
mais uma vez, ontem, vi o filme "O Guarda Costas", na RTP. ... os olhares de preocupação de Kevin Coster, a segurança que ele lhe transmite, a cumplicidade num amor a que ele não se permite... tudo isso merece que ela lhe dedique a sua mais linda canção... naquela voz soberba que só ela tem.

sexta-feira, julho 09, 2010


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 168


Agora era uma viúva pousada e reflectida, incapaz de incontinências, de sentimentos e acções precipitadas, perdoáveis em mocinhas em idade de namoro, inadmissíveis em senhoras na casa dos trinta e nos véus de luto (mesmo queimando um fogaréu por dentro). Se algo houvesse, já veriam com o tempo se um sentimento de amor desabrocharia, na tranquila medida da ternura e da compreensão, sem as violências juvenis do delírio nos cantos escusos, nos pés de escada. Talvez um sentimento assim, amor maduro e bonançoso nascesse num chão de discreto idílio. Dona Flor achava até possível, pois, como já dissera não sendo o doutor antipático e feio, não lhe tinha aversão, achando-o atraente, como agora se dava conta. E eis dona Norma realizando já noivado e casamento, antevendo dona Flor feliz como sempre merecera e nunca o fora.

- Ah!, minha santa que beleza vai ser! Agora não seja tola, não seja tola, não se tranque em casa, não amarre a cara…

Porque dona Flor, se bem confessando interesse pelo boticário, logo acrescentava sua decisão de não sair a demonstrá-lo, a se oferecer, rebolando-se à frente da drogaria, exibindo suas necessidades, seus olhos fundos de Quaresma, de abstinência dura, de jejum forçado. Isso jamais, Norminha.

- E eu não vou admitir que você esperdice uma ocasião como essa…

Longo tempo levou dona Norma a persuadir a viúva; não fosse tola nem bancasse a indiferente. Quem estava com dona Flor, ardendo em brasa, necessitada de casar e casar logo para não terminar histérica ou doida-mansa ou bem para não sair dando por aí a qualquer um, em vida de castelo, de viúva fácil a encher de chifres a caveira do defunto, agreste e viçosa plantação de galhos em sua cova honrada; ah!, assim tão confessadamente ávida de calor de homem, de um balancé de cama, não podia bancar de viúva fiel até à morte, de luto eterno e obstruída greta, xibiu enterrado no carrego de falecido, murcha flor aos pés do morto, inútil e fanada:

- Só tendo serventia para fazer pipi…

Melhor se resolver de vez e aceitar marido, viver com ele vida decente e honesta, renovando-se em amor e alegria, mantendo honrada, limpa e tranquila em sua tumba a memória e a carcaça do primeiro. Sem muito nele falar para não ofender o sucessor. Aliás, nos últimos meses dona Flor como que esquecera o nome e o apelido do finado. Porque as comadres o arrenegavam e cobriam de insultos sua lembrança, dona Flor, polémica, o trouxera na boca o dia inteiro. Depois o trancou dentro de si, como jóia preciosa e rara, quando, as vizinhas e amigas o deixaram em paz em seu jazigo; se ainda alguém o recordava não o dizia. Pois então era só continuar assim, retirando naturalmente da sala o retrato do perdido com seu riso cínico de desfaçatez (e também, porque negar? Com sua graça irresistível), guardando-a no fundo de um baú e no coração. Na parede da sala (e na xoxota) a presença do segundo, e que segundo, minha filha! Beleza de homem na força da idade, e que distinto!

quinta-feira, julho 08, 2010

BILLY VAUGHN - WHELLS


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 167


Partido igual, filha minha, só muito de raro em raro: cidadão maduro, na boa idade para dona Flor, feito na vida, doutor de grau e anel, dono da farmácia, ressumando saúde, se o tivessem inventado não o fariam melhor.

- Você acha mesmo, Norminha, que ele está com algum interesse? Está coisa nenhuma: quem quer comer pão adormecido, carne moída, sobejo de defunto? Ninguém há-de querer…

Dona Norma mediu a amiga de alto a baixo:

- Benza-te Deus… - disse num muxoxo aprovativo

Porque dona Flor, numa certa excitação devida à notícia, entre curiosa e encafifada, nada tinha de pão dormido, pão de véspera com gosto a bolor, menos ainda de carne com aftim de podre; muito ao contrário: tez suave de cabo-verde num cobre antigo e definitivamente em face louça e fresca, carne perfumada e jovem, aroma de pitanga, um pedaço de retado de mulher. Sobejo, sem dúvida; tivera marido, deitara com ele em leito de ferro a barrunchar, porém mais apetitosa que muita donzela de alfenim, pois o cabaço não é tudo nem muito menos, se bem goze de tanto apreço e fama. No fundo é um quase nada, frágil película, gota de sangue, um ai e sobretudo velho preconceito, e se alcança tão alto custo é porque se beneficia de milenar publicidade, conta com o exército e o clero, a polícia e o meretrício, todos a fazerem dos tampos da mulher o rei do mundo. Mas o que é uma donzela, tola e ignorante em seu desejo, se comparado a uma viúva, cujo anseio é feito de conhecimento e de ausência, de contenção e de penúria, de fome e de jejum, é lúcido e insolente? “Ore me deixe, Flor, por sobejo assim suspiram não só o doutor Teodoro mas, certamente, alem dele, muitos outros de que não se tem notícia.” O que dona Norma queria saber era outra coisa:

- E tu, o que é que dizes? Que te parece ele? Serás capaz de amá-lo?

Primeiro ela não quis sequer considerar o problema dos seus sentimentos antes de ter a certeza de existir inclinação do farmacêutico, de não ser tudo aquilo burla ou equívoco, não estando disposta a novos logros e a humilhar-se como já sucedera antes com aquela história do Príncipe e com os saimentos de seu Aluísio. Mas ante a pressão de dona Norma a exigir pronta resposta, numa pertinência amigável, dona Flor confessou não lhe ser indiferente o boticário. Cavalheiro de fino trato, um primor de distinção, e homem vistoso de encher o olho. Lembrava-lhe artista de cinema muito em voga. Parecença ligeira mas bastante para marcá-lo em sua simpatia; enfim, se fosse realmente verdade, era possível e mesmo provável viesse dona Flor a sentir por ele…

O que sentira pelo finado? Isso não, era diferente… Ela própria era outra, não a mesma de quando, há mais de oito anos, quase nove, conhecera o doidivanas na festa do Major e de súbito, sem pesar nem reflectir, lhe dera seu coração (e em seguida, alegremente, seus seios e suas coxas, na balbúrdia do Largo, no escuro da praia). Doida por ele, perdida a ponto de entregar-se, de se dar inteira e grátis quando ele pediu, esfregando os arrombados três vinténs na cara de
dona Rozilda, que se fizera inimiga do namoro e
proibira o casamento.

CANÇÕES FRANCESAS

CLAUDE FRANÇOIS- TU ET MOI CONTRE LE MONDE ENTIER
....uma linda canção do Claude François

CANÇÕES ITALIANAS

BOBY SOLO - SE PIANI SE RIDI
1965... e continua a ser bonita... a voz e a canção.

CANÇÕES ANGLO-SAXÓNICAS

RAY GOODMAN & BROWN - SPECIAL LADY
... quem não tem ou teve, na vida, uma senhora especial?...

CANÇÕES BRASILEIRAS

MORAES MOREIRA - LÀ VEM O BRASIL DESCENDO A LADEIRA
uma fotografia musical de um Brasil de 1980

CANÇÕES PORTUGUESAS

PACO BANDEIRA - A TERNURA DOS QUARENTA
estou de acordo com o Paco... a idade adoça as pessoas... as que nasceram açucaradas...


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

EPISÓDIO Nº 166


- Meninas… Só vendo para crer…

O desfile prosseguiu para a Piedade, elas o acompanharam. Mas, pretextando a necessidade de transmitir um recado, dona Norma encompridou o caminho, dando a volta por uma rua detrás: “vamos botar isso em pratos limpos agorinha mesmo”. Por um minuto, doutor Teodoro permaneceu indeciso, à sombra do relógio monumental, terminando, porém, por acompanhá-las num passo monchalante de quem vai sem pressa e por acaso, a locé.

Dona Norma a as demais amigas prendiam o riso, menos dona Flor, de tudo inocente, e dona Gisa, a discorrer sobre a “vocação dos jovens para a causa pública”. De repente pararam, indo dona Norma dar o tal recado, na porta de uma casa de família. Tomado de surpresa, a poucos metros de distância, doutor Teodoro foi obrigado a prosseguir caminho. Passou junto às amigas evitando fitá-las, fingindo não vê-las e era tão pouco experiente nessas coisas que dava pena: todo escabreado, a adivinhar sorrisos e olhares de mofa, sem saber onde por as mãos, um desastre. Encafifou, enveredou pela esquina quase correndo. À sua passagem, dona Maria do Carmo não se conteve, deixando escapar um frouxo de riso.

- Psiu… - recomendava dona Norma.

- Para onde vai doutor Teodoro tão apressado? Quis saber dona Flor, ao vê-lo sumir no beco.

- Quer dizer que você não sabe, minha sonsa? Que negócio é esse? Vai manter segredo ou vai contar às suas amigas? Ou não tem confiança?

- O quê, mulher? Vocês vivem inventando coisas… Dessa vez o que é?

- Não venha dizer que ainda não percebeu…

- O quê, por amor de Deus?

- Que o doutor Teodoro está caidinho por você…

- Quem? O farmacêutico? Vocês estão de miolo mole, são uma cambada de malucas… Onde já se viu… Logo doutor Teodoro, homem mais cerimonioso… É um debique…

- Debique? Ele perdeu a cerimónia, minha cara, anda espevitado…

Nesse pagode, chalaceando e rindo, foram atrás do desfile dos cascabulhos, a pobre dona Flor numa roda-viva. Mas, quando, de volta a casa, dona Norma se viu a sós com a viúva, lhe falou a sério. Reparara nos modos do farmacêutico, pessoa, como dizia com razão dona Flor, toda cheia de etiquetas, de formalidades; nunca se ouvira dizer que ele lançara olhares às clientes e muito menos houvesse seguido alguma rua fora, em mangas de camisa, a passar pente pelo cabelo, embuçando-se atrás do relógio público, em sobressaltos de adolescente. De olho fixo em dona Flor, não desgrudava. Não era conversa fiada de comadres, nem invenção, dona Norma até se mantivera à parte das caçoadas, pois sendo doutor Teodoro homem de bem e circunspecto, não
valia a pena tratar
levianamente assunto tão sério, em chalaças e galhofas.

quarta-feira, julho 07, 2010


ENTREVISTAS


FICTÍCIAS


COM JESUS CRISTO



Entrevista Nº 39


TEMA – Violência Contra as Mulheres


Raquel – Emissoras Latinas chega hoje, com Jesus Cristo, a Jerusalém. Ele quis, neste reencontro com a capital do seu país natal, percorrer as estreitas e pitorescas ruas do bairro árabe. Alguma recordação especial?

Jesus – Ainda que muito mudado, parece-me que foi por aqui que arrastaram aquela pobre mulher…

Raquel – A história da adúltera?

Jesus – A história de Joana, ainda recordo o seu nome.

Raquel – Eu lembro-me do filme, quando a mulher é descoberta em flagrante pelo marido e atirada para a rua meio nua e consegue escapar a ser apedrejada por uma multidão enfurecida graças à oportuna intervenção do senhor, Jesus Cristo…

Jesus – Aquilo foi um escândalo…

Raquel – Sim, uma história mais própria de uma crónica sensacionalista do que de um texto evangélico.

Jesus – Não, eu falo de um escândalo noutro sentido. As leis religiosas do meu país castigavam o adultério com a morte, mas os homens aplicavam essas leis com duas varas distintas.

Raquel – Aplicavam-nas em seu favor, imagino, como os homens sempre fazem. Desculpe, não me referia ao senhor, mas é que…

Diziam que o homem só cometia adultério se enganava a sua mulher com outra mulher casada. Se a enganassem com uma solteira, viúva, divorciada, prostituta ou uma escrava, não cometia adultério e ninguém o castigava. À mulher a mediam com outra vara: com qualquer homem que o fizesse era adultério.

Raquel – E sempre a matavam?

Jesus – Sim, à pedrada. E como o adultério era um crime público toda a comunidade saía a atirar-lhe pedras.

Raquel – Uma lei selvagem… que em alguns países islâmicos ainda está em vigor…

Jesus – Cometiam-se grandes injustiças. Falatórios e calúnias terminavam com a morte de mulheres inocentes. Muitos daqueles que atiravam pedras haviam passado a vida a enganar as suas mulheres. Injustos que saíam a fazer justiça… e em nome de Deus!

Raquel – Sempre me impressionou aquilo que o senhor fez. Foi muito compreensivo perdoando àquela mulher…

Jesus – E por que não perdoaria? A árvore da infidelidade pode ter muitas raízes… A mim foi a quem não perdoaram.

Raquel – Quem? Os velhos, que ficaram com vontade de atirar as pedras?

Jesus – Não. Pedro, Santiago, João, os do movimento. Estavam muito zangados comigo e reclamaram. Tropeçaram na verdadeira pedra do escândalo e, essa pedra, eram as leis do meu povo que tanto mal faziam às mulheres.

Raquel – Foi esse o primeiro caso que o senhor conheceu de uma mulher a ponto de ser apedrejada?

Jesus – Não. As lapidações das mulheres eram frequentes… já as tinha visto outras vezes… Posso pedir-te um favor, Raquel?

Raquel – Certamente. De que se trata?

Jesus – Quero dizer algo a todos que nos escutam…

Raquel – Prossiga, Jesus Cristo, os microfones são seus.

Jesus – Eu também pequei, Raquel. Eu ofendi Deus. Apesar de saber desde criança que isto se passava, apesar de conhecer de perto esta crueldade, nunca fiz nada para detê-la. Mas naquele dia, aquela mulher, Deus abriu-me os olhos. Naquele dia entendi que as leis e as tradições que ofendem as mulheres ofendem a Deus. Que a violência contra as mulheres é a violência contra Deus.

Raquel – Obrigado, Mestre, em nome de todas as mulheres que nos escutam.

De Jerusalém, perto daquela que foi chamada “Porta do Ângulo” Raquel Perez, Emissoras Latinas.



NOTA

Um Relato Muito Escandaloso

– O relato de Jesus e da adúltera só aparece em um dos quatro evangelhos, o de João e, mesmo neste, não em todos os manuscritos que contêm este Evangelho.

Alguns especialistas nesta matéria explicam esta supressão nos restantes Evangelhos porque a posição de Jesus perante a “pecadora”, a sua flexibilidade, o seu desafio à lei religiosa que ordenava o apedrejamento, foi considerada excessiva e até escandalosa para as primeiras comunidades judaico-cristãs, educadas numa cultura discriminadora das mulheres.

Em Cristo, Não Há Homem Nem Mulher

- A violência contra as mulheres tem as suas raízes mais profundas nas religiões patriarcais e o Judaísmo do tempo de Jesus era totalmente patriarcal. Por isso, a atitude de Jesus para com as mulheres resultaram num escândalo. Não esqueçamos que, etimologicamente, a palavra “escândalo” significa a “pedra em que se tropeça”.

No entanto, apesar dos tropeços e dos ensinamentos de Jesus baseados na igualdade entre os seres humanos e, portanto, entre homens e mulheres, essas desigualdades não puderam ser totalmente suprimidas.

Lembremo-nos que a força da tradição judaica era muito forte neste capítulo. Diariamente eles rezavam a seguinte oração: “Bendito sejas, Senhor, por me teres feito judeu e não gentio, por me teres feito livre e não escravo, por me fazeres homem e não mulher”

Mas Paulo, embora de formação judaica tradicional, proferiu a seguinte frase, dentro da linha de pensamento de Jesus e que, igualmente, provocou impacto naquele meio e naquele tempo: “Em Cristo não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há homem nem mulher, porque todos são iguais em Jesus Cristo” (Gálatas 3,26-28).

A Lapidação: Uma Tortura

- A lapidação ou apedrejamento é um método de execução muito antigo e constitui uma tortura porque é uma forma de morte lenta e cheia de sofrimento. O executado é amarrado e enterrado até à cintura para que não possa fugir.

O progressivo avanço da humanidade no que aos direitos humanos diz respeito, fizeram desaparecer das legislações esta tortura cruel. Na Sharia, Direito Islâmico, existem delitos sexuais, como o adultério das mulheres, que ainda hoje se castigam com a lapidação das mulheres como no tempo de Jesus. Segundo a Amnistia Internacional conhecem-se casos na Nigéria (2006) e outros no Afeganistão, no Irão, e Iraque. Leiam, a propósito deste tema, a obra da escritora marroquina Fátima Mernisi “O Harém no Ocidente”.

Actualmente, o cristianismo continua a descriminar as mulheres. Para se perceber essa descriminação na Igreja Católica, o actual Papa Bento XVI, em 2004, então Cardeal Ratzinger, na qualidade de Perfeito da Doutrina e da Fé, sob o pertencioso título “Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na igreja e no mundo” dizia o seguinte referindo-se à mulher:

- “É ela que, nas situações mais desesperadas, possui uma capacidade única para resistir às adversidades de tornar a vida, todavia, possível, incluindo em situações extremas, conservando um tenaz sentido do futuro e, por último, de recordar com lágrimas o preço de dar a vida humana.”

Como se vê, nem uma palavra ou uma linha de reflexão ou condenação à violência contra as mulheres, um tema que é hoje objecto de preocupação, debate, investigação e acção em todo o mundo. Em vez disso, o actual Papa ressalta o papel da mulher na sociedade actual como suporte do sofrimento à custa da sua própria vida e de aguentar sem desesperar… ou seja, as mulheres devem continuar a suportar em silêncio a violência contra elas. Em vez de denunciar, devem aguentar, em vez de libertarem-se, devem ter paciência.

Jesus Filho do Seu Tempo

- Como todos os seres humanos, Jesus foi filho do seu tempo e do seu meio. O seu país estava, então, submerso numa cultura e costumes patriarcais profundamente discriminatórios das mulheres e uma das suas grandes originalidades, de todas a maior, foi a de revoltar-se contra essa cultura que ofendia a sua sensibilidade e sentido de justiça.

Jesus foi filho do seu tempo mas adiantou-se a ele, criou um tempo novo. Ser filho de um tempo é nascer numa sociedade que adoptou comportamentos, forjou leis e costumes que a moldaram e como que anestesiaram. Jesus despertou dessa anestesia quando disse: “a violência contra as mulheres é a violência contra Deus”. Estava, com esta afirmação, a romper com uma cultura, a iniciar a mudança para uma nova cultura, invocando a vontade de Deus, é verdade, mas sem beliscar a sua enorme coragem e coerência para com uma ética e princípios de justiça que lhe custaram a vida.

Pensou melhor e diferente de todos os homens do seu tempo. Por isso foi morto, mas terá dado o maior contributo de todos os contributos para uma humanidade mais justa e humana.

VÍDEO

Os cães merecem de nós o melhor. Se não tiver condições, não os tenha!

CANÇÕES FRANCESAS

EDDY MITCHEL - LE MONDE EST TROP PETIT
cantor e actor francês nascido em Paris em 1942. Começou a carreira em 1950 no grupo "Les Chaussettes Noires"

CANÇÕES ANGLO- SAXÒNICAS

OLIVER ONIONS - SANTA MARIA
uma excelente banda dos anos 80 e uma linda canção


CANÇÕES BRASILEIRAS

DALVA de OLIVEIRA - ESTRELA DO MAR (1952)
Nasceu em 1917 e faleceu em 1972. Só depois de três meses de uma longa agonia ela falou de morte para pedir à sua amiga Dora Lopes: "quero ser vestida e maquiada como o povo se acostumou a me ver. Todos irão parar para me ver passando"

CANÇÔES ITALIANAS

GUIDO RENZI - TANTO CARA
uma linda canção de amor de 1970. Legendada, fala por si ...

CANÇÕES PORTUGUESAS

PACO BANDEIRA - MINHA 5ª SINFONIA
Mais de 40 anos de carreira. Nascido em 1945, em Elvas, é um dos mais sólidos representantes da música popular portuguesa. A sua música está marcada pela interioridade. Foi amigo do meu falecido irmão o que me permitiu conhecê-lo. Tinham a mania dos cavalos... continuaremos a falar dele. O seu reportório é vasto, de qualidade e muito bonito. Começamos por esta linda melodia que foi um dos seus muitos êxitos.


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 165




O farmacêutico, senhor de ânimo pacato e maneiras comedidas, apenas viu as amigas, abandonou às pressas a posição cómoda, a atitude pachola, afastando-se do balcão, erguendo-se numa postura quase rígida para cumprimentá-las, bom dia sonoro e cordial. Detalhe importante: extraindo um pente do bolso do colete, com ele ajeitou os cabelos negros, aliás sem necessidade, pois o penteado resplandecia íntegro sob camadas de brilhantina. Desaparecera o ânimo pacato, o droguista em excitação de adolescente. “Eu vi a hora dele vestir o paletó só para nos cumprimentar”, disse dona Êmina a perguntar-se a causa de tanto afã e zelo.

De imaculada camisa branca e colete cinza, grossa corrente de ouro de bolso a bolso numa curva de efeito, a prender respeitável patacão também de ouro, herança paterna, as calças de perfeito zinco, os sapatos no capricho do lustre, o anel de grau, um tipão, alto e simpático. Curvou-se para saudar o grupo.

Amáveis, as amigas responderam, era o farmacêutico personalidade de vulto nas redondezas, bem-visto e benquisto. Segundo ainda o depoimento de dona Êmina – rico em minúcias – como se constata – os olhos do doutor Teodoro enxergavam apenas dona Flor, cegos para as demais; olhar, senão de concupiscência, pelo menos de cobiça. “Te devorava com os olhos, te comia”, eis como a hábil observadora definiu para dona Flor a expressão precisa daquele olhar.

Quando não mais as viu de dentro do balcão, passou à frente; depois veio para a calçada do estabelecimento, e por fim, após breve indecisão e uma advertência aos empregados, partira rua afora no rastro da festiva companhia.

Situou-se próxima às amigas, nas imediações do grande relógio de São Pedro, a marombar. Puxando a corrente de ouro, sorriu satisfeito da precisão suiça de seu cronómetro. Dona Norma e dona Amélia para não perderem detalhe do trote, subiram sobre um banco do pequeno jardim; as demais ficaram em redor nas pontas dos pés. De onde estava, meio escondido pela base do relógio, doutor Teodoro seguia devoto cada movimento de dona Flor.

Mantendo-o sob controle, dona Êmina constatou quase nada ter visto o farmacêutico do divertido trote: os caloiros pintados de zarcão, dançando uma dança macabra, os veteranos exigindo cerveja e gasosa nos bares e armazéns. Se o doutor Teodoro sorria, era em apoio ao riso de dona Flor, seus aplausos eram réplica aos da viúva, a mirá-la embevecido. Dona Êmina puxou a saia de dona Norma, a aplaudir em cima do banco disparates de um estudante montado num jegue (o animal aproveitava a parada para mastigar restos de lixo na sujeira da rua). A princípio dona Norma não entendeu a palpitante mensagem dos olhos e dos dedos da amiga. Finalmente, localizando o farmacêutico em mangas de camisa e em êxtase, acompanhou-lhe, pasma, o alvoroço.

- Menina… - disse ela. – Que coisa…

Dona Amélia e dona Maria do Carmo logo tomaram conhecimento da surpreendente atitude do doutor Teodoro: meio escondido por trás do relógio, brechando dona Flor. Só dona Gisa manteve-se distante, entregue à leitura dos cartazes do trote; segundo ela, as manifestações estudantis continham precioso material para o estudo da alma colectiva. Dona Gisa não perdia ocasião para estudar, nascera com a sina de tudo saber e de tudo explicar. Para as outras, no
entanto, material mais precioso e elucidativo eram os estranhos modos do boticário.

terça-feira, julho 06, 2010

VÍDEO

isto, sim, é milagre e, nem de propósito, aconteceu numa rua de Fátima...

CANÇÕES ITALIANAS

ADRIANO CALENTANO - MONDO IN MI 7ª
...pego no jornal e leio que justos o mundo não tem... mas por que o mundo é tão feio assim... sim, fomos nós a estragar esta obra prima suspensa no céu... ai,ai,ai ai...


FRANCISCO JOSÈ





Conta-se que o que esteve na origem da sua ida para o Brasil foi a ruptura definitiva com a R.T.P., a única televisão portuguesa na altura.
Num programa musical transmitido em directo, em que dizia algumas palavras entre as canções, Francisco José resolveu «abrir o livro».
Falou então sobre a vida e as dificuldades dos artistas em Portugal.
Falou dos “cachets “ miseráveis que recebiam. Falou da subserviência da televisão aos artistas estrangeiros e, sem qualquer hesitação, disse quanto estava ali a ganhar e quanto receberia se fosse um vulgar e medíocre cantor inglês ou americano. E, finalmente, disse tudo o que lhe veio à cabeça sobre a televisão pública e sobre as pessoas que a dirigiam.

Ficou obviamente «queimado» para todo o sempre. Mas não foi só isso: a R.T.P. decidiu processá-lo criminalmente, acusando-o do crime de injúrias.

No julgamento, depois de um longo interrogatório, o juiz acabou por lhe perguntar:
- Mas o senhor, quando disse essas palavras em directo na televisão, agiu com «animus injuriandi»?

Ao que Francisco José respondeu:
- Ó Sr. Dr. Juiz: eu agi foi com «animus desabafandi»!

Foi absolvido!

posted por Luis Grave Rodrigues

CANÇÕES FRANCESAS

GILBERT MONTAGNIER - ON VA S'AIMER
nasceu cego, em Paris, 1951, cantor, pianista e organista


CANÇÕES BRASILEIRAS

NARA LEÃO E CHICO BUARQUE - DUETO
quando dois grandes artistas se encontram o resultado é este... merecem-se um ao outro... esta canção é uma declaração de amor... lindo

CANÇÕES FRANCESAS

SALVATORE ADAMO - VIENS MA BRUNE
não é fácil escolher entre o reportório do Adamo mas esta canção transmite suavidade e ternura... é linda... seria uma das minhas preferidas.

CANÇÕES PORTUGUESAS

FRANCISCO JOSÈ - GUITARRA TOCA BAIXINHO
Eu sei, depois dos Olhos Castanhos (1951) não podia faltar a Guitarra Toca Baixinho (1973) que foi o seu maior êxito de sempre. Francisco José passou a maior parte da vida no Brasil onde encontrou a sua verdadeira dimensão de artista. Morreu em 1988 com 64 anos. anos.


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 164


Quando tivera início o interesse do farmacêutico, ninguém sabe; não é fácil determinar hora e minuto exactos para o começo do amor, sobretudo daquele que é o definitivo amor de um homem, o amor de sua vida, dilacerante e fatal, independente do relógio e do almanaque. Em dia de confidências, tempos depois, doutor Teodoro confessou a dona Flor, com certo acanhamento risonho, admirá-la de há muito, de antes da viuvez; do pequeno laboratório dos fundos da farmácia ela a via cruzar o Largo, seguindo seus passos pelo Cabeça, com absorta mirada. “Se alguma vez me decidir, só casarei com uma mulher assim, bonita e séria”, monologava junto aos tubos de ensaio, aos frascos de drogas. Sentimento puro e platónico, é claro, não era homem de influir-se por mulher casada e de envolvê-la em pensamentos menos nobres, pondo-lhe olhos de gula ou melhor (para repetir a própria expressão do boticário, precisa e elegante, enfeitando com suas galas estas letras vulgares e populacheras) “culposos olhos de concupiscência”.

Quem primeiro notou a inclinação do farmacêutico foi dona Êmina, senhora, aliás, de pouco se preocupar com a vida alheia: mexericava apenas o estritamente necessário para não ficar em atraso com os sucessos em seu redor. Ao lado das outras, ávidas de qualquer fuxico, dona Êmina era discreta e timorata.

Foi no dia do trote dos caloiros das faculdades, nos começos de Abril, quando os estudantes atravessam as principais ruas e avenidas, comemorando o início do ano lectivo. Numa longa procissão, sob a batuta dos veteranos, os novatos – de cabeça rapada à navalha, envoltos em lençóis, amarrados uns aos outros com uma corda como fieira de escravos - conduziam cartazes de crítica ao governo e à administração, com piadas sobre a vida cara e a incapacidade dos políticos.

Vindo da Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, o desfile cruzou a cidade em direcção à Barra, parando em certos locais como a praça Castro Alves, São Pedro, Piedade, Campo Brande. Nesses pontos de maior concentração de curiosos, os veteranos faziam as delícias dos assistentes com bestialógicos recitados do alto dos jegues.

Os moradores das adjacências do Largo Dois de Julho e do Cabeça movimentaram-se para São Pedro apenas ouviram as cornetas e os clarins anunciadores, na Ladeira de São Bento. Num grupo álacre iam dona Norma, dona Amélia, dona Maria do Carmo, dona Gisela, dona Êmina, dona Flor.

Segundo a informação de dona Êmina, precisa e concreta, o doutor Teodoro encontrava-se bem junto ao seu balcão da farmácia, indiferente aos clarins, aos asnos fantasiados de professores e de homens públicos, ao trote, conversando com a empregada e a moça da caixa, quando as enxergou. Tão nervoso ficara que dona Êmina, estranhando os modos do
doutor, o manteve de
olho, podendo assim seguir a passo e passo suas suspeitas andanças.

segunda-feira, julho 05, 2010


OS PERTENCES




Um homem morreu intempestivamente…

Ao dar-se conta viu que se aproximava um ser muito especial que não se parecia com nenhum ser humano.

Trazia consigo uma maleta e disse-lhe:

… Bom, amigo, é hora de irmos… sou a Morte.

O homem, assombrado, perguntou à Morte:

-Já?... tinha muitos planos para breve…

-Sinto muito, amigo… mas é o momento da tua partida.

-Que trazes nessa maleta?

E a morte respondeu-lhe:

- Os teus pertences.

- Os meus pertences? – São as minhas roupas, as minhas coisas, o meu dinheiro?

- Não, amigo, as coisas materiais que tinhas nunca te pertenceram… Eram da Terra.

- Trazes as minhas recordações?

- Não amigo, essas já não vêem contigo. Nunca te pertenceram… Eram do Tempo.

- Trazes os meus talentos?

- Não amigo, esses nunca te pertenceram… Eram das Circunstâncias.

- Trazes os meus amigos, os meus familiares?

- Não amigo, eles nunca te pertenceram… Eram do Caminho.

- Trazes a minha mulher e os meus filhos?

- Não amigo, eles nunca te pertenceram… Eram do Coração.

- Trazes o meu corpo?

- Não amigo, esse nunca te pertenceu… Era da Terra.

_ Então, trazes a minha alma?

- Não amigo, ela nunca te pertenceu… Era do Universo

Então o homem, cheio de medo, arrebatou a maleta e abriu-a… e deu-se conta de que estava vazia.

Com uma lágrima de desamparo a brotar dos seus olhos o homem disse à Morte:

- Nunca tive nada?

- Tiveste, sim, meu amigo… Cada um dos momentos que viveste foram só teus… a Vida é só um momento… um Momento todo teu.

Desfruta
-o na totalidade… Vive Agora a Tua Vida e… Não te Esqueças de Ser Feliz.

VÍDEO

Que pena!... tão bonito e levaram uma cabazada dos alemães... decididamente a vida não está para floreados... mas que eram bonitos, sem dúvida.


ENTREVISTAS


FICCIONADAS


COM JESUS CRISTO

Entrevista Nº 38



TEMA – Voto de Castidade?



Raquel – Emissoras Latinas, do mosteiro de Qumran onde se descobriram os famosos rolos do Mar Morto. Depois da nossa última entrevista, alguns religiosos chamaram-nos doentes e frustrados. Dizem que renunciaram aos prazeres do mundo para seguirem o senhor, Jesus Cristo.

Jesus – E a que prazeres renunciaram eles?

Raquel – Imagino que tenha sido a comer, beber, bailar, desfrutar a vida… alguns monges renunciaram até a falar.

Jesus – Não falam?

Raquel – O imprescindível. Dizem que é em silêncio que se aproximam mais de Deus.

Jesus – Que desvario!... Então não foi Deus que nos deu a língua para falar e escutar?

Raquel – O que mais lhes custa é não se casarem. Dizem que foi o senhor que lhes ordenou a renunciarem ao matrimónio, que os aconselhou a fazerem-se eunucos para o reino dos céus. Castrarem-se.

Jesus – Que eu mandei-os castrar?

Raquel – Falam que o senhor disse que alguns nasceram outros fizeram-se assim para seguirem o senhor.

Jesus – Como se parecem com os meus conterrâneos, cantavam quando haviam de chorar e choravam quando deviam cantar!... entenderam tudo ao contrário.

Raquel – Mas então, que queria o senhor dizer quando falou nos eunucos?


Jesus – Que cada um tem de andar pelo seu próprio caminho, em liberdade, sem proibições e que todos os caminhos levam a Deus se tiverem o coração limpo. Se quiseres casar, casa-te, senão quiseres é porque terás os teus motivos.

Raquel – Seja como for, a sua Igreja propõe a vida de castidade como caminho de perfeição.

Jesus – Não pode ser porque se todos seguissem esse caminho acabava-se o mundo. Deus não pode chamar de perfeito aquilo que arruína a criação.

Raquel – E qual é, então, a via da perfeição?

Jesus – Será aquela que cada um levar, se andar com liberdade e amor. Não há um caminho só. Na casa de Deus há muitos lugares e cada qual tem que descobrir o seu.

Raquel – Então, segundo o senhor, a virgindade que praticam os religiosos, as monjas, não é um estado superior ao casamento, não é mais espiritual?

Jesus – Como é que ele pode ser superior e mais espiritual? Deus é amor e o mais parecido com Deus é o amor de um casal.

Raquel – Pois estes renunciam ao casamento e até mortificam o próprio corpo para elevar o espírito… flagelam-se… golpeiam-se…

Jesus – E quem lhes deu esse corpo senão Deus? O corpo é sagrado, é o templo de Deus. Por que é que vão castigar o que de mais belo receberam?

Raquel – Castigam-no e ocultam-no. Não viu em Jerusalém? Iam pelas ruas com sotainas negras, hábitos fechados, toucas extravagantes… Fizessem como aqueles que saíram do autocarro e vinham de visita a Qumran…

Jesus – Quem são esses?

Raquel – Não estou certa, mas pelas cruzes, pelas correntes e as botas… julgo que serão os chamados Legionários de Cristo… ou arautos do Evangelho, não sei… quero dizer, são soldados seus.

Jesus – Meus soldados?

Raquel – Assim se chamam eles.

Jesus – E por que se vestem de forma tão esquisita… tu estás vendo, Raquel, como eu estou vestido?

Raquel – De maneira normal, como todos aqui, digamos, vulgar. Talvez por isso não é procurado por outros jornalistas porque não vêm em si nada que o diferencie dos outros.

Jesus – Eu penso que o Reino de Deus é levedura, Raquel. Diz às pessoas que te escutam que, se a levedura se separa da massa esta apodrece… morre como o Mar Morto.

Raquel – Pois daqui, do Mar Morto, a repórter Raquel Perez das Emissoras Latinas.



NOTA

Há religiões que aceitam o corpo, outras desprezam-no mas nenhuma o ignora. Para além disso, todas têm tendência para controlarem as principais funções do corpo: o alimento e a sexualidade. Esta última, por constituir um impulso tão vital, ocupa um lugar primordial em todas as religiões.

Nas religiões ancestrais da humanidade abundavam os ritos que exaltavam a fertilidade e o princípio feminino como símbolo do divino e do sagrado. Com o avanço das religiões patriarcais – que são todas as actuais religiões – as coisas mudaram.

O mito de Adão e Eva e do pecado original – mito fundacional da cultura judaica-cristã – expressa já uma visão profundamente patriarcal.

Este mito foi apresentado pelo cristianismo, desde muito cedo, como a explicação para a origem de todos os sofrimentos e males do mundo, como a prova de que nascemos maus e contaminados pelo pecado, como a raiz da inferioridade do corpo face ao espírito, como base para a descriminação das mulheres portadoras de um corpo que é tentação, risco e veículo de pecado. A mulher é a “porta do diabo” dizia Tertuliano. (Um dos mais importantes escritores eclesiásticos da antiguidade, nascido por volta de 155 da era cristã e convertido ao cristianismo em 193. Violento, enérgico, fanático, lutador empedernido, colocou todas estas características e a erudição ao serviço da sua fé.)

Estas ideias, já presentes no judaísmo mas alheias à mensagem de Jesus, encontraram eco na doutrina dos padres da Igreja que tinham uma visão muito negativa da sexualidade, em especial da feminina.

O sexo e a relação sexual deixaram de ser expressão de um prazer sagrado, um veículo excelso da comunicação humana, uma metáfora do amor de Deus, para se converter em algo sujo, negativo e degradante. Por oposição, a abstinência sexual, a recusa do contacto com o corpo das mulheres, era uma virtude sublime que aproximava a Deus e levava à perfeição.

Todas as culturas exerceram, de uma forma ou de outra, controle sobre a sexualidade, vista com admiração, como mistério, mas também com temor: uma actividade cheia de contradições.

Jesus, Casado ou Não?

- Realmente, não sabemos se Jesus casou ou não, se era viúvo, quantas vezes se enamorou e de quem, e se teve filhos.

É difícil imaginá-lo solteiro pois, na cultura de Israel, um homem e uma mulher sós e sem descendência eram seres estranhos. Mas não o sabemos e jamais o saberemos. O que sabemos é que em qualquer uma das hipóteses nada muda na sua mensagem. A quem escreveu os Evangelhos o “estado civil” de Jesus terá parecido um detalhe não importante relativamente à importância da sua mensagem e por isso nada aclararam nos seus relatos.

CANÇÕES FRANCESAS

MICHEL ORSO - ANGELIQUE
é uma canção que nos repousa. Ao fim e ao cabo todos tivemos uma (ou um) Angelique... devíamos ouvir periódicamente esta canção para reavivar o passado...

UMA CANÇÃO ALEMÃ

VICKY LEANDROS - THEO WIR FAR'N NACH LODZ
uma linda canção alemã numa bela voz e numa linda cara

CANÇÔES ITALIANAS

GIANNI MORANDI - OCCHI DI RAGAZZA (Olhos de Garota)
uma bela canção de 1970 na voz estupenda de G. Morandi que faz parte da história da música italiana

CANÇÕES BRASILEIRAS

ACÚSTICO (MTV) IRA - FLORES EM VOCÊ
Banda brasileira formada em 1981, São Paulo. É excelente, tem um bom som que entra no ouvido e o seu nome é inspirado no Exército Republicano Irlandês. Anunciou o seu fim em 2007 e esta é uma das músicas do seu sucesso

CANÇÕES PORTUGUESES

TONI DE MATOS - LADO A LADO
Foi um artista único, não precisou de figura ou beleza, criou um estilo, a sua voz tinha um timbre diferente e punha a alma, romântica, no que cantava. Bons compositores fizeram-lhe lindas melodias entre as quais "O Lado a Lado" que é, para mim, a mais conseguida de todas. Saudades do Toni de Matos...


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS


EPISÓDIO Nº 163



Quando o Afoxê dos Filhos do Mar, em toda a grandeza de sua comparsaria, parou em frente à Escola de Culinária Sabor e arte, obedecendo ao apito de Camafeu, e a negra Andreza de Oxum, empunhando o estandarte da rainha das águas, dançou um passo deslumbrante – as janelas cheias, a rua entupida, as palmas entusiásticas – dona Flor desmamou-se em pranto e toda a dor e toda a ausência caíram de vez sobre dela. Há um ano, com o corpo do finado estendido no leito de ferro, ainda tivera ânimo de espiar a passagem do Afoxê por sobre os ombros de dona Norma e dona Gisa, vida e morte dentro de seu peito. De tão recente e brusca, a morte ainda continha um laivo de vida.

Somente com o decorrer do tempo dona Flor se daria conta do vazio definitivo, da definitiva ausência. No Carnaval anterior, com o morto presente, pudera expiar o Afoxê, de relance ao menos. No entanto, nesse outro Carnaval, foi-lhe insuportável a gloriosa visão dos do Filhos do Mar na cadência dos atabaques. Mesmo ignorando a homenagem contida naquele apito, naquela interrupção da caminhada, naquela dança, nos requebros de Andreza qual um barco sobre as ondas, homenagem do Afoxê ao sempre recordado sócio e amigo há um ano falecido, mesmo assim dona Flor não pôde conter-se na janela; via somente o corpo nu e exangue, morto para sempre.

Difícil aquele Carnaval, cada vez mais difícil sua vida. O defunto aproveitou a ruidosa alegria para misturar-se à angústia do desejo insatisfeito, cresceu o sofrimento, tanto e tamanho que dona Flor não pôde mais suportá-lo em silêncio e solidão. Não lhe foi possível conter por mais tempo o seu segredo, o peito roto, a cabeça zonza e o cansaço. Um destroço, dona Flor. Abriu-se com dona Norma.

Dona Norma lhe garantiu noivado e casamento em prazo rápido, se a tanto se dispusesse, sem máscara nem tabuleta. Procuraram confirmação em dona Gisa, mas a gringa pouco importância dava a noivado e casamento, ridículas exigências legais e anti-humanas; andara lendo o Príncipe Kropotkin e dera em misturar anarquismo com psicanálise. Com matrimónio ou sem matrimónio, na opinião da professora de inglês, tinha dona Flor um “complexo de culpa” a torturá-la, do qual só se libertaria quando, rompendo com os tabus, se “realizasse de qualquer maneira”. Conselho mais maluco: um conúbio em amor livre, amigação, uma aventura enfim, porém imediata. Só se dona Flor fosse louca de hospício ou a mais cínica e fogueteira de todas as viúvas.

Dona Norma, sim, era de ajuda e de consolação; deixasse dona Flor confundir recato com ódio ao mundo, honestidade com carrancismo e dona Norma era capaz de apostar dinheiro como em menos de seis meses teriam a viúva de aliança ao dedo, pelo menos noiva.

Dona Gisa não apostou: por que havia dona Flor de esperar seis meses a curtir horrores? Para que toda essa tolice com tanto homem solto pelo mundo? Também, se apostasse perderia; quase sempre entre o saber do livro e o saber da vida quem acerta é a vida.

Fosse por ter dona Flor se humanizado, levando mais além da seca urbanidade das suas relações de cortesia, volvendo a sorrir e a conversar com um e outro, discreta sempre porém gentil e atenta ou fosse por simples casualidade (como era mais provável), já um mês depois dessa conversa com dona Norma e da discussão com dona Gisa, tornaram-se evidentes, e fizeram-se objecto de público debate, o probo interesse e as honestas intenções do doutor Teodoro Madureira, sócio da Drogaria Científica, nas esquina do Cabeça. Vibrante e vitoriosa, dona Dinorá exigia alvíssaras:

- Adivinhei há muitos meses, vi na bola de cristal e disse a todo o mundo: um senhor distinto, homem de bem, doutor e com dinheiro. Não foi verdade? Minhas alvíssaras, senhora dona Flor!

- Um partido e tanto, que sorte a dela! – o coro das amigas e comadres
num delírio de fuxicos,
em acordo unânime.

domingo, julho 04, 2010

BOM DOMINGO A TODOS
ODE À ALEGRIA
9ª Sinfonia de Beethoven
Orquestra Sinfónica de Minas Gerais

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