Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, outubro 08, 2011
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 225
Tulio Bocatelli nascera realmente num palácio de um conde, onde o pai acumulava as funções de porteiro e de chofer. Menino ainda, abandonou os húmidos porões do casarão e foi em frente, em busca da fortuna fácil. Passou por maus pedaços, curtiu cadeia. Três raparigas faziam o trottoir para vesti-lo e alimentá-lo, quando ele completou dezoito anos.
Foi porteiro de cabaré, leão de chácara, guia de turistas para espectáculos de cinema-cochon com lésbicas e surubas, ascendeu a gigolô de velhas norte-americanas, tinha boa estampa. Levava vida fácil, mas não se sentia contente.
Queria riqueza de verdade e segurança, não apenas algum dinheiro, sempre escasso e incerto. Aos vinte e oito anos com um pé na frente e outro atrás, veio para o Brasil, no rasto de um primo, um tal de Storoni, que dera o golpe do baú casando-se com paulista rica.
De São Paulo, para causar inveja aos parentes pobres, o primo enviava fotos da fazenda de café, de zebus campeões, de prédios na cidade, recortes de jornais com notícias de festas e jantares. Essa, sim, a dolce vita dos sonhos de Túlio, a fortuna segura e verdadeira, fazenda, gado, casas, conta bancária.
Desembarcou de uma terceira classe no porto de Santos, com dois ternos, a estampa e o título de conde.
Aos seis meses de estada no Brasil foi apresentado pela mulher do primo a Aparecida Guedes, numa festa no Rio de Janeiro. Namoro, noivado, casamento, sucederam-se num abrir e fechar de olhos. Já era tempo, Storoni não estava disposto a sustentar vagabundo, mesmo sendo patrício e primo.
De volta dos Estados Unidos, chegando à Bahia para conhecer a família da esposa, Túlio abriu mão do sangue azul, do título de conde, se bem todo o romano seja nobre, conforme se sabe.
Faltou-lhe audácia, os olhos de Emiliano causavam-lhe calafrios. A ele se apresentou modesto rapaz, pobre mas trabalhador, à espera de oportunidade.
- Eu tinha decidido mandar matá-lo, na usina. Mas vendo minha filha tão feliz e me lembrando de Isadora, tão pobre e tão direita, resolvi dar uma chance ao carcamano. Disse a Alfredão para recolher a arma, o serviço tinha sido adiado. Para quando ele se comportar mal com Apa, fazendo minha filha sofrer.
Quem começou a se comportar mal foi ela, pondo-lhe os chifres a torto e a direito. Ele bem do seu, pagando-lhe na mesma moeda, cada qual agindo como lhe dava na telha, mas estranhamente amigos, alegres e unidos, vivendo em harmonia, um fim de mundo. Por mais me esforce, Emiliano não entende:
- Cabrão de semente… Corno manso.
O genro um chifrudo, e a filha? Apa, a filha única, a predilecta. Vou fazer de Jairo um comandante, de Aparecida uma rainha. O comandante dera em gatuno, a rainha em puta. Degradada na mão desse indivíduo dissoluto, amoral, despido de qualquer resquício de decência. Mandar matá-lo? Para quê, se a filha não merece melhor marido, se vivem contentes um com o outro?
Têm em comum os filhos, dois meninos, os interesses financeiros e o descaramento.
Ao demais, se o matasse, quem restaria para conduzir o barco quando o doutor morrresse? (clik na imagem)
Foi porteiro de cabaré, leão de chácara, guia de turistas para espectáculos de cinema-cochon com lésbicas e surubas, ascendeu a gigolô de velhas norte-americanas, tinha boa estampa. Levava vida fácil, mas não se sentia contente.
Queria riqueza de verdade e segurança, não apenas algum dinheiro, sempre escasso e incerto. Aos vinte e oito anos com um pé na frente e outro atrás, veio para o Brasil, no rasto de um primo, um tal de Storoni, que dera o golpe do baú casando-se com paulista rica.
De São Paulo, para causar inveja aos parentes pobres, o primo enviava fotos da fazenda de café, de zebus campeões, de prédios na cidade, recortes de jornais com notícias de festas e jantares. Essa, sim, a dolce vita dos sonhos de Túlio, a fortuna segura e verdadeira, fazenda, gado, casas, conta bancária.
Desembarcou de uma terceira classe no porto de Santos, com dois ternos, a estampa e o título de conde.
Aos seis meses de estada no Brasil foi apresentado pela mulher do primo a Aparecida Guedes, numa festa no Rio de Janeiro. Namoro, noivado, casamento, sucederam-se num abrir e fechar de olhos. Já era tempo, Storoni não estava disposto a sustentar vagabundo, mesmo sendo patrício e primo.
De volta dos Estados Unidos, chegando à Bahia para conhecer a família da esposa, Túlio abriu mão do sangue azul, do título de conde, se bem todo o romano seja nobre, conforme se sabe.
Faltou-lhe audácia, os olhos de Emiliano causavam-lhe calafrios. A ele se apresentou modesto rapaz, pobre mas trabalhador, à espera de oportunidade.
- Eu tinha decidido mandar matá-lo, na usina. Mas vendo minha filha tão feliz e me lembrando de Isadora, tão pobre e tão direita, resolvi dar uma chance ao carcamano. Disse a Alfredão para recolher a arma, o serviço tinha sido adiado. Para quando ele se comportar mal com Apa, fazendo minha filha sofrer.
Quem começou a se comportar mal foi ela, pondo-lhe os chifres a torto e a direito. Ele bem do seu, pagando-lhe na mesma moeda, cada qual agindo como lhe dava na telha, mas estranhamente amigos, alegres e unidos, vivendo em harmonia, um fim de mundo. Por mais me esforce, Emiliano não entende:
- Cabrão de semente… Corno manso.
O genro um chifrudo, e a filha? Apa, a filha única, a predilecta. Vou fazer de Jairo um comandante, de Aparecida uma rainha. O comandante dera em gatuno, a rainha em puta. Degradada na mão desse indivíduo dissoluto, amoral, despido de qualquer resquício de decência. Mandar matá-lo? Para quê, se a filha não merece melhor marido, se vivem contentes um com o outro?
Têm em comum os filhos, dois meninos, os interesses financeiros e o descaramento.
Ao demais, se o matasse, quem restaria para conduzir o barco quando o doutor morrresse? (clik na imagem)
sexta-feira, outubro 07, 2011
RAÚL SOLNADO - A HISTÓRIA DA MINHA VIDA
Em Novembro de 1962 eu embarcaria para África, para a Guerra colonial e o Raúl Solnado, em Abril desse mesmo ano, apresentou o maior sucesso de vendas em disco: "História da Minha Vida". Os portugueses ouviram-na uma... duas... cem vezes... e continuaram a rir porque a voz do Raul, as suas expressões, piadas, o seu jeito próprio de dizer, tudo nele continuava em nós mesmo depois se calar... Ouçamos novamente a História da Minha Vida" para nos esquecermos da "história da nosssa vida..." à qual ele foi poupado...
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 224
Cangaceiro sertanejo, meteu-se Emiliano Guedes a gangster citadino, o que era virtude no agreste degenerou em vício no asfalto, e a grandeza dos Guedes das Cajazeiras se acaba no deboche, escrevera o foliculário Haroldo Pêra na indigesta pasquinada. Muitas vezes o doutor meditara sobre a frase maligna.
- Talvez eu não devesse ter vindo para a capital. Mas quando as crianças nasceram, deu-me a ambição de fazer mais dinheiro para eles, aumentar a riqueza da família. Para eles tudo era pouco.
Emiliano voltara a casar homem maduro, recrutando, dessa vez, a noiva em família importante, grandes senhores de terras.
Herdeira rica, Íris somou novos bens à fortuna do marido e lhe deu um casal de filhos, Jairo e Aparecida.
O doutor esforçara-se para manter com a esposa relações de afecto e intimidade, se não de amor; não conseguiu. Contentou-se, então em lhe oferecer conforto e luxo, ela não pedia mais e pouco concedeu ao marido além dos filhos. Manter-se honesta não lhe custou esforço ou sacrifício, os prazeres da cama nada lhe diziam. Emiliano não se lembra de quando a teve pela última vez, inerte. Engravidou e pariu, foi tudo. Apática, indolente, na verdade Íris nunca se interessou fosse pelo que fosse. Nem mesmo pelos filhos, dos quais Emiliano assumiu total controlo: vou fazer deles um comandante e uma rainha.
Os filhos, ah! Fonte permanente de alegria, meta de sonhos, para eles o doutor vivera e labutara.
- Por eles mandei matar e me matei, Tereza.
Malogro imenso. Igual aos primos. Jairo formou-se em Direito, apenas não se contentou em trocar pernas na Bahia.
A pretexto de um curso na Sorbonne, embarcou para Paris, na Universidade nunca pôs os pés, mas conheceu a fundo todas as pistas de corrida e todos os casinos da Europa. De quem herdara a paixão do jogo? Finalmente, Emiliano cansou-se daquele desbarato de dinheiro, fê-lo voltar. Com diversas opções, Jairo escolheu a direcção da sucursal do Banco em São Paulo. Um ano depois descobriram o desfalque, rombo de milhões gastos em cavalos e éguas de corrida, no bacará e na roleta. Cheques sem fundos estouraram noutros bancos, uma desmoralização.
Abafou-se o escândalo mas ninguém pôde impedir que a notícia circulasse. Não fosse sólido o Banco e a onda de boatos teria abalado o seu prestígio. Abalara o doutor, aquela fortaleza de vida e de entusiasmo.
- Nem sei te dizer, Tereza, o que senti. É impossível…
Degradado para a usina, Jairo passa o dia inteiro ouvindo discos, quando não se toca para Cajazeiras, atrás de brigas de galo.
- Que fazer com ele, Tereza, me diga?
Pior de todos, Aparecida, a predilecta. Casara-se no Rio, à revelia da família, comunicara a cerimónia aos pais num telegrama onde pedia dinheiro para a lua-de-mel no Niágara.
Núpcias de milionária baiana com conde italiano, noticiaram as colunas sociais. Até a apática Íris vibrou com a aquisição do sangue azul peninsular.
Emiliano tratou de saber quem era e de onde vinha o inesperado genro, a grei e os antecedentes do suposto nobre romano, Túlio Bocatelli. (clik na imagem)
- Talvez eu não devesse ter vindo para a capital. Mas quando as crianças nasceram, deu-me a ambição de fazer mais dinheiro para eles, aumentar a riqueza da família. Para eles tudo era pouco.
Emiliano voltara a casar homem maduro, recrutando, dessa vez, a noiva em família importante, grandes senhores de terras.
Herdeira rica, Íris somou novos bens à fortuna do marido e lhe deu um casal de filhos, Jairo e Aparecida.
O doutor esforçara-se para manter com a esposa relações de afecto e intimidade, se não de amor; não conseguiu. Contentou-se, então em lhe oferecer conforto e luxo, ela não pedia mais e pouco concedeu ao marido além dos filhos. Manter-se honesta não lhe custou esforço ou sacrifício, os prazeres da cama nada lhe diziam. Emiliano não se lembra de quando a teve pela última vez, inerte. Engravidou e pariu, foi tudo. Apática, indolente, na verdade Íris nunca se interessou fosse pelo que fosse. Nem mesmo pelos filhos, dos quais Emiliano assumiu total controlo: vou fazer deles um comandante e uma rainha.
Os filhos, ah! Fonte permanente de alegria, meta de sonhos, para eles o doutor vivera e labutara.
- Por eles mandei matar e me matei, Tereza.
Malogro imenso. Igual aos primos. Jairo formou-se em Direito, apenas não se contentou em trocar pernas na Bahia.
A pretexto de um curso na Sorbonne, embarcou para Paris, na Universidade nunca pôs os pés, mas conheceu a fundo todas as pistas de corrida e todos os casinos da Europa. De quem herdara a paixão do jogo? Finalmente, Emiliano cansou-se daquele desbarato de dinheiro, fê-lo voltar. Com diversas opções, Jairo escolheu a direcção da sucursal do Banco em São Paulo. Um ano depois descobriram o desfalque, rombo de milhões gastos em cavalos e éguas de corrida, no bacará e na roleta. Cheques sem fundos estouraram noutros bancos, uma desmoralização.
Abafou-se o escândalo mas ninguém pôde impedir que a notícia circulasse. Não fosse sólido o Banco e a onda de boatos teria abalado o seu prestígio. Abalara o doutor, aquela fortaleza de vida e de entusiasmo.
- Nem sei te dizer, Tereza, o que senti. É impossível…
Degradado para a usina, Jairo passa o dia inteiro ouvindo discos, quando não se toca para Cajazeiras, atrás de brigas de galo.
- Que fazer com ele, Tereza, me diga?
Pior de todos, Aparecida, a predilecta. Casara-se no Rio, à revelia da família, comunicara a cerimónia aos pais num telegrama onde pedia dinheiro para a lua-de-mel no Niágara.
Núpcias de milionária baiana com conde italiano, noticiaram as colunas sociais. Até a apática Íris vibrou com a aquisição do sangue azul peninsular.
Emiliano tratou de saber quem era e de onde vinha o inesperado genro, a grei e os antecedentes do suposto nobre romano, Túlio Bocatelli. (clik na imagem)
HISTÓRIAS
DE HODJA
Hodja dirigiu-se à praça do mercado e falou para a multidão:
- “Ó Povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício?”
Logo se juntou um grande número de pessoas e todas gritaram:
- “Queremos, queremos!”
- “Excelente! Era só para saber. Podem confiar em mim, que lhes contarei tudo a esse respeito caso algum dia venha a descobrir algo assim”
INFORMAÇÔES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº19 SOBR O TEMA:
“MARIA MÂE DE DEUS?” (4º e último)
Como é o Dogma de TheotokosBaring e Cashford relatam a origem do dogma de “Maria Mãe de Deus”:
Por volta do ano 431 D.C. Maria foi proclamada não só portadora "de Cristo", mas "portadora de Deus", (em grego, Theotokos), num concílio realizado em Éfeso e presidido por Cirilo de Alexandria.
O que tinha acontecido?
A posição de Maria já era no século IV, um motivo de preocupação óbvia. Epifânio, um padre da igreja, fez uma distinção clara: "Que Maria seja honrada, mas o Pai, o Filho e o Espírito sejam adorados." No primeiro Concílio de Constantinopla, no século IV, a maternidade virginal de Maria foi proclamada como forma de garantir a divindade de Cristo: o dogma chamava a atenção para a suspensão das leis naturais no momento da sua encarnação.
Mais tarde, no início do Sec. V, Nestório, patriarca de Constantinopla, ressaltou que Cristo tinha duas naturezas, uma humana e uma divina, o que significava que Maria carregou Cristo em seu ventre, mas não poderia ter sido Deus. Os Bispos da Síria concordaram com ele, mas não Cirilo, patriarca de Alexandria, pelo que decidiram realizar um concílio em Éfeso para discutir esta questão. Mas Cirilo declarou a abertura do Concílio antes da presença dos bispos Sírios e deixou isolado Nestório sem a presença dos Bispos da Síria que partilhavam também da sua posição. Cirilo excomungou Nestòrio e depois deste episódio no mínimo duvidoso, este dogma que nunca mais seria posto em dúvida.
Muitos autores e escritores destacam a "coincidência" deste dogma ter sido proclamado em Éfeso, uma cidade que era o centro do culto da Grande Mãe das religiões antigas, o culto da deusa frígia Cibele, a deusa Mãe Terra, adorada na Anatólia do período neolítico, e do culto da deusa Ártemis, deusa da caça (Diana para os romanos), uma deusa virgem e também intercessora junto dos deuses.
Por volta do ano 431 D.C. Maria foi proclamada não só portadora "de Cristo", mas "portadora de Deus", (em grego, Theotokos), num concílio realizado em Éfeso e presidido por Cirilo de Alexandria.
O que tinha acontecido?
A posição de Maria já era no século IV, um motivo de preocupação óbvia. Epifânio, um padre da igreja, fez uma distinção clara: "Que Maria seja honrada, mas o Pai, o Filho e o Espírito sejam adorados." No primeiro Concílio de Constantinopla, no século IV, a maternidade virginal de Maria foi proclamada como forma de garantir a divindade de Cristo: o dogma chamava a atenção para a suspensão das leis naturais no momento da sua encarnação.
Mais tarde, no início do Sec. V, Nestório, patriarca de Constantinopla, ressaltou que Cristo tinha duas naturezas, uma humana e uma divina, o que significava que Maria carregou Cristo em seu ventre, mas não poderia ter sido Deus. Os Bispos da Síria concordaram com ele, mas não Cirilo, patriarca de Alexandria, pelo que decidiram realizar um concílio em Éfeso para discutir esta questão. Mas Cirilo declarou a abertura do Concílio antes da presença dos bispos Sírios e deixou isolado Nestório sem a presença dos Bispos da Síria que partilhavam também da sua posição. Cirilo excomungou Nestòrio e depois deste episódio no mínimo duvidoso, este dogma que nunca mais seria posto em dúvida.
Muitos autores e escritores destacam a "coincidência" deste dogma ter sido proclamado em Éfeso, uma cidade que era o centro do culto da Grande Mãe das religiões antigas, o culto da deusa frígia Cibele, a deusa Mãe Terra, adorada na Anatólia do período neolítico, e do culto da deusa Ártemis, deusa da caça (Diana para os romanos), uma deusa virgem e também intercessora junto dos deuses.
quinta-feira, outubro 06, 2011
VÍDEO
Este motorista de autocarro na Dinamarca (natural da Somália) durante anos encantou os seus passageiros com a simpatia do seu sorriso e nunca faltava ao trabalho, nem mesmo pelo seu aniversário. Vejam o que os passageiros e a Companhia lhe fizeram... (bonito... afinal somos todos sentimentais, ainda bem).
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 223
Não deu para padre, deu para chibungo. Tive de mandá-lo para o Rio antes que o pobre Milton pegasse o filho em flagrante atrás da bagaceira. Quem pegou fui eu, Tereza. Vibra-lhe a voz indignada, em fúria: - Vi com meus olhos um Guedes sendo montado, servindo de mulher. Perdi a cabeça e só não matei o desgraçado a rebenque porque, com os gritos, Íris e Irene acudiram e o levaram. Ainda hoje me dói a mão e sinto asco quando me lembro.
De outra feita Emiliano reparou numa cria da usina, brejeira, apetitosa, no ponto exacto, e a conduziu ao acolhedor refúgio de Raimundo Alicate. Silenciosa, obediente, ela o seguiu e o deixou fazer, quem sabe, grata pelo interesse do doutor; era cabaço, um torrão de açúcar. No descanso, Emiliano quis saber um pouco mais sobre a menina.
- Sou sobrinha do senhor, filha do doutor Milton e de minha mãe Alvinha.
Filhas naturais de Milton derrubadas no mato, quantas a exercer na Cia Dágua, em Cajazeiras do Norte, na Zona? Os filhos no eito, plantando e cortando cana, bebendo cachaça, sem pai declarado. Os de Cristóvão conhecem o pai e lhe pedem a bênção. Percebem salário mínimo na matriz e nas sucursais do Banco, porteiros, moços de recado, ascensoristas. Em troca, os dois legítimos abocanham altos salários, formados ambos em Direito, um assessor jurídico da Eximportex, outro do Interestadual, cargos a coonestar os ordenados dos dois Guedes, um casado, outro solteiro, ambos sem serventia além da boa vida.
- Uma vez, Tereza, obriguei um calhorda a engolir no meio da rua a engolir um artigo escrito contra mim e o meu povo. A seco, chorando e apanhando, engoliu tudo, era um longo artigo. Longo e verdadeiro, Tereza.
Uma desolação. Tereza se encolhe contra o sofrido peito do amante, ventos palustres invadem Estância, nuvem de lama apaga a lua.
34
O vulto de Tereza desaparece em direcção à alcova, Marina-se atira-se quarto adentro acompanhada do marido.
Emiliano, meu cunhado, que desgraça! – De joelhos. Junto à cama, em gritos de carpideira, pranto desatado, a bater nos peitos – Ai, Emiliano meu cunhado.
Cristóvão contempla o irmão, não se recompôs ainda da notícia, quase não pode acreditar na morte ali exposta. Da bebedeira só lhe resta a voz pastosa. Lúcido, com medo. Sem Emiliano sente-se órfão. Desde a morte do pai, ele menino, dependera do irmão. Como vai ser agora? Quem tomará o lugar vazio, assumirá o posto de comando? Milton? Não tem energia nem conhecimentos para tanto. Ainda se fosse tão-somente a usina, vá lá. Mas de negócios bancários, de empresas, de importação e exportação, de fretes e navios, Milton nada entende. Nem ele nem Cristóvão, tão pouco Jairo. Esse só sabe de cavalos, nas mãos dele a fortuna dos Guedes, por maior que seja, vai durar pouco. Jairo, nunca. Quem sabe porque é Emiliano.
- Ai meu cunhado, pobrezinho! – Marina cumpre a sua obrigação de parente próxima, os gritos lancinantes.
Túlio passa em frente de Cristóvão, sai do quarto. Apa continua aos pés do pai, a cabeça encostada contra o leito, sonolenta, bebeu demais. (clik na imagem)
HISTÓRIAS DE HODJA
As pessoas de Akshehir sofriam terrivelmente às mãos de Tamerlão, tirano implacável.
Um dia Hodja encontra-o e pergunta-lhe:
- “Você vai deixar esta cidade ou não?”
Tamerlão fica furioso com a pergunta e responde aos gritos:
- “Eu não vou deixar a cidade!”
Então Hodja respondeu-lhe:
- “Então eu sei o que irei fazer”
Tamerlão, cada vez mais possesso grita: “O que é que pensas fazer?”
- “Não muito mais” diz o Hodja. “Se você não sair, as pessoas da cidade irão elas sair”.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À 19ª ENTREVISTA SOB O TEMA:
“MARIA, MÂE DE DEUS?”
Anne BaringAnne Baring é um psicanalista britânica que mergulha no inconsciente dos indivíduos e do inconsciente colectivo. Com Jules Cashford, filósofa, também britânica, têm investigado a presença do "feminino" ao longo da história da religião ocidental e na psique de toda a humanidade. O resultado deste estudo é o extraordinário livro "O Mito da Deusa" (Ediciones Siruela, 2005).
Neste livro, Baring e Cashford argumentam, entre outras coisas, a tese de que o "endeusamento" de Maria nos dogmas e no culto da religião católica expressa a necessidade de que a espiritualidade humana tem do feminino, a nostalgia que temos para recuperar a antiga deusa, perdida há mais de quatro mil anos.
Ao mesmo tempo, afirmam que fazendo de Maria a "virgem" e tirando-lhe a sua sexualidade, a instituição da igreja católica afastou Maria da Grande Mãe Primordial, convertendo-a em Rainha do “céu” negando o seu reinado "na terra ". Este curto-circuito cultural-religioso centrado na figura de Maria provoca na psique colectiva uma contradição fundamental. Esta contradição a sofrem inconscientemente as mulheres ou, percebendo-a, rejeitam-na especialmente as mulheres para quem Maria é retratada como um modelo inimitável. Recomendamos a leitura deste livro, lúcido e indispensável.
Neste livro, Baring e Cashford argumentam, entre outras coisas, a tese de que o "endeusamento" de Maria nos dogmas e no culto da religião católica expressa a necessidade de que a espiritualidade humana tem do feminino, a nostalgia que temos para recuperar a antiga deusa, perdida há mais de quatro mil anos.
Ao mesmo tempo, afirmam que fazendo de Maria a "virgem" e tirando-lhe a sua sexualidade, a instituição da igreja católica afastou Maria da Grande Mãe Primordial, convertendo-a em Rainha do “céu” negando o seu reinado "na terra ". Este curto-circuito cultural-religioso centrado na figura de Maria provoca na psique colectiva uma contradição fundamental. Esta contradição a sofrem inconscientemente as mulheres ou, percebendo-a, rejeitam-na especialmente as mulheres para quem Maria é retratada como um modelo inimitável. Recomendamos a leitura deste livro, lúcido e indispensável.
quarta-feira, outubro 05, 2011
VÍDEO
Não se admire da beleza da paisagem... está de visita a Portugal.
Este filme foi premiado na Polónia no passado dia 2 de Julho. A música é de Nuno Maló e está nomeada para os Jerry Goldsmith Awards 2011 na categoria de "Best Promotion Score"
Dois amigos encontram-se:
- Então, pá, como vais? Estás com mau aspecto, há muito que não te via assim, tão em baixo, que te aconteceu?
- Deixa-me lá, estou para aqui num trilema…
- Um trilema?
- Sim, num trilema… mas eu explico-te.
- Lembras-te do António, aquele tipo casado com uma gaja muito boazona?
- Sim, sim, perfeitamente.
Pois aqui há já uns bons meses atrás ele pediu-me 500 paus emprestados e como nunca mais me pagasse fui a casa dele na tentativa de receber o dinheiro.
Ele não estava, recebeu-me a mulher, a boazona, vestida apenas com um robe de cetim, toda sensual, que me mandou entrar, pegou-me na mão e levou-me até ao sofá… bom, sabes como é, ela agarrou-se a mim e acabamos a fazer amor.
É então, nesse preciso momento, que entra o marido pela sala dentro e apanha-me em flagrante.
- É pá, isso foi muito chato… e depois… conta lá.
- Bem, depois… ele exigiu que eu me virasse de costas e…violou-me.
Depois daquela cena saí porta fora e nem lhe falei no dinheiro da dívida.
- Então e agora?
- Agora? - Olha, de então para cá tenho continuado a ir a casa dele para receber o dinheiro e tudo acontece rigorosamente, como da 1ª vez:
- Ele não está… eu começo a fazer amor com a mulher… depois aparece ele e faz ele amor comigo… e eu saio sem o dinheiro…
- Mas porquê o trilema?
- É que eu agora já não sei se vou lá a casa pelo dinheiro, pela mulher ou por ele…
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 222
Levanta-se Tereza, face de pedra debruçada sobre o leito: até logo, Emiliano. Toca-lhe as pálpebras com os dedos e lhe cerra os olhos. Atravessa entre os parentes, sai do quarto. Apa suspende a cabeça para vê-la, a comentada amásia do pai. Tulio morde o lábio inferior, guloso: carina!
Agora, sim, na cama apenas o corpo de um morto, o cadáver do doutor Emiliano Guedes, antigo senhor de Cajazeiras, de olhos fechados para sempre. Ai, Papi – geme Aparecida. Il padrone é fragato e viva il padrone! Respira forte Túlio Bocatelli, o novo patrão das Cajazeiras.
33
- Tudo isso para quê, Tereza?
Trémula de vergonha, vibrante de ira, de incontida paixão, envolta em amargura, a voz do doutor se dilacera em malogro e tédio. Tédio? Não, Tereza, nojo.
A lua de ouro se derrama sobre o velho e a moça e a viração do rio é uma carícia. Noite para frases de ternura, juras de amor, idílio. A isso chegaram, mas somente após a árida rota do deserto, das areias do ódio e do amargor. Penosa caminhada, para Tereza dura prova. Na doçura de Maio, entre jasmins-do-cabo e pitangueiras, na noite de Estância, vida e morte batalharam sem trégua nem quartel pela posse do coração do velho cavalheiro. Escudo de amor a defendê-lo, Tereza sangrando junto a ele. Lá chegaram, aos jardins do idílio, mas depois.
De começo, apenas a ira e a tristeza, o coração exposto nu, em chagas:
- Sabes como me sinto? Coberto de lama, sujo.
Sujo, quem era de escrupulosa limpeza. Mesmo no exercício da violência, do atropelo. Foi terrível escutá-lo falando da família, exacto no conceito, cru na expressão, desolado, impiedoso. Inexorável.:
- Eu os arranquei do coração, Tereza.
Seria verdade? Pode alguém fazê-lo e continuar vivendo?
Não é tão fatal quanto arrancar do peito o próprio coração?
- Nem assim deixei de labutar, de me bater por eles, parecendo amo e sendo escravo. Mesmo vazio, meu coração pulsa por eles. Mesmo contra minha vontade.
Doutor Emiliano Guedes, dos Guedes das Cajazeiras do norte, o chefe da família, a cumprir o seu dever. Apenas isso?
Mesmo contra minha vontade meu coração pulsa por eles. Apenas o dever de chefe ou o amor de pai e irmão resistindo ao desaponto, ao nojo, sobrevivendo? Até onde, Emiliano, o orgulho interfere em teu árido relato de sofrimento e solidão? Frio e febre sacodem o corpo de Tereza na podre travessia dos pântanos da mesquinhez, do desconsolo.
A única serventia dos irmãos, além de desperdiçar dinheiro, era compor quadros directivos de empresas e do Banco Interestadual, eternos e inúteis vice-presidentes. Nem sequer maus, incapazes tão somente.
Milton na usina, imaginando-se perfeito senhor rural, cobrindo molecas sem se dar ao trabalho de as escolher bonitas, qualquer uma lhe serve e a todas engravida. Da esposa, Irene, mastodonte mantido a chocolate e orações, só lhe nascera um filho, pela mãe destinado ao sacerdócio; na família dos Guedes sempre houvera um varão consagrado ao serviço de Deus, o último fora tio José Carlos, latinista ilustre, morto aos noventa anos em odor de santidade. A baleia criara o futuro padre no rabo da saia, longe da bagaceira, dos moleques, do pecado.(clik na imagem e aumente)
Agora, sim, na cama apenas o corpo de um morto, o cadáver do doutor Emiliano Guedes, antigo senhor de Cajazeiras, de olhos fechados para sempre. Ai, Papi – geme Aparecida. Il padrone é fragato e viva il padrone! Respira forte Túlio Bocatelli, o novo patrão das Cajazeiras.
33
- Tudo isso para quê, Tereza?
Trémula de vergonha, vibrante de ira, de incontida paixão, envolta em amargura, a voz do doutor se dilacera em malogro e tédio. Tédio? Não, Tereza, nojo.
A lua de ouro se derrama sobre o velho e a moça e a viração do rio é uma carícia. Noite para frases de ternura, juras de amor, idílio. A isso chegaram, mas somente após a árida rota do deserto, das areias do ódio e do amargor. Penosa caminhada, para Tereza dura prova. Na doçura de Maio, entre jasmins-do-cabo e pitangueiras, na noite de Estância, vida e morte batalharam sem trégua nem quartel pela posse do coração do velho cavalheiro. Escudo de amor a defendê-lo, Tereza sangrando junto a ele. Lá chegaram, aos jardins do idílio, mas depois.
De começo, apenas a ira e a tristeza, o coração exposto nu, em chagas:
- Sabes como me sinto? Coberto de lama, sujo.
Sujo, quem era de escrupulosa limpeza. Mesmo no exercício da violência, do atropelo. Foi terrível escutá-lo falando da família, exacto no conceito, cru na expressão, desolado, impiedoso. Inexorável.:
- Eu os arranquei do coração, Tereza.
Seria verdade? Pode alguém fazê-lo e continuar vivendo?
Não é tão fatal quanto arrancar do peito o próprio coração?
- Nem assim deixei de labutar, de me bater por eles, parecendo amo e sendo escravo. Mesmo vazio, meu coração pulsa por eles. Mesmo contra minha vontade.
Doutor Emiliano Guedes, dos Guedes das Cajazeiras do norte, o chefe da família, a cumprir o seu dever. Apenas isso?
Mesmo contra minha vontade meu coração pulsa por eles. Apenas o dever de chefe ou o amor de pai e irmão resistindo ao desaponto, ao nojo, sobrevivendo? Até onde, Emiliano, o orgulho interfere em teu árido relato de sofrimento e solidão? Frio e febre sacodem o corpo de Tereza na podre travessia dos pântanos da mesquinhez, do desconsolo.
A única serventia dos irmãos, além de desperdiçar dinheiro, era compor quadros directivos de empresas e do Banco Interestadual, eternos e inúteis vice-presidentes. Nem sequer maus, incapazes tão somente.
Milton na usina, imaginando-se perfeito senhor rural, cobrindo molecas sem se dar ao trabalho de as escolher bonitas, qualquer uma lhe serve e a todas engravida. Da esposa, Irene, mastodonte mantido a chocolate e orações, só lhe nascera um filho, pela mãe destinado ao sacerdócio; na família dos Guedes sempre houvera um varão consagrado ao serviço de Deus, o último fora tio José Carlos, latinista ilustre, morto aos noventa anos em odor de santidade. A baleia criara o futuro padre no rabo da saia, longe da bagaceira, dos moleques, do pecado.(clik na imagem e aumente)
HISTÒRIAS
DE HODJA
Um dos credores de Hodja aparece uma manhã para exigir o seu dinheiro.
“Não se preocupe” disse-lhe o Hodja. “Na noite passada, eu e a minha mulher encontrámos uma maneira de lhe devolver o dinheiro. Vamos plantar uma cerca à frente da nossa casa. Quando as ovelhas passarem por aqui, parte da sua lã ficará agarrada nela. Depois vamos recolhê-la, a minha esposa vai fiá-la e eu irei vendê-la no mercado. Com o dinheiro da venda desta lã pagar-lhe-ei até ao último centavo”.
Ao ouvir isto o credor começa a rir às gargalhadas e o Hodja diz-lhe:
- “Você é muito inteligente. Como vê agora que o dinheiro está seguro já se pode dar ao luxo de rir”.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nª 19 SOBRE O TEMA:
“MARIA MÃE DE DEUS?” (2)
Mãe de Deus: um Dogma
"Maria, Mãe de Deus" era um dogma definido pelo Concílio de Éfeso (ano 431) e mais tarde proclamado pelo Concílio de Calcedónia (451) e o segundo de Constantinopla (ano 553).
Sua formulação - com base em conceitos natureza/ pessoa - há que inscrevê-lo na filosofia helenística que dominava então o cristianismo. A instalação do dogma foi precedida por uma disputa violenta entre o patriarca de Alexandria, Cirilo, e o patriarca de Constantinopla, Nestório. Cirilo propôs a fórmula "Theotokos" (Mãe de Deus) e Nestório propunha "Christotokos" (Mãe de Cristo, ou seja, do Jesus humano e mortal). Finalmente, foi adoptada como dogma a doutrina proposta por Cirilo, Maria foi agraciada com o título de Mãe de Deus, e os nestorianos foram condenados como hereges.
Em Éfeso e Calcedónia ganharam os alexandrinos e o Concílio de Éfeso formulou assim o dogma:
- “Desde o início a Igreja ensina que em Cristo há uma única pessoa, a segunda pessoa é a Santíssima Trindade. Maria não é só a mãe de natureza, o corpo, mas também a pessoa que está Deus, desde toda a eternidade. Assim, como qualquer mãe humana não é apenas mãe do corpo mas da pessoa, e Maria deu à luz uma pessoa, Jesus Cristo, que é Deus e homem. Então, ela é a Mãe de Deus.”
Sua formulação - com base em conceitos natureza/ pessoa - há que inscrevê-lo na filosofia helenística que dominava então o cristianismo. A instalação do dogma foi precedida por uma disputa violenta entre o patriarca de Alexandria, Cirilo, e o patriarca de Constantinopla, Nestório. Cirilo propôs a fórmula "Theotokos" (Mãe de Deus) e Nestório propunha "Christotokos" (Mãe de Cristo, ou seja, do Jesus humano e mortal). Finalmente, foi adoptada como dogma a doutrina proposta por Cirilo, Maria foi agraciada com o título de Mãe de Deus, e os nestorianos foram condenados como hereges.
Em Éfeso e Calcedónia ganharam os alexandrinos e o Concílio de Éfeso formulou assim o dogma:
- “Desde o início a Igreja ensina que em Cristo há uma única pessoa, a segunda pessoa é a Santíssima Trindade. Maria não é só a mãe de natureza, o corpo, mas também a pessoa que está Deus, desde toda a eternidade. Assim, como qualquer mãe humana não é apenas mãe do corpo mas da pessoa, e Maria deu à luz uma pessoa, Jesus Cristo, que é Deus e homem. Então, ela é a Mãe de Deus.”
terça-feira, outubro 04, 2011
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 221
Parece vivo mas está morto, acabou-se o patrão, por fim Túlio Bocatelli é um homem rico; custara-lhe caradura, cinismo e paciência.
Da sala chegam vozes de mulheres e homens, entre elas a do padre Vinícius. Túlio entra no quarto, deixando a porta livre à passagem de Aparecida Guedes Bocatelli. O decote do vestido de baile exibe-lhe os seios alvos e pujantes, abre-se atrás o rego da bunda. Apa é o retrato do pai, o mesmo rosto sensual, uma beleza forte, quase agressiva, a boca sôfrega igual à de Emiliano, mas, na dele, a avidez estava coberta de prata pelos bastos bigodes. Bastante alterada, Aparecida vacila ao andar. No baile pouco bebera, interessada na dança, par constante de Olavo Bittencourt, jovem médico psicanalista, amor recente. Apa gosta de variar. Mas, durante a viagem para estância, emborcara quase uma garrafa inteira de uísque.
Apoia-se no braço de Olavo. Ao enxergar, porém, o corpo do pai, mal iluminado pelos tocos das quatro velas e pela dúbia claridade da antemanhã, cai de joelhos junto à cama, ao lado da cadeira onde Tereza está sentada.
- Ai, Papi!
Nem por ser tua filha tiveste contemplação por ela, Emiliano, usando o nome certo e cru ao designá-la puta, mas não lhe puseste a culpa, culpando antes o teu sangue e tua estirpe, ah! se ao menos ela houvesse nascido homem!
Os soluços rebentam no peito de Aparecida, ai, Papi! Estende as mãos e toca o corpo do pai; andavas triste, deixaste de me tomar ao colo, de acariciar os meus cabelos, de me chamar rainha e de velar meu sono, meu sono e meu destino. Ai, Papi!
Curvado sobre ela, solidário, o jovem mestre do subconsciente e dos complexos, pronto a socorrê-la com um comprimido, um barbitúrico, uma injecção, um aperto de mão, um olhar apaixonado, um beijo furtivo. Do canto do quarto, Túlio, acompanha com interesse a emoção de Aparecida, mas abstém-se de intervir. Não por indiferente ao sofrimento da esposa, mas, sendo homem de experiência e classe, sabe que nessas horas um médico e um amante, são de mais utilidade, de maior conforto. Ainda melhor se médico e amante se fundem no mesmo galante par de dança, um pobre tipo metido a irresistível. Em assuntos de tal delicadeza, Túlio Bocatelli é perfeito de finura e tacto.
Contudo, os olhos lacrimosos de Aparecida, ao levantarem-se à procura de socorro e segurança, não buscam o amante e, sim, o marido. Se há na família alguém capaz de levar o barco avante e de assumir o comando e garantir a continuação da festa, esse alguém é o filho do porteiro do palácio do conde Fassini, em Roma, Túlio Bocatelli, o único. Ele sorri para Aparecida, um elo forte os une, o interesse quase tão forte quanto o amor.
Um grupo barulhento discute com o padre na sala de jantar. Eleva-se, esganiçada, voz feminina:
- Não entro enquanto essa mulher não sair do quarto. Sua presença junto dele é uma afronta à pobre Íris e a todos nós.
- Calma Marina, não se exalte… - Vacilante voz de homem, quase inaudível.
- Entre você, se quiser, está acostumado a conviver com prostitutas, eu não. Tire essa mulher de lá.
A esposa de Cristóvão, com certeza. O marido, um bêbado, ela, a Marina das cartomantes, a perseguir a rapariga e os filhos naturais do esposo, encomendando feitiços mortais, escrevendo cartas anónimas, cuspindo insultos pelo telefone, vivendo para isso, uma mulherzinha, Tereza, de canto de rua… (clik na imagem)
HISTÓRIAS
DE HODJA
Um dia Hodja é Juiz, uma pessoa dirige-se a ele, apresenta o seu caso, e pergunta:
- “É assim, não é?”
Hodja responde: “Sim, tens razão”
Em seguida, a defesa apresenta a sua versão da história e Hodja diz: “Você está absolutamente correcto”
A esposa de Hodja, que estava presente, ficaa perplexa:
- “Como pode ser? Tu disseste que os dois têm razão. No entanto, apenas um deles pode ter razão, o outro não”
Hodja concorda: “Minha esposa querida, tu também tens razão.”
Um dia Hodja é Juiz, uma pessoa dirige-se a ele, apresenta o seu caso, e pergunta:
- “É assim, não é?”
Hodja responde: “Sim, tens razão”
Em seguida, a defesa apresenta a sua versão da história e Hodja diz: “Você está absolutamente correcto”
A esposa de Hodja, que estava presente, ficaa perplexa:
- “Como pode ser? Tu disseste que os dois têm razão. No entanto, apenas um deles pode ter razão, o outro não”
Hodja concorda: “Minha esposa querida, tu também tens razão.”
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 19 SOBRE O TEMA:
“MARIA MÃE DE DEUS?” (1)
Maria, fechada em quatro Dogmas
A Igreja Católica proclama quatro "dogmas de fé" em torno de Maria. O central é que Maria é Mãe de Deus. Os outros são: Maria é Virgem; Maria não teve pecado original (Imaculada Conceição) e Maria subiu ao céu em corpo e alma (Assunção aos céus).
Igreja Católica proclama também as outros quatro "verdades fundamentais" sobre Maria: -Maria é co-redentora, Maria é Rainha; é Mãe espiritual de todos os crentes e Maria é a Medianeira de todas as graças.
O culto de Maria tem estado em ascensão imparável ao longo dos séculos. A primeira igreja dedicada a Maria não aparece em Roma até ao século IV. E é até ao século VIII que reserva a Maria reserva a Maria um culto "hiperdulia" (extrema reverência), abaixo do "latria", merecido apenas a
Deus e a Jesus, mas bem acima de "dulia" que é merecido por todos os santos.
A partir do século XVI, a Reforma Protestante desafiou o culto de Maria: protestantes históricos não suportam os dogmas marianos. No entanto, nem a crítica protestante da Mariologia Católica contribuiu para des-patriarcalizar o Cristianismo nascido da Reforma. Em vez disso, enfatizou os seus traços masculinos, e até empobreceu emocionalmente a sua espiritualidade.
A Igreja Católica proclama quatro "dogmas de fé" em torno de Maria. O central é que Maria é Mãe de Deus. Os outros são: Maria é Virgem; Maria não teve pecado original (Imaculada Conceição) e Maria subiu ao céu em corpo e alma (Assunção aos céus).
Igreja Católica proclama também as outros quatro "verdades fundamentais" sobre Maria: -Maria é co-redentora, Maria é Rainha; é Mãe espiritual de todos os crentes e Maria é a Medianeira de todas as graças.
O culto de Maria tem estado em ascensão imparável ao longo dos séculos. A primeira igreja dedicada a Maria não aparece em Roma até ao século IV. E é até ao século VIII que reserva a Maria reserva a Maria um culto "hiperdulia" (extrema reverência), abaixo do "latria", merecido apenas a
Deus e a Jesus, mas bem acima de "dulia" que é merecido por todos os santos.
A partir do século XVI, a Reforma Protestante desafiou o culto de Maria: protestantes históricos não suportam os dogmas marianos. No entanto, nem a crítica protestante da Mariologia Católica contribuiu para des-patriarcalizar o Cristianismo nascido da Reforma. Em vez disso, enfatizou os seus traços masculinos, e até empobreceu emocionalmente a sua espiritualidade.
segunda-feira, outubro 03, 2011
Um judeu, de sangue raríssimo, doou 1/2 litro de sangue a um milionário árabe muito doente.
Para retribuir o gesto, o milionário deu-lhe uma BMW, zero km.
Dias depois, o milionário precisou de mais sangue.
Avisou o judeu, que super-depressa foi ao hospital.
- Seria preciso mais 1 litro.
O judeu falou:
- Se quiser, tire logo 3 litros.
- Assim foi feito.
No dia seguinte o judeu recebe uma caixa do milionário
contendo bombons. Ficou indignado!
Foi cobrar do milionário uma explicação.
- Ora, da primeira vez, doei 1/2 litro e ganhei uma BMW.
Na segunda vez, 3 litros e só ganhei bombons. Por quê?
O milionário explicou:
- Você esqueceu de que agora tenho sangue judeu…
Para retribuir o gesto, o milionário deu-lhe uma BMW, zero km.
Dias depois, o milionário precisou de mais sangue.
Avisou o judeu, que super-depressa foi ao hospital.
- Seria preciso mais 1 litro.
O judeu falou:
- Se quiser, tire logo 3 litros.
- Assim foi feito.
No dia seguinte o judeu recebe uma caixa do milionário
contendo bombons. Ficou indignado!
Foi cobrar do milionário uma explicação.
- Ora, da primeira vez, doei 1/2 litro e ganhei uma BMW.
Na segunda vez, 3 litros e só ganhei bombons. Por quê?
O milionário explicou:
- Você esqueceu de que agora tenho sangue judeu…
TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 220
Menosprezara o direito alheio, pisara a justiça, desconhecera qualquer razão que não fosse a do clã dos Guedes. Clã ou quadrilha? Eternamente insatisfeitos, sempre a exigir mais, por eles Emiliano se batera implacável, na mão o rebenque de prata. Os cabras às ordens, os políticos, os fiscais de impostos, os juízes, os prefeitos, todas as autoridades à disposição, o clavinote e a gorjeta, a arrogância e o desprezo. Tudo para os Guedes, em primeiro lugar para Jaime e Aparecida, os filhos.
Há! Tereza, nenhum deles pagara a pena, dura pena. Nem os irmãos nem a gente deles – não se salva um único! – nem a esposa, nem os filhos. Tempo desperdiçado, energia posta fora, labuta vã. De nada valeram o esforço, o interesse, o afecto, a amizade, o amor. Inúteis as injustiças, os atropelos, as violências, as lágrimas de muitos, o desespero de tantos, o sangue derramado – até mesmo teu sangue, Tereza, por eles derramei, rompi tuas entranhas para matar nosso menino. Tudo isso para quê, Tereza?
32
A voz do doutor Amarílio, desfeita em amabilidades a indicar o caminho:
- Por aqui, faça o favor.
Emoldura-se na porta do quarto um rapagão moreno, quase tão alto quanto o doutor, belo e arrogante como ele mas, ao mesmo tempo o seu oposto. Nos olhos rapaces um brilho de astúcia, na boca um ríctus de deboche. É forte e parece frágil, é vulgar e se anuncia nobre, é dissimulado e aparenta franqueza. Enverga smoking talhado em alfaiate caro, todo ele rescende a festa, a luxo, a boa vida.
Meio escondido pelo corpo do recém-chegado, o médico apresenta:
- Tereza, este senhor é o doutor Túlio Bonatelli, o genro do doutor.
Sim, tinhas razão, Emiliano, basta pôr os olhos nele para se reconhecer o caça-dotes, o cafetão. Um assim, da alta sociedade, Tereza nunca vira, mas todos eles seja qual for o escalão onde se movimentem, possuem algo em comum, marca indefinível mas fácil de perceber para quem já exerceu de prostituta.
- Boa noite… – o acento italiano, a inflexão dolente.
Os olhos de rapina demoraram-se em Tereza, calculam-lhe o valor e o preço. Mais bonita, muito mais do que lhe haviam dito, madona mestiça, fêmea invulgar, o velho demónio sabia escolher e cuidar: com razão mantinha-a escondida ali em Estância. Fita o sogro, defunto de olhos abertos, parece vivo.
Lâmina de frio gume, os olhos do doutor liam dentro das pessoas, nunca o Túlio conseguira enganá-lo. Emiliano sempre o tratara com a máxima cortesia, porém jamais lhe concedeu a menor intimidade, nem mesmo quando ele se revelou administrador capaz de manejar negócios e ganhar dinheiro.
Desde o dia em que lhe foi apresentado, o genro só enxergou nos olhos do doutor desprezo e desapreço. Olhos límpidos, azuis, impiedosos. Ameaçadores. Na usina, Túlio nunca se sentiu inteiramente seguro: e se o velho capo o mandasse liquidar por um daqueles cabras de fala mansa e muitas mortes? Ainda agora o sogro o fita com olhar de nojo. Nojo, era o termo justo.
- Sembra vivo il padrone.
(clik na imagem)
Há! Tereza, nenhum deles pagara a pena, dura pena. Nem os irmãos nem a gente deles – não se salva um único! – nem a esposa, nem os filhos. Tempo desperdiçado, energia posta fora, labuta vã. De nada valeram o esforço, o interesse, o afecto, a amizade, o amor. Inúteis as injustiças, os atropelos, as violências, as lágrimas de muitos, o desespero de tantos, o sangue derramado – até mesmo teu sangue, Tereza, por eles derramei, rompi tuas entranhas para matar nosso menino. Tudo isso para quê, Tereza?
32
A voz do doutor Amarílio, desfeita em amabilidades a indicar o caminho:
- Por aqui, faça o favor.
Emoldura-se na porta do quarto um rapagão moreno, quase tão alto quanto o doutor, belo e arrogante como ele mas, ao mesmo tempo o seu oposto. Nos olhos rapaces um brilho de astúcia, na boca um ríctus de deboche. É forte e parece frágil, é vulgar e se anuncia nobre, é dissimulado e aparenta franqueza. Enverga smoking talhado em alfaiate caro, todo ele rescende a festa, a luxo, a boa vida.
Meio escondido pelo corpo do recém-chegado, o médico apresenta:
- Tereza, este senhor é o doutor Túlio Bonatelli, o genro do doutor.
Sim, tinhas razão, Emiliano, basta pôr os olhos nele para se reconhecer o caça-dotes, o cafetão. Um assim, da alta sociedade, Tereza nunca vira, mas todos eles seja qual for o escalão onde se movimentem, possuem algo em comum, marca indefinível mas fácil de perceber para quem já exerceu de prostituta.
- Boa noite… – o acento italiano, a inflexão dolente.
Os olhos de rapina demoraram-se em Tereza, calculam-lhe o valor e o preço. Mais bonita, muito mais do que lhe haviam dito, madona mestiça, fêmea invulgar, o velho demónio sabia escolher e cuidar: com razão mantinha-a escondida ali em Estância. Fita o sogro, defunto de olhos abertos, parece vivo.
Lâmina de frio gume, os olhos do doutor liam dentro das pessoas, nunca o Túlio conseguira enganá-lo. Emiliano sempre o tratara com a máxima cortesia, porém jamais lhe concedeu a menor intimidade, nem mesmo quando ele se revelou administrador capaz de manejar negócios e ganhar dinheiro.
Desde o dia em que lhe foi apresentado, o genro só enxergou nos olhos do doutor desprezo e desapreço. Olhos límpidos, azuis, impiedosos. Ameaçadores. Na usina, Túlio nunca se sentiu inteiramente seguro: e se o velho capo o mandasse liquidar por um daqueles cabras de fala mansa e muitas mortes? Ainda agora o sogro o fita com olhar de nojo. Nojo, era o termo justo.
- Sembra vivo il padrone.
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Histórias
de Hodja
Hodja foi convidado para almoçar na casa de um homem muito rico e que gostava de pregar partidas.
Hodja foi convidado para almoçar na casa de um homem muito rico e que gostava de pregar partidas.
Era Verão e como estava muito calor serviram a compota gelada em primeiro lugar. O anfitrião, colocou em frente de cada convidado uma colherzinha de chá muito pequena e para ele reservou uma colher grande de sopa e sempre que a levava à boca exclamava deliciado: “Esta compota está boa de morrer...”
Hodja olhou para ele uma vez, depois outra e sem poder conter-se mais disse:
- “Senhor, por que não nos arranjas uma colher grande como a tua para nós podermos também morrer um pouco?”
(clik na imagem)
Hodja olhou para ele uma vez, depois outra e sem poder conter-se mais disse:
- “Senhor, por que não nos arranjas uma colher grande como a tua para nós podermos também morrer um pouco?”
(clik na imagem)
ENTREVISTA Nº19
COM JESUS CRISTO SOBRE O TEMA:
“MÃE DE DEUS?”
RAQUEL – Emissoras Latinas continuam com Jesus Cristo sobre a devoção generalizada no mundo católico, ao rosário. O senhor disse-nos que sua mãe não tinha pedido a ninguém para o rezar. Quem, então? Talvez o senhor mesmo quando andou por estas terras?
JESUS - Não, porque essa oração tem algo que não me soa bem.
RAQUEL – Algo?
JESUS - Uma frase. Como é isso de Santa Maria?...
RAQUEL - Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós…
JESUS – Santa… está bem, porque minha mãe e todas as mães são santas. Elas são abençoadas, fazem o milagre da vida, o maior dos milagres. Mas, Mãe de Deus?...
RACHEL - Bem, Mãe de Deus porque…
JESUS - Deus não tem mãe ou pai. Porque se os tivesse não seria Deus.
RAQUEL - Mas como o senhor é Filho consubstancial de Deus Pai e Maria é sua mãe, então Maria é também mãe de Seu Pai, que é Deus ... É um dogma.
JESUS - Não, isso é uma bagunça. Deus não tem começo nem fim. Se ele tivesse uma mãe seria mortal como qualquer filho de uma mulher… Quem inventou tal coisa?
RACHEL - Eu não sei, mas posso tentar saber… vamos ver ... talvez a psicóloga britânico Anne Baring ... Ela sabe muito sobre sua mãe… Anne Baring?...incomodo-a para que nos esclareça uma dúvida… De onde saiu isso de que Maria é Mãe de Deus?
ANNE - Do Concílio de Éfeso, no século quinto. Foi uma jogada de bispo Cirilo. O bispo, um personagem arrogante e fanático que tinha ordenado o incêndio da Biblioteca de Alexandria, estava em disputa com um outro bispo chamado Nestório.
JESUS – E que tem a ver essa luta de bispos minha mãe?
RAQUEL – Jesus pergunta o que tem isso ver com a sua mãe.
ANNE - Nesse conselho, Cyril queria liquidar as idéias de Nestório sobre Maria. E para isso, propôs a "Theotokos".
RAQUEL - O que é isso?
ANNE - "Theotokos", é uma palavra grega que significa que Maria é Mãe de Deus. Como aos outros bispos isto lhes parecia uma heresia dizer que Deus tinha uma mãe, Cyril subornou-os com grandes somas de dinheiro e ganhou a votação. Podemos pois dizer que a Mãe de Deus foi um dogma bem pago.
RAQUEL – Obrigado Anne …Francamente… o nosso público deve estar atordoado… E o senhor, Jesus Cristo, o que acha do que acabamos de ouvir?
JESUS - Eu acho que para engrandecer minha mãe diminuiu-se Deus.
RAQUEL - Se sua mãe estivesse aqui connosco ...
JESUS - Iria rir, assim como eu. Nem mesmo Paulo, que se enredava tanto a falar de mim e Deus, chegou a dizer tal coisa.
RAQUEL - Mas então quem é Maria?
JESUS - Maria é minha mãe.
RAQUEL - E sobre Deus?
JESUS - Deus é Deus, Rachel. Deus não tem mãe. Você sabe por quê? Porque Deus é mãe.
RAQUEL - Um momento, Jesus Cristo, eu tenho uma chamada em linha… Sim? ... Como vai ser?... Onde? ... Obrigado pelo aviso… Jesus Cristo, temos que ir.
JESUS - O quê?
RAQUEL - Parece que um grupo de cristãos está indignado com as coisas que estão a ser ditas e vêm para aqui... querem apedrejá-lo, são fundamentalistas do Vaticano, fanáticos…
JESUS – Como os de Cyril!... a história se repete ... Quando eu falei aqui na Nazaré, há dois mil anos, aconteceu a mesma coisa. Nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra ... ou na sua igreja. Vamo-nos!
RAQUEL – Para onde?
JESUS - Cafarnaum. Eu quero ver o lago da Galileia! ... Vamos agora.
RACHEL - Bem, vamos...
JESUS - Não, porque essa oração tem algo que não me soa bem.
RAQUEL – Algo?
JESUS - Uma frase. Como é isso de Santa Maria?...
RAQUEL - Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós…
JESUS – Santa… está bem, porque minha mãe e todas as mães são santas. Elas são abençoadas, fazem o milagre da vida, o maior dos milagres. Mas, Mãe de Deus?...
RACHEL - Bem, Mãe de Deus porque…
JESUS - Deus não tem mãe ou pai. Porque se os tivesse não seria Deus.
RAQUEL - Mas como o senhor é Filho consubstancial de Deus Pai e Maria é sua mãe, então Maria é também mãe de Seu Pai, que é Deus ... É um dogma.
JESUS - Não, isso é uma bagunça. Deus não tem começo nem fim. Se ele tivesse uma mãe seria mortal como qualquer filho de uma mulher… Quem inventou tal coisa?
RACHEL - Eu não sei, mas posso tentar saber… vamos ver ... talvez a psicóloga britânico Anne Baring ... Ela sabe muito sobre sua mãe… Anne Baring?...incomodo-a para que nos esclareça uma dúvida… De onde saiu isso de que Maria é Mãe de Deus?
ANNE - Do Concílio de Éfeso, no século quinto. Foi uma jogada de bispo Cirilo. O bispo, um personagem arrogante e fanático que tinha ordenado o incêndio da Biblioteca de Alexandria, estava em disputa com um outro bispo chamado Nestório.
JESUS – E que tem a ver essa luta de bispos minha mãe?
RAQUEL – Jesus pergunta o que tem isso ver com a sua mãe.
ANNE - Nesse conselho, Cyril queria liquidar as idéias de Nestório sobre Maria. E para isso, propôs a "Theotokos".
RAQUEL - O que é isso?
ANNE - "Theotokos", é uma palavra grega que significa que Maria é Mãe de Deus. Como aos outros bispos isto lhes parecia uma heresia dizer que Deus tinha uma mãe, Cyril subornou-os com grandes somas de dinheiro e ganhou a votação. Podemos pois dizer que a Mãe de Deus foi um dogma bem pago.
RAQUEL – Obrigado Anne …Francamente… o nosso público deve estar atordoado… E o senhor, Jesus Cristo, o que acha do que acabamos de ouvir?
JESUS - Eu acho que para engrandecer minha mãe diminuiu-se Deus.
RAQUEL - Se sua mãe estivesse aqui connosco ...
JESUS - Iria rir, assim como eu. Nem mesmo Paulo, que se enredava tanto a falar de mim e Deus, chegou a dizer tal coisa.
RAQUEL - Mas então quem é Maria?
JESUS - Maria é minha mãe.
RAQUEL - E sobre Deus?
JESUS - Deus é Deus, Rachel. Deus não tem mãe. Você sabe por quê? Porque Deus é mãe.
RAQUEL - Um momento, Jesus Cristo, eu tenho uma chamada em linha… Sim? ... Como vai ser?... Onde? ... Obrigado pelo aviso… Jesus Cristo, temos que ir.
JESUS - O quê?
RAQUEL - Parece que um grupo de cristãos está indignado com as coisas que estão a ser ditas e vêm para aqui... querem apedrejá-lo, são fundamentalistas do Vaticano, fanáticos…
JESUS – Como os de Cyril!... a história se repete ... Quando eu falei aqui na Nazaré, há dois mil anos, aconteceu a mesma coisa. Nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra ... ou na sua igreja. Vamo-nos!
RAQUEL – Para onde?
JESUS - Cafarnaum. Eu quero ver o lago da Galileia! ... Vamos agora.
RACHEL - Bem, vamos...
domingo, outubro 02, 2011
Hoje é
Domingo
(Da minha cidade de Santarém)
(Da minha cidade de Santarém)
Neste final de Verão pelas temperaturas mas já mergulhados no Outono por força do calendário, dou-me conta, sentado na mesa do meu Café, que os tempos que se aproximam são um enigma total ao contrário de outros, mesmo relativamente recentes, em que nada esperávamos de verdadeiramente surpreendente, para o bem ou para o mal, embora o futuro tenha sido sempre um enigma, um desconhecido, mas nunca ameaçador como este.
Embora muitas vezes não resista à tentação de falar em “outros tempos” ou ainda no “meu tempo”, porque estes tempos são tanto meus como os outros o foram, parece-me, pelo grau de insegurança que sinto – bom seria que fosse só eu – que a situação é agora qualitativamente diferente para pior. A solução escapasse-nos, por muitos sacrifícios que façamos dependemos dos outros, os credores têm-nos na mão, os nossos ordenados e as nossas pensões dependem do cumprimento das obrigações assumidas com a “troika” que há-de dar luz verde à passagem do cheque, conforto das nossas vidas.
Felizmente, não consigo perder a esperança. Quando há quase cinquenta anos, embarquei no Paquete Vera Cruz para a guerra de Angola a esperança de regressar vivo era quase total e julgo que era esse o sentimento da esmagadora maioria dos meus camaradas. Aliás, não consigo conceber a vida sem esperança, seria uma coisa atroz tantos os riscos que nos rodeiam.
Vinte e sete meses depois, no regresso, feito o balanço à descida das escadas do portaló do mesmo paquete que nos levara, e dando de barato que basta a morte de um homem para toda a humanidade morrer para ele, a esmagadora maioria estava certa quanto à esperança de regressar viva.
A esperança é uma fonte de vida, a maior creio eu, a que nos dá forças para lutar, nos tira do desalento, nos segreda ao ouvido a ideia de que as coisas podem melhorar, sejam elas quais forem.
Pior que tudo seria o sol não nascer amanhã como temiam os nossos antepassados receando ficar para sempre mergulhados na escuridão da noite.
Sabemos hoje, garantidamente, que isso não irá acontecer: a lua irá deitar-se e o sol despertar para voltar a iluminar-nos. Conhecemos um mundo de coisas com as quais eles nem sonhavam, somos mais sábios, não sei se mais felizes, temos outro tipo de temores e eu a garantia de que já ficou muito para trás no tempo o risco de morrer com uma bala na guerra de Angola…
Portanto, tenhamos esperança.
Bom Domingo para todos.
(clik na imagem do recemconstruido Jardim da Liberdade)