Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, julho 21, 2012
À ENTREVISTA
Nº 56 SOBRE O TEMA: “HOMOSSEXUALIDADE” (9º e últ.)
Nada deixa de ser humano
Ao rejeitar o "outro" ou
"outro", atitude que justifica a discriminação contra as mulheres, outra
raça, estrangeiros, que destaca doentes ou pessoas que sofrem de determinadas
doenças, contra tudo que é diferente, estranho, como a homofobia: rejeição de
gays e lésbicas por serem como são e por sentirem como sentem.
O filósofo espanhol Fernando Savater,
fala de "heterofobia", palavra que pretende abranger todos os
preconceitos, propõe este ideal humanista: «O nosso lema não é dizer simplesmente:
Nada que seja humano me é estranho", mas também: "Tudo no estrangeiro
posso reconhecê-lo como humano.” E a homossexualidade, por mais ou menos
estranho, é uma realidade humana.
GABRIELA
1975 - Este ano ficou marcado por esta maravilhosa história que passou em Portugal, pedaço da vida nordestina brasileira que me marcou e estreitou a minha ligação ao país irmão. Tudo, absolutamente tudo, se conjugou: o melhor escritor de histórias da língua portuguesa (porque não foi proposto ao prémio Nobel?), Jorge Amado. Os melhores actores - como nunca não voltaremos a ver... - e uma canção de abertura ( retrato psicológico que resume um tratado ou uma tese sobre uma personalidade humana do mais puro quilate) na voz tão genuinamente brasileira de Gal Costa.
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 155
Passarinho preso em gaiola não
qui sera jamais. Dava-lhe pena. Só não
dissera para não ofender seu Nacib. Pensara lhe dar um presente, companhia para
casa, sofrê cantador. Canto tão triste, seu Nacib, tão triste! Não queria ofendê-lo,
tomaria cuidado. Não queria magoá-lo, diria que o pássaro tinha fugido.
Foi pró qui ntal, abriu a gaiola em frente da goiabeira. O
gato dormia. Voou o sofrê, num galho pousou, para ela cantou. Que trinado mais
claro e mais alegre! Gabriela sorriu. O gato acordou.
Das cadeiras de alto
espaldar
Pesadas cadeiras austríacas,
de alto espaldar, negras e torneadas, o couro trabalhado a fogo. Pareciam
colocadas ali para serem olhadas e admiradas, não para nelas sentar-se. A outro
qualquer intimidariam. De pé, o coronel Altino Brandão admirava mais uma vez a
sala. Na parede, como em sua casa, retratos coloridos – confeccionados por florescente
indústria paulista – do coronel Ramiro e sua falecida esposa, um espelho entre
os dois.
Num ângulo, um nicho com
santos. Em lugar de velas, minúsculas lâmpadas eléctricas, azuis, verdes,
vermelhas, uma boniteza.
Na outra parede pequenas
esteiras japonesas de bambu, onde se viam cartões postais, retratos de
parentes, estampas. Um piano ao fundo coberto com um xale negro de romagens cor
de sangue.
Quando Altino, do passeio,
cumprimentara Jerusa e perguntara se o coronel Ramiro Bastos estava e lhe podia
conceder dois minutos, a moça o fizera entrar para o corredor a separar as duas
salas da frente. Ouvira dali o movimento crescer na casa: puxavam ferrolhos das
janelas, desvestiam as cadeiras protegidas com invólucros de pano, a vassoira e
o espanador.
Aquela sala se abria apenas
nos dias de festa: aniversário do coronel, posse de novo intendente, recepção a
políticos importantes da Baía. Ou para visita inabitual e muito considerada.
Jerusa apareceu na porta, convidou-o:
- Quer entrar, coronel?
Raras vezes viera a casa de
Ramiro Bastos. Quase sempre em dias de festa, e novamente admirava a sala
luxuosa, prova inequívoca da riqueza e do poder do coronel.
- Vovô já vem… - sorria Jerusa e retirava-se
com uma inclinação de cabeça. «Linda moça, parecia até estrangeira de tão
loira, a pele tão branca chegava a azular. Esse Mundinho Falcão era um tolo.
Porquê tanta briga se podia tudo resolver facilmente?»
Ouviu passos arrastados de
Ramiro. Sentou-se.
- Ora viva! Que milagre é esse? A que devo o
prazer?
Apertavam-se as mãos. Altino
impressionava-se com o velho: como quebrara naqueles meses, desde que o vira
pela última vez. Antes parecia um tronco de árvore, como se a idade não lhe
fizesse mossa, indiferente às tempestades e aos ventos, plantado em Ilhéus como
para mandar por toda a eternidade. Dessa imponência só conservava o olhar
dominador. Tremiam-lhe ligeiramente as mãos, os ombros curvavam-se, o passo
tornara-se vacilante.
(Na imagem, Paulo Gracindo, o coronel Ramiro Bastos. É difícil um actor ser tão convincente no papel que desempenha como o foi Paulo Gracindo. Acompanhei em 1975, dia a dia, religiosamente, esta telenovela e registei para sempre esta figura. Não voltei a ver telenovelas... nada voltaria a ser como na Gabriela))
sexta-feira, julho 20, 2012
Num
autocarro, um padre sentou-se ao lado de um bêbado que, com dificuldade, lia o
jornal.
De repente, com a voz 'empastada', o bêbado perguntou ao padre:
-
O senhor sabe o que é artrite?
O
padre logo pensou em aproveitar a oportunidade para passar um sermão ao bêbado
e respondeu-lhe:
-
É uma doença provocada pela vida pecaminosa e sem regras: excesso de consumo de
álcool, certamente mulheres perdidas, promiscuidade, sexo, farras e outras
coisas que nem ouso dizer.
O
bêbado arregalou muito os olhos, calou-se e continuou lendo o jornal.
Pouco depois o padre, achando que tinha sido demasiadamente duro com o bêbado,
tentou amenizar e pergunta-lhe:
-
Há quanto tempo é que o senhor está com artrite?
- Eu?... Eu não tenho artrite!...
... Diz aqui
no jornal, que quem tem é o Papa!
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 154
Estava sentida, aquela história das idas
ao bar. Porque fazê-la sofrer, não lhe dizer a verdade?
-
Ninguém reclamou das tuas idas ao bar. Sou eu que não quero. Vivo triste é por
isso. Todo o mundo te fala, dizem besteira, pegam tua mão, só faltam te agarrar
ali mesmo, te derrubar no chão…
-
Ela riu achando engraçado:
-
Importa não… Não ligo para eles…
-
Não liga mesmo?
Gabriela o puxou para si, mergulhando-o
nos seios, Nacib murmurou: «Bié…» E em sua língua de amor, que era o árabe, lhe
disse a tomá-la: «De hoje em diante és Bié e essa é tua cama, aqui dormirás. Cozinheira não és apesar de
cozinhares. És a mulher desta casa, o raio de sol, o canto dos pássaros. Te
chamas Bié…»
-
Bié é nome de gringa? Me chame Bié, fale mais nessa língua… Gosto de ouvir.
Quando Nacib partiu, ela sentou-se ante
a gaiola. Seu Nacib era bom, pensava ela, tinha ciúmes. Riu, enfiando o dedo
por entre as grades, o pássaro assustado a fugir.
Tinha ciúmes, que engraçado… Ela não tinha,
se ele tivesse vontade podia ir com outra. No princípio fora assim, ela sabia.
Deitava com ela e as demais. Não se importava. Podia ir com outra. Não pra
ficar, só para dormir. Seu Nacib tinha ciúmes, era engraçado.
Que pedaço tirava se Josué lhe tocava na
mão? Se seu Tonico, beleza de moço! Tão sério na vista de seu Nacib, nas suas
costas tentava beijar-lhe o cangote? Se seu Epaminondas pedia um encontro, seu
Ari lhe dava bombons, pegava em seu queixo?
Com todos eles dormia cada noite, com
eles e com os de antes também, menos seu tio, nos braços de seu Nacib. Ora com
um, ora com outro, as mais das vezes com o menino Bebinho e com seu Tonico. Era
tão bom, bastava pensar.
Tão bom ir ao bar, passar entre os
homens. A vida era boa, bastava viver. Quentar-se ao sol, tomar banho frio.
Mastigar as goiabas, comer manga espada, pimenta morder. Nas ruas andar,
cantigas cantar, com um moço dormir. Com outro sonhar.
Bié gostava do nome. Seu Nacib, tão
grande, quem ia dizer? Mesmo na hora, falava língua de gringo, tinha ciúmes…
que engraçado! Não queria ofendê-lo, era homem tão bom! Tomaria cuidado, não
queria magoá-lo. Só que não poderia ficar sem sair de casa, sem ir à janela,
sem andar na rua. De boca fechada, de riso apagado. Sem ouvir voz de homem, a
respiração ofegante, o clarão de seus olhos. «Peça não, seu Nacib, não posso
fazer.»
O pássaro se batia contra as grades, há
quantos dias estaria preso? Muitos não eram com certeza, não dera tempo de
acostumar-se. Quem se acostuma com viver preso?
Gostava dos bichos, tomava-lhes amizade.
Gatos, cachorros, mesmo galinhas. Tivera um papagaio na roça, sabia falar.
Morrera de fome, antes do tio.
(Click na imagem de seu Nacib, agora com a Bié... a paixão e o ciúme envenenam a relação. Gabriela é uma mulher «superior», como os diamantes antes de lapidados, não se conseguem ver em todo o seu esplendor...)
À ENTREVISTA Nº
56 SOBRE
O TEMA: “HOMOSSEXUALIDADE” (8)
Ratzinger, responsável da doutrina base
para a discriminação
Quando vários países avançaram com
legislação anti-homofóbica e reflexão alargada sobre a discriminação
sofrida por homossexuais, tratados injustamente nos documentos do Vaticano,
"Considerações sobre a resposta católica às propostas legislativas de
não-discriminação aos homossexuais" (Julho de 1992), Congregação presidida
pelo Cardeal Ratzinger, estava numa direcção diferente dizendo exaustivamente
que: a "orientação sexual" não constitui uma característica
comparável à raça, etnia, etc. Ao contrário destas, a orientação homossexual é
uma desordem objectiva.
O Cardeal Ratzinger, Papa a partir de
2005, alarmado com a legalização dos casamentos homossexuais em Espanha, disse:
“As várias formas de dissolução do casamento hoje, sindicatos livres,
casamentos civis e pseudo-casamentos e mesmo o sexo, são expressões de
liberdade anárqui ca que falsamente
tentam passar como a verdadeira libertação do homem.
O primeiro documento emitido por
Ratzinger, já Papa, em Novembro de 2005 foi uma instrução que dava orientações
para não serem aceites como sacerdotes católicos "pessoas com tendências
homossexuais".
quinta-feira, julho 19, 2012
Quando completei 25 anos de
casado, introspectivo, olhei para a minha mulher e disse:
-Querida, há 25 anos nós
tínhamos um carocha, um apartamento caindo aos pedaços, dormíamos num sofá-cama
e víamos televisão a preto e branco num ecrã de 14 polegadas .
Mas, todas as noites, eu dormia com uma mulher
de 25 anos.
Agora nós temos uma mansão, dois Mercedes, uma
cama super King Size e uma TV plasma de 50 polegadas , mas eu
durmo com uma senhora de 50 anos. Parece-me que és a única que não está
evoluindo.
A minha esposa, que é uma
mulher muito sensata, disse-me então, sem sequer levantar os olhos do que
estava fazendo:
- Sem problemas. Sai de casa
e encontra uma mulher de 25 anos de idade que queira ficar contigo. E se isso
acontecer, com o maior prazer eu farei com que tu, novamente, consigas viver
num apartamento caindo aos pedaços, dormindo num sofá-cama e conduzindo um
carocha.
Sabem que fiquei curado da
minha crise de meia-idade? Estas mulheres maduras são realmente o máximo!
CRAVO
E
CANELA
Episódio nº 153
Oportunista respondeu:
-
É isso mesmo. Alguns não se importam, mas outros reclamam.
Tristes os olhos de Gabriela. O sofrê
rompia o peito, canto de rasgar o coração. Tão tristes os olhos de Gabriela:
-
Que mal eu fazia?
Porque fazê-la sofrer, porque não dizer
a verdade, contar-lhe de seus ciúmes, gritar-lhe seu amor, chamá-la Bié como
tinha vontade, como a chamava em seu pensamento?
-
Faço assim a partir de amanhã: entro pelos fundos só para servir a comida. Não ando
na sala nem do lado de fora.
E porque não? Assim não a deixava de ver
ao meio dia, de tê-la junto de si, de tocar-lhe a mão, a perna, o seio. E sua
presença semiescondida não valeria como resposta negativa às ofertas
tentadoras, às palavras melosas?
-
Você gosta de ir?
Fez que sim com a cabeça. Era sua hora
livre de passeio, como gostava! De atravessar sob o sol, a marmita na mão. De
andar entre as mesas, de ouvir as palavras, de sentir os olhos carregados de
intenções. Dos velhos, não.
Das propostas de casa montada feita
pelos coronéis, disso não. De sentir-se mirada, festejada, desejada. Era como
uma preparação para a noite, deixava-a como envolta numa áurea de desejo e nos
braços de Nacib ela revia os moços bonitos: seu Tonico, seu Josué, seu Ary, seu
Epaminondas, caixeiro de loja.
Teria sido algum deles o autor do
fuxico? Pensava que não. Um daqueles velhos feios, danado, por ela não lhe dar
atenção, com certeza danado por ela não dar atenção.
-
Está bem, então pode ir. Mas não vai mais servir, fica sentada atrás do balcão.
Teria os olhares pelo menos, os
sorrisos, algum haveria de vir ao balcão lhe falar.
-
Vou voltar… – anunciou Nacib.
-
Tão cedo…
-
Nem podia ter vindo…
Os braços da Gabriela cingiram-lhe as
pernas, prendendo-o. Nunca a tivera de dia, sempre fora de noite. Queria
levantar-se, ela o retinha, calada e agradecida.
-
Vem cá… Aqui mesmo…
Arrastou-a consigo. Era a primeira vez
que ia possuí-la em seu quarto de dormir, em seu leito, como se ela fosse sua
mulher e não sua cozinheira. Quando lhe arrancou o vestido de chita e o corpo
nu rolou convidativo na cama, enxutas nádegas, duros seios, quando ela tomou
sua cabeça e beijou-lhe os olhos, ele lhe perguntou, e era a primeira vez que o
fazia:
-
Me diga uma coisa: tu me quer bem?
Ela riu no canto do pássaro, era um
trinado só:
-
Moço bonito… Gosto é de mais…
(Click na imagem de Gabriela, Bié, para Nacib: "moço bonito... gosto é de mais...)
À ENTREVISTA
Nº 56 SOBRE
O TEMA: “HOMOSSEXUALIDADE” (7)
A homofóbico doutrina católica oficial
Apesar dos avanços da ciência e desenvolvimento
dos direitos humanos numa sociedade cada vez mais pluralista e complexa, as
últimas posições do Vaticano contra a homossexualidade permanecem o mesmo: a
orientação homossexual é considerada uma doença grave, actos homossexuais um
pecado grave e, consequentemente, a moralidade oficial exige dos homossexuais (os
documentos oficiais nunca usam a palavra "lésbica") a castidade
permanente.
Na "Declaração sobre algumas
questões de ética sexual" de Dezembro de 1975, o cardeal Joseph Ratzinger,
depois Bento XVI, chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, abordando a
questão da "condição homossexual", uma distinção entre
"tendências homossexuais" e "actos homossexuais",
descrevendo-os como "intrinsecamente desordenados".
Com o progresso social sobre a
homossexualidade, o cardeal Ratzinger escreveu novamente sobre o assunto em
Outubro de 1986 numa "Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre o cuidado
pastoral das pessoas homossexuais." Ele afirmou que a inclinação
particular da pessoa homossexual, apesar de em si não ser pecado, é no entanto
uma tendência, mais ou menos forte, para um comportamento intrinsecamente mau
do ponto de vista moral. Por esta razão, a própria inclinação deve ser
considerada objectivamente desordenada.
A gravidade da doutrina católica é
derivada de uma ideia, persistente na moral católica: a actividade sexual só é
aceitável se estiver aberta à reprodução. E esta é uma outra ideia: o prazer
sexual ("complacência") é, em si mesmo, negativo.
quarta-feira, julho 18, 2012
DESABAFO...
Este senhor decidiu dar uma imagem muito negativa das pessoas da sua idade, reclamando da sua vida contra a juventude de que ele não tem boas recordações mas... talvez só tenha querido fazer humor.
MARIA BETÂNIA - GOSTOSO DE MAIS
Muitos consideram -na a melhor cantora brasileira de sempre pela qualidade do seu enorme, rico e prolongado reportório.
Um político que
estava em plena campanha chegou a uma pequena cidade, subiu para o palanque e começou o discurso:
- Compatriotas,
companheiros, amigos!
Encontramo-nos
aqui , convocados, reunidos ou juntos
para debater, tratar ou discutir um tópico, tema ou assunto, o qual me parece
transcendente, importante ou de vida ou morte. O tópico, tema ou assunto que
hoje nos convoca, reúne ou junta é a minha postulação, aspiração ou candidatura
a Presidente da Câmara deste Município.
De repente, uma pessoa do público pergunta:
- Ouça lá, porque é que o senhor utiliza sempre três palavras, para dizer a
mesma coisa?
O candidato
respondeu:
- Pois veja,
meu senhor: a primeira palavra é para pessoas com nível cultural muito alto,
como intelectuais em geral; a segunda é para pessoas com um nível cultural
médio, como o senhor e a maioria dos que estão aqui ;
A terceira
palavra é para pessoas que têm um nível cultural muito baixo, pelo chão,
digamos, como aquele alcoólico, ali,
deitado na esqui na.
De imediato, o
alcoólico levanta-se a cambalear e atira:
- Senhor
postulante, aspirante ou candidato: (hic) o facto, circunstância ou razão pela
qual me encontro num estado etílico,
alcoolizado ou mamado (hic), não implica, significa, ou quer dizer que o meu
nível (hic) cultural seja ínfimo, baixo ou mesmo rasca (hic).
E com todo a
reverência, estima ou respeito que o senhor me merece hic) pode ir agrupando,
reunindo ou juntando (hic) os seus haveres, coisas ou bagulhos (hic) e
encaminhar-se, dirigir-se ou ir direitinho (hic) à leviana da sua progenitora,
à mundana da sua mãe biológica ou à puta que o pariu!
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 152
Prejuízo pró bar? Paciência…
Perdia dinheiro, pior seria perdê-la. Era uma tentação
diária para os homens, presença embriagadora. Como não querê-la, não desejá-la,
não suspirar por ela depois de vê-la?
Nacib a sentia na ponta dos dedos, nos bigodes caídos,
na pele das coxas, na planta dos pés. O sofrê parecia cantar para ele, tão
triste era o canto. Porque não o levaria para Gabriela? Agora proibida de vir
ao bar, necessitava de distracções.
Comprou o sofrê. Já não podia de tanto pensar.
Gabriela em pássaro preso
- Oh! Que
beleza – musicou Gabriela vendo o sofrê. Nacib depositou a gaiola numa cadeira,
o pássaro se debatia contra as grades.
- Pra você…
para lhe fazer companhia.
Ele se havia sentado. Gabriela acomodou-se no chão, a
seus pés. Tomou-lhe da mão grande e peluda, beijou-lhe a palma naquele gesto
que recordava a Nacib, nem mesmo sabia porquê, a terra de seus pais, as
montanhas da Síria. Depois encostou a cabeça em seus joelhos, ele passou-lhe a
mão nos cabelos. O pássaro sossegara, soltou seu trinado.
- Dois presentes de uma vez… Moço tão bom!
- Dois?
- O passarinho
e, mais bom ainda, ter vindo trazer, Todo o dia o moço só chega de noite…
E ia perdê-la… “Cada mulher, por mais fiel, tinha seu
limite”. Nhô-Galo queria dizer seu preço.
Reflectiu-se-lhe a amargura no rosto e Gabriela
levantou os olhos ao falar, constatou:
- Seu Nacib
anda triste… Era assim não… Era faceiro, risonho, agora anda triste. Porquê,
seu Nacib?
Que lhe podia dizer? Que não sabia como guardá-la,
como prendê-la a si para sempre? Aproveitou para falar nas idas diárias ao bar.
- Tenho uma
coisa para lhe falar.
- Pois fale,
meu dono…
- Não estou gostando de uma coisa, está me
preocupando.
Ela assustou-se:
- A comida tá
ruim? A roupa mal lavada?
- Não é nada
disso. É outra coisa.
- E o que é?
- Tuas idas ao
bar. Não gosto, não me agradam…
Arregalaram-se os olhos e Gabriela:
- Vou pra
ajudar, pra comida não esfriar. Por isso que vou.
- Eu sei. Mas
os outros não sabem…
- Já sei. Não
pensei não… Fica feio eu no bar, não é? Os outros não gostam, uma cozinheira no
bar… Não pensei não.
(Click nesta nova espécie de espiga)
À
ENTREVISTA Nº 56 SOBRE O TEMA:
“HOMOSEXUALIDADE”
(6 cont.)
Os
Tribunais da Inqui sição desapareceram
no Peru e no México em 1820 e em 1821 em Cartagena e no Brasil. Mas as atitudes não mudam por decreto
e o machismo homofóbico continua a ser uma marca da cultura latino-americana. No século XX, o suicídio, o sigilo
total, baixa auto-estima, a marginalização, assassinato, tornou-se o pão de
cada dia de milhões de gays, lésbicas e transexuais na América Latina,
rejeitados por suas famílias, humilhados na ruas, incapazes de conseguir
trabalho.
Investigações
no Brasil, país que deverá acomodar mais de 17 milhões de homossexuais, mostram
que de todas as minorias sociais, gays e lésbicas são as mais odiados,
observando-se um contínuo que vai do abuso verbal a um tratamento humilhante
nos mídia, violência física nas ruas, prisões arbitrárias e assassinatos. No México, hoje, as pessoas
homossexuais são chamadas de "41", em memória dos 41 prisioneiros
homossexuais que numa uma única noite em 1901, foram submetidas à pena
humilhante, forçados a varrer as ruas da capital e lavar as latrinas público.
Cuba
destacou-se em meados da década de 60, a violência com que perseguiu, capturou e
forçou a exilarem-se centenas de homossexuais, identificando a homossexualidade
com a decadência capitalista. O
filme "Morango e Chocolate", de Tomas Gutierrez Alea, e o livro
testemunhal de Reinaldo Arenas, "Antes Que Anoiteça” revelam a
intolerância homofóbica de um período que já está felizmente superado.
Até
meados da década de 90 o homossexualismo continuou a ser um crime no Chile,
Equador, Cuba, Nicarágua e Porto Rico. No
começo do século XXI ainda persistiam leis contra a "sodomia" em Porto Rico. Os bispos e clérigos da Igreja
Católica e, mais recentemente, com maior rancor, as autoridades das igrejas
evangélicas fundamentalistas, nunca deixaram de atacar os homossexuais nos
mídia e nos púlpitos.
terça-feira, julho 17, 2012
MARIA BETÂNIA
Com tanto sucesso é obvio que o caminho dos estúdios de gravação era uma
conseqüência imediata e Maria Bethânia então gravou seus primeiros discos, todos
de muito êxito e formou seu público, que lotava também todas as suas
apresentações nos teatros do Brasil, aplaudindo freneticamente o seu talento em
interpretações memoráveis, além de sua postura firme no palco, senhora absoluta
do pedaço, bailando, cantando e recitando, uma artista completa.
Ao lado se seu irmão Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, apresentou o em setembro de 1965 o espetáculo Arena Canta Bahia dirigido por Augusto Boal no Teatro Brasileiro de Comédia (T.B.C.) em São Paulo, e nos anos seguintes realizou temporadas em Salvador e Rio de Janeiro, nas boates Cangaceiro e Barroco, sendo que as apresentações desta última resultaram num dos discos mais importantes de sua carreira. Lançado em 1968 o Recital na Boite Barroco nos traz uma intérprete em um momento mágico de sua trajetória, Bethânia que sempre foi muito criteriosa na escolha de seu repertorio se apresenta neste show/disco de maneira sublime, apresentando novas canções como, "Marginalia II", de Gilberto Gil e Torquato Neto; "Pé na Roseira" e "Ele falava nisso todo dia", de Gilberto Gil; "Baby", de Caetano Veloso e "Maria, Maria", feita especialmente para ela por Caetano e Capinam.
Apesar de prestigiar o talento de seus conterrâneos, Maria Bethânia, recriava também clássicos da música popular brasileira que iriam encontrar em sua interpretação, momentos se não definitivos, pelo menos fundamentais, é o caso de "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro; "Último desejo", de Noel Rosa; "Se todos fossem iguais a voce" e "O que tinha de ser", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes; "Marina", de Dorival Caymmi; "Camisa listada", de Assis Valente; "Molambo", de Jayme Florence e Augusto Mesquita; "Lama", de Paulo Marques e Aylce Chaves; "Pano legal", de Billy Blanco e "Café soçaite", de Miguel Gustavo.
Iniciando com este trabalho uma tradição em sua carreira que seria gravar discos ao vivo, Maria Bethânia, tem seu talento reconhecido no texto da contra-capa escrito pelo poeta Ferreira Gullar, ao afirmar que, "Bethânia é uma cantora nacional, deste país, enraizada nele, e na multidão de vozes e cantos que exprimem a nossa vida destaca-se a sua, bela, já turva, já iluminada, que canta por nós".
O tempo passou e Maria Bethânia construiu uma das mais brilhantes carreiras de intérprete da música popular brasileira, sua obra é referência fundamental para conhecer a beleza de nosso cancioneiro, e este disco é um desses momentos encantadores que ficam para sempre.
Finalmente apenas para atualizar o que o poeta disse a 36 anos, afirmamos sem nenhum exagero que ela é hoje a maior cantora de nossa música popular, pois quanto mais o tempo passa, mais sua voz se torna bela e seu canto universal, é a nossa diva maior, que encanta a pessoas de todas idades com seu talento inigualável, e o que é melhor ainda é saber que ela é baiana, cheira a dendê, recebe as bênçãos de Nossa Senhora da Purificação e dança e canta o recôncavo baiano como ninguém, é a imagem pura e alegre da terra de todos os santos, essa já jovem/senhora de tantos cantares. Salve! Salve!
Luiz Américo Lisboa Junior
Ao lado se seu irmão Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, apresentou o em setembro de 1965 o espetáculo Arena Canta Bahia dirigido por Augusto Boal no Teatro Brasileiro de Comédia (T.B.C.) em São Paulo, e nos anos seguintes realizou temporadas em Salvador e Rio de Janeiro, nas boates Cangaceiro e Barroco, sendo que as apresentações desta última resultaram num dos discos mais importantes de sua carreira. Lançado em 1968 o Recital na Boite Barroco nos traz uma intérprete em um momento mágico de sua trajetória, Bethânia que sempre foi muito criteriosa na escolha de seu repertorio se apresenta neste show/disco de maneira sublime, apresentando novas canções como, "Marginalia II", de Gilberto Gil e Torquato Neto; "Pé na Roseira" e "Ele falava nisso todo dia", de Gilberto Gil; "Baby", de Caetano Veloso e "Maria, Maria", feita especialmente para ela por Caetano e Capinam.
Apesar de prestigiar o talento de seus conterrâneos, Maria Bethânia, recriava também clássicos da música popular brasileira que iriam encontrar em sua interpretação, momentos se não definitivos, pelo menos fundamentais, é o caso de "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro; "Último desejo", de Noel Rosa; "Se todos fossem iguais a voce" e "O que tinha de ser", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes; "Marina", de Dorival Caymmi; "Camisa listada", de Assis Valente; "Molambo", de Jayme Florence e Augusto Mesquita; "Lama", de Paulo Marques e Aylce Chaves; "Pano legal", de Billy Blanco e "Café soçaite", de Miguel Gustavo.
Iniciando com este trabalho uma tradição em sua carreira que seria gravar discos ao vivo, Maria Bethânia, tem seu talento reconhecido no texto da contra-capa escrito pelo poeta Ferreira Gullar, ao afirmar que, "Bethânia é uma cantora nacional, deste país, enraizada nele, e na multidão de vozes e cantos que exprimem a nossa vida destaca-se a sua, bela, já turva, já iluminada, que canta por nós".
O tempo passou e Maria Bethânia construiu uma das mais brilhantes carreiras de intérprete da música popular brasileira, sua obra é referência fundamental para conhecer a beleza de nosso cancioneiro, e este disco é um desses momentos encantadores que ficam para sempre.
Finalmente apenas para atualizar o que o poeta disse a 36 anos, afirmamos sem nenhum exagero que ela é hoje a maior cantora de nossa música popular, pois quanto mais o tempo passa, mais sua voz se torna bela e seu canto universal, é a nossa diva maior, que encanta a pessoas de todas idades com seu talento inigualável, e o que é melhor ainda é saber que ela é baiana, cheira a dendê, recebe as bênçãos de Nossa Senhora da Purificação e dança e canta o recôncavo baiano como ninguém, é a imagem pura e alegre da terra de todos os santos, essa já jovem/senhora de tantos cantares. Salve! Salve!
Luiz Américo Lisboa Junior
DIZEM... QUE ESTAS FRASES SÃO DA SABEDORIA
POPULAR BRASILEIRA
- MULHER GRANDE É COMO UM FERRARI: QUANDO SOBE PARA A BALANÇA VAI DE ZERO A CEM NUM
SEGUNDO.
-
AS MULHERES PERDIDAS SÃO AS MAIS PROCURADAS.
-
COMO É DIFÍCIL LIVRAR DE MULHER FÁCIL.
-
CRIANÇA E TAMANCO SÓ SE FAZEM COM PAU DURO.
-
ENQUANTO NÃO ENCONTRO A MULHER CERTA…ME DIVIRTO COM AS ERRADAS.
-
VALE MAIS CHEGAR ATRASADO NESTE MUNDO QUE ADIANTADO NO OUTRO.
-
MELANCIA GRANDE E MULHER MUITO BOA NINGUÉM COME SOZINHO.
-
MULHER FEIA É IGUAL A VENTANIA: SÓ QUEBRA GALHO.
-
CASAR É TROCAR A ADMIRAÇÃO DE VÁRIAS MULHERES PELA CRÍTICA DE UMA SÓ.
-
NÃO BATA NUM HOMEM QUE ESTIVER CAÍDO… A NÂO SER QUE TENHA A CERTEZA QUE ELE JÁ
NÃO SE LEVANTA.
-
MALANDRO É O PATO QUE JÁ NASCEU COM OS DEDOS COLADOS PARA NÃO USAR ALIANÇA.
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 151
Era preciso oferecer-lhe algo superior,
alguma coisa maior, capaz de tornar irrisórias as ofertas do Juiz, de Manuel
das Onças, agora também de Ribeirinho, subitamente sem Anabela.
A dançarina fora embora, aquela terra
lhe metia medo. O rumor levantado pela surra no empregado da Intendência,
envolvendo Ribeirinho, anunciando factos ainda mais graves, a decidira.
Preparou sua bagagem em segredo, comprou
às escondidas uma passagem num Baiano, só se despediu de Mundinho. Foi à sua
casa na véspera, ele lhe deu ainda um conto de réis.
Ribeirinho estava na roça; quando
chegou, encontrou a notícia. Ela levara anel de brilhante, pendentif de ouro,
mais de vinte contos de jóias. Tonico comentara no bar:
-
Ficámos viúvos, eu e Ribeirinho. Afinal, está em tempo de Mundinho nos arranjar
outra coisa…
Ribeirinho voltara-se para Gabriela, já
tinha a casa pronta, era só ela decidir-se. Também a ela daria anel de
brilhante, pendentif de ouro. De tudo isso Nacib sabia, Dª Arminda lhe contava,
gabando a vizinha:
-
Nunca vi tão direita… olhe que é de deixara qualquer mulher virada. É preciso
gostar mesmo de alguém, ter mais amor por um cujo que por si mesma. Outra
qualquer já estava por aí, coberta de luxo que nem uma princesa…
Dos sentimentos de Gabriela, ele não
duvidava. Não resistia ela, como se em nada lhe importassem, a todas as
propostas, a todas as ofertas? Ria para eles, não se zangava quando um mais
ousado lhe tocava a mão, pegava-lhe no queixo. Não devolvia os bilhetes, não
era grosseira, agradecia as palavras de gabo.
Mas a ninguém dava trela, jamais se
queixava, nunca lhe pedira nada, recebia os presentes batendo as mãos, numa
alegria. E não morria ela cada noite em seus braços, ardente, insaciável,
renovada, a chamá-lo seu moço bonito, minha perdição?»
« Se eu fosse você era o que eu faria…»
Fácil de dizer quando se trata dos outros. Mas como casar com Gabriela,
cozinheira, mulata, sem família, sem cabaço, encontrada no «mercado de escravos»?
Casamento era com senhorita prendada, de família conhecida, de enxoval
preparado, de boa educação, de recatada virgindade.
Que diria seu tio, sua tia tão metida a
sebo, sua irmã, seu cunhado engenheiro agrónomo de boa família Que diriam os
Ashar, seus parentes ricos, senhores de terra, mandando em Itabuna? Seus amigos
do bar, Mundinho Falcão, Amâncio Leal, Melk Tavares, o Doutor, o Capitão, Dr.
Maurício, Dr. Ezequi el? Que diria a
cidade? Impossível sequer pensar nisso, um absurdo. N o entanto, pensava.
Apareceu no bar um roceiro vendendo
pássaros. Numa gaiola, um sofrê partia num canto triste e mavioso. Belo e inqui eto, em negro e amarelo, não parava um instante.
Seu trinado crescia, era doce de ouvir. Chico Moleza e Bico Fino extasiavam-se.
Uma coisa era certa, ia fazer. Acabar
com as vindas de Gabriela, ao meio dia.
(Na imagem, Gabriela adormeceu esperando por seu Nacib, moço bonito...)
segunda-feira, julho 16, 2012
Maria Betânia -Recital na Noite de Barroco - 1968
Muitas pessoas não acreditam em destino acham que já
nascemos com as nossas vidas traçadas, muitos pensam que a sorte é o factor
responsável por inúmeros acontecimentos de nossa existência e ainda há aqueles
que advogam o merecimento das coisas boas da vida como consequência de nossos
actos. Seja qual for o motivo, o certo é que estamos à mercê de todos estes fatos
e é claro precisamos também fazer a nossa parte para que eles dêem resultados ou
façamos jus àquilo que nos foi colocado como opção em determinado momento
crucial de nossa existência.
Podem achar irónico, mas foi assim que
aconteceu quando uma gripe acometeu Nara Leão deixando-a afónica e
impossibilitada de participar de algumas apresentações do show Opinião que fazia
muito sucesso, ao lado de Zé Kéti e João do Vale. A fim de não sofrer
interrupções das apresentações do espectáculo foi solicitado então a substituição
de Nara por uma cantora recém chegada da Bahia, muito jovem ainda e tímida,
porém possuidora de grande talento, seu nome, Maria Bethânia.
O
destino então fez a sua parte, ela aceitou o convite, e ao entrar no palco do
Teatro Arena naquele 13 de Fevereiro de 1965 e abrir seu vozeirão interpretando
dentre outras canções, "Carcará" de João do Vale e José Cândido, apresentou ao
Brasil toda a sua arte e se fez uma das maiores cantoras brasileiras de todos os
tempos, portanto se a vida lhe deu uma oportunidade tão boa, ela também fez a
sua parte e ganhou o merecimento, os aplausos e o reconhecimento da sua e de
outras gerações que se seguiram apreciando seu canto.
Com tanto
sucesso é óbvio que o caminho dos estúdios de gravação era uma conseqüência
imediata e Maria Bethânia então gravou seus primeiros
Maria Betânia - Maria, Maria
Uma velhinha morre e
ao chegar ao Céu pergunta ao guardião dos portões:
- Porque é que existem duas portas, uma
azul e outra vermelha...?
São Pedro então, responde:
- A azul leva ao Céu, a vermelha desce
ao Inferno, pode escolher...!
Nisto, ouve-se uma gritaria e o barulho
de um berbequi m atrás da porta azul.
- Mas o que é isto...? - pergunta a
velhinha.
- Nada, é uma alma que acabou de chegar
e estão a furar-lhe as costas
para pôr as asas...
A velhinha fica
indecisa quando, de repente, ouve-se nova gritaria atrás da porta azul.
- E esta gritaria o que é...???
- Nada, é que estão a furar a cabeça da
alma para pôr a auréola...
- Que horror...! Eu não quero ir para o
Céu, vou para o Inferno...!
- Mas lá o Diabo costuma violar todas
as mulheres...
- Quero lá saber... pelo menos os
buracos já estão feitos...!
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 150
A pior coisa do mundo é um homem não
saber como agir.
-
Onde está a dificuldade?
-
Você não vê? Fico me roendo por dentro, isso me come as carnes. Ando
apalermado. Basta lhe dizer que outro dia me esqueci de pagar um título, veja
como ando…
-
Paixão não é brincadeira…
-
Paixão?
-
E não é? Amor a melhor e a pior coisa do mundo. Paixão… Amor… Lutara contra
aquelas palavras durante dias e dias, a pensar na hora da sesta. Não querendo
medir a extensão dos seus sentimentos, não querendo encarar de face a realidade
das coisas. Pensara ser um xodó, mais forte do que os outros, mais longo de
passar.
Mas nunca penara tanto por um xodó,
jamais sentira tais ciúmes, esse medo, esse pavor de perdê-la. Não era o temor
irritante de ficar sem a cozinheira afamada, em cujas mãos mágicas assentava
grande parte da actual prosperidade do bar. Nem pensara mais nisso, essas
preocupações “duraram pouco tempo”. Se ele próprio perdera o apetite, andava
num fastio medonho… O que acontecia era ser-lhe impossível imaginar uma noite
sequer sem Gabriela, sem o calor do seu corpo.
Mesmo nos dias impossíveis, deitava em
seu leito, ela aninhava-se em seu peito, o perfume de cravo a penetrar-lhe o
nariz Eram então noites mal dormidas, de desejo contido, acumulando-se para
verdadeiras noites de núpcias a renovarem – se a cada mês. Se isso não era
amor, desesperada paixão, o que seria, meu Deus? E se era amor, se a vida
fazia-se impossível, qual a solução? Toda a mulher, mesmo a mais fiel, tem seu
limite” dissera-lhe Nhô-Galo, homem de bom conselho.
Outro que era seu amigo. Não tão
discreto quanto Tonico, botocava em Gabriela um olho comprido, súplice. Mas não
passava disso, não lhe fazia propostas.
-
Deve ser isso mesmo. Vou lhe dizer, Tonico, sem essa mulher não posso viver.
Vou ficar maluco se ela me deixar…
-
O que é que você vai fazer?
-
Sei lá… O rosto de Nacib era triste de ver-se. Perdera aquela jovialidade
esparramada nas bochechas gordas. Parecia alongar-se sorumbático, quase fúnebre.
-
Porque você não casa com ela – soltou de repente Tonico, como a adivinhar o que
ia por dentro do peito do amigo.
-
Você está brincando? Com isso não se brinca…
Tonico levantava-se, mandava botar os
amargos na conta, atirava uma moeda a Chico Moleza, que a aparava no ar:
-
Pois se eu fosse você era o que eu faria…
No bar vazio, Nacib pensava. Que mais
podia fazer? Estava longe o tempo quando ia ao seu quarto por desfastio,
cansado de Risoleta, de outras mulheres. Quando, como pagamento lhe dava
broches de dez tostões, anéis baratos de vidro. Agora lhe dava presentes, um,
dois por semana.
Cortes para vestidos, frascos de perfume,
lenços para a cabeça, caramelos do bar. Mas que valia tudo aqui lo ante as propostas de casa montada, de vida de
luxo, sem trabalhar, assim como Glória gastando nas lojas, vestindo-se melhor
que muita senhora casada com marido rico?
(Click na imagem do casal: Nacib e Gabriela. Tonico ofereceu ao árabe a solução para o seu problema: "case com ela" Porque é que as saídas óbvias causam tanta estranheza?...)
(Click na imagem do casal: Nacib e Gabriela. Tonico ofereceu ao árabe a solução para o seu problema: "case com ela" Porque é que as saídas óbvias causam tanta estranheza?...)