Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sexta-feira, julho 10, 2009
MÚSICAS BRASILEIRAS
TAIGUARA - HOJE (1966)
Taiguara Chalar da Silva (1945- 1998). Nasceu em Montevideu mas aos 4 anos foi para o Brasil, Rio de Janeiro e aos 15 anos São Paulo. Filho e neto de músicos teve com esta canção o seu maior sucesso juntamente com "Universo no Teu Corpo"; "Viagem"; "Teu Sonho Não Acabou" entre outros. Perseguido pela ditadura militar passou a viver em Inglaterra, França, Tanzânia e Etiópia até regressar ao Brasil em 1978. Muito versátil musicalmente tinha um óptimo desempenho como cantor em qualquer tipo de música popular.
Taiguara Chalar da Silva (1945- 1998). Nasceu em Montevideu mas aos 4 anos foi para o Brasil, Rio de Janeiro e aos 15 anos São Paulo. Filho e neto de músicos teve com esta canção o seu maior sucesso juntamente com "Universo no Teu Corpo"; "Viagem"; "Teu Sonho Não Acabou" entre outros. Perseguido pela ditadura militar passou a viver em Inglaterra, França, Tanzânia e Etiópia até regressar ao Brasil em 1978. Muito versátil musicalmente tinha um óptimo desempenho como cantor em qualquer tipo de música popular.
THE BEATLES – (II)
Foi o grupo musical mais bem sucedido da história com mais de um bilião e meio de álbuns vendidos em todo o mundo. Vinte e sete canções suas ocuparam o 1º lugar das paradas de sucesso, apenas nos EUA.
Em 1964, “O Quarteto Fabuloso” como lhe chamavam, conseguiu permanecer em simultâneo nos cinco primeiros lugares de uma classificação de vendas, algo inédito até hoje.
John Lennon e Paul McCartney, pela sua criatividade, originalidade e inventiva das suas canções, formaram a dupla musical mais celebrada e famosa do planeta.
Os Beatles incluíram nos seus trabalhos inovações que influenciaram todas as gerações seguintes como, por exemplo, fazerem vídeos musicais das suas canções.
Segt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band é o 8º álbum lançado pelos Beatles mas citado como o melhor e mais influente da história do rock e da música. Foi lançado em 1 de Junho de 1967 na Inglaterra e no dia seguinte nos EUA. Foi gravado em 129 dias e em aproximadamente 700 horas.
Deste álbum escolhemos, para recordar: Strawberry Fields Forever e Penny Lane.
Em 1964, “O Quarteto Fabuloso” como lhe chamavam, conseguiu permanecer em simultâneo nos cinco primeiros lugares de uma classificação de vendas, algo inédito até hoje.
John Lennon e Paul McCartney, pela sua criatividade, originalidade e inventiva das suas canções, formaram a dupla musical mais celebrada e famosa do planeta.
Os Beatles incluíram nos seus trabalhos inovações que influenciaram todas as gerações seguintes como, por exemplo, fazerem vídeos musicais das suas canções.
Segt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band é o 8º álbum lançado pelos Beatles mas citado como o melhor e mais influente da história do rock e da música. Foi lançado em 1 de Junho de 1967 na Inglaterra e no dia seguinte nos EUA. Foi gravado em 129 dias e em aproximadamente 700 horas.
Deste álbum escolhemos, para recordar: Strawberry Fields Forever e Penny Lane.
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 179
EPISÓDIO Nº 179
- Um bam-bam- bam lá do sul do Estado, desbravador de matas, homem valente e direito. Teve uma questão de terras que nem à bala resolveu. Pois doutor Marcolino, novinho ainda, deslindou o caxixe, ganhou na justiça, de cabo a rabo. Imagine agora que está velho e cuidou durante a vida inteira desses enredos. É para trazer ele que preciso vender os outeiros e as cabras. Depois, negoceio o coqueiral com os alemães, compro roça de cacau.
Já entendi.
Antes de apertar a mão que Josafá lhe estende, de tocar com a ponta dos dedos de Jarde, Tieta demorou uns segundos pensativa, pergunta:
- Essas suas terras são vizinhas das de Osnar, não foi isso que o senhor disse?
- Exactamente. São pegadas uma na outra, a propriedade dele e a nossa.
- Ouça, seu Josafá. Se o senhor não encontrar comprador até amanhã pela manhã, volte aqui para falar comigo.
- Se a senhora pensa em comprar. Não procuro mais ninguém.
- Seu Josafá, vim ontem de Mangue Seco quando soube da morte de Pai, não dormi um minuto a noite inteira, cheguei do cemitério ainda há pouco. Não gosto de tomar resolução sem pensar. Não lhe prendo: se encontrar comprador, pode vender. Se não encontrar, venha me ver amanhã cedo e eu lhe digo o que decidi.
- Se tratando da senhora, dona Antonieta, vou esperar, não falo com ninguém antes de ter sua resposta. Para mim, aqui em Agreste, acima da senhora, só Sant’Ana. Em Itabuna me contaram da luz da Hidrelétrica, quase não acredito, parece milagre. Aqui soube do incêndio, benza Deus!
O aperto de mão, forte e caloroso, do caboclo franco e decidido. A ponta dos dedos de Jarde, baixando a vista. Tão rica, tão heróica, quase santa e que pedaço de mulher.
Perpétua acompanha-os até à porta. Volta, a voz ainda mais acre:
- Então era para isso que o Velho escondia o dinheiro, para comprar terras e cabras. Na idade dele, maluquice! – toma o maço de dinheiro, sopesa-o.
- Vivia passando miséria, comendo na casa dos outros, com essa dinheirama toda guardada. E tu ia pagar o resto, dar essas terras a ele, por quê?
- Porque quando ele queria uma coisa, queria por cima de tudo. Igual a mim, Perpétua. Igual a você, nós somos iguais. Tenho saudades dele.
- Por isso tu vai comprar o rebanho e a terra de Jarde? Ou tu vai te associar com ele e Josafá nos terrenos do coqueiral? É isso não é?
Tieta deixa a pergunta sem resposta, dirige-se ao quarto. Perpétua a observa de costas, andando, o passo firme, as ancas em maneio, indiferente à opinião dos demais, recorda-se do pai na força da idade. Cabrita louca, violento bode, os dois da mesma raça caprina e demoníaca, comprazendo-se em pasto de iniquidades. Iguais os três, afirmara Tieta. Perpétua abana a cabeça, discordando. Na ambição talvez, duros e obstinados como as pedras dos outeiros de Agreste. No mais, imensa distância a separá-la deles, a distingui-la. É uma senhora, recatada viúva, serva de deus. Em seu devoto peito cabem saudades apenas do Major, inesquecível poço de virtudes, tão garboso ao envergar a farda de gala ou o pijama de listas amarelas.
O pensamento ainda no Major, de repente estremece: e o relógio Ómega, de ouro, trazido de São Paulo por Tieta, presente para o Pai? De ouro, relógio e pulseira, valiosos. Vira quando Astério o retirara do pulso do Velho. Esquecera-se de falar sobre isso. É preciso vendê-lo para dividir o dinheiro. A não ser que Tieta o queira guardar, recordação do Pai. Nesse caso, deve pagar a parte da viúva e das órfãs.
Outra vez a lembrança do Major: bonitão, galhardo militar, em seu pulso forte iria bem relógio assim, de qualidade, combinando com a farda de gala ou com o pijama de listas amarelas. Metido no pijama, um homem e tanto, nunca mais haverá outro.
Já entendi.
Antes de apertar a mão que Josafá lhe estende, de tocar com a ponta dos dedos de Jarde, Tieta demorou uns segundos pensativa, pergunta:
- Essas suas terras são vizinhas das de Osnar, não foi isso que o senhor disse?
- Exactamente. São pegadas uma na outra, a propriedade dele e a nossa.
- Ouça, seu Josafá. Se o senhor não encontrar comprador até amanhã pela manhã, volte aqui para falar comigo.
- Se a senhora pensa em comprar. Não procuro mais ninguém.
- Seu Josafá, vim ontem de Mangue Seco quando soube da morte de Pai, não dormi um minuto a noite inteira, cheguei do cemitério ainda há pouco. Não gosto de tomar resolução sem pensar. Não lhe prendo: se encontrar comprador, pode vender. Se não encontrar, venha me ver amanhã cedo e eu lhe digo o que decidi.
- Se tratando da senhora, dona Antonieta, vou esperar, não falo com ninguém antes de ter sua resposta. Para mim, aqui em Agreste, acima da senhora, só Sant’Ana. Em Itabuna me contaram da luz da Hidrelétrica, quase não acredito, parece milagre. Aqui soube do incêndio, benza Deus!
O aperto de mão, forte e caloroso, do caboclo franco e decidido. A ponta dos dedos de Jarde, baixando a vista. Tão rica, tão heróica, quase santa e que pedaço de mulher.
Perpétua acompanha-os até à porta. Volta, a voz ainda mais acre:
- Então era para isso que o Velho escondia o dinheiro, para comprar terras e cabras. Na idade dele, maluquice! – toma o maço de dinheiro, sopesa-o.
- Vivia passando miséria, comendo na casa dos outros, com essa dinheirama toda guardada. E tu ia pagar o resto, dar essas terras a ele, por quê?
- Porque quando ele queria uma coisa, queria por cima de tudo. Igual a mim, Perpétua. Igual a você, nós somos iguais. Tenho saudades dele.
- Por isso tu vai comprar o rebanho e a terra de Jarde? Ou tu vai te associar com ele e Josafá nos terrenos do coqueiral? É isso não é?
Tieta deixa a pergunta sem resposta, dirige-se ao quarto. Perpétua a observa de costas, andando, o passo firme, as ancas em maneio, indiferente à opinião dos demais, recorda-se do pai na força da idade. Cabrita louca, violento bode, os dois da mesma raça caprina e demoníaca, comprazendo-se em pasto de iniquidades. Iguais os três, afirmara Tieta. Perpétua abana a cabeça, discordando. Na ambição talvez, duros e obstinados como as pedras dos outeiros de Agreste. No mais, imensa distância a separá-la deles, a distingui-la. É uma senhora, recatada viúva, serva de deus. Em seu devoto peito cabem saudades apenas do Major, inesquecível poço de virtudes, tão garboso ao envergar a farda de gala ou o pijama de listas amarelas.
O pensamento ainda no Major, de repente estremece: e o relógio Ómega, de ouro, trazido de São Paulo por Tieta, presente para o Pai? De ouro, relógio e pulseira, valiosos. Vira quando Astério o retirara do pulso do Velho. Esquecera-se de falar sobre isso. É preciso vendê-lo para dividir o dinheiro. A não ser que Tieta o queira guardar, recordação do Pai. Nesse caso, deve pagar a parte da viúva e das órfãs.
Outra vez a lembrança do Major: bonitão, galhardo militar, em seu pulso forte iria bem relógio assim, de qualidade, combinando com a farda de gala ou com o pijama de listas amarelas. Metido no pijama, um homem e tanto, nunca mais haverá outro.
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 178
EPISÓDIO Nº 178
Se seu Osnar não se interessar, vamos ter de nos mexer para conseguir comprador e quando a gente tem pressa, a senhora sabe como é…
- Por que corre tanta pressa, seu Josafá? Foi essa pressa, essa correria que abalou o coração do Velho.
- Precisamos desse dinheiro, meu pai e eu, para contratar um advogado em Itabuna, doutor Marcolino Pitombo; não tem outro como ele em questão de litígio por posse de terra.
- O senhor está em questão por lá?
- Lá não. Aqui. Vou trazer doutor Marcolino a Agreste, é para isso que preciso do dinheiro e quero vender os roçados e o rebanho. Tenho alguma coisa em Itabuna mas preciso de um dinheiro maior, disponível, para contratar o doutor e trazer ele aqui.
- Aqui? E por que, se mal lhe pergunto?
A senhora conhece o coqueiral de Mangue Seco, comprou um terreno na parte que é de seu Modesto Pires, seu Zé Esteves me disse. Sabe quem é o dono do resto, das terras que vão do Quebra Pedra até aos limites de seu Modesto? Essas terras que agora a tal companhia quer comprar para botar a fábrica? Pois são da gente, de meu pai e desse seu criado.
- O coqueiral? Me disseram que ninguém sabe direito quais são os donos, ainda outro dia o Comandante falou nisso.
- Se tem mais alguém com direito, não sei. Possa ser que sim. Se tem que apareça, constitua advogado como eu vou fazer e apresente as provas porque eu vou apresentar as minhas. Herança antiga, dona Antonieta, consta dos livros do cartório. Só que meu pai e meu avô nunca ligaram, quem dava valor ao coqueiral, mais mangue do que terras? Eu mesmo só vim ligar importância agora, aqui chegando. Meu pai me falou da história da fábrica, lembrou que esses terrenos são da gente. Assuntei o zunzum, soube que os engenheiros andam por lá. Ontem mesmo seu Zé Esteves me disse que tinha um helicóptero voando por cima dos coqueiros, que ele e a senhora tinham visto.
- É verdade. O senhor precisa mesmo andar depressa porque muita tem muita gente graúda interessada no coqueiral.
- E não havia de ser, com os alemães querendo comprar?
- Os alemães?
- Foi o que eu ouvi dizer em Itabuna, eles andaram sondando por lá também; procurando lugar para fábrica no rio cachoeira mas houve uma grita danada, e ainda está havendo, porque diz que esta tal fábrica acaba com tudo quanto é peixe e marisco e bota veneno no ar. Até eu assinei um papel protestando contra essa ideia deles se instalarem ali. Mas aqui, eu sou a favor. Lugar bom para uma fábrica dessas, não tem lavoura que pague a pena e cabra é um bicho que não morre mesmo.
- Cabra pode ser que resista. Mas os peixes se envenenam e morrem, a pescaria se acaba.
- Ora, dona Antonieta, em Mangue Seco o que tem é meia dúzia de preguiçosos, vivendo do contrabando. Com a instalação da fábrica vão ser operários, aprender a trabalhar, vão virar gente.
Mas no Saco a pesca é o único sustento do povo. E lá a colónia de pescadores é grande.
Josafá ri, matreiro, pela boca e pelos olhos astutos, repete em voz alta o argumento que Ascânio Trindade pensara sem ousar dizer:
- O povo do arraial do Saco? Mas isso é lá com os sergipanos, o Saco fica do outro lado da barra, eles que se arranjem. Por mim quero é vender meus terrenos aos alemães. Nós temos um papel.
Estão conversando de pé, Jarde não resiste, espicha os olhos para as rendas do neglichê, pele mais bonita, redondos úberes de cabra feita. Josafá mete a mão no bolso interno do paletó, tira a carteira e dela uma folha de papel amarelada, estende a Tieta. Uma carta velhíssima, a tinta desbotada, onde há referências às terras na beira-rio, no rumo do mar, pertencentes à família Antunes.
- Antunes em Agreste, que eu saiba, só eu e meu pai, não existem outros. Fui saber ao cartório, doutor Franklin me disse que o nome de Manuel Bezerra Antunes, meu tetravô, está lá, na escritura. Com a história da fábrica tem não sei quantos se dizendo dono. É por isso que vou constituir advogado, entrar logo com acção de posse. Para isso preciso trazer doutor Marcolino; para questão de terras não há igual a ele. Começou a carreira como advogado do coronel Basílio, já pensou?
- Coronel Basílio? Não sei quem seja.
- Por que corre tanta pressa, seu Josafá? Foi essa pressa, essa correria que abalou o coração do Velho.
- Precisamos desse dinheiro, meu pai e eu, para contratar um advogado em Itabuna, doutor Marcolino Pitombo; não tem outro como ele em questão de litígio por posse de terra.
- O senhor está em questão por lá?
- Lá não. Aqui. Vou trazer doutor Marcolino a Agreste, é para isso que preciso do dinheiro e quero vender os roçados e o rebanho. Tenho alguma coisa em Itabuna mas preciso de um dinheiro maior, disponível, para contratar o doutor e trazer ele aqui.
- Aqui? E por que, se mal lhe pergunto?
A senhora conhece o coqueiral de Mangue Seco, comprou um terreno na parte que é de seu Modesto Pires, seu Zé Esteves me disse. Sabe quem é o dono do resto, das terras que vão do Quebra Pedra até aos limites de seu Modesto? Essas terras que agora a tal companhia quer comprar para botar a fábrica? Pois são da gente, de meu pai e desse seu criado.
- O coqueiral? Me disseram que ninguém sabe direito quais são os donos, ainda outro dia o Comandante falou nisso.
- Se tem mais alguém com direito, não sei. Possa ser que sim. Se tem que apareça, constitua advogado como eu vou fazer e apresente as provas porque eu vou apresentar as minhas. Herança antiga, dona Antonieta, consta dos livros do cartório. Só que meu pai e meu avô nunca ligaram, quem dava valor ao coqueiral, mais mangue do que terras? Eu mesmo só vim ligar importância agora, aqui chegando. Meu pai me falou da história da fábrica, lembrou que esses terrenos são da gente. Assuntei o zunzum, soube que os engenheiros andam por lá. Ontem mesmo seu Zé Esteves me disse que tinha um helicóptero voando por cima dos coqueiros, que ele e a senhora tinham visto.
- É verdade. O senhor precisa mesmo andar depressa porque muita tem muita gente graúda interessada no coqueiral.
- E não havia de ser, com os alemães querendo comprar?
- Os alemães?
- Foi o que eu ouvi dizer em Itabuna, eles andaram sondando por lá também; procurando lugar para fábrica no rio cachoeira mas houve uma grita danada, e ainda está havendo, porque diz que esta tal fábrica acaba com tudo quanto é peixe e marisco e bota veneno no ar. Até eu assinei um papel protestando contra essa ideia deles se instalarem ali. Mas aqui, eu sou a favor. Lugar bom para uma fábrica dessas, não tem lavoura que pague a pena e cabra é um bicho que não morre mesmo.
- Cabra pode ser que resista. Mas os peixes se envenenam e morrem, a pescaria se acaba.
- Ora, dona Antonieta, em Mangue Seco o que tem é meia dúzia de preguiçosos, vivendo do contrabando. Com a instalação da fábrica vão ser operários, aprender a trabalhar, vão virar gente.
Mas no Saco a pesca é o único sustento do povo. E lá a colónia de pescadores é grande.
Josafá ri, matreiro, pela boca e pelos olhos astutos, repete em voz alta o argumento que Ascânio Trindade pensara sem ousar dizer:
- O povo do arraial do Saco? Mas isso é lá com os sergipanos, o Saco fica do outro lado da barra, eles que se arranjem. Por mim quero é vender meus terrenos aos alemães. Nós temos um papel.
Estão conversando de pé, Jarde não resiste, espicha os olhos para as rendas do neglichê, pele mais bonita, redondos úberes de cabra feita. Josafá mete a mão no bolso interno do paletó, tira a carteira e dela uma folha de papel amarelada, estende a Tieta. Uma carta velhíssima, a tinta desbotada, onde há referências às terras na beira-rio, no rumo do mar, pertencentes à família Antunes.
- Antunes em Agreste, que eu saiba, só eu e meu pai, não existem outros. Fui saber ao cartório, doutor Franklin me disse que o nome de Manuel Bezerra Antunes, meu tetravô, está lá, na escritura. Com a história da fábrica tem não sei quantos se dizendo dono. É por isso que vou constituir advogado, entrar logo com acção de posse. Para isso preciso trazer doutor Marcolino; para questão de terras não há igual a ele. Começou a carreira como advogado do coronel Basílio, já pensou?
- Coronel Basílio? Não sei quem seja.
quinta-feira, julho 09, 2009
CANÇÕES BRASILEIRAS
GONZAGUIHA - O QUE É, O QUE É?
Luís Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha), filho do também cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento. Característico, a sua atitude crítica relativamente à ditadura com 54 canções suas censuradas. A canção aqui reproduzida, corresponde a uma segunda fase da sua carreira, consequência da abertura política entretanto verificada. Maria Betânia, Simone, Elis Regina gravaram canções suas. Especialmente Simone com os sucessos: "Sangrando", "Mulher e Daí" e "Começaria Tudo Outra Vez". Às 07h30 do do dia 29 de Abril, entre as cidades de Renascença e Marmeleiro, enquanto conduzia o automóvel rumo à Foz do Iguaçu terminou, de forma trágica, uma vida e uma brilhante carreira de sucesso.
THE BEATLES
Foi uma banda de rock, de Liverpool, Inglaterra, com raízes na década de cinquenta e formada no início dos anos sessenta e que, por essa época, liderou a “invasão britânica” nos EUA.
Foi constituída, principalmente, por Paul McCartney (baixo, piano e vocais), John Lennon (guitarra e vocais), Jorge Harrison (guitarra, solo e vocais) E Ringo Star (bateria e vocais).
Os “garotos de Liverpool” como eram então conhecidos, obtiveram fama, popularidade e notoriedade até hoje nunca conhecidas por uma banda musical e constituíram-se, pelas suas vestimentas, cortes de cabelo e uma crescente consciência social, num factor de enorme influência na maneira de ser dos jovens da sua geração dando lugar ao que se chamou de “beatlemania”.
Em 1970 a banda separou-se e os quatro seguiram carreiras a solo de sucesso.
“Love Me Do” e “Please Please Me” constituíram os seus dois primeiros grandes sucessos, respectivamente, em 1962/63. Vamos ouvi-los.
Foi constituída, principalmente, por Paul McCartney (baixo, piano e vocais), John Lennon (guitarra e vocais), Jorge Harrison (guitarra, solo e vocais) E Ringo Star (bateria e vocais).
Os “garotos de Liverpool” como eram então conhecidos, obtiveram fama, popularidade e notoriedade até hoje nunca conhecidas por uma banda musical e constituíram-se, pelas suas vestimentas, cortes de cabelo e uma crescente consciência social, num factor de enorme influência na maneira de ser dos jovens da sua geração dando lugar ao que se chamou de “beatlemania”.
Em 1970 a banda separou-se e os quatro seguiram carreiras a solo de sucesso.
“Love Me Do” e “Please Please Me” constituíram os seus dois primeiros grandes sucessos, respectivamente, em 1962/63. Vamos ouvi-los.
quarta-feira, julho 08, 2009
CANÇÕES BRASILEIRAS
MARIA BETÂNIA - GRITO DE ALERTA
Letra e música - Gonzaguinha (1945-1991 ) - Falecido precocemente num acidente de viação próximo de Curitiba)
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 177
EPISÓDIO Nº 177
Vou trocar de roupa, tomar de banho e dormir, estou exausta.
Portador do recado de Astério, Pirica viera encontrá-lo à noite nos cômoros, em desatada festa com Ricardo. Sorte o Comandante ter gritado para localizá-la. Pirica comenta a morte do Velho, após dar a notícia:
- Indagorinha trouxe e levei ele no barco. Ia tão contente que até me deu um agrado.
Passara o resto da noite na sentinela, recebendo pêsames, repetindo as mesmas palavras, ouvindo histórias acerca de Zé Esteves, algumas engraçadas, outras bravias, do tempo de prosperidade. Depois, a manhã do enterro, metido naquele vestido apertado, feito para o clima de São Paulo, a caminhada para o cemitério, a encomendação do corpo, o desfile do povo em condolências, a volta melancólica. Tieta quer dormir, não pensar em nada, nem sequer em Ricardo, de repente sentindo-se estranha a Agreste. Rompera-se uma das amarras a prendê-la à terra natal e pela primeira vez desde que chegara teve realmente vontade de regressar a São Paulo.
Estava tirando a roupa para tomar uma chuveirada, cair na cama e dormir sem hora de acordar, quando, falando da sala de jantar, Perpétua anuncia-lhe a visita de Jarde e Josafá: queriam vê-la com urgência, motivo sério. Tieta enfia um robe-de-chambre e vem atendê-los, levando-os para a varanda. Perpétua fica por perto, rondando.
Jarde roda o chapéu na mão, baixa os olhos deslumbrado com a visão do busto da paulista, mal coberto pelas rendas do desabiê. Josafá toma a palavra:
- Desculpe, dona Antonieta, a gente vir incomodar numa hora tão ruim mas o assunto é urgente e por isso nós não tivemos outro jeito, o pai e eu.
- É sobre a compra da posse?
- E do rebanho, sim senhora. Seu Zé Esteves disse que tinha falado com a senhora e que a senhora ia pagar o restante.
Mas agora ele morreu.
- Por isso mesmo a gente está aqui. É que ele quando voltou de Mangue Seco, depois de pedir um abatimento, que nós fizemos porque estávamos com pressa de fechar o negócio, deu logo uma parte do pagamento, de garantia, mais de metade – enfia a mão no bolso da calça, puxa um maço de dinheiro amarrado com uma fita cor-de-rosa desbotada, deposita-o numa cadeira ao lado de Tieta – Está aqui o dinheiro que seu Zé Esteves deixou connosco, em confiança. Não quis papel nenhum…
Maluco! – pensa Perpétua ao ouvir tal absurdo. Aproximara-se, apenas percebera o motivo da conversa: o velho comprando terras e cabras sem nada lhe dizer, na surdina, para isso economizara durante todos aqueles anos.
Jarde se distrai, os olhos fogem para o decote do robe, Tieta se compõe, tem de tomar cuidado devido às manchas escuras nos seios, nas coxas, na barriga; em todo o corpo a marca e o gosto dos lábios de Ricardo. Ali, naquela hora, recém chegada do enterro, flagrando Jarde a lhe brechar o decote, conversando negócios, sente um frio de prazer a percorre-la. Ao cansaço mescla-se o desejo, uma doce lassitude. Josafá prossegue.
A gente veio lhe trazer o dinheiro. Pena seu Zé Esteves ter morrido, ele queria a todo o custo a roça e as cabras, ficou doido por seu Mé.
Ante o olhar de Tieta, de incompreensão, explica:
- Seu Mé é o pai do rebanho, um bodastro de dar gosto.
Levanta-se, caboclo alto e disposto; Jarde o imita, ainda encabulado. Josafá lastima, antes de estender a mão na despedida:
- Para a gente, a morte de seu Zé Esteves também foi um golpe, a venda já estava feita, agora se desfaz. Vamos oferecer a seu Osnar, cuja propriedade é vizinha da nossa, só que a dele é um colosso, só perde para a do coronel Artur.
Portador do recado de Astério, Pirica viera encontrá-lo à noite nos cômoros, em desatada festa com Ricardo. Sorte o Comandante ter gritado para localizá-la. Pirica comenta a morte do Velho, após dar a notícia:
- Indagorinha trouxe e levei ele no barco. Ia tão contente que até me deu um agrado.
Passara o resto da noite na sentinela, recebendo pêsames, repetindo as mesmas palavras, ouvindo histórias acerca de Zé Esteves, algumas engraçadas, outras bravias, do tempo de prosperidade. Depois, a manhã do enterro, metido naquele vestido apertado, feito para o clima de São Paulo, a caminhada para o cemitério, a encomendação do corpo, o desfile do povo em condolências, a volta melancólica. Tieta quer dormir, não pensar em nada, nem sequer em Ricardo, de repente sentindo-se estranha a Agreste. Rompera-se uma das amarras a prendê-la à terra natal e pela primeira vez desde que chegara teve realmente vontade de regressar a São Paulo.
Estava tirando a roupa para tomar uma chuveirada, cair na cama e dormir sem hora de acordar, quando, falando da sala de jantar, Perpétua anuncia-lhe a visita de Jarde e Josafá: queriam vê-la com urgência, motivo sério. Tieta enfia um robe-de-chambre e vem atendê-los, levando-os para a varanda. Perpétua fica por perto, rondando.
Jarde roda o chapéu na mão, baixa os olhos deslumbrado com a visão do busto da paulista, mal coberto pelas rendas do desabiê. Josafá toma a palavra:
- Desculpe, dona Antonieta, a gente vir incomodar numa hora tão ruim mas o assunto é urgente e por isso nós não tivemos outro jeito, o pai e eu.
- É sobre a compra da posse?
- E do rebanho, sim senhora. Seu Zé Esteves disse que tinha falado com a senhora e que a senhora ia pagar o restante.
Mas agora ele morreu.
- Por isso mesmo a gente está aqui. É que ele quando voltou de Mangue Seco, depois de pedir um abatimento, que nós fizemos porque estávamos com pressa de fechar o negócio, deu logo uma parte do pagamento, de garantia, mais de metade – enfia a mão no bolso da calça, puxa um maço de dinheiro amarrado com uma fita cor-de-rosa desbotada, deposita-o numa cadeira ao lado de Tieta – Está aqui o dinheiro que seu Zé Esteves deixou connosco, em confiança. Não quis papel nenhum…
Maluco! – pensa Perpétua ao ouvir tal absurdo. Aproximara-se, apenas percebera o motivo da conversa: o velho comprando terras e cabras sem nada lhe dizer, na surdina, para isso economizara durante todos aqueles anos.
Jarde se distrai, os olhos fogem para o decote do robe, Tieta se compõe, tem de tomar cuidado devido às manchas escuras nos seios, nas coxas, na barriga; em todo o corpo a marca e o gosto dos lábios de Ricardo. Ali, naquela hora, recém chegada do enterro, flagrando Jarde a lhe brechar o decote, conversando negócios, sente um frio de prazer a percorre-la. Ao cansaço mescla-se o desejo, uma doce lassitude. Josafá prossegue.
A gente veio lhe trazer o dinheiro. Pena seu Zé Esteves ter morrido, ele queria a todo o custo a roça e as cabras, ficou doido por seu Mé.
Ante o olhar de Tieta, de incompreensão, explica:
- Seu Mé é o pai do rebanho, um bodastro de dar gosto.
Levanta-se, caboclo alto e disposto; Jarde o imita, ainda encabulado. Josafá lastima, antes de estender a mão na despedida:
- Para a gente, a morte de seu Zé Esteves também foi um golpe, a venda já estava feita, agora se desfaz. Vamos oferecer a seu Osnar, cuja propriedade é vizinha da nossa, só que a dele é um colosso, só perde para a do coronel Artur.
terça-feira, julho 07, 2009
CANÇÕES BRASILEIRAS
GAL COSTA - GABRIELA (1975)
Música gravada para a novela "Gabriela" da TV Globo, baseada no romance de Jorge Amado "Gabriela, Cravo e Canela"
NEIL LESLIE DIAMOND
Nasceu numa família judaica no Brooklyn, Nova York, em 1941. Aprendeu a tocar guitarra após lhe oferecerem uma por ocasião do 16º aniversário.
Estudou com Bárbara Streisand na Escola Secundária Abraham Lincoln e chegou a cantar com ela no coro.
Começou a sua carreira compondo canções por encomenda como: “I Am a Believer” (1966) e “A Little Bit Me, a Litle Bit You” (1967), para o Grupo “The Monkees”.
- “Cracklin Rosie”, “Sweet Caroline”, “I Am I Said”, “Don’t Bring Me Flowers” (c/ Barbara Striesand), “Song Sung Blue”, “September Morning”, “Girl, you’ll Be A Woman Soon” e muitas outras canções suas constituíram enormes e merecidos sucessos musicais.
Muitos dos seus discos ganharam certificados de ouro e platina e recebeu diversos Grammys ao longo da carreira.
A crítica americana considerou-o um dos dez maiores cantores e compositores de todos os tempos.
Do primeiro casamento com a sua professora Jay Posner teve duas filhas. Do segundo casamento, também já terminado, teve mais dois filhos.
O seu CD mais recente foi lançado em 2008, intitulado Home Before Dark.
Estudou com Bárbara Streisand na Escola Secundária Abraham Lincoln e chegou a cantar com ela no coro.
Começou a sua carreira compondo canções por encomenda como: “I Am a Believer” (1966) e “A Little Bit Me, a Litle Bit You” (1967), para o Grupo “The Monkees”.
- “Cracklin Rosie”, “Sweet Caroline”, “I Am I Said”, “Don’t Bring Me Flowers” (c/ Barbara Striesand), “Song Sung Blue”, “September Morning”, “Girl, you’ll Be A Woman Soon” e muitas outras canções suas constituíram enormes e merecidos sucessos musicais.
Muitos dos seus discos ganharam certificados de ouro e platina e recebeu diversos Grammys ao longo da carreira.
A crítica americana considerou-o um dos dez maiores cantores e compositores de todos os tempos.
Do primeiro casamento com a sua professora Jay Posner teve duas filhas. Do segundo casamento, também já terminado, teve mais dois filhos.
O seu CD mais recente foi lançado em 2008, intitulado Home Before Dark.
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 176
EPISÓDIO Nº 176
DA PRESSA E DA AMBIÇÃO DE LUCRO, CAPÍTULO ONDE O COQUEIRAL SE VALORIZA
Em casa, apenas chegam, antes mesmo de trocarem de roupa, Tieta com urgência de tirar o vestido negro e quente, Perpétua fazendo uma pausa nas lamúrias, afirma:
- Agora temos de tratar da herança.
- Herança? – surpreende-se Tieta – O Velho não deixou nada.
- Não deixou? É o que você pensa. Todo o mês ele encafuava o dinheiro mandado por você, menos um pingo de nada para a feira e o aluguel. Nunca tirou um tostão para oferecer um presente a mim ou a Elisa, aos netos. Só fazia visita na hora do almoço ou do jantar, você não reparou? Deve ter muito dinheiro escondido.
Economia de mais de dez anos, uns doze, bolada respeitável. Para fazer o quê com tanto dinheiro? Perpétua se exalta ao contar, a voz desagradável, sibilante, ainda mais ríspida devido ao tema da conversa:
- Várias vezes perguntei a ele o que pensava fazer com esse dinheiro, me respondia que me fosse meter com a minha vida. Aconselhei a colocar o dinheiro na Caixa Económica ou a botar na mão de seu Modesto, rendendo juros. Não quis, não tinha confiança em ninguém, muito menos em banco. Penso que guardava sem necessidade – baixa a voz – de ruim que era. Deus me perdoe.
- Tenha piedade, Perpétua. Não faz ainda uma hora que acabamos de enterrar o Velho; antes de pensar nos defeitos dele, a gente deve lembrar-se que era nosso pai.
Perpétua recua, não deseja desagradar a Tieta:
- Você tem razão. Padre Mariano também me diz que me falta o dom da misericórdia. Meu dever é estar chorando, eu sei. Mas o que é que você quer? Quando penso naquilo que a gente curtiu na mão dele… Tu é quem bem sabe.
- Sei, sim. Mas assim mesmo sinto a morte dele, era meu pai, tinha defeitos e qualidades, boas qualidades. Era franco e quando queria uma coisa sabia brigar por obtê-la.
- Qualidades? Te esconjuro. Mas morreu acabou-se. Voltando ao que interessa, é preciso descobrir onde escondia o dinheiro. Talvez mãe Tonha saiba. Encontrando, a gente retira uma parte para as despesas feitas com a sentinela e o enterro, tu não estava tive de pagar tudo; outra para mandar dizer as missa de sétimo e de trinta dias. O resto se divide entre mãe Tonha e nós três. Metade para ela, metade para nós. Se alguém quiser outras missas que as pague de seu bolso.
No receio de escandalizar irmã rica, a tia generosa, anuncia soberba prova de amor filial:
- Eu mesma vou mandar rezar mais três: uma em meu nome, duas em nome de cada um dos meninos. E todos os anos, enquanto Deus me der vida, mandarei celebrar missa no dia da morte dele – Não resiste e acrescenta: - Creio que isso é melhor do que inventar qualidades que ele não tinha.
Tieta sente-se cansada e farta. Não adianta discutir, tempo perdido: nenhum argumento mudará a opinião de Perpétua. Retira-se:
- Vou trocar de roupa, tomar banho e dormir, estou exausta.
- Agora temos de tratar da herança.
- Herança? – surpreende-se Tieta – O Velho não deixou nada.
- Não deixou? É o que você pensa. Todo o mês ele encafuava o dinheiro mandado por você, menos um pingo de nada para a feira e o aluguel. Nunca tirou um tostão para oferecer um presente a mim ou a Elisa, aos netos. Só fazia visita na hora do almoço ou do jantar, você não reparou? Deve ter muito dinheiro escondido.
Economia de mais de dez anos, uns doze, bolada respeitável. Para fazer o quê com tanto dinheiro? Perpétua se exalta ao contar, a voz desagradável, sibilante, ainda mais ríspida devido ao tema da conversa:
- Várias vezes perguntei a ele o que pensava fazer com esse dinheiro, me respondia que me fosse meter com a minha vida. Aconselhei a colocar o dinheiro na Caixa Económica ou a botar na mão de seu Modesto, rendendo juros. Não quis, não tinha confiança em ninguém, muito menos em banco. Penso que guardava sem necessidade – baixa a voz – de ruim que era. Deus me perdoe.
- Tenha piedade, Perpétua. Não faz ainda uma hora que acabamos de enterrar o Velho; antes de pensar nos defeitos dele, a gente deve lembrar-se que era nosso pai.
Perpétua recua, não deseja desagradar a Tieta:
- Você tem razão. Padre Mariano também me diz que me falta o dom da misericórdia. Meu dever é estar chorando, eu sei. Mas o que é que você quer? Quando penso naquilo que a gente curtiu na mão dele… Tu é quem bem sabe.
- Sei, sim. Mas assim mesmo sinto a morte dele, era meu pai, tinha defeitos e qualidades, boas qualidades. Era franco e quando queria uma coisa sabia brigar por obtê-la.
- Qualidades? Te esconjuro. Mas morreu acabou-se. Voltando ao que interessa, é preciso descobrir onde escondia o dinheiro. Talvez mãe Tonha saiba. Encontrando, a gente retira uma parte para as despesas feitas com a sentinela e o enterro, tu não estava tive de pagar tudo; outra para mandar dizer as missa de sétimo e de trinta dias. O resto se divide entre mãe Tonha e nós três. Metade para ela, metade para nós. Se alguém quiser outras missas que as pague de seu bolso.
No receio de escandalizar irmã rica, a tia generosa, anuncia soberba prova de amor filial:
- Eu mesma vou mandar rezar mais três: uma em meu nome, duas em nome de cada um dos meninos. E todos os anos, enquanto Deus me der vida, mandarei celebrar missa no dia da morte dele – Não resiste e acrescenta: - Creio que isso é melhor do que inventar qualidades que ele não tinha.
Tieta sente-se cansada e farta. Não adianta discutir, tempo perdido: nenhum argumento mudará a opinião de Perpétua. Retira-se:
- Vou trocar de roupa, tomar banho e dormir, estou exausta.
segunda-feira, julho 06, 2009
CANÇÕES BRASILEIRAS
ROBERTO CARLOS e MARIA BETÂNIA - DESABAFO
Composição: Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Composição: Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Música do LP "Roberto Carlos" de 1979. Roberto Carlos é o artista brasileiro que mais discos vendeu e o mais querido do público. Ele e Erasmo conheceram-se em 1958 no Rio de Janeiro.
RUI VELOSO
Em 1996, integrou o agrupamento “Rio Grande”, formado por Tim (Xutos e Ponta Pés), João Gil (Ala dos Namorados), Jorge Palma e Vitorino e que possuía um estilo de música popular com influências alentejanas gravando 2 CD com grande sucesso.
Em 2003 a mesma formação voltou a juntar-se num outro projecto denominado “Cabeças no Ar” que teve igualmente muito sucesso, nomeadamente, com a canção “Primeiro Beijo.
Em 2006 cumpre 25 anos de carreira, ocasião que brinda com três concertos, dois no Porto e um no Pavilhão Atlântico que levaram o público à apoteose total.
Recentemente cumpriu o sonho de abrir a sua própria editora “Estúdio de Vale de Lobos”.
Respectivamente do “Rio Grande” e do “Cabeças no Ar”:
“Postal de Correio” e “Primeiro Beijo”.
Em 2003 a mesma formação voltou a juntar-se num outro projecto denominado “Cabeças no Ar” que teve igualmente muito sucesso, nomeadamente, com a canção “Primeiro Beijo.
Em 2006 cumpre 25 anos de carreira, ocasião que brinda com três concertos, dois no Porto e um no Pavilhão Atlântico que levaram o público à apoteose total.
Recentemente cumpriu o sonho de abrir a sua própria editora “Estúdio de Vale de Lobos”.
Respectivamente do “Rio Grande” e do “Cabeças no Ar”:
“Postal de Correio” e “Primeiro Beijo”.
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 175
EPISÓDIO Nº 175
ONDE SE ENTERRA O VELHO ZÉ ESTEVES, LIVRANDO DE SUA RÚSTICA E INSOLENTE PRESENÇA AS APRAZÌVEIS PÁGINAS DESTE EMOCIONANTE FOLHETIM
O enterro de Zé Esteves serviu para provar o prestígio de Tieta. Tivesse o Velho batido as botas antes de ela voltar à cidade, paulista, viúva e rica e, além da família, talvez o acompanhamento não reunisse sequer uma dúzia de pessoas.
Devido à estada de Tieta transformou-se num acontecimento. Antes da saída do féretro, padre Mariano celebrou missa de corpo presente em casa de Elisa, rogando a Deus receber em seu seio aquela alma, amparando-a com a sua infinita misericórdia. De muita misericórdia precisa a alma de Zé Esteves, pensa o padre enquanto pronuncia palavras de louvor e sentimento. Buscou qualidades do finado a elogiar e, não as encontrando, elogiou as filhas, possuidoras as três de virtudes peregrinas, citando a devoção de Perpétua, um dos pilares da paróquia, modelo de mãe católica, a modéstia de Elisa e o seu devotamento ao marido, esposa exemplar e, por fim, os excelsos predicados de Antonieta, cujo cônjuge portara, devido a méritos excepcionais, título e consideração do Vaticano, concedido pelo Pai da Cristandade, Sua Santidade o Papa, o que a fazia pessoa da Igreja. Com sua frutuosa visita, propiciara a Agreste benfeitoria de incalculável valor, a luz de Paulo Afonso, e à Matriz concedera a nova instalação eléctrica. Dera, ademais, heróica prova de dedicação e amor ao próximo, atirando-se às chamas, com risco de vida, para salvar de morte horrível uma pobre anciã. Pouco faltou para os assistentes aplaudirem a eloquência do reverendo ma exaltação das virtudes das irmãs Esteves, a Batista, a Simas e a Cantarelli; da última as virtudes e os feitos.
A população compareceu em massa. Nas alças do caixão além de Astério, os notáveis da cidade: o vate Barbozinha, Modesto Pires, o comandante, Doutor Vilasboas, Osnar, Ascânio Trindade, Ascânio apresentara pêsames em nome do padrinho, coronel Artur de Figueiredo, prefeito em exercício que se deixara ficar na Tapitanga. Não comparece a enterro de velho. Morte e funeral de menores de sessenta não lhe fazem mossa. Mas falecimentos de ancião deixam-no amofinado. Manda pedir desculpa às irmãs e a Astério, aparecerá depois para as condolências.
Do bolso de Ascânio sobram as páginas dos jornais enviadas pelo doutor Mirko Stefano. Pretende esfregá-los nas fuças do Comandante, fazendo-o engolir o insulto, a acusação de desonestidade. Esfregar, engolir: força de expressão. Tais pretensões não em violências físicas e sim em reparação moral. Segurando a alça do caixão, ajudando a depositar na cova o corpo de Zé Esteves, Ascânio Trindade estufa o peito, eleva e exibe o altivo penacho de capitão dos mosquiteiros de Agreste, D’Artagnan da aurora.
O enterro de Zé Esteves serviu para provar o prestígio de Tieta. Tivesse o Velho batido as botas antes de ela voltar à cidade, paulista, viúva e rica e, além da família, talvez o acompanhamento não reunisse sequer uma dúzia de pessoas.
Devido à estada de Tieta transformou-se num acontecimento. Antes da saída do féretro, padre Mariano celebrou missa de corpo presente em casa de Elisa, rogando a Deus receber em seu seio aquela alma, amparando-a com a sua infinita misericórdia. De muita misericórdia precisa a alma de Zé Esteves, pensa o padre enquanto pronuncia palavras de louvor e sentimento. Buscou qualidades do finado a elogiar e, não as encontrando, elogiou as filhas, possuidoras as três de virtudes peregrinas, citando a devoção de Perpétua, um dos pilares da paróquia, modelo de mãe católica, a modéstia de Elisa e o seu devotamento ao marido, esposa exemplar e, por fim, os excelsos predicados de Antonieta, cujo cônjuge portara, devido a méritos excepcionais, título e consideração do Vaticano, concedido pelo Pai da Cristandade, Sua Santidade o Papa, o que a fazia pessoa da Igreja. Com sua frutuosa visita, propiciara a Agreste benfeitoria de incalculável valor, a luz de Paulo Afonso, e à Matriz concedera a nova instalação eléctrica. Dera, ademais, heróica prova de dedicação e amor ao próximo, atirando-se às chamas, com risco de vida, para salvar de morte horrível uma pobre anciã. Pouco faltou para os assistentes aplaudirem a eloquência do reverendo ma exaltação das virtudes das irmãs Esteves, a Batista, a Simas e a Cantarelli; da última as virtudes e os feitos.
A população compareceu em massa. Nas alças do caixão além de Astério, os notáveis da cidade: o vate Barbozinha, Modesto Pires, o comandante, Doutor Vilasboas, Osnar, Ascânio Trindade, Ascânio apresentara pêsames em nome do padrinho, coronel Artur de Figueiredo, prefeito em exercício que se deixara ficar na Tapitanga. Não comparece a enterro de velho. Morte e funeral de menores de sessenta não lhe fazem mossa. Mas falecimentos de ancião deixam-no amofinado. Manda pedir desculpa às irmãs e a Astério, aparecerá depois para as condolências.
Do bolso de Ascânio sobram as páginas dos jornais enviadas pelo doutor Mirko Stefano. Pretende esfregá-los nas fuças do Comandante, fazendo-o engolir o insulto, a acusação de desonestidade. Esfregar, engolir: força de expressão. Tais pretensões não em violências físicas e sim em reparação moral. Segurando a alça do caixão, ajudando a depositar na cova o corpo de Zé Esteves, Ascânio Trindade estufa o peito, eleva e exibe o altivo penacho de capitão dos mosquiteiros de Agreste, D’Artagnan da aurora.
domingo, julho 05, 2009
Máquina de Som
Esta incrível máquina foi construida graças a um esforço entre o Conservatório de Música Robert M. Trammel e a Escola de Engenharia Sharon Wick, na Universidade de Iowa e representou 13.024 horas de trabalho nas tarefas de montagem, alinhamento, calibração e decoração antes de poder gravar este vìdeo.
Hoje em dia, pode ser observada em funcionamento no Matthow Gerhard Hall, da Indian University, Bloomington.
Repare que nenhuma bola cai ao chão. Espantosa de precisão!
CANÇÕES BRASILEIRAS
COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ - SIMONE e DANIEL GONZAGA (filho de Gonzaguinha)
Letra e Música de GONZAGUINHA (falecido precocemente aos 45 anos)
RUI VELOSO
De tal forma é evidente o seu gosto e preferência pelo ritmo dos “Blues” que, internacionalmente, é reconhecido como o mais autêntico “bluesman” português.
A sua obra é notável e foi reconhecida pelo Estado Português na figura do então Presidente da República, Mário Soares, que lhe atribuiu a Grã – Cruz da Ordem do Infante. É o segundo nome da música portuguesa que mais páginas tem na Enciclopédia da Música Portuguesa só ultrapassado por Amália Rodrigues.
Hoje escolhi duas das suas muitas canções que foram grandes sucessos: “Não Há Estrelas no Céu” e “Porto Covo”.
A sua obra é notável e foi reconhecida pelo Estado Português na figura do então Presidente da República, Mário Soares, que lhe atribuiu a Grã – Cruz da Ordem do Infante. É o segundo nome da música portuguesa que mais páginas tem na Enciclopédia da Música Portuguesa só ultrapassado por Amália Rodrigues.
Hoje escolhi duas das suas muitas canções que foram grandes sucessos: “Não Há Estrelas no Céu” e “Porto Covo”.
TIETA DO AGRESTE
EPISÓDIO Nº 174
EPISÓDIO Nº 174
Antes de entrar no assunto, relatou a Jarde e Josafá a aparição da máquina voadora, os homens de binóculos especulando os terrenos do coqueiral de Mangue Seco. Josafá ouviu atento mas não comentou, Jarde disse:
- É o pessoal da tal fábrica que acaba com os peixes. Não soube?
Mas Zé Esteves nem respondeu, ocupado em regatear o preço com Josafá, obteve pequena redução. Acertados os detalhes – ainda naquela tarde mandaria Pirica novamente a Mangue Seco com um recado para Tieta por causa do dinheiro a completar – sem poder esconder a satisfação foi com Jarde e Josafá ver as cabras no cercado. Enquanto discutiam haviam tomado uns tragos de cachaça para cortar o cansaço de Zé Esteves e desanuviar o rosto triste de Jarde.
No curral voltou a admirar o pai do rebanho, bode novo e bonito, de avantajado porte e berro forte, de nome Seu Mé. Josafá puxou o animal pelos chifres para que Zé Esteves melhor o observasse. Ao comentar-lhe as trouxas, quimbas de respeito, o novo dono abriu na gargalhada, o homem mais feliz do mundo. Tão feliz que lhe faltou a respiração; não cabendo no peito a alegria, o coração falhou sob o peso imenso.
Rindo estava, rindo arriou no chão, a mão estendida parta o bode, apontando-lhe os bagos; assim contara Jarde a Astério Simas ao lhe entregar o corpo do sogro.
Ia o velório em meio, entupida a pequena sala de Astério, gente conversando na calçada, quando, acompanhada por Ricardo, pelo Comandante Dário e por dona Laura, Tieta chegou de Mangue Seco onde a tinham ido prevenir.
- Teve o troço no meio da gaitada, nem sentiu – Astério repete à cunhada os detalhes ouvidos de Jarde e Josafá.
- Morreu de alegria… - diz Tieta.
Naquela hora não sabia ainda da participação – indirecta – da Brastânio na morte do velho Zé Esteves. Precedida pelo cunhado, anda para o caixão, se abraça com Tonha. As irmãs acorrem, alguém acorda Peto. Também Leonora se aproxima do grupo familiar e beija Mãezinha.
Para os parentes de Agreste a morte de Zé Esteves é uma carta de alforria. Tieta, porém, reencontrara o pai apenas há um mês. Durante vinte e seis anos não o vira, dele não sofreu agravo desde a surra e expulsão distantes e, nesses dias em Agreste, divertira-se com os seus repentes, alegrando-se ao vê-lo chegar mascando fumo, ranzinza e implicante, mas ainda capaz de ambição, de projectos e de alegria., sabendo rir, insolente comandante de cajado em punho. Reconhecia-se no Velho, tanto se pareciam pai e filha.
Astério enverga cara compungida, Elisa chora aos soluços, Perpétua enxuga os olhos com o lenço negro, clama aos céus a dor de filha inconsolável. Tieta não chora nem eleva a voz. Passa de leve a mão no rosto do pai, adusta face de pedra, escura. Das três irmãs, somente ela perdera bem precioso, ente querido, somente ela está órfã. Ela e Tonha a desvalida Tonha.
Morrera rindo para o bode, feliz com as suas novas cabras, em seu reconquistado pedaço de terra. Tieta se apodera do bordão abandonado a um canto da parede, anda para o passeio onde a conversa corre animada como convém a uma boa sentinela.
- É o pessoal da tal fábrica que acaba com os peixes. Não soube?
Mas Zé Esteves nem respondeu, ocupado em regatear o preço com Josafá, obteve pequena redução. Acertados os detalhes – ainda naquela tarde mandaria Pirica novamente a Mangue Seco com um recado para Tieta por causa do dinheiro a completar – sem poder esconder a satisfação foi com Jarde e Josafá ver as cabras no cercado. Enquanto discutiam haviam tomado uns tragos de cachaça para cortar o cansaço de Zé Esteves e desanuviar o rosto triste de Jarde.
No curral voltou a admirar o pai do rebanho, bode novo e bonito, de avantajado porte e berro forte, de nome Seu Mé. Josafá puxou o animal pelos chifres para que Zé Esteves melhor o observasse. Ao comentar-lhe as trouxas, quimbas de respeito, o novo dono abriu na gargalhada, o homem mais feliz do mundo. Tão feliz que lhe faltou a respiração; não cabendo no peito a alegria, o coração falhou sob o peso imenso.
Rindo estava, rindo arriou no chão, a mão estendida parta o bode, apontando-lhe os bagos; assim contara Jarde a Astério Simas ao lhe entregar o corpo do sogro.
Ia o velório em meio, entupida a pequena sala de Astério, gente conversando na calçada, quando, acompanhada por Ricardo, pelo Comandante Dário e por dona Laura, Tieta chegou de Mangue Seco onde a tinham ido prevenir.
- Teve o troço no meio da gaitada, nem sentiu – Astério repete à cunhada os detalhes ouvidos de Jarde e Josafá.
- Morreu de alegria… - diz Tieta.
Naquela hora não sabia ainda da participação – indirecta – da Brastânio na morte do velho Zé Esteves. Precedida pelo cunhado, anda para o caixão, se abraça com Tonha. As irmãs acorrem, alguém acorda Peto. Também Leonora se aproxima do grupo familiar e beija Mãezinha.
Para os parentes de Agreste a morte de Zé Esteves é uma carta de alforria. Tieta, porém, reencontrara o pai apenas há um mês. Durante vinte e seis anos não o vira, dele não sofreu agravo desde a surra e expulsão distantes e, nesses dias em Agreste, divertira-se com os seus repentes, alegrando-se ao vê-lo chegar mascando fumo, ranzinza e implicante, mas ainda capaz de ambição, de projectos e de alegria., sabendo rir, insolente comandante de cajado em punho. Reconhecia-se no Velho, tanto se pareciam pai e filha.
Astério enverga cara compungida, Elisa chora aos soluços, Perpétua enxuga os olhos com o lenço negro, clama aos céus a dor de filha inconsolável. Tieta não chora nem eleva a voz. Passa de leve a mão no rosto do pai, adusta face de pedra, escura. Das três irmãs, somente ela perdera bem precioso, ente querido, somente ela está órfã. Ela e Tonha a desvalida Tonha.
Morrera rindo para o bode, feliz com as suas novas cabras, em seu reconquistado pedaço de terra. Tieta se apodera do bordão abandonado a um canto da parede, anda para o passeio onde a conversa corre animada como convém a uma boa sentinela.