Apelar às emoções
Apelar às Emoções
Talvez tenha sido sempre assim, provavelmente até foi, mas hoje em dia, cada vez mais, as pessoas são levadas a sentir mais do que pensar, a reagirem em função de sentimentos e o menos possível a partir de pensamentos e reflexões. Pensar dá trabalho, leva tempo e exige serenidade e as pessoas têm pressa de chegarem ao momento seguinte, como as abelhinhas que se demoram o menos possível em cada flor porque outra a seguir as espera.
Sentir é qualquer coisa de orgânico, que nos está nas entranhas, que brota espontaneamente, que nos alivia as tensões e, por isso, quase que agradecemos que mexam com elas.
Por tudo isto, é muito mais fácil apelar ao sentir das pessoas do que ao seu pensamento e é fácil perceber que, à nossa volta, tudo anda a toque das emoções.
Ontem, tivemos o nosso amigo Louça num sketch de enorme efeito visual na Assembleia da República, mostrar um grande “poster”, de tamanho natural, de um jovem executivo, bem vestido e bem parecido, e ao lado, sem que se visse muito bem, dado o tamanho da fotografia tipo passe, um trabalhador que, pressuposto, seria colega do jovem executivo na empresa mas na qualidade de simples trabalhador.
A enorme diferença entre cada uma das fotografias, 32 vezes, salvo erro, tinha a ver com a diferença dos salários entre ambos e a cena, não acrescentando nada àquilo que já se sabe, provocou um grande impacto visual e uma enorme hilaridade quando, momentos mais tarde, o ministro das Finanças admitia que os bons gestores tinham que ser bem pagos porque da sua competência resultariam ganhos para a empresa muito mais importantes e significativos do que aquilo que se lhes pagava defendendo, no entanto, que esses ganhos deveriam ser transparentes.
Louça montou aquele sketch, não, evidentemente, para os deputados da Assembleia da República mas para os milhões de trabalhadores portugueses que, mais tarde, o iriam ver na TV.
Estaria o empenhado deputado do BE a apelar ao pensamento dos destinatários da sua mensagem?
A resposta é, Não!
Louça, estava a chocar as pessoas, a atirar-lhes ao rosto uma desigualdade que todos sabemos que existe e que só é injusta pela sua dimensão pois ninguém contesta o direito de os mais qualificados ganharem mais que os menos qualificados e se a sua intervenção na empresa for considerada decisiva para o seu sucesso económico e financeiro essa diferença pode atingir maiores proporções que devem ser explicadas e atenuadas.
A história já nos ensinou o resultado da não diferenciação dos méritos de cada um no processo produtivo e pôr os trabalhadores a ganharem apenas em função das necessidades familiares de cada qual, finalidade máxima do socialismo, mesmo como meta teórica, pertence ao passado e tem mais o aspecto de coisa maquiavélica que desperta sorrisos de comiseração.
Mas já vimos também que o capitalismo, na ânsia da obtenção de lucros, por vezes a qualquer custo, explora os mais fracos, privilegia os mais fortes e acentua as desigualdades naturais que devem estar na base de uma sociedade saudável.
É esta a característica do sistema capitalista que, se por um lado, é óptimo para produzir riqueza, veja-se o que se passa na China em que Changai possui já a maior concentração de Ferraris por metro quadrado ao lado da pobreza absoluta que existe no país, por outro lado, é péssimo a distribui-la.
O nosso ministro das Finanças que tanta risota provocou quando afirmou que os executivos das Estradas de Portugal tinham que ganhar bem, e é bom que as pessoas riam e, já agora, também, que ganhem bem, deveria ter posto na resposta uma expressão mais calma, descontraída e menos tensa de quem não se deixa apanhar na armadilha dos sketchs fotográficos.
O que o Ministro disse ou quis dizer é que as Estradas de Portugal têm de prosseguir os mesmos objectivos das restantes empresas que concorrem com ela no mercado e, para isso, tem de disputar os melhores gestores quer o seu valor esteja, ou não, inflacionado fazendo apenas questão de que essas retribuições sejam claras, transparentes e não pagas às escondidas por debaixo da mesa tão ao nosso gosto.
Por outras palavras, a empresa para ser gerida tem que ir ao mercado dos Gestores e aí, se ela tem metas ambiciosas, vai tentar disputar os melhores aos preços que correrem de acordo com critérios de avaliação que são os seus e tendo em vista sempre os interesses da empresa.
As desigualdades sociais que, na verdade, são muito grandes em Portugal, têm que ser combatidas para que haja um verdadeiro desenvolvimento no país pois na actual situação o todo social não é coeso nem harmónico, sofre de tensões, há linhas de ruptura a delimitarem vários países dentro de um.
Conheci bem a economia de há 30 anos atrás, da mão-de-obra barata, das fabriquetas de vão de escada, do trabalho à peça para as multinacionais Suecas e Alemães, das enganadoras taxas de Desemprego à volta dos 4%, de tudo isso que, fatalmente, tinha que se desmoronar.
O país precisa de novas empresas com novos empregos de maior grau de exigência quanto à qualificação dos trabalhadores e eu acho que vamos assistindo a esta nova realidade atendendo àquilo que já estamos a produzir e a exportar mas, remodelar e modernizar todo um tecido económico não é tarefa simples nem rápida, quando, para dificultar ainda mais, grande parte da população continua sub qualificada.
30% da população portuguesa têm o secundário completo e os restantes 70% estão abaixo dessa fasquia e isto é exactamente o inverso do que se passa na Europa.
O resto… são as lei do mercado a funcionar que permitem que determinados quadros se façam pagar melhor no país do que no resto da Europa porque aqui são mais escassos ou não abundam tanto mas, para que as leis do mercado funcionem e esses custos e essas diferenças possam vir a diminuir, é preciso, por um lado, que os ganhos dos executivos das Estradas de Portugal sejam claros e conhecidos e, por outro, que mais gestores qualificados apareçam no mercado a disputarem esses lugares.
Tinha razão o Ministro das Finanças que, mais uma vez, deveria ter respondido ao deputado Louça com um ar calmo e desinibido de quem não se deixou apanhar na armadilha do Sketch fotográfico em vez da forma nervosa e comprometida como respondeu.
Talvez tenha sido sempre assim, provavelmente até foi, mas hoje em dia, cada vez mais, as pessoas são levadas a sentir mais do que pensar, a reagirem em função de sentimentos e o menos possível a partir de pensamentos e reflexões. Pensar dá trabalho, leva tempo e exige serenidade e as pessoas têm pressa de chegarem ao momento seguinte, como as abelhinhas que se demoram o menos possível em cada flor porque outra a seguir as espera.
Sentir é qualquer coisa de orgânico, que nos está nas entranhas, que brota espontaneamente, que nos alivia as tensões e, por isso, quase que agradecemos que mexam com elas.
Por tudo isto, é muito mais fácil apelar ao sentir das pessoas do que ao seu pensamento e é fácil perceber que, à nossa volta, tudo anda a toque das emoções.
Ontem, tivemos o nosso amigo Louça num sketch de enorme efeito visual na Assembleia da República, mostrar um grande “poster”, de tamanho natural, de um jovem executivo, bem vestido e bem parecido, e ao lado, sem que se visse muito bem, dado o tamanho da fotografia tipo passe, um trabalhador que, pressuposto, seria colega do jovem executivo na empresa mas na qualidade de simples trabalhador.
A enorme diferença entre cada uma das fotografias, 32 vezes, salvo erro, tinha a ver com a diferença dos salários entre ambos e a cena, não acrescentando nada àquilo que já se sabe, provocou um grande impacto visual e uma enorme hilaridade quando, momentos mais tarde, o ministro das Finanças admitia que os bons gestores tinham que ser bem pagos porque da sua competência resultariam ganhos para a empresa muito mais importantes e significativos do que aquilo que se lhes pagava defendendo, no entanto, que esses ganhos deveriam ser transparentes.
Louça montou aquele sketch, não, evidentemente, para os deputados da Assembleia da República mas para os milhões de trabalhadores portugueses que, mais tarde, o iriam ver na TV.
Estaria o empenhado deputado do BE a apelar ao pensamento dos destinatários da sua mensagem?
A resposta é, Não!
Louça, estava a chocar as pessoas, a atirar-lhes ao rosto uma desigualdade que todos sabemos que existe e que só é injusta pela sua dimensão pois ninguém contesta o direito de os mais qualificados ganharem mais que os menos qualificados e se a sua intervenção na empresa for considerada decisiva para o seu sucesso económico e financeiro essa diferença pode atingir maiores proporções que devem ser explicadas e atenuadas.
A história já nos ensinou o resultado da não diferenciação dos méritos de cada um no processo produtivo e pôr os trabalhadores a ganharem apenas em função das necessidades familiares de cada qual, finalidade máxima do socialismo, mesmo como meta teórica, pertence ao passado e tem mais o aspecto de coisa maquiavélica que desperta sorrisos de comiseração.
Mas já vimos também que o capitalismo, na ânsia da obtenção de lucros, por vezes a qualquer custo, explora os mais fracos, privilegia os mais fortes e acentua as desigualdades naturais que devem estar na base de uma sociedade saudável.
É esta a característica do sistema capitalista que, se por um lado, é óptimo para produzir riqueza, veja-se o que se passa na China em que Changai possui já a maior concentração de Ferraris por metro quadrado ao lado da pobreza absoluta que existe no país, por outro lado, é péssimo a distribui-la.
O nosso ministro das Finanças que tanta risota provocou quando afirmou que os executivos das Estradas de Portugal tinham que ganhar bem, e é bom que as pessoas riam e, já agora, também, que ganhem bem, deveria ter posto na resposta uma expressão mais calma, descontraída e menos tensa de quem não se deixa apanhar na armadilha dos sketchs fotográficos.
O que o Ministro disse ou quis dizer é que as Estradas de Portugal têm de prosseguir os mesmos objectivos das restantes empresas que concorrem com ela no mercado e, para isso, tem de disputar os melhores gestores quer o seu valor esteja, ou não, inflacionado fazendo apenas questão de que essas retribuições sejam claras, transparentes e não pagas às escondidas por debaixo da mesa tão ao nosso gosto.
Por outras palavras, a empresa para ser gerida tem que ir ao mercado dos Gestores e aí, se ela tem metas ambiciosas, vai tentar disputar os melhores aos preços que correrem de acordo com critérios de avaliação que são os seus e tendo em vista sempre os interesses da empresa.
As desigualdades sociais que, na verdade, são muito grandes em Portugal, têm que ser combatidas para que haja um verdadeiro desenvolvimento no país pois na actual situação o todo social não é coeso nem harmónico, sofre de tensões, há linhas de ruptura a delimitarem vários países dentro de um.
Conheci bem a economia de há 30 anos atrás, da mão-de-obra barata, das fabriquetas de vão de escada, do trabalho à peça para as multinacionais Suecas e Alemães, das enganadoras taxas de Desemprego à volta dos 4%, de tudo isso que, fatalmente, tinha que se desmoronar.
O país precisa de novas empresas com novos empregos de maior grau de exigência quanto à qualificação dos trabalhadores e eu acho que vamos assistindo a esta nova realidade atendendo àquilo que já estamos a produzir e a exportar mas, remodelar e modernizar todo um tecido económico não é tarefa simples nem rápida, quando, para dificultar ainda mais, grande parte da população continua sub qualificada.
30% da população portuguesa têm o secundário completo e os restantes 70% estão abaixo dessa fasquia e isto é exactamente o inverso do que se passa na Europa.
O resto… são as lei do mercado a funcionar que permitem que determinados quadros se façam pagar melhor no país do que no resto da Europa porque aqui são mais escassos ou não abundam tanto mas, para que as leis do mercado funcionem e esses custos e essas diferenças possam vir a diminuir, é preciso, por um lado, que os ganhos dos executivos das Estradas de Portugal sejam claros e conhecidos e, por outro, que mais gestores qualificados apareçam no mercado a disputarem esses lugares.
Tinha razão o Ministro das Finanças que, mais uma vez, deveria ter respondido ao deputado Louça com um ar calmo e desinibido de quem não se deixou apanhar na armadilha do Sketch fotográfico em vez da forma nervosa e comprometida como respondeu.