INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA SOB O TEMA:
“DEUS E HOMEM VERDADEIRO?”
UMA CONSCIÊNCIA EM EVOLUÇÃO
Como todos os seres humanos, Jesus cresceu não apenas em idade mas também em consciência, aprendendo a vida e as realidades que o rodeavam. Na Sinagoga da Nazaré deu um passo importante na maturidade da sua consciência ao aplicar a si mesmo a frase de Isaías: “O espírito está sobre mim”.
Era uma forma de reconhecer-se como profeta, na tradição de todos os profetas que o haviam precedido. Como profeta, Jesus falava e actuava, sentindo-se herdeiro da tradição de Israel. Como profeta consolidou a sua liderança no movimento que se foi organizando à sua volta.
Depois da sua morte e de dar testemunho da sua ressurreição, a Igreja primitiva acumulou sobre Jesus títulos para descrever a sua missão: “Filho de Deus”; “Cristo”; “O Salvador”. A história que decorre dos Evangelhos mostra, sem dúvidas, que o título com que foi aclamado unanimemente pelo povo e pelos discípulos foi o de “Profeta”.
O profeta define-se em oposição à instituição. A Jesus não devemos considerá-lo como um teólogo ou um mestre religioso mais radical que outros, ainda que dentro da instituição. Não o poderia ser, faltava-lhe o que fazia os mestres do seu tempo: os estudos teológicos. A formação dos mestres era rigorosa, durava muitos anos, começava na infância. Quando chamaram a Jesus “rabi” (mestre) estavam aplicando essa expressão como sinal de respeito, como era habitual no seu tempo mas não deve traduzir-se como mestre no sentido teológico, tanto assim que, os mestres da Lei o acusaram de ensinar sem ter autorização.
Os Dogmas da Igreja Tiraram o Sabor
A teóloga brasileira Yvone Gebara, já várias vezes aqui referenciada pela clareza e qualidade das suas posições, escreve o seguinte no seu Texto “Jesus desde uma perspectiva ecofeminista”:
- Os dogmas do Cristianismo que vêm desde os Concílios de Niceia e Calcedónia com todos os “refinamentos” posteriores tiraram o paladar saboroso das palavras de Jesus, ao seu comportamento, por vezes irreverente, inesperado, desconcertante, audaz, carinhoso. O que foi conversado à beira de um poço, comida repartida, gestos de ternura, denúncia contra as injustiças, carícia dada e recebida, tudo isto foi convertido pela dogmática em “razão organizada”, “razão sistemática”, “ciência”.
Os Dogmas puseram numa “prisão” aquilo que foi um convite à liberdade, àquilo que era poesia. E ainda mais, colocou às “portas dessa prisão” soldados armados vestidos de sacerdotes para que nada saia dela em pensamentos diferentes.
A dogmática colocou mestres autorizados para contar as verdades sobre Jesus e com isso matou a criatividade dos momentos de gratuitidade, dos encontros informais, das conversas caseiras, ao longo dos caminhos ou na margem dos rios.
A dogmática, tomada numa perspectiva radical, reduziu a “racionalidade fraterna” à obediência hierárquica, limitou os caminhos a um só caminho, os múltiplos discursos de amor a um único discurso e foi criando medo, medo de desobedecer, medo de pensar errado, de não utilizar a palavra certa ou a doutrina bem formulada, à verdadeira tradição procedente de Jesus.