Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, dezembro 07, 2013
O GORILA
Dois amigos encontram-se.
- Então, pá, como estás, pareces acabrunhado…
- É verdade, não estou nada bem…
- Mas que se passa, conta lá.
- São problemas pessoais, íntimos…
- Desabafa, pá, sempre fomos amigos.
- Sabes daquele passeio que no ano passado fiz a África, não sabes?
- Sim, sim, lembro-me, tu falaste-me nisso.
- Pois bem, nessa viagem, nós estávamos na selva, o calor era mais que muito e passava por ali um rio. Despi-me todo para me refrescar dentro da água e quando me virei de costas para entrar no rio um gorila enorme, preto e cabeludo, agarrou-me por trás com os seus braços poderosos e violou-me.
- É pá, realmente tens razão, isso foi muito chato mas... alguém viu?
- Não, estávamos sozinhos, eu e ele…
- Bem... se ninguém viu e como o gorila não fala…
- Pois é, esse é o problema, ele não fala, não me escreve, não me telefona, não me diz nada…
- Então, pá, como estás, pareces acabrunhado…
- É verdade, não estou nada bem…
- Mas que se passa, conta lá.
- São problemas pessoais, íntimos…
- Desabafa, pá, sempre fomos amigos.
- Sabes daquele passeio que no ano passado fiz a África, não sabes?
- Sim, sim, lembro-me, tu falaste-me nisso.
- Pois bem, nessa viagem, nós estávamos na selva, o calor era mais que muito e passava por ali um rio. Despi-me todo para me refrescar dentro da água e quando me virei de costas para entrar no rio um gorila enorme, preto e cabeludo, agarrou-me por trás com os seus braços poderosos e violou-me.
- É pá, realmente tens razão, isso foi muito chato mas... alguém viu?
- Não, estávamos sozinhos, eu e ele…
- Bem... se ninguém viu e como o gorila não fala…
- Pois é, esse é o problema, ele não fala, não me escreve, não me telefona, não me diz nada…
Psicólogo Psicoterapeuta
Espero que me possa ajudar.
Saí ontem à tarde no meu carro para ir trabalhar, e deixei o meu marido em casa, a ver televisão, como sempre. Andei pouco mais de 1 km quando o motor parou e não pegou mais.
Voltei para casa, para pedir ajuda ao meu marido e quando cheguei, apanheio-o em flagrante na cama com a filha da minha vizinha!
Eu tenho 32 anos, o meu marido tem 34 e a desavergonhada, 19.
Estamos casados há 10 anos e ele confessou que mantinha aquela relação há mais de 6 meses.
Eu amo o meu marido e estou desesperada. Preciso urgentemente do seu conselho .
Antecipadamente grata.
Patrícia
Cara Patrícia,
Quando um carro pára, depois de ter percorrido uma pequena distância, isso pode ser devido a uma série de factores.
Pode não haver combustível no depósito ou o filtro estar entupido, também pode ser da injecção electrónica ou da bomba de gasolina que não fornecendo combustível ou pressão suficiente nos injectores impede que o motor funcione.
Nesse caso, a pessoa a contactar deve ser um mecânico.
Não volte a incomodar o seu marido.
Ele não é mecânico.
Você está errada. Não repita mais isso.
Espero ter ajudado.
António Roberto - Psicólogo e psicoterapeuta
para Todos
David
Slown Wilson
(continuação)
De igual
modo, um observador da vida do Sul observou que as crianças muito pequenas
«costumavam agarrar em coisas e lutar em cima do tapete para entreter os pais
arremessando os brinquedos para todo o lado, desafiavam as ordens paternas e
até se atiravam às visitas numa briga amigável».
Quando os
rapazes cresciam, esses jogos tornavam-se treinos para o combate. Um rapaz que
voltasse para casa a queixar-se de um agressor era enviado de volta para
mostrar ao atacante «aqui lo de que
és feito».
Um rapaz
que evitasse uma pedrada era tratado como cobarde; a ideia era deixar que lhe
acertassem e depois pagar na mesma moeda.
As
mulheres desempenham um papel fundamental na “cultura da honra”, por vezes na
luta, mas principalmente na influência que exercem sobre os homens.
Eis como
um romano descrevia os antepassados femininos dos Escoceses e dos Irlandeses:
- «Um bando de estrangeiros não conseguiria
suster um único gaulês se este chamasse para o ajudar a mulher, que em geral
era muito forte e tinha olhos azuis, especialmente quando, com o pescoço
inchado, de dentes cerrados e brandindo os braços pálidos, de um tamanho
descomunal, ela começava a desferir murros, misturados com pontapés, como se
fossem projécteis enviados por uma catapulta.»
Os
Sulistas dos primórdios da América do Norte idolatravam as mães da antiga
Esparta, que, segundo afirmavam, ordenavam aos filhos que voltassem da batalha
ou com os escudos ou em cima deles. A mãe de Sam Huston deu-lhe um mosquete, ao
mesmo tempo que lhe dizia:
- «Nunca o desonres; não te esqueças que eu
preferiria ver todos os meus filhos numa sepultura honrada a saber que um deles
tinha virado as costas para salvar a vida.» Depois ofereceu-lhe um anel de ouro
singelo com a palavra «honra» gravada no interior.
Quando
perguntaram a um veterano sulista da Guerra Civil porque motivo continuavam os
Confederados a combater depois da derrota ser certa, este respondeu:
- «Tínhamos medo de parar… Receávamos as mulheres
em casa… Elas teriam vergonha de nós.»
(continua)
Um preto batuta fez um discurso no Sindicato... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 183
O negro Henrique diz:
- Um preto batuta fez um discurso no sindicato
dizendo que os filhos da gente não ia ser mais escravo… Tiçãozinho não vai ser
mais escravo…
- A greve ganha?
- Ora, se ganha? Quem é que pode com a gente?
Tá ali tá ganha, você vai ver. Tá bonito… Tem um negro Balduíno que fala que é
uma beleza…
Conta à mulher os factos
do dia. Os seus músculos de gigante aparecem sob a camisa de listas. Depois
pega o filho, põe em pé diante de si:
- Tição, você não vai ser mais escravo… Você
vai ser governador, Tição. A gente é muito, eles são poucos. A gente acaba
governando eles.
Bate continência ao futuro
governador. Ri em gargalhadas, certo da sua força, da razão da greve que está
fazendo. A negra Ercídia sorri para o marido com ternura:
- Amanhã tem arraia de novo.
O dono da padaria “Dois
Mundos”, um espanhol baixote, conta os factos do dia. A mulher estendida numa
cadeira de balanço ouve em silêncio.
A filha martela um samba
com os dedos. O dono da padaria “Dois Mundos” narra a história da greve, os
principais factos do dia.
O candeeiro tem a luz
vacilante. Miguel termina de contar e cerra os olhos. A mulher pergunta da
cadeira de balaço:
- Mas a padaria está dando, não está, Miguel?
- Está sim. Com esses dias de greve vai haver
algum prejuízo mas o lucro compensa…
- Então eu acho que eles têm razão. Eles
passam uma miséria horrorosa…
- Têm, sim. Eu por mim dava o aumento. Já
disse na associação. Os outros, o Ruiz das Panificações, é que não querem.
O Ruiz então. Parece que
não se contenta com nada aquele homem… Eu por mim dava…
A filha interrompe:
- Pra que dar, papai? Seu Ruiz tem razão… A
gente precisa de tanto dinheiro. Eu quero uma barata, um rádio… O senhor me
prometeu… Não se lembra mais? Agora quer dar para estes pretos sem vergonha…
- Quem quer tudo fica sem nada, minha filha –
responde Miguel.
A mulher pensa que a filha
já nasceu numa casa confortável, não veio, como ela e o marido, das fábricas de
Madrid, na terceira classe de um navio, não passou fome nunca.
Quer um auto, um rádio,
quanta coisa mais. Os negros querem tão pouco. Repete para o marido:
- Se bata pelo aumento, Miguel. Seu Ruiz é um
avarento, só sabe amealhar dinheiro…
sexta-feira, dezembro 06, 2013
Quando cheguei a Moçambique, em meados
de 1972, foi-me apresentado um colega de Serviço, na então Lourenço Marques,
que em conversa me dizia, de todo convencido, que os negros eram inferiores aos
brancos nas suas capacidades, uma espécie de classe atrasada de homens na
escala da evolução…
Fiquei de tal forma “horrorizado” com o
assunto que de imediato cortei relações. No entanto, ele não era único. O “apartheid”
da vizinha África do Sul tinha-os contaminado.
De resto, a colónia de portugueses
da África do Sul, especialmente na cidade do Cabo, era fortemente reaccionária e
racista o que lhe trouxe alguns problemas com o ANC e o fim do regime.
Tive oportunidade de visitar aquela
cidade, uma das mais lindas do mundo, mas não o fiz de propósito porque ver
aqueles dois mundos, um reservado a brancos e outro a negros seria um espectáculo
mais que desagradável, degradante.
Aconteceu-me o mesmo com os Estados
Unidos que nunca visitei porque nunca perdoei aos americanos terem morto John
Kennedy, seu irmão Robert Kennedy e Luther King.
Creio que me enamorei dessas
pessoas... eu era um jovem e eles uma “pedrada no charco” nesses tempos cinzentos.
Convivi em Moçambique com algumas
manifestações de racismo, mais por imitação dos vizinhos ingleses porque o
português tem um pouco de “macaqui nho
de imitação", talvez como estratégia instintiva de sobrevivência. Imitar os mais fortes, mais ricos e poderosos é sentido como um
pacto de aliança com eles.
De tão estúpido e irracional, o sistema
do “apartheid” estava condenado desde o seu início e o que eu temia, em 1972, era
o banho de sangue que o fim daquele odioso regime iria acarretar.
Não foi assim pela liderança, inspiração
e exemplo de vida de Nelson Mandela que ontem faleceu mas um desfecho tão
optimista não estava então nas minhas previsões.
Há homens, raros, que conseguem dar a
volta à história do seu povo. Nelson foi esse homem.
da
Guerra
Colonial
Colonial
As guerras têm uma componente humana que não interessa à análise política ou histórica e que na sua quase totalidade se esquece com o desaparecimento dos protagonistas ou descendentes quando, por vezes, alguns deles, ainda recordam as histórias da guerra que o pai ou avô contavam.
Esta componente humana determina que cada guerra se desmultiplique em tantas guerras quantos aqueles que nela participaram porque ela constitui uma experiência única, diferente em função da sensibilidade de cada um e do que a cada um acontece. Pior, aqueles que nada contarão porque ficaram lá.
Fonte inspiradora por excelência de romances, o palco da guerra tem todos os condimentos para seduzir o leitor que procura num livro, emoção, aventura e sentimentos quer sejam eles de coragem, covardia, de simples espírito de sobrevivência ou uma mistura de todos eles.
Na manhã do dia 9 de Novembro de 1962 a marginal de Luanda regurgitava com as centenas de militares, mais de mil, que tinham desembarcado naquele dia do Paquete Vera Cruz. Ia começar a guerra... o palco estava a dois passos, um palco desconhecido, diferente das planícies alentejanas ou ribatejanas, das encostas das montanhas do norte ou do centro do país, sem mar, sem praias... apenas o verde de uma vegetação imensa, compacta, assustadora.
Três Batalhões, para além de Companhias Independentes, desciam pelo portaló do convés do navio, sendo certo que as expressões dos soldados demonstravam mais alívio pelo fim da viagem do que medo daqui lo que os esperava.
Eram poucos os que antes da mobilização tinham saído da sua aldeia natal num Portugal acentuadamente rural e em grande parte analfabeto.
Mas a juventude é uma fonte de vida e de esperança e quem ouvisse o cruzar de tantos gritos e falatório perguntaria, senão soubesse, se eles iam para a guerra ou para uma festa… ou talvez fosse apenas uma maneira de se animarem uns aos outros para não pensarem na sorte que os esperava e que eles também não sabiam bem qual era.
Para já, iria ser o Campo do Grafanil, nos subúrbios de Luanda, imenso quartel ao ar livre onde as camionetas GMC e Berliettes, estas construídas na Fábrica do Tramagal, ali para os lados de Abrantes, levariam as Unidades ao seu destino sem que antes, porém, nessa noite, exércitos de mosqui tos plenos de energia própria da época das chuvas, não partissem ao assalto dos corpos ávidos de sangue fresco acabado de desembarcar, num primeiro teste de adaptação a esse misterioso e envolvente continente africano.
Nós, os Alferes, e aqui ficam os seus nomes: Rocha – já falecido – Ataíde, emigrado para o Canadá de há muitos anos, Frederico Melo , Paula de Matos e Dória Nóbrega, o médico da Companhia, nessa primeira noite da chegada a Luanda, fomos convidados pelo no nosso Capitão Machado Monteiro que nos foi esperar ao barco, para jantar no Grande Hotel Universo.
Este Capitão não pertencia ao Quadro Permanente do Exército. Dada a escassez de oficiais do Quadro ao nível de capitães eram feitos convites a oficias milicianos para tirarem o Curso de Capitães e seguirem posteriormente a carreira militar.
Deixem-me recordar este senhor que tivemos a satisfação de o rever, no almoço anual da nossa Companhia, já este ano, nos seus desempenados 82 anos.
Ficou para a história da “nossa guerra” como o “120” , mas eu explico:
- Na guerra subversiva o inimigo tinha as suas preferências e alvejava, naturalmente, os militares mais graduados. Por isso, os camuflados eram iguais para todos sem nada que os distinguisse e aqueles militares que usavam óculos tiravam-nos durante as operações para não serem confundidos com oficiais que terão gasto a vista a estudar...
Por tudo isto, o nosso capitão impunha aos soldados que, no mato, em operações, ele não era capitão, era o …120!
Apresentou-se ao jantar, no Hotel, numa figura que antecipava aquela que viria a ser a do Rambo, com a faca de mato e granadas penduradas à cintura e um desembaraço que nos impressionou.
Durante a viagem para o Úcua, a 160 km de Luanda, onde ficaríamos nove ou dez meses, dormitava, ou fingia, ao lado do condutor do jeep numa atitude misto de confiança e displicência própria dos heróis do Western, tipo John Wayne.
Quando chegámos decidiu “brindar-nos” com uma volta de reconhecimento à povoação mas fê-lo com uma condução tão desastrada que senão o tivéssemos agarrado por um braço teria caído do jeep.
Era um homem muito medroso e só saía para o mato na companhia do Ataíde, de todos, o único Alferes que a ele lhe oferecia mais “garantias” de protecção. Pretendendo alardear uma coragem e valentia que não possuía caía facilmente no ridículo porque os soldados podiam ser analfabetos mas não eram parvos.
Tivemos sorte, apesar de tudo, porque dos três Batalhões que viajaram connosco o nosso terá ficado no local menos perigoso pois em quase um ano que ali estivemos não se registou a explosão de uma única mina nas estradas da nossa área de intervenção e as minas, para além das emboscadas, eram a grande causa de mortes e principalmente de estropiados.
“Fugimos” das minas mas não evitámos uma emboscada minuciosamente preparada pelo inimigo a uma coluna de uma outra Companhia do nosso batalhão que nos era vizinha, instalada no Pango Aluquém.
O meu amigo “Setúbal” – grande número dos soldados eram conhecidos pelo nome da terra de onde eram naturais – pagou o preço supremo quando, sentado atrás da sua metralhadora Breda, no Unimog, caiu na "zona de morte " da emboscada que lhes foi montada e foi atingido por um tiro na cabeça.
Foi o melhor soldado da recruta que dei em Évora, no Regimento de Infantaria 16, ainda em 1961, antes de embarcar.
Era casado, tinha a 4ª Classe - era quase licenciatura nessa época - uma filha, e trabalhava como empregado de mesa. Eu só lhe dava autorização para responder às perguntas quando nenhum dos seus camaradas sabia a resposta.
Era um primor de simpatia, educação e inteligência mas, infelizmente, quando foram divididos pelas três Companhias do Batalhão, ficou na 389 quando a minha era a 388. Fiquei privado da sua presença junto de mim e ele privado da vida o que foi bem pior. Pormenores do acaso fazem a diferença entre o viver e morrer. E assim, fiquei no Úcua e ele foi parar ao Pango e àquela maldita emboscada.
Creio que foi em Março de 1962, eu seguia de jeep do Úcua para o Pango e já relativamente próximo do destino apercebi-me que na estrada, mais à frente, algo se estava a passar.
Um Unimog, com uma metralhadora Breda para dar protecção a um grupo de trabalhadores que reparavam a estrada tinha caído numa emboscada montada numa curva da estrada e o inimigo, julgando que o meu jeep que se aproximava em sentido contrário, fazia parte de um reforço de tropas chamado pela rádio para ajudar os camaradas em apuros, fugiram em debandada deixando para trás, para além dos nossos soldados apanhados pelas balas, um cadáver e uma pistola metralhadora.
O meu amigo “Setúbal” e mais três colegas estavam mortos, dois desapareceram para sempre. Uma bala disparada a curta distância acertou-lhe a meio da testa…felizmente não sofreu.
Os restantes foram igualmente mortos à queima-roupa com excepção de um que sobreviveu apenas porque se atirou da viatura e fingiu estar morto, deitado de barriga para baixo, no meio do capim que o escondeu. Essa simulação valeu-lhe a vida e um louvor.
Nem sempre os heróis se fazem de coragem e valentia. Neste caso, a astúcia e o sangue frio… e o meu jeep que apareceu providencialmente em sentido contrário foram decisivos para a sua sobrevivência.
Com uma perna partida em consequência da queda do Unimog conseguiu manter-se imóvel não obstante as dores que sentia que não eram, no entanto, tão fortes como a vontade de se manter vivo. A chegada inesperada do meu jeep como factor surpresa pôs termo à situação em que para ele cada segundo parecia uma eternidade.
A bala que atingiu o “Setúbal” em cheio, na cabeça, perfurou-me a mim a alma. A minha tensão arterial baixou para 4/8 e as noites seguintes passei-as junto dos sentinelas, em silêncio, como se cada um deles fosse o meu amigo de quem não me queria separar... Na verdade, não conseguia dormir, todos nós tínhamos morrido um pouco com os nossos camaradas falecidos.
Este texto é dedicado ao “Setúbal”, esse jovem cheio de qualidades, decerto um cidadão exemplar, mais um que aquela guerra privou da vida a que tinha direito subtraindo-o ao seu país, à sua família e a todos nós.
Não vale a pena perder tempo a odiar os culpados tantos são e continuarão a ser os “senhores das guerras” em todo o mundo. Um deles, o nosso, caiu de uma cadeira e morreu uns tempos depois…
Prefiro recordar com saudade e amizade o meu amigo “Setúbal” de quem nunca me esqueci ao longo de mais de cinquenta anos!
David Slown
Wilson
(continuação)
Os povos de
todo o mundo que se dedicam à pastorícia têm um conjunto de problemas comuns.
Ao contrário do campo de um agricultor, a sua propriedade é móvel e pode ser
roubada com facilidade.
Têm também
tendência a viverem em zonas escassamente povoadas, difíceis de governar por
uma entidade central. A única solução para estes problemas é a auto defesa que
conduz a uma “cultura da honra” que os antropólogos documentaram para povos
historicamente tão diferentes como os Nuer ( ½ milhão de pessoas que vivem nas
regiões centro – meridionais do Sudão. São de estatura alta, pés e mãos enormes
e cabeça achatada) e os Dinkas (4,5 milhões vivendo no Sul do Sudão. São os
mais altos do mundo, 1,90 para os homens e 1,80 para as mulheres. Mabut Bol,
com os seus 2,31 foi o jogador mais alto da NBA. São povos muito antigos, 3000 A .C.) em África, os pastores gregos, os Navahos, do
Sudoeste americano e os Celtas na Europa, a quem os Romanos respeitavam pela
ferocidade, mas desprezavam pela falta de organização.
Estes povos
são semelhantes uns aos outros, não por estarem historicamente relacionados,
mas porque a evolução cultural os fez convergir no sentido de uma solução comum
para um conjunto de problemas conjuntos.
Numa “cultura
da honra” usar a violência para defender a reputação é, não só moralmente
aceitável, mas até imperativo.
O jornalista
Hodding Cárter recorda-se de ter feito parte de um júri no Luisiana na década
de 30.
O caso
envolveu um homem que vivia ao lado de uma bomba de gasolina, onde costumavam
estar uns sujeitos que implicavam com ele. Um dia abriu fogo contra eles com
uma espingarda, feriu dois e matou uma pessoa inocente que estava por ali
perto.
Cárter foi o
único membro do júri a propor o veredicto de culpado. Os outros protestaram.
- «Ele não teve culpa. Se não tivesse alvejado
aqueles sujeitos não era homem não era nada.»
Quanto às
crianças, a “cultura da honra” é o único mundo que conhecem.
Chris Boehm
que passou o início da sua carreira a estudar os pastores do Montenegro, uma
cultura que pratica a defesa da honra, falou-me de uma reunião de família ao
anoitecer em que deram a um rapazinho, que mal sabia andar, um atiçador de lareira e o provocaram até ele atacar os
adultos enraivecido, perante o gáudio e os incitamentos de todos.
Ele não quer que Lili morra... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 182
- Em quê?
- Olhe a
criancinha querendo fazer-se de inocente. Tou falando desta maldita greve… Você
está metido, não está?
- Maldita
porquê, Guilhermina… A gente quer ganhar mais, a gente quer ter um pouco mais
de dinheiro. É remédio para Lila que eu quero… maldita não vejo porquê…
- Quer
dinheiro? Você quer é malandrear, não fazer nada, ficar bêbedo pela rua, chegar
em casa de madrugada. Pensa que eu não conheço vocês? Pena que você me engana?
Fica por aí vadiando e depois vem com esse verso para
cima de mim… Quer remédio para Lila… Se você estivesse trabalhando direito já
era fiscal, já estava ganhando mais…
Greve é coisa de demónio, padre Silvino diz todo dia.
Isso é coisa que o demónio mete na cabeça dos doidos como você… Se não andasse
metendo nessas coisas já era fiscal…
Mariano ouve sem replicar. Quando a mulher termina e
bota as mãos nas cadeiras esperando, Mariano apenas pergunta:
- E Lila como
vai?
- E lila como
vai? – ela arremeda. – Vai no mesmo como é que podia ir? Você pensa muito na
sorte dela, se metendo em greves.
Preferia que Deus me matasse que ver meu marido assim
metido em invenção do diabo.
Se afasta de Mariano como se fosse o próprio demónio.
O operário vai até à cama e olha a filha. Ela está doente dos intestinos, o
médico disse que foi terra que ela comeu.
Nos dias que ele passou desempregado quase não havia
comida em casa.
É capaz do dr. Gustavo resolver tudo com a companhia
esta noite e amanhã eles voltarão ao trabalho. Poderá pagar outra consulta ao
médico. Terá remédios da farmácia. E se não resolver? Se a greve durar oito,
dez, dias? Aí seria trágico, faltará a comida, morrerá por falta de remédios.
Ele não quer que Lila morra. Mesmo quando Guilhermina
está terrível. Lila sorri para ele e beija seu rosto barbado. Mas a greve,
Mariano, é um colar de contas ligadas por um fio. Caindo uma conta caem todas.
Ele ouve a voz de Severino e afasta o pensamento ruim.
Beija a filha.
De longe, na rua, ainda escuta a voz zangada de
Guilhermina.
O negro Henrique palita os dentes com uma espinha de
peixe. Bota o filho no colo e pergunta:
- Já sabe a
lição de amanhã, tição?
O negrinho ri e botando o dedo no nariz chato, garante
que sabe na ponta da língua. Ercídia vem da cozinha e avisa:
- Amanhã vai ser arraia de novo…
Enquanto tiver arraia tá tudo bom, negra.
Henrique ri com o pretinho. Não é que tiçãozinho sabe
todas as lições, consegue até fazer contas?
- Tá um bicho ,
hein Ercídia?
A negra sorri. O filho quer que ele conte uma
história.
quinta-feira, dezembro 05, 2013
LUMBALA
Neste acampamento militar (então era mais pequeno) no leste de Angola, Distrito de Cazombo, junto ao rio Zambeze onde aprendi a nadar, passei eu 15 meses, de Novembro de 1963 a Março de 1965, em convivência amiga e respeitadora com os Luenas no que terá sido o tempo mais feliz da minha vida. Infelizmente, terei sido o último, depois começou a guerra...
WILSON SIMONAL
Se Jorge Ben foi o compositor que inovou o samba para uma concepção afro-moderna, Wilson Simonal foi o intérprete que soube como ninguém captar todo o balanço da chamada à época, moderna musica popular brasileira, consagrando-se como um dos seus maiores interpretes e até hoje inigualável em swing e balanço. "Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga".Escolhi este vídeo para possam recordar as carinhas das jovens do nosso tempo e da "candura" daqueles ambientes. Wilson faleceu em 2000 e a sua vida não foi pacífica. Esta gravação é de 1967.
"Antigamente as mulheres cozinhavam igual à mãe...
Hoje, estão bebendo igual ao pai!"
FRASE DA DÉCADA
(IRRETOCÁVEL)
"Antigamente os cartazes nas ruas, com rostos de criminosos, ofereciam recompensas; hoje em dia, pedem votos".
A filha em conversa diz ao pai:
- Pai, eu saí com o meu namorado, e ele disse-me umas coisas que eu não percebi lá muito bem...
Disse que eu tinha um belo "chassis", dois lindos "airbags" e um "pára-choques" fenomenal!
Responde-lhe o pai:
-Diz ao teu namorado que se ele te abrir o "capô" e meter a vareta para medir o óleo , dou-lhe uma tareia que lhe gripo o motor.!!!
Não a um dinheiro que governa
em vez de servir
Por
detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus. Para
a ética, olha-se habitualmente com um certo desprezo sarcástico; é considerada
contraproducente, demasiado humana, porque relativiza o dinheiro e o poder. É
sentida como uma ameaça, porque condena a manipulação e degradação da pessoa.
Em última instância, a ética leva a Deus que espera uma resposta comprometida
que está fora das categorias do mercado. Para estas, se absolutizadas, Deus é
incontrolável, não manipulável e até mesmo perigoso, na medida em que chama o
ser humano à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de
escravidão.
- «Não fazer os pobres
participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são
nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos».
Uma reforma financeira que tivesse em conta
a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes
políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e
clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O
dinheiro deve servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas
tem a obrigação, em nome de Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os
pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a uma solidariedade
desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia
ao ser humano.
Não à desigualdade social que
gera violência
Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão.
Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão.
Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na
periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da
ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranqui lidade. Isto não acontece apenas porque a
desigualdade social provoca a reacção violenta de quantos são excluídos do
sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz.
Assim
como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a
injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as
bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se
cada acção tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade
sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas
estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro
melhor. Estamos longe do chamado «fim da história», já que as condições dum
desenvolvimento sustentável e pacífico ainda não estão adequadamente
implantadas e realizadas.
Os mecanismos da economia actual promovem
uma exacerbação do consumo, mas sabe-se que o consumismo desenfreado, aliado à
desigualdade social, é duplamente daninho para o tecido social.
Assim, mais
cedo ou mais tarde, a desigualdade social gera uma violência que as corridas
armamentistas não resolvem nem poderão resolver jamais. Servem apenas para
tentar enganar aqueles que reclamam maior segurança, como se hoje não se
soubesse que as armas e a repressão violenta, mais do que dar solução, criam
novos e piores conflitos.
Alguns comprazem-se simplesmente em culpar, dos
próprios males, os pobres e os países pobres, com generalizações indevidas, e
pretendem encontrar a solução numa «educação» que os tranqui lize
e transforme em seres domesticados e inofensivos. Isto torna-se ainda mais
irritante, quando os excluídos vêem crescer este câncer social que é a
corrupção profundamente radicada em muitos países – nos seus Governos,
empresários e instituições – seja qual for a ideologia política dos
governantes.
NOTA
- O Papa Francisco é um homem de "boa vontade" e eu não tenho dúvidas, ao fim deste tempo de exercício das funções de Papa, que para ele "Deus é incontornável, não manipulável e por isso perigoso".
- Mas, na realidade, Deus foi ao longo da história manipulado, continua e continuará a ser manipulado e é por isso que ele é perigoso. O que foi feito em nome de Deus e de deuses, ao longo dos tempos, dava e continua a dar um Livro de Horrores.
- Quanto a não ser incontornável, Francisco estará a referir-se aos crentes mas a sociedade de hoje é constituída, também, por não crentes, ateus, que contornaram Deus, que não acreditam que ele exista, para quem o mundo faz todo o sentido sem ele... e que são igualmente homens de "boa vontade".
- "Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos"... simplesmente, este discurso continua a cair em saco roto... Bancos europeus foram ontem condenados pela Comissão Europeia a pagar uma multa de cerca de mil e quinhentos milhões de euros por terem concertado entre si, o que é rigorosamente ilegal, taxas de juro manipuladas o que obrigou os cidadãos a pagarem mais dinheiro.
A lei manda-os competir e, em vez disso, eles "entendem-se" para ganharem ilegitimamente mais dinheiro numa ganância sem limites.
Relativamente ao que ganharam desta forma fraudulenta a multa que irão pagar, provavelmente, serão "trocos".
Muitos deles irão com certeza à missa e em peregrinação ao Papa, no Vaticano, e isto, meu caro Francisco, é manipulação de Deus.