para uma
Pequena Reflexão
Ao fim das primeiras 50 Entrevistas com Jesus Cristo “apetece” fazer, antes de continuarmos, uma pequena reflexão porque não vale ler só por ler. Há que reflectir sobre o que lemos, confrontarmo-nos, em assuntos tão delicados e sensíveis como estes, sobre o efeito que a leitura produziu em nós, se alguma coisa se alterou na nossa maneira de pensar, se se desfizeram dúvidas ou, pelo contrário, elas se acrescentaram.
Embora nascido no seio de uma família católica, normal na sociedade portuguesa e ainda mais no princípio dos anos 40, tendo mesmo, nos longínquos tempos da minha juventude, frequentado um colégio de jesuítas, sou hoje um ateu convicto depois de ter sido apenas uma pessoa que simplesmente deixou de acreditar.
As religiões são hoje, cada vez mais, negócios da fé, organizações que lutam por manter vivo dentro de nós o instinto do “acreditar”, exacerbá-lo, e extrair dele o maior lucro possível.
Nestas Entrevistas, essa minha conclusão ficou ainda mais consolidada, não obstante tratar-se de uma religião com muitos séculos de existência no seio da nossa sociedade, que foi decisiva para a nossa formação, nos moldou, enraizando alguns dos defeitos que nos caracterizam como entidade cultural.
No entanto, não hesitei, em transcrever estas entrevistas porque elas desmistificam as “histórias” contadas sobre um homem notável, o que mais influência teve na história da humanidade, pelo seu exemplo de vida e por força do “aproveitamento” que dele fizeram para o lançamento de uma religião de âmbito universal.
Há dois cristianismos: um, de ideias, convicções e atitudes morais, éticas e religiosas que durou os primeiros cinco séculos após a morte de Jesus, e outro cristianismo: o do poder, a partir da “conversão” de Constantino que transformou os relatos da vida, os ensinamentos e a força da mensagem de Jesus Cristo, na religião oficial do seu Império.
A partir de então, os interesses materiais tomaram o lugar dos interesses espirituais e morais e a história da religião que, em boa verdade, passou a ser mais a dos bispos e papas de Roma do que propriamente a de Jesus Cristo, escreveu-se pelo mundo a ferro e fogo vitimando, pela intransigência, ambição e intolerância, populações e culturas. Esquecidos ficaram o amor, a justiça e a compreensão, idéias força da mensagem de Jesus.
As coisas passam-se agora a uma escala diferente, a Igreja já não ocupa na cena internacional o mesmo lugar que noutros tempos e embora a “crença” se mantenha na natureza do homem, os avanços da ciência e dos direitos humanos, travam a política do Vaticano, intolerante, fechada nos dogmas e nos preconceitos, receando, talvez, que movendo-se hoje num terreno mais frágil, o seu espaço de influência se reduziria caso se abrisse ao mundo e aos problemas e esse é um passo que os homens da Igreja não se atrevem a dar por medo, por cobardia.
No entanto, considero que é uma oportunidade desperdiçada não colocar ao serviço da humanidade, nos momentos difíceis que vivemos, todo o potencial da fé como tentou fazer, no seu tempo, Jesus Cristo. Em vez disso, continuam a procurar servir os seus interesses…
Jesus Cristo seduziu e cativou as pessoas por duas razões principais: a sua enorme fé em Deus que convenceu e contagiou os seus semelhantes e as preocupações com a justiça.
A coragem e a coerência com que viveu, o seu espírito de lutador, a percepção de que a sociedade para ser melhor, e para ele ser melhor era, essencialmente, ser mais justa, passava por uma alteração das condições de vida em sociedade e, deste ponto de vista, Jesus Cristo foi um revolucionário.
Revolucionário é um conceito que põe em pé os cabelos da hierarquia da Igreja de Roma. Instalados no poder, viajando ao longo da história de braço dado com ele, rodeados de privilégios, honras, mordomias, luxo, o que menos lhes interessa é alterar essa situação que, contra a sua vontade, já não será hoje aquilo que foi.
Entretanto, continuaremos a acompanhar as entrevistas concedidas em exclusivo à jornalista Raquel por Jesus Cristo, na sua segunda vinda à terra, e a aprender com ele o muito que tem para nos ensinar pois cada uma das suas entrevistas têm constituído uma autêntica lição.