Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, abril 26, 2014
A PRAÇA - RONNIE VON
Quando esta canção apareceu em Portugal, ainda na década de 60, ela me despertou uma enorme ternura que se mantem. O seu autor, Carlos Imperial, nasceu em 1935, em Cachoeira mas foi muito novo para o Rio onde foi eleito vereador em 1984. Faleceu em 1992.
Eu quero um garfo... simplesmente um garfo |
Um Grupo de Três
Antropólogos
Um grupo de três antropólogos (um inglês, um francês e um português) parte numa arriscada expedição científica para estudar os hábitos de uma tribo tibetana de canibais, famosa pelos seus poderes prodigiosos e por usar a pele humana para fabricar as melhores pirogas do mundo.
Chegados à fronteira do território
desta tribo terrível, de onde ninguém regressara vivo, os guias sherpas
piraram-se, deixando os três intrépidos cientistas entregues à sua sorte.
Preparados para o pior, estranharam a recepção fidalga e hospitaleira
dispensada pelos canibais, que os estragaram com mimos de toda a espécie.
Só repararam que tinham estado no
período da engorda quando o chefe da tribo lhes comunicou, com uma solene
amabilidade, que eles iam ser submetidos a uma prova.
Cada cientista tinha o direito a um
pedido - o mais extravagante que a sua imaginação concebesse. Seria devolvido à
civilização, se eles não conseguissem satisfazer esse o pedido. Caso contrário
entraria imediatamente no circuito alimentar da tribo e a sua pele seria usada
no fabrico de uma piroga.
- "Quero um cognac Cornet Vintage de
1811, servido pela miúda do anúncio da Martini, trazida no Rolls Royce dos
Beatles", pediu, bastante seguro de si, o cientista inglês.
Uma onda de agitação percorreu os
canibais, que se afadigaram numa lufa-lufa de faxes e telefonemas. Duas horas
volvidas, a menina da Martini, saída do célebre Rolls, patinava com a bandeja
na mão em direcção ao inglês, que fleumaticamente saboreou o cognac
pré-filoxera antes de ser atirado para o fundo da panela.
- "Quero ver aqui ,
a desfilarem à minha frente, nuas e montadas em camelos albinos, as dez últimas
Miss Mundo", exigiu o francês. A seguir à azafama habitual dos indígenas,
o desejo foi satisfeito e o segundo cientista chacinado e os seus restos
mortais transformados em salsichas e pirogas.
Chegada a sua vez, o português
surpreendeu tudo e todos ao pedir um garfo. "Um garfo?!? Um garfo de ouro?
O garfo cravejado de diamantes do imperador Bokassa?", interrogou
atencioso o chefe dos canibais.
"Não, um garfo qualquer",
precisou o português que, após ver o pedido atendido, desatou a furar
furiosamente a sua pele, espetando-se com o garfo enquanto gritava
repetidamente:
- "Ide
fazer pirogas para o caralho!!!"
NOTA
O espírito tuga desta anedota
apoderou-se dos nossos compatriotas que esgotaram os seus destinos preferidos -
Algarve, Cabo Verde, Brasil e Caraíbas - nestas férias da Páscoa. A troika do
FMI e os economistas bem alertam para a necessidade de poupar e avisam que no
1.º trimestre a taxa de aforro caiu 75% .
-
"Ide fazer pirogas para o caralho!!!" - respondem os tugas.
A afixação por Lutero das 95 teses da Reforma Protestante |
Uma Lição
de História
(Por Bernardo Mariano)
2. Viragem do Séc. XVI Para o XVII
(Continuação - IV Parte)
Politicamente, este é o período que
coincide com o início da afirmação como potência da Inglaterra, sobretudo a
partir da vitória sobre a chamada Invencível Armada (1588) com o consequente
enfraquecimento do poder marítimo espanhol e, por arrastamento, nesta data,
também do português, cujos navios constituíam cerca de um terço da Armada...
Secundando a Inglaterra, também as
Províncias Unidas (Holanda) iniciarão rapidamente a sua expansão marítima –
recordemos a rápida penetração holandesa no Brasil durante o período Filipino.
No continente europeu, Espanha
continuaria a digladiar-se com a França século XVII dentro pelo predomínio no
ocidente europeu e na Itália, enquanto o Sacro Império era um verdadeiro barril
de pólvora face às consequências da obediência protestante de muitos dos seus
estados constituintes opondo-se aos outros estados que haviam permanecido
católicos encabeçados pelo estado de maior importância política que era a
Áustria, país cuja dinastia reinante era a dos Habsburgos, família imperial.
A explosão do barril não se fez
esperar: em 1618, todos esses conflitos não resolvidos irrompem na guerra dos
Trinta Anos e espalham-se por toda a Europa constituindo o evento mais
mortífero desde a peste negra à I Grande Guerra Mundial.
A Reforma Protestante virou por
completo a Europa do avesso e abalou profundamente a Igreja, tanto assim, que
só em 1545, 28 anos após a afixação por Lutero das 95 teses na porta da Igreja
de Todos Os Santos, em Witenberg, o Papa Paulo III convoca para Trento um
concílio para discutir a reacção da Igreja Romana à Reforma Protestante.
"Um marinheiro não se dobra à tristeza" |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 64
Caía a tarde sobre o Largo da Sé, o sangue do crepúsculo nas pedras negras da velha igreja. Vasco tomava da mão de Liú, iniciava sua viagem.
Do passar do tempo e das
mudanças no governo e na firma, com falcatruas e uma crista erguida
Cumpriu sua promessa o Comandante Vasco
Moscoso de Aragão: nunca mais apareceu diante do Comandante Georges Dias
Nadreau de crista caída.
Tinha seu título, era feliz, nenhum
desgosto, nenhuma dificuldade pôde turvar-lhe daí por diante a radiosa
expressão, a exuberante alegria.
Por um breve minuto podia irritar-se ou
entristecer-se mas logo voltava ao seu natural folgazão, sem dar tempo à
tristeza, sem dar maior importância às contrariedades da vida.
Tristezas e contrariedades não faltaram,
no entanto. Mas um comandante de navios, um capitão de longo curso habitua-se,
na esteira das ondas, à inconstância do mar e do tempo, forja seu carácter e
enrijece seu coração, torna-se apto a enfrentar, com um sorriso nos lábios, as
decepções e os desgostos.
Desgosto dos maiores, o primeiro a
suceder, foi a transferência de Georges Dias Nadreau, promovido e enviado para
o comando de um destroyer.
Como imaginar a noite da Bahia, as
pensões e os castelos, a boémia, as mulheres, a magia do amor, sem
a presença do marinheiro de cabelos loiros de trigo, de olhos de azul-celeste,
inventando blagues, caçoadas, pilhérias divertidas, sempre às voltas com uma
negra ou mulata escura?
Quando a notícia circulou entre o mulherio e
os noctívagos, foi geral a consternação, houve lágrimas e lamentações e
preparou-se uma despedida digna de Georges.
- Levanta a crista, Comandante - disse
Georges a Vasco quando o viu, na noite da festa de adeus, carrancudo e calado.
- Um marinheiro não se dobra à tristeza.
Foram todos, no dia seguinte, levá-lo a
bordo do paquete no qual viajava para o Rio e viram pela primeira vez Gracinha,
a esposa, de luto fechado, o macerado rosto coberto por negro véu, os lábios
trancados.
Estendeu-lhes, na apresentação, as
pontas de dois dedos gélidos. Vasco compreendeu então não ser uma frase oca de
sentido aquela pronunciada na véspera pelo antigo capitão dos portos.
“Um marinheiro não se dobra à tristeza”, as
palavras de Georges adqui riam uma
brusca significação concreta, ele não se dobrara à tristeza, não se entregara
vencido.
Voltaram para o centro, foram para o
bilhar, mas já não era a mesma coisa. A ausência de Georges povoava o bar, a
Pensão Monte Carlo depois, a noite ficara subitamente vazia.
Já um ano antes casara-se o Tenente
Lídio Marinho e, por uns tempos, desaparecera de circulação. Mas todos sabiam
ser passageira sua ausência, voltaria quando a vida de casado entrasse na
normalidade e assim aconteceu.
Ao findar-se o expediente em Palácio, aparecia
para o bilhar e, na maioria das noites, juntava-se novamente a eles após o
jantar, ia arrastar os pés na Pensão, por vezes trancava-se com uma pequena,
continuava a ter apaixonadas nos castelos.
A esposa era para dar-lhe filhos, cuidar
da casa, receber as visitas. Georges, porém, fora de vez, era partida sem regresso,
reuniria outra turma no Rio, colegas do navio, amigos diferentes. Foi uma noite
difícil, mas Vasco recordava a frase e via a figura dilacerante de Gracinha,
animava os outros, um marinheiro não se entrega à tristeza.
O novo capitão dos portos, o substituto
de Georges, capaz talvez de assumir seu lugar na turma, tardou meses a chegar e
foi uma completa decepção: sujeito arredio, pouco dado a amizades, tendo horror
às noitadas, às mulheres da vida, circunspecto e sisudo. Vasco deixou de frequentar
a Capitania.
sexta-feira, abril 25, 2014
Grândola, Vila Morena - Zeca Afonso
Canção emblemática da Revolução dos Cravos, candidata a hino nacional para os mais fervorosos revolucionáios de então tal o impacto que ela provocava no sentir dos portugueses.
dos Cravos
25 de Abril de 1974
Quarenta anos depois da Revolução dos Cravos e Portugal, por ironia do destino, está e continuará na mão dos credores... É uma situação humilhante assistir à entrada no país de uns senhores que a mando Troyka nos dizem que depois das acentuadas reduções de salários e pensões que já sofremos ainda falta cortar mais.
A França, li no jornal de hoje, vai
também cortar nas pensões e congelar salários porque tanto lá como cá o que se
pretende é diminuir os Deficits Orçamentais muito rapidamente porque mais
importante do que as pessoas, o objectivo são os números a baterem certo... numa autêntica inversão de valores que hoje se regista no mundo.
Fui buscar o exemplo da França, como
poderia ter falado da Irlanda, da Grécia, ou outros onde também se registaram
cortes em salários e pensões sem que nesses países tivessem ocorrido quaisquer
revoluções.
No entanto, ainda existem certos
sectores aqui no nosso país que insistem em estabelecer uma ligação entre as
dificuldades porque passamos agora e a Revolução dos Cravos de 1974.
Eu sei que em 2014 a percentagem de
concidadãos meus que se lembram do que era viver antes de 1974 já começa a ser
reduzida, cerca de 30%, mas é necessário lembrá-lo para os outros para que não
se julgue que a humilhação que nos é imposta pela presença dos senhores da
troyka, hoje, não tinha paralelo com outras formas de humilhação muito mais
graves que tinham lugar dentro do nosso próprio país e por compatriotas nossos.
Um deles, conheci eu, inspector da PIDE,
que “empossado” de um poder arbitrário e prepotente se permitiu, gritando pelo telefone,
ameaçar-me e insultar-me apenas porque, no exercício das minhas funções, não
tinha cometido uma ilegalidade para servir os seus interesses pessoais... Sem
esquecermos que os senhores da troyka fomos nós que os chamámos em 2011 para
que nos emprestassem dinheiro para o Estado poder continuar a funcionar.
Hoje temos medo do futuro mas ele está
nas nossas mãos, com sacrifícios é certo, mas que nada têm a ver com uns
energúmenos que entravam em nossas casas a qualquer hora da noite ou do dia sem
serem convidados para nos prender e silenciar.
É indigno haver hoje compatriotas nossos
que passam fome com as suas famílias e vêm com desespero fugir para sempre, nas
suas vidas, a possibilidade de ter uma actividade útil e remunerada na sua
terra, como se tal fosse uma espécie de fatalidade do nosso povo...
Mas eu posso abrir hoje o jornal e ler
toda a espécie de notícias e de opiniões e à mesa do Café ou do Restaurante,
com os meus amigos, posso expressar aqui lo
que me vai no pensamento sem ter que baixar a voz e lançar olhares de soslaio
desconfiados.
A maior parte dos portugueses não
conheceu nem viveu a privação da liberdade e muito menos foi vítima das agressões da PIDE e da Censura, por isso não lhe dá o valor que
ela tem.
Hoje, o grande medo, é o de perder o emprego, aqueles que o têm, e aqui, também nos esquecemos ou não vivemos os sacrifícios de outrora, da fome daqueles que sempre foram pobres, das fronteiras atravessadas a salto e das mortes e feridos nas emboscadas e minas das estradas do Império.
Hoje, o grande medo, é o de perder o emprego, aqueles que o têm, e aqui, também nos esquecemos ou não vivemos os sacrifícios de outrora, da fome daqueles que sempre foram pobres, das fronteiras atravessadas a salto e das mortes e feridos nas emboscadas e minas das estradas do Império.
Somos um pequeno e frágil país e neste
mundo globalizado onde tudo é diferente do antigamente pouco ou nada podemos mudar mas está
nas nossas mãos sermos mais honestos nos negócios do Estado, menos corruptos,
mais competentes, mais atentos e sensíveis na distribuição dos sacrifícios e aqui , meus amigos, só podemos apelar para nós
próprios...
Viva o 25 de Abril, Viva a liberdade, Viva
a democracia!
quinta-feira, abril 24, 2014
POVO QUE LAVAS NO RIO - AMÁLIA RODRIGUES
Esta canção deve ser ouvida num acto de recolhimento espiritual...
Conto Erótico
Todos dias, durante anos, quando
Salim chegava a casa, a sua empregada doméstica, Jacira servia o jantar e ia
tomar banho.
Até que um dia, Salim estava
jantando e ficou ouvindo o barulho da água, pensando na Jacira tomando banho.
Estava sozinho em casa, mulher e
filhos viajando.
Mastigava a comida, mastigava,
mastigava e pensava na Jacira tomando banho...
Até que se levantou da mesa e foi
até o banheiro. Bateu na porta:
- Jacira, você está tomando
banho?
- Estou sim seu
Salim.
- Jacira, abre a porta pra
Salim.
- Mas seu Salim, estou
nua!
- Jacira, abre a porta pra
Salim!
- Jacira, abre já a porta pra
Salim!
Jacira não resiste e acaba abrindo
a porta. Salim entra no banheiro, vê a
Jacira nua e pergunta:
- Jacira, quer foder o
Salim?
- Mas seu Salim... eu não sei
se...
- Jacira, quer foder o
Salim?
- Sim, quero sim seu Salim, pode
vir que sou toda sua...
Então Salim põe a mão na torneira
e diz:
- Não vai foder o Salim não! Chega
de gastar água.
(Esta história faz parte de uma CAMPANHA PARA ECONOMIZAR ÁGUA)
|
Martinho Lutero |
Uma
Lição
de História
(
Por Bernardo Mariano)
1.
Viragem do Século XIV para o XV
(continuação III )
O conflito alcançará o grau
surreal em 1409 quando um Papa teoricamente consensual é eleito em Concílio,
sem que os dois em exercício resignem, passando então, durante alguns anos, a
haver três Papas.
O grande cisma só será resolvido através
do Concílio de Constança, em 1415: o ano da conqui sta
de Ceuta, da batalha de Azincourt e da execução na fogueira pela Inqui sição de Jan Hus (1369- 1415)... justamente em
Constança.
John Hus, erudito clérigo alemão, viveu 100 anos
antes de Martinho Lutero e da reforma protestante. Ele estava convencido de que
devia apresentar a Bíblia na língua do povo.
Acreditava que a salvação vem só pela fé em Jesus Cristo e que só
a Bíblia é a Palavra de Deus. Ele ensinou isso na Universidade de Praga à sua
igreja e alertava para os abusos do cristianismo de sua geração.
A situação era de conflito declarado e não já de
mera conflitualidade, deixando sementes por todo o século que se seguiria, até
desabrochar de vez na figura de Martinho Lutero.
Na senda do inglês John Wycliffe (1320- 1384),
Jan Hus faz a denúncia em larga escala da corrupção moral que grassava nas
estruturas da Igreja, nomeadamente, já então, a questão das indulgências (que
Lutero de novo denunciará).
Hus foi o grande pré-reformador, verdadeiro precursor
daqui lo que se irá passar no Século
XVI. Dada a total incapacidade que a Igreja revelou em se regenerar depois
destes “avisos”, só surpreende que tenha demorado ainda um século até que a Reforma
alcançasse o ponto de não retorno!...
John Hartung |
A Bíblia
John Hartung
John Hartung
(Físico e antropólogo
evolucionista americano)
A
Bíblia é um guia da moralidade entre membros do mesmo grupo, contendo
instruções para o genocídio, para a escravização de forasteiros e para a
dominação do mundo.
Mas a Bíblia não é malévola devido
aos seus objectivos ou à glorificação do assassinato, da crueldade e do
estupro. Muitas obras antigas fazem a mesma coisa:
a Ilíada, as sagas islandesas, as
lendas dos sírios da Antiguidade ou as inscrições dos Maias, por exemplo.
Mas ninguém vende a Ilíada como base
da moralidade e é aqui que está o
problema. A Bíblia é vendida e comprada para orientara vida das pessoas e é, de longe, o maior best seller de todos os tempos.
Comandante sem cachimbo,a pitar não era comandante... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 63
Não iria mais perder aquela mania de comprar instrumentos náuticos. Terminaria, vários anos depois, por ad
Tentara o germânico explorar o objecto na via
pública, cobrando um mil-réis de cada cliente interessado em olhar o céu de
perto, aproximar a Lua e as estrelas. Fracassada a tentativa, conta de pensão a
pagar, foi o telescópio para a casa da Rua dos Barris, de onde aliás projectava
o comandante mudar-se.
A sua peça predilecta, na colecção a
crescer, era a miniatura de um navio, o Benedict, de meio metro, reproduzindo
em seus mínimos detalhes um barco de passageiros, colocada dentro de uma caixa
de vidro.
Fora um presente de Jerónimo, no aniversário
de Vasco. O jornalista descobrira aqui lo
no porão do Palácio, a caixa coberta de poeira, jogada num canto como coisa
imprestável. Vasco delirou, não tinha palavras para agradecer.
Numa das suas longas conversas com
Giovanni, veio a saber ser hábito dos oficiais de bordo, sobretudo dos
comandantes, o uso do cachimbo.
Comandante sem cachimbo a pitar não era
comandante, na abalizada opinião do negro velho. No dia seguinte, Vasco surgiu
na roda atrapalhado com um cachimbo inglês, diabo difícil de fumar-se, apagando
a cada momento. Aprendeu com o tempo, não tardou a possuir vários, de matérias
e formas diferentes, de madeira e porcelana, de espuma-do-mar.
De quando em vez, no começo da tarde, ia
Vasco visitar o Comandante Georges Dias Nadreau, na Capitania dos Portos.
Envergava o uniforme de trabalho, o boné na cabeça, um cachimbo no queixo. Da
janela da Capitania olhava o mar, atento acompanhava a atracação dos navios.
Um dia foi apresentado, num bar, onde
esperava o coronel, a um senhor de Pilão Arcado. Ficaram os dois a conversar, o
Sertanejo encantado com aquelas relações citadinas:
- Então o senhor é comandante de navio?...
Mas de navio de verdade, não daqueles do rio que vivem encalhando... Deve ter
muito o que contar. Me diga uma coisa: o senhor já viajou lá para as bandas da
China e do Japão?
Pousaram-se no bronzeado rosto do homem
de Pilão Arcado os olhos inocentes do comandante:
- Na China e no Japão? Várias vezes,
sim, senhor... Conheço aqui lo tudo...
- E me diga uma coisa que tenho muita
vontade de saber: - o interesse jogava-o para a frente sobre a mesa - é verdade
que as mulheres de lá são peladas, só têm cabelo na cabeça, no resto nem um
fio, e que o xibiu delas é atravessado? Me contaram essa conversa...
- Mentira, andaram lhe bobeando. Não tem
nada disso. São como as de toda parte, só que mais apertadas, uma gostosura...
- De verdade? Como são? O senhor andou
com muitas?
- Uma vez em Shangai saí pela rua sem
destino... Num beco esconso deparei com uma chinesa chorando. Chamava-se Liú...
Acendiam-se os olhos do rude sertanejo,
enquanto o Comandante Vasco Moscoso de Aragão perdia-se nos mistérios de
Xangai, em vertigens de ópio, conduzido por Liú, uma chinesinha de laca e de
marfim.
quarta-feira, abril 23, 2014
IMAGEM
Terreiro do Paço - Lisboa
A mais linda praça do mundo. O céu é mesmo assim, de um azul descarado e a claridade é total. Ao fundo e ao alto o castelo de São Jorge, padroeiro da cidade.
Hoje de manhã fui a Lisboa, ao alomço mensal com os meus colegas de curso. A manhã estava linda, cheia de sol e eu caminhei desde a estação do combóio, em Santa Apolónia até ao Terreiro do Paço.
Quando cheguei, um enorme palco montado dava música ao vivo na preparação das festas da comemoração da Revolução dos Cravos do 25 de Abril de 1974, há 40 anos... como o tempo passou.
Na Baixa de Lisboa devia haver mais turistas que lisboetas o que me deixou feliz e orgulhoso... sempre é a cidade onde nasci e a sua beleza um valor que todos reconhecem mesmo que a ela não estejam ligados pelos laços do nascimento.
Modinha para Gabriela - Gal Costa
Ano de 1975
Tudo, absolutamente tudo, se conjugou: o melhor escritor de histórias da língua portuguesa (porque não foi proposto ao prémio Nobel?), Jorge Amado.
Os melhores actores - como nunca mais voltaremos a ver... - e uma canção de abertura ( retrato psicológico que resume um tratado ou uma tese sobre uma personalidade humana do mais puro quilate) na voz tão genuinamente brasileira de Gal Costa.
Depois desta telenovela pela qual fiquei apaixonado não voltei a ver mais com excepção de uma ou outra dos coronéis, há muitos anos.
Os Mitos e
a Ciência
Os mitos e as religiões permitiram durante muito tempo respostas à questão angustiante sobre as origens do homem e o sentido da sua existência mas, em contrapartida, pela sua própria natureza, elas fecharam-se a qualquer tentativa de questionar essas mesmas respostas.
Foi preciso passar muito tempo, até ao séc. VII A.C., na Grécia, para que fosse possível explorar mais uma via de conhecimento, a via da ciência, que propõe uma verdade que, pela 1ª vez, se deve demonstrar e pode ser sempre objecto de discussões.
Antes disso, primeiro na Mesopotâmia e no Egipto e de seguida no Ocidente, os homens convencidos da realidade de um Criador supremo sentiram necessidade de encontrar uma imagem correspondente nas leis do universo.
Voltaram-se, então, para a observação dos astros e não obstante o peso terrível dos mitos transformados em dogmas das religiões na liberdade de pensamento, mesmo assim, foram possíveis descobertas notáveis em astronomia e por vezes a intuições fulgurantes da natureza da vida mas, no essencial, os resultados dessas observações foram desviados em proveito da astrologia, da adivinhação e da magia.
No Oriente, onde a noção da criação é muito difusa e a gestão do mundo não depende de uma entidade divina não se sentiu logo a necessidade de procurar racionalmente uma causa exacta para as leis que regem o universo e é então, na Grécia, que se desenvolverá pela primeira vez um verdadeiro pensamento científico e aparecem as primeiras propostas racionais sobre a origem do Universo, da Terra, da Vida e do próprio Homem, e é interessante verificar que isto acontece num contexto geográfico e histórico privilegiado: na encruzilhada das civilizações da Ásia e do Médio Oriente.
Pouco se sabe das populações que viveram na Grécia 2.000 anos A.C. já que a civilização helénica começa com os povos denominados Acádios, de origem indo-europeia que, por aquela data, penetram na Grécia e ali se instalam desenvolvendo uma civilização homogénea que se distingue pelas suas tradições próprias, em si muito antigas, mas que levam em consideração as crenças dos habitantes autóctones e que posteriormente se enriquecem com as influencias de Creta, que lhe está muito próxima, da Ásia e mesmo do Egipto.
Esta civilização, denominada Micénica, estabelecida pelos Acádios, sofre grandes perturbações pelos consideráveis movimentos de populações e estas circunstâncias dão lugar a que a Grécia, no Séc.XII A.C., invente um novo tipo de sociedade baseado na síntese das tradições da Ásia e do Médio Oriente.
Em comunhão constante com a natureza, os gregos desenvolvem uma religião alegremente politeísta que lhes deixa uma liberdade de espírito total e por isso, num contexto religioso pouco constrangedor, foi junto dos poetas e dos filósofos que os Gregos da idade de ouro do helenismo clássico, procuraram modelos de sabedoria e de virtude que lhes permitiu desenvolver um pensamento realmente moderno e inovador baseado na observação e na experimentação.
Será um princípio de ciência sobrecarregada de erros enormes mas não deixa de ser, pela primeira vez, «a Ciência».
Tales de Mileto, por exemplo, já não aceita que a origem do mundo esteja nos deuses: ele imagina que uma substância primordial, a água, se encontra na origem da infinita diversidade das coisas da natureza, a qual deve também servir para as regenerar.
Anaximandro de Mileto é o primeiro a imaginar a existência de uma espécie de hierarquia dos seres vivos que conduziria ao Homem.
Hipócrates sugere que as mudanças do meio natural são, na origem, transformações do mundo dos seres vivos, conceito este que não é muito diferente do “transformismo” que será desenvolvido por Lamarck dois mil anos mais tarde.
Anaxágoras de Clazomenea tem a intuição de que a matéria é constituída por partículas infinitamente pequenas capazes de se agruparem em categorias semelhantes a fim de produzirem a ordem da natureza.
Demócrito, considera que o mundo é formado por partículas extremamente pequenas, duras e numerosas a que ele chama átomos, isto é, indivisíveis e que se movimentam incessantemente no vazio absoluto que os rodeia o que os leva a encontrarem-se e a agregarem-se uns aos outros produzindo novas formas.
Epicuro desenvolverá este conceito numa visão que faz do universo uma reunião de átomos descontínuos, inalteráveis e eternos.
Não vale a pena continuar com a descrição exaustiva do que foram os contributos dos sábios da antiga Grécia porque o meu objectivo, em termos de conclusão, é de que a inteligência do homem manifesta-se em todo o seu esplendor quando beneficia do contributo de influencias de várias culturas e se desenvolve num quadro religioso que não seja castrador da liberdade de pensamento.
Por estas razões, o período compreendido entre os séculos VI e II A.C. pode considerar-se «chave» na história da humanidade, marcado por uma autêntica explosão do pensamento.
A partir do século II A.C.com a progressão espectacular da «ordem romana» baseada essencialmente em valores militares e mercantis, o mundo ocidental inicia um longo período de estagnação científica.
No século VII, a conquista árabe coloca o essencial da tradição científica do Médio Oriente nas mãos de um povo que até então ignorava a ciência mas os sábios do Islão saberão conservar e desenvolver essa herança.
A partir do século XIII os eruditos árabes da África do Norte, da Sicília e da Espanha transmitirão essa herança ao Ocidente com a qual será iniciado o Renascimento científico.
Durante a primeira parte da Idade Média os verdadeiros sábios, capazes de observar e experimentar são poucos, mal vistos, têm falta de meios e na maior parte das vezes são considerados heréticos e feiticeiros.
O conjunto dos teólogos cristãos dessa época têm como referência as ideias de Platão e Aristóteles que lhes chegam mal traduzidas e das quais só conservam aquilo que é susceptível de apoiar o dogma da criação divina.
As obras de Aristóteles, revistas pelos teólogos cristãos, são a base do ensino escolástico em que só os mestres têm acesso aos textos comentados por eles e para os seus alunos e que culmina com Tomás de Aquino.
Mas homens como Roger Bacon e Guilherme de Ockham, o primeiro ainda contemporâneo de Aquino, mostram-se rebeldes contra o argumento da autoridade que consiste em pretender que uma coisa é necessariamente verdadeira porque Aristóteles o afirma!
Apoiando-se em observações cada vez mais numerosas e experimentações mais exactas, aperfeiçoando os métodos e os instrumentos de pesquisa e pondo, sobretudo, continuamente em causa os resultados obtidos, a Ciência, entre os Séculos XIV e XVIII, teimosamente, irá minar a estrutura autoritária do pensamento escolástico guiado e comandado pela Igreja Católica.
Os mitos e as religiões permitiram durante muito tempo respostas à questão angustiante sobre as origens do homem e o sentido da sua existência mas, em contrapartida, pela sua própria natureza, elas fecharam-se a qualquer tentativa de questionar essas mesmas respostas.
Foi preciso passar muito tempo, até ao séc. VII A.C., na Grécia, para que fosse possível explorar mais uma via de conhecimento, a via da ciência, que propõe uma verdade que, pela 1ª vez, se deve demonstrar e pode ser sempre objecto de discussões.
Antes disso, primeiro na Mesopotâmia e no Egipto e de seguida no Ocidente, os homens convencidos da realidade de um Criador supremo sentiram necessidade de encontrar uma imagem correspondente nas leis do universo.
Voltaram-se, então, para a observação dos astros e não obstante o peso terrível dos mitos transformados em dogmas das religiões na liberdade de pensamento, mesmo assim, foram possíveis descobertas notáveis em astronomia e por vezes a intuições fulgurantes da natureza da vida mas, no essencial, os resultados dessas observações foram desviados em proveito da astrologia, da adivinhação e da magia.
No Oriente, onde a noção da criação é muito difusa e a gestão do mundo não depende de uma entidade divina não se sentiu logo a necessidade de procurar racionalmente uma causa exacta para as leis que regem o universo e é então, na Grécia, que se desenvolverá pela primeira vez um verdadeiro pensamento científico e aparecem as primeiras propostas racionais sobre a origem do Universo, da Terra, da Vida e do próprio Homem, e é interessante verificar que isto acontece num contexto geográfico e histórico privilegiado: na encruzilhada das civilizações da Ásia e do Médio Oriente.
Pouco se sabe das populações que viveram na Grécia 2.000 anos A.C. já que a civilização helénica começa com os povos denominados Acádios, de origem indo-europeia que, por aquela data, penetram na Grécia e ali se instalam desenvolvendo uma civilização homogénea que se distingue pelas suas tradições próprias, em si muito antigas, mas que levam em consideração as crenças dos habitantes autóctones e que posteriormente se enriquecem com as influencias de Creta, que lhe está muito próxima, da Ásia e mesmo do Egipto.
Esta civilização, denominada Micénica, estabelecida pelos Acádios, sofre grandes perturbações pelos consideráveis movimentos de populações e estas circunstâncias dão lugar a que a Grécia, no Séc.XII A.C., invente um novo tipo de sociedade baseado na síntese das tradições da Ásia e do Médio Oriente.
Em comunhão constante com a natureza, os gregos desenvolvem uma religião alegremente politeísta que lhes deixa uma liberdade de espírito total e por isso, num contexto religioso pouco constrangedor, foi junto dos poetas e dos filósofos que os Gregos da idade de ouro do helenismo clássico, procuraram modelos de sabedoria e de virtude que lhes permitiu desenvolver um pensamento realmente moderno e inovador baseado na observação e na experimentação.
Será um princípio de ciência sobrecarregada de erros enormes mas não deixa de ser, pela primeira vez, «a Ciência».
Tales de Mileto, por exemplo, já não aceita que a origem do mundo esteja nos deuses: ele imagina que uma substância primordial, a água, se encontra na origem da infinita diversidade das coisas da natureza, a qual deve também servir para as regenerar.
Anaximandro de Mileto é o primeiro a imaginar a existência de uma espécie de hierarquia dos seres vivos que conduziria ao Homem.
Hipócrates sugere que as mudanças do meio natural são, na origem, transformações do mundo dos seres vivos, conceito este que não é muito diferente do “transformismo” que será desenvolvido por Lamarck dois mil anos mais tarde.
Anaxágoras de Clazomenea tem a intuição de que a matéria é constituída por partículas infinitamente pequenas capazes de se agruparem em categorias semelhantes a fim de produzirem a ordem da natureza.
Demócrito, considera que o mundo é formado por partículas extremamente pequenas, duras e numerosas a que ele chama átomos, isto é, indivisíveis e que se movimentam incessantemente no vazio absoluto que os rodeia o que os leva a encontrarem-se e a agregarem-se uns aos outros produzindo novas formas.
Epicuro desenvolverá este conceito numa visão que faz do universo uma reunião de átomos descontínuos, inalteráveis e eternos.
Não vale a pena continuar com a descrição exaustiva do que foram os contributos dos sábios da antiga Grécia porque o meu objectivo, em termos de conclusão, é de que a inteligência do homem manifesta-se em todo o seu esplendor quando beneficia do contributo de influencias de várias culturas e se desenvolve num quadro religioso que não seja castrador da liberdade de pensamento.
Por estas razões, o período compreendido entre os séculos VI e II A.C. pode considerar-se «chave» na história da humanidade, marcado por uma autêntica explosão do pensamento.
A partir do século II A.C.com a progressão espectacular da «ordem romana» baseada essencialmente em valores militares e mercantis, o mundo ocidental inicia um longo período de estagnação científica.
No século VII, a conquista árabe coloca o essencial da tradição científica do Médio Oriente nas mãos de um povo que até então ignorava a ciência mas os sábios do Islão saberão conservar e desenvolver essa herança.
A partir do século XIII os eruditos árabes da África do Norte, da Sicília e da Espanha transmitirão essa herança ao Ocidente com a qual será iniciado o Renascimento científico.
Durante a primeira parte da Idade Média os verdadeiros sábios, capazes de observar e experimentar são poucos, mal vistos, têm falta de meios e na maior parte das vezes são considerados heréticos e feiticeiros.
O conjunto dos teólogos cristãos dessa época têm como referência as ideias de Platão e Aristóteles que lhes chegam mal traduzidas e das quais só conservam aquilo que é susceptível de apoiar o dogma da criação divina.
As obras de Aristóteles, revistas pelos teólogos cristãos, são a base do ensino escolástico em que só os mestres têm acesso aos textos comentados por eles e para os seus alunos e que culmina com Tomás de Aquino.
Mas homens como Roger Bacon e Guilherme de Ockham, o primeiro ainda contemporâneo de Aquino, mostram-se rebeldes contra o argumento da autoridade que consiste em pretender que uma coisa é necessariamente verdadeira porque Aristóteles o afirma!
Apoiando-se em observações cada vez mais numerosas e experimentações mais exactas, aperfeiçoando os métodos e os instrumentos de pesquisa e pondo, sobretudo, continuamente em causa os resultados obtidos, a Ciência, entre os Séculos XIV e XVIII, teimosamente, irá minar a estrutura autoritária do pensamento escolástico guiado e comandado pela Igreja Católica.
(Heteronimo de Fernando Pessoa)
Sou um guardador de rebanhos
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar numa flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei da verdade e sou feliz.
Uma mulher acorda durante a noite e constata que o marido não está na cama. Veste o robe e desce para ver onde ele está.
Encontra-o na cozinha, sentado, meditativo, diante de uma taça
de café. Parece consternado, olhar fixo na chávena. Tanto mais que o vê a limpar
uma lágrima.
- O que é que se passa, querido?
O marido levanta os olhos e
pergunta-lhe solenemente: Lembras-te, há 20 anos, quando saímos juntos pela
primeira vez? Tu tinhas apenas 16 anos.
Sim, lembro-me como se fosse hoje,
responde ela.
O marido faz uma pausa. As palavras custam a sair.
Lembras-te
quando o teu pai nos surpreendeu enquanto fazíamos amor no banco de trás do
carro?
-Sim, lembro-me perfeitamente, diz a mulher sentando-se ao seu
lado.
O marido continua. Lembras-te quando ele apontou uma arma à minha
cabeça dizendo: ou casas com a minha filha, ou mando-te p'ra cadeia por 20
anos.
Lembro, lembro - responde-lhe ela docemente.
Ele limpa mais uma
lágrima e diz: - Hoje sairia em Liberdade!!!