Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, agosto 02, 2014
CARLOS DO CARMO - NÃO VENHAS TARDE
Alfacinha de gema, Carlos Ramos tornou-se num dos fadistas mais queridos do público português, graças à sua voz quente e à sua postura modesta e discreta - e ao anormal número de grandes êxitos que teve, aliás ligados à popularidade crescente do disco e da televisão, meios de comunicação que explorou com grande sucesso no início da década de sessenta. Contudo, poucos se recordam que, apesar da sua apetência pelo fado vir de criança, só tardiamente Carlos Ramos o abraçou como carreira a tempo inteiro.
De facto, Ramos gostava de ficar a ouvir o fado nas tascas de Alcântara, bairro onde nasceu em 1907, e foi como guitarrista acompanhante que iniciou carreira, aprendendo a tocar guitarra portuguesa na adolescência, nos intervalos dos estudos liceais. Estudou para médico, mas a morte do pai, com apenas 18 anos, obrigou-o a trabalhar para sustentar a família, dedicando-se à radio-telegrafia, ofício que aprendera no serviço militar e do qual faria carreira profissional. Continuava, contudo, a tocar e cantar nas horas vagas, primeiro apenas como acompanhante (nomeadamente de Ercília Costa numa digressão americana) depois também como fadista em nome próprio, acompanhando-se a si próprio à guitarra, acabando, a conselho de Filipe Pinto, por se profissionalizar como cantor em 1944. Estreou-se então no Café Luso, no Bairro Alto, criando Senhora do Monte o seu primeiro grande êxito.
Ao longo da sua carreira, Carlos Ramos viria a especializar-se no fado-canção, género inicialmente pensado para os palcos de revista, e no qual conseguiria alguns dos seus maiores êxitos: Não Venhas Tarde e Canto o Fado. Frequentador regular das casas típicas de Lisboa durante as décadas de quarenta e cinquenta, fez também uma breve carreira internacional, participou em revistas e filmes e tornar-se-ia em 1952 artista exclusivo da casa de fado Tipóia, ao lado de Adelina Ramos, de onde sairia para, em 1959, abrir a sua própria casa, A Toca, experiência cujo sucesso não correspondeu às expectativas. Uma trombose ocorrida em meados da década de sessenta viria terminar abruptamente a sua carreira artística. Ramos morreria alguns anos mais tarde, em 1969.
Também ela lisboeta de gema, ele era o fadista mais querido da minha mãe.
Poema do Menino Jesus
Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?
Alberto Caeiro
Recordar é voltar a viver de mansinho... |
Recordar é voltar
a viver
de mansinho...
a viver
de mansinho...
Há dois momentos da vida em que sentimos problemas de solidão. O primeiro, quando na juventude, já crescidos, naquela frase de transição para homem, nos apercebemos de que a vida a sério nos espera, que para trás ficaram os cuidados, apoios e afectos que nos rodearam como se nos fossem devidos dando depois lugar a um medo que mais parece solidão face a um futuro desconhecido que está já aí.
O outro momento em que voltamos a sentir
solidão é quando nos apercebemos que a vida começa a despedir-se de nós, quando
as saudades e recordações nos preenchem o pensamento como campainhas a tocar
alertas para o fim que se aproxima.
Também, neste caso, é um medo revestido
de solidão porque todos começaram a ir embora e nós ficamos cada vez mais sós,
aguardando a vez…
Há um ciclo biológico que se cumpre,
inexoravelmente, com frieza, como se não tivéssemos sentimentos… ao mesmo ritmo,
com idêntica cadência num desprezo total pelo nosso mundo do de afectos.
Seria justo que esse ritmo abrandasse,
cedesse um pouco quando estamos a ser felizes, em paz com a vida, ou não é a
felicidade para nós, homens e mulheres deste planeta, o grande e principal
desígnio?
De resto, toda ela decorre num cenário
de amores de muitas tonalidades, umas fortes e arrebatadoras, outras calmas e
tépidas roçando, por vezes, uma aparente indiferença.
Quando, pelos meus catorze, qui nze anos, entrei num Colégio interno, quase em
regime de clausura com tantos colegas à minha volta, surpreendentemente
senti-me só pela mesma razão que uma árvore isolada me acolhe e protege mas a
floresta me amedronta e retrai.
Tanta vida eufórica à minha volta cavou em mim
um vazio… não havia afectos, o relacionamento era de disputas, conflitos,
alianças, quando muito algumas simpatias também provocadas pelo mesmo
isolamento.
Em meu socorro veio a comunidade da
língua portuguesa na forma de cartas em envelopes com moldura amarelo e verde
enviadas por uma jovem da minha idade da cidade de Campinas, no Brasil, que
aceitara corresponder-se comigo.
Durante todo esse período de alguns anos
fechado no Colégio, com os meus pais divorciados e desavindos, foi a Dulce a
árvore a que me acolhi no seio daquela floresta de “mal comportados”…
Esperava as suas cartas com uma
ansiedade que me queimava o coração. O Director, o velho mas rijo professor
Raul Lopes, encaminhava-se para os degraus da escada com o maço das cartas
debaixo do braço e virava-se para os alunos que aguardavam a leitura dos nomes
nos sobrescritos.
Eu não precisava de ouvir, ninguém me
escrevia, bastava vislumbrar no conjunto das cartas o envelope debruado a amarelo
e verde, vindo do Brasil. Alegrava-se-me a alma, eufórica, quando o via e
ficava desejando ser o último para prolongar o prazer de o receber.
Depois do jantar, na sala de aulas para
o estudo, disfarçava o papel de carta de avião dentro do caderno, debruçava-me
sobre a carteira e no tempo que se seguia não havia aluno mais concentrado nem
minutos que passassem mais depressa…em toda a minha vida aqueles viriam a
ser os momentos mais íntimos, mais sonhados, de maior comunhão… Nenhuma
barreira seria capaz de me segurar na cadeira daquela sala, dentro daquelas
paredes, naquele edifício de onde eu voava até junto de uma jovem loira,
cabelos compridos, que tocava violão e que eu imaginava olhando-me nos olhos,
bebendo as minhas palavras.
Como eu me sentia? … não sei explicar se
era êxtase, felicidade, eu só tinha qui nze
anos! O que ia naquelas cartas eram bocadinhos de mim mesmo, não eram palavras,
era eu próprio… A Dulce percebia isso, os jovens da mesma geração entendem-se
como almas gémeas.
Como teria sido se estivéssemos um ao pé do
outro? Não seria, de certo, com tanta intensidade… aquela distância toda,
aquele oceano Atlântico a separar-nos, o destino, cada um para seu lado em
partes tão diferentes do mundo, tão longe um do outro e ainda tão meninos… Como
é poderoso o amor platónico vivido dentro de nós.
Como foi lindo!... Não voltei a ter
outros momentos assim em toda a minha vida. A capacidade para sonhar aos qui nze anos quando se está só e carente não tem
limites e esta jovem que eu nunca conheci pessoalmente preencheu um troço da
minha vida em que eu não tinha mais ninguém, quando estava só e ela foi, na
realidade, a grande namorada da minha vida.
Espero e desejo, Dulce, que tenhas sido
feliz. A mensagem que captei ao longo dos anos em que nos escrevemos provinha de
uma pessoa doce e boa.
Tantos anos passaram… uma vida já longa
e, no entanto, tudo está fresco na minha memória como se tivesse sido ontem,
tal como nos velhos edifícios de granito nos quais o tempo não consegue
beliscar.
É
isso, pedra de granito, a natureza de algumas recordações que nos acompanham
toda a vida, teimosas, dizendo-nos silenciosas: - “ só saio quando te fores embora...”
O rio das Cobras |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 17
- Não recusava cachaça mas no cabaré bebia vermute misturado com conhaque.
Nas casas-grandes, os coronéis, podres
de ricos, nem por isso
reclamavam menos:
-
Turco, tu tá roubando demais. Onde já se viu um patacão
vagabundo, de níquel — que isso nunca
foi prata —, custar essa dinheirama toda? É um assalto à mão armada, assim não
há cacau que chegue...
Fadul jurava que em Ilhéus um relógio
daquela qualidade,
prata de lei, custava o dobro.
A
mala aberta sob os olhos cúpidos das patroas, mantinha-se atento ao movimento
da cozinha de onde chegava o odor dos escaldados, o sublime aroma da feijoada -
para ele não havia prato que se pudesse comparar à feijoada: o toucinho farto,
as carnes de salpresa (levemente salgadas) e de fumeiro, paios e linguiças; em
matéria de apetite, saíra ao tio padre.
Um bom sujeito, prestativo. Bom
inclusive para adjutorar (ajudar) moribundo, facilitando-lhe a passagem desta
para melhor, depressa e em paz.
Em ocasiões assim penosas era de grande
ajuda: não havia apego à vida por mais ferrenho que resistisse ao vozeirão e à
pronúncia de Fadul. Aquele fúnebre cantochão arrancava lágrimas a jagunços desalmados.
Nas brenhas do cacau, quem qui sesse juntar dinheiro sem possuir roça plantada
em terra própria tinha de multiplicar suas aptidões. Vendedor ambulante,
carregando a loja ao lombo, o Turco Fadul exercia a medicina com frequência, o
sacerdócio quando necessário. Operava abscessos, retirava carnegões; limpava feridas
com água oxigenada, queimava-as com iodo.
Na mala, quatro remédios infalíveis: Maravilha
Curativa, Saúde da Mulher, Pomada de São Lázaro e óleo de rícino.
Com eles, tratava qualquer doença — excepto
a bexiga negra e a febre maldita, para essas não havia jeito a dar. Atendeu e
curou muito povo naquele sertão sem médico nem farmácias, sem nenhum socorro.
Sacristão na aldeia libanesa, acolitando
padre Said nos misteres do culto, não vacilava em baptizar crianças que sem sua
ajuda morreriam pagãs, sem direito ao reino dos céus.
Abençoou casais amancebados,
retirando-os do pecado em que viviam, concedendo-lhes nova condição social e
pretexto para uma folgança com cachaça e arrasta-pé.
Seu Fadu apreciava um bate-coxas puxado a sanfona;
par de primeira na opinião das moças.
De posse da arma, Fadul Abdala decidiu
ampliar a área de
suas actividades, passando a emprestar
dinheiro a juros.
Fazia-o com prudência, escolhendo a quem
confiar seu módico capital, seu rico dinheirinho; com prazos estritos para
pagamento e complicada tabela de ágios.
Visível sob a aba do paletó, o pau-defogo. Oferta,
sabiam todos, do capitão Natário, prova de amizade.
Com a agiotagem, fez crescer o
pé-de-meia e viu aproximar-se
a hora de arriar para sempre a mala de
mascate, erguer uma biboca onde vender de um tudo.
Faltava-lhe apenas escolher o lugar de mais
futuro, povoado recente onde ainda não existisse concorrência.
Ao descrever a paragem onde se perdera e
repousara, soube que o nome daquele sitio era Tocaia Grande, assim denominado por
ter sido cenário de tenebrosa emboscada seguida de matança a sangue-frio alguns
anos antes nas desapiedadas brigas dos coronéis pela posse das derradeiras
matas — naquelas bandas do rio das Cobras já não existia palmo de terra que não
tivesse dono.
sexta-feira, agosto 01, 2014
IMAGEM
Biblioteca de Efesos
Foi construída em Éfeso, no território que era tradicionalmente um centro grego. O edifício é importante como um dos poucos exemplos remanescentes de uma biblioteca de antiga influência romana. Ela também mostra que as bibliotecas públicas foram construídas não só na própria Roma, mas em todo o Império Romano.
Em uma restauração maciça que é considerada ser muito fiel ao histórico edifício, a fachada frontal foi reconstruída na década de 1960 e 1970 e agora serve como um excelente exemplo de arquitectura pública romana. A Biblioteca de Celso pode servir de modelo para outras, bem menos conservadas, bibliotecas em outras partes do Império, pois é possível que as colecções literárias foram alojadas em outras cidades romanas para o benefício dos estudantes, bem como viajantes romanos. Essas bibliotecas também podem ter abrigado colecções de documentos de interesses locais, se elas não foram destruídas durante a conquista romana.
Tive o prazer de a visitar em duas vezes das três em que fui à Turquia, uma em cruzeiro ao Mediterrâneo e as outras em excursões que me foram proporcionadas pelo Círculo dos Leitores há anos conforme aqui contei. Foi um autêntico regresso às nossas origens civilizacionais.
CAMADA DE NERVOS - O DÓTOR É QUE SABE...
Estes diálogos são completamente inventados sem nenhuma relação com a realidade...
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Vista da cidade do Porto |
E Viva
o Porto!
o Porto!
Visitei o Porto, visita rápida como a
dos médicos só que eu não tinha doentes à minha espera. E realmente a sensação
é a de quem visita uma terra de gente doente na pessoa do motorista de táxi que me transportou da Estação dos C.F. ao Hotel.
Tristonho, revoltado, descorçoado, mal-dizente da vida… apenas a fé inabalável no seu F.C. Porto e no inefável e infalível Pinto da Costa, orgulho dos dragões, garantia de vitória.
Tristonho, revoltado, descorçoado, mal-dizente da vida… apenas a fé inabalável no seu F.C. Porto e no inefável e infalível Pinto da Costa, orgulho dos dragões, garantia de vitória.
Quanto ao resto é o desânimo, ou porque
o Estado levou a casa construída com o dinheiro ganho em dezassete anos
emigrado na Venezuela, ou porque, pura e simplesmente, não há trabalho, não há
clientes.
Horas e horas ao volante de um táxi que não é dele, remunerado à comissão, para chegar ao fim do dia e levar para casa cerca de dez euros… e isto quase aos sessenta anos.
Horas e horas ao volante de um táxi que não é dele, remunerado à comissão, para chegar ao fim do dia e levar para casa cerca de dez euros… e isto quase aos sessenta anos.
Vida cruel, esta: trabalha-se anos e
anos, sabe-se lá em que condições, regressa-se à terra saudoso, constrói-se a
casa sonhada e depois vem o cobrador de impostos e leva a casa…
Que importam os pormenores, a história... Os erros já
estão feitos, as ingenuidades cometidas. Atrás daquele volante regressou ao
ponto zero da sua vida, velho e gasto, ainda se tivesse vinte anos.
Penso na sociedade onde tudo isto
acontece e neste capitalismo neoliberal que foi esperança e desafio depois do
comunismo em que alguns pensaram que se poderia conseguir o paraíso na terra e agora com um capitalismo motor do desenvolvimento em que as forças reguladoras
garantiriam o funcionamento para o bem estar para todos.
Mas a realidade foi outra. A cobiça, a
ambição e a voragem de homens concretos de caras que agora vão aparecendo com
estrondo nos jornais, fizeram das medidas reguladoras “gato sapato”, chamaram a
si os políticos, gente fraca, sem forças para resistirem ao canto da sereia e o
resultado é uma sociedade triste, empobrecida, de cidadãos resignados, à boa
maneira portuguesa, sem saberem bem o que pensar.
-
… Mas o senhor tem dúvidas de que o F. C. Porto vai voltar ganhar outra vez o
campeonato e iniciar um novo ciclo de vitórias?
-
Eu, não … com pena minha, sinceramente, não tenho, pensei mas não disse.
Mas vendo bem, talvez aquele
motorista de praça a começar a vida novamente a partir do zero quase aos
sessenta anos, esteja mais precisado das alegrias do seu Porto que eu do meu
Sporting.
Mulher magra para ele não tinha valor |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 16
Entre as mulheres da vida, gozava de
popularidade. Não se negava a cobrar em espécie caixa de pó-de-arroz, lata de
brilhantina, frasco de água-de-cheiro ou os juros de pequeno empréstimo.
Havia casos, raros é bem verdade, de
prendas grátis, em dias
de extravagância, quando, tomado de amores,
o Grão-Turco perdia o siso: anéis de metal com pedras de vidro, faiscantes;
brincos de fantasia, enfeites lindos. Bijuterias recebidas com emoção, mais
apreciadas do que uma pelega de cinco mil-réis por serem regalos, signos de
bem-querer e não acintoso pagamento.
Sentimental, Fadul se enxodozava com certa
freqüência. Tinha predilecção por moças de farta carnação, de peitaria saliente:
seios volumosos, bons para apertar com a mão enorme.
Mulher magra para ele não tinha valor,
quem aprecia ossos é coveiro, como diz o povo coberto de razão.
Conhecido e estimado em fazendas e
povoados, possuía
compadres e afilhados. Fiava com
relativa facilidade mas, na época do vencimento, mais dia menos dia, comparecia
para cobrar a dívida.
Se o freguês mudava de residência, ia
descobri-lo onde estivesse, andava léguas e léguas, implacável. Admitia atrasos
mas, para compensá-los, introduziu a norma do juro bancário nas selvas do
cacau: além de mercadorias, conduzia o progresso na mala de mascate.
Prudente, conciliador, houve quem o
tomasse por medroso,
tamanho corpanzil e tão cagão, juízo que
não fez carreira: armado com um simples canivete, seu Fadu cobrou dívida a
Terêncio, cabra de maus bofes, clavinoteiro.
Garguelou o empapuçado, pinicou-lhe o gogó com
a lâmina afiada — usada para descascar laranjas e rasgar furúnculos - recebeu na hora os três mil-réis, os juros e
as desculpas.
Ao saber desse enredo, o capitão Natário, morto
de riso, achou-o sobretudo cómico. Sem embargo, tendo o regatão em grande
estima, deu-lhe um revólver de presente: por vezes a força das mãos e um
canivete não são suficientes. Um queimante impõe respeito, compadre.
Livrou-se da acusação de frouxo, jamais
da de ladrão. Essa
cresceu e correu mundo, notória e unânime.
No mercado improvisado à sua chegada nas fazendas, tratavam-no de turco ladrão enquanto
pechinchavam no preço das mercadorias expostas: convidativas e cobiçadas.
Fingindo-se ferido em seus melindres, seu Fadul ameaçava recolher chitas e
alfinetes, pentes e broches, cintos e cartucheiras, a sedução irresistível do
comércio, e ir vender mais adiante.
A
negociação prosseguia entre exclamações e pragas, risos e suspiros, insultos e
lisonjas: de gatuno a turqui nho bendito
de minha alma.
Diziam-lhe ladrão na tampa mas sem
raiva, sem intenção de
ofensa, fazia parte do engodo, da
pechincha, do prazer da compra e venda.
Gatuno, sem dúvida, mas um homem bom
como aliás ele
próprio não se cansava de afirmar aos
berros:
-
Turco ladrão é a mamãezinha de vocês. Queria saber, se
não fosse Fadul, homem bom, temente a
Deus, quem é que ia vir nesse cu-de-judas para servir vocês? Em vez de me
xingar, deviam me agradecer e convidar para um gole de pinga, povo ingrato!
quinta-feira, julho 31, 2014
António José Seguro |
O Surfista
de Penamacor
Seguro partiu para as directas derrotado e isso não sucede por acaso, a percepção que os eleitores têm do líder do PS é a de alguém sem ideias, sem projectos, sem grande coragem, que ao longo de três anos não se conseguiu afirmar como líder da oposição. Restava a Seguro demonstrar aos eleitores que tinham uma imagem errada e em certa medida foi isso que fez, mas de forma errada.
Seguro não percebeu que as primárias são a primeira volta das eleições legislativas e que o seu verdadeiro adversário é Passos Coelho. Depois de muitos debates que perdeu no parlamento e de ter deixado a ideia de ser menos corajoso e competente do que o primeiro-ministro esperava-se que viesse contrariar esta opinião que tende a generalizar-se.
Em vez disso optou pelo confronto pouco leal com António Costa, tentando por todos os meios dizer que António Costa é pior do que ele, que é uma péssima pessoa e nos últimos dias tem vindo a tentar deixar a ideia de que o seu adversário é uma pessoa duvidosa.
Em vez disso optou pelo confronto pouco leal com António Costa, tentando por todos os meios dizer que António Costa é pior do que ele, que é uma péssima pessoa e nos últimos dias tem vindo a tentar deixar a ideia de que o seu adversário é uma pessoa duvidosa.
Sobre si próprio Seguro tem dado uma péssima imagem ao agarrar-se a valores duvidosos e fazendo surf nos acontecimentos do dia a dia.
Sempre que ocorre algo, Seguro corre para as televisões afirmando-se do lado das virtudes e sugerindo o que António Costa está do lado dos defeitos. Esperemos que não ocorra algum homicídio grave porque é bem provável que Seguro venha dizer que nunca foi capaz de matar uma mosca, já não se podendo dizer o mesmo de Costa que será um serial killer em potência.
Sempre que ocorre algo, Seguro corre para as televisões afirmando-se do lado das virtudes e sugerindo o que António Costa está do lado dos defeitos. Esperemos que não ocorra algum homicídio grave porque é bem provável que Seguro venha dizer que nunca foi capaz de matar uma mosca, já não se podendo dizer o mesmo de Costa que será um serial killer em potência.
Um exemplo do oportunismo de Seguro é a sua adesão recente ao ruralismo, depois de décadas a dar ares de "betinho" aparece agora agarrado ao velho ruralismo que tanto sucesso teve em Portugal.
Seguro é o beirão por oposição aos cortesãos inúteis da capital, ele representa o velho ruralismo luso, os bons valores do trabalho e da família. O problema é que Seguro parece não perceber que o país já teve dois como ele, um era de Santa Comba e o outro é de Boliqueime. Não revela muita inteligência tentar conquistar a esquerda com os piores valores da direita.
Seguro é o beirão por oposição aos cortesãos inúteis da capital, ele representa o velho ruralismo luso, os bons valores do trabalho e da família. O problema é que Seguro parece não perceber que o país já teve dois como ele, um era de Santa Comba e o outro é de Boliqueime. Não revela muita inteligência tentar conquistar a esquerda com os piores valores da direita.
Outro exemplo é o que se tem passado com o BES, Seguro tentou passar a imagem do político responsável, pediu uma entrevista com o governador do BdP a que esse rapidamente acedeu para o ajudar na sua campanha e depois da reunião veio tranquilizar tudo bem, porque tudo se ia resolver no BES. De seguida recebeu o novo presidente do BES e mais uma vez apareceu com ares de político responsável. Agora, mudou de ideias, começou por criticar a ligação dos negócios à política e até já está indignado com a dimensão dos prejuízos no banco.
António Costa que se absteve de se meter no caso BES, que não recebeu nenhum presidente de banco é agora acusado pelo ruralista Seguro de misturar negócios com política. Seguro aproveita os acontecimentos para sujar António Costa de forma muito porquinha, o ruralista deu lugar ao surfista de Penamacor.
O Jumento
Anedota do Mês!
Duas gajas boas, mesmo boas, mesmo muito boas, resolveram brincar com um velhinho com mais de 80 anos.
Aproximaram-se e disseram-lhe:
- Ó velhinho, diz-nos uma coisa. O que é que fazias com duas gajas tão boas como nós?
- Com as duas, não fazia nada. Mas com mais quatro ou cinco como vós, abria uma casa de putas!