sábado, fevereiro 11, 2012

UMA PÈROLA MUSICAL

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Com este frio que agora faz na europa...

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GLEN CAMPBEL - RHINESTONE COWBOY

Canções dos Anos 60


VÍDEO


Este diálogo, gravado secretamente, entre o Comandante de um Porta-Aviões da Marinha dos E.U.A. e um Faroleiro espanhol seria um sucesso em qualquer peça de teatro humorístico. Não deixe de ouvir...



Num autocarro, um padre sentou-se ao lado de um bêbado que, com dificuldade, lia o jornal.
De repente, com a voz empastada, o bêbado perguntou ao padre:
- O senhor sabe o que é artrite?
O padre logo pensou em aproveitar a oportunidade para passar um sermão ao bêbado e respondeu-lhe:
- É uma doença provocada pela vida pecaminosa e sem regras: excesso de consumo de álcool, certamente mulheres perdidas, promiscuidade, sexo, farras e outras coisas que nem ouso dizer.
O bêbado arregalou muito os olhos, calou-se e continuou lendo o jornal.
Pouco depois o padre, achando que tinha sido demasiadamente duro com o bêbado, tentou amenizar e pergunta-lhe:
- Há quanto tempo é que o senhor está com artrite?
- Eu?... Eu não tenho artrite!...
Diz aqui no jornal, que quem tem é o Papa!

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES


À ENTREVISTA Nº 38 SOBRE O TEMA:



“A CASTIDADE” (3)


Em outras culturas não é assim

Entre os povos nativos da América Latina não há a separação que o cristianismo promoveu entre sexualidade e divindade. Nas sociedades pré-colombianas celebrava-se a sexualidade como uma força poderosa e sagrada que favorecia o desenvolvimento da comunidade e a ligava ao divino.

Ao contrário do Deus judaico, varão e solitário, nas tradições pré-colombianas originárias, há sempre deusas e deuses que praticam o amor sexual, projectando assim uma sacralização da igualdade entre homens e mulheres na comunidade.

Ao contrário das tradições cristãs - que fazem do sexo um tabu de que ninguém fala - eles têm uma visão da sexualidade positiva e sagrada da qual se desprendem muitos ritos ainda hoje praticados por esses povos. Por exemplo, os ritos de iniciação que marcam a passagem da infância para a idade adulta são festivais espirituais e celebrações que começam com as etapas da educação sexual, onde as mulheres têm sempre um papel de liderança.

Ainda hoje, nos povos da região andina, as mulheres jovens e os jovens praticam o "casamento experimental” ("servinacuy"), vivendo juntos um ano antes de casarem. Em todos esses povos a menstruação feminina é celebrada e em todas elas se usaram e se usam contraceptivos naturais de forma a evitar ou interromper a gravidez. De tudo o que ainda resta dessas crenças e costumes temos muito a aprender.

GABRIELA


CRAVO

E

CANELA

Episódio Nº 20


- Ouvi dizer que um virou na ponte do rio Cachoeira.

- Conversa fiada. Vão e vêm cheias. Um negoção.

- Olhe que agora se vê de um tudo em Ilhéus, hem, seu Nacib? Me contaram que no hotel novo vai ter até um tal elevador, uma caixa que sobe e desce sozinha…

- Quer acordar o Chico?

- Já estou indo… Que não vai ter mais escada, t’esconjuro!

Nacib ficou ainda uns momentos na janela olhando o navio da Costeira, do qual o prático se aproximava. Mundinho Falcão devia vir nesse navio, assim alguém dissera no bar. Cheio de novidades certamente. Chegariam também novas mulheres para os cabarés, para as casas da Rua do Unhão, do Sapo, das Flores.

Cada navio da Baía, de Aracaju ou do Rio trazia um carregamento de raparigas. Talvez também chegasse o automóvel do Dr. Demóstenes, o médico estava ganhando um dinheirão, era o primeiro consultório da cidade. Vali a pena vestir-se e ir ao porto, assistir ao desembarque.

Lá encontraria certamente a turma habitual, os madrugadores. E quem sabe se não lhe dariam notícias de uma boa cozinheira, capaz de arcar com o trabalho do bar?

Cozinheira em Ilhéus era raridade, disputada pelas famílias, pelos hotéis, pensões e bares. O diabo da velha… E logo quando ele havia descoberto essa preciosidade, a Risoleta!

Quando precisava estar com o espírito tranquilo… Por uns dias, pelo menos, não via outro jeito, ia ter de cair nas unhas das irmãs Dos Reis. Coisa complicada é a vida: ainda ontem tudo marchava tão bem, ele não tinha preocupações, ganhara duas partidas de gamão seguidas contra um parceiro da força do Capitão, comera uma moqueca de siris realmente divina em casa de Maria Machadão e descobrira aquela novata, a Risoleta…

E já hoje, de manhãzinha, estava atravancado de problemas… Uma porcaria! Velha maluca… A verdade é que sentia saudades dela, de sua limpeza, do café da manhã com cuscuz de milho, batata-doce, banana-da-terra frita, beijus… De seus cuidados materiais, de sua solicitude, mesmo dos seus resmungos. Quando uma vez ele caíra com febre, o tifo, na época endémico na região, como o paludismo e a bexiga, ela não arredara do quarto, dormia mesmo no chão. Onde arranjaria outra como ela?

Dª. Arminda voltava à janela:

- Já acordou seu Nacib. Está tomando banho.

- Vou fazer o mesmo. Obrigado.

- Depois venha tomar café com a gente. Café de pobre. Quero lhe contar o sonho que tive com o finado. Ele me disse: “Arminda, minha velha, o Diabo tomou conta da cabeça desse povo de Ilhéus. Só pensam em dinheiro, só pensam em grandezas. Isso vai terminar mal… muita coisa vai começar a acontecer…”

- Pois para mim, Dª. Arminda, já começou… com essa viagem de Filomena. Pra mim já começou.

Disse em tom de mofa, não sabia que tinha começado mesmo. O navio recebia o prático, manobrava em direcção à barra.

(Click na imagem da linda cidade de Ilhéus, vista do mar, com a linha do porto onde atracou o navio de Mundinho Falcão proveniente do Rio de Janeiro.)

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

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Estes são os nossos concorrentes asiáticos...

(click na imagem)

Vídeo


E agora, quem paga?.

NEIL DIAMOND - SWEET CAROLINE

As maravilhosas canções dos anos 60...

Este email tem origem no Brasil mas igualmente por cá a ideia começa há de há muito a ser fortemente considerada!
É o reverso da medalha da Globalização: a diferença de culturas e de civilizações, de direitos sociais e políticos, etc...

A China do Futuro e o Futuro é Hoje...
A verdade é que agora, tudo o que compramos é Made in China.
... Eis um aviso para o futuro!
Mas quem liga para esse aviso?
Atualmente .... Ninguém !
Agora é só ....aproveitar E APROVEITAR ...!
E depois como será para os nossos filhos ?

JÁ PENSOU COMO FICARÁ A CHINA DO FUTURO?

Luciano Pires é diretor de marketing da Dana e profissional de comunicação.

Alguns conhecidos voltaram da China impressionados.
Um determinado produto que o Brasil fabrica em um milhão de unidades, uma só fábrica chinesa produz quarenta milhões...
A qualidade já é equivalente. E a velocidade de reação é impressionante.
Os chineses colocam qualquer produto no mercado em questão de semanas....
Com preços que são uma fração dos praticados aqui.

Uma das fábricas está de mudança para o interior, pois os salários da região onde está instalada estão altos demais: 100 dólares.
Um operário brasileiro equivalente ganha 300 dólares no mínimo que acrescidos de impostos e benefícios representam quase 600 dólares.
Quando comparados com os 100 dólares dos chineses, que recebem praticamente zero benefícios.... estamos perante uma escravatura amarela e alimentando-a...

Horas extraordinárias? Na China...? Esqueça !!!
O pessoal por lá é tão agradecido por ter um emprego que trabalha horas extras sabendo que não vão receber nada por isso...

Atrás dessa "postura" está a grande armadilha chinesa.
Não se trata de uma estratégia comercial, mas sim de uma estratégia de "poder" para ganhar o mercado ocidental .

Os chineses estão tirando proveito da atitude dos 'marqueteiros' ocidentais, que preferem terceirizar a produção ficando apenas com o que ela "agrega de valor": a marca.

Dificilmente você adquire atualmente nas grandes redes comerciais dos Estados Unidos da América um produto "made in USA". É tudo "made in China", com rótulo estadunidense.

As empresas ganham rios de dinheiro comprando dos chineses por centavos e vendendo por centenas de dólares...
Apenas lhes interessa o lucro imediato e a qualquer preço.
Mesmo ao custo do fechamento das suas fábricas e do brutal desemprego. É o que pode-se chamar de "estratégia preçonhenta".

Enquanto os ocidentais terceirizam as táticas e ganham no curto prazo, a China assimila essas táticas, cria unidades produtivas de alta performance, para dominar no longo prazo.

Enquanto as grandes potências mercadológicas que ficam com as marcas, com o design...suas grifes, os chineses estão ficando com a produção, assistindo, estimulando e contribuindo para o desmantelamento dos já poucos parques industriais ocidentais.

Em breve, por exemplo, já não haverá mais fábricas de tênis ou de calçados pelo mundo ocidental. Só haverá na China.

Então, num futuro próximo veremos os produtos chineses aumentando os seus preços, produzindo um "choque da manufatura", como aconteceu com o choque petrolífero nos anos setenta. Aí já será tarde de mais.
Então o mundo perceberá que reerguer as suas fábricas terá um custo proibitivo e irá render-se ao poderio chinês.

Perceberá que alimentou um enorme dragão e acabou refém do mesmo.

Dragão este que aumentará gradativamente seus preços, já que será ele quem ditará as novas leis de mercado, pois será quem manda, pois terá o monopólio da produção .

Sendo ela e apenas ela quem possuirá as fábricas, inventários e empregos é quem vai regular os mercados e não os "preçonhentos".

Iremos, nós e os nossos filhos, netos... assistir a uma inversão das regras do jogo atual que terão nas economias ocidentais o impacto de uma bomba atômica... chinesa.

Nessa altura em que o mundo ocidental acordar será muito tarde.

Nesse dia, os executivos "preçonhentos" olharão tristemente para os esqueletos das suas antigas fábricas, para os técnicos aposentados jogando baralho na praça da esquina, e chorarão sobre as sucatas dos seus parques fabris desmontados..

E então lembrarão, com muita saudade, do tempo em que ganharam dinheiro comprando "balatinho dos esclavos" chineses, vendendo caro suas "marcas- grifes" aos seus conterrâneos.

E então, entristecidos, abrirão suas "marmitas" e almoçarão as suas marcas que já deixaram de ser moda e, por isso, deixaram de ser poderosas pois foram todas copiadas....

REFLITAM E COMECEM A COMPRAR - JÁ - OS PRODUTOS DE FABRICAÇÃO NACIONAL, FOMENTANDO O EMPREGO EM SEU PAÍS, PELA SOBREVIVENCIA DO SEU AMIGO, DO SEU VIZINHO E ATÉ MESMO DA SUA PRÓPRIA... E DE SEUS DESCENDENTES.

Não valorize apenas preço!
Valorizem o produto nacional!
Influencie outros a mudarem seus conceitos como consumidor!
Pense num futuro próximo(2 a 5 anos)!

"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons..."



(Milhões de homens como este que aceitam trabalhar sem condições e a qualquer preço, desrespeitando a sua dignidade de pessoas, ao serviço de um regime sem escrúpulos, esmaga em concorrência qualquer economia ocidental. Nestas condições, o comércio livre de produtos beneficiou a quem?)

Vídeo

Arregale os olhos e veja o que parece perfeitamente impossível...

COMENTÁRIOS ADICIONAIS


À ENTREVISTA Nº 38 SOBRE O TEMA:


“A CASTIDADE” (2)

Sexualidade: Uma Fonte de Pecado



O mito de Adão e Eva e o pecado original - o mito fundador da cultura judaico-cristã, expressa já uma visão profundamente patriarcal. Este mito foi entendido pelo cristianismo desde muito cedo como a explicação para a origem de todos os sofrimentos e males do mundo como prova de que nós nascemos ruins e poluídos pelo pecado como a raiz da inferioridade do corpo perante o espírito, como base para a discriminação das mulheres, vendo em todas elas "clones" de Eva e, portanto, transportadoras de um corpo que é a tentação, risco e veículo para o pecado. A mulher é a "porta de entrada do diabo", disse Tertuliano.

Este conjunto de ideias doentias, alheias à mensagem de Jesus, mas já presentes no judaísmo do seu tempo, alimentou - se depois de preconceitos semelhantes presentes no helenismo e enraizou-se na doutrina dos Padres da Igreja, que tiveram uma visão de sexualidade, especialmente da sexualidade feminina, profundamente negativa. O Sexo, deixou de ser a expressão de um prazer sagrado, um veículo sublime da comunicação humana, uma metáfora do amor de Deus, para se tornar sujo, negativo e degradante. Sob essa influência, e desde os primeiros séculos cristãos, considerou-se que a castidade e a abstinência, a rejeição de contacto físico com mulheres, era uma virtude sublime que se acercava mais de Deus e da "perfeição".

Essa visão rapidamente se ancorou na teologia e em breve se traduziu em leis que afectaram a espiritualidade cristã.

Toda a moral sexual cristã, especialmente a da Igreja Católica - que considera, até hoje, "intrínseca e gravemente desordenada" uma expressão da sexualidade tão inócua e normal como a masturbação - herdeira dos tabus derivados do mito de Adão e Eva.

Nos últimos anos, os teólogos de todo o mundo têm trabalhado para construir uma visão alternativa da sexualidade mas o dano causado a gerações e gerações de pessoas é incomensurável.

Até mesmo a trivialidade e a banalização do sexo vivido agora por uma grande parte da juventude pode ser interpretada como uma reacção de rejeição ao peso insuportável de tabus impostos durante séculos de repressão e obscurantismo.

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA



Episódio Nº 19


Ela não tirava os olhos das manchas de batom. Nacib sobressaltou-se: seria que as tinha também no rosto? Provável, muito provável.

- Pois é o que eu sempre digo: homem trabalhador como seu Nacib há poucos em Ilhéus… Até de madrugada…

- E logo hoje – lastimou-se Nacib – com um jantar para trinta pessoas encomendado no bar para amanhã de noite…

Eu nem senti quando o senhor entrou, e olhe que fui dormir tarde, mais de duas da manhã…

Nacib rosnou qualquer coisa, essa Dª. Arminda era a curiosidade em pessoa:

- Por aí… agora quem vai preparar o jantar?

- Um caso sério. Comigo o senhor não pode contar. Dª Elisabeth está esperando a qualquer momento, até já passou o dia. Foi por isso que fiquei acordada, seu Paulo podia aparecer de repente. Além do mais, essa coisa de comida fina não sei fazer…

Dª. Arminda, viúva, espírita, mãe de Chico Moleza, rapazola empregado no bar de Nacib, era parteira afamada: inúmeros ilheenses, nos últimos vinte anos, tinham nascido em suas mãos e as primeiras sensações do mundo a sentirem foram seu activo cheiro de alho e sua face avermelhada de sarará.

- E Dª. Clorinda já teve menino? O Dr. Raul não apareceu no bar ontem…

- Já ontem de tarde. Mas chamaram o médico, esse tal de Dr. Demóstenes. Essas novidades de agora. O senhor não acha uma indecência médico pegar criança? Ver mulher dos outros toda nua? Sem vergonhice…

Para Arminda aquele era um assunto vital. Os médicos começavam a fazer-lhe concorrência, onde já se vira tal descaração, médico a espiar mulher dos outros nua nas dores do parto… Mas Nacib preocupava-se com o jantar do dia seguinte e com os doces e salgados para o bar, problemas sérios criados pela viagem de Filomena:

- É o progresso, Dª. Arminda. Essa velha pintou o diabo comigo…

- Progresso? Descaração é o que é…

- Onde vou arranjar cozinheira?

- O jeito é encomendar às irmãs Dos reis…

- Careiras, arrancam a pele da gente… E eu que já tinha arrumado duas cabrochas para ajudar Filomena…

- O mundo é assim seu Nacib. Quando a gente menos espera é que sucede. Eu, felizmente, tenho o finado 1que me avisa. Ainda outro dia, o senhor nem pode imaginar… Foi uma sessão em casa do compadre Deodoro…

Mas Nacib não estava disposto a ouvir as repetidas histórias de espiritismo, especialidade da parteira.

- Chico já acordou?

- Qual o quê, seu Nacib. O pobre chegou mais de meia-noite.

- Por favor, acorde ele. Preciso tomar providências. A senhora compreende: um jantar para trinta pessoas, tudo gente importante, comemorando a linha de marinetes…

(Na Imagem uma praia de Ilhéus)

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Aumente o ecrã e disfrute...

CONNIE FRANCIS - WHO'S SORRY NOW

(Canções dos Anos Sessenta)

Connie Francis - Uma rapariga da minha idade... que saudades deste ritmo... e destas melodias...





Um casal tinha dois filhos, um de 8 e outro de 10 anos, que eram umas pestes. Os pais sabiam que se houvesse alguma travessura na zona onde moravam, eles com certeza estariam metidos.

A mãe das crianças ficou sabendo que o novo padre da cidade tinha tido bastante sucesso em disciplinar crianças.

Então ela pediu ao padre que falasse com os meninos. O padre concordou, mas pediu para vê-los separadamente.

A mãe, então, mandou primeiro o filho mais novo.

O padre, um homem alto com uma voz de trovão, sentou o puto e perguntou-lhe austeramente:

- Onde está Deus??

O garoto abriu a boca, mas não conseguiu emitir nenhum som, ficou sentado, com a boca aberta e os olhos arregalados.

Então, o padre repetiu a pergunta num tom ainda mais severo:

- Onde está Deus ??

Mais uma vez o garoto permaneceu de boca aberta sem conseguir emitir nenhuma resposta.

O padre levantou ainda mais a voz, e com o dedo no rosto do garoto gritou:

- ONDE ESTÁ DEUS ???

O garoto saiu correndo da igreja directamente para casa e trancou-se no quarto.

Quando o irmão mais velho o encontrou, perguntou-lhe:

- O que é que aconteceu ?

O irmão mais novo, ainda tentando recuperar o fôlego, respondeu:

- Desta vez estamos mesmo lixados... Deus desapareceu e julgam que fomos nós!!!!!

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 18





Apontava, com o dedo estendido, magro e acusador, o peito do árabe aparecendo pela gola do camisão, bordada de pequenas flores vermelhas. Nacib baixou os olhos, viu as manchas de batom. Risoleta!... A velha Filomena e Dª Arminda viviam criticando sua vida de solteiro, lançando indirectas, planejando casamentos para ele.

- Mas, Filomena…

- Não tem mais nem meio mais, seu Nacib. Agora vou mesmo embora; Vicente me escreveu, vai se casar, tá precisando de mim. Já preparei meus teréns.

E logo na véspera do jantar da empresa de Ónibus Sul – Baiana, marcado para o dia seguinte, coisa de arromba, trinta talheres. A velha até parecia ter escolhido de propósito.

- Adeus seu Nacib. Deus lhe proteja e ajude a arrumar uma noiva direita que cuide de sua casa…

- Mas, mulher, são seis horas da manhã, o trem só sai às oito…

- Eu é que não confio em trem, bicho matreiro. Prefiro chegar com tempo…

- Deixe, pelo menos, eu lhe pagar…

Tudo aquilo lhe parecia um pesadelo idiota. Movia-se descalço pela sala, pisando no cimento frio, espirrou, rogou uma praga baixinho. E se ainda por cima se resfriasse… Peste de velha maluca…

Filomena estendia a mão ossuda, a ponta dos dedos.

- Até outra, seu Nacib. Quando for por Água Preta, apareça.

Nacib contou o dinheiro, juntou uma gratificação – apesar de tudo ela merecia – ajudou-a a segurar o baú, o embrulho pesado com os quadros dos santos – antes pendurados em profusão no pequeno quarto dos fundos – o guarda-chuva.

Pela janela entrava a manhã alegre, e com ela a brisa do mar, um canto de pássaro e um sol sem nuvens. Arriou os braços, desistiu de voltar para a cama. Dormiria na hora da sesta para estar em forma à noite; prometera à Risoleta voltar, Diabo de velha, transformara seu dia…

Foi para a janela, ficou vendo a empregada a afastar-se. O vento do mar o arrepiou. A casa da Ladeira de São Sebastião ficava quase em frente à barra. Pelo menos as chuvas haviam terminado. Tinham durado tanto que por pouco prejudicavam a safra; os frutos jovens do cacau poderiam apodrecer nas árvores se continuasse a chover. Já os coronéis demonstravam certa inquietação. Na janela da casa vizinha aparecera Dª Arminda; acenava com um lenço para a velha Filomena, eram íntimas.

- Bom dia, seu Nacib.

- A doida da Filomena… foi embora…

- Pois é… Uma coincidência, o senhor nem imagina. Ainda ontem eu disse a Chico, quando ele chegou ao bar: “Amanhã sia Filomena vai embora, o filho mandou uma carta chamando…”.

- Chico me falou, nem acreditei.

- Ela ficou até tarde esperando o senhor. Até, por coincidência, ficamos as duas conversando sentadas no batente de sua casa. Só que o senhor não apareceu… – Riu um risinho entre reprovador e compreensivo.




(Sr. Nacib, o actor Armando Bógus, nascido em São Paulo, em 1930. Faleceu em 1993 com leucemia)

- Ocupado, Dª Arminda; muito trabalho…

COMENTÁRIOS ADICIONAIS

À ENTREVISTA Nº 38 SOBRE O TEMA :

“CASTIDADE” (1)


Sexualidade: Prazer Sagrado

Há religiões que aceitam o corpo, há outros que o desprezam, mas nenhuma o ignora. Todas as religiões têm uma tendência para controlar o corpo nas suas funções principais: comida e sexo. Como um impulso vital, a sexualidade, ligada ao sentido da vida e da morte, tem ocupado um lugar central em todas as religiões.

Nas religiões antigas da humanidade abundavam, exaltantes, os ritos de fertilidade e do princípio feminino como um símbolo do divino e do sagrado. Com o avanço das religiões patriarcais - em todas as religiões - hoje, isso foi mudado.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

A III Guerra Mundial começará a Julho ou Agosto deste ano... se a previsão estiver certa já não faltará muito. Ouçam e sigam o raciocínio...

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Junto à Calçada do Combro, na parte velha da cidade de lisboa


(click na imagem e aumente))

VÍDEO


Muito próximas as duas vozes mas a da jovem um pouco "mais cheia" e parece-me haver um "nasalar" na voz de Edith que é unico... de qualquer forma é lindo ouvir esta canção em que ela afirma... "Je ne regrette rien"...não renega nada da sua vida... e que vida...


OTIS REDDING - WHEN A MAN LOVES A WOMAN

(Anos Sessenta)

Uma das mais lindas e sentidas canções de amor...

A Nata da Economia Portuguesa
Ricardo Araújo Pereira


Quando o ministro Álvaro apontou para o pastel de nata, os parvos olharam mesmo para o pastel de nata. Era dos raros casos em que deveriam ter olhado para o dedo. Teriam constatado que se trata do mesmo dedo com que D. João II apontou para a Índia. Um, disse "Oriente" e o outro disse "pastel de nata", mas ambos quiseram dizer "futuro".


Neste momento, é óbvio que a aventura dos Descobrimentos teve, como propósito principal (para não dizer exclusivo), o de ir à Índia buscar a canela que hoje faz falta para polvilhar os pastéis de nata. Entre o Príncipe Perfeito e o Álvaro há apenas uma diferença: o segundo não tem um Camões que verta em decassílabos heróicos a gesta da pastelaria.

Assim como D. João II teve no Infante D. Henrique um antecessor visionário, também o Álvaro se apresenta às cavalitas de um gigante: Paulo Futre. A exportação de pastéis de nata é o equivalente político da importação de chineses - que foi também, note-se, um projecto de crescimento dirigido para Oriente.

Examinemos a ideia do Álvaro com a atenção que merece. Se cada pastel de nata for vendido ao preço competitivo de um euro, e supondo que alguém nos oferece todos os ingredientes, basta que Portugal venda 78 mil milhões de pastéis de nata para pagar a dívida. Sabendo que o mundo conta, neste momento, com 7 mil milhões de potenciais consumidores de pastéis de nata, a venda de 11,1 pastéis a cada habitante resolve-nos o problema. Não chega a dois cartuchos por pessoa, e ainda por cima é por uma boa causa. Se, com os 11,1 pastéis, impingirmos uma bica a cada cliente, ainda nos sobra dinheiro para acabar umas obras que estão paradas por falta de verba na Madeira.

Os críticos que pretenderam reduzir a ideia do Álvaro aos seus aspectos mais folclóricos não perceberam, ou não quiseram perceber, que o projecto não pode ser confinado à exportação dos pastéis, mas deve ser integrado numa estratégia de desenvolvimento global. A produção e venda de 78 mil milhões de pastéis fará de Portugal o maior produtor mundial de colesterol. Um investimento paralelo em medicina cardiovascular poderá projectar internacionalmente a ciência portuguesa e contribuir para manter relações comerciais múltiplas com a estrangeirada lambona, que passa a frequentar-nos tanto a pastelaria como o consultório médico.
Mãos à nata.

GABRIELA

CRAVO
E
CANELA




Episódio Nº 17



De como Nacib despertou sem Cozinheira

Nacib despertou com as repetidas pancadas na porta do quarto. Chegara de madrugada, depois de fechado o bar, andara com Tónico Bastos e Nhô-Galo pelos cabarés, acabara em casa de Maria Machadão com a Risoleta, uma recém-chegada de Aracaju, um pouco vesga.

- O que é?

- Sou eu, seu Nacib. Para me despedir, vou embora.

Um navio apitava próximo, pedindo prático.

- Embora para onde, Filomena?

Nacib levantava-se, prestava uma atenção distraída ao apito do navio – “pelo jeito do apito é um Ita”, pensava – procurava enxergar as horas no patacão colocado ao lado da cama: seis horas da manhã e ele chegara por volta das quatro. Que mulher, aquela Risoleta! Não que fosse uma beleza, até tinha um olho troncho, mas sabia coisas, mordia-lhe a ponta da orelha e atirava-se para trás, rindo… que espécie de loucura atacara a velha Filomena?

- Pra Água Preta, ficar com meu filho…

- Que diabo de história é essa, Filomena? Tá maluca?

Buscava os chinelos com os pés, mal acordado, o pensamento em Risoleta. O perfume barato da mulher persistia em seu peito peludo. Saía mesmo descalço para o corredor, metido no camisolão de dormir. A velha Filomena esperava na sala, com seu vestido novo, um lenço de ramagens amarrado na cabeça, o guarda-chuva na mão. No chão, o baú e um embrulho com os quadros de santos.

Era empregada de Nacib desde que ele comprara o bar, há mais de quatro anos. Rabugenta, porém limpa e trabalhadora, séria a não mais poder, incapaz de tocar num tostão, cuidadosa. “Uma pérola, uma pedra preciosa”, costumava dizer Dª Arminda para defini-la. Tinha seus dias de calundu, quando amanhecia de cara amarrada, e nesses dias não falava senão para anunciar a sua próxima partida, a viagem para Água Preta, onde o filho único se estabelecera com uma quitanda. Tanto falava em ir-se embora, naquela famosa viagem que Nacib não lhe dava mais crédito, pensava não passar tudo aquilo de mania inofensiva da velha, afinal tão ligada a ele, menos empregada que uma pessoa de casa, quase um parente distante.

O navio apitava, Nacib abriu a janela; era, como adivinhara, o Ita procedente do Rio de Janeiro. Estava pedindo prático, parado ante a pedra do Rapa.

- Mas Filomena, que loucura é essa? Assim, de repente, sem avisar nem nada… Absurdo.

- Ué, seu Nacib! Desde que atravessei o batente de sua porta venho lhe dizendo: “Um dia vou embora, morar com o meu Vicente…”

- Mas podia ter-me falado ontem que ia hoje…

- Bem que mandei um recado por Chico. O senhor nem ligou, nem apareceu em casa.

Realmente, Chico Moleza, seu empregado e vizinho, filho de Dª Arminda, tinha levado juntamente com o almoço, um recado da velha anunciando a próxima partida.

Mas isso acontecia quase toda a semana; Nacib mal ouvira, nem respondera.

- E esperei o senhor pela noite adentro… Até de madrugada… O senhor estava correndo gado por aí, tamanho homem que já devia estar casado, com o rabo assentado em casa em vez de viver trocando perna depois do trabalho… Um dia, com todo esse corpo fica fraco e bate as botas…


(Click na imagem que reproduz Os Cangaceiros "que, para a autoridade, simbolizavam a brutalidade, o mal, uma doença que precisava de ser cortada. Para uma parte do sertão, décadas 20 e 30, eles encarnavam valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra.")

ENTREVISTA FICCIONADA


COM JESUS CRISTO Nº 37


SOBRE O TEMA DA "CASTIDADE"


RAQUEL - Emissoras Latinas do mosteiro de Qumran, onde foram descobertos os famosos manuscritos do Mar Morto. Depois da nossa última entrevista, alguns religiosos ficaram aborrecidos e frustrados. Dizem eles que renunciaram aos prazeres do mundo para o segui-lo, a si.


JESUS - E de que prazeres eles se demitiram Jesus ?


RAQUEL - Acho que de comer, dançar, curtir a vida ... Alguns monges até desistiram de falar.



JESUS - ​​Não falar?



RAQUEL - O imprescindível. Dizem que o silêncio está mais perto de Deus.


JESUS - ​​Que loucura! ... Não foi Deus quem nos deu a língua para falar e ouvidos para ouvir?


RAQUEL - O que é mais difícil para eles é não se casarem. Eles dizem que foi o senhor quem lhes ordenou que renunciassem ao casamento, que foram aconselhados a fazerem-se eunucos por amor ao Reino dos Céus. Castraram-se.


JESUS - ​​Que eu lhes ordenei a castrarem-se?


RAQUEL - Dizem que o senhor disse que alguns nasceram assim e outros de fizeram para o seguirem.



JESUS - Como eles se parecem com os meus conterrâneos​​... cantavam quando deviam chorar e choravam quando deviam cantar!. .. Entendiam tudo ao contrário.


RAQUEL - Mas então, o que o senhor quis dizer quando falou de eunucos?


JESUS - ​​Que cada um tem que andar o seu próprio caminho. Em liberdade, sem proibições e todos os caminhos levam a Deus se o seu coração está limpo. Se te quiseres casar, casa. Se não quiseres casar, os teus motivos terás.


RAQUEL - De qualquer forma, a Igreja propõe a vida de castidade como um caminho de perfeição.


JESUS - Não pode ser porque se todos seguissem esse caminho, o mundo acabava. Deus não pode chamar de prefeito àquilo que arruina a sua criação.


RAQUEL - Então, qual o caminho da perfeição?


JESUS - ​​Que todos façam o seu caminho livremente e com amor. Não há uma única maneira. Na casa de Deus há muitos lugares. Cada um tem de descobrir o seu.


RAQUEL - Então, de acordo com o senhor, a virgindade praticada por religiosos, as monjas, não é um estado superior de casamento, não é mais espiritual?


JESUS - ​​Como vai ser superior e mais espiritual? Eu sempre comparei o Reino de Deus a um banquete de casamento, nunca com um mosteiro ou um deserto. Porque Deus é amor e o que está mais próximo de Deus é o amor de um casal.


RAQUEL - Pois estes renunciam ao casamemto, mortificam o corpo para elevar o espírito ... flagelam-se... dão-se golpes...


JESUS - ​​E quem lhes deu esse corpo senão Deus? O corpo é sagrado, é o templo de Deus. Como vão punir o que de mais bonito que receberam?


RAQUEL - Punir e esconder. O senhor não viu em Jerusalém? Eles estavam nas ruas de sotainas pretas, hábitos fechados, coifs extravagantes ... Olhe para aqueles que estão saindo do ônibus e vindo para visitar Qumran ...


JESUS - ​​Quem são eles?


RAQUEL - Eu não tenho certeza, mas as cruzes, correntes e botas ... Eu acho que eles são chamados de legionários de Cristo ... ou Arautos do Evangelho, não sei ... isto é, são soldados seus.


JESUS - ​​Soldados meus?


RAQUEL - É assim que eles se chamam a si mesmos.


JESUS - ​​Por que se vestem daquele modo estranho? ... estás a ver como eu estou vestido, Raquel?


RAQUEL - Normal, como todos aqui. Diríamos, casual. Talvez seja por isso que outros jornalistas não o procuram, porque o vêem como um de muitos.


JESUS - ​​Eu acho que o Reino de Deus é a levedura, Raquel. Diz às pessoas que te estão a ouvir que se o fermento se separa da massa apodrece. O Reino de Deus é o sal. Se o sal está escondido, perde o sabor. Morre, como as águas do Mar Morto.


RAQUEL - Bem, do Mar Morto, falou Raquel Perez, das Emissoras Latinas.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

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No cimo da colina...

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Mais uma das deliciosas canções dos Anos Sessenta - Middle Of The Road - Chirpy Chirpy Cheep Cheep


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Um número admirável de ilusionismo!

A trapeira do Job
(José António Barreiros, advogado)

Isto que eu vou dizer vai parecer ridículo a muita gente.
Mas houve um tempo em que as pessoas se lembravam, ainda, da época da infância, da primeira caneta de tinta-permanente, da primeira bicicleta, da idade adulta, das vezes em que se comia fora, do primeiro frigorífico e do primeiro televisor, do primeiro rádio, de quando tinham ido ao estrangeiro.
Houve um tempo em que, nos lares, se aproveitava para a refeição seguinte o sobejante da refeição anterior, em que, com ovos mexidos e a carne ou peixe restante, se fazia "roupa velha". Tempos em que as camisas iam a mudar o colarinho e os punhos do avesso, assim como os casacos, e se tingia a roupa usada, tempos em que se punham meias-solas com protectores. Tempos em que ao mudar-se de sala se apagava a luz, tempos em que se guardava o "fatinho de ver a Deus e à sua Joana".
E não era só no Portugal da mesquinhez salazarista. Na Inglaterra dos Lordes, na França dos Luíses, a regra era esta. Em 1945 passava-se fome na Europa, a guerra matara milhões e arrasara tudo quanto a selvajaria humana pode arrasar.
Houve tempos em que se produzia o que se comia e se exportava. Em que o País tinha uma frota de marinha mercante, fábricas, vinhas, searas.
Veio depois o admirável mundo novo do crédito. Os novos pais tinham como filhos uns pivetes tiranos, exigindo mal-criadamente o último modelo de mil e um gadgets e seus consumíveis, porque os filhos dos outros também tinham. Pais que se enforcavam por carrões de brutal cilindrada para os encravarem no lodo do trânsito e mostrarem que tinham aquela extensão motorizada da sua potência genital. Passou a ser tempo de gente em que era questão de pedigree viver no condomínio fechado, e sobretudo dizê-lo, em que luxuosas revistas instigavam em couché os feios a serem bonitos, à conta de spas e de marcas, assim se visse a etiqueta, em que a beautiful people era o símbolo de status como a língua nos cães para a sua raça.
Foram anos em que o campo se tornou num imenso ressort de Turismo de Habitação, as cidades uma festa permanente, entre o cocktail party e a rave. Houve quem pensasse até que um dia os Serviços seriam o único emprego futuro ou com futuro.
O país que produzia o que comíamos ficou para os labregos dos pais e primos parolos, de quem os citadinos se envergonhavam, salvo quando regressavam à cidade dos fins de semana com a mala do carro atulhada do que não lhes custara a cavar e às vezes nem obrigado.
O país que produzia o que se podia transaccionar, esse, ficou com o operariado da ferrugem, empacotados como gado em dormitórios, e que os víamos chegar mortos de sono logo à hora de acordarem, as casas verdadeiras bombas-relógio de raiva contida, descarregada nos cônjuges, nos filhos, na idiotização que a TV tornou negócio.
Sob o oásis dos edifícios em vidro, miragem de cristal, vivia o mundo subterrâneo de quantos aguentaram isto enquanto puderam, a sub-gente. Os intelectuais burgueses teorizavam, ganzados de alucinação, que o conceito de classes sociais tinha desaparecido. A teoria geral dos sistemas supunha que o real era apenas uma noção, a teoria da informação substituía os cavalos-força da maquinaria pelos megabytes de RAM da computação universal. Um dia os computadores tudo fariam, o Ser-Humano tornava-se um acidente no barro de um oleiro velho e tresloucado que, caído do Céu, morrera pregado a dois paus, e que julgava chamar-se Deus, confundindo-se com o seu filho e mais uma trinitária pomba.
Às tantas, os da cidade começaram a notar que não havia portugueses a servir à mesa, porque estávamos a importar brasileiros, que não havia portugueses nas obras, porque estávamos a importar negros e eslavos.
A chegada das lojas-dos-trezentos já era alarme de que se estava a viver de pechisbeque, mas a folia continuava. A essas sucedeu a vaga das lojas chinesas, porque já só havia para comprar «balato». Mas o festim prosseguia e à sexta-feira as filas de trânsito em Lisboa eram o caos e até ao dia quinze os táxis não tinham mãos a medir.
Fora disto, os ricos, os muito ricos, viram chegar os novos ricos. O ganhão alentejano viu sumir o velho latifundiário absentista pelo novo turista absentista com o mesmo monte mais a piscina e seus amigos, intelectuais, claro, e sempre pela reforma agrária, e vai um uísque de malte, sempre ao lado do povo, e já leu o New Yorker?
A agiotagem financeira, essa, ululava. Viviam do tempo, exploravam o tempo, do tempo que só ao tal Deus pertencia, mas, esse, Nietzsche encontrara-o morto em Auschwitz. Veio o crédito ao consumo, a Conta-Ordenado, veio tudo quanto pudesse ser o ter sem pagar. Porque nenhum Banco quer que lhe devolvam o capital mutuado, quer é esticar ao máximo o lucro que esse capital rende.
Aguilhoando pela publicidade enganosa os bois que somos nós todos, os Bancos instigavam à compra, ao leasing, ao renting, ao seja como for desde que tenha e já, ao cartão, ao descoberto-autorizado.
Tudo quanto era vedeta deu a cara, sendo actor, as pernas, sendo futebolista, ou o que vocês sabem, sendo o que vocês adivinham, para aconselhar-nos a ir àquele Balcão bancário buscar dinheiro, vendermo-nos ao dinheiro, enforcarmo-nos na figueira infernal do dinheiro. Satanás ria. O Inferno começava na terra.
Claro que os da política do poder, que vivem no pau de sebo perpétuo do fazer arrear, puxando-os pelos fundilhos, quantos treparam para o poder, querem a canalha contente. E o circo do consumo, a palhaçada do crédito servia-os. Com isso comprávamos os plasmas mamutes onde eles vendiam à noite propaganda governamental e, nos intervalos, imbecilidades e telefofocadas, que entre a oligofrenia e a debilidade mental a diferença é nula. E, contentes, cretinamente contentinhos, os portugueses tinham como tema de conversa a telenovela da noite, o jogo de futebol do dia e da noite e os comentários políticos dos "analistas" que poupavam os nossos miolos de pensarem, pensando por nós.
Estamos nisto.
Este fim-de-semana a Grécia pode cair. Com ela a Europa.
Que interessa? O Império Romano já caiu também e o mundo não acabou. Nessa altura, em Bizâncio, discutia-se o sexo dos anjos. Talvez porque Deus se tivesse distraído com a questão teológica, talvez porque o Diabo tenha ganho aos dados a alma do pobre Job na sua trapeira. O Job que somos grande parte de nós.

Nota - Será que vamos conseguir fugir à mudança deste estilo de vida? E o outro, como será?

GABRIELA


CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 16



Esse Luís António d’Ávila morrera coronel na guerra do Paraguai, chefiando homens levados de seus engenhos na retirada da laguna.

A romântica Ofenísia morreu tísica e virgem no solar dos Ávilas, saudosa das barbas reais. E bêbedo morreu o poeta Teodoro de Castro, o apaixonado e mavioso cantor das graças de Ofenísia, cujos versos tiveram certa popularidade na época, nome hoje injustamente esquecido nas antologias nacionais.

Para Ofenísia escrevera seus versos mais catitas, exaltando em rimas ricas sua frágil beleza doentia, suplicando seu inacessível amor. Versos ainda hoje declamados pelas alunas do colégio das freiras ao som da Dalila, em festas e saraus.

O poeta Teodoro, temperamento trágico e boémio, morreu, sem dúvida, de lânguida saudade (quem irá discutir com o doutor essa verdade?) dez anos após a saída, pela porta do solar em luta, do caixão branco onde ia o corpo macerado de Ofenísia. Morreu afogado em álcool então barato em Ilhéus, cachaça do engenho dos Ávilas.

Material interessante não faltava ao Doutor, como se vê, para seu inédito e já famoso livro; os Ávilas dos engenhos de açúcar e alambiques de cachaça, de centenas de escravos, de terras a nunca acabar, os Ávilas do solar em Olivença, do sobradão na Ladeira do Pelourinho, na capital, os Ávilas de pantagruélico paladar, os Ávilas sustentando concubinas na corte, os Ávilas das belas mulheres e dos homens sem medo, incluindo até um Ávila letrado.

Além de Luís António e Ofenísia, outros haviam-se destacado, antes e depois, como aquele que lutou no Recôncavo, ao lado do avô de Castro Alves, contra as tropas portuguesas nas batalhas da independência, em 1823.

Outro Jerónimo d’Ávila dera-se à política e derrotado numas eleições, fraudadas por ele em Ilhéus, fraudadas pelos adversários no resto da província, pusera-se à frente de seus homens, varrera estradas, saqueara povoados, marchara sobre a capital, ameaçando depor o governo.

Intermediários obtiveram a paz e compensações para o Ávila colérico. A decadência da família acentuara-se com Pedro d´Ávila, de cavanhaque ruivo e alourado temperamento que fugira, abandonando o solar (o sobradão na Baía já tinha sido vendido) os engenhos e os alambiques hipotecados e a família em pranto, para seguir uma cigana de estranha beleza e – no dizer da esposa inconsolável – de maléficos poderes. Desse Pedro d’Ávila, constava haver terminado assassinado, numa briga de canto de rua, por outro amante da cigana.

Tudo isso fazia parte de um passado esquecido pelos cidadãos de Ilhéus. Uma nova vida aparecera com o aparecimento do cacau; o que acontecera antes não contava. Engenhos e alambiques, plantações de cana e de café, legendas e histórias, tudo havia desaparecido para sempre, cresciam agora as roças de cacau e as novas legendas e histórias narrando como os homens lutaram entre si pela posse da terra.

Os cegos cantadores levavam pelas feiras, até o mais distante sertão, os nomes e os feitos dos homens do cacau, a fama daquela região. Só mesmo o Doutor se preocupava com os Ávilas. O que, no entanto, não deixava de aumentar a consideração que lhe dispensavam na cidade.

Aqueles rudes conquistadores de terras, fazendeiros de poucas letras, tinham um respeito quase humilde pelo saber, pelos homens letrados que escreviam nos jornais e pronunciavam discursos.

Que dizer então de um homem com tanta capacidade e conhecimento, capaz de estar escrevendo ou ter escrito um livro? Porque tanto se falara nesse livro do Doutor, tanto se louvaram suas qualidades, que muitos o pensavam publicado há anos, de há tempos definitivamente incorporado ao acervo da literatura nacional.

(click na imagem: tela de Nerival Rodrigues sobre o tema da Colheita do Cacau)

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

À ENTREVISTA Nº 37 SOBRE A

“PERSONALIDADE DE CRISTO” (6º e últ.)

Uma Religião de Alegria



A religião é frequentemente associada com a solenidade e a seriedade. Risos não tem entrada na casa do Deus de muitos cristãos. Na catequese de anos atrás, diziam que sabiam que Jesus tinha chorado porque aparece nos Evangelhos: chorou quando entrou em Jerusalém, no fim da sua vida, e no túmulo de seu amigo Lázaro, em Betânia. Mas não disseram que ele tinha rido, porque não aparece referido nos Evangelhos. Esta conclusão é insustentável. Todas as pessoas riem. O humor e o riso, são sinais de sabedoria e Jesus era um homem sábio. Há grupos evangélicos que consideram pecado as danças, festas e a bebida… e, no entanto, Jesus, foi a casamentos, bebia vinho, comia de tudo e não participou nos rituais dos puritanos religiosos do seu tempo.
O seu movimento era contra os ricos do seu tempo, dos poderosos, dos que oprimiam mas não contra a alegria do seu povo.

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

THE TEMPTATIONS - MY GIRL

O Grupo vocal norte-americano de maior sucesso na história da música (Anos Sessenta). Venderam dezenas de milhões de albuns

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E acabou tudo em bem... era uma bricadeira de promoção à 5asec.



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GUANABARA, no Município do Rio de Janeiro. Do tupi "guaná - pará" que significa no seio do mar.

(click na imagem)

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Ou as pessoas viveram esses acontecimentos e recordam-nos com facilidade ou, não os tendo vivido, ninguém lhos ensinou ou lhes falou sobre eles mas, sem memória, como podem eles ter uma consciência do colectivo de que fazem parte...?


JOHN FOSTER - AMORE SCUSAMI (1964)

Esta semana vamos recordar canções dos Anos 60. "Amore Scusami" foi uma das mais lindas canções italianas deste período. Ouvir esta melodia e esta voz arrepia os mais saudosos e sensíveis...

Um velho doutor que sempre trabalhara no meio rural, achou que tinha chegado a hora de se aposentar após ter exercido a medicina por mais de 50 anos.

Ele encontrou um jovem médico para o seu lugar e sugeriu ao novo diplomado que o acompanhasse nas visitas domiciliares para que as pessoas se habituassem a ele progressivamente.

Na primeira casa, uma mulher queixou-se que lhe doía muito o estômago.
O velho doutor respondeu-lhe:
- Sabe, a causa provável é que você abusou das frutas frescas... Por que não reduz a quantidade que consome?

Quando eles saíram da casa o jovem disse:
- O senhor nem sequer examinou aquela mulher... Como conseguiu chegar ao diagnóstico assim tão rápido?
- Oh, nem valia a pena examiná-la... Você notou que eu deixei cair o estetoscópio no chão? Quando me abaixei para apanhá-lo, notei que havia muitas de cascas de mangas, algumas ainda verdes, no balde do lixo. Concluí que tal excesso, seguramente, vinha lhe causando as dores.

Na nossa próxima visita você se encarregará do exame.
- Humm! Que legal! Eu vou tentar empregar essa sua técnica!

Na casa seguinte, eles passam vários minutos a falar com uma mulher ainda jovem.
Ela queixava-se de uma grande fadiga:
- Ah, Doutor! Eu me sinto completamente sem forças...
O jovem doutor, encarregado pelo mais velho para examiná-la, diz então, sem grande demora e muito convicto:
- A senhora, provavelmente, está dando muito de si para a igreja... Se reduzir essa atividade, com certeza recuperará toda a sua energia.

Assim que deixaram aquela casa, o velho doutor questionou o novato:
- Colega, o seu diagnóstico surpreendeu-me... Como é que, tão rapidamente, chegou à conclusão de que aquela mulher se dava de corpo e alma aos trabalhos religiosos?
- Eu apliquei a mesma técnica que o senhor me ensinou: deixei cair o meu estetoscópio e, quando me abaixei para o apanhar, vi o padre debaixo da cama!...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio nº 15




O artigo do jovem estudante passaria em completa obscuridade se, por um desses acasos, não houvesse a revista caído em mãos de escritor moralista, conde papalino e membro da Academia Brasileira de Letras.

Admirador incondicional das virtudes do Monarca, sentiu-se o conde ofendido em sua própria honra com aquela “insinuação depravada e anarquista” a colocar o “insigne varão” na postura ridícula de suspirante, de hóspede desleal a buscar os olhares da filha virtuosa da família cuja casa ilustrava com sua visita.

Descompôs o conde em virtuoso português quinhentista, o audacioso estudante com a ríspida resposta, emprestando-lhe intenções e objectivos que Pelópidas jamais tivera. Alvoraçou-se o estudante com a ríspida resposta, era quase a consagração. Para o segundo número da revista preparou um artigo em português não menos clássico e com argumentos irrespondíveis, no qual, baseado em factos e sobretudo nos versos do poeta Teodoro de Castro, esmagava definitivamente as negativas do conde.

A revista não voltou a circular, ficara no primeiro número. O Jornal onde o conde atacara Pelópidas recusou-se a publicar-lhe a resposta e, a muito custo, resumiu as dezoito laudas do Doutor a vinte linhas impressas, num canto de página. Mas ainda hoje o Doutor vangloria-se dessa sua “violenta polémica” com um membro da Academia Brasileira de letras, nome conhecido em todo o país.

- Meu segundo artigo o esmagou e reduziu ao silêncio…

Nos anais da vida intelectual de Ihéus essa polémica é assídua e vaidosamente citada como prova da cultura ilheense, ao lado da menção honrosa obtida por Ari Santos – actual presidente do Grémio Rui Barbosa, moço empregado numa casa exportadora – num concurso de contos de revista carioca e de versos do já citado Teodoro de Castro.

Quanto aos amores clandestinos do Imperador e de Ofenísia, reduziram-se, ao que parece, a olhares, suspiros, juras murmuradas. O imperial viajante a teria conhecido na Baía, numa festa, apaixonara-se por seus olhos de desmaio. E como habitava no sobrado dos Ávilas, na Ladeira do Pelourinho, um certo padre Romualdo, latinista emérito, mais de uma vez o Imperador por lá apareceu a pretexto de visitar sacerdote de tanto saber.

Nos balcões rendilhados do sobradão, o Monarca do suspirava em latim de inconfessado e impossível desejo por essa flor dos Ávilas. Ofenísia, numa excitação de mucamas, rondava a sala onde as barbas negras e sábias do Imperador trocavam ciência com o padre, sob as vistas respeitosas e ignorantes de Luís António d’Ávila, seu irmão e chefe de família.

É certo ter Ofenísia, após a partida do imperial apaixonado, desencadeado uma ofensiva visando a mudarem-se todos para a corte, fracassando ante a obstinada resistência de Luís António, guardião da honra da donzela e da família.



(Ilhéus, click na imagem)

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

À ENTREVISTA Nº 37 SOBRE O TEMA:

“A PERSONALIDADE DE JESUS” (5)


O Puro e o Impuro. A Água e o Vinho



Nas religiões mais antigas acreditavam que, no mundo, havia pessoas, coisas ou acções impuras e, em contrapartida, pessoas, coisas e acções puros. Umas e outras contagiam. Essa impureza não tem nada a ver com a sociedade exterior. Nem a pureza com a limpeza, nem com a moral, com o "bom" ou com o "mau".
"Impure" é o que é carregado com forças perigosas e desconhecidas e o "puro" é o que tem poderes positivos. Quem se aproxima do impuro não pode aproximar-se de Deus. A pureza/impureza é uma ideia essencialmente "religiosa".
Desde tempos antigos, a religião de Israel tinha absorvido essa maneira de pensar e havia muitas leis para se protegerem da impureza em torno da sexualidade (menstruação e gonorréia eram formas de impureza); a morte (um cadáver era impuro); algumas doenças (lepra, a loucura tornavam impuros aqueles que dela padeciam; alguns alimentos e animais (o abutre, a coruja, o porco foram, entre muitos outros, animais impuros). A maioria dessas leis conservam-se, ainda hoje, no Livro do Levítico.
À medida que o povo foi evoluindo de uma religião mágica para uma religião de responsabilidade pessoal, essas ideias foram caindo em desuso. No entanto, nos tempos de Jesus, eram ainda observadas escrupulosamente por alguns grupos, e daí, as prolongadas e minuciosas lavagens e purificações de água para agradar a Deus.
Nem Jesus nem os do seu movimento praticavam estes rituais com água. (Mateus 15,1-20). Jesus os questionou e fez ostentação em não os praticar.
O "milagre" das bodas de Cana também pode ser lido como um símbolo de rejeição de Jesus a essas crenças: a água, símbolo de intermináveis purificações ordenadas pelas leis judaicas e que faziam da religião um estrito cumprimento de normas externas, Jesus transforma o vinho, num símbolo de festa, alegria e liberdade.

domingo, fevereiro 05, 2012

HOJE É
DOMINGO


(Na minha cidade de Santarém)





“Era uma vez, há muitos, muitos anos atrás, numa terra muito distante, um Rei que tinha três filhas….” este era o começo de uma das muitas histórias que a minha avó me contava sentada à cabeceira da minha cama, pretensamente para me adormecer e que eu ouvia cada vez mais desperto. Depois, quando acabava, eu pedia-lhe:

- “Avozinha conta-me outra e ela a rir-se respondia-me: - “mas tu julgas que isto é fole de ferreiro?” e eu insistia: - “vá lá, avozinha, conta-me outra” e ela, quase invariavelmente, contava-me mais uma porque a sua imaginação era prodigiosa tanto quanto era grande o meu prazer em ouvir as suas histórias.

A minha avó era uma contadora nata de histórias. Já na parte final da sua vida, velha, doente, muito pesada, quase incapaz de se mexer, mantinha de dia sempre aberta a porta da sua casa para que as crianças da aldeia pudessem, quando lhes apetecesse, entrarem, sentarem-se à sua volta e ouvirem as suas histórias.

Vivia em Paio Pires, na “outra banda” da cidade de Lisboa, como então se chamava ao outro lado do estuário do Tejo, onde mais tarde se construiu a Siderurgia Nacional, e todos a conheciam pela “T’i Júlia da Courela”.


Sempre bem disposta… já no hospital, pouco tempo antes de morrer, respondia ao médico que lhe perguntava se os dentes eram dela: - “São, sim, Sr. Dr. que já os paguei...”


Gosto de a imaginar, hoje, sentada para aí em cima de uma nuvem, daquelas fofinhas, rodeada de meninos com toda a eternidade para se deliciarem ouvindo as suas histórias.

Eu, que já não irei morrer menino, mesmo assim, se então me encontrar com ela para aí em qualquer nuvem, irei pedir-lhe para me deixar ficar à sua beira e retomar o velho hábito de menino a ouvir as suas histórias.
Era assim a minha avó Júlia que preencheu o meu imaginário de criança, que me transmitiu através das suas histórias grande parte da herança dos meus antepassados, dos conceitos do bem e do mal e que de entre tantas histórias também me poderia ter contado a história do Menino Jesus:

...Era uma vez, há muitos anos atrás, numa terra longínqua, numa aldeia de gente muito pobre, Nazaré do seu nome, onde vivia uma menina chamada Maria. Então, a vida era muito difícil, a comida era pouca, não havia remédios para as doenças como há hoje e por isso a vida era muito mais curta, tudo tinha que começar mais cedo para que o ciclo da vida: nascer, crescer, procriar e morrer se pudesse concluir para que a humanidade não acabasse. Por isso, os pais de Maria, quando ela tinha 10 anos combinaram logo o seu casamento com um homem muito mais velho, viúvo, já pai de cinco filhos e que se chamava José.

O casamento deveria ter lugar uns três ou quatro anos depois, como era hábito, mas aconteceu que, entretanto, Maria engravidou e de acordo com os costumes da época e do lugar, a gravidez fora do casamento mas com este já combinado era considerado adultério e castigado com a morte por apedrejamento, também chamado de lapidação.

O marido era a única pessoa que na qualidade de ofendido lhe podia perdoar e poupar-lhe a vida mas ao fazê-lo carregaria para sempre o opróbrio, a ignomínia, a vergonha de alguém que tinha sido desonrado e que daí em diante seria apontado por todos e de todos perderia o respeito e consideração devidas a um homem de bem.

As sociedades são moldadas por regras que servem interesses, interesses de alguns, os mais poderosos já se vê, que no momento se constituem em leis e com o decorrer dos tempos convertem-se em tradições, usos, costumes como lhes quisermos chamar e têm uma força inquestionável, tanta que às vezes se lhes obedece não porque se perceba bem porquê, mas porque foi sempre assim… como se a sociedade se sentisse protegida por essa rigidez de procedimentos, por essa severidade, como se de uma máquina, naturalmente insensível, se tratasse, dando a sensação de que o homem não confia em si, na sua capacidade de julgar no caso a caso, de acordo com as circunstâncias e a natureza particular de cada um.

Mas José era um homem bom e condoeu-se daquela jovem, despertando ainda para a vida, transportando dentro de si uma outra vida e que de uma forma tão brutal iria ser apedrejada até à morte e num gesto de grande humanidade perdoou-lhe a ofensa e montando-a num burro abandonou a sua terra e restante família e foi com ela viver para outra aldeia distante onde acabaram por ser muito felizes e onde o menino nasceu, cresceu e se fez homem rodeado pelo respeito que era devido à sua família.

Mas esta é a história de um menino normal, igual a todos os outros que nasceram e viveram naquela terra e naquele tempo e a história a que eu me referia, é outra história, a de um menino diferente, chamado de Jesus e que por coincidência também era filho de uma jovem de nome Maria casada com um homem mais velho, viúvo, igualmente chamado José e que haveria de fazer história.

Uma história tão grande, complexa e simples ao mesmo tempo, que milhares de outros homens, ao longo dos séculos, a têm contado. Só a Biblioteca do Instituto Bíblico Pontifício de Roma possui mais de um milhão de obras sobre o tema e o Instituto Bíblico de Jerusalém outras tantas.

No entanto, história da sua vida, não constou de batalhas, conquistas, feitos heróicos… limitou-se a falar sobre justiça, igualdade, amor, solidariedade entre os homens, o mesmo é dizer: falou contra a injustiça, a desigualdade, a riqueza e com isso provocou a ira e o ódio dos poderosos, dos bem-instalados que vendo nele uma ameaça o assassinaram.

E a história poderia ter ficado por aqui, os seguidores do movimento que desencadeou perseguidos e mortos após o seu assassínio terem - se extinguido naturalmente… mas não foi assim. Da palavra de um homem, de protesto e de esperança, e do movimento dos seus seguidores resultaria muitos anos mais tarde uma religião de carácter universal que influenciou a história da humanidade, inspirou as leis, a arte, o pensamento e esteve na origem de muitas guerras, sofrimentos, ódios, fanatismo, intolerância, crimes, negócios obscuros, tudo aquilo que o seu inspirador não desejava.

Jesus foi assassinado em vida e traído depois de morto, nas suas idéias e na sua mensagem que, de amor, esperança e justiça, continua hoje tão válida como há dois mil anos atrás… com Deus ou sem Deus.

(carregue na imagem de uma rua antiga de Santarém)

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