Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, abril 20, 2013
Pensar é Melhor Que Rezar
Manifesto Ateísta de Sam Harris (Última Parte)
Por que razão a Religião há-de ser fonte de violência?
Ou Jesus subiu dos mortos e está a chegar à terra como um super herói ou não; ou o Alcorão é a palavra de Deus ou não é.
Todas as religiões fazem reivindicações explícitas sobre o mundo e a profusão destas reivindicações incompatíveis cria uma base duradoura para o conflito.
Não há nenhum outro campo no qual os seres humanos estejam tão completamente cientes das suas diferenças ou lance essas diferenças em termos de recompensas ou castigos perpétuas.
Se uma pessoa acredita realmente que chamando Deus pelo nome certo pode fazer a diferença entre a felicidade e o sofrimento eterno, então é razoável tratar os hereges e os incrédulos bastante mal, será até mesmo razoável se os matar.
Se uma pessoa pensa que há algo que outra pessoa possa dizer a uma criança que ponha em perigo a sua alma para toda a eternidade, então o herege que mora na porta ao lado é mais perigoso do que um molestador de crianças. As “estacas” das nossas diferenças religiosas são mais altas e profundas do que aquelas que resultam do mero tribalismo, racismo ou políticas.
Fé “religiosa” é uma conversão-tampão. A religião é uma área do nosso discurso no qual as pessoas não são obrigadas a apresentarem evidências sobre convicções das quais estão tão seguras.
De tal forma seguras que são elas que vão determinar, frequentes vezes, a razão porque vivem, morrem e até matam.
Este é um problema porque quando as “estacas” são demasiado altas o ser humano apenas tem uma escolha simples entre a conversão e a violência.
Por isso, a nossa vontade fundamental, para ser razoável, tem que assentar em convicções sobre o mundo baseadas em evidências e argumentos novos. Só assim será garantido que o diálogo entre os homens é possível.
Certezas sem evidências são factores de divisão. Nada garante que pessoas racionais estejam de acordo mas é certa a divisão irracional entre pessoas aprisionadas dentro dos seus dogmas.
É muito pouco provável que consigamos ultrapassar as nossas divisões multiplicando as oportunidades de diálogo entre as religiões.
O desfecho para a nossa civilização não pode ser a tolerância mútua entre irracionalidades patentes.
Enquanto o discurso dos religiosos liberais, não fundamentalistas, concordar em seguir pontos onde as suas visões do mundo colidem, esses mesmos pontos permanecerão fontes perpétuas de conflito para os seus correligionários.
A justiça política, só por si, não oferece uma base duradoura para a cooperação humana.
Tendo dispensado o dogma da fé a guerra religiosa passou, simplesmente, a ser inconcebível do mesmo modo que, para outros, o canibalismo e a escravidão parecem equilibrados.
Quando temos razões para aquilo que acreditamos não precisamos para nada da fé e quando não temos nenhuma razão perdemos a conexão com o mundo e entre uma pessoa e outra.
O ateísmo não é mais nada do que um compromisso para o padrão mais básico da honestidade intelectual.
As convicções das pessoas deveriam ser proporcionais às suas evidências. Fingir estar certo sobre proposições relativamente às quais nenhuma evidência é até mesmo concebível, constitui uma falha intelectual e moral e só ateu percebeu isto.
O ateu é simplesmente uma pessoa que percebeu as mentiras da religião e recusou fazer parte dessa mentira.
Quando me tornei Invisível...
Já não sei em que data estamos, lá em casa não há calendários e na minha memória as datas estão todas misturadas.
Recordo-me daquelas folhinhas grandes, um primor, ilustradas com imagens dos Santos que colocávamos ao lado do penteador.
Já não há nada disso. Todas as coisas antigas foram desaparecendo e, sem que dessem conta, eu fui-me apagando também.
Primeiro, trocaram-me de quarto pois a família cresceu, depois passaram-me para outro, ainda na companhia das minhas bisnetas e agora ocupo um pequeno espaço numa despensa que está no pátio atrás da casa.
Prometeram-me trocar o vidro quebrado da janela, mas esqueceram-se, e de noite corre por ali um ar frio que aumenta as minhas dores reumáticas.
Mas, tudo bem…
Desde há muito tempo que tinha intenção de escrever porém, passei semanas a procurar um lápis e quando o encontrava, de novo me esquecia onde o tinha posto… na minha idade as coisas perdem-se facilmente.
Claro que não é uma enfermidade delas, das coisas, porque julgo estar segura de tê-las, mas sempre desaparecem.
Há dias dei-me conta que a minha voz também tinha desaparecido porque quando falo com os meus netos ou os meus filhos não me respondem.
Todos falam sem me olharem, como se não estivesse com eles, escutando atenta tudo o que me dizem.
Ás vezes intervenho na conversação, segura de que o que tenho para lhes dizer não ocorreu a nenhum deles e que lhes vai ser de grande utilidade.
Porém, não me ouvem, não me olham, não me respondem e então, cheia de tristeza, retiro-me para o meu quarto e vou beber a minha chávena de café.
E faço assim de propósito, para que compreendam que estou aborrecida, para que se dêem conta que me entristecem, me venham buscar e me peçam perdão…mas ninguém vem.
Quando o meu genro ficou doente, pensei que teria oportunidade de lhe ser útil e levei-lhe um chá especial que eu mesma preparei.
Coloquei-o na mesinha de cabeceira e sentei-me esperando que o tomasse, só que ele estava a ver televisão e nem um só movimento me indicou que se dera conta da minha presença.
O chá, pouco a pouco, foi esfriando e com ele o meu coração.
Então, no outro dia, disse-lhes que quando eu morresse todos se iriam arrepender e o meu neto mais pequeno respondeu: “Ainda estás viva avó” e acharam tanta graça que não pararam de rir.
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa manhã entrou um dos rapazes para tirar umas rodas e nem o bom dia me deu.
Foi então quando me convenci de que sou invisível…
Parei no meio da sala para ver se tornando-me num estorvo me olhavam, porém a minha filha continuou a varrer sem me tocar e os meninos correram à minha volta, de um lado para o outro, sem tropeçarem em mim.
Um dia, os meninos agitaram-se e vieram dizer-me dizer que no fim-de-semana iríamos todos passar um dia ao campo.
No sábado fui a primeira a levantar-me. Quis arrumar as coisas com calma porque nós, os velhos, levamos muito tempo a fazer as coisas e assim adiantei o meu tempo para não os atrasar.
Rápidos, entravam e saíam da casa a correr levando os sacos e brinquedos para o carro.
Eu já estava pronta e muito alegre e permaneci no meu quarto à espera que me chamassem mas, quando dei conta, já tinham partido e o carro desapareceu envolto em algazarra.
Compreendi que não estava convidada, talvez porque não coubesse no carro, ou porque os meus passos, de tão lentos, impediriam que caminhassem a seu gosto pelo bosque.
Senti, claro, como o meu coração se encolheu e a minha face ficou tremendo como quando a gente tem que engolir a vontade de chorar.
Eu entendo-os, eles vivem no mundo deles, riem, gritam, sonham, choram, abraçam-se, beijam-se…eu nem sinto mais o gosto de um beijo.
Antes beijava os pequeninos, era um prazer enorme tê-los nos meus braços como se fossem meus.
Sentia a sua pele tenrinha e a sua respiração doce bem perto de mim.
A vida nova produzia-me alento e até me dava vontade de cantar canções que já não acreditava lembrar-me delas.
Mas um dia, a minha neta Laura, que acabava de ter um bebé disse-me que não era bom que os velhos beijassem os bebés, por questões de saúde…
Desde então já não me aproximo deles, não quero passar-lhes algum mal por imprudência minha.
Tenho tanto medo de contagiá-los!
Eu os bendigo a todos e lhes perdoo porque:
“ Que culpa tenho eu de me ter tornado invisível?”
(Hamilton Slide)
Recordo-me daquelas folhinhas grandes, um primor, ilustradas com imagens dos Santos que colocávamos ao lado do penteador.
Já não há nada disso. Todas as coisas antigas foram desaparecendo e, sem que dessem conta, eu fui-me apagando também.
Primeiro, trocaram-me de quarto pois a família cresceu, depois passaram-me para outro, ainda na companhia das minhas bisnetas e agora ocupo um pequeno espaço numa despensa que está no pátio atrás da casa.
Prometeram-me trocar o vidro quebrado da janela, mas esqueceram-se, e de noite corre por ali um ar frio que aumenta as minhas dores reumáticas.
Mas, tudo bem…
Desde há muito tempo que tinha intenção de escrever porém, passei semanas a procurar um lápis e quando o encontrava, de novo me esquecia onde o tinha posto… na minha idade as coisas perdem-se facilmente.
Claro que não é uma enfermidade delas, das coisas, porque julgo estar segura de tê-las, mas sempre desaparecem.
Há dias dei-me conta que a minha voz também tinha desaparecido porque quando falo com os meus netos ou os meus filhos não me respondem.
Todos falam sem me olharem, como se não estivesse com eles, escutando atenta tudo o que me dizem.
Ás vezes intervenho na conversação, segura de que o que tenho para lhes dizer não ocorreu a nenhum deles e que lhes vai ser de grande utilidade.
Porém, não me ouvem, não me olham, não me respondem e então, cheia de tristeza, retiro-me para o meu quarto e vou beber a minha chávena de café.
E faço assim de propósito, para que compreendam que estou aborrecida, para que se dêem conta que me entristecem, me venham buscar e me peçam perdão…mas ninguém vem.
Quando o meu genro ficou doente, pensei que teria oportunidade de lhe ser útil e levei-lhe um chá especial que eu mesma preparei.
Coloquei-o na mesinha de cabeceira e sentei-me esperando que o tomasse, só que ele estava a ver televisão e nem um só movimento me indicou que se dera conta da minha presença.
O chá, pouco a pouco, foi esfriando e com ele o meu coração.
Então, no outro dia, disse-lhes que quando eu morresse todos se iriam arrepender e o meu neto mais pequeno respondeu: “Ainda estás viva avó” e acharam tanta graça que não pararam de rir.
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa manhã entrou um dos rapazes para tirar umas rodas e nem o bom dia me deu.
Foi então quando me convenci de que sou invisível…
Parei no meio da sala para ver se tornando-me num estorvo me olhavam, porém a minha filha continuou a varrer sem me tocar e os meninos correram à minha volta, de um lado para o outro, sem tropeçarem em mim.
Um dia, os meninos agitaram-se e vieram dizer-me dizer que no fim-de-semana iríamos todos passar um dia ao campo.
No sábado fui a primeira a levantar-me. Quis arrumar as coisas com calma porque nós, os velhos, levamos muito tempo a fazer as coisas e assim adiantei o meu tempo para não os atrasar.
Rápidos, entravam e saíam da casa a correr levando os sacos e brinquedos para o carro.
Eu já estava pronta e muito alegre e permaneci no meu quarto à espera que me chamassem mas, quando dei conta, já tinham partido e o carro desapareceu envolto em algazarra.
Compreendi que não estava convidada, talvez porque não coubesse no carro, ou porque os meus passos, de tão lentos, impediriam que caminhassem a seu gosto pelo bosque.
Senti, claro, como o meu coração se encolheu e a minha face ficou tremendo como quando a gente tem que engolir a vontade de chorar.
Eu entendo-os, eles vivem no mundo deles, riem, gritam, sonham, choram, abraçam-se, beijam-se…eu nem sinto mais o gosto de um beijo.
Antes beijava os pequeninos, era um prazer enorme tê-los nos meus braços como se fossem meus.
Sentia a sua pele tenrinha e a sua respiração doce bem perto de mim.
A vida nova produzia-me alento e até me dava vontade de cantar canções que já não acreditava lembrar-me delas.
Mas um dia, a minha neta Laura, que acabava de ter um bebé disse-me que não era bom que os velhos beijassem os bebés, por questões de saúde…
Desde então já não me aproximo deles, não quero passar-lhes algum mal por imprudência minha.
Tenho tanto medo de contagiá-los!
Eu os bendigo a todos e lhes perdoo porque:
“ Que culpa tenho eu de me ter tornado invisível?”
(Hamilton Slide)
Nota - Este é o drama da solidão dos velhos mesmo quando têm uma família. O mais vulgar, infelizmente, nas grandes cidades, é o isolamento físico. Nem sequer têm hipóteses de serem ignorados. Ficaram lá, naqueles andares de prédios velhinhos deixados ao abandono, eles, pela família, os prédios, pelos proprietários.
Um dia, ou uma noite, morrem e os vizinhos, passados dias, desconfiados, vão avisar a polícia...
A velhice não tem que ser isso, mas agora, muitas vezes é.
DIÁRIO DE UMA
MULHER FIEL
NUM CRUZEIRO
Querido Diário... 1º Dia:
Já estou preparada para fazer este maravilhoso Cruzeiro, presente do meu marido... Vim sozinha e trouxe na mala as minhas melhores roupas! Estou excitada!
Querido Diário... 2º Dia:
Foi lindo, vi alguns golfinhos e baleias! Que viagem maravilhosa estou a começar a gostar...! Hoje encontrei-me com o Capitão, que por sinal é um belo homem!
Querido diário... 3º Dia:
Hoje estive na piscina. Fiz também um pouco de jogging e joguei mini-golfe. O Capitão convidou-me para jantar na sua mesa. Foi uma honra e a noite foi maravilhosa. Ele é um homem muito atraente e culto.
Querido diário... 4º Dia:
Fui ao Casino do navio! Tive muita sorte, pois ganhei €80. O Capitão convidou-me para jantar com ele no seu camarote. A ceia foi luxuosa com caviar e champanhe. Depois de comermos ele perguntou se eu ficaria no seu camarote, mas recusei o convite. Disse-lhe que não queria ser infiel ao meu marido.
Querido diário... 5º Dia:
Perguntou-me de novo se eu queria visitá-lo no seu camarote naquela noite. E eu lhe disse que não, que era casada! Então ele disse que se eu continuasse a responder não, que iria afundar o navio!
Fiquei aterrorizada!
Querido diário... 6º Dia:
Querido diário... 5º Dia:
Hoje voltei à piscina para me bronzear um pouco. Depois, decidi ir ao Piano Bar e passar ali a tarde. O Capitão viu-me e convidou-me para tomar um aperitivo. Realmente ele é um homem encantador.
Perguntou-me de novo se eu queria visitá-lo no seu camarote naquela noite. E eu lhe disse que não, que era casada! Então ele disse que se eu continuasse a responder não, que iria afundar o navio!
Fiquei aterrorizada!
Querido diário... 6º Dia:
- Hoje salvei 1600 pessoas... Três vezes!!!
É pena não podermos provar... |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 78
Todos nós tentamos
encontrar o sentido da existência. O “fim” para que vivemos. A Felicidade, se
você qui ser assim. Você dizia que
ela, a Felicidade, estava na verdade filosófica.
Ricardo Braz contestava:
que só o amor sentimento podia nos mostrar a “rota do porto”. Porque só nas
coisas naturais se encontra o “sentido” da vida… Eu pensava como ele e procurei
a felicidade no instinto. Fracassamos. Não falo do Jerónimo porque esse,
medíocre, não é dos homens insatisfeitos. A insatisfação desses homens é apenas
o reflexo da nossa.
- É…
- Nós fracassamos e você
me disse no dia da morte de Ticiano, que nada mais esperava da filosofia…
Desistira…
- A gente também tem direito a dias de
desânimo.
- Disse que não desejava. Que Pedro Ticiano,
com o cepticismo de antes da guerra, é que estava certo. Que a verdade é a própria
dúvida. Que você estava com ele…
- Um dia de desânimo, repito. Nunca desisti,
porém, de encontrara na filosofia forças para vencer a insatisfação, para
resolver o problema…
- Encontrou?
- Encontrei. Basta a cultura filosófica para
nos tornar serenos…
- A serenidade é a falsificação…
- …da Felicidade, já sei. Mas a felicidade
absoluta não existe. Nem para os burros. Nem para os irracionais. Quanto mais
para nós outros! O que é preciso é a serenidade. Serenidade que o casamento não
deu a Ricardo Braz, que os instintos lhe negaram…
- Mas que, com o cepticismo, Pedro Ticiano,
conseguiu.
- Mas afinal conseguiu com um princípio filosófico.
- O de não ter filosofias…
- Não deixa de ser uma atitude filosófica…
- Mas foi essa atitude que você tomou?
- Não.
- Então não compreendo como você pode estar
sereno. Quem está com a verdade? Você ou Pedro Ticiano?
- Você fala daquela velhíssima verdade, que
tem atravessado os séculos no fundo de um poço? Essa, meu amigo, continua lá.
Eu, como dizia Ticiano, não a irei tirar. Deixo a outro a ridícula tarefa…
- Eu compreendo cada vez menos…
- É que a verdade é uma
coisa muito relativa. Deve existir uma verdade particular para cada homem. Aqui lo que lhe der serenidade é para ele a suprema
verdade…
- Quer dizer que qualquer sistema filosófico
resolve o problema da nossa dúvida?
- Sim.
- Que coisa incrível!
- É questão de sentimento… Você tem
necessidade de Deus, você chega ao tomismo. Fica sereno. A verdade filosófica
do tomismo é a grande verdade para você…
sexta-feira, abril 19, 2013
SALVATOR ADAMO - VOUS PERMETTEZ MONSIER
Que maneira tão agradável e bem disposta de regressar a 1964... parece que foi ontem!
Os alemães e a Srª Merkel devem estar
possuídos de remorsos. Afinal, para que foi aquela guerra: milhões de mortos,
cidades completamente destruídas, ruínas, dor, sofrimento e o ódio de todas as
populações atingidas?
Para quê? – Ainda nem passados setenta
anos, pouco na vida das nações e já mandam na Europa, sem guerras, sem exército
(por enquanto…) sem lutas.
Em paz mandam em nós, ditam as suas leis,
impõem os seus critérios, metem na ordem os nossos desequi librados
orçamentos e dizem-nos a que ritmo o devemos fazer…
A Europa depende da Alemanha, ela é o
seu motor de desenvolvimento, o euro é o seu antigo marco, forte como este,
como convêm a uma economia exportadora de produtos com muita incorporação de
mão-de-obra e tecnologia porque, diga-se o que se disser, não há melhores
automóveis que os seus Mercedes, BMWs, Audis…que todo o mundo quer ter não por
snobismo ou para fazer favor à Alemanha, mas porque são mesmo os melhores.
Mas quem eram estes senhores que hoje
olham com desdém e supremacia os seus vizinhos europeus aqui
da orla do Mediterrâneo e por duas vezes os tentaram esmagar pela força das
armas?
Lembram-se daqueles bárbaros de longas
tranças que combatiam as ordeiras e disciplinadas legiões romanas em ataques
desordeiros, aos gritos selvagens que apavoravam os pequenos soldados romanos,
e de quem o Sr. Mitterrand, séculos mais tarde, dizia gostar tanto que preferia
ter duas…Alemanhas?
Eram os Visigodos, um povo originário de uma divisão entre os godos, povo germânico de origem escandinava que surgiu por volta do ano 200 e em pouco tempo migraram para o sul e atacaram o Império Romano e a Grécia.
Em consequência do ataque feito aos romanos, foram castigados com severidade e refugiaram-se na margem esquerda do Danúbio. Neste local enfrentaram uma divisão interna separando-se, então, em Visigodos e Ostrogodos.
Os Visigodos são originários do leste europeu. A maioria dos pesqui sadores acredita que o nome tem origem no alemão
e significa Godos do Oeste e a sua influência nos seguintes 250 anos no
continente europeu foi muito significativa.
Considerados povos bárbaros
pelos romanos, os Visigodos entraram em conflito com o Império de Roma em
algumas ocasiões. Mas apesar dos atritos, os Visigodos absorveram muitas
características dos romanos, como é o caso do direito.
O Direito Visigótico é uma compilação jurídica e cultural da forma de pensar dos romanos que
mais tarde inspirou a legislação em vigor na Península Ibérica até às
descobertas dos portugueses em 1500.
Os Visigodos percorreram um caminho na Europa que começou nos Bálcãs por
volta do século IV e, logo após, avançaram pela Itália. Por ocasião da ameaça
dos Hunos, os Visigodos foram
ajudados pelos romanos, momento em que houve grande contacto entre as culturas.
Em retribuição, os Visigodos prestaram grande ajuda aos romanos, mas o pacto de
passividade foi quebrado e os povos considerados bárbaros atacaram Roma
novamente.
Mas a presença mais marcante dos Visigodos foi na Península
Ibérica. No século V, chegaram aos Pirinéus com
o propósito de estabelecer a paz na Península Ibérica que estava ocupada por Vândalos, Suevos e
Alanos.
Os Visigodos logo
anexaram o território do reino suevo. Localizados na Península Ibérica, os
Visigodos, que professavam o arianismo, tornaram o catolicismo a religião
oficial.
Atacaram o sul da França e lá estabeleceram um duradouro reinado,
o Reino de Toulouse, que durou de 418 até 507. Com o fim
deste reinado continuaram penetrando na Península Ibérica e formaram um novo
reino, o Reino de Toledo, onde permaneceram de 507 até 711.
Durante todo esse tempo permaneceram poderosos na região dominada e inseriram
suas características. Hoje ainda é possível encontrar igreja em Portugal e na
Espanha de construção Visigótica marcando os únicos vestígios restantes da sua arquitectura.
No século VIII, enfrentaram movimentos de resistência e invasões
que levaram ao fim da monarqui a
visigótica estabelecida na Península Ibérica.
A invasão muçulmana foi o principal factor que enfraqueceu
os Visigodos na região e acabou com o seu reinado. A partir de então, os
muçulmanos tornaram-se presentes na Península Ibérica e aqui
se estabeleceram no por longos oito séculos, sendo que a região só voltou a ser
dominada pelos habitantes locais após o duradouro processo de Reconquista iniciado por D. Afonso Henriques e que se encerrou apenas com a expulsão
dos muçulmanos e a unificação da Espanha em 1492.
Os
visigodos, já então se julgavam superiores aos lusitanos, hispânicos e romanos
e sendo de cultura diferente, desempenhavam uma função social superior sobre os outros povos.
Dirigiam tudo, eram o povo dominador e como tal, só eles tinham
deveres militares e detinham as armas.
Os visigodos não deixaram vestígios de escolas,
bibliotecas e nada existiu de centros de cultura visigótica, mas, com certeza que esse povo guerreiro deixou as suas marcas de DNA no povo romano, lusitano e mouro.
Vestígios “visigóticos” em Espanha e em Portugal
ficaram em várias igrejas, bem como nomes de pessoas. Fundaram
muitas cidades, não só na Lusitânia e na Espanha, mas em outros países
europeus.
Sendo
assim, nós portugueses, temos no nosso DNA um pouco desse povo guerreiro que em
épocas longínquas contribuiu para a formação do nosso futuro povo juntamente
com os celtas, romanos e mouros e outros povos mediterrâneos que passaram por
estes portos em actividades comerciais.
É isso, Portugal e os descendentes dos visigodos, os alemães de hoje, cruzam-se novamente no acaso da história e mais uma vez eles se
comportam de forma superior…
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 77
Rápida, a transformação de
José Lopes. Desaparecera por um mês. Inúteis as caminhadas empreendidas por
Paulo Rigger, de bar em bar, a ver se o encontrava. José Lopes sumira. A casa
do jogo fechara. A dona da pensão não dava notícias. E Paulo Rigger decidira
desistir quando, uma tarde o encontrou, bem vestido, ar sereno, saindo de um
consultório médico.
Correu para ele, deitando
abaixo uma infinidade de embrulhos que um respeitável pai de família levava
conscienciosamente para casa.
- Alô, José.
José Lopes voltou-se.
Envolveu Paulo Rigger carinhosamente nos braços.
- Ia procurar você.
- Você desapareceu. Tenho gasto as pernas em
procurá-lo…
Paulo Rigger ficou a
admirar o amigo. A face calma, sorriso nos lábios, teria ele encontrado o “fim”
da vida?
- Você está outro… Inteiramente mudado… Calmo.
- Acha?
- Você está apaixonado?
- Não. Felizmente.
- Que diabo então lhe
aconteceu para você ficar assim?... Você lembra aquele anúncio, não sei de que
remédio? “Antigamente eu era assim” e via-se o retrato do homem mais ou menos
doente; “cheguei a ficar assim” e o homem virava caveira; “hoje estou assim”
graças ao tal remédio, e o homem estava gordo e forte.
Você realizou o milagre do
anúncio. Quando eu o conheci você estava mais ou menos doente. Piorou depois
grandemente. Hoje está como que curado…
José Lopes, escutava-o
sorridente.
- Com que remédio você se curou?
- Vamos a um bar? Lá conversaremos melhor.
- Vamos.
- Cheio, o bar! Um rádio a torcer um jogo de
futebol. Mulheres saltitantes dando sorrisos. Homens graves bebendo calmamente
na alegria serena que dá a mais santa das virtudes. A imbecilidade.
Esconderam-se numa mesa do
canto. Paulo Rigger não era o mesmo elegante de quando chegara da Europa. Não ligava
para as roupas, cheio de problemas, todo subjectivado. Apesar disso, as
mulheres olhavam para ele. Pois o Dr. Paulo Rigger não possuía grandes fazendas?
- Será que a filosofia…?
- Sim…
- Você se lembra de Pedro
Ticiano, José Lopes? Ele dizia que a gente vive por viver. Que só se consegue
uma calma, ainda que relativa, deixando de desejar. Ficando indiferente… Nada
querer. Super – Buda.
Ele chegou a esta
perfeição. Nós, homens do nosso século, não idolatramos como ele a dúvida. Nós
a combatemos. E combatíamos Pedro Ticiano.
quinta-feira, abril 18, 2013
Eu sou suspeito... porque é a minha cidade mas há muitos mais.a gostar dela. Ontem mesmo fui visitá-la... cheia de sol e de turistas desembarcados dos cruzeiros.
Uma explicação que desconhecia sobre a águia. Apenas uma crítica ao apelo "escondido" às religiões... E não foi Deus que criou as águias... elas evoluíram de outras aves que a antecederam no processo evolutivo.
Observação: Recebemos a informação de que o fato descrito acima
não tem base científica. Segundo ornitólogos consultados, o processo de
auto mutilação é raro, e ocorre apenas em casos de aves que são levadas ao
cativeiro, e devido ao stress excessivo. Porém esse processo às leva à morte, e
não à renovação. Desta forma, não considere o texto acima como fonte de
informação científica.
Nota - Mais uma vez a mensagem enganadora e intelectualmente desonesta dos propagandistas religiosos. Aqui fica.
Os Mitos e a
Ciência
Os mitos e as religiões permitiram durante muito tempo respostas à questão angustiante sobre as origens do homem e o sentido da sua existência mas, em contrapartida, pela sua própria natureza, elas fecharam-se a qualquer tentativa de questionar essas mesmas respostas.
Foi preciso passar muito tempo, até ao séc. VII A.C., na Grécia, para que fosse possível explorar mais uma via de conhecimento, a via da ciência, que propõe uma verdade que, pela 1ª vez, se deve demonstrar e pode ser sempre objecto de discussões.
Antes disso, primeiro na Mesopotâmia e no Egipto e de seguida no Ocidente, os homens convencidos da realidade de um Criador supremo sentiram necessidade de encontrar uma imagem correspondente nas leis do universo.
Voltaram-se, então, para a observação dos astros e não obstante o peso terrível dos mitos transformados em dogmas das religiões na liberdade de pensamento, mesmo assim, foram possíveis descobertas notáveis em astronomia e por vezes a intuições fulgurantes da natureza da vida mas, no essencial, os resultados dessas observações foram desviados em proveito da astrologia, da adivinhação e da magia.
No Oriente, onde a noção da criação é muito difusa e a gestão do mundo não depende de uma entidade divina não se sentiu logo a necessidade de procurar racionalmente uma causa exacta para as leis que regem o universo e é então, na Grécia, que se desenvolverá pela primeira vez um verdadeiro pensamento científico e aparecem as primeiras propostas racionais sobre a origem do Universo, da Terra, da Vida e do próprio Homem, e é interessante verificar que isto acontece num contexto geográfico e histórico privilegiado: na encruzilhada das civilizações da Ásia e do Médio Oriente.
Pouco se sabe das populações que viveram na Grécia 2.000 anos A.C. já que a civilização helénica começa com os povos denominados Acádios, de origem indo-europeia que, por aquela data, penetram na Grécia e ali se instalam desenvolvendo uma civilização homogénea que se distingue pelas suas tradições próprias, em si muito antigas, mas que levam em consideração as crenças dos habitantes autóctones e que posteriormente se enriquecem com as influencias de Creta, que lhe está muito próxima, da Ásia e mesmo do Egipto.
Esta civilização, denominada Micénica, estabelecida pelos Acádios, sofre grandes perturbações pelos consideráveis movimentos de populações e estas circunstâncias dão lugar a que a Grécia, no Séc.XII A.C., invente um novo tipo de sociedade baseado na síntese das tradições da Ásia e do Médio Oriente.
Em comunhão constante com a natureza, os gregos desenvolvem uma religião alegremente politeísta que lhes deixa uma liberdade de espírito total e por isso, num contexto religioso pouco constrangedor, foi junto dos poetas e dos filósofos que os Gregos da idade de ouro do helenismo clássico, procuraram modelos de sabedoria e de virtude que lhes permitiu desenvolver um pensamento realmente moderno e inovador baseado na observação e na experimentação.
Será um princípio de ciência sobrecarregada de erros enormes mas não deixa de ser, pela primeira vez, «a Ciência».
Tales de Mileto, por exemplo, já não aceita que a origem do mundo esteja nos deuses: ele imagina que uma substância primordial, a água, se encontra na origem da infinita diversidade das coisas da natureza, a qual deve também servir para as regenerar.
Anaximandro de Mileto é o primeiro a imaginar a existência de uma espécie de hierarquia dos seres vivos que conduziria ao Homem.
Hipócrates sugere que as mudanças do meio natural são, na origem, transformações do mundo dos seres vivos, conceito este que não é muito diferente do “transformismo” que será desenvolvido por Lamarck dois mil anos mais tarde.
Anaxágoras de Clazomenea tem a intuição de que a matéria é constituída por partículas infinitamente pequenas capazes de se agruparem em categorias semelhantes a fim de produzirem a ordem da natureza.
Demócrito, considera que o mundo é formado por partículas extremamente pequenas, duras e numerosas a que ele chama átomos, isto é, indivisíveis e que se movimentam incessantemente no vazio absoluto que os rodeia o que os leva a encontrarem-se e a agregarem-se uns aos outros produzindo novas formas.
Epicuro desenvolverá este conceito numa visão que faz do universo uma reunião de átomos descontínuos, inalteráveis e eternos.
Não vale a pena continuar com a descrição exaustiva do que foram os contributos dos sábios da antiga Grécia porque o meu objectivo, em termos de conclusão, é de que a inteligência do homem manifesta-se em todo o seu esplendor quando beneficia do contributo de influencias de várias culturas e se desenvolve num quadro religioso que não seja castrador da liberdade de pensamento.
Por estas razões, o período compreendido entre os séculos VI e II A.C. pode considerar-se «chave» na história da humanidade, marcado por uma autêntica explosão do pensamento.
A partir do século II A.C.com a progressão espectacular da «ordem romana» baseada essencialmente em valores militares e mercantis, o mundo ocidental inicia um longo período de estagnação científica.
No século VII, a conquista árabe coloca o essencial da tradição científica do Médio Oriente nas mãos de um povo que até então ignorava a ciência mas os sábios do Islão saberão conservar e desenvolver essa herança.
A partir do século XIII os eruditos árabes da África do Norte, da Sicília e da Espanha transmitirão essa herança ao Ocidente com a qual será iniciado o Renascimento científico.
Durante a primeira parte da Idade Média os verdadeiros sábios, capazes de observar e experimentar são poucos, mal vistos, têm falta de meios e na maior parte das vezes são considerados heréticos e feiticeiros.
O conjunto dos teólogos cristãos dessa época têm como referência as ideias de Platão e Aristóteles que lhes chegam mal traduzidas e das quais só conservam aquilo que é susceptível de apoiar o dogma da criação divina.
As obras de Aristóteles, revistas pelos teólogos cristãos, são a base do ensino escolástico em que só os mestres têm acesso aos textos comentados por eles e para os seus alunos e que culmina com Tomás de Aquino.
Mas homens como Roger Bacon e Guilherme de Ockham, o primeiro ainda contemporâneo de Aquino, mostram-se rebeldes contra o argumento da autoridade que consiste em pretender que uma coisa é necessariamente verdadeira porque Aristóteles o afirma!
Apoiando-se em observações cada vez mais numerosas e experimentações mais exactas, aperfeiçoando os métodos e os instrumentos de pesquisa e pondo, sobretudo, continuamente em causa os resultados obtidos, a Ciência, entre os Séculos XIV e XVIII, teimosamente, irá minar a estrutura autoritária do pensamento escolástico guiado e comandado pela Igreja Católica.
Ciência
Os mitos e as religiões permitiram durante muito tempo respostas à questão angustiante sobre as origens do homem e o sentido da sua existência mas, em contrapartida, pela sua própria natureza, elas fecharam-se a qualquer tentativa de questionar essas mesmas respostas.
Foi preciso passar muito tempo, até ao séc. VII A.C., na Grécia, para que fosse possível explorar mais uma via de conhecimento, a via da ciência, que propõe uma verdade que, pela 1ª vez, se deve demonstrar e pode ser sempre objecto de discussões.
Antes disso, primeiro na Mesopotâmia e no Egipto e de seguida no Ocidente, os homens convencidos da realidade de um Criador supremo sentiram necessidade de encontrar uma imagem correspondente nas leis do universo.
Voltaram-se, então, para a observação dos astros e não obstante o peso terrível dos mitos transformados em dogmas das religiões na liberdade de pensamento, mesmo assim, foram possíveis descobertas notáveis em astronomia e por vezes a intuições fulgurantes da natureza da vida mas, no essencial, os resultados dessas observações foram desviados em proveito da astrologia, da adivinhação e da magia.
No Oriente, onde a noção da criação é muito difusa e a gestão do mundo não depende de uma entidade divina não se sentiu logo a necessidade de procurar racionalmente uma causa exacta para as leis que regem o universo e é então, na Grécia, que se desenvolverá pela primeira vez um verdadeiro pensamento científico e aparecem as primeiras propostas racionais sobre a origem do Universo, da Terra, da Vida e do próprio Homem, e é interessante verificar que isto acontece num contexto geográfico e histórico privilegiado: na encruzilhada das civilizações da Ásia e do Médio Oriente.
Pouco se sabe das populações que viveram na Grécia 2.000 anos A.C. já que a civilização helénica começa com os povos denominados Acádios, de origem indo-europeia que, por aquela data, penetram na Grécia e ali se instalam desenvolvendo uma civilização homogénea que se distingue pelas suas tradições próprias, em si muito antigas, mas que levam em consideração as crenças dos habitantes autóctones e que posteriormente se enriquecem com as influencias de Creta, que lhe está muito próxima, da Ásia e mesmo do Egipto.
Esta civilização, denominada Micénica, estabelecida pelos Acádios, sofre grandes perturbações pelos consideráveis movimentos de populações e estas circunstâncias dão lugar a que a Grécia, no Séc.XII A.C., invente um novo tipo de sociedade baseado na síntese das tradições da Ásia e do Médio Oriente.
Em comunhão constante com a natureza, os gregos desenvolvem uma religião alegremente politeísta que lhes deixa uma liberdade de espírito total e por isso, num contexto religioso pouco constrangedor, foi junto dos poetas e dos filósofos que os Gregos da idade de ouro do helenismo clássico, procuraram modelos de sabedoria e de virtude que lhes permitiu desenvolver um pensamento realmente moderno e inovador baseado na observação e na experimentação.
Será um princípio de ciência sobrecarregada de erros enormes mas não deixa de ser, pela primeira vez, «a Ciência».
Tales de Mileto, por exemplo, já não aceita que a origem do mundo esteja nos deuses: ele imagina que uma substância primordial, a água, se encontra na origem da infinita diversidade das coisas da natureza, a qual deve também servir para as regenerar.
Anaximandro de Mileto é o primeiro a imaginar a existência de uma espécie de hierarquia dos seres vivos que conduziria ao Homem.
Hipócrates sugere que as mudanças do meio natural são, na origem, transformações do mundo dos seres vivos, conceito este que não é muito diferente do “transformismo” que será desenvolvido por Lamarck dois mil anos mais tarde.
Anaxágoras de Clazomenea tem a intuição de que a matéria é constituída por partículas infinitamente pequenas capazes de se agruparem em categorias semelhantes a fim de produzirem a ordem da natureza.
Demócrito, considera que o mundo é formado por partículas extremamente pequenas, duras e numerosas a que ele chama átomos, isto é, indivisíveis e que se movimentam incessantemente no vazio absoluto que os rodeia o que os leva a encontrarem-se e a agregarem-se uns aos outros produzindo novas formas.
Epicuro desenvolverá este conceito numa visão que faz do universo uma reunião de átomos descontínuos, inalteráveis e eternos.
Não vale a pena continuar com a descrição exaustiva do que foram os contributos dos sábios da antiga Grécia porque o meu objectivo, em termos de conclusão, é de que a inteligência do homem manifesta-se em todo o seu esplendor quando beneficia do contributo de influencias de várias culturas e se desenvolve num quadro religioso que não seja castrador da liberdade de pensamento.
Por estas razões, o período compreendido entre os séculos VI e II A.C. pode considerar-se «chave» na história da humanidade, marcado por uma autêntica explosão do pensamento.
A partir do século II A.C.com a progressão espectacular da «ordem romana» baseada essencialmente em valores militares e mercantis, o mundo ocidental inicia um longo período de estagnação científica.
No século VII, a conquista árabe coloca o essencial da tradição científica do Médio Oriente nas mãos de um povo que até então ignorava a ciência mas os sábios do Islão saberão conservar e desenvolver essa herança.
A partir do século XIII os eruditos árabes da África do Norte, da Sicília e da Espanha transmitirão essa herança ao Ocidente com a qual será iniciado o Renascimento científico.
Durante a primeira parte da Idade Média os verdadeiros sábios, capazes de observar e experimentar são poucos, mal vistos, têm falta de meios e na maior parte das vezes são considerados heréticos e feiticeiros.
O conjunto dos teólogos cristãos dessa época têm como referência as ideias de Platão e Aristóteles que lhes chegam mal traduzidas e das quais só conservam aquilo que é susceptível de apoiar o dogma da criação divina.
As obras de Aristóteles, revistas pelos teólogos cristãos, são a base do ensino escolástico em que só os mestres têm acesso aos textos comentados por eles e para os seus alunos e que culmina com Tomás de Aquino.
Mas homens como Roger Bacon e Guilherme de Ockham, o primeiro ainda contemporâneo de Aquino, mostram-se rebeldes contra o argumento da autoridade que consiste em pretender que uma coisa é necessariamente verdadeira porque Aristóteles o afirma!
Apoiando-se em observações cada vez mais numerosas e experimentações mais exactas, aperfeiçoando os métodos e os instrumentos de pesquisa e pondo, sobretudo, continuamente em causa os resultados obtidos, a Ciência, entre os Séculos XIV e XVIII, teimosamente, irá minar a estrutura autoritária do pensamento escolástico guiado e comandado pela Igreja Católica.
Escrava |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 76
Os garotos tentaram
escalar o pau-de-sebo, seduzidos por uma nota de cinco mil réis que balançava
no alto. De um pote quebrado saíu um gato em disparada, louco, perseguido pelos
moleques. Ricardo Braz olhava tudo aqui lo
com um grande tédio. Enterrara a sua vida…
- Por que você não vai conversar com o
prefeito e com o juiz? Está aí como um urso…
E Ruth admirava-se do
marido.
Ricardo encaminhou-se para
o grupo. Falavam sobre a formação de um tiro de guerra.
- Aqui
o dr. Promotor será o professor.
- Obrigado. O presidente deve ser o Sr.
Prefeito.
- O Dr. Juiz o secretário.
O médico seria o
tesoureiro.
- E o Dr. Ricardo, o orador…
- Apoiado
Seu Leocádio dos Correios
aproximou-se
- Dr. Ricardo, chegou ontem uma carta para o
senhor. Está aqui .
Letra de Paulo Rigger.
Invadiu-o a impaciência. Notícias dos amigos. Iria saber deles. Mas teve que
esperar muito. Depois que acabou a festa houve bênção. Sermão do vigário sobre
a castidade…
Trancou-se no quarto.
Quando terminou a leitura da carta as lágrimas caíram-lhe dos olhos sujando a
conferência escrita há dias. Morrera Pedro Ticiano… E morrera afirmando que a
Felicidade é não desejar… E ele, Ricardo Braz, que tanto desejara… Viver por
viver… E ele que qui sera viver para
o amor… Infeliz… Infeliz…
Deitou a cabeça sobre a
mesa, inteiramente desanimado. Invadiu-lhe os membros uma grande lassidão…
- A felicidade só a alcançam os imbecis e os
cretinos…
- Toda a vitória na vida é um fracasso na arte.
E a voz de Pedro Ticiano
soava-lhe aos ouvidos, metálica. Revia a figura do amigo. Alto, magro, sempre
de preto, muito céptico a dizer paradoxos…
- Chegar à suprema renúncia de não desejar…
E Ricardo Braz chorou o
seu fracasso.
Bateram à porta. Ele não
respondeu. Bateram novamente.
- Quem é?
- Eu, Ruth…
- O que há?
- Você quer fazer esperar o Prefeito e o Juiz?
Já está na hora da conferência. Vamos.
E Ricardo Braz obteve,
naquela noite, um esplêndido triunfo, com a sua patriótica conferência.
Depois tédio…
A mesma coisa, sempre.
A Terra a girar em torno
do Sol 365 dias.
Um dia, outro dia.
A Terá a girar sobre si
mesma em 24 horas.
Dia. Noite.
Sempre a mesma coisa.
A maior tragédia: a tragédia
da monotonia…
quarta-feira, abril 17, 2013
Em estilo discreto e intimista de bossa-nova, Renato Mota canta ou sussurra a Patrício Lobato a valsa de Lamartine Babo e Francisco Mattoso no show de lançamento do CD "Antigas Cantigas Brasileiras" em Dezembro de 2000. É um momento de encantamento musical, de ternura... que para mim me delicia.
Educação para o Consumo
Leio nos jornais que o nível de endividamento dos portugueses já vai nos 125% do PIB ou seja, do valor de toda a riqueza que conseguimos produzir num ano, cerca do dobro do que seria razoável para o nosso país.
A divida pública dispara porque os juros a fazem aumentar. Lembro - me das dificuldades financeiras do meu pai, quando eu era jovem e ele tinha de pedir dinheiro ao banco para pagar os juros ficando a dever ainda mais quando não o obrigavam a amortizar qualquer coisa, pouco que fosse.
É um processo diabólico, meus amigos, e que me marcou para toda a minha vida correndo o risco de ter passado por "poupadinho", "unhas de fome", tudo o que quiserem menos pedir dinheiro ao banco para satisfazer as despesas da vida...
Hoje, a situação é dramática: os rendimentos continuam a baixar, o consumo a descer e a possibilidade de contrair dívidas junto dos bancos quase impossível quando, até há pouco tempo, eles "corriam" atrás das pessoas para lhe emprestarem dinheiro...
A educação para o consumo não foi feita. O deslumbramento dos grandes espaços, das prateleiras a perder de vista, dos carrinhos deslizando à nossa frente e, finalmente, dos cartões de crédito que nem sequer permitem um último olhar ao dinheiro em termos de despedida...
Julgamos ser isso um pormenor sem qualquer importância mas não é. Uma das coisas que aprendi quando aluno de economia foi a do saldo utilidade - desutilidade que mental e inconscientemente efectuamos quando compramos seja o que for.
Eu explico:
- Tenho uma nota na mão esquerda, na direita o objecto a comprar e, nesse momento mágico, aquilo que a minha mente processa, ou devia processar, seria uma simples comparação nestes termos: - "será que o agrado ou utilidade daquele objecto compensa o desagrado que constitui eu ficar sem a nota que me custou a ganhar?
Ora bem, muita coisa entra em jogo neste raciocínio, de um lado e do outro, a favor da compra e contra a compra mas, uma coisa é certa, se em vez da nota eu tiver na mão um simples cartão é mais fácil decidir-me pela compra, até porque eles devolvem sempre o cartão...
Percebemos hoje, melhor do que nos últimos anos, como é difícil e acima de tudo precário, ganhar dinheiro. O que nos acenam é com o desemprego e a diminuição das pensões e reformas que tendem a ser uma e a mesma coisa numa altura das nossas vidas em que já nada podemos fazer para as melhorar.
Por isso, a "nota" que seguramos na mão esquerda quando fazemos a compra, é cada vez mais importante e talvez por isso, neste momento, 80% delas, nós as gastamos em alimentos para a família.
Mas, mesmo neste sector de despesas, a educação ao consumo não deixa de ser importante.
Eu conto-vos o exemplo que o meu então jovem professor de economia me dava no ano lectivo de 1961:
- Um jovem estudante de economia chegado a Londres deu-se com o drama de ter apenas uma moeda de penny no bolso. Lembrando o que tinha estudado sobre o saldo utilidade-desutilidade no momento em que, na compra, nos desfazemos do dinheiro, o que ele procurou saber foi qual o alimento que lhe poderia dar mais utilidade perante a desutilidade de ficar sem a sua única e preciosa moeda.
Pois bem, sabem o que comprou? - Amendoins, exactamente amendoins, de que em miúdo a minha mãe me municiava em cartuxos de papel pardo para eu atirar aos macacos quando visitava o Jardim Zoológico. Efectivamente, os amendoins eram, nessa época, o que se podia comprar com mais calorias para o organismo com tão pouco dinheiro.
Pelo resto da minha vida nunca esqueci o rapaz dos amendoins e cada vez mais temos que agir e raciocinar como ele. A educação para o consumo, mais do que nunca, é agora importante para a saúde e para a bolsa.
No hospital, logo após ter parido, a loirinha, em
prantos, chora ao saber que teve gémeos:
- Gémeos? Meu Deus, nããoooooooo!
A enfermeira, se desespera e para consolá-la, pergunta:
|
- Mas... minha amiga, ter gémeos é uma dádiva. Por que a senhora chora?
IEMANJÁ |
O PAÍS
DO
CARNAVAL
Episódio Nº 75
Teria sido muito melhor se
tivesse ficado na Bahia, com os amigos, a sofrer com eles a tragédia que os
perseguia. Por vezes começou a escrever cartas a Paulo Rigger e a José Lopes.
Mas o orgulho impedia que as enviasse. Não confessaria a sua infelicidade a
ninguém… Fracassara…
- A Felicidade só está ao alcance dos imbecis
e dos cretinos…
Quanta razão tinha Pedro
Ticiano! Ele, Ricardo havia discordado. Dissera que o sentido da existência se
encontra no amor. Experimentara. Estava casado, amado pela mulher com um filho a
nascer, ganhando relativamente bem, mas inteiramente infeliz.
Ele pensara que a
felicidade quotidiana está ao alcance dos homens inteligentes…
Regurgitava a Praça da
Matriz. Todo o povo se reunira ali com as melhores roupas. Havia pau-de-sebo,
quebra-pote, corrida de saco, discurso do Sr. Juiz, bênção na igreja e, à
noite, a anunciada conferência de Ricardo Braz…
- Fala bem, o dr. Promotor…
- E recita, menina, que é mesmo uma beleza…
Imitava:
“Quando você passa, ó
gentil princesa…”
Grupos conversavam
animados. Ricardo, sentado junto à esposa, todo entregue aos pensamentos,
melancólico, não notou o Juiz que se aproximava, íntimo.
- Olá, Ricardo!
- Oh, Dr. Faustino! Então daqui a pouco temos o seu discurso…
- Você vai ver, um formidável discurso. Daqui , só você e o médico me entendem. Os mais, uns
ignorantes…
O povo reclamava a oração
do Sr. Juiz. A filarmónica atacou o hino nacional.
Todo empertigado no velho
fraque, raros cabelos brancos a desmoralizarem a calva doutrinal, erguendo as
mãos ao alto o orador começou:
- Brasileiros…
E improvisou o discurso
improvisado na véspera. Aludiu às “barbas brancas do canhão” (velho canhão
inútil da guerra do Paraguai, relíqui a
da cidade) e terminou beijando a bandeira emocionado:
- Minha mãe! Minha mãe!
Estrugiram as palmas.
Muitos abraços. Parabéns. Cumprimentos.
- Um belo discurso!
- Até a mulher do Prefeito chorou
O Capitão levantava a
ideia da formação de um tiro de guerra. Seria uma beleza. Quando viesse a
guerra com a Argentina…
O Juiz queria saber a
opinião do “colega” Ricardo Braz sobre o discurso.
Gostei muito, estava muito
bom…