Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, fevereiro 18, 2017
A MATANÇA
DO
PORCO
A vida dos povos é como a água dos rios: tanto uma como outra fluem… A água dos rios ao sabor da marcha dos terrenos e a vida ao sabor dos “tempos” e “tempos” é tudo o que determina, influencia e explica as nossas existências num emaranhado de razões a que se convencionou chamar os “tempos”.
E, “tempos” houve, em que alguém, vivendo entre os povos do norte de África percebendo que os porcos, que de porcos só têm o nome, e pelo contrário adoram chafurdar no meio das poças de água, decidiu que eles não eram bem-vindos àquelas paragens face à escassez do precioso líqui do.
A proibição assumiu mesmo uma tal importância que foi o próprio profeta Maomé que a impôs a todos os seguidores da sua religião, no seguimento do que já acontecia com os judeus e, desta forma, se viu o porco livre daquele destino cruel que é o de nascer e ser criado para acabar com uma faca espetada no coração exactamente por aqueles que dele cuidaram com todo o desvelo desde tenra idade e a quem ele se habituou a olhar com amizade.
Mas, como neste estremo da Europa a água era coisa que não faltava, deixou de haver argumento que privasse os povos que aqui habitavam de aproveitar para a sua alimentação a carne mais saborosa de quantas a natureza criou, excepção feita aos javalis, que são seus primos e foram inventados para fazerem as delícias do nosso amigo Obelix …
O porco é um dos primeiros animais domésticos e entre nós adqui riu uma importância que ultrapassou em muito a do seu valor alimentar para se constituir num factor de natureza sociológica e cultural.
No norte do país, dizia-se que um indivíduo era tão pobre que nem tinha um porco para matar, e por alguma razão os mealheiros antigos, de barro, tinham a configuração de um porco já que ele assegurava, ao longo de um ano, preservado em sal, na sua própria gordura ou fumado, as deliciosas proteínas constituindo aqui lo a que, na aldeia dos meus avós, na Beira Baixa, chamavam: «o governo da casa...».
Mas antigamente as pessoas eram muito pobres e poucas eram aquelas que conseguiam criar e matar um porco. Eram os ricos que distribuíam por eles alguma carne para lhes adocicar um pouco a boca e as relações.
Até à década de sessenta, a matança tradicional era uma simples festa familiar ou uma refeição de trabalho festiva, em que se comiam as partes mais perecíveis do animal, que não eram salgadas nem fumadas, como o sangue, o fígado e pulmão, para além da carne velha do porco do ano anterior, que ainda sobrava na salgadeira.
Esta situação traduzia a escassez em que então se vivia e daí o ditado: “ossos de suão, barba untada, barriga em vão”.
Só a partir daquela década, com algum desafogo proveniente da emigração, é que as Festas da Matança do Porco adqui riram uma dimensão que variava em função das posses de cada um podendo agrupar, as mais pequenas, entre 10 a 12 pessoas, das quais faziam parte os familiares e vizinhos e as maiores, ao nível do Concelho, de 40 a 100 convivas.
As pequenas e médias Matanças tinham como função contribuir para o estreitamento do pequeno núcleo produtivo no seio da sua esfera habitual de entreajuda, enquanto que as grandes tinham a ver com questões de prestígio e de ostentação de riqueza das “antigas casas grandes”.
As tradicionais Matanças estão a desaparecer e são muito poucos aqueles que levam à risca os rituais desta prática comunitária em que participavam amigos e familiares e que tantas saudades me deixou quando, em rapazinho, participava nelas em casa dos meus avós.
Mais uma vez, são os “tempos” que levam coisas e trazem coisas a tal ponto que os regulamentos da Comunidade Europeia proibiram que as tradicionais Matanças do Porco, mesmo as de âmbito familiar, pudessem acontecer sem a presença de um veterinário para atestar o estado de saúde do animal e as condições sanitárias (?!?...?!?).
Que exagero, que falta de ligação à realidade… Então, não são os próprios donos do animal que o alimentam e acompanham diariamente que logo chamam o veterinário se ele deixa de comer ou apresenta alguma anomalia no seu comportamento?
E quanto às condições sanitárias alguém espera encontrar um mini matadouro para além de um armazém varrido e lavado mais a banca de matar o porco e as facas próprias para cada desempenho devidamente afiadas?
Mas, desta vez, os nossos representantes em Bruxelas, bateram-se galhardamente na defesa das nossas tradições que estavam condicionadas desde 2003 e a título excepcional correu até um Edital pelas Juntas de Freguesia a autorizar o abate caseiro do porco sem interferência da autoridade veterinária.
Uf… que alívio, já posso novamente pensar em deliciar-me com o “arroz do osso do peito” e a “semineta”, ementa tradicional que na aldeia da minha avó, a Concavada, era confeccionada pela mão experiente da senhora Maria, daquele porco a quem, o rapazinho que eu era adorava dar de comer e que foi morto pela facada certeira do ti' Margalho, sem corrermos o risco de irmos todos presos.
Mas isto sou eu a pensar ou a sonhar, melhor dizendo, porque já não há avó, não há pocilga, não há porco, a senhora Maria e o ti' Margalho há muitos anos que morreram e a aldeia quase já não tem vida assim como, da mesma maneira, comigo irão morrer as saudades das pessoas e dos sabores, em suma, a saudade daqueles “tempos”…
NELSON NED - DOMINGO À TARDE
A melhor voz romântica do Brasil, o único cantor da América Latina que esgotou por 4 vezes o Carnegie Hall em Nova York, acaba por se refugiar nas drogas e na religião de certo por dificuldades de convivência com o seu corpo e a sua doença. Em Outubro de 2009 aparecem comunicados da sua morte mas ninguém assume e a imprensa nada diz. Em comentários, diz-se que ele está vivo e precisa da ajuda das pessoas comprando a sua música.
No dia 24 de Dezembro de 2013, passou a viver em uma clínica de repouso na Granja Viana, Cotia, próximo a São Paulo. Poucos dias depois, em 4 de Janeiro, ele deu entrada no Hospital Regional de Cotia, com infecção respiratória aguda, pneumonia e problemas na bexiga.
Morreu na manhã de 5 de Janeiro de 2014 no Hospital Regional de Cotia, em São Paulo, devido a complicações de um quadro de pneumonia.
As dores de cabeça da Troyka em 2011... |
O Ex-1º Ministro
José Sócrates
José Sócrates, hoje, num artigo de opinião
que saiu no “meu” Diário de Notícias, respondeu aos ataques que Cavaco lhe
dirigiu no seu livro de Memórias – quais memórias?... – que ele publicou, quase
sem ter deixado arrefecer o lugar que deixou em Belém.
Parece-me, a mim, que as Memórias,
quando não há o perigo de esquecimento porque tudo ficou registado e anotado,
precisam de mais tempo para serem memórias, precisam de maior reflexão.
Recordações “a quente” não são memórias
porque o que faz delas memórias é, exactamente, o tempo. Sem ele, o tempo, é
como estar a mexer num cadáver que ainda não arrefeceu e o objectivo só pode
ser o de pretender retocar qualquer coisa da vida que não ficou do agrado do
falecido ou da família.
Politicamente, Cavaco, é cadáver, como
também o é, igualmente, José Sócrates, e melhor seria que o diálogo entre cadáveres
fosse deixado para os vivos, para a história, porque a conversa entre mortos
políticos cheira mal, especialmente quando em vivos já não se gramavam...
Sócrates está pior, aguarda o desfecho
de um processo em Tribunal, relativamente a uns dinheiros que foram parar às
suas contas em Paris e que não se sabe muito bem se eram dele ou de um amigo
rico, de infância, para pagar favores do tempo em que era Chefe do Governo.
Aguardemos o desfecho do Processo e da
decisão do Tribunal transitada em julgado, porque, nestas coisas que são
decisivas para a reputação de uma pessoa, não se admitem palpites.
Espero e desejo que seja provada a sua
inocência, porque foi 1º Ministro do meu país, do Partido Socialista, em
quem sempre votei e, num aspecto, estou 100% com ele: As opiniões políticas de Cavaco e a sua própria
pessoa, sempre me enfastiaram.
Do carácter de Cavaco Silva muita coisa ressaltou,
como se não fosse já conhecido de sobra, do seu último discurso de tomada de
posse como Presidente da República e de que muitos portugueses, em que me incluo,
se lembram muito bem: o espírito de vingança e desforra.
Vi, com alívio, a partida de José Sócrates para ir
estudar em Paris, em Junho de 2011, deixando o país numa situação muito difícil,
necessitado de recorrer aos empréstimos da troyka, porque, segundo argumentou o PS, na luta partidária pelo poder, o PSD lhe tinha
chumbado o PEC 4, já negociado com a Alemanha.
Enfim, más recordações de um país em
aflições financeiras, durante as quais, Sócrates, acusa Cavaco Silva de ter
sido a “mão por detrás dos arbustos”.
Cavaco e Sócrates, dois homens que se
odiaram mas, mesmo pendente de uma sentença em Tribunal, prefiro Sócrates,
porque atribuo sempre maior gravidade aos defeitos de carácter de Cavaco Silva
do que às trafulhices de Sócrates se é que ele as cometeu.
sexta-feira, fevereiro 17, 2017
Em campanha, com o seu amigo Oliveira e Costa |
O Ex-Presidente
Cavaco e Silva
Cavaco e Silva
e o seu Livro de
Memórias
Não, afinal ainda não nos livramos dele. Persegue-nos
agora com um livro para nos fazer sentir que ainda está vivo e nós, cidadãos
portugueses, todos muito saudosos do seu passado... “recebemos de presente” um
livro com as suas memórias onde ele fala de si, da família e transcreve as
Actas das suas Reuniões das 5ªs Fªs, com o 1º Ministro José Sócrates, que não fica
lá muito bem na fotografia que ele lhe traça.
Como sabem, não gosto nem nunca gostei deste senhor, do
seu carácter e do seu estilo de “menino bem comportado”. É um sonso, passou
toda a vida em auto elogios e a lamentar-se como se fosse um desgraçadinho.
Esteve no poder em Portugal, durante 20 anos, os últimos
10 como Presidente da República, não porque tivesse valor para esses cargos, e
eu estou a pensar em todos os outros que por lá passaram, Ramalho Eanes, Mário Soares,
Jorge Sampaio, mas porque foi capaz com a sua sonsice de inspirar aos
portugueses uma imagem de homem de confiança, respeitador dos valores
tradicionais da sociedade portuguesa.
Agora, ele que nunca foi escritor, resolveu escrever
um livro de Memórias, onde repetiu, aqui lo
que sempre fez: falou da sua família, auto elogiou-se e transcreveu as Actas
das Reuniões qui nzenais que teve com
o 1º Ministro José Sócrates em que este não fica muito bem, como seria de
esperar...
Talvez Sócrates venha a escrever um livro de Memórias
e lhe responda. Para já, foi apenas através do facebook, que ele deixou no ar a
questão de saber porque se esqueceu ele, ex-Presidente da República deste país, de mencionar no seu livro de Memórias, os casos do BPN, venda do Pavilhão Atlântico, e do incentivo que deu aos
portugueses para apostarem no BES que, no seu dizer, era um Banco sólido, isto poucos
meses antes de tudo aqui lo ruir como castelo de cartas e
centenas de portugueses terem ficado sem as economias de uma vida de trabalho. Casos que poderiam ser agora referidos e explicados neste livro.
Claro que o Ex- Presidente Cavaco não fala de nada
disso nas suas Memórias pelo que, este livro, bem se poderia denominar de livro
das Boas Memórias ou das Memórias Inócuas, que não interessam nem ao menino
Jesus, com a sua devida permissão...
Para castigo, saiu de cena depois de ter sido obrigado
a investir como Chefe do Governo, António Costa, socialista, eleito pelos votos
maioritários dos deputados da Assembleia da República, ficando sem efeito a
eleição do seu apaniguado Passos Coelho, que passou, depois, tempos e tempos a
gritar e a "chorar baba e ranho" que o António Costa lhe tinha roubado o lugar... porque tinha tido mais
votos nas eleições, sem perceber bem as regras do regime democrático em que
vive...
Por tudo isto passou Cavaco e daí a sua saída de cena
atormentada, depois de um discurso crispado em que foi obrigado a investir António
Costa.
Um Presidente da Direita a dar posse a um Chefe de
Governo de Esquerda antes de se ir embora... é preciso ter galo!
Desta amarga cena final de despedida da política, não
nos fala ele nas suas Memórias mas, conhecendo-o como os portugueses o
conheceram, também não era de esperar que falasse.
Paz à sua alma de homem político e que viva ainda
muitos anos cheio de saúde junto da sua Maria e dos netos, lá na Quinta da Coelha, nos Algarves,
com o seu pouco recomendável vizinho Oliveira e Costa.
quinta-feira, fevereiro 16, 2017
(Mia Couto)
Episódio Nº 15
Nem me virei. Segui, encolhido, governado
só pelo medo. É que, naquele preciso momento, um esticão na linha me indicava a
presença de um peixe namordiscando o anzol. Mas eu não queria contrariação com
o adivinho, fingi nada acontecer.
As sacudidelas na linha confirmavam-me que
eu amarrara um peixão enfeitado de peso e tamanho. Mas eu, desatrevido, não
mexia nem bulia. Meu pai, não sei como, notou os estremeções na linha.
- Não vai puxar o peixe?
Eu sem saber nem acto nem palavra. Continuei
olhando o nada, a fingir-me de falecido. O medo nasceu connosco, é o medo que
nos aperta o nascimento a pontos de nos estrearmos com lágrimas.
- Vá, puxa a linha!
Se ele era cego como se apercebia dos puxões
na linha? Pareceu adivinhar minha dúvida:
- Depois destes anos tantos nem preciso ter
olhos para saber que está a picar.
Sentou-se, a meu lado. Mesmo junto à berma
do cais ele fez balancear as pernas. Eu tremia com medo da carantonheação dele.
Sua voz desapropriava a minha:
- Onde está teu isco?
Sem dom de resposta, apontei as minhocas
na lata. O homem enfiou dois dedos grossos na boca da lata e retirou o verme
estremexente, reviravirando-se no vazio.
Falou na sua língua caseira sobre peixe e
pescaria. Na língua do nosso lugar não há palavra exacta para dizer pescar. Diz-se
“matar o peixe”. Não há palavra própria para dizer barco. E oceano se diz
assim: “ o lugar grande”. Somos gente da terra, o mar é recente.
- Estou abençoando, mas não é
a isca.
- Então?
- Estou abençoando-lhe a si.
Meu pai: será que ele me reconhecia?
Depois me olhou com aquele fundo vazio que me impossibilitava de o encarar. E
disse assim:
- Você, miúdo, vou-lhe dizer
uma seguinte coisa: sou cego para coisa vivente. Mas vejo bem do lado da morte.
E estou ver sua morte...
- Minha morte?
- Você há de morrer afogado
em lençol faz conta os panos virassem ondas de água.
- O senhor sabe quem eu sou?
Podemos não ter petróleo, gás, ouro, diamantes, em quantidades que fazem o conforto financeiro dos países e, em alguns casos, dão lugar à corrupção e esbanjamento como se essas riquezas fossem pertença apenas de meia dúzia de cidadãos, os políticos que estão no poder e, de certo, mais patriotas que os restantes... só pode ser!
Digamos, portanto, que Portugal, não tendo nenhuma
dessas matérias-primas que fazem as delícias de que quem as possui, está livre
e despreocupado para poder gozar a parte saudável da vida apreciando o que ela
tem de melhor, tal como um almoço de peixinho grelhado, num restaurante à beira-mar,
olhando o sol a espelhar-se no estuário do Tejo num ambiente de paz, ali para os lados de Algés.
Foi exactamente isso que eu fiz ontem, na companhia de
dez agradáveis velhotes, como eu, que em 1960, já lá vão, portanto, 57 anos, se
encontraram, pela 1ª vez, jovens e cheios de ambição no futuro, ali ao Príncipe
Real, em Lisboa, na Rua da Escola Politécnica, que à porta do gordo Mister
Cork, grande “amigo” dos choferes de táxi que lhe levavam os turistas ingleses
a quem ele vendia artefactos regionais de cortiça e se desfazia em mesuras, se
abria à direita, para o Largo e Jardim do Príncipe Real, onde se localizava um
Palácio que era o do “nosso” Instituto Superior Colonial.
Eu morava praticamente em frente, num quarto alugado, que dava também para o Jardim do Príncipe Real que aproveitava para estudar e observar as manobras do chuleco, de calcas apertadas à cowboy, que punha os cornos no Mister Cork cuja mulher muito mais nova, "boa" e muito puta, despertava cobiça e para quem, era evidente, o "Cork" com tanta banha e já sem ser novo, mais treinado nas mesuras aos clientes, não devia dar uma para caixa.
Ficar-se-ia pelo prazer da vista e pagava para isso... Enfim, recordações do passado em que estes pequenos escândalos da nossa rua, ainda eram notados, não obstante a descrição dos comportamentos que só não resistiam a uma observação mais atenta e maliciosa.
Eu morava praticamente em frente, num quarto alugado, que dava também para o Jardim do Príncipe Real que aproveitava para estudar e observar as manobras do chuleco, de calcas apertadas à cowboy, que punha os cornos no Mister Cork cuja mulher muito mais nova, "boa" e muito puta, despertava cobiça e para quem, era evidente, o "Cork" com tanta banha e já sem ser novo, mais treinado nas mesuras aos clientes, não devia dar uma para caixa.
Ficar-se-ia pelo prazer da vista e pagava para isso... Enfim, recordações do passado em que estes pequenos escândalos da nossa rua, ainda eram notados, não obstante a descrição dos comportamentos que só não resistiam a uma observação mais atenta e maliciosa.
A companhia, ao almoço, era a apropriada às saudades
desse passado já longínquo e ao qual não resistiram muitos desses jovens,
nossos colegas, que então se apresentaram para o início das aulas no Ano
Lectivo de 1959/60.
Sobrámos nós para este almoço... Poderiam ter sido
eles, mas a vida determinou que o privilégio de saborear aquele belo peixinho
grelhado, de seu nome “pregado”, fosse só nosso.
Foi assim porque a vida assim o qui s.
É uma redundância mas é a verdade... talvez por isso, aquele peixinho,
acompanhado de grelos bem verdinhos, batatas e cenouras cozidas, tudo regado
com um belíssimo azeite de qualidade extra que também só o nosso país possui,
ainda tenha sabido melhor.
A minha experiência é reduzida, não ando propriamente
a viajar pelo mundo fora a experimentar menus, mas ainda recordo a desilusão
que tive quando comi um peixinho oferecido por pescadores, vivia eu na cidade
da Beira, em Moçambique, e que eles tinham apanhado no Oceano Índico.
É que o sabor dos peixes tem, naturalmente, a ver com
o alimento e a temperatura das águas onde vivem e são apanhados, e o mar a Norte
das costas de Portugal, onde existe o melhor peixe do mundo, reconhecido por
aqueles que o podem comer por todo o lado, como era o caso de Nelson Piquet,
campeão brasileiro de F1, que afirmou, com toda a convicção, nunca ter comido
melhor peixe do que em Portugal.
A Torre do Bugio, ao largo, na entrada da barra para o
grande estuário do Tejo, em frente de Lisboa, de um lado, e de Cacilhas, do
outro, foi pano de fundo das minhas vistas enquanto almoçava e o sol de inverno
rebrilhava nas águas.
À saída, percebi que havia ali clientes de todos os
dias, para os quais aquele cenário e aquele peixinho grelhado seriam o trivial.
Que desperdício, algo tão bom ser o trivial... Por
isso, é que a vida dos ricos é um tédio e uma sensaboria. Tudo acaba por perder
a graça...
Por exemplo, eu adoro sardinhas assadas na brasa nos anos em que elas
são gordas e saborosas, o que está longe de sempre acontecer, acompanhadas de
uma salada de pimentos verdinhos, também assados na brasa, com tomates e broa
de milho. Então, reservo-me o prazer de as saborear apenas de oito em oito, ou
mesmo qui nze em qui nze dias, para não abusar do prazer que elas me dão.
Na vida, o que é especialmente bom, não se pode tornar
numa trivialidade.
- Dá para perceber?...
Devia fazer-se o mesmo com a própria vida, vivendo-a devagar para saborear as coisas boas se elas, por acaso, acontecerem.
terça-feira, fevereiro 14, 2017
Trump e Trudeau, EUA e Canadá, vizinhos, tão próximos e tão diferentes. Trump, racista, xenófobo, inculto, preside, inexplicável e perigosamente, ao país que é “apenas” a única potência mundial.
Trudeau, espírito aberto, diplomata, Chefe
do Governo do Canadá, sensivelmente com as mesmas dimensões dos EU mas com uma
população dez vezes inferior.
Trump, sabe que é “feio” ser racista e
por isso, para justificar a decisão de não deixar entrar no país, imigrantes
oriundos de países do Norte de África, de religião islâmica, com excepção
daqueles com quem tem negócios, afirma que só quer deixar de fora “as pessoas
erradas”
Trump só teve um mérito: como homem do
show business, que é, como quem diz, do entretenimento, soube falar às pessoas
erradas para ser eleito Presidente dos E.U.A., mesmo não tendo a maioria dos
votos expressos, e ganhando naqueles Estados predominantemente de cidadãos menos
esclarecidos mas mais deslumbrados pelo poder e capacidade dos milionários.
A forma completamente diferente como se
relaciona com os seus vizinhos do Norte e do Sul é chocante, mesmo que não seja
difícil de perceber as contradições entre ele e a pessoa que é Justine Trudeau,
chefe do Governo do Canadá, país, também ele, de imigrantes, como o foi o pai
de Donald Trump, nos E.U.
Trudeau é um idealista mas também um
pragmático, que precisa de um relacionamento, pelo menos normal, com o seu
vizinho do Sul, para as trocas comerciais tão importantes para o seu país e,
por isso, o seu relacionamento político com Trump..., mas sempre dizendo, ao contrário
deste, que “são bem vindos ao Canadá todos as pessoas independentemente do país
de origem ou credo religioso”.
Dois homens diferentes, diria mesmo
opostos, à frente de países também muito diferentes.
De dimensões idênticas, Canadá e E.U.A. A América tem cerca de dez vezes mais população que o vizinho do Norte e uma
fronteira em comum que é a maior do mundo, cerca de nove mil qui lómetros. Diferencia-os a origem das suas populações
migratórias, uma anglo-saxónica, no caso dos EU, francófona, a do Canadá.
Creio que Trump é um acidente na história
do seu país que, tal como nas boas famílias, também está sujeito a que lhe
apareça uma “ovelha negra”. Não acredito que ele venha a ser reeleito, como já
se está propondo, e esta decisão de proibir a entrada de cidadãos de sete países
de religião islâmica, como regra, marcam-no muito negativamente porque, para além
de ética e moralmente ser condenável, vai contra os interesses da própria América.
Trump não consegue superar os seus defeitos como homem
e fez-se rodear de conselheiros que, escolhidos por si, apenas o “empurram”
para este tipo de decisões que o reconfortam no seu âmago. Percebe-se isso na
sua linguagem gestual porque, a outra, a falada, é curta e grossa: o homem
gosta de impor, de ser obedecido!
Os E.U. só podem sentir-se envergonhados porque isto não
está nem na génese e, consequentemente, na índole do seu povo: é uma aberração,
uma anomalia. Um dia, a história registará este momento da vida do país como um
acidente penoso de recordar mas que pode acontecer quando se atribui a um certo
tipo de pessoas tanto poder. Talvez uma lição a reter para o futuro.
Esperamos que o mecanismo da Constituição dos EU,
posta agora em prova, resista aos perigos que homens como este representam na
vida de um país tão poderoso e decisivo para o mundo como o é a América do Norte.
segunda-feira, fevereiro 13, 2017
e inteligência de uma mulher
Onze pessoas estavam penduradas numa corda num helicóptero.
Eram dez homens e uma mulher.
Como a corda não era forte o suficiente para segurar todos, decidiram que um deles teria que se soltar da corda…
Eles não conseguiram decidir quem, até que, finalmente, a mulher disse que se soltaria da corda, pois as mulheres estão acostumadas a largar tudo pelos seus filhos e marido, dando tudo aos homens e recebendo nada de volta e que os homens, como a criação primeira de Deus, mereceriam sobreviver, pois eram também mais fortes, mais sábios e capazes de grandes façanhas...
Quando ela terminou de falar, todos os homens começaram a bater palmas…
APRENDI...
Aprendi....que ninguém
é perfeito enquanto não se apaixona.
Aprendi....que a vida é dura
mas eu sou mais que ela!!
Aprendi que... as oportunidades nunca se perdem aquelas que desperdiças... alguém as aproveita.
Aprendi que... quando te importas com rancores e amarguras a felicidade vai para outra parte.
Aprendi que... devemos sempre dar palavras boas... porque amanhã nunca se sabe as que temos que ouvir.
Aprendi que...um sorriso é uma maneira económica de melhorar teu aspecto.
Aprendi que... não posso escolher como me sinto... mas posso sempre fazer alguma coisa.
Aprendi que...quando o teu filho recém-nascido
segura o teu dedo na sua mão tenta prende-lo para toda a vida.
Aprendi que...todos, todos querem viver no topo da montanha... mas toda a felicidade está durante a subida.
Aprendi que... temos que aproveitar da viagem
e não apenas pensar na chegada.
Aprendi que...o melhor é dar conselhos só em duas circunstâncias... quando são pedidos e quando deles depende a vida.
Aprendi que...quanto menos tempo se desperdiça...
mais coisas posso fazer.
é perfeito enquanto não se apaixona.
Aprendi....que a vida é dura
mas eu sou mais que ela!!
Aprendi que... as oportunidades nunca se perdem aquelas que desperdiças... alguém as aproveita.
Aprendi que... quando te importas com rancores e amarguras a felicidade vai para outra parte.
Aprendi que... devemos sempre dar palavras boas... porque amanhã nunca se sabe as que temos que ouvir.
Aprendi que...um sorriso é uma maneira económica de melhorar teu aspecto.
Aprendi que... não posso escolher como me sinto... mas posso sempre fazer alguma coisa.
Aprendi que...quando o teu filho recém-nascido
segura o teu dedo na sua mão tenta prende-lo para toda a vida.
Aprendi que...todos, todos querem viver no topo da montanha... mas toda a felicidade está durante a subida.
Aprendi que... temos que aproveitar da viagem
e não apenas pensar na chegada.
Aprendi que...o melhor é dar conselhos só em duas circunstâncias... quando são pedidos e quando deles depende a vida.
Aprendi que...quanto menos tempo se desperdiça...
mais coisas posso fazer.
Poema Do Fecho Éclair
Filipe II tinha um colar de oiro,
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.
Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
Combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco,
e a tíbia de um santo
guardada num frasco.
.
Foi dono da Terra
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safiras, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo,
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.
(António Gedeão - Poeta português - 1906-1997 - Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente.)
Filipe II tinha um colar de oiro,
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.
Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
Combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco,
e a tíbia de um santo
guardada num frasco.
.
Foi dono da Terra
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safiras, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo,
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.
(António Gedeão - Poeta português - 1906-1997 - Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente.)
(Mia Couto)
(Episódio Nº 14)
E todas as manhãs, os pescadores
esperavam na muralha, enquanto ele desembrulhava o mesmo velhíssimo pacote de
cigarro e abria um saco cheio de oferendas.
Eu me incluía nos caçadores de peixe. Aguardava
na longa fila enquanto, lá por cima, estridentavam as gaivotas. Chegada a minha
vez eu ficava tomado pelo medo e, num deslize, me afastava da fila.
Vezes sem conta eu voltava a alinhar
naquela demora. Mas sempre, chegado defronte do velho, tropeçava em mim e
abandonava o lugar.
Uma certa manhã, minha velha faleceu. Acabou-se
assim mesmo como viveu, sem sobressalto. Só se queixou:
-
O sol está a puxar-me demais, parece estou quente.
Aproximou-se do tanque e meteu os pulsos
na água como se ganhasse fresco. Encostou-se no tronco da grande árvore e
deixou os braços tombados no interior do tanque.
Sem o sabermos ela estava já morrendo,
aguando suas veias na eternidade da água. Tirámo-la como se apenas a fossemos
deitar. Em silêncio, como se aquele apagamento já tivesse ocorrido há muito
tempo. Como se simplesmente levássemos a mãe a passear, numa tarde como as
demais.
Minha velha teve morte instantânea? Ou não
será que toda a morte é instantânea?
No dia do funeral o tempo mudou. Sem
explicação o céu se invernou. Manhã cedo, o frio escorria pelas frestas: ninguém
iria pescar com tal tempo. Mas fui, mesmo assim. Minha alma condizia com o
mundo, ventos e nuvens.
Quem sabe o cais me desanublasse? Estava
eu naquele abandono, segurando a linha como se a minha alma estivesse espetada
no anzol submerso.
Foi quando escutei passos. Virei-me,
receoso. Entre as neblinas, me sustou o vulto de Agualberto Salvo-Erro. Fiquei,
linha desabençoada pingando triste nas águas
cinzentas. Será que ele me reconhecera, assim pelas costas?
Impossível, o velho estava completamente
cego. Então, ele fez ouvir a sua voz rouca:
- Maneira como assim? O peixe não vai picar...
Os Gregos
Há pessoas que gostam, ou pelo menos não se importam, de viver acima das
suas possibilidades, e embora não seja muito correcta a comparação, acontece o
mesmo com os países e, claro, o resultado são enormes dívidas públicas que um
dia alguém há-de pagar.
A Grécia é um país simpático que tem a
seu favor a sua tremenda herança cultural, património de todos nós, europeus,
ocidentais, com os seus filósofos, Platão, Aristóteles, Sócrates, Pitágoras, e
outros, que estabeleceram os fundamentos do pensamento racional na ética, política,
física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia,
história natural e outras áreas do conhecimento humano, herança que se constituiu
em dívida que o mundo ocidental nunca lhes pagará.
Talvez por isso, os gregos de hoje,
alimentam alegremente uma dívida de 180%, números redondos, do seu Produto
Bruto, em finais de 2015, que alguns já dizem que é impagável, deixando-nos
a nós, com quase 130%, sozinhos, como se não tivéssemos também contribuído com
os “nossos” Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e outros, que deram novos
mundos ao mundo.
Finalmente,
pagamos anualmente 8 mil milhões de euros de juros e ninguém fala, - perdão,
alguns falam, os do costume... - outra coisa que não seja satisfazer essas
nossas obrigações, embora a muita falta que faria todo esse dinheiro para
investimentos que melhorariam a nossa qualidade de vida.
Custa
muito, mas há que honrar os compromissos, o que não acontecerá com os gregos
porque, ao que parece, já não há como pagá-los, e Atenas entrará em
incumprimento lá para o Verão deste ano sendo forçada, então, a sair da Zona Euro... e o sol continuará a nascer todos os dias.
Por
outras palavras, a partir de certos montantes, as dívidas deixam de poder ser
pagas e a responsabilidade por estas situações não podem deixar de ser assacadas,
também, a quem emprestou o dinheiro até esses limites irresponsáveis.
Trump
já ameaçou e vai deixar a Europa sozinha dando ordens aos seus representantes, no
FMI, para se retirarem do programa grego.
Tem
que haver a coragem e honestidade de falar verdade e dizer, no momento certo,
que já não há mais espaço para dívida, por muito simpáticos que nos sejam os
nossos amigos gregos... porque agora vai ser pior...
Situações
destas já aconteceram por mais que uma vez no nosso país. Salazar, quando
chegou ao poder, perante o descalabro das contas públicas, aumentou os impostos
e diminuiu nas Despesas do Estado sem qualquer preocupação que não fosse
acertar as contas, a chamada preocupação contabilística.
A
Troyka, muito anos depois, fez quase o mesmo, porque, no fundo, estes acertos de
contas entre o Deve e o Haver são muito fáceis de fazer e não há como
fugir-lhes, a não ser que esse alguém se chame Sócrates e se pire à “papo-seco”
para Paris, estudar, escrever livros e deixe a “bola quente” a outros...