sábado, outubro 23, 2010


O ALANDROAL



O Alandroal é um concelho do Alto-Alentejo, muito bonito mas muito isolado na planície alentejana de campos de trigo com manchas verdes de eucaliptos ou sobreiros que camuflam algumas ribeiras secas.

Em 2006 tinha 6187 habitantes e hoje, provavelmente, serão menos. Apesar disso, tem 16 freguesias e emprega 220 funcionários sem que, para lhes pagar, tenha outras receitas para além das verbas do Orçamento do Estado.

O IMI, Imposto Municipal sobre Imóveis pouco acrescenta como receita já que, o Alandroal, não “sofre” de desenvolvimentos urbanísticos, aldeamentos turísticos, marinas, campos de golfe, etc…

O Alandroal vive à custa dos contribuintes e tem vindo a endividar-se ao ritmo de 3 milhões por ano desde 2001 a 2008 acumulando uma dívida de 28 milhões ou seja, 4525 por cada habitante, que se acrescentam aos 13000 que cada português já deve em nome da República.

Como 2008 foi ano de eleições autárquicas a derrapagem triplicou e agora foi penalizado pela lei e vai receber menos 10% nas transferências do Orçamento do Estado.

O novo Presidente da Câmara queixa-se de que não vai ter dinheiro para pagar o subsídio de Natal, nem as horas extraordinárias (?) e ajudas de custo.

Se quer saber como este país chegou aonde chegou, à iminência da banca rota, é fácil:

- O Alandroal é Portugal.

Miguel Sousa Tavares (Jornal Expresso)

VÍDEO

Mais que um concerto é um recital...

CARLOS DO CARMO - CANOA
As imagens da minha linda cidade de Lisboa embaladas na voz de um seu grande cantor, Carlos do Carmo, numa canção de grande sucesso, "Canoas do Tejo" de Frederico de Brito (1894-1977), para os amigos o Britinho ou o poeta-chauffer por ter sido taxista durante muitos anos. Tinha apenas a instrução primária mas a inspiração de um grande poeta e também compositor. Ao longo da sua vida escreveu mais de mil letras e centenas de músicas. "As Canoas do Tejo" são uma delícia...


DONA FLOR
E SEUS DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 251



No entanto, antes de entrar e sair do banheiro, ela examinara o quarto constatando a ausência de qualquer dos seus maridos: o doutor ainda na farmácia e Vadinho virara alcanfor desde o escândalo do primeiro turno.

Pois bem, lá estava o tinhoso em cima do guarda roupas, balançando as pernas. Ao lusco-fusco, naquela meia sombra, parecia da mesma madeira do anjo posto no corredor da Igreja de Santa Tereza. Seu olhar caía sobre os ombros de dona Flor com tal cupidez a ponto da gula escorrer como um óleo sobre ela, sobre seu corpo húmido. “Meu Deus”! murmurou dona Flor, apanhando a bata para vesti-la às carreiras.

- Por que isso, meu bem? Será que eu não te conheço toda, todinha inteira? Onde é que eu não te beijei ainda? Que tolice é essa? Que besteira…

Num salto de bailarino – que leveza de movimentos! – seu corpo nu atravessou a luz e a sombra, veio aterrissar com elegância no leito de ferro, sobre o novo colchão de molas:

- Minha filha, este colchão novo é uma nuvem, é bom demais. Meus parabéns.

Estirou-se indolente, uma réstia de luz lhe marcava o sorriso satisfeito no rosto sensual e tentador. Dona Flor, na sombra, o contemplava.

Vem aqui, Flor, vem deitar junto de mim, vamos vadiar um pinguinho. Deita aqui, vamos rebolar nesse colchão cutuba…

Ainda no amuo do acontecido com as alunas – aquele despropósito de Vadinho meter a mão nos peitos de Zulmira e a peste gostando, pois, mesmo sem enxergar o sem-vergonha, ficara toda esmorecida, num dengue de desmaio – dona Flor reagiu brusca:

- Acha pouco o que fez? Não contente, ainda vem se esconder para me espiar? Você não ganhou modos nesse tempo, podia ter aproveitado…

- Não fique assim, meu bem… Deite aqui, juntinho de mim.

- E ainda tem coragem de me chamar para deitar junto de você! O que é que você pensa de mim? Que não tenho honra nem brio?

Vadinho não queria discussão:

- Meu bem, que zanga é essa? Não fiz nada demais… Rabeei o olho um nadinha na anatomia da moça… Só de curiosidade para saber como são feitos os caprichos de Pelancchi Moulas. Dizem que ele mama naqueles peitos… - riu e depois baixou a voz – venha, meu bem, sente aqui junto de seu maridinho, já que não quer se deitar, tem medo. Sente que gastar um dedo de prosa, não foi você mesma quem disse que a gente precisa conversar?

- Eu sento e você depois quer me pegar o pulso…

- Ah1 se eu pudesse… Então tu pensa que se eu te pudesse pegar a pulso, sem teu consentimento, eu estava aqui te adulando, perdendo tempo? À força, meu bem, nunca vou te querer: escreva isso que é palavra de Vadinho…

- Tu tá proibido de me pegar a pulso?

- Proibido? E por quem? Não tem deus nem diabo para me proibir seja do que for. Tu não sabe
disso ou tu viveu comigo sete anos e não me aprendeu?

sexta-feira, outubro 22, 2010

Mia Couto fala de Moçambique, claro, mas podia ser daqui... ou, se calhar, de qualquer outra parte do mundo... Como a economia, também a cupidez, a falta de valores, a primazia do ter sobre o ser se globalizou!...


POBRES DOS NOSSOS RICOS

A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.

Mas ricos sem riqueza.

Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.

Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.

Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. ou que pensa que tem.

Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.

A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos "ricos".

Aquilo que têm, não detêm.

Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.

É produto de roubo e de negociatas.

Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.

Vivem na obsessão de poderem ser roubados.

Necessitavam de forças policiais à altura.

Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.

Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.

Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...)

MIA COUTO


Anedota do dia

Um galo descobre a infidelidade da sua galinha e fica furioso! Começa a partir o galinheiro todo incluindo os ovos! Só que lá no meio havia um ovo de barro...
O galo completamente fora de si grita para a galinha:

- Aaaaahhhh minha grande puta! Nem o galo de Barcelos te escapou!

VÍDEO

O que ele mesmo cobiçou foi...

RITA LEE - MENINO BONITO
Cantora, compositora, instrumentista, nasceu em São Paulo, em 1947 mas é filha de um norte-americano e de uma filha de italianos o que contribuiu para que viesse a dominar cinco línguas: português, inglês, francês, espanhol e italiano. Alcança a consagração nacional em 1975 com o disco "Fruto Proibido que incluia várias canções que foram sucesso, muito em especial Ovelha Negra.

ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS CRISTO Nº 67 SOB O TEMA:

LUGARES SAGRADOS


Raquel – Cobertura exclusiva da segunda vinda de Jesus à terra. Nossos microfones estão juntos do famoso Muro das Lamentações, o único que ficou de pé daquele que foi o grande Templo de Jerusalém destruído pelo Imperador Romano Tito no Ano 70. O senhor conheceu o Templo, não é verdade, Jesus Cristo?

Jesus – Conheci-o em todo o seu esplendor, Raquel… e olha o que é hoje, não ficou pedra sobre pedra… um pedaço de muro…

Raquel – O senhor vinha com frequência ao Templo?

Jesus – A última vez vim com um chicote. Os sacerdotes haviam-no convertido numa cova de ladrões.

Raquel – Preferia rezar noutros Templos, talvez lugares de culto mais discretos e íntimos?

Jesus – Não, já te disse que para falar com Deus eu ia aos montes, de noite, olhava as estrelas, a cara da lua… a mim nunca me agradaram os Templos.

Raquel – No entanto, em seu nome, levantaram-se centenas deles por todo o mundo, milhares de Igrejas, Catedrais, Basílicas, Santuários, Oratórios, Ermitãs, Capelas…

Jesus – E dizes que tudo isso se levantou em meu nome?

Raquel – Sim, já com certeza viste alguns por estes terras. São Templos cristãos, em sua honra e de sua mãe Maria.

Jesus – Que má memória a desses construtores… no nosso Movimento nunca íamos orar aos Templos.

Raquel – Mas os primeiros cristãos já tinham Templos para celebrar a eucaristia, ou não?

Jesus – Pelo que me contaram, não. Eles reuniam-se em suas casas, não havia Templos nem altares.

Raquel – Faltava-lhes dinheiro para os construir?

Jesus – Sobrava-lhes fé para não os construir. Olha, recordo uma vez que regressávamos à Galileia e passámos por Samaria. Entre judeus e samaritanos havia sempre disputas. Há que adorar a Deus no Templo de Garizim, diziam eles. Há que adorá-lo no Templo de Jerusalém, diziam Pedro, Santiago e outros.

Raquel – E o senhor, como bom judeu, preferiu Jerusalém.

Jesus – Não. Eu disse que nem num sítio nem no outro. Deus não vive em edifícios construídos pela mão do homem. Deus não cabe em igrejas ou sinagogas. Eu dizia que havia de rasgar o véu de todos os templos.

Raquel – Tenho que fazer-lhe uma pergunta que a nossa audiência gostaria que respondesse. O senhor sabe que o maior de todos os templos construídos em seu nome é a Basílica do Vaticano, onde vive o Papa, sucessor de Pedro e o seu máximo representante?

Jesus – E como é esse templo? Maior do que aquele que havia aqui em Jerusalém?

Raquel – Muitíssimo mais. Já o visitei. O Templo que o senhor conheceu parecia um brinquedo comparado com a Basílica de São Pedro. Dentro, há estátuas, altares de ouro, jóias, museus, tesouros de valor incalculável, riquezas secretas…

Jesus – E dizes que esse é o templo de Pedro, do meu amigo Pedro, de Cafarnaum, o pescador?

Raquel – Assim lhe chamam, Basílica de São Pedro.

Jesus – Pois em nome do meu amigo Pedro, que não está aqui, eu gostaria de falar com esse que dizes ser responsável seu e meu.

Raquel – O senhor estaria disposto a um debate a esse nível?

Jesus – Por que não? Nestes dias inteirei-me de tantas coisas que eu creio ser urgente fazer umas perguntas a esse Papa.

Raquel – Emissoras Latinas fará a gestão dessa entrevista. Será um grande “furo” jornalístico. Esteja atenta a nossa audiência. Informaremos oportunamente quando chegar esse momento.
Despeço-me,
Raquel Perez.

DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 250


Por duas ou três vezes naquele fim de tarde, Vadinho lhe repetira com sua voz matreira, num sorriso de motejo:

- Vamos ver quem pode mais, minha santa… Tu, com teu doutor e teu orgulho, e eu…

- Tu, com quê?

- Eu, com meu amor…

Era um desafio e dona Flor, forte da revelação que ele lhe fizera pouco antes (não a tomaria a pulso, só por bem, com o consentimento dela), se prontificou a aceitá-lo, disposta a correr o risco, possuindo para tanto carácter íntegro e ânimo valente. Quem atravessou, meu arrogante, o inferno da viuvez sem se queimar, não tem medo de caretas nem de arrogantes:

- Coloco minha honestidade acima de tudo…

Vadinho começara a rir:

- Tu está falando igualzinho o doutor, meu bem. Toda estrambótica, toda monarca, parece um professor…

Foi a vez dela rir:

- Sou professora, já o era antes de o conhecer a ele e conhecer você. E, por sinal uma professora muito cotada…

- Professora de quitutes e não de presunção…

-Tu acha mesmo que fiquei presunçosa? Que mudei?


- Tu nunca vai mudar, meu bem. Tua única presunção é tua honra. Mas eu já comi ela uma vez, vou comer outra… Por mais professora que você seja, meu bem, na vadiação é minha aluna. E eu vim para acabar de te formar…


Nesse pagode, com risos e pilhérias, e com ternura, ficaram a conversar até quase a hora da janta. Dona Flor cheia de vento e jactância: jamais Vadinho dobraria seu capricho de mulher honesta, rompendo sua virtude de casada.

Quando da outra vez ela era uma adolescente coibida, não soubera regular as emoções do primeiro amor e lá se fora sua honra na viração de Itapoã. Hoje é mulher vivida na dor e na alegria, conhece o preço e a significação de cada coisa. Vadinho vai ficar cansado de esperar. Mas ele não acreditava naquela invencível resistência:

- Tu vai me dar quando menos tu espere… Como da outra vez… E tu sabe por quê?

- Por quê?

Arrogante e insolente ele explicou:

- Porque tu gosta de mim, e no fundo, lá bem no fundo onde nem tu mesmo enxerga, tu tá doidinha por me dar…

Vadinho pleno de astúcia, de presepadas. Dona Flor firme em sua decência fundamental:

- Desta vez tu vai perder… O tempo e a cantiga…

Foi um fim de tarde sereno e cheio de encanto. Começara, no entanto, difícil e desagradável.

Quando, após as aulas vespertinas, dona Flor saiu do banho e ante o espelho foi-se perfumar e pentear, seminua, apenas de porta seios e
calçola, um ruído de aprovação veio de qualquer parte
do aposento.

quinta-feira, outubro 21, 2010

VÍDEO

Mas que impressão isto me faz...

TONI DE MATOS - EU SOU ROMÃNTICO

Continua, certamente, a despertar saudades em muitas pessoas da minha geração. Assumidamente romântico, ele próprio o reconhece nesta canção. "A obrigação é o profissionalismo e o bom senso. Por isso o artista deve ter consciência que uma má educação não pode ser apagada por nenhuma borracha" - dizia ele em 1989 como era característica dos artistas da "velha guarda" que nutriam um profundo e sincero respeito pelo público.


INFORMAÇÂO ADICIONAL À ENTEVISTA

Nº 66 SOB O TEMA:

- O CELIBATO SACERDOTAL (Conclusão)

Apesar de tudo isto, no Séc. VIII, San Bonifácio informou o Papa que na Alemanha quase nenhum bispo ou sacerdote era celibatário. No Concílio de Aix-La-Chapelle (Ano 836) admitiu-se que em conventos e mosteiros realizavam-se abortos e infanticídios para encobrir as relações sexuais entre os clérigos.

Há que ter em conta que, desde o Séc. V a Igreja se convertera na entidade mais poderosa da Europa e a maior latifundiária e os espaços económicos de maior poder foram os mosteiros e, entre estes, sobressaía o Mosteiro de Cluny, no Séc. X, que serviu de modelo a centenas de outros por toda essa Europa.

À cabeça desta rede de mosteiros estava o Papa de Roma como proprietário de imensas riquezas e latifúndios. Naquele tempo, Papa, Cardeais, Arcebispos, Bispos e Abades pertenciam todos à nobreza feudal que ampliava permanentemente as suas propriedades graças aos laicos que faziam doações e testamentos às autoridades religiosas para obter o perdão para os seus pecados.

Quando nos séculos X e XI se iniciaram as sublevações dos servos contra os senhores, a Igreja temeu pela sorte de tantos bens e por isso, os dirigentes do “Movimento Cluny” esforçaram-se por imporem regras severas e, entre elas, incluiu-se o celibato. Em 1073 chegou a Papa o monge Hildebrando, chefe do Movimento Cluny, que tomou o nome de Gregório VII.

Ele concebeu um Estado Mundial encabeçado pelo Papa como soberano absoluto e para o conseguir requeria que as terras propriedade da Igreja não se desmembrassem. Daí, esta sua frase:

- “A Igreja nunca se verá livre das garras do laicado enquanto os sacerdotes não se libertarem das garras das esposas.”

Em 1095, o Papa Urbano II ordenou a venda das esposas dos sacerdotes como escravas deixando os filhos ao abandono tendo, mais tarde, decretado como inválidos os matrimónios clericais.

Apesar de todos estes esforços, não foi fácil impor o celibato de tal forma que, no Séc. XV, 50% dos sacerdotes estavam casados incluindo oito Papas.

Era tão normal que os sacerdotes tivessem concubinas e não cumprissem com a lei do celibato que os bispos instauraram a chamada “renda de putas” que o sacerdote pagava ao bispo sempre que tinha relações sexuais. Esta cobrança terminou em 1435.

É só no Concílio de Trento (1545-1563) que se implantou definitivamente a disciplina do celibato obrigatório para os sacerdotes e proibida a ordenação de homens casados.

Celibato Opcional

Recentemente, nos anos 70, surgiu em Espanha e noutros países da Europa e do mundo o Movimento para o Celibato Opcional (MOCEOP), integrado por sacerdotes católicos casados, que continuam vinculados a comunidades cristãs “de iguais”, sem hierarquia e que trabalham com suas famílias para uma Igreja integrada por comunidades de pessoas corresponsáveis todas elas
para levar ao mundo a boa notícia da justiça e da equidade de Jesus da Nazaret.

DONA
FLOR

E SEUS
DOIS

MARIDOS


Episódio Nº 249



Ao fim da aula do turno matutino, quando tiravam a sorte para escolher quem levaria a compoteira de baba-de-moça para casa, dona Flor sentiu sua presença mesmo antes de vê-lo.

Até então não se acostumara com o facto de ser apenas ela a enxergá-lo e, ao dar com Vadinho junto à mesa, todo nu e exibido, estremeceu. Mas como as alunas não reagiram ao escândalo, recordou-se do seu privilégio: para os demais o seu marido era invisível. Ainda bem.

Continuavam as alunas a rir e a pilheriar como se entre elas não se encontrasse um homem nu em pêlo, a considerá-las e a medi-las com olho clínico, demorando-se nas mais bonitas, um abuso. Lá vinha ele perturbar outra vez as aulas, meter-se com as alunas, igual a antes. Por falar nisso, Vadinho lhe devia explicações, o acerto de contas em atraso, antigas: aquela pérfida Inês Vasques dos Santos, a lambisgóia.

Muito pachola, na maciota, num passo leve, quase passo de dança, ele rodeou três vezes a abundante Zulmira Simões Fagundes, crioula augusta, opíparos quadris, seios de bronze (ao menos pareciam) secretária particular do poderoso magnata senhor Pelancchi Moulas, muito particular, no dizer do povo.

Tendo-lhe aprovado as ancas com distinção e louvor, Vadinho quis tirar a limpo de uma vez por todas o enigma dos seios: seriam mesmo de bronze ou apenas de extraordinária rigidez? Para tanto elevou-se no ar e, pondo-se com os pés para cima e a cabeça para baixo, espiou pelo decote do vestido da princesa da nação nagô.

Emudeceu dona Flor, estarrecida, não o vira ainda a se evolar, tão à vontade no ar como em terra firme, mantendo-se ali da maneira que melhor lhe convinha: de pé ou estendido em horizontal, inclinado ou de cabeça para baixo – como naquele instante a enxerir os peitos da soberba.

Não era dado às alunas vê-lo, é certo, porém algo deviam sentir na atmosfera, pois estavam por demais nervosas, rindo e falando à toa, numa espécie de pressentimento. Dona Flor foi ficando braba, Vadinho ultrapassara todas as medidas. Ultrapassou-as realmente quando, não satisfeito com o espiar meteu decote abaixo para decidir em definitivo a matéria-prima daquelas criações divinas: eram de carne e sangue ou de milagre?

Ai – gemeu Zulmira, estão tocando em mim…

Dona Flor perdeu a cabeça ante tanta canalhice, explodiu num grito:

- Vadinho!

Quem? O quê? Como? O que é que tem? O que foi? As alunas tontas e excitadas cercaram a companheira e a professora – Que foi que disse, dona Flor? E você, Zulmira?

Zulmira explicou num suspiro dengoso:

- Senti uma coisa pegar e comprimir meu peito…

- Uma dor?

- Não… mais bem um agrado…

Recompunha-se com esforço dona Flor, Vadinho sumira no seu grito de aflição.

quarta-feira, outubro 20, 2010

GUILHERME ARANTES - PEDACINHOS
É paulista, cantor e compositor, nasceu em 1953, e aos 5 anos já tocava cavaquinho e aos seis aprendeu a tocar piano, tendo sido muito influenciado por seu pai. Entretanto, leva já mais de 30 anos de carreira e 140 espetáculos por esse Brasil fora.


Rubem Alves
... colunista da Folha de S. Paulo ...


Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente
tem coragem para aquilo que ele realmente conhece,
observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe
acerca da hora em que a coragem chega:
Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos.
Tardiamente.
Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei:

"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus
como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar:

a democracia é o governo do povo.

Não sei se foi bom negócio;
o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável,
é de uma imensa mediocridade.
Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo
como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha
para que o povo, na planície,
se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso
que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição.
Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias
pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário
pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa
numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado.
O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros,
porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces;
a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola
com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos
sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões,
se transformaram em donos do circo.

O circo cristão era diferente:
judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa,
se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro
"O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo,
a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos que, isoladamente,
são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
se incorporados a um grupo tornam-se capazes
dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos,
são capazes de pôr fogo num índio adormecido
e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,
segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo
é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens
e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista
que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam
a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung,
o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular.
O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche,
de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock,
não gosto de música sertaneja,
não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo,
eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos
e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno",
à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça,
é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves

NOTA
Tem razão Ruben Alves sobre o risco que representam as massas. Quando o povo diz que "muita gente junta não se salva" reconhece exactamente esse perigo, m
as trata-se de um risco que pode ser minorado (não eliminado, a liberdade terá sempre um preço) pela educação e o desenvolvimento de um sentido da responsabilidade cívica.
A democracia é uma longa estrada que priveligia a liberdade dos cidadãos mas não os pôe a salvo da manipulação. Dela, só cada um, através da sua formação como homens e essencialmente como cidadãos, se pode defender.


Há quem preferisse à democracia uma tirania de Jesus Cristo, mas essa está fora de hipótese...


DONA
FLOR
E SEUS
DOIS
MARIDOS

Episódio Nº 248



- Tu já começas com teus modos brutos… Por favor… Vadinho…

Elsa abriu de novo os olhos, e preguiçoso lhe sorriu:

- Tá bom tola. Vou para o quarto… O meu colega já saiu?

- Colega
?

- O teu doutor… Não somos os dois casados contigo, teus maridos?

Colegas de babaca, meu bem… olhava-a com astúcia e impudência.

- Vadinho! Não admito essas pilhérias…

Falara alto e da cozinha veio a voz da empregada:

- Falou comigo, dona Flor?

- Estou dizendo que já vou fazer o cuscuz…

- Não se zangue, meu bem… - disse Vadinho levantando-se.

Estendeu a mão para agarrá-la – o nudez mais indecente! – mas ela fugiu.

- Tu não tem juízo…

No corredor cruzaram-se os dois homens, e, vendo-os passar um pelo outro, dona Flor sentiu ternura pelos dois, tão diferentes mas ambos seus esposos na Igreja e no Juiz. Os “dois colegas” pensou a rir da graça chula. Logo se conteve: Meu Deus, estou ficando cínica que nem Vadinho. Aliás o cúmplice lhe pescava um olho cúmplice, enquanto punha a língua para o doutor, a mão num gesto pornográfico. Dona Flor zangou-se.

Não, não estava direito e ela não podia tolerar tais capadoçagens, esses gracejos porcos, maneiras de moleque, as grosserias e os abusos. Já era tempo de Vadinho se comportar numa casa de respeito.

O doutor, escanhoado, de colete e paletó, novinho em folha:

- Hoje estamos um tanto ou quanto em atraso, querida…

Meu Deus, o cuscuz – correu dona Flor para a cozinha.

terça-feira, outubro 19, 2010

NOVOS TESTES
DOS PSICÓLOGOS...


Um sujeito está numa entrevista para emprego. O psicólogo dirige-se ao candidato e diz:
- Vou fazer-lhe o teste final para a sua admissão.
- Perfeito! - diz o candidato.

O psicólogo pergunta:

- Você está numa estrada escura e vê ao longe dois faróis emparelhados a virem na sua direcção. O que acha que é?
- Um carro. - diz o candidato.
- Um carro é muito vago. Que tipo de carro? Um BMW, um Audi, um Volkswagen?
- Não dá para saber, não é?

- Hum... - diz o psicólogo, que continua - Vou fazer-lhe outra pergunta: Você está na mesma estrada escura e vê só um farol a vir na sua direcção. O que é?
- Uma mota - diz o candidato.
- Sim, mas que tipo de mota? Uma Yamaha, uma Honda, uma Suzuki?
- Sei lá, numa estrada escura, não dá para saber... (já meio nervoso)

- Hum..., diz o psicólogo. Aqui vai a última pergunta:
- Na mesma estrada escura você vê novamente um só farol, menor que o anterior, e você apercebe-se que vem mais lento. O que é?
- Uma bicicleta.
- Sim, mas que tipo de bicicleta? BTT, estrada, passeio...?
- Não sei.

- Lamento, mas reprovou no teste! - diz o psicólogo.

Aí o candidato dirige-se ao psicólogo e fala:
- Interessante esse teste. Posso fazer-lhe uma pergunta também?
- Claro que pode. Pergunte.
- Você está à noite numa rua iluminada.Vê uma mulher com maquilhagem carregada, vestidinho vermelho bem curto, a girar uma bolsinha... o que é?
- Ah! - diz o psicólogo - é uma puta.
- Sim, mas que puta? A sua irmã? A sua mulher? Ou a puta que o pariu?

VÍDEO

desafios...

CARLOS RAMOS - CANTO O FADO

Alfacinha de gema, a sua voz quente e a postura modesta fizeram dele um dos fadistas mais queridos do público português. Natural de Alcântara onde nasceu em 1907 viria a falecer em 1969.

DONA
FLOR


E SEUS
DOIS


MARIDOS


Episódio Nº 247



Dona Flor despertou em sobressalto já o doutor Teodoro tomara seu banho, fizera a barba, começava a mudar a roupa.

- Dormi demais…

- Minha querida, você deve estar morta de cansaço, é natural. Não é brincadeira preparar um bródio como o de ontem e depois receber as pessoas, atendê-las… Você precisa de descansar. Por que não fica na cama? Eu me arranjo com a empregada…

- Na cama? Se não estou doente…

Saiu do leito de ferro, arrumou-se às pressas: tomavam juntos o café pela manhã, e dona Flor fazia questão de pôr o cuscuz no fogo, somente ela preparava a massa ao gosto do marido, leve e fofa, para isso usando uma pitada de tapioca em pó.

Cansaço, sim, mas não da festa; fatigada da noite insone, o ouvido à escuta como nos outros tempos, à espera dos passos pela rua, altas horas. Além da preocupação: notara por acaso, Teodoro, alguma diferença em seus modos quando do festejo principal com que encerraram as brilhantes comemorações do aniversário? Não era quarta-feira nem era sábado mas dona Flor tinha vestido a camisola nupcial e o doutor disser.

- Que lembrança mais gentil, querida. Há ocasiões que se impõem e me perdoe se hoje abuso, rompendo o calendário… - era sempre tão prudente e delicado, que a mulher não ficaria cativa da sua educação?

Aquiesceu dona Flor, mas com os sentimentos em desordem. Seus lábios nachucados, a boca em fogo, a adusta língua guardavam o sabor picante de Vadinho, seu ardido gosto, e assim o beijo, com que o doutor invariavelmente dava início a seus transportes, lhe soube chocho e insípido.

De todo confusa, ela se perdeu, rompendo-se a coordenação justa e perfeita a fazê-los uníssonos no prazer casto, porém impetuoso. Conturbada, não acompanhou o marido passo a passo como de hábito, e lá se foi ele primeiro enquanto dona Flor só no bis (pois houve bis) conseguiu soltar-se da prisão dos nervos tensos. Jamais se dera assim, com tanto desacerto, quase uma repetição da noite de equívocos de Paripe. Por sorte, se ele a percebera estranha e esquiva, atribuíra desencontros e modos à fadiga, à trabalheira das comemorações de aniversário.

De manhãzinha, quando uma luz ainda encardida pela noite veio esbater-se pelas paredes, dona Flor ouviu passos na distância e então adormeceu de um sono pesado como se houvesse ingerido entorpecentes.

Enfiou as chinelas, a bata de flores sobre a camisola, passou o pente nos cabelos, saiu para a cozinha. Ao chegar à sala, porém, percebeu o coisa-ruim estendida no divã, em sua impúdica nudez. Tinha de acordá-lo mesmo antes de temperar o cuscuz (da cozinha chegava o suave aroma do café coado pela ama). Dona Flor tocou o ombro de Vadinho, ele abriu um olho resmungando:

- Me deixa dormir, cheguei faz pouco…

- Tu não pode dormir aqui na sala…

- O que é que tem?

- Já te disse fico sem jeito…

Ele fez um gesto impaciente:

- E eu com isso…? Me deixa em paz…

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
À ENTREVISTA Nº 66 SOB O TEMA:


- O CELIBATO DOS SACERDOTES


O celibato pratica-se em muitas tradições religiosas. Nos mosteiros do Budismo, no Jainismo, no Hinduísmo… e foi também praticado no Judaísmo pelos essênios, no tempo de Jesus.

Os sacerdotes do Antigo Testamento, não, eles casavam-se e tinham família e também se casavam os presbíteros e dirigentes das primeiras comunidades cristãs, tal como aparece nos textos bíblicos do Novo Testamento.

O historiador e escritor chileno Ivan Ljubitic Vargas escreveu muitos textos sobre este tema e são dele os dados sintéticos que apresentamos de seguida sobre a história da lei do celibato:

- Nos séculos I, II e III a maioria dos presbíteros eram casados. A partir do século IV foi-se impondo a ideia de que o matrimónio e o sacerdócio eram incompatíveis. No Concílio de Elvira (Ano 306) aprovou-se um decreto que assinalava. “Todo o sacerdote que durma com sua esposa na noite antes de celebrar a missa perderá seu cargo” e o Concílio de Niceia (Ano 325) determinou, pela 1ª vez, que os sacerdotes não podiam ser casados mas esta disposição não foi acatada.

O Concílio de Tours II (567) estabeleceu que “todo o clérigo que seja encontrado na cama com a esposa será excomungado por um ano e reduzido ao estado laico”.

O Papa Pelágio II (575 – 590) ordenou “que não se repreendessem os sacerdotes sempre que não tenham passado as propriedades da Igreja para as suas esposas e filhos”. Este decreto (Ano 580) é revelador: pela 1ª vez expunham-se explicitamente as verdadeiras razões materiais e económicas da exigência do celibato sacerdotal: a herança das propriedades.

Desde o Concílio de Niceia até ao Séc. X tiveram lugar uma série de Sínodos Locais tocaram no tema do celibato. Em alguns exigia-se aos sacerdotes casados que abandonassem as suas esposas, noutros permitia-se que vivessem com elas e ainda noutros, a convivência sempre que o sacerdote se comprometesse a ter apenas uma mulher.

Neste período de seis séculos houve onze Papas filhos de Papa e de outros clérigos.

No Séc. VII a maioria dos sacerdotes franceses estavam casados. No 8º Concílio de Toledo (Ano 653) estabeleceu-se que as esposas dos sacerdotes podiam ser vendidas como escravas. O Papa Leão XI que governou a Igreja no Séc. XI estabeleceu que as mulheres dos sacerdotes
podiam servir como escravas no palácio romano de Letrão.

segunda-feira, outubro 18, 2010

RAPIDINHAS



Depois do átomo e da descoberta do neutrão, do protão, do fotão, do electrão, do quark, do busão do gluão, José Sócrates acaba de descobrir o "pelintrão". um corpo sem massa nem energia que suporta toda a carga.


Um homem entra no salão do barbeiro, e pergunta:

- Quanto tempo falta até chegar a minha vez?
O barbeiro olha em volta do seu salão, e responde:

- Mais ou menos 2 horas!»

O homem sai.

Passam mais alguns dias e o mesmo homem volta à barbearia e pergunta:

- Quanto tempo falta até chegar a minha vez?

O barbeiro olha de novo em volta do seu salão, e responde:

- Mais ou menos 3 horas!

O homem sai.

Passa uma semana e o mesmo homem entra na barbearia e pergunta de novo:

-Quanto tempo demora até chegar a minha vez?

O barbeiro olha em sua volta e responde:

- Mais ou menos 1 hora e meia!

O homem sai.

O barbeiro vira-se para um seu amigo que se encontrava na barbearia e diz-lhe:

- Oh Paulo, faz-me só um favor! Segue aquele homem e vê para aonde ele vai. O gajo sempre que entra aqui, pergunta quanto tempo falta até a sua vez, mas nunca mais volta.

Uns minutos depois, Paulo regressa ao salão a rir histericamente.

O barbeiro curioso pergunta-lhe:

- Então? Onde é que ele vai depois daqui?

- O tipo quando sai daqui vai p'ra tua casa!

VÍDEO

cuidado para não sujar a mesa...

Cu

GAL COSTA - CHUVA DE PRATA
Mais um grande sucesso de Ed Wilson e Ronaldo Basto de 1984 nesta voz que tem toda a carga dos trópicos (participou em 1968 num disco denominado Tropicália) porque não podia ser de outra zona do globo, é como se tivesse marca de origem... ou não fosse ela de São Salvador da Baía onde nasceu em 1945.



DONA FLOR

E SEUS DOIS MARIDOS


Episódio Nº 246

Também poucos vestidos elegantes para usar. Os trapos derradeiros eram um misto de remendos e de sujo. Vendera, peça a peça, tudo quanto possuíra. A última jóia, a que conservara por mais tempo (tinha sido herança de família), dela se desfizera certa madrugada, há uns dez anos (mais ou menos, Madame Claudette há muito deixara de contar meses e anos) quando, já no declínio exercia na Rua de São Miguel, michê barato. Vadinho, parceiro insensato mas galante, lhe oferecera montes de dinheiro e levara o colar azul-turquesa.

Naquela hora, ali diante daquela mesa da roleta, no instante exacto de fazer o jogo, no giro da derradeira bola, Madame Claudette sem fichas, sem vintém e sem esperanças, recordou Vadinho. Com lucro ou perda, na noite de sorte ou na urucubaca, jamais deixara de lhe oferecer pelo menos uma ficha de dez tostões e seu palpite. De uma feita ele quase estoura a banca no Casino Tabaris, saiu com os bolsos abarrotados de dinheiro, foi para zona festejar com uma carrada de amigos, bebendo aqui e ali. Lá chegando distribuíra entre as mulheres, como um rei da Carochinha, cédulas de cinco e dez mil réis, algumas de vinte e de cinquenta. Foi um delírio, as vagabundas o carregaram em procissão.

Se Vadinho fosse vivo, se estivesse ali, uma ficha ao menos lhe daria, garantindo-lhe um bife com feijão e o maço de cigarros, fazendo-o ao demais com aquele seu sorriso trêfego, com insolente graça, a lhe dizer: “Ao seu dispor, Madama, ao seu serviço”. Madame respondia: “Merci, mon chou”, ia jogar. Mas, ah! ele morrera moço num carnaval, se não lhe falta a memória gasta.

No momento exacto em que o recordou, então sucedeu: ia Chastinet, o crupiê perfeito, recolher e pagar a última bola, as mãos cheias de fichas – de cem, de duzentos, de quinhentos: as de quinhentos eram grandes, de madrepérola, uma beleza – quando lhe deu uma coisa, uma agonia, como se lhe atravessassem o corpo. Soltou um grito rouco e breve, suspendeu os braços e abriu as mãos, as fichas rolaram no tapete.

Activos, os malandros se precipitaram, foi uma confusão de homens e mulheres curvados na disputa. Só Madame Claudette, de tão confusa e em desespero, nem teve forças para se atirar naquele rolo, ficou parada, enquanto Chastinet, já recomposto, punha-se de joelhos para recolher as sobras. Também Granuzo, chefe de sala, veio correndo para salvar o que pudesse. Sobrou ficha para todos, menos para ela, atónita.

No decote de pelancas, sentiu Madame Claudette a mão lhe colocar uma das grandes, das de madrepérola, das de quinhentos, dinheiro de sobra para pagar o quarto e garantir uma quinzena de almoços.

“A seu dispor, Madama, a seu serviço, pareceu-lhe ouvir aquela voz de astúcia e picardia. “Merci, mon chou” respondera no costume antigo. Tomou o caminho da caixa para remir sua fortuna, sendo demasiado velha e sofrida para buscar explicação. Um dos jogadores certamente, com generosidade e rapidez lhe pusera no decote uma daquelas fichas afanadas. “Merci, mon vieux”
fosse quem fosse.

ENTREVISTAS FICCIONADAS
COM JESUS CRISTO Nº 66 SOB
O TEMA:
CELIBATO SACERDOTAL


Raquel – Emissoras Latinas em Jerusalém, cidades onde se cruzam culturas e religiões. E onde, uma vez mais, nos cruzamos com Jesus Cristo nestas jornadas históricas da 2ª vinda à terra. Bom dia, Jesus Cristo.

Jesus – Que sejam bons, Raquel.

Raquel – Na nossa anterior entrevista falámos dos sacerdotes. Está agora na hora de abordar um tema especialmente polémico: o celibato sacerdotal, a proibição que eles têm de casar e constituírem família.

Jesus – Já estou a ver, Raquel. Vais também tornar-me responsável por essa lei.

Raquel – E não o senhor nada a ver com isso?

Jesus – Nada. Eu não impus esse jugo a ninguém. Como iria fazê-lo se no nosso movimento todos os homens tinham a sua mulher? Filipe, Natanael, Pedro, Mateo… todos.

Raquel – Mas A Bíblia proíbe que os sacerdotes casem.

Jesus – A Bíblia? O que Deus disse é que não é bom um homem estar só. Inclusivamente Paulo, que era bastante severo, dizem-me, recomendou que os bispos tivessem a sua mulher. Uma só, isso sim.

Raquel – Então, quando começou esta lei do celibato?

Jesus – Quem pode sabê-lo. Consulta os teus amigos.

Raquel – Espera um momento… Vou chamar a… Ouve-me bem? Estamos aqui, em Jerusalém, em linha com Ivan Vargas, especialista no tema… Ivan, queremos saber quando se estabeleceu o celibato para os sacerdotes.

Ivan – A data é curiosa. Foi no Concílio de Niceia, no ano 325, quando se decidiu que os padres não se podiam casar.

Raquel – E por que diz que é uma data curiosa?

Ivan – Porque, uns anos antes desse Concílio, o Imperador Romano Constantino concedeu aos bispos e sacerdotes muitas terras e muito dinheiro.

Raquel – E que tem isso a ver com o casamento dos padres?

Ivan – Tem muitíssimo a ver. Imagine que um bispo tem 100 hectares de terra e um dinheirito amealhado. Se o bispo estiver casado, quando morrer, a quem deixará a terra e o dinheiro?

Raquel – À esposa e aos filhos, naturalmente.

Ivan – Mas senão estiver casado quando morrer é a Igreja que fica com tudo. A igreja não se preocupava se os bispos e os sacerdotes tinham mulher e filhos… desde que…

Raquel – Desde que?

Ivan – Desde que não os reconheçam. A proibição era essa: reconhecê-los. Porque as concubinas e os filhos ilegítimos não tinham direitos, não podiam herdar.

Raquel – E essa foi a razão da lei do celibato?

Ivan – Elementar, Raquel. Havia que proteger o património proibindo o matrimónio.

Raquel – Parece incrível…

Ivan – Foi assim que a Igreja acumulou e acumula propriedades… verdadeiros latifúndios. Séculos depois era a maior proprietária de toda a Europa. Os papas, bispos e padres, continuavam tendo mulheres e filhos mas não os reconheciam, ficavam ilegítimos, não herdavam nada.

Jesus – E fazem-me a mim, responsável por isso?

Ivan – O mais engraçado é que o Papa Paulo III que teve uns quantos filhos ilegítimos, foi quem impôs definitivamente o celibato a todos os sacerdotes no Concílio de Trento.

Jesus – Hipócritas…

Raquel – Obrigado, Ivan. Depois de ter escutado tudo isto, Jesus Cristo, estaria o senhor a favor do celibato opcional para o casamento dos padres?

Jesus – Com certeza. Cada um que decida, que escolha o seu caminho. O Reino de Deus é luta e requer esforço mas também é uma festa. A carga tem que ser ligeira e o jugo suave.

Raquel – Lei do celibato. Celibato obrigatório. Que opinam de tudo isto as Igrejas, as mulheres e os filhos não reconhecidos?

Nos vemos no próximo programa. Raquel Perez, Emissoras Latinas.

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