sábado, novembro 14, 2015

Em luto









Quando ontem, Barack Obama veio ao contacto com todos nós através da televisão, dizer que os ataques verificados em Paris eram um crime contra a humanidade, exagerou um bocadinho.
Na verdade, é um crime contra a nossa civilização ocidental que se desenvolveu na Europa e continuou nos EUA e hoje é adoptada por quase todo o mundo que reconhece nos seus valores e princípios a melhor maneira de se estar na sociedade. Por isso, só exagerou um bocadinho...
O respeito pela vida humana, a liberdade individual à volta de todo um conjunto de direitos e obrigações comumente aceites e vertidos em códigos e leis, constituem o mais importante da nossa maneira de estar no mundo a que chamamos civilização ocidental.
Os  jihadistas islâmicos não estão interessados em liberdade, direitos humanos, respeito pela vida pela simples razão de que já estão mortos, por outras palavras, estão vivos apenas para matar e de seguida morrer pela segunda vez.
Se repararem, os seus olhos têm uma expressão que vem vestida de luto, é fria, não é deste mundo, já foram mortos por uma ideologia em que que a crença religiosa levada até ao último extremo, os matou.
Das religiões monoteístas, as que adoram um só Deus, a islâmica é, neste momento, a mais perigosa, como em tempos terá sido a cristã em que atrocidades deste género, morte indiscriminada de pessoas, foi levada a cabo levantando bem alto a cruz de Cristo feito Deus que veio ao mundo para salvar os homens...
A fé religiosa é uma fuga, um escape que nunca é totalmente inofensivo porque, mesmo quando não é pretexto para matar, distrai as pessoas da vida, do mundo que as cerca, corta-lhes o raciocínio que é o sangue do pensamento sem o qual ele cristaliza e bloqueia.
Os bombistas suicidas e todos os outros que com uma arma na mão matam indistintamente para, no fim, serem abatidos pelas forças da autoridade, estão bloqueados por dogmas, que são rochedos enormes inultrapassáveis.
Você pode falar com eles, se falasse, e perceberia que dentro das suas cabeças só há um caminho, um único, o que leva à morte em nome de Alá.
Por muito que isto custe  a todos quantos professam  a religião islâmica e são pessoas pacíficas e sociais, foi assim que sucedeu.
O drama desta guerra contra os jihadistas islâmicos é que estamos a lutar contra pessoas, na maior parte jovens, que já estão mortas... nós lamentamos e choramos as vidas humanas que eles nos roubam mas, ao contrário, eles glorificam as deles.
No vídeo que mostro a seguir, Richard Dawkins tenta entrevistar um radical islâmico e o que se percebe é que, para este, o mundo acabou, está bloqueado, o seu pensamento confinou-se, estreitou-se, reduziu-se a um enorme buraco negro.
Em sinal de mágoa e luto ficamos hoje por aqui e amanhã  não há o Hoje é Domingo, (Na minha cidade de Santarém).
Regressaremos na 2ª Feira porque, mesmos que os radicais islâmicos não queiram, a nossa vida de pessoas livres e respeitadas, continua... e revigorada para os combater!

Richard Dawkin entrevista um radical islâmico
  
Para se perceber onde está o âmago da questão...



sexta-feira, novembro 13, 2015

Imagem


"Não sejam piegas, saiam da vossa zona de conforto e não vivam acima das vossas possibilidades! "



                                                                                                      Tirada do Blog Macroscópio


Há palavras que são pior que garfos atravessados na garganta das pessoas... não é Passos?

Mixórdia de Temáticas de Surpresa


Daniela Merkury - País Tropical


  "País Tropical"   é uma canção composta pelo cantor e compositor brasileiro Jorge Ben. A canção foi gravada originalmente pelo cantor Wilson Simonal, em 22 de Julho de 1969 e lançada no mês seguinte, tornando-se o maior sucesso de sua carreira. Em Dezembro daquele ano viriam a versão de Gal Costa, no álbum Gal, e a do compositor, para seu álbum. Com o passar dos anos e o ostracismo de Simonal, a música viria a ser mais e mais lembrada como um sucesso do seu autor (um dos maiores de sua carreira). A canção ainda recebeu versões de vários cantores como Daniela Mercury, Maurício Manieri, Ivete Sangalo, Shakira e Claudia Leitte



Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)



Episódio Nº 109


















Dona Teresa e Fernão Peres querem ser o casal que une o Condado portucalense e a Galiza, não querem que seja o príncipe a fazê-lo!

Ao ouvi-lo, Chamoa desdenhou do pouco ortodoxo casal régio.

 - Querem ter um filho varão, para passarem a perna ao príncipe!

Desagradada com aquelas perigosas intrigas contra o seu irmão, Elvira Peres de Trava invocou um costume antigo, a autoridade dos pais sobre os filhos em matéria de casamento.

- Os casamentos são as famílias que os decidem, não os filhos ou as filhas! Sempre foi assim e sempre assim será. Eu também não decidi casar com o meu marido, foi ordem de meu pai e eu aceitei.

Chamoa e Maria olharam para ela com um silêncio respeitoso e na cara de Gomes Nunes de Pombeiro surgiu, finalmente, um sorriso esperançado, quando sua esposa prosseguiu com convicção naquele caminho que se afigurava bem mais seguro.

Quando nos escolhem noivo, não o amamos. Muitas vezes nem sequer o conhecemos! Mas isso não é o mais importante, o fundamental é ter filhos, tratar das terras, preservar a família.

O encantamento e o amor são bonitos, mas não duram uma vida, como um casamento religioso!

Para surpresa das filhas, Elvira continuou:

 - Além disso, mesmo casados, podemos ter amigos, desde que ninguém saiba.

As filhas ficaram chocadas com aquelas ousadias. Ao vê-las assim, Elvira enxofrou-se, indignada.

- Achais que os maridos são fiéis às esposas? Nem o vosso pai!

Gomes Nunes de Pombeiro baixou os olhos, envergonhado, e a sua cônjuge, indo ainda mais longe, confessou um antigo pecadilho:

 - Também eu já me amiguei.

Irritado, o seu marido criticou-a:

 - Elvira, não tendes de o dizer! Olhai que ainda perco a paciência!

A sua esposa encolheu os ombros, e suspirou.

 - Vivemos tempos de perdição, alguns afirmam que estamos pior do que os romanos. Por isso vos digo, minha filha, não vos incomodeis. Podereis ver o príncipe em segredo.

Sim, tereis filhos do Paio Soares, se ele os conseguir gerar, mas podereis tê-los também do príncipe, que vosso marido não vai dar por isso! Os homens são uns palermas.

Gomes Nunes de Pombeiro, franziu o sobrolho, incomodado e preparava-se para contestar a mulher, mas esta antecipou-se:

 - Já vos jurei que Maria e Chamoa são vossas filhas!
                                                                         

Joãozinho















O Joãozinho entra em casa a correr e mostra ao pai um canivete novo que achou na rua.

- Mas tens a certeza que foi perdido? - pergunta o pai. 

- Foi perdido foi, que eu bem vi o homem à procura dele.


Linda, na sua nudez de mulher
TIETA DO AGRESTE 
(Jorge Amado)

EPISÓDIO Nº 5












Praia de Mangue Seco


Pois já lá vai mais de seis meses que ele morreu e até agora o padre não viu a cor do dinheiro. Está depositado na mão do juiz, em Esplanada, porque os parentes botaram questão, com advogado e tudo. 

Doutor Almiro disse que, pela lei, metade é deles. Daí eu fui perguntando, com não quer nada…


- Tu quer dizer que quando uma pessoa morre, metade do que ela tem fica para parentes?

- É isso mesmo…Perpétua busca no bolso da saia um lenço para enxugar o suor fino na testa com o lenço aparece um terço de contas negras.

- Quer dizer que, se tu morrer, metade do que é teu fica para mim e para o pai…

- Tu não presta atenção no que se fala. Só quando o falecido não tem filhos; é o caso dela mas não o meu. O que eu deixar quando morrer vai ser repartido entre Ricardo e Peto, meus filhos, meus únicos herdeiros.

Já foi assim quando o Major morreu – faz o sinal da cruz, eleva os olhos murmurando Deus o tenha em sua glória – a herança foi dividida, metade para mim, metade para os meninos. O doutor Almiro…

- Tu perguntou isso também?

- Sempre vale a pena saber.

- Tu pensa que ela morreu e que o marido não diz nada para ficar com tudo?

- E não pode ser? Porque ela nunca deu o endereço para nós? Mandou a gente escrever para caixa-postal, onde já se viu?

Proibição do marido, para a gente não saber. Você sabe o sobrenome dele? Nem eu. É Comendador para cá, Comendador para lá, e acabou-se, nada de sobrenome. Por quê? Tu não atina nestas coisas mas eu tenho pensado muito nisso e tirei as minhas conclusões.

Também Elisa havia atentado naquelas esquisitices. Em sua opinião, porém, outro era o significado da falta de endereço, de sobrenome, da ausência de maiores detalhes sobre a vida e família: Antonieta perdoara os agravos, não guardara mágoa, mas não esquecera o passado, não queria maior aproximação com os parentes, gente mesquinha do interior, não desejava misturá-los a seu mundo maravilhoso.

 Ajudava pai e irmãs como cumpre às filhas quando em boa situação. Obrigação cumprida, a consciência em paz, ponto final: reserva e distância. Se querem saber, faz ela muito bem!

Era isso e nada mais, não passando o resto de invenções da Perpétua, a cachola sempre a pensar malfeitos e desgraças. Se Antonieta decidisse deixar alguma coisa para o pai e as irmãs, após a morte, tomaria as medidas necessárias com antecedência, estaria tudo disposto e estabelecido.

- Não acredito, não. Se ela tivesse morrido, a gente havia de saber.

Termina de botar a mesa, fica parada, o olhar perdido:

- Está viajando, gozando a vida. Toda vez que sai a passeio, a carta atrasa. Atrasa mas chega. Lembra quando foi a Buenos Aires e mandou aquele cartão tão bonito? Vida é a dela: viagens, passeios, festas. 

Tieta é muito boa de pensar na gente no meio de tanta animação. Se fosse comigo que tivesse acontecido, nunca mais, nunca mais mesmo, eu havia de dar notícias.

Volta a vista para Perpétua, agora a passar as contas do terço:

- Vou dizer uma coisa, acredite se quiser. Mesmo se fosse para herdar o dinheiro todinho, sem ter que dividir com ninguém, nem assim eu desejo a morte dela.

- E quem deseja? – Perpétua suspende a reza, a conta negra entre os dedos:

- Mas senão chegar mais cartas, então é sinal que Antonieta morreu. Aí eu vou mover mundos e fundos até descobrir o marido dela e tomar a minha parte.

- Tu acaba lesa de pensar tanta maluquice. Ela está passeando, se divertindo. Por que agourar criatura tão direita? A carta não passa de amanhã.

- Tomara mesmo. Fui em casa do velho, ele está nos azeites. Sabe o que me perguntou? Se Astério não tinha metido a mão no dinheiro e pago alguma dívida, como fez daquela vez que usou o cheque para resgatar a letra vencida.

O velho pensa que a gente vive roubando ele. – Volta a dedilhar o terço, os lábios sem pintura movem-se em silêncio.

Com Perpétua é assim, taco a taco: Elisa fizera referência à intriga que resultara na partida de Antonieta, Perpétua, na volta da conversa, deu o troco, desentocou o malsinado assunto da duplicata, velho de cinco anos. A voz cansada, Elisa revida sem veemência:

- Tu sabe que, se ele não pagasse a letra, a loja ia à falência. Tu sabe, o Pai sabe…

Não cresce o tom de voz, monótono:

- Mas que a gente vive roubando, ah!, isso vive, não adianta tu ficar aí sentada de terço na mão, mastigando padre-nosso com esse ar de santa.

- Nunca toquei num tostão do velho…

- Nem ele ia deixar. É dela que a gente rouba. Para que ela manda o cheque todos o mês?

- Para as despesas do velho.

- E para que mais?

- Para ajudar na educação dos sobrinhos.

- Isso mesmo. Para ajudar na educação dos filhos da gente. O meu não chegou a completar dois anos e eu nunca mais peguei menino. Nunca mais, Deus não quis…

Os olhos vão da sala de jantar para o quarto de dormir, pela porta aberta vê a cama de casal ainda por arrumar. Deus não quis? Nem para isso Astério serve… A voz neutra prossegue:

- E tu? Será que tu mandou dizer a Tieta que Peto está no Grupo Escolar, não paga nem um vintém? 

Que padre Mariano arranjou com o Bispo o seminário de graça para Cardo? Eu sei o que tu mandou dizer: o preço da Escola da Dona Carlota, a mensalidade do seminário. Isso, sim, tu mandou dizer, pró resto boca trancada. Por que tu puxa de novo essa história da letra que Astério resgatou se cada um de nós tem seus podres?

- Foi o velho que falou, só repeti o que ele disse.

- Um dia eu ainda tomo coragem, escrevo a ela contando a verdade: que não tenho mais filho nenhum, o que tinha a doença levou mas que a gente precisa tanto do dinheiro que ela manda, mas tanto a ponto de me ter faltado forças para comunicar a morte de Toninho.

Era capaz de ela ficar com pena e mandar até mais do que manda. Só que não tenho coragem de arriscar…Por que a gente é assim, Perpétua? Por que a gente não presta? É por isso que ela não quer aproximação, não manda endereço, ajuda de longe.

A voz se faz pesada, áspera, quase desagradável como a de Perpétua:

- E ela age muito bem porque se eu tivesse o endereço…

Os olhos fitam o vazio:

- Ah!, se eu soubesse o endereço já tinha arribado para lá!

Perpétua chega ao fim do terço, beija a pequena cruz:

- Tem hora que tu nem prece mulher feita e casada, fala o que não deve. O que tu precisa é ir ajudar na igreja em vez de ficar lendo revista e ouvindo rádio, gastando o tempo com essas porcarias.

Elisa deixa cair os braços, a voz novamente neutra:

- Amanhã, logo que a marinete chegue, passo no correio. Vem amanhã tu vai ver.

- Deus te ouça. Com a desculpa da doença, Lula Pedreiro há três meses não paga aluguel. Agora mandou a chave, foi morar com o filho, deixou a casa imunda, um chiqueiro. Para alugar vou ter que dar pelo menos uma demão de cal.

- Tu te queixa sem razão. Mora em casa própria e ainda tem mais duas para alugar, fora a pensão do falecido. A gente, senão fosse pelo dinheiro que ela manda pró anjinho, nem numa sessão de cinema podia ir.

- Amanhã, me avisa logo se chegou ou não. Se não chegar, vou tomar minhas previdências.

- Por que não fica para almoçar? O que dá para dois dá para três.

- Eu? Comer carne em dia de sexta – feira? Tu bem sabe que é pecado. É por isso que vocês não vão para a frente. Não cumprem a lei de Deus.

Ergue-se da cadeira, guarda o terço no bolso da saia. Toda em negro, a blusa de mangas compridas, sem decote, fechada no pescoço, o coque alto, coberto pela mantilha, o rosto severo, virtuosa e devota viúva.

Benze-se ao ouvir o sino da Matriz nas badaladas do meio – dia, encaminha-se para porta. Na rua deserta, ressoam os passos de Astério. O mormaço sobe do chão, desce do céu.

Elisa suspira, dirige-se para a cozinha.

Novas eleições... já!
Novas eleições... já!









Passos Coelho teve uma vitória minoritária mas o PS recusou apoiá-lo no Parlamento ao contrário do que era esperado que acontecesse.
Assim não foi, e o governo de Passos, indigitado este para 1º Ministro por ser o líder do partido mais votado, foi rejeitado pelo voto dos restantes partidos em maioria, e agora ele não se conforma.
Para ter mais oportunidades para expressar o seu desagrado na televisão, criou as Jornadas Caminhos para o Futuro. 
Ontem, por exemplo, Passos Coelho, numa sua intervenção nessas tais Jornadas, "passou-se dos carretos" como disse Vital Moreira, e pediu novas eleições e a revisão da Constituição, para poder, o mais rapidamente possível, voltar à maioria absoluta e exercer sem limitações as funções de 1º ministro, como o fez durante a última legislatura.
António Costa, percebendo o seu desespero, limitou-se, simplesmente, a responder que não se pode andar permanentemente em eleições, e aguarda, com alguma tensão, admito eu, o que há semanas atrás parecia absolutamente líquido: a indigitação do líder do 2º maior partido que tem o apoio da restante bancada parlamentar para governar, mediante um acordo com eles estabelecido.
Contudo, nestes últimos dias, no seu desespero, os homens de Passos Coelho, resolveram explorar todos os poderes, previstos e não previstos  na Constituição para o Presidente da República, concluindo que ele, que é da sua área política, não deveria indigitar António Costa, porque o seu programa de governo será viabilizado por dois partidos  da extrema esquerda, BE e PCP, mesmo considerando que o Presidente da República, preocupado com a estabilidade, como sempre afirmou, devolveu à Assembleia para esta exercer o papel que agora lhe cabe de avaliação e votação do novo programa de governo.
O actual Presidente sempre se comportou como um político formalista e institucional, e não me passa pela cabeça que se vá meter agora, em fim de mandato, por isso cerceado já dos seus poderes, em aventuras políticas só para agradar aos seus amigos da direita e prejudicando altamente o país com governos de gestão ou de iniciativa presidencial que, sinceramente, não vão nada ao seu jeito.

quinta-feira, novembro 12, 2015

Imagem


Geralmente vemos a figura de Jesus representada como um homem branco de olhos azuis, mas será que essa era a real aparência de Jesus da Nazaré?

A pergunta vem sendo feita desde há muito tempo e, inclusive, levou um grupo de cientistas a investigarem como realmente seria o messias cristão.

O resultado da busca para descobrir a real aparência de Jesus foi uma projecção do rosto dele. A imagem, em 3D, foi criada por um grupo de pesquisadores ingleses e israelitas. Os cientistas utilizaram descobertas arqueológicas e técnicas de reprodução para chegarem ao suposto rosto verdadeiro de Jesus.

Os resto mortais de pessoas que viveram na época de Jesus foram analisados, além disso os traços de pessoas que pertenciam à sua etnia também foram levados em conta. Alguns crânios encontrados na região do Getsêmani foram cruciais para a aproximação da aparência original.

Se esta tivesse sido a imagem afixada nos locais de culto católicos será que ele teria tido a aceitação que teve?...







Gato Fedorento - Zé Carlos Ezequiel



Nilton César - Espere um Pouco


Esta é uma versão da famosa musica latina chamada La Nave Del Olvido, uma interpretação ímpar de Nilton Cesar.


Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio N º 108






















Cheio de dúvidas, Gomes Nunes exclamou:

- Ora, só se conhecem há dois dias!

Chamoa mudou de expressão num instante. Desapareceu do seu rosto o sofrimento e nasceu-lhe um sorriso, quando afirmou:

- No sábado fomos passear sozinhos ao rio da Loba e...

Elvira abriu ainda mais os olhos, e gomes Nunes perguntou:

 - Haveis perdido a virgindade?

A filha relatou que só haviam trocado beijos, mas haviam-se prometido em casamento. Depois de recuperar do choque, Gomes Nunes repetiu que teria de seguir as ordens da rainha e do Trava.

Todavia, ao ouvir o nome da família da mãe, Chamoa empolgou-se:

- Eu também sou uma Trava!

Cerrando os olhos, a mãe ripostou-lhe.

 - Por isso mesmo, tendes de fazer o que Fernão vos manda!

Chocada com tal obrigação, Chamoa exclamou:

 - O príncipe está a cima dele! Vai ser o herdeiro do Condado, a sua vontade é lei! Se quer casar comigo, ninguém o pode impedir!

Gomes Nunes de Pombeiro olhou-a com um misto de orgulho e pena. Depois sentou-se num banco desapontado e cansado.

- O príncipe casar-se convosco? Não creio, um dia vai casar-se com uma princesa estrangeira. Não com uma Nóbrega galega!

De súbito, Chamoa lembrou-se do que lhe dissera Afonso Henriques, sobre a união dos territórios! Perguntou com veemência:

 - Não quer Dona Teresa unir a Galiza com Portugal. E de que melhor forma do que casando uma Trava com Afonso Henriques?

A intensa crença que a habitava era deveras emocionante, mas a sua fantasia política, fundamentada numa paixão amorosa de dois jovens, embora talvez sedutora num futuro não demasiado distante, parecia a seu pai impraticável no presente.

Gomes Nunes de Pombeiro suspirou mais uma vez.
                                                                                                                               

Joãozinho













A professora: 

- Hoje é o dia mundial das boas acções, portanto, o Joãozinho, o Carlinhos e o Zézinho - que eram os três "melhores" alunos da turma - vão lá fora praticar uma boa acção, e voltam para contar aos colegas o que fizeram, está bem ?

Os miúdos lá foram e passado quase uma hora voltaram.   

- Então Joãozinho, qual foi a boa acção que praticaste? - Eu ajudei uma velhinha a atravessar a rua!

 - Muito bem, e tu Carlinhos? - Eu também ajudei a velhinha a atravessar a rua! 

- Ah sim? E tu Zézinho? - Pois ... Eu também ajudei a velhinha a atravessar a rua! 

- O quê? Os três!?!? Então e demoraram tanto tempo porquê??? -

- Não havia meio de o raio da velha querer atravessar a rua. 

... o Joãozinho é que a obrigou! 

Linda, na sua nudez de mulher
Tieta do Agreste
(Jorge Amado) 

EPISÓDIO Nº 4


















CERIMINIOSO CAPÍTULO ONDE SE TRAVA CONHECIMENTO COM TRÊS IRMÃS, A POBRE, A REMEDIADA E A RICA; ESTANDO A ÚLTIMA AUSENTE – QUEM SABE PARA TODO O SEMPRE; ONDE SE CONHECE DA CARTA MENSAL E DO CHEQUE IDEM, ANSIOSAMENTE AGUARDADOS, SOBRETUDO O CHEQUE, COMO É NATURAL, E TAMBÉM DE PEQUENAS MISÉRIAS E MÍNIMA ESPERANÇA, NA HORA DO MORMAÇO; ONDE, EM RESUMO, SE COLOCA INQIETANTE PERGUNTA:
- TIETA ESTÀ VIVA OU MORTA? - SINGRA OS MARES EM CRUZEIRO DE TURISMO OU JAZ EM CEMITÉRIO PAULISTA?





Empertigada na cadeira, as mãos cruzadas sobre o peito magro, toda em negro dos sapatos ao xaile, coberta assim de luto fechado desde a morte do marido, Perpétua baixa a voz, lança a fúnebre hipótese:


- E se sucedeu alguma coisa com ela? – adianta a cabeça para onde está a irmã, sussurra: - E se ela bateu a caçoleta? – mesmo sussurrada, a voz, sibilante e ríspida , é desagradável:

- E se ela morreu?

Elisa estremece, solta o pano de prato, derrotada pelo mau presságio. Há dois dias e duas noites longas tenta arrancar da cabeça esse maldito pressentimento a persegui-la, a roubar-lhe o sono, a deixá-la com os nervos em ponta.

- Ai, Senhor meu Deus!

Perpétua descruza as mãos, alisa a saia de gorgorão bem passada, ratifica com um movimento de cabeça; não fez uma pergunta e sim uma afirmação. De comprovação fácil, aliás:

- Estamos a vinte e oito, praticamente no fim do mês. A carta sempre chega por volta de cinco, nunca passa de dez. Para mim, ela bateu a caçoleta.

Mesmo no desalinho da manhã de ocupações domésticas, o rosto de Elisa é bonito: morena de tez pálida, olhos melancólicos, lábios carnudos. 

Sob o desleixo do vestido velho e amarfanhado, chinelas gastas, ergue-se o corpo esbelto, de ancas altas e seios rijos. Um lampejo de curiosidade brota nos olhos assustados.

Elisa busca na face da irmã outro sentimento além da preocupação pelo dinheiro. Não encontra: a proclamada morte de Tieta não aflige Perpétua, teme somente pela sorte do cheque.

A cessação da remessa mensal assusta igualmente Elisa: não só perderiam a ajuda indispensável como teriam de sustentar o pai e a mãe, onde arranjar o necessário? Um horror, Deus não permita!

Um horror, sem dúvida, porém havia mais e pior. Ao calafrio de medo sucede a tristeza, um aperto no coração. Se ela morreu, então tudo se acabou para sempre, não somente o cheque, também a ténue esperança; sobrará apenas o vazio. Essa irmã Antonieta – meia irmã, aliás, pois Elisa nascera do segundo e inesperado casamento do velho Zé Esteves – de quem não conserva lembrança, a respeito de quem sabe tão pouco, é a razão de ser de Elisa.

Nos últimos anos, sobretudo após o casamento, começara a idealizar a figura da ausente, espécie de génio bom, heroína de conto da carochinha, imagem fugidia, quase irreal, a se fazer concreta no auxílio mensal, nos esporádicos presentes.

Reunindo frases ouvidas, narrativas de antigos enredos, comentários do pai e da mãe; a letra larga e redonda nas pequenas cartas - parcas em palavras e notícias, reduzidas às mesmas perguntas pela saúde dos velhos, das irmãs, dos sobrinhos, mas não secas e frias, contendo, além do cheque, abraços e beijos – o perfume ainda a evolar-se do envelope após tantos dias de correio; os embrulhos de roupa usada, quase nova; o título de comendador ostentado pelo marido; a fotografia na revista, Elisa construíra, pouco a pouco imaginário retrato da irmã, fada alegre, bela e bondosa, habitando um mundo rico e feliz. Nessa visão pensa e nela se apoia quando sonha com outra vida, mais além da pasmaceira e do cansaço.

Morta Antonieta, que restará a Elisa? As revistas de telenovelas, nada mais. Nem isso, meu Deus!

Onde os níqueis, sobrados das despesas, com que comprá-las?

Tristeza por tudo quanto perderá, o dinheiro mensal, os presentes, o devaneio, o sonho, mas também tristeza simplesmente pela morte da irmã; gostará tanto de alguém quanto gosta dessa meia-irmã que não conhece?

Reage, na necessidade de conservar pelo menos a esperança: Perpétua imagina sempre o pior, boca de agouro.

- Se ela tivesse morrido, a gente já tinha sabido, alguém havia de dar a notícia. Em casa dela tem nosso endereço, todo o mês ela escreve, não é? 

Haviam de avisar… - há dois dias, na labuta da casa, na cama de insónias, repete estes argumentos para si mesma.

- Avisar? Quem? Só se o marido dela e a família dele forem malucos.

- Malucos? Não vejo porquê.

Perpétua estuda a irmã em silêncio, a se perguntar se deve ou não contar, decide-se por fim, de qualquer maneira ela terá de saber:

- Porque, com a morte dela, a gente tem direito a uma parte da herança. Nós três: o velho, eu e você.

Elisa volta a enxugar os pratos, de onde Perpétua tirara aquela ideia de herança? Cada bobagem!

- Quem vai herdar é o marido dela, o Comendador. Por que a gente havia de herdar? Pró pai, pode ser que ela deixe alguma coisa, tem sido boa filha, boa até de mais. Mas pra nós duas, por quê? Quando ela saiu de casa, eu tinha menos de um ano. E tu, não foi por tua culpa que ela foi embora?

- Não foi tu que xeretou ao pai? Abriu o bico, ele quebrou a pobre no pau, tocou ela rua afora, não foi? Mãe me contou como se deu e Pai confirmou, disse que tu foi a culpada.

- Dizem isso agora, para adular. Depois que ela começou a mandar dinheiro, virou santa. Por que tua mãe não tomou as dores na ocasião? Quem foi que deu a surra, quem botou ela pra fora de casa? Eu ou o Velho?

Elisa estende sobre a mesa a toalha manchada de azeite, de feijão, de café.

- Astério tem mão podre, não sabe se servir sem derramar caldos e molhos, o infeliz. Encolhe os ombros não responde à pergunta de Perpétua, o pai e a irmã que decidam entre eles de quem a culpa; dela, Elisa, é que não foi, não completara um ano de idade quando denúncia, expulsão e fuga aconteceram.

Perpétua semicerra os olhos gáseos, por que Elisa se empenha em recordar o passado? A própria Antonieta não esquecera, há muito, agravos e injustiças?

Não envia dinheiro, presentes? Não ajuda nas despesas? Ademais, há males que vêm para bem, não é mesmo?

Se ela não tivesse sido posta no olho da rua, em vez de partir para o Sul e triunfar em S. Paulo, bem casada, cheia de dinheiro, feliz da vida, teria ficado ali, naquele buraco, vegetando na pobreza, sem direito a noivado e casamento pois a história com o caixeiro viajante logo se tornara de domínio público. Sem direito a nada, mera criada do pai e da madrasta.

- Se tu não lembra essas coisas por que tu há de lembrar?

- Não fiz por mal, só para mostrar que ela não tem motivo para deixar herança para nós duas.

- Não depende dela querer ou não querer… - Perpétua descerra os olhos, compõe a saia, retira invisível cisco da blusa: - Quando ela morrer, metade da fortuna fica para o marido e, como ela não tem filhos, a outra metade é dividida entre os parentes, os parentes próximos, o Velho e nós, o pai e as irmãs.

Como é que tu sabe?

- Doutor Almiro me disse…

- O promotor? E tu foi falar com ele?

- Propriamente falar, não falei. Ele estava conversando com padre Mariano, eu e outras zeladoras de junto, ouvindo. Estavam falando da herança de seu Lito, que deixou o dinheiro todo para o padre dizer missa pela salvação da alma dele na Igreja da Senhora Sant’Ana.  

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