sábado, julho 02, 2011

VÍDEO


Comprimido Azul que faz milagres...


HISTÓRIAS



DE HODJA

Um dia Hodja é Juiz. Uma pessoa dirige-se a ele e apresenta o seu caso. Pergunta: “É assim, não é?”

Hodja responde: “Sim, tens razão”

Em seguida, a defesa apresenta a sua versão da história e Hodja diz: “Você está absolutamente certo”. A esposa de Hodja que está presente fica perplexa:

- “Como pode ser? Tu disseste que os dois têm razão. No entanto, apenas um deles pode ter razão, o outro não.”

Hodja concorda: “Minha esposa querida, tu também tens razão"

TEREZA

BATISTA



CANSADA




DE




GUERRA

Episódio Nº 142

K

K Te Espero, anuncia sobre a porta a tabuleta primitiva, pedaço de madeira com letras rabiscadas em tinta negra: não vale melhor reclame o ínfimo boteco, nem sequer iluminado à luz eléctrica, bastando-lhe um lampião fumacento. Alguns homens bebem cachaça, mascam fumo de corda em companhia de duas mulheres. Parecem avó e neta, a velha Gregória e a menina Cabrita, esverdeada e ossuda, são duas raparigas à espera de freguês, de um níquel, qualquer quantia por menor que seja, nem todas as noites obtêm acompanhante.

Zacarias atravessa a porta, um rapagão alugado nas terras vizinhas, na fazenda do coronel Simão Lamego; encosta-se ao balcão, o lampião a lhe iluminar o rosto. Missu, dono do negócio, levanta as sobrancelhas numa pergunta muda.

Dois dedos da pura.

Missu serve a cachaça na medida do trabalhador agora a examinar com interesse a menina de pé contra a parede; viera para isso, para derrubar uma quenga, não o faz há um mês, falto de recursos. Limpa a boca com as costas da mão antes de tomar a pinga. Os olhos de Missu descem da face para mão do freguês. Zacarias levanta o copo grosso, abre a boca, as pústulas fazem-se mais visíveis em cima e em baixo dos lábios.

Missu conhece a bexiga de íntimo convívio: tivera alastrim forte, escapara com vida, mas as marcas cobrem-lhe a pele do rosto e do corpo. Zacarias emborca a cachaça, pousa o copo no balcão, cospe no chão de barro batido, paga, volta os olhos para a menina. Missu, recolhe o níquel, fala:

- Se mal lhe pergunto, o amigo já se deu conta que está com bexiga?

- Bexiga? Bexiga, nada. Umas perebas.

A velha Gregória tinha-se aproximado do trabalhador na expectativa: caso não se agrade da menina talvez ele a escolha, para ela faz-se cada vez mais difícil arranjar cliente. Ao ouvir Missu, fita a cara do rapaz, também ela entende do assunto, atravessara mais de um surto de varíola, sem nunca pegar doença, quem sabe porquê? Não há dúvida, bexiga e da negra. Afasta-se rápida e de passagem para a porta, segurando cabrita pelo braço, consigo a arrasta.

- Ei! Pra onde vão? Pare aí, dianho – Ainda reclama Zacarias.

As mulheres somem na escuridão. O trabalhador faz face aos homens de cabeça baixa, mascando fumo: fala para todos:

- Umas perebas, coisa à toa.

- Para mim é bexiga – repõe Missu – e é mais melhor vosmicê ir logo no doutor. Pra ver se ainda dá tempo.

Zacarias percorre a pequena peça com o olhar, os homens em silêncio; contempla depois as mãos, estremece, sai para fora.

Na distância, a velha Gregória arrastando à força a menina Cabrita, que resiste sem perceber porque motivo a velha não lhe permite atender ao moço e ganhar o dinheiro vasqueiro, cada dia mais vasqueiro, não sendo tempo de se desprezar freguês.

O fedor do pântano, a lama do chão, imenso céu de estrelas, Zacarias curvado, andando às pressas
em direcção do centro da cidade. (clik na imagem)

INFORMAÇÕES ADICIONAIS


À ENTREVISTA Nº 100 SOB O TEMA:



“DEUS É DO SEXO MASCULINO?” (8º e último)


Outro Mundo É Possível, Outro Deus É Possível




Após a pesquisa feita para o excelente livro "O Mito da Deusa", dizem os autores:


- “Nós concluímos que o princípio feminino, como uma expressão válida de santidade e unidade da vida, tinha-se perdido nos últimos 4000 anos. Este princípio está expresso na história mitológica como "a deusa" e da história cultural aparece outorgada nos valores da espontaneidade, sentimento, instinto e intuição.
Hoje não há, formalmente falando, uma dimensão feminina do divino na mitologia judaica e cristã. A nossa cultura é articulada sobre a imagem de um deus do sexo masculino que se situa para além da criação e que as ordens vêm de fora em vez do interior do edifício, como aconteceu no tempoes das deusas mães, antes dele. O resultado inevitável desta situação é o desequilíbrio entre os princípios masculino e feminino, o que acarreta implicações importantes para a forma como nós construímos o nosso mundo e vivemos nele.


Porque queremos construir um outro mundo e viver doutra maneira, acreditamos que chegou o tempo e agora é altura de voltarmos novamente à face feminina de Deus e ao seu brilho maternal.
Acreditamos que para fazer um outro mundo possível, outro Deus deve ser possível. E embora Deus não se encaixe em qualquer palavra e tenha todos os nomes possíveis, o Deus de que precisamos hoje no nosso mundo tem um rosto feminino. Esta foi uma das melhores notícias de Jesus da Nazaré na sua segunda vinda à Terra.


Recebemo-la das mãos de Raquel Perez, enviada especial das Emissoras Latinas. Há que difundi-la, alimentá-la, ela é uma pérola preciosa.

sexta-feira, julho 01, 2011

WILSON SIMONAL - NEM VEM QUE NÃO TEM


Nasceu em 1938 no Rio de Janeiro e foi um cantor brasileiro de muito sucesso nas décadas de 60 e 70 a ponto de o considerarem o maior cantor do Brasil vendendo tanto como Roberto Carlos. Era filho de uma empregada doméstica e cabo do Exército no tempo da ditadura militar. Começou a cantar em bailes do 8ª Grupo de Artilharia, sendo o seu reportório calipsos e canções em inglês. Mas a vida correu-lhe mal em processos com a justiça sendo acsado de envolvimento com a ditadura militar da qual seria "dedo duro" gabando-se, entre amigos "de ter entregue muita gente boa". A partir dos anos 80 foi completamente esquecido e votado ao ostracismo. Entregou-se ao alcool e morreu de cirrose.

Após a sua morte em 2000, com 62 anos, a família pediu à Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados para abrirem um processo tendo em vista averiguarem a veracidade das suspeitas de colaboração do cantor com o Regime Militar. Depois de todas as averiguações e ouvidos todos os testemunhos, Wilson Simonal foi moralmente reabilitado.


MÁGICA COM O JACARÉ DA LACOSTE

Não está legendado mas não precisa: o mágico pega na camisola com o símbolo da "Lacoste" e, daí para a frente, ele "pinta o diabo" com o crocodilo... vejam!


HISTÓRIAS



DE HODJA



Hodja está de caminho para o mercado quando um grupo de crianças se aproxima e lhe pede: “Traga-me um apito! Compre-me um apito!” mas um dá a Hodja o dinheiro para o apito.

À noite Hodja regressa do mercado e dá um apito à criança que lhe deu o dinheiro. Em seguida as outras crianças perguntam: “E os nossos apitos?” Hodja responde:

- “Quem paga é que sopra no apito.”

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA




Episódio Nº 141



Porque pensara possível conviver alegre com o doutorzinho, sentir prazer em deitar-se com ele, de repente capaz de abrir-se em desejo e gozo? Achando-o atraente, imaginou, quem sabe, afogar em sua companhia a lembrança do mestre de saveiro, experimentando arrancar do peito o punhal fincado. Amor sem esperança, precisava dele libertar-se. Fácil de pensar, impossível de realizar; trazia-o na pele e no coração, envolvendo-a, tornando-a impenetrável a qualquer sentimento ou desejo. Estouvada cabeça de-vento, idiota.

Quando em Buquim se deitou com o doutorzinho, quando ele a tomou nos braços, o frio a envolveu, aquela capa de gelo a cobri-la em cama de prostituta, a mantê-la íntegra e a competência, nada mais.

Idiota, esperara poder divertir-se, sentir o prazer subir da ponta dos dedos, amadurecendo nos seios e no ventre, levando corpo e coração a esquecerem o gosto de sal, o aroma de maresia, o peito de quilha. Estouvada cabeça de-vento, três vezes idiota.

Corpo frio e distante, quase hostil de tão fechado, outra vez donzela, por isso mesmo mais apreciada. O doutorzinho enlouquecido – nunca vi mulher tão apertada, nenhuma virgem se lhe compara, coisa mais louca não existe! – em desvario. Para Tereza, a molesta prova de sempre: ai, como pudera pensar.

Ai, Januário Gereba, que para sempre trancaste meu peito, o coração e o xibiu!

J

Já não podia suportar o desencadeado desejo do doutorzinho, sem horário e sem descanso, a qualquer momento querendo e convidando, certamente a acreditar estivesse ela participando e atingido com ele aquelas culminâncias. Assim fora o capitão, tendo-a de escrava à disposição, não importante hora, ocasião, local. Outra coisa não havendo em Buquim a se fazer, não faltava razão ao disponível director do posto de saúde – vamos matar o tempo na folgança, minha papa-fina. Pelo gosto do doutorzinho a noite se prolongaria dia afora, habitando os dois na cama, sem outro apetite ou afazer além daquela posse que Oto imaginava mútuas quando eram apenas dele; para Tereza, penosa obrigação.

Mas, como dizer-lhe vou-me embora, nada me prende aqui, estou cansada de representar, nada me cansa tanto, vim de companheira em triste engano, posso exercer de prostituta mas não me dar de amiga e amante? Como dizer-lhe se aceitara vir e ele a tratava com gentileza e mesmo com certa ternura nascida da luxúria a fazê-lo menos cínico e menos suficiente, quase grato?

Como largá-lo ali, na cidadezinha sem qualquer diversão, sem nada para encher o tempo? Tinha de fazê-lo, no entanto, não mais suporta a máscara na face fixada, asfixiante.

Durou quatro dias, o tempo das pústulas se abrirem na cidade invadida e condenada. (clik na imagem e aumente)

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES


À ENTREVISTA Nº 100 SOB O TEMA:


“DEUS É DO SEXO MASCULINO?” (7)

Uma Mudança Que Toca O Coração Do Cristianismo



Diz a teólogo feminista Ivone Gebara: Alguns movimentos históricos, tais como o de mulheres afectam o coração de instituições cristãs. O cristianismo já não é o mesmo do tempo em que as imagens masculinas de Deus eram colocadas sob suspeita de sexismo. O cristianismo já não é o mesmo de quando as mulheres o rejeitavam por mal-estar, serem membros da Igreja. O cristianismo já não é o mesmo com a hermenêutica feminista da Bíblia e as abordagens feministas teológicas. O cristianismo já não é o mesmo a partir do momento de busca, por parte das mulheres, da sua liberdade, expressa hoje no mundo de tantas maneiras diferentes.

O Deus de Jesus


Jesus de Nazaré foi educado no Deus dos seus pais, e esse Deus tinha sido concebido, imaginado e pensado no masculino, como um homem, como um macho. No entanto, há atitudes e mensagens de Jesus que muitos autores e escritores consideram como valores atribuídos à cultura "feminina" tais como: cuidado, compaixão, sentimentos, intuição, espontaneidade ...

Curiosamente, em duas das suas parábolas, Jesus fez protagonistas de suas comparações com Deus e com o seu actuar, as mulheres. Na parábola do fermento (Lc 13,21), falou sobre o que acontece com o Reino de Deus: uma pitada de levedura pode fermentar toda a massa e quem começa este processo é uma mulher.

Ele também falou do cuidado de Deus com todos os seus filhos, comparando Deus a um pastor que procura, correndo todos os riscos, a sua ovelha perdida.
Estas comparações tinham que ser uma surpresa para seu público, criado numa cultura religiosa onde Deus era do sexo masculino, e onde as mulheres foram discriminadas completamente nas práticas, rituais e símbolos da religião. Ao comparar os sentimentos de alegria de Deus com o pastor que encontra a ovelha perdida ou da mulher que descobre a sua moeda, Jesus ampliou a imagem de Deus, falou de um Deus que tanto homens quanto mulheres conhecem e manifestam quando tratam da sua vida.

quinta-feira, junho 30, 2011

LEONARDO FAVIO - FUISTE MIA UN VERANO

Leonardo Favio, nascido na Argentina em 1938, é produtor, director cinematográfico, guionista, compositor, actor e finalmente cantor e que cantor...

VÍDEO


O medo ancestral das almas penadas...





HISTÓRIAS

DE HODJA

A mulher de Hodja fiava e fazia novelos de lã que Hodja vendia aos distribuidores no mercado. Os comerciantes enganavam o Hodja pagando muito menos do que valia o trabalho da sua mulher.

Um dia Hodja já farto, encontra a cabeça de um camelo na estrada. Leva-a para casa e envolve o fio à volta da cabeça do camelo fazendo um grande novelo de lã.

No mercado, como de costume, o comerciante oferece um preço muito abaixo do seu valor real. Hodja aceita o preço baixo porque a maioria da lã do novelo era a cabeça do camelo, mas o comerciante começa a suspeitar:

-“Hodja, é possível que esteja alguma coisa dentro deste novelo de lã?” “Achas?”, disse Hodja, “cabeça de camelo…”

O comerciante no dia seguinte corre para Hodja e grita:

-“Estava uma cabeça de camelo dentro do novelo de lã. Você não tem vergonha de me enganar?”

Hodja responde: “Eu disse-lhe a verdade. Lembra-se? Quando me perguntou eu disse: cabeça de camelo…”

TEREZA


BATISTA

CANSADA

DE Adicionar imagem

GUERRA




Episódio Nº 140



Antes essa podridão e morte, todavia; pior era viver com alguém sem outro interesse além do dinheiro. Exercer ofício de mulher-dama é uma coisa: não impõe obrigação, não implica em intimidade, não deixa marca; outra, muito diferente é conviver, é conviver em amásia de cama e mesa, em mentirosos ardores de amante, em representação de amiga. Amiga, doce palavra, cujo significado aprendera com o doutor. Amigo e amiga tinham sido, em perfeita amigação, ela e o doutor Emiliano Guedes.

Com nenhum outro dera certo, tão pouco com Ota Espinheira, doutorzinho de pouco saber e limitado encanto. Ai, Januário Gereba, onde andarás, amante, amigo, amor, por que não vens me buscar, por que me deixas fenecer nos limites da podridão?

I

Intimidade, nenhuma, muito menos amor. As relações de Tereza Batista com o doutor Oto Espinheira não passaram de convivência superficial logo rompida pelos acontecimentos.

Melhor assim, pensou Tereza, sozinha frente à bexiga solta e fatal do que no castigo da cama errada: nem enxerga de prostituta nem leito de amante. Sendo incapaz da luxúria pura e simples, para entregar-se com ânsia, para abrir-se em gozo, necessitava de afecto profundo, de amor; só assim nela se acende o desejo em labaredas e em febre, não havendo então mulher como Tereza.

Devia estar muito perdida e confusa em Aracaju quando imaginou encontrar prazer e alegria no trato e na cama do doutorzinho de rosto de boneco, bonitinho e cínico, sem sentir por ele pulsar o coração; seu coração não voltara a pulsar desde a partida da barcaça Ventania levando ao leme mestre Januário Gereba para o porto da Bahia.

Parecendo livre como o vento, o marujo tinha algemas nos pulsos, grilhetas nos pés.

Tereza viera com o médico para fugir às ameaças do ricaço, para evitar perseguições, não ser de novo escorraçada e batida, acreditando estouvadamente na possibilidade de serena temporada sem obrigações ou compromissos maiores.

Melhor teria feito retornar a Maceió ou a Recife para exercer de mulher-dama, não lhe faltaram propostas durante a excursão; donas-de-pensão, casteleiras, caftinas aos montes atrás dela. Recusara as ofertas, tentando manter-se com os proveitos de dançarina, mas nos cabarés a paga é mísera, quase simbólica, não passando canto e dança para cobertura de prostituição mais cara, menos declarada e patente; tolice querer viver do trabalho de artista, valendo tão-somente o título e as palmas para cobrar mais caro o michê.

Em Aracaju, Flori lhe pagara salário fora do comum na esperança de conquistá-la, na loucura da paixão; agora fazia o mesmo com Raquel Klaus, perdendo dinheiro – dessa vez, pelo menos, pagando e comendo. Na excursão, porém, os donos dos cabarés lhe ofereciam remuneração miserável e, se ela achava pouco, aconselhavam-na a completar o ordenado com os generosos frequentadores da casa: título da artista, nome em tabuleta e em anúncio e nota em jornal valorizam a mulher e aquelas capazes de bem se administrar fazem a praça com real sucesso e receita farta. Tivera assim Tereza de exercer escoteira, mundo afora, um cansaço a doer-lhe no corpo, a saudade a comê-la por dentro.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES



À ENTREVISTA Nº 100 SOB O TEMA:


“DEUS É DO SEXO MASCULINO?” (6)



E nas Religiões antigas Pré-Hispânicas?

Na busca de uma face feminina de Deus, algumas reflexões mergulham nas religiões pré-hispânicas na América, onde, ao contrário da tradição judaico-cristã, os deuses e deusas sempre aparecem com as suas parceiras femininas. Nestas religiões, o princípio supremo de todos é sempre a divindade dual com um lado masculino e um feminino.

No entanto, explorando, por exemplo, os mitos da tradição mexicana, a deusa pode ser vista quase sempre envolvida na ordem original da criação do mundo, mas fazem-no como vítimas de deuses masculinos. No mito do deus da guerra Huitzilopochtli, sua mãe o vê como uma virgem e é assassinada.. Ela será a Mãe Terra e seu filho, o deus Sol, um deus sanguinário que exigirá sacrifícios humanos. Numa das lendas de Quetzalcoatl, ele mata e parte em duas a deusa do céu, Tlatecutli. Noutro mito alternativo de Quetzalcoatl, o deus que encontrou o milho, a contraparte feminina tem um papel positivo: não se deixa matar e recusa os sacrifícios.

Há muita investigação pendente para conhecer e distinguir entre o "trigo", do feminismo e o "joio", dos mitos patriarcais, que se escondem nestes mitos das religiões originais não ocidentais.

quarta-feira, junho 29, 2011

LEONARDO FÁVIO - MUCHACHA DE ABRIL

Este é um tema que chega à alma...


VÍDEO


Entre nós, chama-se a isto "brincadeira de carnaval"...

HISTÓRIAS


DE
HODJA


Um dia Hodja gaba-se de ser um santo. Então alguém desafia-o a fazer um milagre.

Hodja pergunta: “Que tipo de milagre?” E o homem responde: “Faz com que a montanha venha até ti.”

O Hodja chama três vezes: “Vinde a mim, montanha poderosa, veeemmmm!”

Então ele começa a caminhar na direcção da montanha. O homem diz: “Hodja, a montanha não se moveu nem um milímetro.”

Hodja continua a caminhar em direcção à montanha e responde. “Eu sou muito humilde. Se a montanha não vem, eu vou à montanha.”

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA





Episódio Nº 139



Só no tempo do doutor (e de começo também dele duvidara) haveria Tereza de volver a confiar na vida e nas criaturas. Porque aceitara partir com Emiliano Guedes quando ele a foi buscar na pensão de Gabi e, tomando-lhe da mão, lhe disse: esqueça o que se passou, agora vai começar vida nova? Para escapar da fila de clientes, crescendo a cada dia, interminável? Se fosse apenas por isso, poderia tê-lo feito antes, pois Marcos Lemos não lhe propunha outra coisa, todos os dias sem falhar nenhum, senão ir viver com ele, de amásia livre da freguesia e da pensão. Uma única vez, ainda na roça, vira o doutor e no entanto não discutiu nem relutou, porquê? Por ser ele, de todos os homens a quem conhecera, o mais atraente, não o mais bonito da fácil boniteza de Dan e, sim, o mais belo, possuindo uma áurea interior, algo naquela época inexplicável e indefinível para Tereza? Por sua força de mando, imperioso domínio? Porquê, Tereza não soube nunca: apesar do temor de mais uma vez enganar-se, ela o acompanhara e jamais teve razão de arrependimento, esqueceu o passado, começou vida nova como ele dissera; com o doutor aprendeu inclusive a julgar-se sem preconceitos.

Assim pôde julgar o doutor Oto Espinheira; ao contrário de Dan, não utilizava a lábia fluente para atraí-la, prometendo-lhe céus e terras, permanente carinho, afecto prolongado e profundo, não falara em amor; convidando-a tão-somente para uma partida de prazer, simples excursão ao interior, possivelmente divertida.

Por ele lhe prometer tão pouco, resolveu Tereza aceitar, não teria razões de decepção, pois não alimentava sobre o companheiro de rota quaisquer ilusões. Agradável e brincalhão, ajudava-a a ir-se de Aracaju, escapando ao cerco, às solicitações e ameaças do industrial – postulante milionário, mandara-lhe cortes de fazenda de suas fábricas e pequenas jóias de valor; Tereza devolveu os regalos, doutor Emiliano não gostaria de vê-la na cama e nas mãos do senador.

H

Havia em Estância um sobradão colonial, maltratado pelo tempo e pelo descaso, todo pintado de azul, e o doutor na calma da tarde, chamava a atenção de Tereza para aquela maravilha de arquitectura, apontando detalhes da construção, ensinando sem parecer fazê-lo, levando-a a enxergar o que sozinha não saberia reconhecer e estimar. Já não a mantinha escondida, ao contrário, fez questão de ser visto com ela, de mostrar-se a seu lado.

O industrial (ainda não fora eleito senador) baixote e champrudo, em passo miudinho atravessara a rua para cumprimentar o doutor Emiliano Guedes, demorando-se a conversar, palavroso, irrequieto, eufórico, desnudando Tereza com os olhos cúpidos.

O doutor encurtara a conversa, cortês porém breve, monossilábico e, por mais que o outro insinuasse uma apresentação, manteve Tereza sempre à margem do encontro, como se não a quisesse tocada sequer pelas pontas dos dedos, por uma frase, uma palavra, um gesto de parrudo ricaço. Ao vê-lo novamente partir, comentara com inusitada rudeza:

- Ele é como a bexiga, corrompe tudo em que toca; quando não mata marca de pus. Bexiga negra, contagiosa.

Para fugir ao contágio do renegado industrial, Tereza viera para Buquim, na bagagem do médico do posto de saúde, sob o rótulo de rapariga, quando a outra bexiga, a verdadeira, ali desembarcou para exterminar o povo. (clik na imagem)

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

À ENTREVISTA Nº 100 SOB O TEMA:

“DEUS È DO SEXO MASCULINO?”(5)




Uma Família Divina e Masculina


Na iconografia cristã, nas imagens que temos visto crianças, Deus é um velho barbudo. É também um rei com coroa e ceptro sentado num trono. É também o Deus dos Exércitos. Juiz de decisões inapeláveis.
Nesta iconografia, confirmada no dogmas cristológicos, Deus tem um Filho, que se "fez" homem, sugerindo que sua essência anterior a esse "fazer-se” também era do sexo masculino.

A terceira pessoa da "trindade" desta "família divina" é o Espírito Santo. Embora em hebraico, a palavra "espírito" seja uma palavra feminina, é "ruach", a força vital e criadora de Deus, que coloca tudo em movimento e anima todas as coisas, o dogma nos ensina que Santa Maria ficou grávida. Assim, a doutrina leva-nos a crer que o Espírito é o macho vida. O resultado é um parente do sexo masculino totalmente divino.

Também na Teologia da Libertação

Mesmo em alternativa expressões religiosas, populares e libertadoras, como a Missa Camponesa da Nicarágua, Deus é um homem. É "artesão, carpinteiro, pedreiro, e proprietário." Este Deus não tem nenhum ofício feminino. E se se canta que "vemos" Deus trabalhar numa gasolineira, verificando os pneus de um caminhão, fazendo patrulhas na estrada, engraxando no Central Park ... não o“vemos” a lavar roupa, a cozinhar, e muito menos a amamentar.
É um Deus pobre e popular, mas ... é do sexo masculino. O Deus da Teologia da Libertação também foi um homem.

terça-feira, junho 28, 2011

VÍDEO


Gosto muito do virtuosismo de alguns jogadores de futebol brasileiros, sul americanos e outros... sou adepto de futebol e já fui sócio do meu Sporting mas deixei de ir aos estádios porque não gosto de ser apalpado à entrada como se fosse traficante... percebo que é a segurança mas ali devia ser um local de festa e não um local perigoso. Mas esta da Academia Brasileira de Letras "dá para entender, Não!."



O ALEIJADINHO

Num circo, durante a apresentação , um leão escapou da jaula e foi para cima do público.


As pessoas começaram a correr de um lado para o outro, enquanto um aleijadinho, numa cadeira de rodas, se esforçava para sair dali.


Alguns, ao verem o pobre deficiente, gritavam para que alguém lhe acudisse:


- Olha o aleijado!!! Olha o aleijado!!


E o aleijado girava cada vez mais rapidamente na sua cadeira.

- Olha o aleijado!!! Olha o aleijado!!!


E o aleijado, sem agüentar mais gritou:

- VÃO-SE TODOS FODER, SEUS FILHOS DA PUTA!!! DEIXEM O LEÃO ESCOLHER SOZINHO, PORRA!!!

WINCHESTER CATHEDRAL

Uma belíssima música e um óptimo arranjo do mestre Paul Mauriat. Como ela continua hoje a ser-me familiar apesar de já terem passado 45 anos... será que é só a mim?


HISTÓRIAS


DE HODJA


Um dia perguntaram a Hodja: “Qual é o nome da sua esposa?”

Ele responde: “Eu tenho que saber?”

Então perguntaram novamente: “Há quanto tempo está casado?” “Vinte e cinco anos” responde.

Eles ficam perplexos. “Então, como é que um homem pode ser casado vinte e cinco anos e não saber o nome da sua esposa?”

Hodja responde: “Eu não sei nada sobre ela, logo, por que me hei-de preocupar em saber o seu nome
?”

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA






Episódio Nº 138



Se bem que não contasse tornar a ver Januário Gereba, mestre de saveiro a quem encontrara outrora no porto de Aracaju e em cujo calor renascera seu morto coração, amor sem esperança, punhal fincado no peito, Tereza Batista guarda-lhe uma espécie de singular fidelidade, não se comprometendo em ligação ou xodó que ameace assumir carácter definitivo. Louca de hospício certamente, veneranda, mas livre para embarcar se for o caso.

G

Gracejando, Oto Espinheira a convidara a salvá-lo de noivado e casamento inevitáveis se fosse sozinho para o interior, alvo da cobiça das matronas à cata de genro – nada lhe prometendo entretanto para além de férias tranquilas.

De volta marcada para Buquim, ouvindo-a dizer estar cansada de cidades grandes, propôs-lhe vir com ele numa temporada de repouso: Buquim é a calma perfeita, a paz absoluta, nada acontece por lá, a não ser a passagem diária dos trens, um para a Bahia, um para Aracaju e Propriá.

Assim, tão bem servido de mulher, não correria perigo de se meter com moça casadoira na cidade morronhenta, vendo-se inesperadamente noivo – os médicos são cotadíssimos no escasso mercado do casamento – ou de frequentar rameiras doentes; de acabar entre o juiz e o padre ou entrevado com uma carga de sífilis. Na boniteza do rosto moreno, no palavreado fútil e agradável, o médico recordava Dan, o primeiro a quem Tereza amara e se entregara por completo; sem contudo com ele se parecer, sendo Daniel podre por dentro, cagão sem rival, mentiroso, falso como a pedra do anel em troca do qual tia Filipa a vendera ao capitão. A lembrança deprimente fizera Tereza vacilar ao receber o convite. Tirando o falatório e a fachada, porém, Oto Espinheira, natureza alegre, atitudes francas, de pouca promessa, era o contrário, o avesso de Dan; Tereza terminou por aceitar.

Pusilânime e hipócrita, Dan fizera-se passar por bom e corajoso, por honesto e correcto, jurando-lhe amor eterno, prometendo levá-la consigo para a Bahia, libertando-a da escravidão da palmatória e da taca de couro cru, em verdade pronto para largá-la no alvéu, sem ao menos se despedir. De tudo ela soubera na cadeia, não faltou quem lhe contasse a contar por Gabi. E a leitura do depoimento de Dan, não a ouvira Tereza? Incrível arrazoado, acusando-a de fio a pavio, afirmando ter sido ela, viciosa marafona, quem o arrastara para o quarto do capitão a pretexto de resguardá-lo da chuva e lá se abrira a devassa; não sendo Daniel de ferro, acontecera o inevitável, tendo a cínica lhe jurado não existir há mais de um ano qualquer tipo de relação sexual entre ela e o capitão, não passando de criada de casa, nada além disso; se a soubesse ainda amásia de Justiniano, teria repelido a insistente oferta por ser ele, Daniel, amigo do capitão e respeitador do lar e da propriedade alheia. Vivera Tereza Batista um mau pedaço naquela época; mas o pior de tudo por quanto passou em tão atroz período foi ouvir a leitura do depoimento de Dan; só conhecera até então gente ruim, Daniel superou a todos, mais asqueroso, talvez, que o próprio capitão.

Por isso, na cadeia, Tereza virara um bicho, metida num canto do cubículo, trancada em si mesma, sem confiar em ninguém. Quando Lulu Santos apareceu, mandado de Sergipe pelo doutor, ela não quisera prosa, acreditando ser o rábula mais um igual aos outros, quem presta nesse mundo de dor e de covardia? Haviam-se reunido três cabras fardados, um cabo e dois soldados da Polícia Militar, para quebrá-la no pau, apenas a tomaram presa. Nem mesmo tendo-o provisionado conseguido tirá-la do xadrez, internando-a num convento, deixando-a entregue às freiras dispostas a regenerá-la – regenerá-la de quê? – ainda assim continuara Tereza a duvidar das intenções de Lulu, tanto que fugiu sem aguardar as outras providências por ele prometidas; ademais o rábula, por discrição, não pronunciara o nome do doutor. (clik na imagem e aumente)

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
À ENTREVISTA Nº 100 SOB O TEMA:
“DEUS É DO SEXO MASCULINO?”(4)



Onde Deus é Masculino, os Homens Julgam-se Deuses.


No cristianismo, tanto na sua versão católica como na ortodoxa ou protestante, Deus é um Homem. Não será esta a raiz mais antiga e mais oculta que legitima a desigualdade entre homens e mulheres e também a violência dos homens contra as mulheres? Não será, que como esta raiz permanece tão oculta, tão soterrada nas nossas mentes, tão profundamente enraizada, que conseguiu anestesiar homens e mulheres e, perante ela, permanece intocável?


Esta raiz tem consequências.Tem expressões e frutos. Onde Deus é o homem, os homens são deuses e agem como deuses, sentem-se superiores e com o direito de dominar. Num um encontro regional de mulheres evangélicas, realizada em Buenos Aires, nos primeiros anos deste século, a teóloga protestante Judith VanOsdol disse-o com vigor:


- “A imagem de Deus pregada e usado em muitas igrejas é inadequada. Assim, as igrejas relegam as mulheres para uma segunda ou terceira categoria, como se fossem seres inferiores, ajudando a esconder a liderança importante e histórica das mulheres. As igrejas que imaginam ou apresentam Deus como um homem tem que cuidar dessa imagem criada como heresia. Onde Deus é varão, o varão é Deus. Concordemos, então, que qualquer linguagem é inadequada para conter todo o conceito Deus.”


A Bíblia sustenta que Deus é Espírito. Portanto, devemos expandir a nossa imaginação para conter um Deus que transcende género, não é nem homem nem mulher. Há uma riqueza de palavras que incluim várias imagens de Deus, mesmo imagens femininas. A Bíblia nunca fala da sexualidade de Deus. O termo "pai" é um termo relacional, apontando para a igualdade de todas as pessoas, tanto filha como filho. A base da tentação no Jardim do Éden foi quererem ser deuses. A tentação continua até hoje. Quando os homens são postuladas como deuses sobre as mulheres continuamos a viver as consequências deste pecado, o desequilíbrio e a injustiça de género.

segunda-feira, junho 27, 2011

ELE É COREANO E VALE A PENA OUVIR A SUA HISTÒRIA

Nas histórias destes jovenzinhos as ambições são iguais mas não a atitude e o percurso até chegarem ao momento em que a vida dá a volta. Muito comovente...


HISTÓRIAS



DE HODJA

A esposa de Hodja prepara uma deliciosa sobremesa para as festas. É o ponto alto do jantar e comem-na com grande entusiasmo. Decidem, no entanto, guardar o que sobra para o almoço do dia seguinte.

Mas Hodja não consegue dormir. Por fim acorda a esposa.

“Minha querida” diz ele, “vai-me buscar o que sobrou da sobremesa”.

A esposa assim o faz. Sentam-se e comem tudo.

“Assim, sim” diz Hodja: “Agora podemos voltar para a cama e dormir. É melhor ter a sobremesa na barriga do que na cabeça”.

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA


Episódio Nº 137


Em língua de sotaque e debique, apelidaram-na Tereza Providência Divina alguns raquíticos maconheiros de cuja senha e impotência Tereza libertou, em certa noite de praia no Recife, estouvada ginasiana. A curiosidade da adolescente transformou-se em medo e ela clamara pelo auxílio da providência divina em berros ouvidos por muita gente, mas cadê coragem para enfrentar a mal afamada corja de viciados? O melhor é não se meter, estes tipos são perigosos, aconselharam os prudentes parceiros de noitada, mas Tereza fez caso omisso às advertências – com ela perto, podendo intervir, mulher nenhuma, menos ainda menina, seria comida a pulso, na violência – e coube-lhe razão, pois os sebentos reduziram-se a graçolas, insolências, xingos inconsequentes: olha a divina providência, guarda civil de babaca, paraíba.

Dopados e covardes, largaram a bisbilhoteira e sumiram na náusea. Nada disso, porém, era consolo para a tristeza perene: nem passeios, nem pândegas, nem farras, nem embelecos, nada matava a saudade maltratando no peito.

Na terra e no mar, a sombra de Januário Gereba, dissolvida na aurora. Muito por baixo, sem graça e sem entusiasmo retornara Tereza Batista.

Flori Pachola, dono do Paris Alegre e bom amigo, também ele andava de crista murcha no que se refere a negócios: movimento fraco, falta geral de dinheiro, não tinha condições para contratar ao mesmo tempo duas estrelas para a pista iluminada do cabaré. Duas, sim, porque indo mal de negócios ia bem de amores o empresário: o coração em alvoroço devido à presença no estabelecimento de artista nova, Rachel Klaus, ruiva de farta cabeleira, em cujo colo pintalgado de sardas, Flori, por fim, superara a desesperada paixão por Tereza; durante meses seguidos roera a maior dor de cotovelo, de olhos doces na moça de cobre, a lhe pedir e suplicar, e ela, sempre gentil e risonha, a negar-se, inabalável. Da tristeza, da mágoa, do acabrunhamento resultantes da intransigência e da posterior partida de Tereza, foi salvo a tempo com a chegada à cidade de Raquel Klaus, cantora de blues, gaúcha e friorenta, candidata a exibir-se no Paris Alegre e a acalentar-se nos braços do melancólico proprietário: reerguendo das cinzas de Tereza o cabaré e o cabaretier. E os demais amigos? O poeta Saraiva andava pelo sertão em busca de melhor clima onde falecer, o pintor Jenner Augusto partira para a Bahia na esteira da glória, o famoso protésico Jamil Najar, noivara e ia-se casar com rica herdeira em quem efectuara cinco notáveis obturações. Quanto a Lulu Santos, o mais querido de todos, caíra morto, insólita e repentinamente, na tribuna do júri, quando defendia um pistoleiro alagoano.

Em Aracaju, sem amigos e sem trabalho, esmorecida, viu-se Tereza novamente alvo daquelas propostas daquele ricaço anteriormente referido, o homem mais rico de Sergipe, na opinião dos peritos em fortunas alheias, industrial, senador e femeeiro.

Insistente, mal habituado a obter com rapidez quanto desejava, tornou-se desagradável, ameaçando fazer-lhe a vida impossível se ela não cedesse às suas promessas, aliás generosas. A caftina Veneranda não lhe dava repouso: só uma louca de hospício recusaria a protecção do graúdo.

Louca de hospício, na casa do sem jeito e um tantinho impressionada com a figura do jovem médico, bonitão e bem falante, disposta a não render-se ao pai da pátria (amásia de homem de idade, nunca mais, não voltaria a correr o risco), Tereza decidiu-se e aceitou o convite do doutorzinho para acompanhá-lo a Buquim, sem compromisso de demora ou permanência, de amarração duradoura, em aventura de pouca consequência.
(clik na imagem para aumentar)

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

À ENTREVISTA Nº 100 SOB O TEMA:

“DEUS É DO SEXO MASCULINO?” (3)




A Nossa Memória Genética


Do livro de Riane Eisler diz a escritora chilena Isabel Allende : Com rigor científico, mas também com uma apaixonada eloquência, Riane Eisler prova que o sonho da paz não é uma utopia impossível. De facto, houve uma época muito antiga em que prevaleceram a participação, criatividade e afecto, onde as pessoas viviam com mais solidariedade do que agressão, e havia um Deus benevolente. (A autora refere-se à época Paleolítica)

Eisler revela a Deusa, que sempre esteve lá, escondida nas sombras da nossa memória genética. Este livro dá-nos a certeza de que um mundo melhor é possível… se tão somente o pudéssemos relembrar.

No prefácio de Baring e Cashford, Sir Laurens van der Post adverte para as consequências de retirar o carácter sagrado do feminino.
Anne Baring e Jules Cashford retrocederam tanto quanto possível na história seguindo uma luz dourada, e desde aí traçaram uma linha até hoje. Eles têm uma grande história para contar, uma história que vem justamente a tempo já que a perca desse antecessor feminino está a obrigar-nos a enfrentar o problema mais urgente e perigoso do nosso tempo: a exploração e rejeição da nossa mãe, a terra, á qual se arrebatou o grande reservatório de vida que ela tinha preparado para nós… A história toda conta-se de uma vez nessas páginas. É uma história terrível, estranhamente evocativa do feminino mas que nos dá ânimo para o futuro.

domingo, junho 26, 2011

HOJE É
DOMINGO

(Da minha cidade de Santarém)





A minha rotina das manhãs de Domingo é diferente das restantes. Sem ténis ou ginásio, a manhã torna-se maior, sobra o tempo para a leitura do jornal e hoje, ao comprá-lo, contra aquilo que é meu hábito, joguei no Euromilhões. Deu-me para ali… e fiquei a matutar no caso porque o grande factor de aliciamento daquele jogo são os jackpot, aquela quantidade imensa de dinheiro cuja probabilidade de sair (a mim) é menor do que a de sermos destruídos por um objecto vindo do espaço. Consolo-me pensando que foi uma forma de ajudar a Misericórdia.

De qualquer maneira, eu próprio, os meus amigos que seguem o Memórias Futuras em Portugal, no Brasil ou nos E.U.A., todos nós, somos um caso evidente de jackpot e esse já ninguém nos tira.

Ora vejamos: os nossos progenitores produziram, por dia, na maior parte das suas vidas entre 300 a 500 milhões de espermatozóides e qualquer um deles, combinado com um óvulo de entre umas centenas pertencentes às nossas mães, era um potencial descendente.

Repare-se bem, muitos milhares de milhões de uma pequena célula, cada uma diferente de todas as outras, que eram pertença dos nossos pais, escolhida em função de um processo competitivo no momento da fecundação, com um dos muitos óvulos que aleatoriamente estava disponível nesse dia, determinou o nascimento de cada um de nós numa probabilidade que desafia quase o infinito.

Richard Dawkins, grande especialista do genoma humano - (Premio Nobel em 1973 pelos seus estudos em Etologia e um dos maiores intelectuais do nosso tempo) - afirmou que as pessoas potenciais permitidas pelo nosso ADN que poderiam estar aqui no nosso lugar mas que na verdade nunca verão a luz do dia, excedem em número os grãos de areia do deserto do Sara… pensem bem, os grãos de areia do deserto!

E não é que temos a sensação que somos o filho óbvio dos nossos pais? E não é isso que sente qualquer um?

Agora que penso nisto quase que estremeço ao imaginar a multidão de irmãos meus que ficaram por nascer e me “deram” o seu lugar para que eu possa estar aqui a escrever e ir jogar ténis com o meu amigo Carlos.

Eu julgava que sorte, sorte, era acertar na “chave” do Euromilhões a que me candidatei há uns minutos atrás mas eu, ou os meus amigos, somos já autênticos jackpotes.

Chegamos à vida contra todas as probabilidades oriundos de um mundo de silêncio e de nada e depois de uma existência fugaz, que metaforicamente podemos equiparar a um pestanejar de olhos, regressamos a ele e, no entanto, esse momento fugaz, é tudo quanto nós temos.

E sendo tudo é ainda muito mais do que aquilo que nós valorizamos quando olhamos à nossa volta e nos apercebemos do que muitas, muitas pessoas fazem às suas vidas e à vida dos seus semelhantes: crime e desperdício!

Não há crença ou religião que não aponte para outras vidas numa estratégia óbvia de condicionar e influenciar as pessoas a adoptarem determinados comportamentos e atitudes, normalmente de disciplina e submissão, embora tudo à nossa volta nos mostre à evidencia que após a morte a vida continua, é certo, mas através de novos personagens que não os anteriores recauchutados.

A vida é um bem precioso, e é precioso porque é raro, embora os seis mil milhões de semelhantes nossos que habitam o planeta nos possam dar uma ideia contrária, mas o que é este número comparado com o dos grãos de areia do deserto do Sara?

Vamos morrer e por isso somos nós os bafejados pela sorte. A maior parte das pessoas nunca vai morrer porque nunca vai chegar a nascer.

É muito importante pensar a vida, a nossa vida, como aquela oportunidade que nos surgiu de entre muitos milhões de oportunidades que podiam ter acontecido a outros no nosso lugar.

Se assim conseguirmos pensar, até porque é essa a realidade, olhar-nos-emos e aos nossos companheiros de “viagem” com outros olhos, com mais atenção e mais sentido de responsabilidade.

No fundo, todos buscamos a felicidade que é aquela “coisa” que definimos para nós próprios nem sempre facilmente.

Sabemos, acima de tudo, que queremos ser felizes mas não sabemos bem “como” nem “com quem” e quando o julgamos saber muitas são as vezes em que concluímos que estávamos enganados.

Nascemos condicionados pelos nossos genes e pelo contexto cultural que encontramos e por muito que nos emancipemos através de uma formação científica sólida e diversificada, é na gestão que fazemos daqueles dois grandes factores que as nossas vidas têm que se resolver.

Em última análise, são aspectos emotivos da nossa própria natureza que irão determinar o sucesso das nossas vidas em termos de felicidade e por isso a necessidade de apelar à inteligência para orientarmos a nossa sensibilidade.

Só somos seres superiores porque temos a capacidade de sermos bons de uma forma inteligente: nem “máquinas pensantes”nem “donzelas de lágrima ao canto do olho”.

A razão e o sentimento têm que “casar-se” sem que para isso haja alguma fórmula mágica a não ser, talvez, a que se esconde algures dentro de cada um de nós…

Temos uma dívida para com o meio que nos cerca pois não só o planeta em que vivemos é propício e “amigável” como o próprio universo também o é.

Segundo os cálculos dos físicos, pequeninas alterações que fossem nas leis e nas constantes da Física e o universo ter-se-ia desenvolvido de tal modo que a vida teria sido impossível.

Mas a nossa responsabilidade não é perante o Universo que se organizou de forma a permitir a vida, nomeadamente a nossa, pois somos demasiado pequenos e insignificantes para assumirmos responsabilidades perante o Universo.

A nossa responsabilidade é perante nós próprios, na qualidade de única espécie verdadeiramente inteligente que ao longo de um processo evolutivo de muitos milhões de anos, e com muitos sobressaltos pelo caminho, se conseguiu impor.

Despoletamos forças poderosas, estamos em vésperas de construir estações orbitais com condições para lá podermos viver, transformamos o nosso mundo numa aldeia global, mas continuamos com imensas dificuldades em resolver situações de simples vizinhança e convivência em que alguns conflitos religiosos continuam a ser os de mais difícil resolução.

Sempre, sempre os deuses a atrapalhar a vida dos homens...!

Site Meter