Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, fevereiro 15, 2014
Cats - Memory
É difícil deixar de ouvir esta extraordinária canção. A representação confere-lhe o resto do dramatismo.
Não se sabe como,
mas um turco conseguiu pegar dinheiro emprestado de um Judeu. Acontece que o Turco nunca pagava nenhuma de suas
dívidas e o judeu nunca deixava de receber o que lhe deviam.
O tempo passa, o
turco enrolando e o Judeu atrás dele. Até
que um dia eles se cruzaram no café de um alentejano e começaram uma
discussão.
O turco encurralado
não encontrou outra saída, pegou um revólver encostou na própria cabeça e
disse:
- Eu posso ir para o inferno, mas não pago esta
dívida! E puxou o gatilho, caindo morto no chão.
O judeu não quis
deixar por menos, pegou o revólver do chão, encostou a sua cabeça e disse:
- Eu vou receber
esta dívida, nem que seja no inferno! E
puxou o gatilho, caindo morto no chão.
O alentejano, que
observava tudo, pegou o revólver do chão, encostou na cabeça e disse:
- Pois eu não perco esta briga por nada!
Touro Reprodutor
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MARINHEIROS
Episódio Nº 6
Onde se trata de aposentados e retirados dos negócios, com mulheres na praia e na cama, donzelas em fuga, ruína e suicídio, e um cachimbo de espuma-do-mar.
Um clima propiciatório, feito de
tragédia e de mistério, antecedera o memorável dia do desembarque do
comandante, como se o destino estivesse preparando a população para os
acontecimentos a vir. Só de raro em raro um fato inesperado rompe a monotonia
dessa vida suburbana.
Isso de Março a Novembro, porque nos
três meses de férias, Dezembro, Janeiro, Fevereiro, todos esses arrabaldes da
Leste Brasileiro, dos quais Periperi é o maior, o mais populoso e o mais belo,
enchem-se de veraneantes.
Muitas das melhores residências ficam fechadas durante
quase todo o ano, pertencem a famílias da cidade, abrem-se apenas no verão.
Aí então anima-se Periperi, invadido de
repente por uma juventude álacre: rapazes a jogar futebol na praia, moças de
Maio estendidas ao sol na areia, barcos a cruzar as águas, passeios,
piqueniques, festinhas, namoros sob as árvores da praça ou na sombra dos
rochedos.
Das recordações desses três meses, dos
comentários sobre histórias e fatos do último veraneio, vive a população
estável os nove meses seguintes. Rememorando namoros, festas, brigas entre jovens
atletas apaixonados e ciumentos, a ameaça de afogamento de uma criança, bailes
de aniversário, bebedeiras a perturbar o silêncio da noite.
A população estável (se exceptuarmos
pescadores e uns poucos comerciantes - donos da única padaria, de uns dois
bares, de outros tantos armazéns de secos e molhados, da farmácia - alguns
funcionários da Leste Brasileiro nas casas ao lado da Estação) é formada de
aposentados e retirados dos negócios com suas respectivas famílias, quase
sempre apenas a esposa e, por vezes, uma irmã solteirona.
Alguns desses idosos personagens afirmam
preferir Periperi no seu pacato quotidiano de antes e depois do verão, mas, em
verdade, todos eles terminam por envolver-se, de uma ou de outra maneira, na
turbulenta agitação do veraneio.
Quando não seja, para espiar, com olhos
compridos e cobiçosos, os corpos femininos seminus na praia - cada pedaço de
mulher! - ou para comentar acidamente os casais de namorados nos cantos
escuros.
Seu Adriano Meira, retirado do negócio
de ferragens, todas as noites, durante o verão, sai depois das nove horas, com
uma lanterna eléctrica, para, como ele diz, “passar em revista os namorados,
ver se estão trabalhando bem”.
Estabeleceu um roteiro completo dos
becos, rochedos e pedras, fundos de qui ntal,
portões e esqui nas, onde os
namorados buscam a solidão propícia ao amor. No dia seguinte, fornece seu
Adriano um relatório circunstanciado e picaresco. Os velhos aposentados
esfregam as mãos, os olhos brilham.
Tudo isso serve não apenas durante os
meses de verão. Cada facto é recordado depois, longamente analisado e
decomposto, quando os veraneantes partiram e a paz do mundo desceu sobre
Periperi, quando o tempo é longo de passar, e a lanterna de seu Adriano ilumina
apenas, nos cantos escuros, as carraspanas de Caco Podre ou encontros de
cozinheiras e pescadores.
Existem os verões excepcionais. Não pela
beleza dos dias, pelo esplendor maior dos verdes e azuis nas árvores e nas
águas, pelas noites de brisa mais fresca e estrelas mais numerosas.
Tais coisas importam pouco aos aposentados e retirados dos negócios. Excepcionais são aqueles verões nos quais se regista um bom escândalo, um verdadeiro e ruidoso escândalo, prato capaz de alimentar sozinho as conversas dos meses mortos. Mas sucede tão de longeem longe.
Uma tristeza!
Tais coisas importam pouco aos aposentados e retirados dos negócios. Excepcionais são aqueles verões nos quais se regista um bom escândalo, um verdadeiro e ruidoso escândalo, prato capaz de alimentar sozinho as conversas dos meses mortos. Mas sucede tão de longe
Pois bem: o veraneio precedente à
chegada do comandante foi de prodigalidade nunca vista. Dois escândalos, um
logo nos começos de Janeiro, outro após o carnaval, com trágico desfecho,
deram-lhe um lugar à parte no calendário suburbano.
Não se pode estabelecer, de boa-fé,
ligação propriamente dita entre o caso do Tenente-Coronel Ananias Miranda, da
Polícia Militar, e o do Comandante Vasco Moscoso de Aragão. Mas há uma
tendência geral a ligar os dois factos, como se as desditas de Ananias fossem
uma espécie de prólogo às aventuras de Vasco.
Não merecesse a voz do povo o respeito
dos historiadores e nem valeria a pena relatar aqui
esse incruento escândalo de Janeiro. Se bem existam sempre, em cada facto,
lições a aprender. Assim, nos ruidosos - e velozes - sucessos a envolver o
tenente-coronel, sua esposa Ruth e o jovem terceiranista de Direito Arlindo
Paiva, encontraremos no mínimo dois ensinamentos valiosos.
sexta-feira, fevereiro 14, 2014
Devido
ao falecimento do avô aos 95 anos, o jovem Camilo foi fazer uma visita de pêsames à sua avó de 90
anos. Quando chega, Camilo encontra a anciã chorando e tenta confortá-la.
Um pouco depois, quando percebe que a
avó está mais calma, o neto pergunta:
- Diz-me avó, como morreu o avô?
- Morreu ao fazermos amor - Confessa a
avó.
Camilo, espantado, responde-lhe que as
pessoas de 90 anos ou mais, não deveriam fazer amor porque é muito
perigoso. O coração pode falhar!
Ao que a avó responde:
- Por precaução, já só o fazíamos ao
Domingo, de há cinco anos a esta parte, e com muita calma, ao ritmo
compassado das badaladas do sino da Igreja.
Era ding para o meter e dong para o
tirar...
... Se não fosse o filho da puta do
homem dos gelados, com o seu frenético sininho, o avô ainda estaria vivo!
MEMÓRIAS
DE UM JUDEU
Sempre que ouço aquela música do Chico, "ó pedaço de mim, ó pedaço
arrancado de mim", me bate uma deprê braba. Lembro da minha infância
e acabo voltando no tempo. Estava eu deitado no meu bercinho, ainda com
uma semana de vida, quando começou a chegar gente em casa. Era dia de
festa. E festa de judeu lembra muito reunião do PSDB: só tem tucano. Cada
nareba que não tem mais tamanho.
Mamãe
convidou só 30 pessoas, mas como era boca livre, veio judeu de tudo quanto
foi canto. Se mamãe cobrasse ingresso, corria o risco de nem o papai
aparecer. Não precisa dizer que os presentes não trouxeram presentes.
Metade esqueceu em casa e a outra metade disse que não tinha dado tempo de
comprar. Coisas da religião. Cada um que chegava, vinha até o meu bercinho.
Quando se abaixavam para me ver mais de perto, virava um autêntico ataque
do exército israelense. Contabilizei pelo menos umas 30 narigadas na
barriga. Em vez de olharem para os próprios umbigos, vinham olhar pro meu.
Acho que era por causa da "faixa de gaze".
Para que esse nariz tão grande, perguntei. Por uns segundos, cheguei a
pensar que mamãe tinha resolvido fazer uma plástica no meu nariz que, com
menos de uma semana de vida, já era avantajado. Mas o negócio era mais
embaixo. Bem mais embaixo. Ele tirou a minha
fraldinha descartável, que mamãe tinha acabado de lavar, e eu
gritei, abri o berreiro: "Tira esse tarado ortodoxo daqui ! Esse comunista judeu quer comer criancinha!!! E
no rabino, não vai nada?
Apesar de tanta tecnologia, Buááááá não vem com legenda. Não sei por que ainda não inventaram uma tecla SAP para bebês. Parti então para a minha última tentativa: um ataque com armas químicas. Soltei duas bombas de efeito moral. PUM! PUM! Mas o bigode do sujeito cobria o nariz como uma máscara antigases. Ataquei com meus jatos poderosos, mas o xixi não conseguiu furar o bloqueio da barba blindada do velho.
Não teve jeito. O Jacozinho virou o Jacozinhozinho. Vai entender o que esse povo tem na cabeça, além desse chapeuzinho medonho? Em vez de sacrificarem uma galinha como na velha e boa macumba, eles sacrificam o pinto. Cortaram o meu pausówsky, meu penisberg. Ficou só o "cara".
O "lho" foi-se. Uma parte de mim estava agora que nem pinto
no lixo, literalmente. Depois de circuncidado, passei a entender o porquê
daquele muro das lamentações. Eu, pelo menos,lamento até hoje. "Ó
pedaço de mim..."
Sammy Lachmann - Publicado no "O Pas
Estabeleceu sua reputação e firmou seu conceito |
OS
VELHOS
MARINHEIROS
Episódio
Nº 5
Como
se cada gesto obedecesse a um cálculo preciso, primeiro
mediu
com o olhar a distância a separá-lo da casa próxima e isolada, junto à praia,
as janelas abertas sobre as águas.
Assentou
rumo em direcção à porta, iniciou a abordagem. Os vizinhos seguiam atentos seus
movimentos, fitavam-no com respeito: a face redonda e avermelhada, a farta
cabeleira prateada, o paletó marítimo com brilhantes botões metálicos.
Iniciada
a marcha, entre eles e o comandante situou-se Zequi nha
Curvelo: ocupara seu posto.
Os
carregadores chegavam com o resto da bagagem, o comandante baixou ordens
precisas e categóricas. Malas, camas, armários para os quartos, engradados e
caixões depositados na sala.
Só
então, terminadas as tarefas, pareceu tomar conhecimento
Da
pequena multidão a contemplá-lo da rua. Sorriu, cumprimentou com a cabeça e pôs
a mão sobre o peito num gesto onde havia qualquer coisa de oriental, de
exótico. Um coro de “boas-tardes” respondeu à saudação.
Zequi nha
Curvelo, enchendo-se de coragem, avançou um passo em direção à porta. Retirava
o comandante de um dos amplos bolsos do paletó inesperado objecto, parecia um revólver,
Zequi nha recuou. Não era revólver,
que diabo seria?
Punha-o
na boca o comandante, era um cachimbo, mas não um simples cachimbo — já de si
extravagância no pacato arrabalde. De espuma-do-mar, trabalhado: a boqui lha representando pernas e coxas nuas de mulher,
a pipa moldando-lhe o busto e a cabeça. “Oh!”, murmurou Zequi nha, perdendo a ação.
Quando
a recuperou, ia-se afastando da porta o recém-chegado vizinho. Zequi nha apressou-se, ofereceu-lhe os préstimos, não
lhe podia ser útil?
—
Muito, muito obrigado… — declinou o comandante. Puxou
um
cartão de visita de uma carteira, estendeu-o a Zequi nha,
acrescentando:
— Um velho marinheiro, às suas ordens.
Viram-no
depois, ajudado pelos carregadores, de martelo e
chave
de fenda, na sala, abrindo caixões. Surgiam instrumentos
raros, um óculo enorme, uma bússola. Ainda
demoraram os curiosos nas imediações a contemplá-lo. Depois foram espalhar as
novas.
Zequi nha exibia o cartão ornado com uma âncora:
COMANDANTE
VASCO MOSCOSO DE ARAGÃO
Capitão-de-longo-curso
Eis
como aconteceu a sua chegada a Periperi, naquele começo de tarde infinitamente
azul, quando, de um golpe, estabeleceu sua reputação e firmou seu conceito.
quinta-feira, fevereiro 13, 2014
De Miguel Esteves Cardoso
Um dos grandes problemas
da nossa sociedade é o trauma da morada.
Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que moravaem Sete Rios , comprou um
andar em Carnaxide.
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.
Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a arqui tectura
da casa não interessam.
Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada,
Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja... ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.
Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas,
compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na Europa.
De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.
Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a ar
Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada,
Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja... ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.
Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas,
compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na Europa.
De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente
"E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E
onde mora, presentemente?", Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça
(Estremoz).
É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda,
logo depois do parto para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome
de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em
Braga),
mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de
uma Vergadelas?
É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra". Ninguém é do Porto ou de Lisboa.
Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).
Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).
É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos
estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa. Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros. Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)
Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).
- Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!!
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa. Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros. Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)
Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).
- Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!!
Uma loura (podia ser morena) está no carro com o namorado num
namoro desenfreado. Beijo puxa beijo e às tantas...
- Não queres ir para o banco de trás? (diz ele em visível
sofreguidão)
- Para o banco de trás? Não.
Bom, o namoro lá continua, mais beijo, mais festa, mais aperto,
mais amasso e...
- Não queres mesmo ir para o banco de trás? (diz ele ainda com
mais vontade)
- Não, não quero. O pobre rapaz já meio desnorteado, lá continua
no beija-beija, esfrega-esfrega até que...
- Vá lá! Tens a certeza de que não queres ir para o banco de trás?
(já desesperado).
- Mas que coisa! Já te disse que não! Claro que não!
- Então, mas porquê? (já desesperadíssimo)
- Porque prefiro ficar aqui
ao pé de ti!
Aqui estamos, oceano, novamente juntos |
OS
VELHOS
MARINHEIROS
Episódio
Nº 4
DO
DESEMBARQUE DO HERÓI EM
PERIPERI E DE SUA INTIMIDADE COM O MAR -
- ADIANTE, GRUMETES.
- ADIANTE, GRUMETES.
Voz
acostumada a ordenar. Fez um gesto com a mão apontando o rumo, desceu os três
degraus da plataforma, assumira o controle da travessia, firme pulso ao timão,
olhos de bússola.
Formou-se
uma espécie de pequeno cortejo a desfilar na rua:
à
frente, decidido e sereno, o comandante. Uns metros atrás, Caco Podre e Misael,
os dois carregadores, com parte da bagagem.
Caco
Podre àquela hora já bebera seus tragos habituais, seu passo era
incerto, não lhe ia de todo mal o tratamento de “grumete” que lhe dera o recém-chegado. Os curiosos vinham logo depois, trocando cochichos, num grupo que
crescia, pois a roda do leme, na
cabeça de Misael, era um chamariz.
Não entrou em casa. Contentou-se
em apontá-la aos carregadores,
continuou a caminhar. Dirigiu-se para a
praia, andou até os rochedos, parou a medi-los com um olhar de conhecedor,
iniciou a escalada.
Altos não eram, escarpados tampouco, rampa suave
por onde nos dias de verão crianças subiam e desciam, e, à noite, escondiam-se
namorados. Mas havia tal dignidade no porte do comandante que todos
compreenderam as dificuldades da empresa, como se de súbito os modestos
rochedos se houvessem transformado em abrupta muralha de pedras, jamais vencida
pelos pés do homem.
Ao chegar ao alto, deixou-se ficar
parado, os braços cruzados
sobre o peito, a fitar as águas. Assim
imóvel, o rosto contra o sol, a cabeleira ao vento (aquela suave e
permanente brisa de Periperi), assemelhava-se a um soldado em posição de
sentido num desfile ou, dada sua imponência, um general em bronze numa estátua.
Vestia um estranho paletó, onde havia algo de
túnica militar, azul e grosso, de gola ampla. Só Zequi nha
Curvelo, leitor assíduo de romances de aventuras, adivinhou estar ali, diante
deles, em carne e osso, um homem do mar, habituado aos
navios e às tempestades.
Murmurou sua impressão aos outros,
paletó parecido com aquele ilustrava a capa de um romance de
aventuras no oceano, história de frágil veleiro em meio a um mar de temporais e
sargaços.
O marinheiro na capa vestia um paletó
assim. Durou apenas um momento aquela imobilidade mas foi um longo momento,
quase eterno, fixando a imagem na memória dos vizinhos. Depois estendeu num
gesto longo o braço curto e pronunciou:
— Aqui
estamos, oceano, novamente juntos. Outra vez voltou a cruzar os braços sobre o
peito, era uma afirmação e também um desafio.
Seu olhar dominava as águas calmas do golfo,
onde o mar e o rio se misturavam na acolhedora baía. Ao longe, negros navios
ancorados, rápidos saveiros cujas velas brancas pontilhavam o azul sereno da
paisagem.
Havia, naquele olhar e na postura imóvel, a revelação de antiga intimidade com o oceano, feita de amor e cólera, de histórias vividas, sensível mesmo àqueles corações pacatos, distantes da aventura e do heroísmo.
Havia, naquele olhar e na postura imóvel, a revelação de antiga intimidade com o oceano, feita de amor e cólera, de histórias vividas, sensível mesmo àqueles corações pacatos, distantes da aventura e do heroísmo.
É de justiça exceptuar Zequi nha Curvelo, pois noutro clima não vivia,
devorador de folhetins baratos, às voltas com piratas e pioneiros, de todo
preparado para ser o protoprofeta, o são João Batista anunciador do herói
desembarcado.
Assim, quando o comandante desceu dos
rochedos e penetrou
no círculo dos vizinhos, murmurando,
como se falasse consigo mesmo, “longe do oceano não posso viver…”, penetrou também
e definitivamente na admiração de seus novos concidadãos.
Parecia,
no entanto, não vê-los, não se dar conta de sua presença e curiosidade.
quarta-feira, fevereiro 12, 2014
Deus Existe?
Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”
De acordo com o grande
matemático francês Blaise Pascal, por maiores motivos que sejam as
probabilidades contra existência de Deus, há ainda uma assimetria maior no
castigo por escolher a opção errada.
O melhor é acreditar em
Deus, porque se estivermos certos, habilitamo-nos a ganhar a felicidade eterna,
e se estivermos errados não vai fazer diferença nenhuma.
Por outro lado, se não
acreditamos Nele e estivermos errados somos condenados à maldição eterna ao
passo que se tivermos certos não faz qualquer diferença.
Perante isto a decisão é
facílima: acreditar em Deus.
Perguntaram a Bertrand
Russell o que diria se morresse e Deus lhe perguntasse por que razão não tinha
acreditado: «Provas insuficientes, Deus, provas
insuficientes» foi a (eu ia a dizer a imortal) resposta
de Russell.
Não teria Deus respeitado
mais Russell pelo seu corajoso cepticismo, (para não falar de corajoso
pacifismo que lhe valeu a prisão na 1ª Guerra Mundial) do que Pascal pela
cobardia de apostar no seguro?
E se, de qualquer maneira,
não temos maneira de saber para que lado se inclinaria Deus, o que é facto é de
que não precisamos de sabermos para refutarmos a aposta de Pascal.
Repare-se que é de uma
aposta que se trata, e Pascal não qui s
dizer senão que eram escassas as suas probabilidades.
O leitor “apostava” em que Deus daria mais valor
à crença fingida por desonestidade do que ao cepticismo sincero?
Provavelmente ele estava a
brincar quando fez a sua aposta, tal como eu estou a brincar quando estou a
rejeitá-la desta maneira.
Por que razão é quase certo
que Deus não existe?
«Os sacerdotes das diferentes
seitas religiosas… temem o avanço da ciência como as bruxas temem a aurora e
franzem o sobrolho ao fatal arauto dos logros em que vivem»
Thomas Jefferson
O Fantástico Boeing 747
O argumento da
improbabilidade é o que maior importância tem. Revestindo-se tradicionalmente
com as roupagens do argumento do desígnio, é hoje, sem margem para dúvidas, o
mais popular apresentado a favor da existência de Deus.
É de facto um argumento
bastante forte. O nome que dou à demonstração estatística de que Deus quase de
certeza não existe é a jogada do fantástico Boeing 747 e do ferro-velho.
Esta teoria deve-se a Fred
Hoyle, astrónomo britânico que afirmou que a probabilidade da vida ter surgido
na Terra não é maior do que a possibilidade de um furacão ter varrido um
ferro-velho e, por sorte, ter montado um Boeing 747.
A sua teoria é de que a vida
surgiu no espaço espalhando-se então pelo universo.
As coisas complexas não
podem ter surgido por acaso e este é o argumento da improbabilidade.
A selecção natural de Darwin
mostra quanto isto é errado. A hipótese de Deus corresponde ao Boeing 747 que
apareceu feito por acaso depois de um vendaval ter varrido um ferro-velho.