sexta-feira, março 04, 2016

Hey Jude - Paul McCartney

Talvez a melhor canção que nos tenha sido presenteada por um grupo musical. Chega a ser comovente...



Sabe, meu  caro Pedro, se me permite...
A Morte da 


Executiva...



























Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou-se. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal.

Ainda meio tonta, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava a acontecer, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:

- Enfermeiro, eu preciso voltar com urgência para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque o meu seguro de saúde é Platina, e isto aqui está a parecer-me mais a urgência dum Hospital público. Onde é que nós estamos?

- No céu.

- No céu?...

- É.

- O céu, CÉU....?! Aquele com querubins, anjinhos e coisas assim?

- Exacto! Aqui vivemos todos em estado de graça permanente.

Apesar das óbvias evidências, ausência de poluição, toda a gente a sorrir, ninguém a usar telemóvel, a executiva bem-sucedida levou tempo a admitir que havia mesmo batido a bota.

Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana iria receber o bónus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.

E foi aí que o interlocutor sugeriu:

- Talvez seja melhor a senhora conversar com Pedro, o coordenador..

- É?! E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?

- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.


- Quem me chama?

A executiva bem-sucedida quase desabava da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.

Mas, a executiva tinha feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu logo:

- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...

- Executiva... Que palavra estranha. De que século veio?

- Do XXI. O distinto vai dizer-me que não conhece o termo 'executiva'?

- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.

Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.

- Sabe, meu caro Pedro. Se me permite, gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para essa gente toda aí, só na palheta e andando a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistémica.

- É mesmo?

- Pode acreditar, porque tenho PHD em reorganização. Por exemplo, não vejo ninguém usando identificação. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?

- Ah, não sabemos.

- Percebeu? Sem controlo, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar em anarquia. Mas podemos resolver isso num instante implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.

- Que interessante...

- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.

- !!!...???...!!!...???...!!!

- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Accionista... Ele existe, certo?

- Sobre todas as coisas.

- Óptimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, parece-me extremamente atractivo.

- Incrível!

- É óbvio que, para conseguir tudo isso, teremos de nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias da praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho a certeza de que vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar num Turnaround  radical. 

- Impressionante!

- Isso significa que podemos partir para a implementação?

- Não. Significa que a senhora terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque acaba de descrever, exactamente, como funciona o Inferno...





Max Gehringer

A Intolerância



Mixordia de Temáticas - Alguns pensamentos...


Durma com ele, passei, namore, goze a vida...
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)


EPISÓDIO Nº 95















Tieta abandona os cremes de limpeza e o espelho, toma das mãos da moça, acaricia-lhe a crina loura, nem às irmãs queria tanto quanto àquela desditosa recolhida no trotoar, a pequena Nora, marcada pela má sorte e todavia capaz de sonho e esperança.


- Eu sei que nunca vai contar, conheço minhas cabritas, ai de mim se não as conhecesse. O que tu deve fazer? Aproveitar as férias, divertir-se. Namore o rapaz, ele é simpático e bonitão, um pedaço de homem. Um pouco ingénuo para o meu gosto mas direito. Durma com ele se tiver vontade. Tu deve estar morta de vontade, não é?

Leonora abana a cabeça afirmativamente e logo esconde o rosto nas mãos, Tieta vem sentar-se a seu lado na cama, prossegue:

- Durma com ele, passei, namore, goze a vida mas não se prenda. Tome cuidado para evitar escândalo. Só não entendo por que você ainda não dormiu com ele.

Ele pensa que sou virgem Mãezinha. Nunca vi ninguém tão crédulo e respeitador. Não tenho palavras nem coragem para contar que não sou donzela. Tenho medo que ele se desiluda, não queira mais me ver.

- É capaz. Agreste não é São Paulo, é o cu do mundo, parou no século passado. Aqui, ou bem se é moça cabeçuda ou rapariga de porta aberta. Não viu o que se passou comigo?

Pai me mandou embora, me mandou ser puta longe daqui. Faz muito tempo mas continua sendo a mesma coisa hoje. Quem sabe, com jeito…

- Que jeito Mãezinha? Ele pensa que sou donzela, que sou rica, filha e herdeira do Comendador Filipe. Fica inibido até para me pegar na mão porque ele é um pobre de Jó e eu sou milionária.

Sabe que ele ainda nem se declarou? Insinua umas coisas, suspira, parece que vai falar, engole em seco, fica calado, segura em minha mão, não sai disso. Em Mangue Seco fui eu que beijou ele. Fora daí, roça os lábios no meu rosto quando se despede e nada mais.

- Eu vi, estava espiando, é de não acreditar. Coitado do rapaz, deve estar desperdiçando o ordenado na casa de Zuleika para se desforrar, ou gastando a mão se lhe faltar dinheiro – sorri para Leonora: Siga meu conselho, deixe o barco correr, dê tempo ao tempo, vá se divertindo. Pelo menos assim você não se chateia.

- Me chatear? Mãezinha vou-lhe dizer: esses dias aqui foram os únicos felizes da minha vida. Estou amando. Pela primeira vez, Mãezinha. Com Pipo e Cid foi outra coisa, nem de longe se parece. Já lhe contei, se lembra?

Diante da adolescente massacrada no sórdido cortiço, Pipo, com o nome repetido nos rádios de pilha, a fotografia nos jornais, aparecia como a personificação dos invencíveis heróis das histórias aos quadradinhos, dos filmes de aventuras, das séries de televisão.

Ser sua garota causava inveja a todas as demais chivetas da rua. Quando ele a chutou, sofrera principalmente na vaidade. Vez por outra podemos dar uma metida, se quiser, dissera Pipo, cheio de si. Isso jamais. Não aceitara a humilhação, pretendendo-se a única, a inspiradora dos golos marcados pelo craque nos matches de futebol.

Chorara a semana inteira com a gozação da vizinhança mas dele mesmo não sentia falta.

Quando no inferninho asqueroso onde caçava o michê que lhe garantisse a comida do dia seguinte, encontrou Cid Raposeira na solidão, na droga, no abandono, amarfanhado rosto de Cristo, tão necessitado de companhia e ajuda, vibrara o coração de Leonora, sensível e solidário.

Iniciou-se o trajecto do interminável desespero, alternando-se os raros dias de carinho e humildade, com os de loucura e violência desatadas. Menos que companheira e amante, sentira-se enfermeira, samaritana, irmã a cuidar de alguém ainda mais desgraçado do que ela. Casal de párias perdidos na metrópole fechada em pedra e em fumaça, sem condições de alegria e felicidade. Um e outro, o glorioso Pipo e o contraditório Cid, nada tinham a ver com o renitente sonho de lar e paz, de carinho, de amor.

- É amor, sabe, Mãezinha? Uma coisa diferente. Tudo o que eu queria era ficar aqui, com ele, nunca ir embora.

Comove-se Tieta, pobre Leonora, escorraçada cabrita. Afaga-lhe os cabelos, belisca-lhe a face:

- Não é que eu seja contra, minha filha, é que não vejo jeito.

No jantar em casa de dona Milú, observando Leonora e Ascânio em idílio, Tieta já se preocupara. Fosse simples aventura, beijos, apertos, umas quecas na beira do rio, nos esconsos das rochas, nas areias cálidas de Mangue Seco, bons lugares para descarregar a natureza, não teria maior importância, bastando manter a descrição para evitar a língua do povo de Agreste longa e afiada.

Se caísse na boca do povo, paciência. Nora partiria em breve para nunca mais voltar, pouco interessava a imagem que dela guardassem aqueles tabacudos.

A Cautela...
















O agente da funerária atendeu o telefone:

- Bom dia, em que posso ser útil?

- É da funerária? Perguntou um homem do outro lado da linha.

- É sim, faça favor de dizer...

- A minha sogra faleceu.

- Meus sinceros pêsames, senhor - observou educadamente o agente.

- Que serviço prefere? Cremar, embalsamar ou simplesmente enterrar a senhora sua sogra?

- Vamos fazer as três coisas! É melhor não correr riscos!


Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 205




















O Trava revelou o seu desejo de cercar a cidade. Ao mesmo tempo, enviaria Paio Soares ao encontro de Afonso Henriques, para lhe sugerir uma paz apaziguadora entre mãe e filho.

Paio Soares estava perplexo mas o colóquio foi interrompido pela entrada na sala de uma criada, esbaforida, dizendo que Dona Teresa se preparava para dar à luz.

O Trava exclamou:

 - Ei-lo que chega, o futuro rei da Galiza!

Correu atrás da criada, dirigindo-se aos aposentos da rainha, deixando Paio Soares agitado. A seu lado, Ramiro murmurou:

- Tudo faz sentido.

Nascendo o varão desejado pelo Trava, o passo seguinte era a morte de Afonso Henriques, deduziu. Paio Soares seria o executor da traição, do ardil enganoso, atraindo o príncipe para fora do castelo de Guimarães, para os homens do Trava o poderem matar.

O Mordomo-Mor abanou a cabeça incrédulo.

Chamoa várias vezes me avisou das malévolas intenções do tio, mas nunca acreditei!

Desorientado perguntou a Ramiro:

 - E que faço eu? – Vou para Tui ter com Chamoa? O meu segundo filho também acabou de nascer!

Antes que o templário lhe pudesse dar a sua opinião, Fernão Peres de Trava regressou à sala e praguejou:

 - Falso alarme, o parto ainda demora!

Paio Soares ainda tentou sorrir dizendo que também tinha sido pai, uns dias antes, em Tui. Receoso, acrescentou:

 - Gostava de lá ir ver Chamoa e o meu novo menino. Juntava-me a vós em Guimarães.

Fernão Peres de Trava mirou-o, desconfiado e Paio Soares sentiu um arrepiu quando aqueles olhos frios encontraram os seus.

Tendes dúvidas, nobre Paio Soares? – perguntou o Trava.

O Mordomo negou prontamente qualquer hesitação e justificou-se com as saudades da esposa. Fernão Peres sorriu-lhe e concordou:

 - A minha sobrinha Chamoa é uma bela mulher!

Depois, o seu olhar gelou-se.

- Mas nobre Paio, vossa esposa tem quem a ajude.

Avançou até ao varandim de onde se via a cidade, o horizonte e o Mondego, e olhando para a torre, murmurou:


 - Meu pai sempre disse que se deviam pendurar os traidores no alto das torres, para todos virem o seu destino! 

quinta-feira, março 03, 2016

O extremismo

ambiental

no seu melhor...
   










«Três montanhistas salvaram dois homens e um rapaz que se perderam na zona das Minas dos Carris, na Serra do Gerês. Esta foi a notícia a 9 de Janeiro. Agora, avança o Jornal de Notícias, os seis receberam notificações para pagar multa.

Em causa está o facto de todos eles terem sido detectados a passar por uma zona de protecção total sem autorização, escreve o JN.

Tanto os montanhistas resgatados como aqueles que os salvaram são convidados a pagar uma coima mínima de 200 euros e os custos do processo, no valor de 51 euros. Caso não efectuem o pagamento, escreve o jornal, o processo prossegue e o valor a pagar pode chegar aos dois mil euros.» [DN]
   
Parecer de O Jumento:

- Sem comentários a não ser que da próxima ficam a morrer até que um qualquer senhor burocrata do ambiente autorize o salvamento.

Nota

Desenvolve-se uma cultura de obediência cega ao Chefe que, em vez de incutir sensatez e inteligência na interpretação das normas aos seus funcionários,  exige respeito e subordinação, exactamente a mesma que ele pratica com o Chefe dele... 

Poderá sempre dizer que era aquilo que estava na lei... além de que os funcionários não foram admitidos para pensar mas apenas para fazerem o que se lhes manda ou o que está escrito e, com uma frágil segurança no emprego, o melhor é mesmo não arriscar...

Os montanhistas que salvaram as três pessoas que se perderam na serra, primeiro, pagam a multa e depois, se estiverem dispostas a isso, discutem com o juiz a justiça do pagamento da dita cuja... É ridículo e caricato que seja assim mas é o que é...

Este é o nosso funcionalismo público por dentro, que vem de longe, e não é fácil alterar. A maneira de pensar é uma herança do passado. As pessoas morrem e ele perdura pelas gerações seguintes... atenuado que seja pelo tempo.
  

Travões de emergência no Metro


Tombe La Nege - Salvatore Adamo

Nasceu em 1943. Ouvi-lo, é recordar a minha juventude. Fazia as minhas delicias, as minhas e não só...


Processo de Envelhecimento


O segredo é descobrir a menina no rosto da avó... reparem que ele está lá, apenas danificado pelo tempo.



Mãezinha, me ajude, só tenho você no mundo.
Tieta do Agreste
 (Jorge Amado)

EPISÓDIO Nº 94

























CAPÍTULO ONDE TIETA BUSCA DEFINIR O AMOR E NÃO CONSEGUE


Tieta deixa os namorados na porta da rua, sozinhos, livres para a despedida. Da sombra do corredor, porém, espicha o olho para ver o que se passa, onde as mãos vão parar, a força dos beijos, os lábios vorazes, as línguas se enrolando, aqueles primeiros passos no caminho do resto.

Decepção completa e inquietante. Viu apenas um roçar dos lábios de Ascânio na face de Leonora, receoso e apressado, aquilo não era beijo coisíssima nenhuma, perdera o tempo a espionar o mais completo e acabado par de idiotas.

Da porta, onde demora até perde-lo de vista, Leonora acena longo adeus, certamente respondido por Ascânio. Mau sinal, não agrada a Tieta o rumo do idílio.


Leonora não correrá perigo de maior se terminarem, ela e Ascânio, na Bacia de Catarina, em noite sem lua, por entre a penedia, no bem-bom.

Depois, é lavar o xibiu bem lavado, acabou-se. Quando chegar a hora do retorno a São Paulo, derramará algumas lágrimas de tristeza e saudade no ônibus de volta – c’est finie la comedie, como dizia Madame Georgette e Madame Antoinette repete quando enfrenta xodós e rabichos das meninas.

O perigo reside exactamente nos leves beijos medrosos, nesse namoro tonto, de caboclo, que já não se usa mais.

Em Agreste, quando se namora assim, no respeito, contendo os impulsos, é porque se tem em mira noivado e casamento. 

Casamento, vida em agreste: ilusões absurdas, sonhos delirantes. Em tais casos, não basta lavar a xoxota bem lavada. A separação custa duro sofrimento, não se reduz a umas poucas de lágrimas no ônibus de volta.

Naquele dia, quando Tieta chegara de Mangue Seco, estuante de vida, vibrando de animação ao falar do terreno e da casa de praia, mais magra, o corpo no ponto exacto, Leonora caíra-lhe nos braços, murmurando-lhe ao ouvido, ansiosa:

- Preciso muito de conversar com você, Mãezinha.

Durante o dia não tiveram ocasião, porém, de ficarem sós. Perpétua sempre presente, a adular a irmã, já não lhe regateava louvores. Antigo poço de iniquidades, Antonieta passara a ser poço de Jacó, misericórdia dos sedentos, turris ebúrnea.

Para gabá-la gastava até as poucas expressões latinas que decorara em tantos anos de sacristia, antes reservadas à exaltação do Senhor e dos santos sendo, turris ebúrnea exclusiva de Virgem Maria. Agora, tudo era pouco para as virtudes de Tieta.

Na hora do almoço, a mesa completa: Zé Esteves e Tonha, Elisa e Astério, Peto a pedir a bênção à tia, a regalar os olhos da carnação morena e farta.

Fazendo-lhe companhia na praia, quem estava bem situado para brechar até fartar-se, para bispar os mínimos detalhes, era Ricardo; mas o idiota do irmão desviava a vista para não enxergar, tirado a ermitão, a místico.

Devia estar de venda nos olhos em Mangue Seco, o bobalhão; Deus dá nozes a quem não tem dentes, queixara-se Osnar. Falou, pô!

À tarde foram a casa de dona Zulmira para confirmar o acerto e de lá ao cartório, deixar os dados para a escritura e marcar o dia de assiná-la – quanto antes melhor, pedira Tieta, com pressa de voltar a Mangue Seco.

As paredes da choupana – assim designava a pequena casa da praia – começavam a subir, ela curtia cada tijolo, cada pá de massa, em companhia do sobrinho contagiado pelo seu entusiasmo.

De noite a sala de visitas se enchera: dona Carmosina, dona Milú, Barbozinha, a tropa do bilhar escoltando Astério; Ascânio tinha aparecido ao fim da tarde, ficava para jantar, não desgrudava de Leonora.

Também dona Carmosina anunciara necessidade imperiosa e urgente de longa conversa reservada com Tieta. Marcaram para o dia seguinte. Amanhã sem falta! – recordara a agente dos Correios ao despedir-se – mil coisas a comentar.

Com os olhos apontava o par de namorados no sofá, distanciados um do outro pelo menos um palmo, a paulista com um sorriso babado de admiração, ouvindo o discurso de Ascânio sobre o radioso futuro de Agreste.

Ascânio, o último a sair, quando já Perpétua se recolhera: às seis em ponto, ajoelhada na primeira fila, a devota ouve missa na Matriz, não pode dormir tarde. Tieta abandona-os na porta, à vontade para a despedida apaixonada. Que fracasso!

Leonora vem sentar-se na cama da alcova, enquanto Tieta desfaz a maquiagem. Abre o coração: apaixonada, que fazer? 

Paixão roxa, não banal aventura, simples chamego, ela não era disso, Mãezinha a conhecia, nesses três anos de refúgio jamais tivera um caso. Amo, pela primeira vez.

- Me diga como agir, Mãezinha. Contar a verdade, não posso.

- Não pode mesmo, nem pense nisso. Só se ficasse doida e me tivesse ódio.

- Nunca pensei, como poderia contar? Mas estou desarvorada sem saber o que fazer. Me ajude nesse transe, Mãezinha. Só tenho você no mundo. 

A Barbie Divorciada














Um pai sai do trabalho um pouco tarde e, já a caminho de casa, lembra-se que é o aniversário de sua filha. Como não tinha ainda comprado um presente, pára o carro junto a uma casa de brinquedos e pergunta à vendedora:

- "Quanto custa a Barbie que está na vitrina"? - Com modos condescendentes, a vendedora responde:

- "Qual das Barbies? - É que temos:

- A Barbie que vai ao ginásio, por €19.95;

- A Barbie que joga volley, por €19.95;

- A Barbie que vai às compras, por €19.95;

- A Barbie que vai à praia, por €19.95;

- A Barbie que vai ao baile, por €19.95;

- A Barbie divorciada, por €265.95".

O homem, admirado, pergunta:

- "Eh! Por que razão a Barbie divorciada custa €265.95 enquanto as demais custam somente €19.95"?

A vendedora, com ar auto-suficiente, responde:
 - "Senhor, é que a Barbie Divorciada vem com:

- O carro do Ken;


- A casa do Ken;


- A casa de praia do Ken;


- A lancha do Ken;


- Os móveis do Ken:


- O computador do Ken e


- Um AMIGO do Ken."


Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 204



















Ramiro pediu-lhe pela última vez que lhe contasse o que se passara muitos anos antes em Coimbra, mas o pai fez um gesto enfadado

- Vinde comigo – ordenou.

O jovem templário decidiu acompanhá-lo, notando, surpreendido, que a sua natural má disposição não reaparecera durante a sua conversa com o pai.

A fragilidade e a descrença que habitavam a alma de Paio Soares tinham evaporado o seu ascendente antigo sobre o filho.

Este seguiu-o até ao castelo e, quando entraram na sala principal, Fernão Peres convidou-os a sentarem-se, e contou que Dona Teresa começara com dores de parto um mês antes do previsto.

Foram as correrias a que Afonso Henriques nos obrigou, está a tentar matar o irmão no ventre da mãe! – exclamou o Trava.

Dona Teresa convencera-se de novo de que ia ter um varão, pois a sua beleza não fora roubada pela criança.

Há notícias do Minho? - perguntou Paio Soares.

O Trava torceu o nariz e resmungou:

 - Lanhoso também se rendeu ao príncipe.

Muitos dos nobres nem sequer lutavam, baixavam as armas e mudavam de campo. Porém, indiferente a esses contratempos, Fernão Peres entusiasmou-se:

 - Logo que nasça o meu filho, avançamos sobre Guimarães! Vamos cercar o lobo no seu covil, como fez Afonso VII.

Paio Soares perguntou quem estava com eles e o Trava enumerou:

 - O Bermudo, a quem nos juntaremos em Viseu, e o Braganção que irá ter connosco a Guimarães.

O Mordomo-Mor espantou-se, duvidava de que o esposo de Sancha Henriques fosse guerrear o príncipe.

E o filho bastardo de meu pai, Peres Cativo, vem da Galiza com milhares de homens! – acrescentou Fernão Peres.

A fama de guerreiro daquele jovem galego era conhecida, mas também o era a aversão a Fernão Peres e a admiração por Afonso Henriques.

- Tendes a certeza de que Peres Cativo vos será Leal? – questionou o Mordomo-Mor.

Fernão Peres sorriu mas foi um sorriso forçado e enervado.

Pais Soares, substimais-me.

O Trava levantou-se e deu uns passos pela sala, enchendo o peito de ar, enquanto que explicava que os rumores que corriam sobre a lealdade de Peres Cativo ou as hesitações de Braganção haviam sido lançadas por ele, e eram obviamente falsas.


Assim, Afonso Henriques convencia-se de que as suas forças eram superiores às da mãe, e seria surpreendido em Guimarães!

quarta-feira, março 02, 2016

Eusébio e Ronaldo, dois génios do futebol.
Ronaldo “endeusou”
















“Se todos estivessem ao meu nível seríamos primeiros” disse Cristiano Ronaldo no fim do jogo em que o Real Madrid perdeu com o Atlético de Madrid por 1 a 0.

Esta é uma “boca” à Jorge Jesus que só lhe fica mal, porque é desrespeitosa para com os colegas de equipa. Tentou emendar, mais tarde, mas as palavras são como as pedras, quando saem das mãos já ninguém as agarra...

Cristiano veio da Madeira em pequeno, para a Academia do Sporting, viveiro de “craques”, e como era muito miúdo chorava com saudades da mãe que, de resto, haveria de o acompanhar, muito de perto, pela vida fora, depois da morte do pai.

O seu percurso futebolístico colocam-no, a par de Eusébio, duas gerações antes, como o desportista português de maior prestígio.

Eusébio, era do tempo da televisão a preto e branco e as imagens dos jogos de Portugal no Campeonato do Mundo de Futebol 1966, em Inglaterra, que fizeram parar o país e comoveram os “corações mais empedernidos”, teriam, 50 anos mais tarde, feito parar o mundo.

Cinquenta anos, no tempo, constitui uma grande diferença, pelo impacto mediático que tem hoje o espectáculo desportivo televisionado.

Eu sei, porque também fui um desses “corações empedernidos” de 1966, e retenho na memória, fresquinhas, as imagens de então..., que incluem lágrimas a escorrer pelos rostos, numa esplanada na Nazaré, quando Eusébio conseguiu recuperar a desvantagem que trazíamos do intervalo, no jogo com a Coreia.

Sem dúvida, Eusébio é o único que se pode comparar a Ronaldo pela qualidade do seu futebol e o impacto que teve no mundo por aquilo que foram os seus desempenhos nesse Campeonato do Mundo e ao serviço da equipa do Benfica, na Liga dos Campeões Europeus.

Ele e Amália Rodrigues ajudaram a projectar Portugal no mundo e, talvez por isso, Salazar, diz-se, nunca permitiu que ele saísse de Portugal.

Mas, Eusébio, era um homem simples e modesto e mesmo sabendo, porque sabia, da sua qualidade futebolística, melhor que a dos restantes colegas, nunca lhe passaria pela cabeça afirmar que, se os seus colegas de equipa, tivessem o nível dele seriam os primeiros.

Também ele desembarcou no aeroporto de Lisboa, já homenzinho, mal sabendo articular o português, tão diferente dos jovens emproados que hoje entram no país por aquele mesmo espaço. Outros tempos...

Cristiano e Ronaldo viveram as suas vidas de futebolistas de maneiras muito diferentes, mas, mesmo descontando a época em que viveram, trata-se de pessoas de carácter muito distinto.

Ronaldo está inebriado pela sua carreira e riqueza a que acresce a vaidade e narcisismo de que sempre foi vítima.

Eusébio, nunca foi rico, pelo contrário, e de vaidade nunca se ouviu falar.

Gosto do Ronaldo pelo seu profissionalismo, as suas qualidades de atleta, das fantásticas cavalgadas com a bola, ou sem ela, em direcção à baliza do adversário para rematar ou receber o passe, agora diz-se “assistência”,  de um colega.

Faz-me lembrar o Eusébio, que era apontado pelos treinadores de futebol de então, aos respectivos jogadores, como exemplo de como se devia transportar a bola, correndo com ela junto aos pés... depois viria o Messi!

Ronaldo, está na fase decrescente da sua carreira que é, sem dúvida, a pior para ter este tipo de afirmações...

A sua experiência, de mais de dez anos, nos píncaros do futebol mundial, aumentam-lhe a responsabilidade.  

Demis Roussos - Rain And Tears (legendado)




Bombeiros de Mafamude


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