Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, agosto 09, 2014
E a briga começou... |
COMO COMEÇAM
AS ZANGAS...
A minha mulher sentou-se no sofá junto a mim enquanto
eu passava pelos canais.
Ela perguntou, "O que tem na TV? "
Eu disse, "Pó. "
E a briga começou...
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Quando cheguei a casa ontem à noite, a minha mulher
exigiu que a levasse a algum lugar caro.
Então eu levei-a ao posto de gasolina.
E então a zanga começou...
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A minha mulher e eu estávamos sentados numa mesa na
reunião do liceu, e eu fiquei a olhar para uma
moça bêbada que balançava seu drinque enquanto
estava sozinha numa mesa próxima.
A minha mulher perguntou, "Conhece-la ?"
- "Sim," disse eu, "Ela é minha antiga namorada... Eu sei que
ela começou a beber logo depois de nos separarmos há
tantos anos e pelo que sei ela nunca mais ficou sóbria."
"Meu Deus!", disse a minha mulher, "quem pensaria que alguém pudesse ficar celebrando durante tanto tempo?"
E então a zanga começou...
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Depois de me reformar, fui até à Seg. Social para poder receber a reforma. A mulher que me atendeu solicitou o meu bilhete de identidade para verificar a idade.
Procurei nos bolsos e percebi que o tinha deixado em casa.
A funcionária disse que lamentava, mas teria que o ir buscar a casa e voltar depois. E disse-me, "Desabotoe a camisa."
Então, desabotoei-a deixando expostos os meus cabelos
crespos prateados. Ela disse, "Este cabelo prateado no seu peito é prova suficiente para mim," e processou a minha reforma.
Quando cheguei a casa, contei entusiasmado o que ocorrera
à minha mulher. E ela disse:
- "Por que não baixaste as
calças? Poderias ter conseguido invalidez permanente também... "
E então a zanga começou...
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A mulher está nua, olhando no espelho do quarto. Não está feliz com o que vê e diz para o marido, "Sinto-me
horrível; pareço velha, gorda e feia. Realmente preciso
de um elogio teu. "O marido retruca, "A tua visão está perto da perfeição. "
E então a zanga
começou...
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Levei a minha mulher ao restaurante. O empregado anotou o meu pedido primeiro. "Quero picanha mal-passada, por favor." O empregado interroga, "O Senhor não está
preocupado com a vaca louca ?"
- "Não, ela mesma pode fazer o seu pedido." - respondi.
E então a zanga começou...
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O marido volta do Médico e a mulher, toda
preocupada, pergunta-lhe: "E então, o que disse o Médico?".
De pronto, ele respondeu: "A partir de hoje, não faremos mais amor, estou proibido de comer coisas gordas."
E então a zanga começou...
Harry Nilson - Without You
Nasceu em 1941 e morreu prematuramente aos 53 anos, em 1994, por insuficiência cardíaca. Deixou-nos, entre outras, esta canção de 1972 da qual sou apaixonado e que foi premiada por um Grammy. - Without You - minha companheira musical em Moçambique, na cidade da Beira, já lá vão mais de 40 anos.
Currículum Vitae
Pede-se experiência... A redacção que se segue foi escrita por um candidato numa selecção de Pessoal na Volkswagen. A pessoa foi aceite e o seu texto fez furor na Internet. Vamos recuperá-lo pela sua criatividade e sensibilidade.
Pede-se experiência... A redacção que se segue foi escrita por um candidato numa selecção de Pessoal na Volkswagen. A pessoa foi aceite e o seu texto fez furor na Internet. Vamos recuperá-lo pela sua criatividade e sensibilidade.
TEXTO APRESENTADO
Já fiz cócegas à minha irmã só para que deixasse de chorar, já me queimei a brincar com uma vela, já fiz um balão com a pastilha que se me colou na cara toda, já falei com o espelho, já fingi ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violinista, mago, caçador e trapezista; já me escondi atrás da cortina e deixei esquecidos os pés de fora.
Já roubei um beijo, confundi os sentimentos, tomei um caminho errado e ainda sigo caminhando pelo desconhecido.
Já raspei o fundo da panela onde se cozinhou o creme, já me cortei ao barbear-me muito apressado e chorei ao escutar determinada música no autocarro.
Já tentei esquecer algumas pessoas e descobri que são as mais difíceis de esquecer. Já subi às escondidas até ao terraço para agarrar estrelas, já subi a uma árvore para roubar fruta, já caí por uma escada.
Já fiz juramentos eternos, escrevi no muro da escola e chorei sozinho na casa de banho por algo que me aconteceu; já fugi de minha casa para sempre e voltei no instante seguinte.
Já corri para não deixar alguém a chorar, já fiquei só no meio de mil pessoas, sentindo a falta de uma única.
Já vi o pôr-do-sol mudar do rosado ao alaranjado, já mergulhei na piscina e não quis sair mais, já tomei whisky até sentir os lábios dormentes, já olhei a cidade de cima e nem mesmo assim encontrei o meu lugar.
Já senti medo da escuridão, já tremi de nervos, já quase morri de amor e renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e senti medo de me levantar.
Já apostei a correr descalço pela rua, gritei de felicidade, roubei rosas num enorme jardim, já me apaixonei e pensei que era para sempre, mas era um 'para sempre' pela metade.
Já me deitei na relva até de madrugada e vi o sol substituir a lua; já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos e que a vida é um ir e vir permanente.
Foram tantas as coisas que fiz, tantos os momentos fotografados pela lente da emoção e guardados nesse baú chamado coração...
Agora, um questionário pergunta-me, grita-me desde o papel: - Qual é a sua experiência?
Essa pergunta fez eco no meu cérebro.
Experiência.... Experiência... Será que cultivar sorrisos é experiência?
Agora... agradar-me-ia perguntar a quem redigiu o questionário:
- Experiência?! Quem a tem, se a cada momento tudo se renova ???'
A festa durou dois dias |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 23
Teria uns cinco anos, não mais, quando o coronel Boaventura trouxe o padre Afonso para benzer a capela que dona Ernestina mandara erguer na fazenda em pagamento de promessa a São José, seu protector, a quem o Coronel devia a vida - a São José e a Natário que apertara o gatilho a tempo: com sua licença, Coronel.
A festa durou dois dias: multidão de
convidados, até da Bahia
veio gente. O padre celebrou missa,
consagrou a imagem do santo, casou os amancebados, baptizou uma batelada de
meninos e uns quantos homens feitos todavia ímpios.
Despropósito de comilança, desparrame de
bebidas, correu cachaça à grande nas casas dos trabalhadores; um despotismo.
Modesto servo de Deus, partidário incondicional
do Coronel, modelo de fé cristã e de civismo grapiúna, padre Afonso pecava pela
gula, comia por um regimento.
Natário aproveitou a festa para casar-se
com Zilda com quem vivia amantizado havia mais de ano. Ele a encontrara vagando
na estrada de Água Preta, pálida, raquítica e assustada, órfã de pai e de mãe,
enterrados juntos pela bexiga. Uma ronda de arrenegados pisava-lhe os
calcanhares, malta de cães atrás de cadela sem dono, cada qual com seu trabuco.
Mais por desenfado do que por apetite, Natário
entrou na competição, mandou Mané Bragado para a terra dos pés juntos: o
lambanceiro o desconhecera e puxara a arma.
Tendo a magricela custado vida de homem, a
levou consigo e em seguida lhe fez um filho.
Calada e submissa, trabalhadeira e
asseada — a casinha de sopapo dava gosto - Zilda ganhou corpo e cores, consideração e afecto,
ficou de vez. Onde arranjou coragem para dizer a seu homem e senhor do desejo
que tinha de se casar com ele?
-
No padre, para não viver contra a lei de Deus; no juiz, não precisava não.
Quando a recolhera, Natário ainda morava
em casa de Florêncio; na rede de solteiro a emprenhou; sob as vistas de
Bernarda, por assim dizer. Bernarda continuava a dormir na sala mas com a
presença de Zilda perdeu o lugar na rede, o balanço e o peito acolhedor.
Por ocasião do baptizado colectivo, Ana
os convidou para padrinhos da menina. Jeitosa, Zilda fez, com trapos velhos,
uma boneca de pano para a afilhada. Natário nada lhe deu além do que ela mais
desejava: poder chamá-lo de padrinho, beijar-lhe a mão e receber a bênção.
Enquanto Florêncio permaneceu na
Atalaia, Bernarda viveu mais em casa dos padrinhos do que na dos pais. Beirava
os dez anos quando Florêncio, tendo-se desentendido com o Coronel por dê-cá-aquela-palha,
arrogância de jagunço que se recusava a pegar no pesado, se mudou para a
Fazenda da Boca do Mato - o coronel Benvindo andava à procura de um bom
clavinoteiro para gritar com os alugados. Natário e Zilda ofereceram-se para
ficar com a afilhada; Florêncio nem qui s
falar no assunto.
Precisavam de Bernarda para ajudar na criação da irmãzinha;
naquele meio tempo Ana desovara mais uma filha, Irará de nome, Irá de apelido.
Depois, quando se deu o acontecido,
Zilda opinou que já então
Florêncio andava de olho na menina.
Com a mudança dos compadres, somente de
raro em raro Natário
voltara a ver Bernarda. Aos trezes anos era moça feita, bonitona, cobiçada.
sexta-feira, agosto 08, 2014
Pepino Di Capri - Melancolie
Este rapaz, precisamente da minha idade, nasceu também em 39, fazia nos anos sessenta estas lindas canções que hoje, tal como então, continuam a fazer as minhas delícias... e espero que não só as minhas. Em 1963 teve um grande sucesso no Brasil com a canção Roberta.
Fazem parte de um esquema remoto de sobrevivência. |
RUINS
Por que razão é tão difícil erradicar crenças ruins?
- A razão tem a ver com a natureza
das próprias crenças que estão biologicamente preparadas para serem resistentes
à mudança porque foram designadas para aumentar a nossa habilidade de
sobreviver.
Para mudar as crenças os cépticos
devem aceder às habilidades de sobrevivência do cérebro discutindo os
significados e as implicações para além dos dados.
Uma noção básica do espírito crítico
e científico é de que as crenças estão erradas e por isso, é muitas vezes
confuso e irritante para cientistas e cépticos que as crenças de tantas pessoas
não mudem diante de evidências contraditórias.
Perguntamo-nos como é que as pessoas
acreditam em coisas que contradizem os factos?
Essa confusão pode criar uma terrível
tendência da parte dos pensadores cépticos de diminuir e menosprezar as pessoas
cujas crenças não mudam face às evidências.
Elas podem ser olhadas como
inferiores, estúpidas ou até malucas. Esta atitude, resulta de uma falha dos
cépticos ao não compreenderem o propósito biológico das crenças e a necessidade
neurológica de que elas sejam resistentes à mudança.
A verdade é que, por causa do seu
pensamento rigoroso, muitos cépticos não têm uma compreensão clara ou racional
do que são as crenças e por que, mesmo as mais erradas, não desaparecem
facilmente.
Entender o propósito biológico das
convicções pode ajudar os cépticos a serem muito mais eficientes no desafio às
crenças irracionais e na divulgação de conclusões científicas.
Embora faça muito mais do que isso a
finalidade primária dos nossos cérebros é manter-nos vivos e a sobrevivência
irá ser sempre o seu principal propósito e virá sempre em primeiro lugar.
Se formos ameaçados ao ponto dos
nossos corpos ficarem apenas com energia suficiente para suportar a consciência
ou o coração a bater mas não as duas coisas em simultâneo, o cérebro não tem
problema em “apagar-se” e colocar-nos em coma (sobrevivência à frente da
consciência) em vez de ficar alerta até à morte (consciência à frente da
sobrevivência).
Como cada actividade do cérebro serve
fundamentalmente para isso, a única maneira de entender precisamente qualquer
função cerebral é examinar o seu valor como instrumento de sobrevivência.
Mesmo a dificuldade de tratar
desordens comportamentais como a obesidade e vícios pode ser entendida
examinando a sua relação com a sobrevivência.
Qualquer redução no consumo calórico
ou na disponibilidade de uma substância na qual um indivíduo é viciado é sempre
interpretada pelo cérebro como uma ameaça à sobrevivência e o resultado disso é
que o cérebro defende-se criando aquelas reacções típicas da síndrome da
abstinência.
As ferramentas primárias do cérebro
para garantir a nossa sobrevivência são os sentidos. Obviamente, devemos ser
hábeis em perceber com precisão o perigo para podermos tomar atitudes que nos
mantenham em segurança.
Para sobreviver temos que ver o leão
à saída da caverna e ouvir o intruso invadindo a nossa casa a meio da noite.
Apesar disso, os sentidos sozinhos
são inadequados como detectores do perigo porque são limitados no alcance e na
área. Nós só podemos ter contacto sensorial directo com uma pequena porção do
mundo de cada vez.
O cérebro considera esse um problema
significativo porque, mesmo o dia-a-dia, requer que estejamos constantemente em
movimento, dentro e fora do nosso campo de percepção do mundo como é agora.
Entrar num território que nós nunca
vimos ou ouvimos coloca-nos na perigosa posição de não termos nenhuma noção dos
perigos possíveis. Se entrar num prédio desconhecido ou numa parte perigosa da
cidade, as minhas chances de sobrevivência diminuem porque não tenho como saber
se o teto está para cair na minha cabeça ou se um atirador está escondido atrás
da porta.
É aqui
que entra a crença.
Crença: é o nome que damos à ferramenta
de sobrevivência do cérebro que existe para aumentar a função de identificação
de perigos dos nossos sentidos.
As crenças estendem o alcance dos
nossos sentidos de maneira que podemos detectar melhor o perigo e aumentar as
nossas chances de sobrevivência em território desconhecido. Em essência, elas
servem-nos como detectores de perigo de longo alcance.
Do ponto de vista funcional, os
nossos cérebros tratam as crenças como “mapas” da parte do mundo que não
podemos ver no momento.
Enquanto estou sentado na minha sala
de estar não posso ver o meu carro. Apesar de o ter estacionado na minha
garagem há algum tempo, se eu usar os dados sensoriais imediatos, eu não sei se
ele ainda lá está, por isso, neste momento os dados sensoriais não são de
grande utilidade para encontrar o meu carro.
Para que eu encontre o meu carro com
algum grau de eficiência, o meu cérebro deve ignorar a informação sensorial
actual e voltar-se para o seu “mapa” interno do local do meu carro.
Esta é a minha crença de que o carro
ainda está no local onde o deixei. Se me referir à minha crença em vez de aos
dados sensoriais, o meu cérebro pode “saber” alguma coisa sobre o mundo com o
qual não tenho contacto imediato.
Esta faculdade “estende” o
conhecimento e o contacto do cérebro com o mundo para além do alcance dos
nossos sentidos imediatos aumentando as nossas possibilidades de sobrevivência.
Um homem das cavernas tem mais
hipóteses de sobreviver se acreditar que o perigo existe na floresta embora ele
não o veja, da mesma forma que um polícia estará mais seguro se acreditar que
alguém parado por infracção de trânsito pode ser um psicopata armado embora
tenha aparência de boa pessoa.
Tanto os sentidos como as crenças são
ferramentas para a sobrevivência e evoluíram para se alimentarem um ao outro e,
por isso, o nosso cérebro considera-os separados mas igualmente importantes
como fontes de informação para a sobrevivência.
A perda de qualquer um deles
coloca-nos em perigo. Sem
os nossos sentidos não poderíamos conhecer o mundo perceptível e sem as nossas
crenças nada poderíamos saber do que está fora dos nossos sentidos, nem sobre
significado, razões e causas.
Isto significa que as crenças existem
para operar independentemente dos dados sensoriais.
Na verdade, todo o valor das crenças
para a sobrevivência baseia-se na sua capacidade de persistirem não obstante as
evidências em contrário.
As crenças não devem mudar facilmente
ou simplesmente por causa de evidências que as neguem. Se elas o fizessem não
tinham nenhuma utilidade para a sobrevivência. O nosso homem das cavernas não
duraria muito se a sua crença em perigos potenciais na floresta se evaporasse
toda a vez que ele não visse esses perigos.
Para o cérebro não há absolutamente
nenhuma necessidade que os dados e as crenças concordem entre si. Cada um delas
evoluiu para aumentar e melhorar a outra pelo contacto com diferentes secções
do mundo.
Foram preparadas para poderem
discordar e por isso é que cientistas podem acreditar em Deus e pessoas que são
geralmente razoáveis e racionais podem acreditar em coisas sem evidências
dignas de crédito como discos voadores, telepatia ou psicocinese.
Quando dados e crenças entram em
conflito o cérebro não dá preferência aos dados e é por isso que crenças, mesmo
disparatadas, ruins, irracionais ou loucas, raramente desaparecem diante de
evidências contraditórias.
O cérebro não se importa se a crença
concorda com os dados, ele apenas se preocupa se a crença ajuda à sobrevivência
e ponto final.
Então, enquanto a parte racional e
científica do nosso cérebro pode pensar que os dados deviam confirmar a crença,
a um nível mais profundo ele nem liga a isso. Ele é extraordinariamente
reticente em reavaliar as suas convicções.
E como um velho soldado com o seu
revólver que não acredita que a guerra acabou, também o cérebro se recusa a
entregar as armas mesmo que os factos desmintam aqui lo
em que ele crê.
Mesmo as crenças que não parecem,
estão intimamente ligadas á sobrevivência porque as crenças não ocorrem
individualmente ou no vácuo. Elas relacionam-se umas com as outras formando uma
rede que cria a visão do mundo fundamental do cérebro e daqui a importância de manter intacta essa rede.
Pequenas que sejam e aparentemente
sem importância, qualquer pequena convicção é defendida até ao fim.
Por exemplo, um Criacionista não pode
tolerar a precisão dos dados que indicam a realidade da evolução, não por causa
dos dados em si mas porque mudar qualquer crença relacionada com a Bíblia e a
natureza da criação, quebrará todo um sistema, uma visão do mundo e, em última
análise, a experiência de sobrevivência do seu cérebro.
O que está em causa, portanto, é uma
questão de valor da sobrevivência da credibilidade e, perante ela, as
evidências negativas são insuficientes para mudar as crenças mesmo em pessoas
inteligentes em outros assuntos.
NOTA
- Em primeiro lugar, os
cépticos não devem esperar mudanças de crença simplesmente como resultado dos
dados ou pensar que as pessoas são estúpidas porque não mudam de ideias.
Devem evitar tornarem-se críticos ou
arrogantes como resposta à resistência à mudança. Os dados são sempre
necessários mas raramente suficientes.
- Em segundo lugar, os cépticos devem
aprender a nunca ficarem só pelos dados mas discutirem também as implicações
que a mudança dessas crenças podem ter na visão do mundo e no sistema de
convicções das pessoas envolvidas.
Os cépticos devem acostumar-se a
discutir a filosofia fundamental e a ansiedade existencial que se estabelece
quando crenças profundas são abaladas.
A tarefa é tão filosófica e
psicológica quanto científica.
- Em terceiro lugar, e talvez a mais
importante, os cépticos devem perceber quanto difícil é para as pessoas verem
as suas convicções abaladas. É, quase literalmente, uma ameaça ao senso de
sobrevivência dos seus cérebros.
É perfeitamente normal que as pessoas
fiquem na defensiva em situações como essas. O cérebro acha que está lutando
pela sua própria vida.
A lição que os cépticos devem
aprender é que as pessoas, geralmente, não têm a intenção de serem teimosas,
irracionais, nervosas, grosseiras ou estúpidas, quando as suas convicções são
ameaçadas.
É uma luta pela sobrevivência e a
única maneira de lidar, efectivamente, com esse tipo de comportamento defensivo
é amenizar a luta em vez de inflamá-la.
Os cépticos só podem pensar em ganhar
a guerra pelas convicções racionais se continuarem, mesmo contra respostas
defensivas, mantendo um comportamento digno e respeitoso que demonstre respeito
e sabedoria. Para que os argumentos científicos se imponham, os cépticos devem
manter sempre o controle e não se irritarem.
- Finalmente, o que deve servir de
consolo é que a parte realmente fantástica disto, não é que somente algumas
crenças se modifiquem ou que as pessoas sejam tão irracionais, mas sim que as
crenças de qualquer um podem modificar-se.
A habilidade que os cépticos
demonstraram em alterar as suas próprias convicções a partir das descobertas
científicas, constituiu um verdadeiro dom; uma capacidade poderosa, única e
preciosa, só possível por uma alta função do cérebro na medida em que vai
contra algumas das urgências biológicas mais fundamentais.
Eles possuem uma aptidão que pode ser
assustadora, modificadora e que causa dor. Ao projectarem nos outros essa
habilidade devem ser cuidadosos e sábios.
As convicções devem ser desafiadas com
cuidado e compaixão.
Os cépticos não devem perder de vista
os seus objectivos, devem adoptar uma visão de longo prazo, tentarem vencer a
guerra pelas crenças racionais, não entrarem numa luta até à morte.
Não são só os dados e os métodos dos
cépticos que têm que ser limpos, directos e puros, mas também a sua conduta e
comportamento.
(Este texto é da autoria de
Gregory W. Lester, Professor de Psicologia da Unversidade de St. Thomas em
Houston nos EUA)
Só o ajudei a chorar |
Só o ajudei a chorar...
O autor e conferencista Leo Buscaglia falou de
um concurso em que ele teve de ser júri. O objectivo era encontrar a criança
mais cuidadosa.
A vencedora foi um rapazinho de
quatro anos, cujo vizinho era um velhote que perdera recentemente a sua esposa.
Depois de ter visto o senhor a chorar, o menino foi ao qui ntal
do velhote, subiu para o seu colo e sentou-se. Quando a mãe perguntou o que
dissera ao vizinho, o rapazinho disse:
Tocaia Grande não comporta tanta lordeza |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 22
Antes de tocar o animal, Natário
perguntou:
-Tá
precisada, Coroca?
- Não tou pedindo esmola. Antes morrer
de fome.
O Capitão riu, os olhos se fecharam,
peste de velha de cachaço
duro:
- Ainda lhe devo uns atrasados, se
lembra? Desde então.
- Isso possa ser.
Entregou-lhe
umas moedas, partiu em busca dos trabalhadores e por eles soube dos projectos
de Fadul. O mascate deixara com Bastião da Rosa algum dinheiro e ordens para
derrubar e preparar madeira bastante para a construção de casa de duas portas
na parte da frente e três cómodos nos fundos.
Palacete igual naquelas bandas somente
em Taquaras, junto dos trilhos da Estrada de Ferro e olhe lá!
Aliás, Lupiscínio, o carpina, viera de
Taquaras, mandado por seu Fadul para fazer balcão e prateleiras. Trabalho
grande e na correria. Bastião da Rosa opinou:
-
O turco maluqueceu, Capitão. Tocaia Grande não comporta
tanta lordeza.
Natário abanou a cabeça, discordando.
Maluco? Não achava não. Sabia de um saber sem dúvidas que,
mais cedo ou mais tarde, Tocaia Grande seria uma cidade perto da qual Taquaras
não passaria de desprezível tapera, um lazareto.
Palacete era o barraco de Jacinta se
comparado à choupana de palha onde Bernarda se abrigara: meia dúzia de palmas
mal juntadas, quatro tocos de pau enfiados no chão. No interior, um catre, uma
panela de barro sobre três pedras, mais nada.
Natário desmontou, percorreu com a vista
os arredores. A moça vinha chegando do rio, molhada da cabeça aos pés, na mão as
peças que fora lavar: uma calçola e uma anágua. O vestido de bulgariana,
ensopado em cima da pele, colava-se ao corpo escuro e o exibia; dos cabelos
soltos escorria água, pingos no cangote.
Ao reconhecer o visitante, suspendeu o
passo para logo partir correndo, os braços estendidos para ele. Nos olhos de
Natário corria uma menina de dois anos de idade que largava a poça de lama onde
brincava para pendurar-se nua e suja em seu pescoço.
Ao se acoitar na Fazenda da Atalaia, ele
vivera uma temporada longa em casa de Florêncio e de Ana, sua amásia.
Florêncio não trabalhava nas roças,
ocupado em serviços de maior vulto, cuidava de armas e jagunços.
Com que idade estaria Bernarda?,
perguntou-se quando a imagem da menina se incorporou na moça envolta em água e
sol.
Conhecera-a criancinha de peito,
pendurada nas ancas da mãe; de certa maneira Natário ajudara a criá-la. Na
saleta da casinhola de duas peças, Ana armara uma rede para o hóspede; no chão,
num caixote transformado em berço, dormia a criança.
Acordava chorando, no meio da noite, mas
raramente Ana despertava para lhe dar o peito. Morta de cansaço, mergulhada em
sono de chumbo no quarto vizinho, nem escutava o choramingar da filha.
Natário retirava a criança do caixote,
colocava-a na rede e com o balanço a fazia adormecer, pesando em cima de seu
peito.