Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, setembro 14, 2013
AMÁLIA RODRIGUES - LÁGRIMA
Amália não tinha estudos.Tirara apenas a instrução primária, o máximo que se poderia esperar na época e no meio social em que nasceu. Ela própria, numa segunda carta a Vitorino Nemésio, confirma isso mesmo:« Ai meu querido professor, eu nunca fui sua aluna, não tenho instrução nenhuma. Como é que posso entender o que o senhor quis dizer sem saber ler nem escrever?».
Mas Amália era uma pessoa inteligente, intuitiva, sensível e adquiriu saber na convivência ao longo da vida. A Letra deste fado lindíssimo é de sua autoria e foi considerado pelos especialistas uma obra prima que no seu sentido profundo, à boa maneira fadista, significa: realidade/sonho/sofrimento de amor/disponibilidade para morrer» Merece ser escutado com os ouvidos da alma.
AMÁLIA RODRIGUES - LÁGRIMA
A RELIGIÃO E O
EVOLUCIONISMO
“O conceito de uma vida eterna gloriosa foi inventado para mitigar o nosso medo da morte”.
Esta é uma teoria dezenas de vezes repetida e aceite porque, aparentemente, faz sentido. E digo aparentemente uma vez que, posta a questão aos enfermeiros e assistentes sociais em lar de idosos, os testemunhos vão no sentido inverso, ou seja: os crentes apresentavam maior receio da morte.
De qualquer forma a crença numa religião é uma inevitabilidade ou, com uma cotação negativa, uma fatalidade.
Recebemo-la logo após o nascimento como uma herança cultural (o crucifixo na parede e o rosário pendurado na cabeceira da cama) e ao longo da vida, ou se instala e nos comanda, ou por ali fica num "faz de conta" para não destoar dos outros. Raramente temos coragem para a renegar quando ela já pouco ou nada nos diz.
Não esqueçamos que tanto os nossos sentidos como as nossas crenças são ferramentas para a nossa sobrevivência e evoluíram para se alimentarem mutuamente. Sem os sentidos não podíamos conhecer o mundo perceptível e sem as crenças não poderíamos saber o que está fora do alcance dos sentidos, nem sobre significados e causas. Por isso elas persistem apesar das evidências contraditórias.
Eu próprio já desisti, relativamente à minha neta, hoje com 8 anos acabados de fazer, de outra explicação que não seja “enviar para o céu” os parentes e pessoas conhecidas que, entretanto, vão falecendo.
É um assunto que mais tarde ela terá que descodificar. Para já vão todos para o céu e ponto final. De resto, para dificultar as coisas, as crianças revelam uma tendência natural para adoptarem a teoria dualista da mente que consiste em aceitar que esta é uma espécie de espírito incorpóreo que habita o corpo mas pode existir em qualquer outro lado.
De qualquer forma a crença numa religião é uma inevitabilidade ou, com uma cotação negativa, uma fatalidade.
Recebemo-la logo após o nascimento como uma herança cultural (o crucifixo na parede e o rosário pendurado na cabeceira da cama) e ao longo da vida, ou se instala e nos comanda, ou por ali fica num "faz de conta" para não destoar dos outros. Raramente temos coragem para a renegar quando ela já pouco ou nada nos diz.
Não esqueçamos que tanto os nossos sentidos como as nossas crenças são ferramentas para a nossa sobrevivência e evoluíram para se alimentarem mutuamente. Sem os sentidos não podíamos conhecer o mundo perceptível e sem as crenças não poderíamos saber o que está fora do alcance dos sentidos, nem sobre significados e causas. Por isso elas persistem apesar das evidências contraditórias.
Eu próprio já desisti, relativamente à minha neta, hoje com 8 anos acabados de fazer, de outra explicação que não seja “enviar para o céu” os parentes e pessoas conhecidas que, entretanto, vão falecendo.
É um assunto que mais tarde ela terá que descodificar. Para já vão todos para o céu e ponto final. De resto, para dificultar as coisas, as crianças revelam uma tendência natural para adoptarem a teoria dualista da mente que consiste em aceitar que esta é uma espécie de espírito incorpóreo que habita o corpo mas pode existir em qualquer outro lado.
Portanto, aos oito anos, o melhor é mandá-los todos para o céu… lutar por crenças racionais no imaginário de uma criança de tenra idade não é tarefa fácil. No melhor dos casos, não estimular crenças irracionais e ensiná-la a pensar com lógica, o resto ficará para mais tarde.
Esta é mais uma razão pela qual as religiões se “colam”: dão explicações simples e directas para as almas simples…e levam a não pensar mais no assunto.
Mas esta relação da religião com o além, relação vertical, talvez não seja a mais importante. As religiões são imensamente eficazes na formação de relações sociais conferindo coesão às sociedades e, nesta medida, fomentam a sobrevivência naquela a que podemos chamar a relação horizontal.
Se o desejo de servir um Deus for mais motivador do que o desejo de ajudar os outros então a solidariedade será, pelo menos, reforçada pelo facto de se ser crente.
É claro, que também podemos concluir como Einstein: “Se as pessoas só são boas (solidárias) porque temem o castigo e esperam recompensa, então somos mesmo uma triste cambada”.
As religiões, dentro de si próprias evoluem, adaptam-se, ajustam-se e tiram partido de novas realidades sociais. O Deus hebraico era essencialmente um guerreiro que comandava o seu povo para combater e prometia-lhe a vitória no futuro por muitas derrotas que tivesse sofrido no passado. O Deus cristão, por outro lado, reflectia a realidade da vitória militar já não ser possível e a única estratégia de sobrevivência era envolver uma coexistência mais pacífica.
O Deus cristão baixou as armas numa estratégia tão radicalmente diferente que era possível afirmar que o seu Deus era completamente distinto do Deus hebraico, como alguns especialistas afirmaram.
No entanto, quando os cristãos se tornaram politicamente poderosos, a evolução cultural promoveu a retoma das estratégias militares, como foi o caso das cruzadas, esquecida, então, a política da “outra face”.
Hoje, de novo, a Igreja de Roma, força a componente pacifista entre os homens e o respeito das religiões umas pelas outras, o chamado ecumenismo, com o objectivo primeiro de manter os homens como pessoas crentes contra o pensamento ateu que é, sem dúvida, o principal inimigo.
E como a propensão para as crenças, como já vimos, parece ligar-se à própria sobrevivência, são já os ateus, alguns, que se atrevem a apresentar o seu pensamento como uma “religião” de crenças racionais.
Os cépticos, na opinião de Gregory W. Lester, Prof. de Psicologia da Universidade de St. Thomas em Houston, devem adoptar uma estratégia de longo prazo afirmando as suas crenças racionais sem entrar em lutas de morte numa batalha com pessoas que têm convicções únicas.
Os cépticos ou não crentes, constituem o exemplo vivo que é possível, por “uma alta função do cérebro”, vencer e modificar crenças irracionais no sentido em que vai contra algumas das urgências biológicas fundamentais.
Acredito que esta aptidão, uma vez disseminada, pode ser assustadora para os líderes das religiões, mais de umas que de outras, e por isso novas estratégias, permanente evolução...
O Teste da Banheira!
Durante a visita a um hospital psiquiátrico, um dos visitantes perguntou ao director:
Durante a visita a um hospital psiquiátrico, um dos visitantes perguntou ao director:
- Qual é o critério pelo qual vocês decidem quem precisa ser hospitalizado aqui?
Respondeu o director:
- Nós enchemos uma banheira com água e oferecemos ao doente uma colher, um copo e um balde e pedimos que a esvazie o mais rápido possível. De acordo com a forma que ele decida realizar a missão, nós decidimos se o hospitalizamos ou não.
- Entendi - disse o visitante - uma pessoa normal usaria o balde, que é maior.
- Não - respondeu o director - uma pessoa normal tiraria a tampa do ralo... O que o senhor prefere, quarto particular ou enfermaria?
Episódio Nº 111
As vozes podiam ser ouvidas lá fora e o chefe do trem
havia de encrencar com aqueles viajantes clandestinos. O velho abriu o olho e
disse a António Balduíno quando ele falou:
- Cala o bico,
negro, se qui ser viajar… Senão jogam
a gente aí na estrada…
E mostrou com os olhos a mulher grávida. António
Balduíno ficou pensando se ele seria marido ou pai dela. A idade era de pai,
mas bem que podia ser marido. Calcule aquela mulher com a barriga grande
andando a pé para a Feira de Sant’Ana.
Paria antes de chegar lá… E o negro riu baixinho. O
rapaz com calças de soldado olhava para ele. E torcia o bigode. Parecia não
estar muito satisfeito com o aparecimento de António Balduíno.
Foi quando ouviram vozes que se aproximavam. Era o
chefe do trem que explicava aos passageiros da primeira classe o atraso.
- Um desarranjo
tolo… Agora vamos embora…
- Mas perdemos
quase uma hora…
- Isso acontece
em qualquer estrada…
- Esta é uma
esculhambação…
Logo depois um apito fino, prolongado e doloroso
anunciou a partida. Mesmo escondido no vagão de portas fechadas António
Balduíno deu adeus.
- Deixa
saudades? – perguntou o velho.
- Só se for de
cobras – riu o negro.
Mas baixou a cabeça e falou sem olhar ninguém:
- Uma menina… uma menina mesmo…
- Bonita? – fez o rapaz torcendo o bigode.
- Cutuba,
menino… Parecia até da cidade…
- E você deixou
ela?
- Ela era
doutro… E ele não morreu…
- Eu sei de um
homem que roubou uma mulher – contou o velho.
- Eu sei de
outro que deu uma facada noutro por causa de uma bruaca… Depois passou dois
dias com fome escondido no mato… - António Balduíno contava a sua própria
história.
- Com medo?
- Cala a boca,
menino… Tu não sabe de nada… Ele estava era cercado de todo o jeito… Se quer
ver se ele é homem ou não te atira em cima de mim…
- Entonce… foi
você?... – e o rapaz olhou com mais respeito.
A mulher guardava silêncio. Mas, quando ela gemeu, o
velho disse:
- Bem que o
homem disse que era uma esculhambação… Se na classe é assim, pobre de nós que
viaja de favor, escondido…
sexta-feira, setembro 13, 2013
Quando eu estava no
Exército russo, fiz um teste de aptidão, solicitado a todos os soldados, e
consegui 160 pontos. A média era 100.. Ninguém na base tinha visto uma nota
dessas e durante duas horas eu fui o assunto principal...
(Não significou nada –
no dia seguinte eu ainda era um soldado raso da KP – Kitchen Police, que
trabalhava na cozinha).
Durante toda minha vida
consegui notas como essa, o que sempre me deu uma ideia de que eu era realmente
muito inteligente. E eu imaginava que as outras pessoas também achavam
isso.
Porém, na verdade, será
que essas notas não significam apenas que eu sou muito bom para responder um
tipo específico de perguntas acadêmicas, consideradas pertinentes pelas pessoas
que formularam esses testes de inteligência, e que provavelmente têm uma
habilidade intelectual parecida com a minha?
Por exemplo, eu conhecia
um mecânico que jamais conseguiria passar em um teste desses, acho que não
chegaria a fazer 80 pontos. Portanto, sempre me considerei muito mais
inteligente que ele.
Mas, quando acontecia
alguma coisa com o meu carro e eu precisava de alguém para dar um jeito rápido,
era ele que eu procurava. Observava como ele investigava a situação enquanto
fazia seus pronunciamentos sábios e profundos, como se fossem oráculos divinos.
No fim, ele sempre consertava meu carro.
Então imagine se esses
testes de inteligência fossem preparados pelo meu mecânico. Ou por um
carpinteiro, ou um fazendeiro, ou qualquer outro que não fosse um acadêmico… Em
qualquer desses testes eu comprovaria minha total ignorância e estupidez. Na
verdade, seria mesmo considerado um ignorante, um estúpido.
Em um mundo onde eu não
pudesse me valer do meu treinamento acadêmico ou do meu talento com as palavras
e tivesse que fazer algum trabalho com as minhas mãos ou desembaraçar alguma
coisa complicada eu me daria muito mal.
A minha inteligência,
portanto, não é algo absoluto mas sim algo imposto como tal, por uma pequena
parcela da sociedade em que vivo.
Vamos considerar o meu
mecânico, mais uma vez. Ele adorava contar piadas.
Certa vez ele levantou
sua cabeça por cima do capô do meu carro e me perguntou:
- Doutor, um surdo-mudo
entrou numa loja de construção para comprar uns pregos. Ele colocou dois dedos
no balcão como se estivesse segurando um prego invisível e com a outra mão,
imitou umas marteladas. O balconista trouxe então um martelo. Ele balançou a
cabeça de um lado para o outro negativamente e apontou para os dedos no balcão.
Dessa vez o balconista trouxe vários pregos, ele escolheu o tamanho que queria e
foi embora. O cliente seguinte era um cego. Ele queria comprar uma tesoura. Como
o senhor acha que ele fez?
Eu levantei minha mão e
cortei o ar com dois dedos, como uma tesoura.
- Mas você é muito burro
mesmo! Ele simplesmente abriu a boca e usou a voz para pedir.
Enquanto meu mecânico
gargalhava, ele ainda falou: - Estou fazendo essa pegadinha com todos os
clientes hoje.
- E muitos caíram? -
perguntei esperançoso.
- Alguns. Mas com você
eu tinha certeza absoluta que ia funcionar.
- Ah é? Por
quê?
- Porque você tem muito estudo, doutor, sabia que não seria muito
esperto.
E algo dentro de mim dizia que ele tinha alguma razão nisso
tudo.
O
extraordinário escritor russo Isaac Azimov, emigrado para os EUA, escreveu esta
deliciosa crónica sobre a inteligência humana. Azimov, falecido em 1992, aos 72
anos, legou-nos grandes obras de ficção científica, numa delas previu, com 20
anos de antecedência, o que seria a Internet.
No bar da "Lanterna dos Afogados" |
JUBIABÁ
Episódio Nº 110
Ele é invencível… É o
homem mais corajoso daquelas bandas. Ali no céu estão as estrelas que foram
testemunhas de como ele lutou. E se os homens que o cercavam não tivessem
ficado apalermados com a sua coragem ele levaria um consigo para as estrelas,
para o grande céu azul.
Brilharia lá com a sua
navalha na mão… Seria visto por dos Reis, pela mulher de voz masculina, por
Lindinalva e, possivelmente, seria descoberto pelo Gordo que sempre qui s ter uma estrela…
Enganaria mestre Manuel
que havia de pensar que era a luz de um saveiro que queria pegar corrida com o
“Viajante Sem Porto”… Ouviria Maria Clara cantar seus sambas.
Tudo isso aconteceria se
os homens não tivessem ficado bestificados quando ele apareceu na estrada com a
navalha na mão e um talho no rosto. Cairiam em cima dele e ele levaria um.
Talvez furassem todo o seu corpo com tiros…
Mas os homens que morrem
lutando e que levam um consigo viram estrelas no céu e têm um A B C na terra
que canta os seus feitos… Ele seria uma estrela vermelha com uma navalha na
mão. Jubiabá sempre disse que os homens corajosos viram estrelas…
E o negro António Balduíno
solta a sua gargalhada que silencia os grilos e assusta os animais nas tocas.
Um cheiro de folhas se espalha na noite silenciosa. Passa um vento que anuncia
chuva. As folhas se dobram e exalam perfume. Mais adiante na estrada há
qualquer coisa negra e uma lanterna que brilha.
Vozes de homens discutem.
É um trem que parou. Naturalmente leva para a Feira de Sant’Ana os passageiros
do navio que chegou hoje de Cachoeira, vindo da Baía.
Os homens examinam uma
roda. António Balduíno contorna pelo outro lado e chega perto de um vagão de
carga. Se a porta estiver aberta irá de trem. Empurra a porta com toda a força
e ela cede. Está aberta, sim.
Pula como pulam os
animais, rápido e subtil. Fecha a porta por dentro e só então nota que
amedrontou uns vultos que se escondem no fundo do vagão entre os rolos de fumo:
- Ué, gente… Eu sou de
paz… Também não gosto de pagar passagem…
E ri.
A mulher estava grávida. A
barriga ainda não estufara muito mas se notava perfeitamente a gravidez. Um dos
dois homens era velho e segurava um bordão. Fumava quase dormindo. Na escuridão
do carro quando a brasa do cigarro iluminava o bordão parecia uma cobra pronta
para o bote.
O outro vestia calças de
soldado e um paletó velho de casimira. Não tinha barba mas tentava ostentar um
bigode com raros fios que nasciam em cima do lábio. Passava constantemente a
mão no bigode imaginário enquanto conversava.
«Um menino» pensou António
Balduíno.
quinta-feira, setembro 12, 2013
IMAGEM
As minhas netas do coração de que vos falei no último "Hoje é Domingo": A Filipa, 8 anos e a Matilde de 7 meses.Os cientistas descobriram agora que se olharmos para um bebé sorridente durante 30 minutos o nosso organismo regista um aumento de dopamina - a hormona do prazer - e que o amor altera o comportamento dos genes. O prazer já eu tinha sentido... o resto não sabia.
TONY DE MATOS - EU SOU ROMÂNTICO (1924 - 1989)
O Rei dos cantores românticos em Portugal. Apesar de durante meia dúzia de anos ter sido quem mais vendeu em Portugal não obteve nenhum disco de ouro (que não existia à data). Não tinha nenhum dos seus discos. Não sabia quantos tinha gravado mas não conseguiria ter todos. Tinha pena porque o seu filho deveria gostar de os possuir.
Não havia fã que lhe escrevesse que ficasse sem resposta. Se o grande objectivo dos artistas é serem conhecidos, a popularidade torna-se muito agradável.
O Padre e a Pecadora
- Padre, perdoa-me porque pequei (voz feminina)
- Diga-me filha - quais são os teus pecados?
- Padre, o demónio da tentação se apoderou de mim, pobre pecadora.
- Como é isso filha?
- É que quando falo com um homem, tenho sensações no corpo que não saberia descrever...
- Filha, apesar de padre, eu também sou um homem...
- Sim, padre, por isso vim confessar-me contigo.
- Bem filha, como são essas sensações?
- Não sei bem como explicá-las - neste momento meu corpo se recusa a ficar de joelhos e necessito ficar mais a vontade.
- Sério??
- Sim, desejo relaxar - o melhor seria deitar-me...
- Filha, deitada como?
- De costas para o piso, até que passe a tensão...
- E que mais?
- É como um sofrimento que não encontro palavras.
- Continue minha filha.
- Talvez um pouco de calor me alivie...
- Calor?
- Calor padre, calor humano, que leve alívio ao meu padecer...
- E com que frequência é essa tentação?
- Permanente padre. Por exemplo, neste momento imagino suas mãos massajando a minha pele me dariam muito alívio...
- Filha?!
- Sim padre, me perdoa, mas sinto necessidade de que alguém forte me estreite em seus braços e me dê o alívio de que necessito...
- Por exemplo, eu?
- Sim padre, você é a categoria de homem que imagino poder me aliviar.
- Perdoa-me minha filha, mas preciso saber tua idade...
- Setenta e quatro, padre.
- Minha Filha, vai em paz ......... o teu problema é reumatismo...
- Padre, perdoa-me porque pequei (voz feminina)
- Diga-me filha - quais são os teus pecados?
- Padre, o demónio da tentação se apoderou de mim, pobre pecadora.
- Como é isso filha?
- É que quando falo com um homem, tenho sensações no corpo que não saberia descrever...
- Filha, apesar de padre, eu também sou um homem...
- Sim, padre, por isso vim confessar-me contigo.
- Bem filha, como são essas sensações?
- Não sei bem como explicá-las - neste momento meu corpo se recusa a ficar de joelhos e necessito ficar mais a vontade.
- Sério??
- Sim, desejo relaxar - o melhor seria deitar-me...
- Filha, deitada como?
- De costas para o piso, até que passe a tensão...
- E que mais?
- É como um sofrimento que não encontro palavras.
- Continue minha filha.
- Talvez um pouco de calor me alivie...
- Calor?
- Calor padre, calor humano, que leve alívio ao meu padecer...
- E com que frequência é essa tentação?
- Permanente padre. Por exemplo, neste momento imagino suas mãos massajando a minha pele me dariam muito alívio...
- Filha?!
- Sim padre, me perdoa, mas sinto necessidade de que alguém forte me estreite em seus braços e me dê o alívio de que necessito...
- Por exemplo, eu?
- Sim padre, você é a categoria de homem que imagino poder me aliviar.
- Perdoa-me minha filha, mas preciso saber tua idade...
- Setenta e quatro, padre.
- Minha Filha, vai em paz ......... o teu problema é reumatismo...
Foi Almoçar a Casa...
Numa galeria de arte, uma mulher está parada em frente de um quadro
muito estranho, cujo nome era: "Foi almoçar a casa".
Nele, estão representados três negros, nus, sentados num banco de jardim, com os seus pénis em primeiro plano mas, curiosamente, o homem do meio tem o pénis cor de rosa...
- Desculpe-me - diz a mulher ao funcionário da galeria:
- Eu estou curiosa a respeito desses negros. Porque é que o homem do meio tem o pénis cor de rosa?
O funcionário responde:
-Receio que a senhora não tenha interpretado bem o quadro. Esses homens não são negros; eles trabalham numa mina de carvão, e o homem que está sentado no meio foi almoçar a casa.
Uma estratégia de vistas curtas... |
(Estratégia de Vistas Curtas)
Não, o cancro não é consequência do ataque ao nosso organismo de um qualquer vírus ou bactéria como acontece em tantas outras doenças com a Imunodeficiência (HIV) ou H1N1 do actual surto de gripe.
No caso particular do cancro é o nosso organismo que se coloca contra si próprio revelando uma grande estreiteza de vistas pois dando cabo do corpo põe termo a si próprio.
Concretamente, o cancro é uma linhagem de células mutantes (resultantes de erros de cópia no processo de substituição das células chamados mutações) bem sucedidas e o facto de poderem acabar por se destruírem a si próprias juntamente com o corpo a que pertencem, é absolutamente irrelevante porque a evolução que tem lugar dentro de nós não faz previsões, é um simples processo mecânico por meio do qual algumas formas surgem, competem com outras e saem vencedoras na base de interacções imediatas.
Para compreender o cancro temos de pensar num organismo único, o nosso próprio corpo, com uma vasta população de células todas com o mesmo conjunto de genes, excepto no que respeita às mutantes (que resultam dos tais erros de cópia que ocorrem no processo de divisão das células).
A maioria destas células é rapidamente detectada e destruída pelo nosso sistema imunitário que actua como uma força policial de uma eficácia implacável.
A qualquer hora da noite batem à porta e levam os desgraçados dos mutantes.
Todavia, uma pequena fracção consegue escapar à polícia e tornarem-se heróis combatendo pela liberdade, resistindo à tirania do Estado.
Mas esta não é a melhor perspectiva para pensarmos sobre os mutantes. É preferível olhar para eles como “organismos-presas” que evoluem para evitar os predadores.
É como numa floresta: as aves retiram a maioria dos insectos, aqueles que mais sobressaem, que dão mais nas vistas e deixam os que se confundem com o meio ambiente.
No corpo humano, em lugar das aves, está o sistema imunitário a retirar as células mutantes, as que mais se destacam, deixando as que não se detectam para sobreviver e crescer em minúsculas populações.
Neste momento, no meu e no seu corpo existem centenas de populações mutantes as quais, na qualidade de “organismos-presa” se adaptaram e sobreviveram. Por isso mesmo, elas têm de competir pelos recursos com as células normais suas vizinhas.
Estas populações mutantes permanecem reduzidas e têm pouca importância para o organismo como um todo não ajudando nem prejudicando.
Contudo, o relógio mutacional (o tal que comete erros de cópia) continua a trabalhar e outros mutantes surgem em algumas das populações tornando-as mais agressivas na competição com as células vizinhas normais.
Assemelham-se àquelas plantas daninhas que se expandem produzindo uma toxina que elas conseguem aguentar mas não as plantas vizinhas e assim, as populações duplamente mutantes, expandem-se agressivamente e tornam-se tumores incipientes.
No entanto, estes tumores que evoluíram de modo a enfrentarem os predadores e competidores têm um novo factor que impede a sua continuação e expansão.
É que elas, ao alimentarem-se, produzem desperdícios que são retirados pelos vasos sanguíneos juntamente com os desperdícios das células normais o que, naturalmente, tem os seus limites a menos que o tumor incipiente consiga recrutar para si vasos sanguíneos da mesma maneira que as células normais. Até lá, não pode crescer para além de determinadas dimensões.
As instruções genéticas para recrutar vasos sanguíneos evoluíram há muito tempo como parte do desenvolvimento normal e tudo o que a célula mutante do tumor incipiente tem de fazer é activar essas instruções o que é relativamente simples e assim, desta forma, os tumores adaptam-se aos desafios, mutação após mutação, exactamente da mesma maneira que os organismos que vivem em liberdade como as aves ou os peixes se adaptam ao ambiente.
O facto de haver outras doenças provocadas por organismos estranhos ao corpo humano, como o vírus da imunodeficiência (HIV), enquanto um tumor deriva das nossas próprias células, não faz qualquer diferença. Em ambos os casos eles sobrevivem dentro do nosso corpo, não contribuem para o nosso bem-estar e vão avançando a um ritmo constante como bombas relógios mutacionais.
A evolução do cancro, como já foi referido atrás, parece o cúmulo da estreiteza de vistas. Cada “avanço” mutacional que permite a uma linha celular evitar os seus “predadores” (sistema imunitário), vencer os seus competidores (as células que funcionam normalmente) e colonizar outras zonas do corpo (metástases) fá-lo aproximar mais da sua própria morte.
Mesmo um tumor benigno, desaparecerá com a morte do organismo pois não existe nenhum mecanismo que lhe permita passar de um corpo para outro.
Esta evolução “dentro” do organismo é incapaz de impedir esta inutilidade e por isso falámos de “vistas curtas”.
Só a evolução “entre organismos” pode criar um desfecho de “vistas largas” de células que colaborem para o bem comum.
Felizmente o cancro, por força da selecção actuar de forma tão vigorosa a este nível e durante tanto tempo, é uma doença rara que se manifesta sobretudo em idades já avançadas.
Fica-nos esta observação:
- A selecção dentro dos grupos favorece as estratégias de vistas curtas enquanto a selecção entre grupos é necessária para criar o desfecho de vistas largas dos organismos que colaboram para o bem comum.
- Se a selecção entre os grupos vence a selecção dentro dos grupos de uma forma tão decisiva, da mesma forma que a selecção entre organismos vence a selecção dentro dos organismos, a uma outra escala biológica podemos dizer que se nos conseguirmos extinguir como espécie será devido ao mesmo tipo de estreiteza de vistas que leva as células cancerosas a acelerarem a sua própria morte.
David Sloan Wilson (Prof. de Biologia e Antropologia) – "A Evolução Para Todos"
No caso particular do cancro é o nosso organismo que se coloca contra si próprio revelando uma grande estreiteza de vistas pois dando cabo do corpo põe termo a si próprio.
Concretamente, o cancro é uma linhagem de células mutantes (resultantes de erros de cópia no processo de substituição das células chamados mutações) bem sucedidas e o facto de poderem acabar por se destruírem a si próprias juntamente com o corpo a que pertencem, é absolutamente irrelevante porque a evolução que tem lugar dentro de nós não faz previsões, é um simples processo mecânico por meio do qual algumas formas surgem, competem com outras e saem vencedoras na base de interacções imediatas.
Para compreender o cancro temos de pensar num organismo único, o nosso próprio corpo, com uma vasta população de células todas com o mesmo conjunto de genes, excepto no que respeita às mutantes (que resultam dos tais erros de cópia que ocorrem no processo de divisão das células).
A maioria destas células é rapidamente detectada e destruída pelo nosso sistema imunitário que actua como uma força policial de uma eficácia implacável.
A qualquer hora da noite batem à porta e levam os desgraçados dos mutantes.
Todavia, uma pequena fracção consegue escapar à polícia e tornarem-se heróis combatendo pela liberdade, resistindo à tirania do Estado.
Mas esta não é a melhor perspectiva para pensarmos sobre os mutantes. É preferível olhar para eles como “organismos-presas” que evoluem para evitar os predadores.
É como numa floresta: as aves retiram a maioria dos insectos, aqueles que mais sobressaem, que dão mais nas vistas e deixam os que se confundem com o meio ambiente.
No corpo humano, em lugar das aves, está o sistema imunitário a retirar as células mutantes, as que mais se destacam, deixando as que não se detectam para sobreviver e crescer em minúsculas populações.
Neste momento, no meu e no seu corpo existem centenas de populações mutantes as quais, na qualidade de “organismos-presa” se adaptaram e sobreviveram. Por isso mesmo, elas têm de competir pelos recursos com as células normais suas vizinhas.
Estas populações mutantes permanecem reduzidas e têm pouca importância para o organismo como um todo não ajudando nem prejudicando.
Contudo, o relógio mutacional (o tal que comete erros de cópia) continua a trabalhar e outros mutantes surgem em algumas das populações tornando-as mais agressivas na competição com as células vizinhas normais.
Assemelham-se àquelas plantas daninhas que se expandem produzindo uma toxina que elas conseguem aguentar mas não as plantas vizinhas e assim, as populações duplamente mutantes, expandem-se agressivamente e tornam-se tumores incipientes.
No entanto, estes tumores que evoluíram de modo a enfrentarem os predadores e competidores têm um novo factor que impede a sua continuação e expansão.
É que elas, ao alimentarem-se, produzem desperdícios que são retirados pelos vasos sanguíneos juntamente com os desperdícios das células normais o que, naturalmente, tem os seus limites a menos que o tumor incipiente consiga recrutar para si vasos sanguíneos da mesma maneira que as células normais. Até lá, não pode crescer para além de determinadas dimensões.
As instruções genéticas para recrutar vasos sanguíneos evoluíram há muito tempo como parte do desenvolvimento normal e tudo o que a célula mutante do tumor incipiente tem de fazer é activar essas instruções o que é relativamente simples e assim, desta forma, os tumores adaptam-se aos desafios, mutação após mutação, exactamente da mesma maneira que os organismos que vivem em liberdade como as aves ou os peixes se adaptam ao ambiente.
O facto de haver outras doenças provocadas por organismos estranhos ao corpo humano, como o vírus da imunodeficiência (HIV), enquanto um tumor deriva das nossas próprias células, não faz qualquer diferença. Em ambos os casos eles sobrevivem dentro do nosso corpo, não contribuem para o nosso bem-estar e vão avançando a um ritmo constante como bombas relógios mutacionais.
A evolução do cancro, como já foi referido atrás, parece o cúmulo da estreiteza de vistas. Cada “avanço” mutacional que permite a uma linha celular evitar os seus “predadores” (sistema imunitário), vencer os seus competidores (as células que funcionam normalmente) e colonizar outras zonas do corpo (metástases) fá-lo aproximar mais da sua própria morte.
Mesmo um tumor benigno, desaparecerá com a morte do organismo pois não existe nenhum mecanismo que lhe permita passar de um corpo para outro.
Esta evolução “dentro” do organismo é incapaz de impedir esta inutilidade e por isso falámos de “vistas curtas”.
Só a evolução “entre organismos” pode criar um desfecho de “vistas largas” de células que colaborem para o bem comum.
Felizmente o cancro, por força da selecção actuar de forma tão vigorosa a este nível e durante tanto tempo, é uma doença rara que se manifesta sobretudo em idades já avançadas.
Fica-nos esta observação:
- A selecção dentro dos grupos favorece as estratégias de vistas curtas enquanto a selecção entre grupos é necessária para criar o desfecho de vistas largas dos organismos que colaboram para o bem comum.
- Se a selecção entre os grupos vence a selecção dentro dos grupos de uma forma tão decisiva, da mesma forma que a selecção entre organismos vence a selecção dentro dos organismos, a uma outra escala biológica podemos dizer que se nos conseguirmos extinguir como espécie será devido ao mesmo tipo de estreiteza de vistas que leva as células cancerosas a acelerarem a sua própria morte.
David Sloan Wilson (Prof. de Biologia e Antropologia) – "A Evolução Para Todos"
Episódio Nº 109
Eles não vão. A velha
Laura, mãe de Arminda, chegou neste momento. Veio com os olhos inchados, o
corpo inchado, a língua de fora. Ficou rindo dele…
- Vá para o inferno! Vá
para o inferno!
Levanta. Vão todos atrás
dele. Até o Gordo que era tão seu amigo. Jubiabá diz que ele vazou o olho da
piedade. É verdade, sim, é verdade. Mas que o deixem em paz que já vai morrer e
quer morrer como um homem e assim não pode, e assim não pode…
Rezam orações de defuntos…
Ele tropeça numa raiz e cai.
Deixou-se ficar estendido.
E quando se levanta traz uma resolução no olhar.
A estrada está à sua
direita. Marcha para lá a pés firmes. Vai erecto como se não tivesse fome, como
se há dois dias não estivesse sem ver vivos, vendo fantasmas somente e leva a
navalha na mão.
Desaparece na escuridão.
Ouvem-se tiros ao acaso.
VAGÃO
- Já tava criando bicho…
O velho tratava do rosto
de António Balduíno, que inchara com o talho e aparecia disforme e vermelho
como uma maçã. Botou em cima da ferida ervas misturadas com terra. Jubiabá
faria o mesmo.
- Obrigado, meu velho…
Você é bom…
- Vai fechar num instante. Essa folha é santa,
faz milagre…
O negro chegara ali
extenuado pela sua corrida pela mata que margeava a estrada, fugindo das
plantações de fumo. O velho morava num casebre imundo, perdido no mato, com uns
pés de mandioca na frente.
Deu-lhe comida, deu-lhe cama, tratou da ferida
e depois explicou e depois explicou que Zéqui nha
não morrera por um triz, mas que o patrão queria pegar Balduíno para dar uma
surra que ficasse para exemplo.
António Balduíno riu:
- Comigo fia fino, meu tio… Eu tenho o corpo
fechado…
Bebeu um caneco de água:
- Agora vou me botar no mundo… Se um dia puder
lhe pago, meu velho…
- Se botar no mundo pra quê? Assim o talho não
seca, homem de Deus… Pode se arriar… Fique acoitado aqui …
Ninguém desconfia, eu sou um homem pacato…
António Balduíno ficou
três dias esperando o talho fechar. Comia da carne do velho, bebia a sua água,
dormia no seu girau.
Despede-se do velho:
- Você é bom…
Toma o leito da estrada de
ferro. Quando chegar a Feira de Sant’Ana arranjará um caminhão que o levará
para a Baía. E vai feliz por causa da aventura que teve, da luta que sustentou,
do cerco que furou.
quarta-feira, setembro 11, 2013
OLHOS NOS OLHOS…
Por que se diz que os olhos são o espelho da alma?
– Porque, para além de serem órgãos de visão, no caso particular da espécie humana, eles evoluíram para órgãos de comunicação que permitem aos seus pares perceberem, através deles, pensamentos e estados de alma.
Lembro-me bem, que quando era estudante preferia as provas orais às escritas porque nestas faltavam-me os olhos dos professores para me orientarem na resposta. Os olhos deles "falavam"...
Quando olhamos para uma pessoa, mesmo a uma distância razoável, graças ao contraste entre a esclerótica (o chamado branco do olho) e a íris, podemos ver com nitidez para onde os seus olhos estão a apontar, independentemente do sítio para onde o seu rosto está virado.
De mais perto, podemos ver se os olhos estão dilatados, graças ao contraste entre a íris e a pupila. Somos os únicos, entre os primatas, que possuímos janelas através das quais os outros podem olhar.
Os investigadores japoneses examinaram noventa e duas espécies de primatas e descobriram que somos a única na qual os contornos do olho e a posição da íris são claramente visíveis. Em todas as outras a esclerótica é pigmentada de modo a fornecer um contraste baixo. Além disso, em comparação com outros primatas, nos seres humanos a porção do olho visível é desproporcionalmente grande e alongada no sentido horizontal.
Os gorilas, por exemplo, sendo muito maiores que nós, a dimensão do olho exposto é mais pequena o que faz com que os seus olhos se pareçam a contas, ou seja: enquanto os olhos dos outros primatas evoluíram para serem “difíceis” de ver, para “ocultarem” e não “revelarem” informação sobre eles próprios - qualquer coisa que será o equivalente natural, hoje, aos óculos escuros de sol ou de janelas com as cortinas corridas – os dos humanos abriram-se à “leitura” pelos outros do que vai dentro deles.
Com aqueles adereços, óculos escuros e cortinas nas janelas, pretendemo-nos ocultar, esconder, ver sem sermos vistos, por outras palavras: favorecem a segregação e não o igualitarismo que permitiu aos pequenos grupos humanos de caçadores recolectores estabeleceram entre os seus membros a cooperação desviando-se da sociedade dos chimpanzés.
Assim que o igualitarismo estabilizou o suficiente nas primeiras comunidades dos nossos antepassados, logo a evolução genética começou a conferir novas formas às nossas mentes e aos nossos corpos de modo a funcionarem como jogadores de uma equipa em vez de entrarem em competição com membros do nosso próprio grupo.
Um cientista americano, Michael Tomasello, está na linha da frente no estudo e investigação dos olhos dos primatas. A sua base de estudo e centro de investigação encontra-se no Jardim Zoológico de Leipzig onde comunidades de chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos, alojados separadamente em grandes instalações que recriam condições naturais, estão a ser observados e estudados podendo os estudiosos efectuar, paralelamente, investigação comportamental em crianças.
Mike desenvolveu aquilo que designa por “hipótese do olho cooperativo” para explicar como os nossos olhos se tornaram tão diferentes dos dos outros primatas.
Todos os símios estão profundamente cientes dos outros membros do seu grupo e atentos ao sítio para onde estão a olhar, com base na orientação da cabeça. Contudo, a utilização desta informação não é necessariamente cooperativa.
Numa sociedade onde os indivíduos dominantes fuzilam com os olhos os seus subordinados, que não se atrevem a devolver-lhes o olhar, a selecção natural favorece a ocultação da informação e já que a direcção da cabeça não pode ser ocultada, a direcção do olhar pode sê-lo minimizando a porção de olho exposta e o contraste entre a íris, a parte branca do olho e o resto do rosto.
Numa sociedade igualitária torna-se vantajoso para os membros da equipa partilhar informação, transformando os olhos, para além de órgãos de visão em órgãos de comunicação.
A páginas 240 e seguintes do livro A Evolução Para Todos, de David Sloan Wilson, encontrará a descrição do resultado deste interessante estudo.
Entretanto, continuemos a olhar-mo-nos, cada vez mais, “olhos nos olhos”porque talvez a informação que transmitimos através deles seja mais genuína e verdadeira do que a outra, a da palavra....
1º Prémio num Concurso
promovido pelo Professor
de Gramática Portuguesa
na Faculdade de Letras
de Lisboa
promovido pelo Professor
de Gramática Portuguesa
na Faculdade de Letras
de Lisboa
Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, sub-tónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto.
Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.
Fernanda Braga da Cruz
Fernanda Braga da Cruz
Episódio Nº 108
Não, não fará fogo que
isso chamaria a atenção dos homens que estão na estrada a tocaiá-lo. Lembra-se
então de ver se ficaram muitos. Toca a mão no rosto que cada vez dói mais. Está
feio aqui lo. Com certeza era espinho
venenoso.
Pai Jubiabá sabe remédios
milagrosos para feridas assim. São folhas, folhas do mato. Ali deve ter destas
folhas. Ele olha o chão. Mas quais servirão. Só pai Jubiabá sabe, que ele sabe
tudo… Chega perto do mato que o separa da picada. Espia. Lá estão os homens.
Estão todos, nenhum foi
trabalhar… O patrão está mesmo disposto a liqui dar
o negro António Balduíno. Deu folga aos trabalhadores. Eles comem carne seca e
conversam.
António Balduíno volta
devagar. Botou a navalha no cinto novamente. Vai pensativo mas de repente ri:
- Comigo não levam vantagem…
O pior é não ter o que
comer. E de noite ficar sozinho. Ele nunca teve medo de ficar sozinho. Mas hoje
ele não quer. Fica pensando besteiras, vendo os mortos conhecidos, vendo pai
Jubiabá, os lugares por onde andou e vendo Lindinalva.
Se ele não visse
Lindinalva não tinha nada. Fica também pensando em Arminda que deve estar
amigada com o negro Filomeno. Mas o negro não tem culpa. Se ele não ficar com
Arminda outro qualquer ficará.
Não há mulheres nas plantações
de fumo. Por isso é que Ricardo agitava tanto o girau durante as noites. Como
se arranjará ele agora que não tem mãos. Vive em Cachoeira pedindo esmolas.
Terá mulher? Quem sabe se
não terá uma que trate dele… Ele bem que merecia, era um mulato bom, camarada
para tudo… Se estivesse na fazendo estaria cercando António Balduíno?
Tem uma névoa em frente
aos seus olhos. Isso é fome, ele já ouviu dizer. E sai desesperado em busca de
comida…
Quando a noite chegou ele
fumava o último cigarro e quase não via na frente dos olhos. O rosto inchado
doía de enlouquecer.
Anda para o lado das poças
d’água cambaleando como um bêbado. Está com o almoço da véspera, pois nem havia
jantado na hora da briga. Vai cambaleando e vão com ele muitos conhecidos.
Onde foi que ele já viu
aquele homem magro que está gritando:
- Quedê Baldo, o derrubador de brancos?
Está gritando e está
rindo. Onde foi que ele o viu? Agora se recorda. Foi naquela luta de boxe
contra um alemão que ele batera. Sorri. Já uma vez aquele homem dissera isso e
no entanto ele vencera o branco, o deixara estendido no tablado.
Poderá atravessar o cerco
também e alcançar a liberdade. Mas porque é que o Gordo está rezando oração de
defunto? Ele não morreu ainda… Por que então todos respondem :
«Orai por ele…»
Por que respondem? Não
vêem que aqui lo faz mal ao negro
António Balduíno que está com fome e traz no rosto um talho feio onde os mosqui tos pousam? Continuam. António Balduíno deitou
junto de uma poça d’água. Bebeu. Depois ficou olhando o cortejo que o
acompanha. Estende as mãos. Está pedindo que eles se afastem, que o deixem
morrer em paz:
- Vão embora! Vão embora!