Dr. FERNANDO NOBRE,
CANDIDATO
À PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA
Foi com inteira surpresa que esta semana tomámos conhecimento da decisão do Dr. Fernando Nobre em se candidatar a Presidente da República.
Fernando Nobre é um dos cidadãos portugueses não envolvido em partidos políticos mais conhecido pelos seus compatriotas dada a sua intervenção cívica como Presidente da AMI (Assistência Médica Internacional) que fundou em 1984.
Com 58 anos de idade, ele é rosto da AMI e a sua palavra rebelde, experiente e conhecedora contra todas as injustiças e desigualdades que estão por detrás de muitos dos desastres que têm assolado populações por todo o mundo e às quais tem acorrido com a sua presença e a sua Organização de Assistência Médica para minorar o sofrimento das pessoas atingidas, grangearam-lhe o respeito e admiração de todos nós.
Habituados a vê-lo e a ouvi-lo no desempenho dessas missões ao longo de anos, num campo meramente humanitário, a sua decisão é uma surpresa, agradável, é certo, mas uma surpresa.
A primeira reacção dos observadores políticos foi logo a de concederem, de antemão, a vitória à recandidatura de Cavaco Silva por considerarem que Fernando Nobre vem dividir ainda mais a esquerda portuguesa roubando votos a Manuel Alegre o qual, já se percebeu, está longe de unir à sua volta todo o Partido Socialista.
Creio, no entanto, que em vez de incluir o candidato Fernando Nobre no quadrante político/partidário da esquerda portuguesa talvez, mais acertadamente, seria atribuir-lhe a qualidade de 1º candidato à Presidência da República totalmente oriundo do sociedade civil ou seja, alheio a partidos políticos (não confundir com super-partidário) e por motivos que estão ligadas exclusivamente a uma intervenção intensa no sector puramente humanitário acorrendo a situações resultantes de graves problemas políticos e sociais por esse mundo fora.
Por esta razão, que me parece ser mais estruturante do que a estafada esquerda/direita, é perfeitamente possível que a candidatura de Fernando Nobre, para além de dividir a esquerda possa também dividir a direita e “roubar” votos a Cavaco Silva da mesma forma que os roubará a Manuel Alegre. Iremos ver como decorrerá a sua candidatura e a mobilização e envolvimento que será capaz de despertar nos portugueses.
Já me pronunciei, aqui neste blog, a favor de Manuel Alegre por me parecer que ele será capaz de empolgar o país nos anos difíceis que aí vêm, mais do que Cavaco Silva cujos discursos “matraqueados” me deprimem mas, quem der ouvidos a Silva Lopes, Medina Carreira e a outros especialistas, ficará a recear muito seriamente que os próximos anos não serão apenas anos difíceis, mais do que isso, serão anos de “catástrofe” e, se assim for, teríamos o Dr. Fernando Nobre a trabalhar num "campo" em que ele está habituado, não como Presidente da AMI mas como Presidente dos portugueses.
Talvez ele, na sua qualidade de médico e de socorrista, tenha a força e a coragem necessária para pedir aos seus compatriotas, olhos nos olhos, o esforço e o sacrifício que vão ser necessários nos próximos anos.