Memórias Futuras
Olhar o futuro pelo espelho retrovisor da história. Qual história? Que futuro?
sábado, março 07, 2015
Hoje foi um dia especial para mim pelas razões que estão esplanadas no texto que abaixo transcrevo e relativamente ao qual só me cabe acrescentar que o almoço, embora tenha sido o primeiro que organizei, não podia ter corrido melhor.
Todos compareceram, cantámos o hino da nossa Compª., trocámos abraços e sentimos o passado através das recordações, 50 anos depois.
Quando já passaram todos estes anos os almoços de confraternização assemelham-se quase a uma prova de vida. Quem faltará para o ano por falecimento?
- Espero que ninguém embora um ou dois me tivessem parecido bastante abatidos e não só pela idade. Quanto ao resto foi muito agradável aquela troca de piropos: ... "estás muito bem, pá...melhor que da última vez... venha daí mais um abraço."
Não tenho dúvidas que estes almoços são injecções de vida porque, para além das recordações, há a presença dos recordados, os protagonistas, os que viveram connosco o passado e nos dão a ilusão, por uma horas, que voltámos aos vinte e tal anos.
Alguns deles ficaram viúvos recentemente, estão sós, os filhos já não perdem muito tempo com eles, começam a desistir...
Fiquei feliz por ter estado com eles.
Camaradas
Meus amigos
Obrigado por terem comparecido ao nosso
almoço acompanhados, a maior parte de vós, pelos vossos familiares.
Se andarem com o relógio do tempo para
trás, há precisamente 50 anos, meio século, a 2 de Março de 1965, estávamos a
descer as escadas do navio Vera Cruz no Cais da Rocha de Conde Óbitos em Lisboa. Comemoramos
hoje, no 1º Sábado seguinte, esse desembarque.
Tínhamos acabado uma guerra, estúpida,
só pode ser estúpida quando a filha do Presidente de Angola é quase a dona
disto tudo, mas uma guerra, e nesse dia só uma ideia nos movia: matar saudades
dos nossos familiares, pais, mulheres, noivas e em alguns casos filhos, que
tínhamos deixado 27 meses antes naquele mesmo cais por entre choros e abraços.
No dia seguinte, iria começar a outra
guerra, a guerra das nossas vidas da qual somos agora os sobreviventes.
Quando se passa a barreira dos 70 anos,
que é já a situação em que todos nos encontramos, percebemos melhor que afinal,
para além da nossa família propriamente dita, temos duas outras famílias.
-
A primeira, a dos colegas da escola, que partilharam connosco as carteiras das salas
de aula, os pátios das brincadeiras ou os átrios dos edifícios onde estudámos e
que me fazem, por exemplo, a mim, almoçar todos os meses com o Frederico Melo e mais
meia dúzia de velhotes, como lhes chama a minha neta, e a segunda, a família
dos camaradas da guerra.
Entrados que estamos na reforma da vida,
desocupados, o que nos sobra mais é tempo para as saudades e recordações do
passado. É assim a velhice e não tenhamos medo de o afirmar. Se não houver
doenças e dores é bom continuar a viver, mesmo sendo velho.
Quando aqui
há uns meses atrás o Furriel José Manuel de Melo me telefonou a questionar
sobre o almoço deste ano, respondi-lhe, desanimado que estava com o falecimento
recente do Bento, que já não haveria mais almoços, pelo menos como aqueles a
que estávamos habituados.
Ora, se assim tivesse acontecido teria
sido uma ofensa ao nosso camarada António Bento. Ao desgosto da sua morte
juntar-se-ia o desgosto da desagregação da nossa família porque foi ele, o
Bento, que a manteve viva e unida com o seu espírito de corpo, com a
sensibilidade e percepção que ele tinha de que aqueles homens, que faz agora
precisamente 50 anos desembarcaram do Vera Cruz, eram portadores de uma
experiência, de uma história e de aventuras em comum que faziam deles uma nova
família.
Para lá embarcámos apenas uma Companhia,
nada de especial nos unia então. No desembarque, quantas recordações, quantas
histórias... éramos já uma família.
Eu agradeço o entusiasmo e o apoio do
Furriel Melo, do Pedro Rodrigues, o estímulo do Alferes Melo, do Bic-Bic e já
agora o Évora, o José João Neto, que no próprio dia em que recebeu a carta com
o convite para o almoço, já lá vão 3 meses, me telefonou logo a dizer: estarei
presente com 4 familiares; ou o Rui da Fonseca Martins, de Coimbra, que me
enviou um bonito Bilhete de Postal de Boas Festas de Natal a comunicar:
“estarei presente com a minha esposa para ter o prazer de abraçar todos os
amigos e camaradas e recordar os que já partiram”, ou o nosso querido Dr. Dória
que quando me telefonou do Hospital dias depois de ter sido operado e eu lhe
disse que tinha um ponto de interrogação relativamente à sua vinda ao almoço me
respondeu: “tira o ponto de interrogação e põe um ponto de exclamação.”
A nossa presença, hoje, aqui , é uma homenagem ao António Bento que foi o
chefe da nossa família e que, neste momento, está orgulhoso de nós e pensaria:...
“eles, afinal, não deixaram morrer os meus almoços”.
A C.ª Caç. 388 continua a ser uma
família, a família que ele tornou possível promovendo, religiosamente, durante
anos e anos, até ao fim da sua vida, os nossos encontros de confraternização,
porque eu sei, nós sabemos, que durante a sua doença ele foi apoquentado por
essa preocupação. E agora, o almoço?...
É verdade que a família da 388 vai sendo
cada vez mais pequena e nada podemos fazer quanto a isso para além de, enquanto
estivermos vivos, não faltarmos a estes almoços.
Não foi só o falecimento do nosso Bento,
foi também o do nosso Petrak e o da Sr.ª D.ª Maria Irene, esposa do Dr. Dória,
que esteve connosco no Cazombo.
Por mim, na qualidade do Alferes mais
antigo desta Comp.ª e agora depois da morte do nosso Capitão 120, do oficial
mais antigo, a sugestão do Alferes Melo, enquanto for vivo, puder e vocês qui serem, os encontros da família da C.ª C. 388
passarão a ser aqui , neste local,
neste hotel, em Santarém e tenho a certeza de que quando chegar a hora de eu
partir o Furriel Melo, o Pedro, o Furriel Bic-Bic, o Furriel Moreira ou
qualquer outro de vocês, dará continuidade aos almoços aqui
ou em qualquer outro lado.
O António Bento, para além de estar
sempre presente nos nossos espíritos, continuará a fazer-se representar pela
Sr.ª D.ª Maria Raquel, sua viúva e família, que será sempre nossa convidada
para estes almoços.
Uma palavra para outro nosso convidado,
o jornalista, Sr. Carlos Dias, que escreveu um livro com o relato muito sincero
e autêntico, das memórias inesgotáveis da guerra e da vida do nosso camarada, o
António Salvador.
Com este livro, ele não só me fez
regressar à caserna como registou as recordações da nossa comissão em Angola do
ponto de vista da memória de um de nós. Pudesse ele fazer outro tanto
relativamente aos restantes sobreviventes da nossa família e teríamos um puzle
mais completo da história da Cª. C. 388, porque ela, a guerra, foi aqui lo que cada um de nós registou na sua memória,
nem mais nem menos.
Muito obrigado, Sr. Carlos Dias, as
memórias do Salvador são um bocadinho as minhas memórias, as de cada um de nós.
Espero-vos aqui
para o ano e se doerem os joelhos venham a coxear ou de bengala mas venham.
Sigam o exemplo do nosso Alferes Médico Dr. João Manuel Dória Nóbrega que me
telefonou do Hospital a dizer, repito: “tira o ponto de interrogação e põe um
de exclamação!”
Conheci o Bento melhor desde que comecei
a vir a estes almoços do que durante a nossa comissão. Tive azar, ele não era
do meu pelotão mas o Furriel Moreira conviveu com ele numa amizade mais estreita
e gostava de dizer duas palavras sobre ele.
Vou entregar à Srª Dª Maria Raquel,
viúva do António Bento, uma lembrança nossa, uma fotografia emoldurada do
marido, no Caripande, na fronteira de Angola a 40/50 km de onde eu estava, no
Lumbala.
A dedicatória reza assim:
“À Srª Dª Maria Raquel, viúva do António
Bento, com o reconhecimento de todos os camaradas”.
Uma fotografia igual mas mais pequena
será entregue a cada um de vós, na altura dos trocos, como ele costumava dizer,
para recordação.
Obrigado
sexta-feira, março 06, 2015
BOBBY VINTON - Mr. Lonelin
Nasceu em 1935, nos EUA. Digam o que quiserem, mas esta canção como o Blue Velvete e outras deste cantor são uma doçura para os nossos ouvidos.
Richard Dawkins - o Virus da Fé (parte IV)
É estranho, doentio, que a religião cristã tenha glorificado a dor e a tortura ao ponto de andarem com uma cruz ao peito.
Crimes de burla, infidelidade e favorecimento de credores |
Ricardo
Salgado
Salgado
Espírito
Santo
Santo
Continua a olhar-nos, sobranceiro, por de trás dos
óculos de ver ao pé na recordação dos tempos em que era o “dono disto tudo”, ao
centro de uma mesa em que ao seu lado, uns senhores inúteis sem voto na matéria
que faziam parte do seu Conselho de Administração por serem da família,
aguardavam o momento em que lhes caía nas contas bancárias os milhões que o
Chefe do Clã lhes destinava.
Uma auditoria credenciada chegou agora à
conclusão de que o “ex-dono disto tudo” desrespeitou por 21 vezes as
directrizes do Governador do Banco de Portugal para além de ter praticado uma gestão dolosa e ruinosa do seu império.
Incorre nos crimes de burla, infidelidade e
favorecimento de credores mas, Ricardo Salgado, que nunca desce do seu trono,
diz que não interfere nem condiciona quer o trabalho da Comissão de Inquérito
quer das investigações em curso e espera o dia em que lhe dêem o direito à
defesa e ao contraditório.
Entretanto, todos os dias, nos ecrãs das
televisões, vemos centenas de pessoas com cartazes a manifestarem-se nas
instalações do Novo Banco, junto dos mesmos funcionários que, tempos atrás,
lhes serviram “gato por lebre”, reclamando o dinheiro das suas poupanças.
Nos EUA, a Revista Vanity Fair dava a notícia
do Sr. Dennis Kozlowski que desviou milhões de fundos de uma empresa e foi
agora liberto depois de cumpridos seis anos e meio de prisão efectiva e ter
ficado com o seu património reduzido ao simples apartamento onde vive depois de ter levado uma vida de luxo.
O contraste entre o que o que se passou nos EUA
e em Portugal é por demais evidente e tanto pior para nós que, nos últimos anos
4 Bancos foram à falência arrastando com eles dinheiro dos clientes e dos
contribuintes no geral e não se dá conta de que alguém, até à data, tenha sido
preso.
Pela impunidade de que estes casos se revestem –
mesmo que amanhã venham a ser condenados há sempre que contar com recursos e
mais recursos das respectivas sentenças, de tal forma que, os senhores
envolvidos, pessoas já de certa idade, tem toda a probabilidade de virem a
morrer descansadinhos na cama das suas belas casas – ficamos com a sensação, estranha, de que estamos vulneráveis, nas mãos destas pessoas.
Os Bancos tornaram-se mais perigosos do que os
vulgares assaltantes de casas e de cofres. Estes, roubam casa a casa, ao longo
dos tempos, aqueles é numa penada, à rapidez de um click e lá vão as nossas
economias de uma vida.
Que tempos estes!...
Um nababo do cacau |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 191
Num lugar que uma vez mostrei a vosmicê.
Se lembra?
Enquanto o Coronel estiver contente com
meus préstimos, sou homem seu. Tendo ouvido o que desejava ouvir, o Coronel respirou,
aliviado. Ficara apreensivo com a notícia da construção da casa de Natário.
- Me lembro, compadre. Lembro muito bem,
como havia de esquecer? Pois se falei nisso, foi para lhe dizer que não conheço
homem mais direito do que o compadre. Quero que se saiba que tu nunca me
faltou.
Presidia o almoço comemorativo do
aniversário de dona Ernestina, sua santa esposa. Voltou a encher o copo com o
espesso vinho tinto português. Fizera vir dois barriletes de Ilhéus tendo em
vista aquele almoço que desejava não apenas abundante e saboroso: queria-o
lauto e festivo.
Para celebrar igualmente a presença do filho,
recém-chegado do Rio de Janeiro. Sendo ele, coronel Boaventura Andrade, mais do
que rico, sendo milionário, um nababo do cacau, andava ultimamente acabrunhado,
de pouca conversa e pouco riso.
Dizia-se à boca pequena que a mágoa do
Coronel era devida à ausência do filho único e doutor que se demorava na
capital do país desde a formatura, já lá se iam cinco anos, longos e amargos.
Frequentando cursos e mais cursos,
colecionando diplomas, especializando-se. Em quê o Coronel não conseguia
descobrir: só se fosse em gastar dinheiro.
O Coronel elevou o copo em direção a
Natário para brindar com o compadre, jagunço e capataz. Seu braço direito como
escrevera certa feita ao Juiz de Itabuna, ao término das lutas pela posse das
matas do rio das Cobras. Repetiu:
- Tu nunca me faltou.
Circundou os convidados com o olhar
pejado de memórias:
- Por duas vezes tu me salvou a vida. A
sua saúde, compadre!
Rosto estático, sentado na outra
extremidade da mesa, Natário levantou-se, ergueu o copo - à sua, Coronel! - e
em seguida o esvaziou, O silêncio ainda persistiu pois os comensais não sabiam
se o anfitrião concluíra ou não a sua arenga.
Os comensais, pessoas de categoria,
todas elas, conforme já antes se informou: o Juiz do Cível, de Ilhéus, e o Juiz
de Direito, de Itabuna, esse acompanhado do Promotor e do Intendente; o doutor
João Mangabeira, deputado estadual, ainda jovem mas já afamado pela
inteligência; o coronel Robustiano de Araújo, da Fazenda Santa Mariana, o
coronel Brígido Barbuda, da Fazenda Santa Olaia, o coronel João de Faria, da
Fazenda Piauitinga, que lutara ao lado de Basílio de Oliveira em Sequeiro de
Espinho, o coronel Prudêncio de Aguiar, da Fazenda Linda Vista, o coronel Emilio
Medauar, árabe que além da Fazenda Nova Damasco possuía casa de negócio em Água
Preta, um filho seu, Jorge, colega de turma de Venturinha, também trocava
pernas no Rio de Janeiro, escrevia artigos nos jornais, publicara um livro de
versos, que o pai, peidando e arrotando orgulho, exibia nas rodas de amigos.
quinta-feira, março 05, 2015
EVA MITOCONDRIAL
Em 1986, pesquisadores da Universidade da Califórnia concluíram que todos os humanos eram descendentes de uma única mulher que viveu na África há cerca de 200 mil anos, que denominaram de Eva Mitocondrial. Eles basearam-se na análise do DNA retirado das mitocôndrias, que difere do DNA do núcleo da célula e é transmitido apenas pela linhagem feminina. Ele sofre mutações em rápidas proporções.
Comparando o DNA mitocondrial de mulheres de vários grupos étnicos, eles puderam estimar quanto tempo se passou para que cada grupo assumisse características distintas a partir de um ancestral comum. De fato, eles construíram uma árvore genealógica para o gênero humano, na base da qual estava a Eva Mitocondrial, a grande avó de todos os humanos. Isto não significa que ela foi a única mulher existente em sua época, mas que foi a única que produziu uma linhagem direta de descendentes por linha feminina que persiste até a presente data.
Uma loura entra numa loja de
animais exóticos a fim de escolher um animal para levar para casa.
Após percorrer demoradamente
toda a loja encontra-se completamente indecisa acerca do animal a escolher.
Subitamente repara numa caixa
com vários sapos e rãs com um cartaz a dizer: "SAPOS DE SEXO - somente
20€, cada um, vêm com as instruções para utilização".
A mulher, já excitada, olha em
redor, verificando se alguém a está a ver ou ouvir e com voz sumida diz ao dono
da loja: Quero um sapo!
O homem coloca o sapo dentro duma caixa e diz que só terá que ler as instruções
para utilizar correctamente o animal.
A mulher paga e sai disparada para casa.
Chegada a casa abre
freneticamente a caixa, lê cuidadosamente as instruções e segue-as escrupulosamente:
1. Tome um banho relaxante.
2.Use um perfume requi ntado.
3.Vista uma lingerie muito sexy.
4. Deite-se na cama na companhia do sapo e deixe que ele actue como entender.
A mulher deita-se na cama com o sapo e ........NADA.
Espera
mais alguns minutos e não sucede .......NADA:
Volta a ler as instruções e no
último parágrafo repara no seguinte aviso: "Se
tiver algum problema ou pergunta que queira colocar não hesite em
telefonar para a loja".
Assim faz e o dono da loja assegura-lhe: "Estarei aí dentro de
minutos".
Poucos minutos passados e estavam a tocar à campainha. A mulher recebe o dono
da loja e diz-lhe mal humorada: "Vê? Segui as instruções e o maldito sapo
continua ali sentado sem fazer nada".
O homem, com ar muito zangado, agarra o sapo e olhando-o nos olhos diz-lhe com
a voz muito alta:
- ESCUTA-ME BEM!!
- ESTA É A ULTIMA VEZ QUE TE VOU MOSTRAR COMO
SE DEVE FAZER!!!
Landau Eugene Murphy Jr - My Way
A sua voz parece veludo. Aos 19 anos era um sem abrigo, depois foi lavar carros para sustentar a família e agora ouçam como ele canta. Fez todo o seu concurso com canções de Frank Sinatra e Dean Martin tendo sido sempre o meu candidato preferido do Got Talent de 2011, desde a 1ª vez que o ouvi. Desejei, secretamente, que ele escolhesse My Way como canção para a final e ele "fez-me a vontade"... É uma interpretação gloriosa e, porque não dizê-lo, fez-me ir até às lágrimas.
"a minha família está pessoalmente preparada..." |
Temos o 1º Ministro
que
que
merecemos
Afirmei ontem, na conclusão do texto que
escrevi sob o título “Não Sabia?...”, e a propósito de Passos Coelho, que tínhamos
uma cultura democrática muito pouco exigente que fecha os olhos e convive com
situações dificilmente aceites noutros países democráticos europeus.
- Passos
Coelho, durante 5 anos, não paga as suas contribuições para a Segurança Social
tudo porque diz, simplesmente, essa verdade comezinha de que “não há ninguém
perfeito”;
- O
outro, tirou uma licenciatura ao Domingo;
- E um terceiro, que foi Ministro, tirou um
curso na Farinha Amparo...
“É a
vida...” como dizia o Eng. Guterres que, pelos vistos, não quer mais nada com a
política do seu país.
Na Suécia, essa sociedade que com todos os seus
defeitos nos envergonha em civismo, despediu um Ministro porque não tinha pago
a taxa da televisão e nos EUA um Secretário de Estado nem chegou a tomar posse
porque a mulher não tinha pago as contribuições relativas à sua empregada doméstica.
Aqui ,
se alguém pedir a demissão de um 1º Ministro porque durante 5 anos não pagou as
suas contribuições para a Segurança Social alegando que não sabia que elas eram
devidas, é considerado um terrorista de esquerda ou então não está no seu
perfeito juízo.
Aqui ,
o mesmo 1º Ministro que não pagou as suas próprias contribuições, passa lições
de moral aos cidadãos e aplica-lhes penhoras quando eles não pagam.
Aqui ,
os governantes não têm vergonha nem a noção do ridículo e continuam a
apresentar-se na Televisão muito sérios e circunspectos como se lhes assistisse
toda a moral do mundo mesmo sabendo que todos nós sabemos que foram
incumpridores confessos das suas obrigações legais.
Chegámos a isto que chegámos porque a política
partidária no nosso país é feita de um carreirismo seguidista, de fidelidades e
cumplicidades que começam nas escolas das juventudes partidárias onde se
aprende a perverter a democracia.
Quais são os cidadãos que se arriscam a
competir com estes “meninos das escolas partidárias” de discursos e poses
estudadas e ensaiadas, que se movimentam com todo o à vontade do mundo num
ambiente de cumplicidades quando, alguém que pede a demissão de um 1º Ministro
que alega ignorância relativamente às suas obrigações legais, é considerado
antipatriótico?
De um 1º Ministro que, naquele “eleitoralismo
rasca”, na expressão feliz de Ferreira Fernandes, traz a família para a baila
dizendo “que ela está pessoalmente preparada...” como se a família tivesse
alguma coisa a ver com os seus erros.
Um homem de bem como existem poucos |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 190
- Com sua licença, Coronel.
Quantas vezes ouvira aquela frase?
Natário agia com sua licença e com absoluta correção. Jamais abusara ou se prevalecerara.
O Coronel balançou a cabeça de acordo,
acrescentou:
- Tu cuida de minhas terras e zela por
meu nome. Administrador capaz e responsável, Natário proporcionou ao coronel
Boaventura Andrade cacau superior - nem uma só arroba good ou regular - e em
quantidade bem maior que a calculada pelos entendidos: ao verificar os números,
o doutor Clóvis Bandeira, o citado engenheiro-agrônomo, ficara de queixo caído,
felicitara o fazendeiro.
Proprietário, cacauicultor, oficial da
Guarda Nacional com a
Patente de Capitão, nem assim Natário se
desleixava dos interesses do patrão: como se a Fazenda da Atalaia lhe
pertencesse, chão e benefícios.
Sem deixar de cuidar com idêntico capricho de
suas roças, simples fazendola na medida dos alqueires. Fazendola em outras mãos
que não as suas. Nas dele, capitão Natário da Fonseca, a Fazenda Boa Vista.
2
Sentado na cadeira de braços à cabeceira
da comprida mesa
da sala de jantar da casa-grande da
Fazenda da Atalaia, o coronel Boaventura Andrade percorreu com o olhar os
excelentíssimos senhores presentes, convivas escolhidos a dedo e, elevando a
voz, dirigiu-se a Natário.
Interrompendo sem cerimónia a eloquência
do Promotor Público de Itabuna que exaltava as iguanas: uma besta o Promotor!
- Tu é um homem direito,
compadre Natário. Declarou. Doutor Flávio Rodrigues de Souza, bom de acusação
no Tribunal do Júri, silenciou em meio à frase quando, estalando a língua, em
nome da justiça, classificava o sarapatel de manjar dos deuses.
Silenciaram todos os demais. O Coronel disse e
redisse para que não restassem dúvidas:
- Um homem de bem como existem poucos.
Para que todos os convidados - a nata de
Ilhéus e de Itabuna, de Sequeiro de Espinho e de Água Preta - soubessem quanta consideração
ele dispensava a quem a merecera por lhe ser leal e devotado durante mais de
vinte anos.
-
Quantos, compadre?
- Já passou dos vinte, Coronel.
Tu era um frangote mas eu logo vi que tu
merecia confiança. Tu nunca desmereceu nesse tempo todo. Afirmação
peremptória mas o Coronel ainda não terminara de falar e de ouvir:
- Me disseram que tu fez casa fora da
Atalaia onde vai morar com a comadre e os meninos. Tu pensa me deixar?
- Enquanto o Coronel for vivo e tiver
contente com meus préstimos, sou homem seu, cativo. Mas é verdade que vou morar
no meio do caminho entre a Atalaia e a Boa Vista.
quarta-feira, março 04, 2015
Não sabia?... |
NÃO SABIA?...
Durante 5 anos, Pedro Passos Coelho, na qualidade de
trabalhador independente ou por conta própria, como também se pode dizer, que
passava recibos verdes pelas importâncias que recebia pelos serviços que
prestava, não pagou à Segurança Social as contribuições que eram devidas alegando que não sabia, ele, que durante anos foi consultor e gestor de empresas, e
não sabia...
Trabalhei durante uma vida inteira para a Segurança
Social e Instituto de Emprego e dos contactos que estabeleci ao longo dos anos
com a população contribuinte, uns por conta própria outros por conta de outrem,
nunca me apercebi que a obrigatoriedade dos descontos para a Segurança Social
suscitassem qualquer espécie de dúvidas ou desconhecimento.
A obrigatoriedade do pagamento dessas contribuições
era das entidades patronais, no caso dos trabalhadores por conta de outrem e
dos próprios trabalhadores se eles fossem independentes.
Há diferenças nas contrapartidas e por vezes ouvia
queixas nesse sentido. Só os trabalhadores por conta de outrem adqui riam o direito ao subsídio de desemprego, os
outros, os que trabalhavam por conta própria, “tecnicamente” não ficavam
desempregados, cessavam a actividade.
Tudo isto era sabido e mais que sabido por toda a
gente do mundo do trabalho e se alguém alegava ignorância para o não pagamento
era entendido como desculpa de mau pagador perfeitamente irrelevante para
evitar os procedimentos legais.
Mas agora, temos um 1º Ministro, que é líder do
governo da austeridade, do recorde dos impostos e das cobranças, que enquanto
cidadão, em vésperas de se recandidatar, e já há muitos anos, desde sempre na
sua vida, implicado com a política através do seu partido o PSD onde sempre
militou, alega ignorância relativamente a obrigações elementares de qualquer
cidadão para com o Estado... pagar à Segurança Social.
Não somos tão relapsos como os gregos mas para os
portugueses, pagar impostos ao Estado e à Segurança Social representa também um
encargo ao qual só não se foge por medo da lei.
Os ricos e muito ricos que estão acima do medo da lei
conhecem os canais próprios para roubarem o Estado mas a populaça é sempre a
visada, por excelência, nestas irregularidades.
Não temos esse sentido cívico de que pagar impostos e
contribuições representa a única forma de vivermos no país com melhor
qualidade, talvez, porque os governantes nem sempre dão o melhor destino aos
impostos dos contribuintes.
Ao fugir, durante 5 anos, às contribuições à Segurança
Social, Passos Coelho, terá sido apenas mais um entre muitos outros,
simplesmente, nenhum desses outros é 1º Ministro e, pior ainda, vai
recandidatar-se ao cargo com o desplante de pedir uma maioria absoluta.
Decididamente, isto só é possível porque estamos aqui , na cauda da Europa, e teimamos em não nos
comportarmos, na qualidade de cidadãos eleitores, de uma forma democraticamente
exigente.