sábado, agosto 06, 2016

Brasil, meu Brasil brasileiro...




















Nada parece correr bem aos nossos irmãos brasileiros, embora, por cá, não vivamos em mar de rosas.

As pessoas com mais estudos – onde é que eu já ouvi isto?... – estão a deixar o Brasil, os produtos estão muito caros, os serviços de atendimento são ruins e as pessoas estão impreparadas para receberem um evento da magnitude dos Jogos Olímpicos.

O Brasil de hoje não é, infelizmente, aquele que se esperava que fosse quando, em 2009, lhe foi confiada a organização dos Jogos Olímpicos.

Pensava-se que estes poderiam ajudar na economia e no emprego mas, na realidade, não é isso que está a acontecer.

Os 120.000 postos de trabalho criados no Rio de Janeiro são de carácter precário e representam uma gota de água para a população de 6 milhões de pessoas na cidade e a inflacção provocada não serve a economia com a super valorização dos imóveis.

Assim, em vez de ajudar, os Jogos Olímpicos desajudam.

Não adianta esperar que estes grandes acontecimentos desportivos sejam solução para problemas económicos.

Em todos os países em que ocorreram gerou-se uma expectativa e, no caso do Brasil, não parece que a promoção turística que lhe estão associados, tornem muito mais conhecido um país que tem o seu grande cartão de visita ligado ao samba, Carnaval e às Passagens de Fim de Ano, na marginal de Copacabana, no Rio de Janeiro, das quais, tive a oportunidade de assistir a uma, em 1995.

É certo que houve infra-estruturas, 6,2 mil milhões de euros investidos, que geraram postos de trabalho, especialmente na construção, mas uma vez terminadas, esgota-se o trabalho a elas directamente ligadas, e muitas não vieram a aproveitar a ninguém.

No Hospital Miguel Couto, havia pacientes à espera no corredor, situação trivial por esse mundo fora, enquanto que, ao lado, havia uma ala fechada construída para os Jogos Olímpicos e fechada por falta de verba.

 Não fosse uma Acção Judicial, o povo só viria a saber dela depois do Jogos, povo que vai pagar com os seus impostos esta festa que, no fundo, é mais para estrangeiros.

O padre e o bispo
DESABAFOS DE UM PADRE

















Eu estava tão nervoso na minha primeira missa, que no sermão não conseguia falar. Por isso, antes da segunda missa, dirigi-me ao Bispo e perguntei como devia fazer para ficar mais relaxado. Ele, por sua vez, recomendou-me o seguinte:

 - Coloque umas gotinhas de Vodka na água e vai ver que da próxima vez estará mais relaxado.

No Domingo seguinte, apliquei a sugestão do meu Bispo e fiquei tão relaxado que podia falar alto até no meio de uma tempestade ,de descontraído que me sentia.

Ao chegar a casa encontrei um bilhete do meu Bispo, que dizia o seguinte.



Padreco:

1º - Da próxima vez coloque umas gotas de vodka na água e não umas gotas de água no vodka;

2º - Não há necessidade de pôr limão e sal na borda do cálice;

3º - O missal não é, nem deve ser usado, como apoio para o corpo;

4º - Aquela casinha ao lado do altar é o confessionário e não WC;

5º - Evite apoiar-se na imagem de nossa Senhora e muito menos abraçá-la e beijá-la;

6º - Os Mandamentos são dez e não doze;

7º - Doze, eram os apóstolos e nenhum deles era anão;

8º - Não nos devemos referir ao nosso Salvador e aos apóstolos como "JC y sus Muchachos";

9º - Não deverá referir-se a Judas como aquele "filho da puta";

10º- Não deverá tratar o Papa como o "Padrinho";

11º - Judas não enforcou Jesus e Bin Laden não tem nada a ver com esta história;

12º - A Água Benta é para benzer e não para refrescar a nuca;

13º - Nunca reze a missa sentado nas escadas do Altar;

14º - Quando se ajoelhar, não utilize a Bíblia como apoio para os joelhos;

15º - Utiliza-se o termo "amén" e não "ó meu";

16º - As hóstias devem ser distribuídas pelos fiéis e não usadas como aperitivo para o vinho;

17º - Procure usar roupas por baixo da batina e evite abanar-se quando estiver com calor;

18º - Os pecadores vão para o inferno e não para a "puta que os pariu";

19º - A iniciativa de chamar os fiéis para dançar foi plausível mas fazer um comboio à volta da Igreja...;

20º - Não deve sugerir que se escreva na porta da Igreja "HÓSTIA BAR";

PS - Aquele que estava sentado no canto do Altar, ao qual se referiu  como "paneleiro travesti de saias"... era EU!...

Espero que estas suas falhas sejam corrigidas no próximo Domingo.


O Bispo

É Preciso estar atento...













Ele fora sempre um homem profunda e sinceramente religioso, cumpridor dos seus deveres, chefe de família e cristão exemplar. Ao longo da vida nunca tinha falhado uma missa e a sua relação com Deus era coloquial.

Ultimamente, no fim das suas orações, pedia insistentemente:

 - Oh, Deus, quando decidires levar-me avisa-me com antecedência, a máxima que te for possível. Sabes, tenho muitos amigos de quem me quero despedir e há sempre umas coisas de que a gente gostava de fazer por último.

E sempre que ia à Igreja repetia a Deus, empenhadamente, este pedido.

Um dia, de repente, morreu.

Católico impoluto, subiu ao céu e São Pedro o foi receber pessoalmente às portas do paraíso.

 - Venho muito zangado, diz ele. Pede a Deus para me receber: quero falar com ele.

 - Vou ver se ele te pode atender… e deixou-o só.

 - De regresso diz-lhe: Anda comigo, ele vai falar contigo.

Frente a frente, o bom homem desabafa:

 - Em vida, tinha-te feito um pedido com toda a insistência para que me avisasses com antecedência da minha morte e, afinal, de repente,  sem mais nem menos, levaste-me sem nenhum aviso. Fui sempre um servo teu, fiel e respeitador, não merecia que me fizesses isto…

Responde Deus:

 - Mas, estás a ser muito injusto:

- Lembras-te de quando te apareceram os teus primeiros cabelos brancos?

 - Sim, lembro.

 - Lembras-te quando puseste a primeira prótese para substituir os dentes que, entretanto, tiveste que arrancar?

 - Sim, lembro.

 - Lembras-te dos óculos que tiveste de comprar para poderes continuar a ler o teu jornal com o cafezinho da manhã que não dispensavas?

 - Sim, lembro.

 - Lembras-te das tuas dificuldades de audição de que a tua mulher reclamava por ter de repetir tudo até ouvires?

 - Sim, lembro.

 - Lembras-te das palavras que a tua memória começou a recusar-te e te levava a dizer que ficavam debaixo da língua?

 - Sim, lembro.

- Lembras-te das dores e achaques que começaste a sentir um pouco por todo o corpo?

 - Sim, lembro.

 - E lembras-te das referências subtis que a tua mulher te fazia por espaçares cada vez mais as relações sexuais?

 - Sim, lembro.


- E acusas-me de que não te avisei???

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 56


















Depois de pousar a filha no berço, Afonso Henriques respondeu-lhe:

- Antes vós do que uma galega tonta, já com filhos de dois homens.

Perante mais aquele ataque a uma ausente, que nem se podia defender, Teresa de Celanova tomou as dores de Chamoa e murmurou:

 - Pelo menos é nobre...

Elvira Gualter concordou com um aceno de cabeça mas, como a conversa não lhe agradava, Afonso Henriques revelou que o seu mais forte desejo, era partir para o Sul na senda das pequenas vitórias iniciais de Peres Cativo, que já destruira algumas aldeias mouras.

- É lá que serão as nossas próximas conquistas!

Entusiasmado, o príncipe declarou que Santarém estava enfraquecido. O governador encontrava-se às portas da morte e os locais detestavam Abu Zakaria!

- E deixais-me desterrado em Celmes? – indignou-se Gonçalo.

Afonso Henriques observou-o com ar sério e retorquiu:

- É a vossa obrigação!

Dito isto o príncipe decidiu juntar-se aos festejos da população e todos o acompanhamos. As iluminações dos archotes davam a tonalidade laranja a Guimarães, a Almedina encontrava-se forrada de fogueiras repleta de jograis e bobos que cantavam trovas ou largavam as suas larachas.

Por todo o lado se viam cavaleiros-vilões exibindo troféus de caça mortos nessa manhã ou preparados para as justas do dia seguinte, torneios onde lutariam uns com os outros, para entretenimento geral.

A dado momento, um ainda trombudo Gonçalo exigiu que o seguíssemos até às portas dos estábulos, onde entrou sozinho tendo reaparecido com um enorme cavalo pelas rédeas, um magnífico exemplar das Astúrias, que provocou a admiração geral.

Divertido e sorridente, Gonçalo declarou:

 - Não guardo ressentimentos por me teres enviado para Celmes! Serei sempre vosso amigo e leal companheiro, esta é a prova disso.

Entregou a Afonso Henriques as rédeas do cavalo e exclamou:

 - Não mais precisareis de montar pilecas que nos envergonham!

Os meus dois amigos trocaram um forte abraço e depois Elvira Gualter aproximou-se de Gonçalo e deu-lhe um inesperado e rápido beijo na boca, dizendo:

 - É merecido, mas é o único que vos dou, malandro!

Empolgados, desatámos todos a gritar:

- Monta, monta!

Então o príncipe subiu para a sela daquele gigantesco cavalo que o recebeu sem dificuldade e começou a andar a passo, enquanto brindávamos o imponente dueto com nova salva de palmas.



Aquele Natal foi o último de concórdia e tranquilidade, antes da nossa viagem ao inferno começar. Hoje, quando recordo esses dias, surpreendo-me quanto estávamos iludidos sobre as nossas forças. Como éramos inocente e jovens.

Mas, se até meu tio Hermígio e meu pai, bem mais experientes, foram surpreendidos pelas tempestades que se ergueram, como poderíamos nós, rapazes com pouco mais de vinte anos, mais interessados em mulheres atrevidas ou cavalos de raça apurada, adivinhar o duríssimo futuro que nos esperava?

sexta-feira, agosto 05, 2016

A pirâmide do poder
Idade 

Medieval, 

resumindo…






















O que interessa  sobretudo reter deste período confuso da Idade Média na Península Ibérica é a ideia de que, se do lado muçulmano o poder político estava pulverizado por inúmeros estados minúsculos, da banda dos cristãos o panorama era idêntico, apenas com a diferença de que os condados dependiam nominalmente dos reis que, em teoria, estavam acima deles e os englobavam. Mas só em teoria, porque a sua independência era quase total.

Dentro destas unidades políticas quem mandava verdadeiramente eram os senhores locais ou os municípios, inspirados estes nos antigos municípios do Império Romano, que eram administrados por plebeus, os tais vilões ou burgueses (que se especializaram na produção de artesanato ou na actividade comercial e deram origem à classe dos artesãos e mercadores passando estes a comercializar esses produtos ou eventuais excedentes agrícolas) tinham sido autorizados a fazê-lo por meio de uns documentos assinados pelo Rei chamados “cartas de foral” ou, simplesmente, “forais”.

Nós agora queixamo-nos, e com toda a razão, da Brisa que nos cobra as portagens nas auto-estradas e engordam à custa de dinheiros públicos e da exploração das estradas mais transitáveis mas, no que toca a portagens, na Idade Média não era muito diferente, senão pior:

 - Para se viajar através do país era preciso ter a bolsa bem recheada. E então, no que toca a mercadorias, era de arrepiar, pois cada concelho, apoiado na sua “carta de foral”, tinha o direito de cobrar taxas de passagem.

Mas, se quanto aos concelhos ainda vá que não vá, pois eram uma espécie de mini-governos regionais, o pior é que não eram apenas estes que cobravam portagens, alcavalas, dízimos e outros impostos de passagem: os nobres também o faziam quando as suas terras eram atravessadas.

E o problema de mudar de terra não se ficava por aqui. É que cada região, cada cidade e às vezes cada aldeia, adoptava os seus pesos e medidas próprios. Aquilo que hoje denominamos por Estado – que seria a Coroa, nessa altura – tinha uma reduzida interferência do dia-a-dia da vida das pessoas e não regulamentava coisas de “pequena importância” como estas em que os viajantes estavam sujeitos a toda a espécie de extorsões.

Para além de tudo isto, viajar era muito difícil porque…não havia estradas praticamente a não ser aquelas que ainda sobravam das antigas “vias romanas”.

Os rios eram, por isso, a alternativa, largamente utilizados como vias de comunicação e no nosso país os rios Tejo e Douro eram navegáveis por barcos relativamente grandes ao longo de todo o seu curso.

Recordo ainda o que restava das ruínas do que seriam armazéns nas areias do rio Tejo onde, em miúdo, ia tomar banho. Era o antigo porto da Concavada, concelho de Abrantes, comprovando a importância do rio no transporte de pessoas e mercadorias para Lisboa para contornar as dificuldades e perigos das viagens por terra. Parece que o célebre Zé do Telhado operava ali para os lados do Pinhal da Azambuja. Acabou preso e deportado para Angola onde morreu. Visitei a sua sepultura num viagem de fim de curso àquele território.

No século XIII, quando Portugal atingiu as suas fronteiras definitivas, Leiria, Mértola, Odemira e Silves possuíam portos de mar.

Viajar por mar ou rio era sempre preferível do que fazê-lo por terra. Por exemplo, para ir de Lisboa a Barcelona ou a Valência, ninguém pensava em atravessar a península – era preferível contorná-la.

Na segunda metade do século XV, na sua viagem à corte de Luís XI de França, o nosso rei D. Afonso V, navegou pelo estreito de Gibraltar e mar Mediterrâneo até um porto vizinho de Marselha e daí seguiu numa longa viagem por terra até Blois e Paris.

Mas, de uma forma geral, pura e simplesmente, não se viajava. Apenas os nobres e os guerreiros que os acompanhavam se deslocavam por razões militares ou diplomáticas.

A gente do povo nascia e morria no mesmo sítio ou num raio de poucos quilómetros em redor, para irem à feira. No nosso Portugal, do tempo de Salazar, por todo o interior do país era ainda precisamente assim. Foi a guerra do Ultramar e a “fuga” para o Brasil e depois a França -  para sobreviverem à fome nas suas aldeias -  tudo já em tempos recentes, que puseram as pessoas, finalmente, a viajar. Antes, alguns tinham estado envolvidos nas viagens marítimas a darem “novos mundos ao mundo”.

Mas a mim, o que mais me incomoda nesta Idade Média eram os costumes bárbaros, a morte corriqueira pelos motivos mais fúteis, o desprezo pela vida e a impunidade para os cruéis:

- Um tal Fernando Mendes, alcunhado do Bravo, que era filho do alferes-mor de D. Afonso Henriques que mandou cozer a própria mãe dentro de uma pele de urso e deu-a a comer aos cães porque a senhora se sentia incomodada por uma certa mulher por quem o filho se tinha tomado de amores;

- Ou de um outro, um tal D. Gonçalo Henriques, antepassado de D. Nuno Álvares Pereira, que informado de que a mulher, que ficara no castelo de Lanhoso enquanto ele combatia nas expedições contra os mouros, o atraiçoava com um frade, possivelmente seu confessor, regressou ao castelo, fechou-lhe as portas, pegou-lhe fogo, matando a mulher, o frade e todos os que lá estavam dentro, criados, cães, gatos e aves de capoeira.

Justificou-se, mais tarde, dizendo que eram todos cúmplices da mulher uma vez que não o avisaram…

Onde anda a inocência das criancinhas?!?!?!? ai ai ai....















Um destes dias, uma professora do 1.º ano decidiu contar a historia dos três porquinhos. Foi contando até que chegou à parte em que os porquinhos tentavam angariar materiais para construir as suas casas.

Disse a professora:

E então, o primeiro porquinho chegou-se ao pé de um carroceiro que transportava fardos de palha, e perguntou:

- O Sr. não se importa de me ceder um pouco da sua palha para que possa construir a minha nova casa? - contou ela.

Depois, virando-se para os alunos, perguntou:

- E o que acham vocês que o homem disse?

Respondeu logo uma das criancinhas:

- O homem deve ter dito: 'Fooooooooooda-se! Olha um porco que fala!!!

Alentejano...
A RAÇA DO 

ALENTEJANO


















Como é um alentejano? 


 - É, assim, a modos que atravessado.

Nem é bem branco, nem preto, nem castanho, nem amarelo, nem vermelho....

E também não é bem judeu, nem bem cigano.

Como é que hei-de explicar?

É uma mistura disto tudo com uma pinga de azeite e uma côdea de pão:


- Dos amarelos,  herdámos a filosofia oriental, a paciência de chinês e aquela paz interior do tipo "não há nada que me chateie";

- Dos pretos, o gosto pela savana, por não fazer nada e pelos prazeres da vida;

- Dos judeus, o humor cáustico e refinado e as anedotas curtas e autobiográficas;

- Dos árabes, a pele curtida pelo sol do deserto e esse jeito especial de nos escarrancharmos nos camelos;

- Dos ciganos, a esperteza de enganar os outros convencendo-os de que são eles que nos estão a enganar a nós;

- Dos brancos, o olhar intelectual de carneiro mal morto;

- Dos vermelhos, essa grande maluqueira de sermos todos iguais.

O alentejano, como se vê, mais do que uma raça pura, é uma raça apurada.

Ou melhor, uma caldeirada feita com os melhores ingredientes de cada uma das raças.

Não é fácil fazer um alentejano. Por isso, há tão poucos.


É certo que os judeus são o povo eleito de Deus, mas os alentejanos têm uma enorme vantagem sobre os judeus: - 

nunca foram eleitos por ninguém, o que é o melhor certificado da sua qualidade.


Conhecem, por acaso, alguém que preste que já tenha sido eleito para alguma coisa?

Até o próprio Milton Friedman reconhece isso quando afirma que:

- «as qualidades necessárias para ser eleito são quase sempre o contrário das que se exigem para bem governar».


E já imaginaram o que seria o mundo governado por um alentejano?

Era um descanso!!!...

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)





Episódio Nº 55



















A ausência de companhia feminina desconsolava-o e lamentava ser a povoação um ermo tão solitário que nem as soldadeiras lá iam.

- Terei de convencer algumas para voltarem comigo – afirmou.

Ao ouvi-lo, Teresa de Celanova insurgiu-se contra aquele permanente recurso dos homens, um pecado aos olhos de Deus.

- Gonçalo, não amais a princesa Zaida? – Melhor seria levá-la convosco!

O visado olhou para Afonso Henriques e resmungou:

 - Este mafarrico não deixa... É como o avô, quer tudo para ele.

Irritado, Gonçalo acusou o príncipe de Portugal de açambarcar as mulheres por quem ele se enamorara. Primeiro, Elvira Gualter, que Gonçalo descobrira e agora dera uma filha a Afonso Henriques e depois Zaida que, obviamente, o príncipe também cobiçava, razão pela qual o enviara para o exílio de Celmes.

No seu canto, Elvira prontamente negou aquela narrativa.

- Jamais vos quis, Sousinha! Meu coração foi sempre do príncipe!

Exaltado o alcaide de Celmes, considerou-a uma interesseira, ao que a serena e imponente normanda respondeu:

- Descansai, sei bem o meu lugar.

Sempre simples e honesta, Elvira Gualter, recordou-nos que apesar de ser mãe da primeira filha do príncipe de Portugal, mais nenhuma honraria desejava.

Sem ponta de ciúme e fiel à sua antiga crença de que aqueles dois deviam ficar juntos, a bondosa normanda virou-se para Afonso Henriques e incentivou-o:

 - Ide ter com Chamoa, livrai-a das garras do Trava!

Enervado, o meu melhor amigo, resmungou:

 - Parai com esses disparates! Não quero Chamoa, nunca mais!

Perante aquela reveladora rejeição, Gonçalo de Sousa concluiu:

 - É evidente, desejais a minha Zaida!

O príncipe tranquilizou-o, tal não passava de um tonto receio.

Estou bem com quem estou.

Depois levantou-se, foi ao canto da sala, erguendo do berço uma criança com poucos meses, que exibiu a todos.

Eis a primeira filha de Afonso Henriques,! Será a próxima rainha portucalense!

Muitos sorriram, mas a mãe da menina duvidou de tal futuro e lançou mais uma das suas famosas profecias:

 - Os meus deuses do Norte revelaram-me que, daqui a muitos invernos, casareis com uma princesa estrangeira, que vos dará herdeiros legítimos. Um deles será rei!

O príncipe sorriu à mulher que lhe aquecia os pés à noite e sugeriu:

 - Posso sempre casar-me convosco...

A determinada recusa de Elvira Gualter evitou que alguém se tivesse de declarar em público contrário àquele matrimónio.

Comigo não ireis casar! Onde já se viu? Um príncipe, neto do imperador da Hispânias, desposar uma taberneira, ainda por cima descendente de bandidos normandos?

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